AS FÁBULAS CONTEXTUALIZADAS NO COTIDIANO … · Orientador: Prof.Dr. Moacir Dalla Palma ² RESUMO...
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AS FÁBULAS CONTEXTUALIZADAS NO COTIDIANO DOS ALUNOS DE 5ª
SÉRIE
Hélio José Pinto Cassilha¹
Orientador: Prof.Dr. Moacir Dalla Palma ²
RESUMO
O processo de leitura, compreensão e interpretação por meio de gênero textual vem
ao longo do tempo sendo foco de pesquisas de ensino-aprendizagem de Língua
Portuguesa.Considerando a abordagem do interacionismo sociodiscursivo que,
favorece o desenvolvimento das condutas humanas, este projeto por meio do
gênero textual Fábula, teve como objetivo possibilitar o desenvolvimento de um leitor
mais crítico e reflexivo, com habilidades de leitura, compreensão e interpretação
conforme os textos trabalhados. As narrativas selecionadas pertencem ao gênero
“fábula”. A determinação da escolha deste gênero tem como objetivo fornecer ao
professor subsídios para promover a valorização da arte de narrar. O trabalho e o
estudo do gênero “fábula” visa proporcionar o desenvolvimento da percepção das
intenções do autor considerando que uma narrativa também é explícita ou
implicitamente perpassada por uma argumentatividade. A leitura e os estudos foram
privilegiados, pois fez-se necessário o desenvolvimento de estratégias que
possibilitaram ao aluno a compreensão e a percepção das informações implícitas.
Palavras-chave: Língua Portuguesa, fábulas, Monteiro Lobato.
¹Letras Português e Respectivas Literatura , Escola Estadual Professora Maria Arminda
²Doutorado, FAFIPAR
1. INTRODUÇÃO
O mundo atual caracteriza-se pela rapidez de informações e mudanças
veiculadas por meio de textos orais e escritos que circulam nas diferentes esferas da
sociedade.
Oferecer uma educação laica, pública de qualidade tem sido o tema de vários
congressos e debates na área da educação. No entanto, sabemos que esta não é
uma tarefa fácil de desempenhar.
Pensando nisto, professores da rede pública do estado do Paraná juntamente
com pesquisadores escreveram as Diretrizes Curriculares da Educação Básica para
ser aplicada no Estado. Estas diretrizes apoiam-se nas teorias do interacionismo
sócio discursivo de Bahktin (1988, 1992),na abordagem Comunicativa com base no
cognitivismo, que estuda os processos de aprendizagem e de aquisição de
conhecimentos, levando em conta as interações sociais .
O gênero escolhido para trabalhar o problema que este estudo aborda foi a
fábula. A fábula, que teve sua importância através do tempo por seu caráter
educativo tem elementos essenciais para a formação da criança; cativa o
ouvinte/leitor e a cada história transmite ensinamentos, lição de vida em forma de
moralidade. As fábulas divertem e educam, todas as verdades das fábulas passam
pelo debate e da reflexão realizando a transformação.
Nessa perspectiva o leitor se estabelece no diálogo, tem suas dúvidas
esclarecidas e tem reflexão e aprimoramento da leitura crítica. Assim, o aprendiz
desenvolve habilidades de leitura, compreensão e interpretação levando-o ao
aprimoramento enquanto cidadão crítico capaz de mudar sua prática e a do outro
Por ser, as Fábulas, textos que contêm ensinamentos e hipóteses de
moralidade com intuito de educar, o aluno terá a oportunidade de crescer como
cidadão crítico e desenvolver habilidades de leitura, compreensão e interpretação.
Assim, pretende-se auxiliar os profissionais da educação pelo emprego de
uma metodologia alternativa, baseada na leitura de fábulas, a fim de colaborar para
a formação de valores dos alunos através de análise interpretativas.
1.1. LÍNGUA PORTUGUESA, LINGUAGEM E LITERATURA
O ato de ensinar Língua Portuguesa é diretamente influenciado pela forma
que o professor concebe a linguagem, visto que esta concepção é que determina a
estrutura do trabalho em sala de aula.
No trabalho com a Língua Portuguesa é fundamental que os alunos tenham
contato com diferenciados textos que circulam nas diferenciadas esferas sociais,
fazendo a identificação da organização temática, bem como do aspecto
composicional e estilístico.
Desta forma, o conhecimento é adquirido na interlocução, a qual evolui por
meio do confronto, da contrariedade.
Assim, a linguagem, segundo Bakthin (1992), é constitutiva, isto é, o sujeito
constrói o seu pensamento a partir do pensamento do outro, portanto, na linguagem
uma relação dialógica. Pois, de acordo com Bakhtin, a vida é dialógica por natureza.
Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar,
discordar, etc.
Segundo Bakhtin (1992,p.112) o homem participa todo e com sua vida : com
os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas
ações. Ele se põe todo na palavra e esta palavra entra no tecido dialógico da
existência humana, no simpósio universal.
É partindo desta visão da interação social e do diálogo, que se pretende
compreender a relevância da literatura infantil, que segundo afirma Coelho, “é um
fenômeno de linguagem resultante de uma experiência existencial, social e cultural.”
(2001, p.17). A leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de
construção do significado do texto.
O contato da criança com o livro pode acontecer muito antes do que os
adultos imaginam. Muitos pais acreditam que a criança que não sabe ler não se
interessa por livros, portanto não precisa ter contato com eles. O que se percebe é o
contrário.
Segundo Sandroni & Machado, “a criança percebe desde muito cedo, que
livro é uma coisa boa, que dá prazer” (2000, p. 12). As crianças bem pequenas
interessam-se pelas cores, formas e figuras que os livros possuem e que mais tarde,
darão significado a elas, identificando-as e nomeando-as.
Por isso, é importante que o livro seja tocado pela criança, folheado, de forma
que ela tenha um contato mais íntimo com o objeto do seu interesse. A partir daí, ela
começa a gostar dos livros, percebe que eles fazem parte de um mundo fascinante,
onde a fantasia apresenta-se por meio de palavras e desenhos. De acordo com
Sandroni & Machado, “o amor pelos livros não é coisa que apareça de repente”
(1998, p. 16). É preciso ajudar a criança a descobrir o que eles podem oferecer.
Assim, pais e professores têm um papel fundamental nesta descoberta:
serem estimuladores e incentivadores da leitura.
De acordo com Coelho (2002) a leitura, no sentido de compreensão do
mundo é condição básica do ser humano. A compreensão e sentido daquilo que o
cerca inicia-se quando bebê, nos primeiros contatos com o mundo. Os sons, os
odores, o toque, o paladar, conforme Martins (1994), são os primeiros passos para
aprender a ler. Ler, no entanto, é uma atividade que implica não somente a
decodificação de símbolos, ela envolve uma série de estratégias que permite o
indivíduo compreender o que lê:
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias de leitura adequadas para abordá-los de forma a atender a essa necessidade. (Martins, 1994, p.180 )
1.2. FÁBULA : UM GÊNERO FUNCIONAL NA LITERATURA
A escolha pelo gênero fábula está relacionada ao fato de que ele proporciona
o desenvolvimento de diversas percepções de intencionalidade dos autores,
podendo levar a sentidos distintos para os textos dependendo se a narrativa é
explícita ou implícita, conforme a estrutura composicional escolhida pelos escritores.
Segundo Abramovich (1994), de fato, a fábula é uma pequena narrativa que
serve para ilustrar algum vício ou alguma virtude, e termina invariavelmente com
uma lição de moral.
Nelly Novaes Coelho, afirma que fábula “é a narrativa (de natureza simbólica)
de uma situação vivida por animais que alude a uma situação humana e tem por
objetivo transmitir certa moralidade.” (2000, p. 165).
Sobre as origens da fábula, Coelho (2000, P. 165) afirma que a palavra fábula
é de origem latina, significa “contar”, “narrar”, o que nos leva a crer que esse gênero
teve origem e se firmou inicialmente na tradição oral. As primeiras notícias que se
tem desse gênero no Ocidente surgiram no século VI a. C. através do suposto
escravo grego Esopo. No entanto, não há confirmação de que esse fabulista tenha
existido, pois não houve nenhum registro escrito, visto que as suas histórias foram
transmitidas através da oralidade.
No século I a C., aproximadamente, Fedro, um escravo romano, aperfeiçoa
esse gênero, inicia os registros escritos das narrativas de Esopo e acaba por criar
suas próprias fábulas. Fedro satirizava costumes e a sociedade da época, tendo
como suas principais narrativas “O lobo e o cordeiro”, “A raposa e o corvo”.
No século XVII, surge o fabulista francês La Fontaine, o qual retoma as
fábulas de Esopo, mas não deixa de criar as suas próprias fábulas, tendo como a
mais popular delas “A cigarra e a formiga”. Oliveira afirma que “os textos de La
Fontaine não.
De acordo com Coelho (2000, p. 166), La Fontaine explicita em sua primeira
coletânea de fábulas, que se serve de animais para instruir os homens, essas
narrativas apresentavam explicita ou implicitamente uma lição de moral. Desse
modo, esse gênero servia, inicialmente, para distrair e moralizar, pois assim as
pessoas poderiam facilmente acreditar em determinados valores que eram
considerados socialmente aceitos. Na atualidade, essas histórias ainda são
contadas, pais e professores ainda contam com a finalidade de entreter e, também,
educar, de construir e perpetuar valores.
No Brasil, é importante validar a participação, entre outros, de Monteiro
Lobato e de Millor Fernandes na (re) produção desse gênero. O primeiro reconta em
prosa as fábulas de Esopo, Fedro e La Fontaine e, após cada narrativa, traz, através
dos personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, discussões sobre o tema abordado
na fábula. Já Millor Fernandes recria fábulas de maneira irônica através de situações
do cotidiano moderno.
Nas fábulas de Millor Fernandes o comportamento humano é criticado por
meio de atitudes de animais, sendo eles bons, maus, inteligentes, sinceros,
debochados, mentirosos, etc. Em sua maioria, esses animais são representados por
raposas, pavões, lobos, ovelhas, formigas, cegonhas, cigarras, em cada um deles
representa/apresenta características tipicamente humanas. Por exemplo: o leão
representa força e poder, cordeiro representa a ingenuidade, a raposa simboliza a
esperteza e assim por diante.
Além da típica moralidade, esse gênero apresenta uma estrutura
relativamente fixa, contendo situação inicial, obstáculo, tentativa de solução,
situação final e, por fim, a moral. De acordo com a ordem dos agrupamentos
propostos por Dolz e Schneuwly (2004), o gênero fábula pertence ao domínio social
de comunicação da cultura literária ficcional, da ordem do narrar.
Sendo assim, com o passar dos tempos ainda há marcas de fábulas na
linguagem cotidiana, pois inúmeras vezes no término de narrativas cotidianas as
pessoas articulam a expressão: “moral da história”, ou seja, uma explicação dos
fatos para a busca de um ensinamento útil.
A fábula pode ser considerada como um produto espontâneo do ser humano,
pois é constituída por meio de uma alegoria que pode despertar a instrução e a
diversão, normalmente encerrada com uma filosofia de vida ou com uma certa
moral. Sendo assim, como a fábula é um produto natural, o professor pode fazer a
utilização dela para desenvolver o senso crítico no aluno, com a intencionalidade de
levá-lo à reflexão sobre os sentidos presentes no texto.
Conforme Machado ( 1964, p.58), embora a moral contida nas fábulas seja
uma mensagem animada e colorida e, como se sabe, uma história contém moral
quando desperta valor positivo no homem, acredita-se que a história, ao ser imposta
à criança com a finalidade puramente intuitiva, não permite que ela tenha interesse
pela mensagem. (Machado, 1964, p. 58).
O trabalho com fábulas moralizadoras deve ser desenvolvido com prazer e
organização, para que se atinja diretamente a alma do leitor, a sua imaginação, a
sua sensibilidade, para que seja alcançada e sentida a beleza e, com ela, o sentido
implícito. Neste âmbito, a história fabulosa torna-se um excelente recurso, que
diverte, educa e instrui a criança naturalmente, despertando alegria e emoção nela,
prendendo sua atenção e realizando suas finalidades educativas.
Por isso, a visão interacionista do ensino, proposta pelas DCEs de Língua
Portuguesa, sugere que o texto seja um “lugar onde os participantes da interação
dialógica se constroem e são construídos” (p. 21), considerado assim como unidade
de significação e ensino e não apenas pretexto para a extração de formas
gramaticais isoladas. Portanto, o estudo do gênero fábula tem como objetivo
proporcionar o desenvolvimento da percepção dos sentidos possíveis do texto,
considerando que uma narrativa também é explícita ou implicitamente perpassada
por uma argumentatividade.
1.3. FÁBULAS EM SALA DE AULA
Inicialmente, o projeto de intervenção foi discutido na modalidade GTR, onde
diversas contribuições foram de grande valia, sendo elas permeadas de
conhecimento e sugestões.
A cada nova contribuição uma aprendizagem, onde idéias criativas com a
utilização da mídia podem ser adentradas nos bancos escolares..
O ato de transformar a leitura em prazer , este presente em todos os relatos,
sempre com o ato de enfatizar a importância desta para o entendimento de cada
texto.
Diversos trabalhos com fábulas mereceram relatos, desde leitura e
interpretação a teatro de fantoches.
A biblioteca escolar foi enfatizada ao longo dos debates, bem como a
importância de estabelecer uma relação direta entre alunos e local de
aprendizagem.
Intertextualidade e habilidades artísticas nas fábulas mereceram destaque
nas colocações dos colegas de GTR pelas suas efetivas funcionalidades.
Em sala de aula, o trabalho com as fábulas ocorreu sob a perspectiva
Bakhtiniana, dando-se atenção ao conteúdo temático, à construção composicional e
ao estilo, para compreensão de forma sistematizada, promovendo um
aprofundamento e a integração das práticas de leitura, de análise linguística e de
produção/reelaboração textuais.
No decorrer da aplicação em sala de aula em diversos momentos foi
despertada a curiosidade sobre as condições sócio-históricas e composicionais
propondo atividades que proporcionem a formulação de noções sobre o gênero em
questão.
O professor aplicou os conceitos de temas e figuras com o objetivo de
estabelecer as relações entre os animais das fábulas e a vida humana.
Conforme o modelo de Perfeito (2005, p.9) a proposta pedagógica foi
reestruturada com contesto de produção e relação autor/leitor/texto, conteúdo
temático, organização geral, marcas lingüísticas e enunciativas.
No processo de trabalho foram utilizados vários livros, entre eles o livro
Fábulas (uma obra de 1922) do autor de livros infantis, o brasileiro Monteiro Lobato,
com readaptação de Alcy Linares.
A obra traz fábulas sobre diversos temas que incentivam uma conversa
interessante entre pais e filhos após a leitura. As fábulas são contadas por Dona
Benta, avó de Narizinho e Pedrinho, e após o término da história os demais
personagens do Sitio do Pica Pau Amarelo conversam sobre a fábula, facilitando
assim o entendimento da história. A obra toda de Monteiro Lobato é muito rica em
ensinamentos e independente da idade, todos se encantam com os livros deste
autor fascinante.
Segundo Lobato, “as fábulas são estritamente necessárias à criança, assim
como o leite materno”. A preocupação de Monteiro Lobato com a qualidade das
leituras para a infância do seu tempo e a sua consciência em relação à ausência de
uma verdadeira literatura brasileira, está vinculada à necessidade de transformação
na vida literária do país. Por isso, o caráter educativo da obra lobatiana define-se
pela união da ficção com a informação, numa “didática” que possibilita o interesse da
criança pelo assunto.
As fábulas, além de levar a criança ao mundo imaginário, transmitem certa
moralidade ao oferecer a representação do comportamento maniqueísta, no qual o
certo deve ser copiado e o errado evitado, entre outras dinâmicas isso pode ajudar
na compreensão de certos valores da conduta humana que se perdem na sociedade
atual. As peculiaridades que distinguem a fábula é que seus personagens são
simbólicos em um contexto universal, são dadas a eles características humanas: o
leão símbolo da força, a raposa símbolo da astúcia, o cordeiro ingenuidade.
No entanto, Lobato fez a adaptação de várias fábulas de La Fontaine,
ganhando notoriedade mundial, as que mais se destacaram foram: “A cigarra e a
formiga”, “A coruja e a águia”, “O lobo e o cordeiro”.
Sobre a obra de Lobato, certas características devem ser ressaltadas, como a
linguagem, que é bem mais coloquial, pois prefere as palavras de uso popular como
“unha de fome”, no lugar de “avarento”, além do uso de animais da fauna brasileira
como “onça” no lugar de “leão”. Com isso, Lobato conquista o público infantil.
Apaixonado pelo seu país, ele criou personagens com expressões culturais distintas
e retratou o mundo rural brasileiro, escrevendo livros que as crianças queriam morar
dentro.
Além disso, Lobato estava sempre em contato com as crianças, através das
correspondências, pois todos os dias respondia as cartas aos leitores mirins, isso
era um dever sagrado, por isso sabia o que chamava atenção da criança. Dessa
forma, ele pode entender qual personagem os leitores queriam ver ou ouvir. A forma
mágica em que o autor distribui as histórias, através do jogo de palavras, ativa a
imaginação das crianças, possibilitando a concretização do seu sonho. Sendo
assim, o livro leva ao mundo da imaginação e se transforma em objeto de prazer e
satisfação, fazendo com que as crianças se insiram no imaginário, pois os leitores
de Lobato estão em busca de fantasia e ele os leva a esse mundo. Portanto, pode-
se afirmar que as três características marcantes das fábulas são: simplicidade,
clareza e fantasia.
Pode-se afirmar, ainda, que Lobato preocupou-se em contribuir na formação
intelectual das crianças de seu país, proporcionando aos seus leitores uma nova
concepção de mundo através dos seus livros e criando um objeto capaz de tornar o
olhar mais crítico, contradizendo o ensino mecânico. Por isso, destacou-se na
literatura infantil, na qual tudo é possível, colocando à disposição do leitor infantil um
mundo onde tudo está dentro da lógica infantil, o qual é apresentado para as
crianças através de seus personagens.
Certamente, todos os gêneros literários estiveram a serviço do homem, porém
foi através das fábulas que tal procedimento pôde se efetivar, exatamente por conta
da sua própria natureza. Quando Monteiro Lobato resolve escrever fábulas, ele
posiciona-se perante a tradição e sugere um olhar em perspectiva para a fábula que
possibilitava a avaliação do texto. Prova disso é a manifestação de Narizinho em “As
duas cachorras”: “— Ótimo, vovó! — exclamou a menina. Gostei. Esta fábula merece
grau dez” (LOBATO, 1973, p. 37). Diferente de antes, o ensinamento da fábula não
é tido como absoluto e pode-se até desconfiar da fábula quando isso for pertinente.
Como ensina Dona Benta, pode ser que a sabedoria da fábula seja de “dois bicos”
(LOBATO, 1973, p. 36).
Em nossa rápida abordagem, destacamos os motivos que levaram à
publicação da obra Fábulas, de Monteiro Lobato, e vimos que nela os textos trazem
a marca da renovação impressa pelo autor. O interessante é que essa relativização
acontece não só na iniciativa de renovação dos textos, tendo-se como foco a fábula
clássica de Esopo ou La Fontaine, como acontece na tripla narrativa de “A cigarra e
a formiga”. Também, não são somente os comentários das personagens do Sítio
que colocam em cheque certos princípios presentes no discurso temático. A
relativização dos ensinamentos acontecerá também na relação interfabular, na
interdiscursividade da dinâmica interna da obra. Em suma, a intenção de Lobato em
unir a tradição e o moderno permitiu à literatura e principalmente ao leitor infantil ter
ao seu dispor um mundo que lhe ofereça aprendizagem, conhecimento e espírito
crítico.
Assim, as fábulas podem ser um importante aliado tanto para o trabalho
pedagógico com a oralidade e a escrita, como também em uma perspectiva
sociológica e antropológica, pois oferecem a possibilidade de análises ou
explicações para inúmeros comportamentos sociais e de traços de personalidade
individuais.
Desta forma, ler/ouvir histórias pode estimular o desenhar, o pensar, o
brincar, através deste momento de encantamento. A criança gosta de brincar, por
isso não pode sentir-se obrigada a ouvir a história e sim convidada pelo prazer, pelo
prazer de saber, de adivinhar o que vai acontecer.
O delinear da prática textual estará relacionado ao desenvolvimento de
trabalhos com coletâneas de fábulas, em especial de Monteiro Lobato. Devido ao
fato de serem curtas, as fábulas podem ser facilmente memorizadas e se prestam a
exercícios de reescrita. Além disso, desenhar ajuda o aluno a lembrar a história, em
especial porque se desenha na maioria das vezes o clímax da história. Em outros
casos, o aluno pode transformar a história em uma história em quadrinhos, pois
desenhar depois de ler ou ouvir uma história favorece a sua reescrita.
Essa reescrita permite avaliar a compreensão do texto e, ao mesmo tempo,
serve para a criança exercitar e flexibilizar sua escrita, aprendendo que um mesmo
conteúdo pode ser expresso de maneiras diferentes. Portanto, as fábulas têm sua
própria força educativa de leitura, podendo ser manuseada de forma oral ou escrita
pelo professor para que o conhecimento de mundo do aluno seja ampliado.
A aplicação dos estudos foi determinada pela interação da obra de Monteiro
Lobato com seus ouvintes /leitores acontecendo durante a leitura e sintetizada nos
comentários finais, verificando-se, também, se os interlocutores aprenderam e
entenderam as Fábulas.
Quando as Fábulas são lidas e discutidas, algumas verdades são aceitas e
outras são contestadas. A leitura é crítica e todas as verdades das fábulas passam
pelo crivo da reflexão e do debate realizando a transformação.
A leitura das Fábulas abre novos horizontes tanto para a leitura como para o
conhecimento. Nesta perspectiva o leitor se estabelece no diálogo, tem suas dúvidas
esclarecidas e com a reflexão terá o aprimoramento da leitura crítica.
O projeto foi apresentado para os alunos primeiramente no data show
contando a história das fábulas e suas características. Foram estudadas duas
fábulas, e as atividades contemplaram as tres capacidades propostas pela teoria, já
mencionada. Este momento fez com que a sala se torna-se o espaço da construção
do conhecimento, através das negociações feitas, nas interações professor-aluno,
aluno-aluno, como dispoe as DCE (2009, 70).
As atividades desenvolvidas na sala serviram de apoio para tais negociações.
Já que a participação dos alunos e o engajamento discursivo se faz de diversas
formas.
Durante os debates, explorava-se principalmente a proposta da fábula
fazendo uma reflexão sobre o assunto e comparando a moral com o dia-a-dia do
aluno e também para explorar o texto para que eles pudessem perceber o que está
incutido nas entrelinhas.
Após o término da primeira fábula já estavam mais familiarizados com esse
tipo de gênero, sabendo o que era gênero, o que lhes trouxe segurança para
desenvolver as novas atividades.
Na segunda fábula eles já conseguiam realizar as atividades sem grandes
problemas, e sempre com entusiasmo fizeram os exercícios propostos, ao término
das atividades elogiaram as cruzadas e caça palavras .
Na hora da produção textual se interessaram e conseguiram realizar as
tarefas com ajuda da pesquisa em dicionário, houve dificuldade que foram resolvidas
sem grandes problemas, e no final conseguiram realizar um bom
trabalho que foi executado com praticidade.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através da implementação do projeto de intervenção aplicada nos 6ºs anos
do Ensino Fundamental determinou o fato dos alunos entenderam com clareza como
o projeto se dava e quais eram os objetivos de cada proposta, levando ao aumento
de interesse do aluno pelas aulas, o que demonstra ser um aspecto importante a ser
considerado no dia-a-dia da sal de aula.
A motivação dos alunos também foi um ponto alto durante o processo. Houve
melhora significativa na leitura e produção textual. Outro aspecto mencionado como
objetivo do projeto, são as questões comportamentais e de valores a serem
trabalhados em sala.
Este também obteve êxito, já que os ensinamentos e suas hipóteses trazidas
nas fábulas estudadas, foram refletidas e constantemente comparadas com o dia-a-
dia do aluno fazendo com que ele repensasse a sua prática enquanto cidadão
critico.
O trabalho com gênero textual fábula é de fundamental importância para o
ensino da Língua Portuguesa nas salas de aula, das escolas públicas do Paraná.
A experiência com o trabalho de fábulas pode ser aplicada em várias
realidades diferentes e em qualquer série que se pretenda trabalhar o
desenvolvimento da leitura e da escrita, agregando os valores morais e éticos, bem
como o trabalho efetivamente de leitura prática.
REFERÊNCIAS:
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. 4. ed. São Paulo:
Scipione, 1994.
BAKHTIN, Mikhail. Gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. São
Paulo: Martins Fontes,1997.
COELHO, N. N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. 7. ed. São Paulo:
Moderna, 2000.
ESOPO. Fábulas. Trad. de Antônio Carlos Vianna. Porto Alegre: L&PM, 1997.
FEDRO. Fábulas de Fedro. 5. ed. Trad. e estudo por Maximiano Augusto Gonçalves.
Rio de Janeiro: Livraria H. Antunes, 1957.
LA FONTAINE. Fábulas de La Fontaine. 2 vols. Trad. de Milton Amado e Eugênio
Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989.
LOBATO, Monteiro. Fábulas. 32. ed. São Paulo: Brasiliense, 1983.
MACHADO, Freire A. Literatura e Redação. São Paulo: Scipione, 1994.
OLIVEIRA, Cristiane Madaleno. "ESOPO (+/- 620 A. C.)" [online] Disponível em
http://www.graudez.com.br/litinf/autores/esopo/esopo.htm
PARANÁ. DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA
PERFEITO, Alba M. Concepções de linguagem, teorias subjacentes e ensino de
língua portuguesa. In: (Formação de professores EAD n°18) v. 1. ed. 1. Maringá:
EDUEM, 2005. p. 27-75. Acesso em 01/03/2011.