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Como os estudos da americana Suzanne Gordon vêm ajudando a provar que a ‘divindade’ atribuída ao excercício da medicina é um mito que provoca estragos na performance de hospitais e na vida dos pacientes ANTIDEUS ANTIDEUS ANO VII | N° 32 | JAN/FEV/MAR 2016 | R$ 50,00

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Como os estudos da americana Suzanne Gordon vêm ajudando a provar que a ‘divindade’ atribuída ao excercício da medicina é um mito que provoca estragos na performance de hospitais e na vida dos pacientes

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SUMÁRIO

10 ENTREVISTASuzanne GordonPara a pesquisadora norte-americana,médicos pensam que são especiais porque lidam com a vida e a morte.

ENSAIOFrancisco Balestrin Conselhos para construir a excelência e reduzir o índice de desperdício no setor de saúde.

ARTIGO Daniela ÁrticoO caso Unimed Paulistana e as opções para transferência da carteira de clientes.

GESTÃOMicah SolomonQuando o paciente não tem razão.Lógica do comércio não se aplica na saúde e na educação.

ENTREVISTATércio KastenBiomédico presidente da CNS quer dar mais poder aos presidentes das federações estaduais em sua gestão.

ARTIGOAdriana GasparianModelos de relacionamento inovadores entre os diversos segmentos do setor de saúde.

PERFIL John NostaO influente consiglieri da Google Health é um dos maiores pensadores em saúde digital do mundo.

ANÁLISE Internet das coisas Tecnologia já apresenta soluções que estão otimizando processos de gestão no setor de saúde.

MUNDO COMPLIANCE Segurança digitalSistemas de proteção são necessários para blindar tráfego de dados em meio digital.

ARTIGOPaulo Lopes Planejamento estratégico e gestão são a melhor receita para enfrentar o cenário de crise.

28 DEPUTADO RICARDO IZAR (PSD-SP): regulação de preços de órteses e próteses é necessária para sustentabilidade do mercado de saúde

Ricardo Benichio

10ANTIDEUS:Suzanne Gordon afirma quehierarquia tóxica é uma realidade na saúde

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ENSAIOPaciente ConsumidorComo a tecnologia está transformando pacientes em consumidores.

ÉTICA EM SAÚDEHospitais Compliance Cobertura especial da segunda edição do maior evento de compliance em saúde.

GESTÃO Rede de SaúdeMater Dei acelera expansão no mercado privado em Belo Horizonte.

ENSAIOTendências GlobaisEstudo sobre macrotendências das economias emergentes com foco na saúde revela oportunidades.

ARTIGOMaisa DomenechLei 13.003 da ANS: construindo as cenas dos próximos capítulos.

ENTREVISTAJorge Solla R$ 400 milhões podem passar do Sistema S do Comércio para o Sistema S de Saúde.

REPORTAGEM Xamãs ModernosTribos indígenas na Amazônia recebem atendimento médico de alta qualidade graças a ONG.

DIRETO AO PONTONedy NevesProfessora diz que ensino da Ética Médica é um desafio sem limites e, por isso, tão instigante.

BOAS PRÁTICASGestãoSeis Dicas para superar os desafios que se avizinham no setorde saúde.

Divulgação

Tulio Carapia

ANÁLISEBalanço e PrevisõesA saúde, pela sua demanda constante, foi um caso particular em 2015. E2016 é o ano zero para o setor.

ARTIGOEduardo Najjar Negócios administrados em família têm diferenciais competitivos positivos.

RESENHAPoder com o PacienteThe Patient Will See You Now:o futuro da medicina e a evolução tecnológica.

26 LIDERANÇA DA CNS:Tércio Kasten assumiu a presidencia da Confederação Nacional de Saúde e revela os seus planos para a instituição

100RETROSPECTIVAS E ANTEVISÕES: As principais consultoras falam, com exclusividade para a Dianóstico, sobre o ano que passou e deixam prognósticos para 2016

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As escolas de medicina precisam rever com urgência o modo como estão formando os médicos. A queixa aqui não é contra a difusão do conhecimento dos cuidados em saúde. É muito mais direcionado à desconstrução de um status quo. O mesmo que permite a hiperidea-lização de um profissional acima de qualquer julgamento – o “Deus médico” – e que põe em xeque a segurança do paciente.

Não pode mais haver espaço para os “medalhões”, apegados a tí-tulos, vaidosos e avessos à quebra de hierarquia. Os tempos são outros. É preciso fomentar o respeito mútuo e o trabalho em equipe, algo que vai além dos protocolos de atendimento e dos checklists. Não se trata de destituir o médico da sua posição de líder, mas de estimu-lar a cooperação dos demais membros da equipe. Nesse sentido, a medicina tem muito a aprender com a aviação, como propõe a jornalista e pesquisadora norte-americana Suzanne Gordon, capa desta edição. Ela defende que a assistência médica melhoraria se os prestado-res de saúde se apoiassem nas lições do trabalho em equipe e de segurança das companhias aéreas, que transformaram o avião em um dos meios de transporte mais seguros do mundo.

A Diagnóstico também traz à luz o embate sobre as nomeclaturas paciente e consu-midor, uma falsa dicotomia perigosa para a nossa saúde e nosso bolso, como argumenta o articulista Robert Pearl. Por outro lado, o artigo de Micah Solomon demonstra por que no setor médico-hospitalar, diferentemente do comércio varejista, o médico precisa deixar claro a esse paciente-consumidor a máxima “o cliente nem sempre tem razão”, em uma abordagem mista de “amor duro e compromisso de cortesia”.

Entrevistamos John Nosta, consultor da Google Health. Considerado uma das mentes mais brilhantes da saúde digital na atualidade, ele defende que o caminho da medicina para melhorar a saúde das pessoas é uma aliança entre a capacidade humana e o poder da tecno-logia.

Para entender a atual conjuntura econômica do país, especialistas de várias empresas de consultoria fizeram um raio x de 2015, um ano de crise acentuada no panorama nacio-nal. O impacto da criação do Sistema S de Saúde não poderia ser ignorado nesta edição. Caso aprovada a PL 559/15, serão R$ 400 milhões migrando do setor do comércio para a saúde. O deputado federal Jorge Solla (PT-BA), ex-secretário da Saúde na Bahia e proproponente do projeto, explicou de forma categórica como esse investimento servirá para capacitar milhares de profissionais e elevar a qualidade dos atendimentos pelo SUS. Resta esperar.

Os “medalhões” e as lições do trabalho em equipe

A Revista Diagnóstico não se responsabiliza pelo conteúdo dos artigos assinados, que não refletem necessariamente a

opinião do veículo.

EDITORIAL

Reinaldo BragaCEO/Publisher

Diretor ExecutivoPublisher

Reinaldo Braga [email protected]

Comercial/SPFábio Barreiros – [email protected]

RepórteresEduardo César – [email protected]

Mara Rocha – [email protected] Sousa – [email protected]

Financeiro Ana Cristina Sobral – [email protected]

FotógrafosRicardo BenichioRoberto AbreuTadeu Miranda

Diagramação e ArteLucas Caribé

IlustraçõesTúlio Carapiá

ChargeAmarildo

Revisão Rogério Paiva

Tratamento de Imagens Roberto Abreu

Atendimento ao leitor [email protected]

(71) 3183-0360

Distribuição DirigidaCorreios

ImpressãoHarley

Redação BrasilAv. Centenário, 2411,

Ed. Empresarial Centenário, 2º andarCEP: 40155-150 | Salvador-BA

Tel: 71 3183-0360

Comercial(11) 9 7477-8465

Realização

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[email protected]

A Diagnóstico narrou com coragem e bom humoros bastidores da mais disputada eleição da história da CNS. É uma pena que nem todos ainda estão acostumados com o jornalismo isento e criativo no mercado de saúde.Renato Almeida, São Paulo-SP

CapaDISPUTA NA CNSDe extremo mau gosto a iniciativa de transformar em caricatura a imagem de mé-dicos e homens públicos que tanto fizeram pelo mercado de saúde de nosso país. Os leitores da Diagnóstico não mereciam isso.Claudio Malheiros,

Curitiba-PR

Ninguém conseguiu ficar indiferente à capa da última edição da Diagnóstico. De-pois da surpresa, percebe-se que o tema é tratado com seriedade e bastante contun-dência. Parabéns a toda a equipe da revista.Atanásio Mouro, Brasília-DF

A capa da Diagnóstico com o buquê representando o co-mando da CNS merece uma grande reflexão. Ela mostra, ao meu ver, um modelo sindical esgotado, pautado na disputa pelo poder, sem foco no consenso e, muito menos, no que é melhor para seus afiliados. Trata-se de um mo-delo sindical ultrapassado. Rosalvo Matos, Belém-PA

Por que os sindicatos patronais da saúde, Brasil afora, não buscam fazer

benchmarking com entida-des eficientes e com gestão moderna, como a Anahp? Em vez de ficar birgando pelo poder, poderiam refletir sobre sua significância. Muitas só existem por mera formalidade e para deleite de seus dirigentes, muitos dos quais eternizados no poder. Arrecadam somas vultosas dos hospitais e não ofere-cem nada em troca a seus associados. T. L, São Paulo-SP

A Diagnóstico faltou com respeito ao usar uma charge infeliz para falar de um assunto tão sério.Arilton Moreira, Rio de Ja-

neiro-RJ

EntrevistaARLEN MEYERSUm verdadeiro presente para os leitores da Diagnóstico a entrevista com o médico e presidente da sociedade americana de médicos em-preendedores, Arlen Meyers, publicada na última edição. Todo médico, preocupado com o futuro da carreira, deveria refletir sobre suas posições.Jorge Romero, Maceió-AL

Arlen critica, com especial

justiça, a forma como a aca-demia ignora a formação do médico sob o ponto de vista da carreira, mas esquece que essa não é uma atribuição dos cursos de medicina. Além disso, ninguém aprende a ser empreendedor.Marival Alexadrino,

Brasília-DF

O ambiente na área de saúde impõe uma transformação na carreira médica jamais vista. E o profissional de medicina precisa compreender como será o exercício da profissão diante de tantas mudanças tecnológicas. Segundo nosso ilustre colega Arlen Meyers, seremos gestores de infor-mação, agentes do cuidado e gestores da saúde de nossos pacientes. A se refletir.Pedro Gonçalves,

Manaus-AM

EnsaioIGUALDADE DE GÊNEROMuito interessante a re-flexão sobre igualdade de gênero abordada no artigo da senhora Lareina Yee, na Diagnóstico. A participação das mulheres em funções diretivas de grandes em-presas é uma questão não apenas de igualdade, mas

de performance mesmo. Desde de sempre, mulheres e homens têm virtudes com-plementares.Maria Luiza Sanches,

São Paulo-SP

O dilema feminino é muito mais profundo do que re-trata a senhora Lareina Yee. Temos que progredir no mercado de trabalho, mas muitas de nós vivem fazen-do contas para conciliar a família, filhos e um projeto de vida com a carreira. Nem sempre o trabalho pesa mais e essas escolhas precisam ser respeitadas. Marlene de Vito,

Florianópolis-SC

ArtigoROBERT PEARLÉ cada vez mais claro que os gastos crescentes com a saúde quase nunca fazem paralelo com o aumento da performance assisten-cial. Se consome muito dinheiro, sem eficiência, em boa parte do mundo. Uma reflexão que precisa ser feita por todos os atores da saúde, sob o risco de um colapso iminente. Afinal, os recursos estão cada vez mais finitos.Andrea Sanches, Recife-PE

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PANORAMAHEALTHCARE

Violação de dados de saúde eleita como principal preocupação para 2016

A multinacional Experian antevê que a violação de dados de saúde é uma das prio-ridades das instituições do setor para 2016. No Livro Branco, publicado com as previ-sões para 2016, as organizações são acon-selhadas a investir em tecnologia de segu-rança, algo que deve ser complementado com treinamento regular de funcionários em como manejar dados de forma correta.

De acordo com a Experian, o setor de healthcare continuará sendo um dos predi-letos dos hackers, algo que pode ser expli-cado pelos altos valores que os dados rou-bados podem atingir no mercado paralelo e pela frequente digitalização e partilha de processos clínicos

As previsões se baseiam no crescimen-

to da adoção de prontuário eletrônico e em como a nova e abrangente plataforma de armazenamento e partilha de dados médi-cos sensíveis se conecta com dispositivos móveis, tornando maior a cobiça dos ciber-criminosos.

O relatório da Experian revela que perto de 91% das instituições de saúde já foram vítimas de violações de dados de alguma natureza nos últimos dois anos. Há, portanto, necessidade de proteger os dados através da adoção de ferramentas de segurança mas, talvez tão ou mais impor-tante, reeducar os funcionários para, des-sa forma, evitar o erro humano. Pequenos incidentes causados por negligência ou descuido comprometem anualmente mi-

lhões de fichas médicas. A simples perda do backup físico de informação ou a perda de registros em papel é mais frequente do que ciberataques.

O Livro Branco da Experian aponta como alvos primários dos ciberataques as grandes seguradoras e os maiores sistemas de saúde, grandes organizações como a Premera Blue Cross, atacada recentemente, com milhões de informações individuais violadas.

Entre setembro e dezembro de 2015, foram registradas 180 violações de infor-mação de saúde, afetando um total de 78 milhões de pessoas, mostrando que este é um campo prioritário para as instituições do setor.

Fotos:Divulgação

CIBERSEGURANÇA

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Nove em cada dez médicos brasileiros falam com seus pacientes pelo WhatsApp

Um estudo global publicado no Reino Unido comparou o uso que médicos de vá-rios países dão às redes sociais para se co-municar com os pacientes. De acordo com os números divulgados, no Brasil a proba-bilidade de usar o WhatsApp para falar com um paciente é 40 vezes superior à de terras de Sua Majestade.

Apenas 2% dos médicos britânicos afirmam ter usado em alguma ocasião o WhatsApp para contatar pacientes. Na Itá-lia, o número sobe aos 62%, enquanto o Brasil atinge os 87%. Mensagens de texto, ou SMS, e emails são duas formas de co-municação cada vez mais comuns, como se demonstra pelos 33% e 50% de utilização,

APPS

respectivamente. O telefone continua sendo o método de contato favorito, com 84% da preferência.

Quando o assunto são apps de saúde digital, o otimismo que estudos anteriores havia registrado não está tendo tradução prática. Embora quatro em cada cinco médi-cos admitam que os apps vieram para ficar, apenas 55% recomendaram apps para seus pacientes e apenas 36% admitam voltar a fa-zê-lo. Especialistas britânicos admitem que só haverá uma real mudança na aceitação dos apps quanto eles trouxerem benefícios para o paciente que tenham consequências concretas no tratamento da doença e que também aliviem o trabalho do médico.

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ENTREVISTASUZANNE GORDON

A AMERICANA SUSANNE GORDON É AUTORA DE ALÉM DO CHECKLIST: O QUE MAIS A SAÚDE PODE APRENDER DO TRABALHO EM EQUIPE E SEGURANÇA DA AVIAÇÃO.

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Para a pesquisadora Susanne Gordon, médicos pensam que são especiais porque lidam com a vida e a morte. O perigo é quando esse status cria estruturas de comando não colaborativas e superioridade desmedida na tomada de decisões

Edson ValEntE

A pesquisadora nor-te-americana Su-zanne Gordon vem se dedicando nos últimos anos a en-tender como as re-lações entre equi-

pes médicas podem influenciar os escores assistenciais. Em seus estudos, que ser-viram de base para a publicação do livro “Beyond the checklist: what else healthca-re can learn from aviation teamwork and safety (Além do checklist: o que mais a saúde pode aprender do trabalho em equi-

pe e segurança da aviação, tradução livre) – ainda sem tradução no Brasil –, Suzanne cunhou um termo curioso para explicar a rotina de comando exercida por muitos médicos mundo afora: a hierarquia tóxica. Uma definição que, segundo ela, ajuda a entender uma série de condutas respon-sáveis por imprimir à atividade o rótulo divinizado, do “Deus Médico”. “Muitos médicos pensam que são especiais porque lidam com a vida e a morte”, reflete Su-zanne. “Contudo, o que eles demandam e chamam de respeito é, na verdade, reve-rência, que pressupõe obediência e medo. Algo perigoso quando se lida com vidas”. Para sustentar sua tese, a pesquisadora foi buscar na aviação lições que podem servir de ensinamento para a atividade médica. Segundo Suzanne, todos os dias, grandes tragédias ocorrem em hospitais do mundo inteiro por causa de erros médicos provo-cados pela hierarquia tóxica. “Nos aviões, antes os pilotos se julgavam soberanos nas decisões tomadas em situações de perigo iminente, não dando ouvidos a copilotos ou demais pessoas de posições hierárqui-cas inferiores à sua”, compara Suzanne. Isso levou a tragédias como um acidente entre uma aeronave da KLM e uma da Pan Am na Espanha, em 1977 – o piloto da KLM, Jacob van Zanten, um “medalhão” com experiência de mais de 12 mil horas de voo, fora imprudente ao ignorar alertas

do assistente de voo e havia decolado sem a autorização da torre de comando. “Na saúde, os médicos muitas vezes adotam comportamento semelhante em relação a assistentes e enfermeiros e tampouco ouvem com a devida atenção as opini-ões dos pacientes, colocando-se em uma suposta posição de superioridade sobre os outros na hora de tomar decisões”, comenta Suzanne. Beyond the checklist recebeu críticas de entidades médicas nos EUA. A principal delas pelo fato de Su-sanne não ser médica. “Eles questionam: ela não é da área. Como pode dizer algu-ma coisa?”, comenta a pesquisadora, que pode bem ser definida como um antideus, tamanho é o fervor na críticas à catego-ria, ainda bastante divinisada no Brasil. “Quisera eu ser um agente empoderado para combater a divinização da medici-na. Acho que causaria mais impacto”, diz Suzanne, sem esconder o bom humor. De Richmond, Califórnia – onde mora –, a pesquisadora falou à Diagnóstico.

Revista Diagnóstico – Como surgiu o ter-mo hierarquia tóxica?Suzanne Gordon – É possível ter uma hie-rarquia em que as pessoas ouvem umas às outras e as decisões são colaborativas. Nos casos abordados em minha pesquisa, a hierarquia é perigosa, por justamente ser individualista. Acho que o termo hierar-

“A hierarquia tóxica é uma realidade na saúde”

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ENTREVISTASUZANNE GORDON

“Os médicos costumam questionar: ela não é da área, como pode dizer alguma coisa? E é precisamente por não ser da área que consigo ver coisas que eles não conseguem ver”

quia tóxica define bem essa distorção.

Diagnóstico – Seu trabalho a credencia a ser vista como uma espécie de antideus em nosso país, onde o exercício da me-dicina ainda é bastante divinisado. Esse rótulo a incomodaria? Gordon – Quisera eu ser um agente em-poderado para combater a divinização da medicina. Acho que causaria mais im-pacto. Mas minhas ambições são mais modestas: provocar uma reflexão sobre a hierarquia tóxica na medicina.

Diagnóstico – Qual a principal crítica a seu trabalho feita pelos médicos ou en-tidades representativas da categoria?Gordon – Os médicos costumam questio-nar: ela não é da área, como pode dizer alguma coisa? E é precisamente por não ser da área que consigo ver coisas que eles não conseguem ver. Quando é preci-so mudar uma cultura, faz-se necessária a ajuda de alguém de fora, porque quem está dentro muitas vezes não enxerga que não está tudo bem. O peixe não consegue ver a água. As pessoas não se perguntam por que fazem as coisas, simplesmente as fazem para manter suas posições e o sta-tus quo. E acham que comunicação não é tão importante quanto aprender procedi-mentos e atividades técnicas.

Diagnóstico – Críticos do seu livro dizem que os parâmetros da aviação seriam incompatíveis com a complexidade da atividade médica. O que a senhora tem a dizer?Gordon – Vejo isso como um sinal da re-sistência deles à realidade. A medicina é muito mais complexa quando se olha o hospital como um todo, com tudo o que acontece lá. Mas a maioria dos médi-

cos especialistas não lida com toda essa complexidade, lida com a rotina de rea-lizar determinadas cirurgias, atender a um grupo específico de pacientes. Há um componente de previsibilidade. E, se a medicina é de fato tão complexa e impre-visível, é necessário tentar padronizar as práticas de comunicação para minimizar essa imprevisibilidade. A razão que leva os médicos a dizerem que não podem fazer isso é a mesma pela qual eles têm que fazê-lo. Negar isso é uma tentativa de manter a hierarquia.

Diagnóstico – No Brasil, costuma-se di-zer que metade dos médicos acha que é Deus, e a outra metade tem certeza. É muito diferente nos EUA?Gordon – Nos EUA eles pedem um res-peito especial, acham que sabem tanto que não têm nada a aprender com profis-sionais de outros segmentos, e que eles nada têm a contribuir com as suas deci-sões. Pensam que são muito especiais porque lidam com a vida e a morte, mas, se de fato querem competir nesse senti-do, precisam se lembrar de que um piloto pode matar 150 pessoas de uma só vez, algo que o médico levaria uma vida in-teira para fazer. O que eles demandam e que chamam de respeito é, na verdade, reverência. Uma prerrogativa ligada aos deuses, que pressupõe obediência e medo – o que cria uma via de mão única. É pe-rigoso. Respeito requer solidariedade, é uma via de duas mãos. É a diferença entre um líder ditador, a quem as pessoas obe-decem por medo, e alguém que seguem porque estão engajadas; a distinção entre comandar e liderar.

Diagnóstico – Muitos dos erros médicos cometidos na sala de cirurgia em hospi-

tais do mundo inteiro jamais são sabi-dos. Ser um médico pouco democrático não ajuda a tornar esses episódios cada vez mais recorrentes?Gordon – Quando, na sala de cirurgia, os profissionais se apresentam uns aos outros, estabelecem um ambiente de co-laboração e segurança. Não se trata ape-nas de se lembrar dos nomes depois – é um ato e instrumento simbólico. Quando cumprimento alguém com a mão direita, e isso é um costume social, estou dizendo à pessoa que não sou perigoso, que não vou machucá-la. Em um workshop com cirurgiões, diante da resistência dos médi-cos em se apresentar antes de iniciar uma operação, com o argumento de que não tinham tempo para isso, eu cronometrei uma simulação de introduções entre as pessoas da equipe. Foram necessários 19 segundos para as apresentações.

Diagnóstico – As atitudes dos médicos para com suas equipes não poderiam ser consideradas uma espécie de bullying no trabalho?Gordon – Bullying é algo muito especí-fico, um grupo de pessoas que tem como alvo um indivíduo. É diferente o que acontece na assistência médica, em que há uma questão mais geral de falta de ma-neiras humanas básicas de comportamen-to. As pessoas trabalham sem nunca se apresentar umas às outras. E muitas vezes os médicos tentam ensinar residentes hu-milhando-os, perguntando coisas que eles não podem responder. Fazem isso para mostrar o quão bons são. E há também a questão da carga de trabalho. Na residên-cia, os médicos chegam a ficar 16 horas ou mais atuando, começam às cinco da manhã e vão até dez da noite, não há um limite. Ficam fatigados, o que causa um impacto em seu humor. Ficam irritados. E não comem, não almoçam, ficam com fome, o que também os deixa de mau hu-mor. Ainda que se trate de boas pessoas, que queiram ser humanistas, estão muito cansadas para interagir.

Diagnóstico – Há muito corporativismo também entre os médicos americanos?Gordon – Existe muita competição entre os médicos, mas eles tendem a se unir no sentido de formarem um grupo que exclui os que não são médicos. E existe uma tra-dição de um especialista em determinado campo da medicina consultar a opinião

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ENTREVISTASUZANNE GORDON

Shutter Stock/Direção de Arte

de especialistas de outras áreas. Há essa cordialidade. Mas não é exatamente um trabalho em conjunto. Um médico cos-tuma consultar outros por meio de notas e relatórios, por exemplo. Algo bastante formal.

Diagnóstico – É possível medir o impac-to nos escores de assistência de equipes que trabalham de acordo com seu mé-todo?Gordon – Sim, há muitos estudos e ar-tigos a respeito, relacionando um bom trabalho em equipe aos resultados no tra-tamento dos pacientes. Um exemplo é o livro “Improving Patient Safety Through Teamwork and Team Training” (Melho-rando a segurança do paciente através do trabalho e do treinamento em equipe, tra-dução livre), da Oxford University Press (2013), escrito por dois especialistas no tema, os professores Eduardo Salas, da Universidade da Flórida Central, e Karen Frush, da Universidade Duke (Carolina do Norte, EUA). A publicação oferece orientações práticas sobre a aplicação do trabalho em equipe para produzir resul-tados positivos nos cuidados com os pa-cientes, com um olhar sobre a base cien-tífica do ‘teamwork’. A obra descreve de forma assertiva como medir resultados e monitorar o treinamento.

Diagnóstico – Por que a senhora decidiu se dedicar a esse tema?Gordon – Eu acabei me dedicando à se-gurança do paciente meio por acaso. Por ocasião de um tempo que passei em um hospital, aprendi sobre a importância da enfermagem e comecei a escrever sobre o assunto. Fiquei interessada nas relações entre médicos e enfermeiros e depois no trabalho em equipe, uma coisa levou à outra. Além disso, sofri com um erro médico, e foi algo bastante deprimente em minha vida. Em uma cirurgia lapa-roscópica de emergência do apêndice, em 2006, músculos do meu ombro foram lesionados, e levei cerca de oito semanas para me recuperar desse problema. Além disso, tive retenção urinária pós-opera-tória, e durante oito meses precisei usar um cateter para urinar. É difícil levar um caso como esse, por não ser muito grave, à Justiça. Nenhum advogado assumiria a causa.

Diagnóstico – Quais os principais pro-

blemas nas instituições de saúde, atual-mente, que “Beyond the Checklist” po-deria ajudar a solucionar?Gordon – O sistema americano de as-sistência médica não é seguro nem mui-to confiável. Quase 400 mil pacientes morrem por ano nos EUA e mais de um milhão e meio sofrem algum prejuízo de-vido a erros médicos que poderiam ser evitados. Técnicas usadas em equipes de aviação e treinamentos de segurança aju-dariam a lidar com esses problemas. Em aviação, os profissionais são treinados por muitas horas ao longo de suas carreiras, mas os hospitais se recusam a dedicar tempo para isso. Na melhor das hipóteses, oferecem uma hora de treinamento aqui,

outra acolá. E, quando há treinamentos su-perficiais, eles não ganham uma sequência, as pessoas não aprendem a treinar umas às outras, e as que dão o treinamento em geral têm pouca experiência com seguran-ça do paciente, trabalho em equipe e co-municação. Não é de se admirar que não funcione.

Diagnóstico – Que aspectos contribuem para os conflitos entre diferentes níveis de profissionais nas instituições de saú-de?Gordon – Há tantos que é difícil enume-rar. As pessoas têm medo de falar porque temem retaliações, ou que serão humilha-das, ridicularizadas ou sofrerão bullying.

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 15

HIERARQUIA TÓXICA: o que os médicos demandam e chamam de respeito é, na verdade, reverência. Uma prerrogativa ligada aos deuses, que pressupõe obediência e medo – o que cria uma via de mão única

“Quando uma enfermeira diz a um médico que algo talvez esteja errado com o paciente, ele não está treinado para acolher essa informação e sim para desprezá-la, porque a pessoa que a forneceu não tem status suficiente”

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Elas também receiam que ninguém lhes dará ouvidos ou agirá para mudar as coi-sas. Falta segurança psicológica básica porque faltam habilidades básicas de tra-balho em grupo. As pessoas nem mesmo se apresentam umas às outras quando entram no quarto de um paciente, pedem alguma coisa ou interagem. Então, como podemos esperar que haja trabalho em grupo? Com frequência, falta o básico da civilidade na assistência médica.Você entraria na casa de uma pessoa sem se apresentar e perguntaria onde estão as facas, as cebolas e começaria a picá-las na cozinha? Nos hospitais, as pessoas que interagem entre si não param nem por um nanossegundo para se apresentar.

Estão acostumadas a menosprezar quem não tem o mesmo nível educacional que elas. Assim, quando uma enfermeira diz a um médico que algo talvez esteja erra-do com o paciente, ele não está treinado para acolher essa informação e sim para desprezá-la, porque a pessoa que a for-neceu não tem status suficiente. Isso tem sido efetivamente trabalhado na aviação, fazendo com que capitães e autoridades entendam que eles têm de ser os toma-dores de decisão, mas que devem fazê-lo usando todos os recursos disponíveis, o que significa não só tecnologia, mas tam-bém as pessoas.

Diagnóstico – Esses problemas surgem, então, no topo da hierarquia?Gordon – Eu não a ouço porque sou um médico e você é uma enfermeira, ou você é uma assistente de enfermagem e eu sou uma governanta. Em assistência médica, a hierarquia tóxica está presente em todo lu-gar. E claro que ninguém ouve o paciente porque ele tem um status inferior a todos os outros, particularmente se é pobre ou de uma classe, gênero ou etnia diferente.

Diagnóstico – Como equilibrar o poder dos médicos nas equipes?

Diagnóstico | jan/fev/mar 201616

ENTREVISTASUZANNE GORDON

“É muito difícil levar à Justiça um erro médico. Os advogados não se interessarão pelo caso, a não ser que se trate de um dano muito sério. Eu mesma fui vítima de um erro médico evitável que afetou significativamente minha vida”

Gordon – Você equilibra o poder ensinan-do-lhes como liderar em vez de coman-dar. Os médicos não entendem que eles podem ser a estrela do show, sem, não necessariamente, ser o diretor. Eles pre-cisam entender que solicitar informações dos outros, receber feedback, ter pessoas que os monitorem e os poupem de erros não é um desafio à autoridade ou à lide-rança deles, e sim uma ajuda para liderar de maneira mais efetiva. Há habilidades que necessitam ser aprendidas. E os mé-dicos também precisam trabalhar em sis-temas que os permitam admitir erros e falibilidade.

Diagnóstico – Os hospitais não investem em treinamento?Gordon – Pouquíssimos hospitais nos Estados Unidos fazem um investimento para rigorosamente treinar as pessoas em trabalho em equipe. Eles irão, talvez, de-dicar uma ou duas horas para esse tipo de treinamento, com pouco “follow up” ou “coaching”. O governo americano, por meio da Agency for Research and Quali-ty (AHRQ – agência de pesquisa e quali-dade) e o Department of Defense (DoD – departamento de defesa), tem realizado um excelente treinamento de times, cha-mado TeamSteps. Ele foi projetado como um programa de treinamento de dois dias e meio. Entre os mais de seis mil hospi-tais dos EUA, um número insuficiente utilizou o TeamSteps, e mesmo alguns que o fizeram falharam no uso do treina-mento completo e o reduziram a uma hora ou duas. Muitos usam “treinadores” que não são especialistas nem na metodologia nem em treinamento de times, tampouco estão equipados para lidar com a signifi-cativa resistência que encontram nas ins-tituições em relação a trabalho em equipe e colaboração. Isso está em contraste dire-

to com a indústria da aviação, que utiliza treinadores profissionais muito capacita-dos para ensinar CRM (Gerenciamento de Recursos Corporativos, sistema de for-mação profissional e compartilhamento de informações) e outras metodologias de segurança e trabalho em equipe.

Diagnóstico – E qual o papel das escolas e universidades que formam esses pro-fissionais? Elas não os ensinam habilida-des básicas de trabalho em equipe?Gordon – O treinamento em hospitais e outras instituições de saúde é crítico, uma vez que poucas escolas de medicina ou de outras especialidades na área dedicam tempo de suas grades curriculares para ensinar técnicas de trabalho em equipe e segurança. Há uma ênfase crescente em educação interprofissional na América do Norte, mas ela é feita por meio de progra-mas que reúnem estudantes de diferentes disciplinas em uma classe em um cenário de simulação, mas a ênfase não é em ensi-nar habilidades concretas de trabalho em equipe. Na maioria das instituições que visitei, as simulações são muito orienta-das para as tarefas, mas não incluem habi-lidades em trabalho em equipe e situações de conflito. Na aviação, a simulação in-tegra habilidades em trabalho em equipe, comunicação e resolução de conflitos ao ensino de tarefas concretas. Isso não é feito em assistência médica, em que, na verdade, as tarefas são conceituadas como algo desconectado das redes sociais de contatos nas quais são realizadas de fato. A despeito de estudos que documentam isso e do impacto do trabalho em equipe nos resultados da assistência médica, fa-lha-se ao integrar a evidência científica ao ensino e à prática. Em meu trabalho com escolas de medicina e de enfermagem, descobri que os educadores médicos não

consideram o treinamento de trabalho em equipe importante, e os educadores de enfermagem pensam que as enfermeiras e os enfermeiros já sabem como praticar trabalho em equipe porque estão mais in-clinados a dizer que ele é importante. Na verdade, enfermeiros – cujo mantra pro-fissional é que enfermeiros “comem” seus jovens – não têm mais conhecimento so-bre habilidades de trabalho em equipe que os médicos e geralmente desempenham mal seu papel em equipe porque não têm treinamento em “teamwork”. Da mesma forma, gestores em assistência médica não são capazes de montar e liderar times porque eles têm muito pouca familiarida-de com as habilidades necessárias para tanto.

Diagnóstico – O que cabe aos governos, em termos regulátórios?Gordon – O governo dos EUA não tem um mecanismo para obrigar o treinamen-to de trabalho em equipe em hospitais ou nas escolas que formam os profissionais. Na aviação, o treinamento de trabalho em equipe é normatizado pela Federal Aviation Administration (FAA – admi-nistração federal da aviação) desde 1991. Linhas aéreas comerciais têm de despen-der recursos em um treinamento sério de times e outras habilidades de segurança por meio de programas de Crew Resource Management (gerenciamento dos recur-sos da tripulação), agora transformados em Threat and Error Management (geren-ciamento de ameaça e erro). São rigorosos programas ministrados aos empregados em sua orientação e em cada companhia, em particular. A FAA não apenas obriga o treinamento, mas também estipula o que ele deverá ocasionar. Os pilotos também são introduzidos ao CRM/TEM em suas escolas de voo e têm de revisar suas ha-bilidades nesses conceitos duas vezes por ano ao longo de suas carreiras. Atenden-tes de voo o fazem uma vez por ano. No-vamente: essa é uma exigência da FAA e é de fato levada muito a sério.

Diagnóstico – Nada semelhante ocorre na área da saúde?Gordon – Não há algo equivalente na saú-de. O regulador de fato na área nos EUA é a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations (JCAHO), que diz que hospitais devem praticar trabalho em equipe, mas não os faz cumprir ou es-

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 17

Divulgação

Segundo Gordon, quase 400 mil pacientes morrem por ano nos EUA e mais de um milhão e meio sofrem algum prejuízo devido a erros médicos que poderiam ser evitados

tipula como deveriam ser os programas. Mesmo quando hospitais ou escolas de formação de profissionais de saúde in-troduzem seu pessoal ou os estudantes ao treinamento de trabalho em equipe, eles geralmente o fazem ocasionalmente – e não há exigência, nem dos profissionais da saúde, nem de outros empregados que revisem esse treinamento ao longo de suas carreiras. A prática de habilidades de trabalho em equipe deveria ser vista com a mesma atenção que os hospitais e as instituições de assistência médica dão ao ACLS (Advanced Cardiovascular Life Support – apoio avançado de vida cardio-vascular), que é ensinado não apenas uma vez e no qual se exige a recertificação constante dos profissionais.

Diagnóstico – Os médicos ou outros pro-fissionais são processados por essas mor-tes?Gordon – Às vezes, mas é muito difícil levar à Justiça um erro médico. Os advo-gados não se interessarão pelo caso, a não ser que se trate de um dano muito sério. Eu mesma sofri com um erro médico evitável que afetou significativamente minha vida, mas é tão difícil provar e ainda mais difícil

encontrar um advogado que assuma o caso e que considere ser lucrativo o suficiente para valer a pena o esforço. Acordos ju-diciais em geral previnem que as pessoas falem sobre o que aconteceu como condi-ção para o acerto, e assim soluções para o sistema não podem ser desenvolvidas.

Diagnóstico – As instituições de alguma forma protegem os profissionais envol-vidos?Gordon – Pouquíssimas instituições estão interessadas em falar publicamente sobre erros médicos ou revelar o que aconteceu. Algumas, como a Johns Hopkins, no caso de Josie King, tornaram públicos os episó-dios, mas essas instituições são poucas e distantes entre si. A Cleveland Clinic, que tem uma excelente reputação como líder em assistência médica, quase perdeu seu financiamento governamental de assistên-cia anos atrás por falhas na divulgação de informações sobre problemas de seguran-ça dos pacientes.

Diagnóstico – Qual o papel do paciente nessa discussão?Gordon – Ele deve tentar aprender o má-ximo que puder sobre a situação, mas em

muitas ocasiões ele é impotente no proces-so, não sabe o suficiente para se proteger. Chega um momento em que se torna to-talmente dependente do conhecimento do médico e tem de confiar nele. Assim, cabe ao paciente encontrar um profissional que o ouça, que explique os procedimentos com base em argumentos técnicos e cien-tíficos, e não apenas com a premissa de que “eu sou o médico”.

Diagnóstico – Acha mais seguro viajar de avião ou enfrentar uma cirurgia coman-dada por uma equipe médica repleta de médicos vaidosos e pouco colaborativos?Gordon – Viajar de avião é muito mais se-guro. Um número muito menor de pessoas morre em acidentes de avião, na compara-ção com as que morrem em hospitais.

Diagnóstico – Como pesquisadora, nunca enfrentou a hierarquia tóxica entre cole-gas?Gordon – Ah, sim, claro. Isso está em to-dos os lugares. Trabalhei com pessoas ter-ríveis e com pessoas maravilhosas. Veja o que acontece na Coreia do Norte, por exemplo. Olhe para o mundo. É um pro-blema da espécie humana.

Diagnóstico | jan/fev/mar 201618

“ DE ACORDO COM RELATÓRIO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS), ENTRE 20% E 40% DE TODOS OS GASTOS EM SAÚDE SÃO DESPERDIÇADOS POR INEFICIÊNCIA. NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS, A FRAUDE E OUTRAS FORMAS DE DESPERDÍCIO PODEM REPRESENTAR UM CUSTO ESTIMADO DE US$ 12 BILHÕES A US$ 23 BILHÕES POR ANO PARA OS GOVERNOS.

Qual é o papel do hospital na construção da excelência do sistema de saúde. Esse foi o nosso maior questionamento ao longo de 2015, compartilhado com renomados espe-cialistas nacionais e internacionais em dois workshops e no maior congresso de hospi-tais já realizado no país.

Como representante dos hospitais privados nacionais de re-ferência, essa preocupação faz todo sentido. Isto porque, quando recebemos um paciente agudo em um de nossos hospitais, é sinal – na maioria das vezes – que o sistema de saúde falhou. O sistema falha ao não prover as condições necessárias a uma vida saudável. O sistema falha ao não criar mecanismos e estímulos para que o paciente gerencie adequadamente a sua condição crônica. O siste-ma também falha ao não participar do esforço para que a seguran-ça nas estradas e nas cidades do nosso país seja uma prioridade.

Para o hospital, chegam, muitas vezes, as consequências des-tas múltiplas falhas. E, para atendê-lo, devemos estar prontos, ter capacidade e o domínio da técnica para dar a melhor atenção pos-sível. E, mais do que isso, cabe a nós dar mais um passo e discutir como criar valor para esse usuário da saúde.

O hospital não deve ser mais o começo ou o fim do sistema de atenção à saúde. Ao contrário – o hospital deve assumir o seu papel de elemento nuclear de uma rede integrada de cuidados com a saúde. A discussão sobre valor dos cuidados com o paciente é mais do que o restabelecimento da saúde. E, nesse sentido, temos que considerar pelo menos três grandes desafios.

Os hospitais não podem criar valor sem considerar a visão do paciente. Estamos na era da informação, e cuidamos de pessoas cada vez mais informadas e conscientes das próprias necessida-des. Precisamos empoderar os nossos usuários para que, juntos, tomemos melhores decisões, com melhores resultados sob a ótica do paciente.

Não podemos criar valor sem considerar custos. A sustentabili-dade do sistema de saúde precisa ser uma preocupação primordial de cada um de nós que atuamos no setor. A limitação de recursos

é um fato inescapável da realidade. É nossa missão para com a so-ciedade e para com os nossos pacientes, presentes e futuros, fazer o máximo com aquilo que temos.

Não podemos criar valor sem considerar os resultados para o sistema como um todo. Podemos servir melhor à nossa comunida-de não apenas ao cuidar com eficácia dos atendimentos em eventos agudos e graves, mas, principalmente, quando evitamos que estes eventos venham a ocorrer, trabalhando para induzir saúde na po-pulação.

O hospital tem hoje um papel fundamental de garantir o acesso à saúde. Somos a linha de frente de uma luta contra a dor, a doença e a morte. Temos a missão de ser, nesta batalha, os mais valorosos soldados; mas nosso papel não acaba aí. Devemos também ser os mais astutos generais, mobilizando os recursos, o domínio do es-tado-da-arte da técnica, da ciência e da estratégia, e os líderes mais capacitados para atingir os nossos fins: uma saúde melhor para os brasileiros.

Os hospitais reúnem todas essas capacidades e podem ser, jun-to com outros atores, protagonistas importantes das mudanças ne-cessárias para o nosso sistema de saúde. A nossa luta é diária para a melhoria dos nossos processos, para que os protocolos sejam cumpridos e para que os nossos pacientes recebam os cuidados necessários em um ambiente de acolhimento, com segurança e re-solutividade.

Para tanto, a nossa visão da construção da excelência assisten-cial exige, como base, três eixos estratégicos: o da inovação, que permite trazer melhorias constantes no cuidado aos nossos pacien-tes; o da liderança, que permite que as melhorias sejam implemen-tadas e que os pacientes sejam mantidos no foco das organiza-ções; e o da construção de novos modelos, que olha para a frente e pergunta como precisamos nos organizar para melhor cuidar das pessoas no futuro.

Assim, a excelência é um exercício permanente – o único capaz de disseminar as melhores práticas para o setor hospitalar como um todo e agregar à cultura brasileira a saúde como um va-lor maior.

FRANCISCO BALESTRIN

CONSTRUINDO A EXCELÊNCIA

Ensaios

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 19

Francisco BalestrinPresidente do Conselho de Administração da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) e Presidente eleito da Associação Mundial de Hospitais (IHF)

Shutterstock/Editoria de Arte

“ A EXCELÊNCIA É UM EXERCÍCIO PERMANENTE – O ÚNICO CAPAZ DE DISSEMINAR AS MELHORES PRÁTICAS PARA O SETOR HOSPITALAR COMO UM TODO E AGREGAR À CULTURA BRASILEIRA A SAÚDE COMO UM VALOR MAIOR.

Shutter Stock/Direção de Arte

Diagnóstico | jan/fev/mar 201620

O maior evento e empreendedorismo

da medicina brasileira.

15 e 16 de Setembro de 2016 Insper | SP

UMA INICIATIVA APOIOPATROCÍNIO

SPEAKERS

ARLEN MEYERSPresidente da Sociedade Americana

de Médicos Empreendedores

CLAUDIO LOTTENBERGCEO da lotten Eyes e presidente do

Hospital Israelita Albert Einstein

JORDAN COXVice-Presidente de Operações da Surgical

Care A�liates (SCAI-Illinois)

NEYMAR LIMAMédico Ortopedista e CEO Brazilian

Clinic (Miami)

RENATO SERNIKMédico Radiologista e especialista

em Mercado Financeiro

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 21

O maior evento e empreendedorismo

da medicina brasileira.

15 e 16 de Setembro de 2016 Insper | SP

UMA INICIATIVA APOIOPATROCÍNIO

SPEAKERS

ARLEN MEYERSPresidente da Sociedade Americana

de Médicos Empreendedores

CLAUDIO LOTTENBERGCEO da lotten Eyes e presidente do

Hospital Israelita Albert Einstein

JORDAN COXVice-Presidente de Operações da Surgical

Care A�liates (SCAI-Illinois)

NEYMAR LIMAMédico Ortopedista e CEO Brazilian

Clinic (Miami)

RENATO SERNIKMédico Radiologista e especialista

em Mercado Financeiro

Diagnóstico | jan/fev/mar 201622

Daniela Ártico é advogada pós-graduada em direito tributário material e processual e especialista em direito contratual; atua nas áreas de direito médico e saúde suplementar.

esses incentivos para que sejam eficazes, devem ser ampliados para as transferências de carteiras de forma voluntária, ou seja, antes que cheguem ao ponto extremo de uma alienação compulsória.

A RN 384 reduziu as exigências econômicas da operadora adqui-rente ao permitir que a mesma recalcule tanto a necessidade de ativos garantidores por meio de metodologia própria, com diferimento da necessidade de lastro, quanto o recálculo da sua necessidade de mar-gem de solvência, ampliando seu prazo de diferimento.

Além disso, permitiu o ajuste atuarial para os novos produtos re-gistrados para recepcionar cadastro de novos beneficiários.

Por fim, a referida norma, protege a operadora adquirente de não ter contra si aplicadas as penalizações previstas no artigo 12-A da RN nº 259/2011, pelo prazo máximo de dois períodos de monitoramento, contados a partir do término do período de adesão aos contratos da operadora que tiver a proposta autorizada. Desta forma, a operadora ficará protegida quanto à penalização de proibição de comercializa-ção de planos de saúde, causados pelo excesso de reclamações pelos usuários. Outra vantagem é ficar protegida pelo mesmo período de não ter contra si decretado regime especial de direção técnica.

Desta forma, a curtíssimo prazo, a Resolução 384 da Agência Na-cional de Saúde representa um marco regulatório no procedimento de oferta pública, o que certamente estimulará transferências de carteiras de beneficiários por esta modalidade, mas não será suficiente para transpor as barreiras da alienação voluntária, cujas regras engessam a compra e venda de carteiras do setor.

Via de regra, quando não ocorre a alienação compulsória em 30 dias, inicia-se o processo de oferta pública, meio pelo qual a carteira é alienada de forma semelhante a uma licitação. A empresa que ofe-recer melhores condições de preço e cobertura assistencial aos con-sumidores poderá assumir a carteira. Nesse momento, no entanto, já não há manutenção das condições atuais, somente sendo preservadas as carências cumpridas.

Mas, no caso Unimed Paulistana, não se chegou ao ponto da ofer-ta pública, foi firmado um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre a ANS, o Ministério Público Federal, o Ministério Público Esta-dual de São Paulo e o Procon/SP, com a Unimed do Brasil, a Central Nacional Unimed, a Unimed Fesp e a Unimed Seguros para acelerar o processo de proteção dos consumidores e garantir a assistência aos beneficiários da Unimed Paulistana, para que estas absorvam os anti-gos clientes da Unimed Paulistana. Para receber esses consumidores, as operadoras que assinaram o TAC registraram quatro novos tipos de planos de saúde individuais/familiares junto à ANS.

Essas reflexões revelam a urgente necessidade de revisão por par-te da ANS das normas que regulamentam a transferências de carteiras de forma voluntária, da mesma forma como foi feita pela RN 384. Essa, no entanto, é restrita à transferência compulsória e, portanto, não resolve o grande obstáculo do setor, que precisa urgentemente de incentivos que movimentem a compra e venda carteiras. Essas medidas podem evitar o caos que é o fim de uma operadora de plano de saúde por meio da alienação compulsória.

ARTIGODaniela Ártico

Estamos acompanhando pela imprensa as notícias sobre a Unimed Paulistana e os rumos em rela-ção aos beneficiários dessa cooperativa médica. A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS determinou que a Unimed Paulistana transferisse sua carteira de clientes a outra operadora, o que chamamos de transferência compulsória. Tal medi-

da trouxe grande impacto devido ao elevado número de vidas envol-vidas na carteira em questão.

A transferência compulsória, no entanto, foi precedida de quatro regimes especiais de direção fiscal e dois de direção técnica, implanta-dos pela ANS desde 2009. Contudo, tais medidas não foram suficien-tes para reverter o gravíssimo quadro financeiro estabelecido.

Surge o questionamento: por que a Unimed Paulistana não alie-nou sua carteira de beneficiários antes da determinação que a tiraria do mercado?

Sem dúvida vários fatores podem ser levantados, mas o princi-pal que identificamos é o grande obstáculo imposto pelas regras da

ANS, que exige da operadora adquirente um aumento expressivo da composição das suas garantias financeiras. Isso desestimula novas aquisições, fazendo com que empresas de pequeno e médio portes fiquem estagnadas, ou que saiam do mercado, absorvidas por grandes empresas.

Ainda que seja de extrema importância que as operadoras de pla-nos de saúde possuam lastros suficientes para garantia de sua ativi-dade, não há que se negar que, ao trabalharem em caráter de mutua-lismo, quanto maior o grupo, menor o risco. Logo, com a redução do risco, as exigências de garantias deveriam ser proporcionais e não o inverso, como ocorre atualmente.

Sabedora das dificuldades envolvidas na aquisição de carteiras, sejam elas voluntárias ou compulsórias, a ANS editou a RN 384, que cria incentivos no processo de aquisição por oferta pública, mas

O caso Unimed Paulistana e as opções para transferência da carteira de clientes

Na Oferta Pública, a empresa que oferecer melhores condições de preço e cobertura assistencial aos consumidores poderá assumir a carteira..

Roberto Abreu

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 23

Diagnóstico | jan/fev/mar 201624

E quando o paciente não tem razãoAo contrário do comércio, na saúde e na educação dizer “não” quando os clientes fazem coisas erradas é necessário para o êxito do tratamento ou do curso, quer isso signifique obrigar o paciente a se exercitar ou o aluno a ser mais aplicado

Micah soloMon é consultor em experiência dos pacientes, palestrante, escritor

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O serviço prestado ao cliente na área de saúde e educação é inerentemente dife-rente das situações de atendimento ao cliente comercial,

por uma razão em particular. O cliente nem sempre tem razão.

Agora, você pode protestar e dizer que o cliente nem sempre tem razão em qualquer lugar – e você está correto. Mas para empreendimentos comerciais a mi-nha famosa regra de ouro aplica-se muito bem em toda a linha: em um estabeleci-mento de varejo, embora o cliente nem sempre tenha razão, vale a pena fazê-lo sentir-se como se ele tivesse.

GESTÃOSATISFAÇÃO DO CLIENTE

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 25

PARA SOLOMON, O ACOPLAMENTO DE UMA ABORDAGEM DE AMOR DURO COM O COMPROMISSO DE CORTESIA É A RECEITA PARA UM ATENDIMENTO HOSPITALAR ADEQUADO

EM UM ESTABELECIMENTO COMERCIAL, EMBORA O CLIENTE NEM SEMPRE TENHA RAZÃO, VALE A PENA FAZÊ-LO SENTIR-SE COMO SE ELE TIVESSE. NA EDUCAÇÃO E NA SAÚDE, NO ENTANTO, ESTA REGRA PRECISA SER MODIFICADA

Na educação e na saúde, no entanto, esta regra precisa ser modificada.

Na educação: você está tentando criar acadêmicos e futuros cidadãos. Então, amor duro e exigente é muitas vezes ne-cessário: não a adulação de um imerecido “sim”, mas a necessidade de dizer “não” quando os clientes (alunos) fazem coisas erradas, de forma que eles possam apren-der para a próxima vez o que é necessário para serem bem-sucedidos, quer isso sig-nifique cumprir prazos, ser organizado ou estudar de forma mais aplicada.

Na área da saúde, esse amor duro é também muitas vezes necessário. Meu amigo, Dr. James Merlino, usa o exemplo de incentivar o paciente pós-cirúrgico a se levantar e caminhar o mais rápido pos-sível, apesar da infelicidade temporária (e resistência) que isso traz para o cliente / paciente. E, claro, há a importância de se recusar a mimar um paciente que pen-sa que a pizza é um vegetal ou aquele que pensa que metade de um maço de cigar-ros por dia é um exemplo apropriado de moderação.

Mas aqui está o que eu penso. Mesmo que o cliente não esteja sempre certo nes-tas situações, ele não nos dá motivos para

tratar os clientes de forma menos atencio-sa em outras partes da sua experiência do cliente institucional.

Instituições sem fins lucrativos pre-cisam desenvolver igualmente um alto padrão de atendimento aos clientes, tal como realizam suas operações comer-ciais. Porque ineficiência, grosseria e uma atitude de “é assim que fazemos as coisas por aqui, é pegar ou largar” não vai ajudar a curar qualquer paciente, ou qualquer estudante a sobressair. Isso não é mais que um obstáculo.

O que vai ajudar é o acoplamento de uma abordagem de amor duro com o compromisso de cortesia, racionalização e tomando o ponto de vista do paciente ou do estudante. Descobrir maneiras de ser mais ágil, mais disponível e fazer uso do que a indústria privada pode nos en-sinar: não apenas fazer benchmarking de outras escolas ou hospitais, mas outros grandes hotéis e grandes varejistas.

Não porque saúde e educação nunca serão exatamente análogas a essas ope-rações, mas porque fazer benchmarking fora da sua própria indústria é muitas ve-zes a melhor maneira de melhorar a lar-gas passadas.

André Tapioca

Diagnóstico | jan/fev/mar 201626

ENTREVISTATÉRCIO KASTEN

O PRESIDENTE DA CNS, TÉRCIO KASTEN:o dirigente comanda a entidade pelos próximos três anos e um orçamento de pouco mais de R$3 milhões por ano

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Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 27

pel político mais significativo por parte da confederação, ele não necessariamente pas-sa pela ocupação do Ministério da Saúde por um membro da CNS. Defensor do sistema “S” para a saúde, o dirigente vê com bons olhos a injeção de capital estrangeiro no se-tor, especialmente para a apropriação de no-vas tecnologias e novos conhecimentos de gestão. Mas reconhece que ainda existem muitas dúvidas sobre o tema: “Como são investimentos que, via de regra, necessitam de retorno financeiro, como seriam feitos no SUS? O cidadão e os hospitais dependentes do SUS serão atingidos?”, questiona ele, que concedeu a seguinte entrevista à Diag-nóstico.

Revista Diagnóstico – O senhor obteve nas últimas eleições da CNS uma margem qua-se absoluta de votos. O que essa confiança demonstrada pelo eleitorado representa para seu mandato?Tércio Kasten – Representa a aceitação de minhas propostas para o formato de gestão compartilhada que deveremos implantar nos próximos três anos, gestão essa que tem a ideia de mostrar mais a CNS para a sociedade em geral e para seus próprios as-sociados, suas bases. Representa também uma grande responsabilidade frente à CNS na proporção direta na confiança em mim e nos nomes da nova diretoria, depositada na urna em 1º de outubro de 2015.

Diagnóstico – O senhor se elegeu com o compromisso de dar mais protagonismo

Edson ValEntE

Em outubro de 2015, o biomédico catarinense Tércio Kasten, de 69 anos, venceu a eleição para a presidência da Confederação Nacional da Saúde com a maio-

ria de votos. Mandatário da Fehoesc (Fe-deração dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Santa Catarina) e aliado do paranaense Renato Merolli, que ocupou o cargo até o fim do ano passado, Kasten disputou o mandato com o médico nefrologista Yussif Júnior, presidente da Fehoesp. Com a promessa de descentralizar a gestão e buscar maior po-der político para a CNS, o dirigente coman-da a entidade pelos próximos três anos e um orçamento anual de pouco mais de R$3 milhões. “Iniciamos o ano com a primeira reunião dos oito presidentes das federações, quando desenhamos o modelo de gestão compartilhada que será implementado”, antecipou Kasten, em entrevista à Diagnós-tico. “Os presidentes das federações ocupa-rão espaços estratégicos dentro de um novo modelo de governança.” A descentralização nas decisões, contudo, não o fará abdicar das convicções, que julga ser as melhores para o setor. “Quero ser um porta-voz dos nossos associados, um unificador das ações com outras entidades que representam o setor saúde, sempre de forma democrati-camente compartilhada e, quando houver a necessidade, com posições firmes”, afirma. No que diz respeito ao exercício de um pa-

APAZIGUADOR DE PULSO FIRMEEleito para comandar a CNS até dezembro de 2018, o biomédico catarinense Tércio Kasten diz que dará mais poder aos presidentes das federações estaduais em sua gestão e que a criação do Sistema “S” na saúde será uma das suas prioridades

“Sou um entusiasta do associativismo como instrumento indispensável para uma democracia plena e fator importante voltado para os interesses de nossa categoria. Quero ser um porta-voz dos nossos associados”

Diagnóstico | jan/fev/mar 201628

ENTREVISTATÉRCIO KASTEN

“Novas propostas e novas ideias sempre são bem-vindas. Não vislumbro uma reeleição. A renovação é muito importante, e quero mostrar isso no setor da saúde, pois é algo que nem sempre ocorre na agenda pública brasileira de modo geral”

às federações. Como isso se dará?Kasten – Já iniciamos o ano com a primeira reunião dos oito presidentes das federações, quando desenhamos o modelo de gestão compartilhada que será implementado na CNS. Os presidentes das federações, que são os vice-presidentes da CNS, ocuparão espaços estratégicos dentro de um novo modelo de governança que implantaremos. É o que chamo de gestão dos oito presiden-tes. O papel desses dirigentes é tão impor-tantes quanto o meu.

Diagnóstico – O que o senhor prevê em termos de reforma estatutária na CNS?Kasten – Na primeira reunião deste Conse-lho de Representantes da CNS, decidimos que uma reforma estatutária será realizada no tempo em que a necessidade para tal ocorra. A primeira talvez seja no sentido de estabelecer o protagonismo dos diretores na gestão compartilhada, como citei anterior-mente. Cada vice-presidente deve abraçar responsabilidades de acordo com sua von-tade. Um vice, por exemplo, pode cuidar da arrecadação; outro, das relações com o Congresso, cuja segunda maior bancada é a de médicos. E também alguém que cuide do sistema “S” da saúde. É preciso ainda que um vice-presidente fique incumbido do re-lacionamento com os ministérios da Saúde e do Trabalho – os mais importantes dentro do nosso sistema, uma vez que somos um sindicato patronal da área da saúde. Tam-bém pretendo contratar um diretor executi-vo remunerado que possa realizar uma ges-tão profissionalizada de governança. Não sei quando será feita essa contratação, tudo dependerá do nosso orçamento.

Diagnóstico – Acha que seu cargo deveria ser remunerado?Kasten – Não. O cargo é exercido volun-tariamente com o intuito de representar nossos associados, sem profissionalismo re-munerado. Nosso cargo é político classista e nossa remuneração provém de nosso exer-cício profissional particular, que nos habili-ta a esse exercício, de acordo com a legisla-ção sindical brasileira, que também proíbe a remuneração dos dirigentes sindicais.

Diagnóstico – Qual o orçamento da CNS para 2016? Que impacto a crise pode ter para a confederação?Kasten – O orçamento da CNS para 2016 é de R$ 3,3 milhões e depende exclusiva-

mente da contribuição (imposto) sindical recolhido compulsoriamente pelos esta-belecimentos prestadores de serviços de saúde, com exceção dos filantrópicos e dos optantes pelo Simples, e, também, da Con-tribuição Confederativa, que é associativa e serve para a manutenção do Sistema Confe-derativo da Saúde. Há de se enaltecer que os estabelecimentos públicos/governamentais, por não fazerem parte de nossa representa-ção, também não realizam o recolhimento de qualquer espécie para o nosso sistema. É preocupante a atual crise econômico-finan-ceira do Brasil e seu aprofundamento nos próximos anos, na medida em que a inadim-plência no recolhimento das contribuições citadas possa ocorrer, assim como o impac-to do aumento da inflação nas despesas cor-rentes da CNS.

Diagnóstico – Quando o país terá um mi-nistro da Saúde pertencente aos quadros da CNS? Kasten – Não vejo a necessidade de um nome oriundo da CNS para ocupar esse cargo, pois o que vale é a capacidade do ocupante em termos de conhecimentos técnicos, além da importância política que, espera-se, o cargo deve ter. A capacidade técnica reside principalmente na realização de um planejamento estratégico de longo prazo para o setor, o que na atualidade não existe, principalmente quanto à atenção e à assistência hospitalar. Acho que a politiza-ção no modelo atual faz mal não só ao setor saúde mas a toda a administração pública. A nomeação para um cargo como o de mi-nistro da Saúde não pode obedecer apenas a interesses político-partidários.

Diagnóstico – Quando foi presidente in-terino da CNS, o senhor sempre teve um perfil apaziguador, que costuma delegar funções, mas ao mesmo tempo não abria mão de implementar as ações que julgava serem as melhores para o futuro da confe-deração. Qual será o perfil do presidente eleito?Kasten – Sou um entusiasta do associativis-mo como instrumento indispensável para uma democracia plena e fator importante voltado para os interesses de nossa catego-ria. Portanto, quero ser um porta-voz dos nossos associados, um unificador das ações com outras entidades que representam o setor saúde, sempre de forma democrati-camente compartilhada e, quando houver a necessidade, com posições firmes. Meu per-

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fil não é o de centralizar todas as operações.

Diagnóstico – Como o sistema “S” da saú-de contribuiria para a solução dos proble-mas de assistência médica no país, em particular a capacitação dos profissionais? O que ele significaria em termos de capital a ser investido no setor?Kasten – Será um “novo dinheiro” para o financiamento da saúde, mesmo que de for-ma indireta, e que terá grande influência na capacitação da mão de obra dos trabalhado-res do setor, em todos os níveis profissio-nais. Estimamos que a criação do Sistema “S” na saúde representaria receitas adicio-nais em torno de R$ 400 milhões anuais, no mínimo.

Diagnóstico – Como elevar o status políti-co da CNS?Kasten – Demonstrando ao governo e à sociedade que a CNS representa o que há de mais eficiente em termos de serviços de saúde, cujos inúmeros modelos poderão au-xiliar na gestão dos serviços públicos. Os melhores hospitais brasileiros são os priva-dos, que abrigam modelos de excelência, tanto em assistência, quanto em gestão. O SUS hoje segue um modelo que não tem mais lugar na sociedade, com uma gestão que muitas vezes custa cinco ou seis vezes mais que a do serviço privado e com uma eficiência muito menor. Estamos abertos para ajudar na gestão do serviço público, de modo geral.

Diagnóstico – O senhor acredita que a en-trada do capital estrangeiro nos hospitais pode melhorar a performance financeira do setor?Kasten – Acredito que sim. Ainda existem muitas dúvidas sobre o assunto. Como são investimentos que, via de regra, necessitam de retorno financeiro, como seriam feitos no SUS? O cidadão e os hospitais dependentes do SUS serão atingidos? Já como apropria-ção de novas tecnologias e novos conheci-mentos de gestão – como vemos em outros setores da economia –, a entrada do capital estrangeiro deve aumentar muito a perfor-mance do nosso setor.

Diagnóstico – O setor foi em 2015 um dos poucos no país a ter saldo positivo entre contratações e desligamentos, segundo o IBGE. É possível fazer alguma estimati-va sobre esse balanço para os próximos anos?

Kasten – Acredito que manteremos os mes-mos níveis de 2015, pois é um setor que necessita de um número cada vez maior de profissionais para dar assistência ao cidadão brasileiro. Crises econômicas acarretam uma maior demanda dessa assistência, em qualquer lugar do mundo. As pessoas ficam mais doentes. Pode ser que não haja mais contratações, mas para haver demissões se-ria necessária alguma questão muito grave no país, como o fechamento de hospitais. Mas acho que não será o caso.

Diagnóstico – Como o aumento dos custos hospitalares e a alta do dólar podem afe-tar a performance dos hospitais?Kasten – Esta é uma situação que trará des-conforto para o setor, pois o aumento dos custos hospitalares e dos de outras áreas como laboratórios, imagem e clínicas está atrelado ao aumento da inflação da saúde, que sinaliza para aproximadamente 20%, vinculado ao aumento dos salários e dos in-sumos utilizados no setor. Tecnologicamen-te falando, o dólar tem influência relevante nos custos hospitalares, uma vez que essa tecnologia é praticamente toda importada.

Diagnóstico – Em poucas palavras, como definiria A CNS que Queremos, o slogan de sua campanha?Kasten – A CNS que Queremos resumida-mente será: mostrar a CNS para o Brasil; construir uma gestão compartilhada; apri-morar o relacionamento com entidades par-ceiras; ajudar na solidificação da saúde su-plementar; aprovar o projeto “S” da saúde.

Diagnóstico – O senhor pretende se candi-datar às próximas eleições na CNS?Kasten – A minha gestão é de três anos, en-cerrando-se no dia 31 de dezembro de 2018. Novas propostas e novas ideias sempre são bem-vindas. Não vislumbro uma reeleição. A renovação é muito importante, e quero mostrar isso no setor da saúde, pois é algo que nem sempre ocorre na agenda pública brasileira de modo geral.

Diagnóstico – Como avalia a política de saúde do governo?Kasten – O subfinanciamento e a falta de planejamento demonstram que não há po-lítica de saúde no governo, com a exceção dos programas de imunização de doenças, dos transplantes e de medicamentos, que são sucesso porque foram planejados para longo prazo, antes desta gestão.

“A falta de planejamento demonstra que não há política de saúde no governo, com a exceção dos programas de imunização e de medicamentos, que são sucesso porque foram planejados para longo prazo, antes desta gestão”

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Adriana Gasparian é mestre em pediatria e tem MBA em economia e gestão da saúde; atua como diretora da EY para a área de saúde e já trabalhou na Amil e na Porto Seguro, na área de contas médicas.

de informação demandada pelo superconsumidor citado acima; ali-mentar base de dados das grandes empresas com informações gera-das a partir de inocentes equipamentos que usamos no nosso dia a dia na prática de esportes ou no registro de atividades da vida diária; transmitir ao médico informação relevante em tempo real sobre o es-tado clínico e resultados de exames de pacientes entre tantas outras. A questão primordial é: com qual grau de criticidade estamos ava-liando estes criativos instrumentos que interferem na relação médi-co-paciente? Uma resposta de um médico por WhatsApp o protege-rá nos casos de um desfecho infeliz de um caso? Será que queremos fazer parte de uma base de dados que não gere informação inteligente e que não se reverta em benefícios para a saúde populacional? Qual o uso que fazem das informações geradas a partir de wearables acopla-dos ao nosso corpo? Como regulamentar e fiscalizar toda esta onda? Estes questionamentos não traduzem uma postura retrógrada, mas sim uma preocupação genuína com o impacto da entrada indiscrimi-nada destes instrumentos no mercado da saúde.

Indubitavelmente grande parte das inovações traz eficiência à ca-deia da saúde, contribuindo de forma consistente para otimização de processos, acessibilidade, capilaridade e transmissão de informação em tempo real. Como exemplos, podemos citar as centrais de emis-são de laudos a distância e a telemedicina formal, criada dentro das normas dos conselhos.

Levando-se em conta que a inovação pode contribuir para o apri-moramento das instituições e que a insustentabilidade dos custos as-sistenciais está gerando uma mudança na relação entre os players envolvidos, um objetivo comum deveria nortear os esforços dos líderes, buscando construir relações inovadoras, colaborativas, en-gajadoras e participativas. Neste modelo os principais beneficiados serão as instituições, os pacientes e, de um modo mais abrangente, a cadeia como um todo. O paciente deve ser colocado no centro de todo o sistema a despeito dos demais fatores relevantes e como tal deve ser tratado também como um participante ativo do sistema e cada vez mais ser ensinado a ser o gestor de sua saúde. Toda a inova-ção trazida pela tecnologia móvel, pelos aplicativos e pelas demais ferramentas, incluindo as mídias sociais, deve estar pronta e madura o suficiente para permitir que uma nova era na área da saúde possa ser implementada e assim contribuir de modo perene para a susten-tabilidade do setor.

ARTIGOAdriana Gasparian

O setor de saúde apresenta modelos de relaciona-mento diversificados e muitas vezes conflituo-sos entre os diferentes participantes. Em rela-ção ao Sistema Único de Saúde (SUS), temos conceitualmente uma abrangência universal e que na realidade cuida de modo deficitário de apenas uma parcela da população e que re-

passa à saúde suplementar os custos decorrentes de atendimento de usuários que possuem planos de saúde. A saúde suplementar atinge em torno de 25% da população sendo que o valor envolvido é muito maior quando comparado ao do SUS, que atende aos outros 75% da população. A tríade formada pelo prestador de serviços de saúde, pa-ciente e fonte pagadora é complicada, uma vez que um terceiro arca com os custos dos serviços prestados. A relação médico-paciente a princípio pautada pelo estabelecimento de grau máximo de confian-ça foi deteriorada a ponto de uma consulta durar menos de cinco minutos e o usuário do plano de saúde se colocar como um super-consumidor ávido por exigir que o médico solicite exames comple-mentares de alto custo, gerando custos assistenciais desnecessários. Paradoxalmente ao avanço da tecnologia médica, não observamos diminuição significativa no headcount assistencial. Por sua vez, os órgãos regulatórios em diversas situações criam regras a serem cumpridas pelos prestadores e pelas fontes pagadoras e que antes de serem pensadas em trazer maior eficiência aos processos trazem entraves à cadeia de saúde. Os custos assistenciais decorrentes de um cenário extremamente dinâmico tornaram-se insustentáveis e com isso temos assistido ao surgimento de novos modelos de relaciona-mento em saúde.

Diante de um SUS deficitário e do alto custo de um plano de saúde individual (não corporativo), a parcela da população que não possui emprego formal vê surgir modelos alternativos de prestação de serviços de saúde que deflagram esperança por um atendimento de qualidade, acessível e adaptável a suas necessidades do momento. Como exemplo, podemos citar as clínicas de consulta compostas por médicos com boa formação técnica que se propõem a dedicar parte de seu tempo a atender a preços acessíveis comunidades de baixo poder aquisitivo. Esta iniciativa tem se mostrado um sucesso aos empreendedores e ao paciente, que no curto prazo, tem seu proble-ma resolvido. Este modelo de clínica tem se proliferado e, graças a ele, uma parcela importante da população tem tido acesso a um aten-dimento digno. Também temos assistido, em formato de start ups, modelos inovadores de financiamento da saúde através de cartões de crédito voltados exclusivamente para esta finalidade, com envolvi-mento de instituições financeiras relevantes no Brasil e destinados a ser usado em redes credenciadas específicas com agendamento onli-ne e com outras opções como forma de pagamento.

Do ponto de vista da relação médico-paciente, surgiram incontá-veis aplicativos, ferramentas, blogs que possuem vários e diferentes objetivos. Apenas para citar alguns: aumentar a velocidade da troca

Modelos de relacionamento inovadores em saúde

A questão primordial é:com qual grau de criticidade estamos avaliando estes criativos instrumentos que interferem na relação médico-paciente?

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Nosta se apreseNta como busiNess coNsiglieri, alguém em quem se pode confiar e que vai ajudar na evolução de seu pensamento e na condução de sua estratégia de engajamento de mercado

PERFILJOHN NOSTA

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O CONSIGLIERE DA GOOGLE HEALTHO biomédico americano John Nosta é definido como um influenciador e um dos mais admirados disruptores na saúde digital. A si próprio, prefere ser visto como um consigliere – termo eternizado no filme O Poderoso Chefão. Mas do bem.

Harvard, Ogilvy, For-bes, Bloomberg e Google. Quem não gostaria de perten-cer a qualquer des-tas organizações? John Nosta estudou

fisiologia cardiovascular em Harvard, foi chief creative officer, chief strategic officer e president Unit da Ogilvy, a maior agência de comunicação de saúde do mundo, opina regularmente sobre saúde digital na Forbes e Bloomberg e integra o conselho consultivo da Google Health. Nosta é também fundador e presidente da NostaLab, um think tank de saúde digital que ajuda empresas na tarefa de capacitar a inovação através de pensamento estratégico e criativo.

John Nosta é mais um caso de sucesso de 2ª geração, imigração europeia para os EUA. Seus avós emigraram da Europa Oriental, da Romênia e da Polônia, e criaram raízes a meia hora de Manhattan, em Perth Amboy (NJ). Seu pai, John T. Nosta, era engenheiro eletricista e apresentou a seu filho o universo da eletrodinâmica, incutindo nele a curiosida-de em saber como as coisas funcionam. Rose Nosta, uma CEO do lar, presidia ao conselho de administração doméstico que geria toda a educação de John e sua irmã Nancy. Nancy, oito anos mais velha que John, se tornou uma pintora expressionista abstrata, professora e líder educacional das belas-artes. A criativida-de parece ser algo genético nos Nosta, mas no caso de John teve uma forte influência do pai e da lógica científica que norteava sua profissão.

Nosta também tem um lado de facilitador, de tradutor da ciência, da medicina e do digi-tal. Já Einstein defendia que “você não enten-

FilipE sousa

de realmente algo, a menos que você consiga explicá-lo para sua avó.” E Nosta tem essa ca-pacidade, ele sabe explicar os temas científi-cas mais complexos para sua avó. Até mesmo em espanhol, idioma que aprendeu ao lidar com a populosa comunidade porto-riquenha de Perth Amboy.

O sonho de John T. Nosta era que seu filho fosse médico. Aos 16 anos, John frequentou um programa avançado de verão em Har-vard, em seguida explorou a área de trauma médico móvel, tornando-se paramédico na sua cidade. Estavam concluídos os alicerces para se concretizar o desejo do pai Nosta e o filho Nosta entrou na Universidade de Boston em uma graduação em biofísica. Em seguida, John passou um ano fazendo pesquisas na Harvard Medical School e foi orientado por vários médicos, incluindo o chefe de cardiolo-gia (naquela época) Thomas Smith. Foi ideia do Dr. Smith que John seguisse um programa de PhD. “Entrei na faculdade para estudar fi-siologia. Eu sempre tive um grande interesse em medicina, mas descobri que os meus in-teresses iam bem além da medicina, em áre-as como criatividade, arte, filosofia. E acabei achando a medicina, naquele momento, uma área muito chata, em última análise. Eu tive uma oportunidade fantástica em Harvard de falar com algumas das pessoas mais inteligen-tes nessa área. Tendo esse luxo, não falávamos sobre detalhes de medicina, mas de questões de geopolítica, de amor, de arte.

Mas John estava interessado em explo-rar uma realidade mais vasta. Então, deixou Boston e se mudou para Nova Iorque, onde se tornou escritor e pensador. Nosta deixou a investigação médica em fisiologia cardiovas-cular para desespero de seus pais, mas não

Vivemos em um ponto de inflexão da história humana em que a evolução da tecnologia, o desejo de reforma dos cuidados de saúde, as questões do poder do paciente, estão todos juntos e as coisas vão mudar.

sem antes publicar com seus mentores, por exemplo, no American Journal of Cardiology. Isso foi algo que lhe deixou ensinamentos im-portantes, que acabaram sendo a base para sua apetência pela saúde digital.

“Comecei a trabalhar na indústria de ciên-cias da vida, como pensador criativo e estra-tégico para grandes farmacêuticas. Esse foi o início da minha transição. Foi aí que ganhei competências que me deram um pouco da ex-periência real para moldar a forma como olho para o mundo e para a saúde e a medicina,

Diagnóstico | jan/fev/mar 201634

sempre muito próximo da medicina e inova-ção, mas olhando sob uma perspectiva dife-rente”, conta John Nosta.

Ele acredita profundamente na simbio-se entre o poder da capacidade humana e o poder da tecnologia, em como a aliança en-tre ambos pode melhorar a nossa saúde. E é com entusiasmo e paixão pela saúde digital que fala com outras pessoas sobre o assunto. Uma paixão reconhecida por seus pares, por pacientes, médicos, indústria farmacêutica, pelas empresas de tecnologia, por analistas e jornalistas. Foi escolhido como um dos In-fluenciadores de Saúde Digital, em 2015, De-fensor de Topo da Revolução Digital de Saú-de, Pensador Líder de Saúde Digital, Futurista de Saúde Digital e é assinalado como um dos Influenciadores do Top 25 em Big Pharma. John Sculley, ex-CEO da Apple Computers e Pepsi, afirma que “John Nosta fornece uma perspectiva abrangente sobre o movimento de saúde digital. Com sensibilidades únicas para a ciência, engajamento do consumidor e marketing da marca, ele combina a paixão com conhecimento e oferece mais do que um discurso, ele fornece uma conversa engajada que informa e move sua audiência. O domí-nio do conhecimento de John da medicina,

tecnologia e marketing faz dele um observa-dor atento da saúde digital e um dos poucos capazes de articular claramente a importância deste movimento na história da humanidade”. E Gil Bashe, vice-presidente executivo, dire-tor de prática de saúde da Makovsky & Com-pany, alinha pelo mesmo discurso e acredita que “John é um pensador talentoso capaz de ver peças do puzzle e visualizar todo o que-bra-cabeça em conjunto. John é capaz de ver como os clientes de saúde, a viagem do pro-duto e o sucesso se cruzam. Em um mundo digital de convergência, John é um essencial em qualquer equipe Quando John tem uma ideia, ouça!”.

John diz que tenta entender tendências e dados de uma forma básica e fundamental. Depois tenta interpretar dentro de um contex-to social ou clínico ou de saúde digital. E acre-dita que tudo o que escreve vem de uma pers-pectiva assente numa base factual. Mesmo as pessoas que leem a Forbes ou que assistem à Bloomberg muitas vezes ainda não possuem conhecimento para compreender uma área nova ou emergente e a sua percepção é super-ficial. “Acredito que os meus leitores querem um determinado nível de análise e uma voz in-formada que proporcione uma visão mais pro-funda. Eu gosto de levar as ideias para locais novos e inesperados. Em saúde, isso acontece fazendo perguntas essenciais, olhando para a natureza da inovação e como essa inovação se encaixa nas necessidades clínicas, sociais e financeiras.”

Aceitou integrar o conselho consultivo da Google Health e conta que as suas expectati-vas estavam em aberto. “Acho que esperamos sempre surpresas da Google. Na verdade, pes-soalmente foi uma oportunidade de me sentar em uma sala com pessoas realmente inteligen-tes e falar sobre o que está acontecendo no mundo e ter essas pessoas compartilhando sua sabedoria comigo.”

Na opinião de Nosta, as empresas de tec-nologias vão facilitar grandes avanços em saú-de sem nem saberem. Empresas como Google e Microsoft estão atuando no espaço da saúde por existir uma convergência única de múlti-plos fatos. “Primeiro, existe uma necessidade urgente, segundo, existe a oportunidade tec-nologica para executar. Em terceiro, existe um sentimento de deslumbramento na sociedade, a tecnologia é parte fundamental das nossas vidas e nós a abraçamos de formas novas e emocionantes. Existe também um imperativo moral que nos leva a fazê-lo. Vivemos num momento em que a oportunidade e a tecnolo-gia estão se encontrando”.

A Ogivly foi sua casa durante dez anos, foi chief strategic officer e chief creative officer, o que era uma combinação singular. Muitas vezes os estrategistas são analíticos e olham para o mundo de uma maneira muito factual, enquanto um criativo é mais eclético, olhando para o mundo com uma visão totalmente dife-rente. “Para mim foi uma oportunidade excep-cional para olhar para o setor de healthcare e filtrar a informação através de um cérebro que está sintonizado numa frequência criativa.” Vê a indústria farmacêutica enquanto indús-tria que muda as nossas vidas e, literalmente, salva vidas. “É extraordinariamente interes-sante trabalhar para essa área enquanto criati-vo, pois é também extraordinariamente regu-lada. Cada frase que sai desse setor é revista cada vez menos pelos criativos, e cada vez mais pelas pessoas dos departamentos legais e regulatórios.” É um desafio, mas John ri e diz que fazemos as coisas, não por serem fáceis, mas por serem dificeis, por serem aliciantes e por poderem mudar nossas vidas.

Redes sociais“A pasta dental já saiu do tubo e não volta

a entrar”. Na área de saúde algumas pessoas ficam nervosas, pessoas que não acham que os pacientes devam comentar sobre a qualidade do hospital ou sobre a competência clínica de um médico. Nosta crê que a inteligência co-letiva dos pacientes é tão ou mais inteligente que a do médico. “Vamos supor que um casal tem um filho com câncer. Esses pais têm um conhecimento extraordinário da condição de saúde do filho, das pesquisas sobre câncer e das questões particulares do câncer do filho. Quando esse conhecimento é compartilhado com outros pais que compartilham quer o po-der intelectual, quer a experiencia emocional, o que obtemos é um resultado importante, po-deroso e profundo que pode acrescentar algo à intervenção que tradicionalmente seria ofe-recida pela comunidade farmacêutica e clínica para abordar o problema de saúde. Não é algo trivial, é um aspecto transformativo dos cuida-dos de saúde.” O paciente já está redefinindo a saúde e a medicina como as conhecemos. E as escolas médicas estão treinando médicos para ser menos intimidadores para os pacientes.

Um importante fator de mudança quan-do falamos no movimento de saúde digital é a telemedicina. “É, cada vez mais, a primei-ra linha de defesa”, diz Nosta. Representa a possibilidade de interagir com um médico de forma imediata e rápida aos primeiros sinais de doença ou mal-estar, pode ajudar a colocar o paciente no caminho para uma terapia mais eficiente, mais econômica e mais poderosa

PERFILJOHN NOSTA

Ninguém está mais surpreso do que eu. Todo mundo tem algum desejo de ajudar a mudar o mundo, eu queria usar meus pontos fortes na comunicação e ciência para ajudar a alavancar a saúde digital em uma realidade prática.

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 35

clinicamente. “É uma oportunidade para pro-videnciar mudanças disruptivas fundamentais na assistência médica, principalmente em pontos de necessidade urgente, como certos países em desenvolvimento, onde as pessoas não têm qualquer acesso a cuidados de saúde, aí a telemedicina pode proporcionar mudan-ças fundamentais.”

NostaLabOs avanços na tecnologia são perturba-

dores, desafiadores e capacitam um novo “coletivo social” que irá mudar a medicina na sua essência. Por isso, o think tank Nosta-Lab propõe a criação de uma nova sociedade médica. A premissa do NostaLab é empoderar inovação através de pensamento estratégico e crativo eficaz. Nosta usa uma comparação in-teressante: “Por vezes quando você tem uma grande ideia é como piscar o olho no escuro. Você sabe que está piscando, mas ninguém mais sabe. É importante comunicar as ideias de forma eficaz para criar uma estratégia de mercado. Por exemplo, muitas vezes as pesso-as dizem ‘se eu construir, os interessados vão aparecer’. E isso não é verdade. Se você cons-truir um dispositivo ou tecnologia de saúde

digital, você precisa engajar uma comunidade própria, seja a comunidade hospitalar, médi-cos, para obter validação, ou conectar com os consumidores ou pacientes e levar a inovação na direção deles. Não é algo em que tenha que escolher um ou outro, por vezes é uma combi-nação. E pensamos formas de criar marketing e publicidade para ajudar a comunicar isso da maneira mais eficaz e mais eficiente. Convém lembrar que muitas empresas digitais não têm orçamentos grandes e mesmo as grandes com-panhias que têm orçamentos maiores limitam os montantes disponíveis para testar essas ideias.

É aqui que surge o NostaLab, um grupo de consultores que ajudam a providenciar pensa-mento fundamental em torno de inovação de saúde digital e também dão segunda opinião a empresas farmacêuticas, agências de publi-cidade e firmas de RP, que lhes permitem rea-valiar suas linhas de pensamento do ponto de vista de alguém que tem uma visão de quem está por dentro.

Business consigliereO NostaLab não é um anjo, pois não finan-

cia. Nem mesmo é um cupido, pois não cau-

sa paixão entre projetos e investidores. Nosta encontrou no filme Godfather (O Poderoso Chefão) a definição mais correta para a sua função. É um business consigliere, alguém em quem se pode confiar e que vai ajudar na evo-lução de seu pensamento e na condução de sua estratégia de engajamento de mercado.

Nosta quer transformar a saúde digital em uma realidade prática para ele, o setor de saú-de necessita de plataformas de colaboração para permitir que os médicos trabalhem em torno de processos como investigação, prática clínica, educação continuada, saúde digital e medicina digital. Mais do que IA, ou inteli-gência artificial, estamos presenciando, graças à tecnologia, o aparecimento de AI, aumento de inteligência.

Para ser pensador, criativo, filósofo, con-selheiro, Nosta analisa o seu papel como pa-ciente que ambiciona uma interação com a medicina que melhore a experiência humana e traga mais valor à vida. A medicina não pode ser apenas um meio de solucionar problemas de saúde. Nosta acredita que o digital tem tudo para tornar completamente diferente a relação do paciente com a medicina. Para melhor.

JoHN Nosta: o norte-americano acredita que é preciso engajar uma comunidade para obter validação, conectar com os consumidores ou pacientes e levar a inovação na direção deles

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201636

SAÚDE DAS COISASInternet das coisas é um conceito muito amplo. Abrange aplicativos, dispositivos, equipamentos e já apresenta soluções que estão otimizando processos de gestão no setor de saúde. Apesar de estar em desenvolvimento em vários países, no Brasil ainda dá os primeiros passos.

ANÁLISEINTERNET DAS COISAS EM SAÚDE

NO SETOR DA SAÚDEEstá proliferando a quantidade de

empresas que atuam na área de internet das coisas (IdC), na parte de platafor-mas, equipamentos e aplicações. Na área de saúde, lá fora, a grande evolução está principalmente com a parte de monitora-mento de equipamentos e pacientes dentro de unidades hospitalares. Douglas Pesa-vento, CEO da Sensorweb, dá o exemplo dos equipamentos já integrados ao siste-ma de gestão do hospital, mas afirma que isso é algo que está ainda engatinhando no Brasil. Existem padrões de comuni-cação hospitalar, como o protocolo HL7, que permite interoperar sistemas na área de saúde – equipamentos, software, ban-co de dados – e integrar todas as informa-ções. Isso está bem evoluído lá fora, nos EUA, Europa, Japão, e os equipamentos

já estão saindo da fábrica com a comuni-cação embarcada e permitindo integrar ao sistema de gestão dos hospitais.

NO BRASIL Alguns hospitais de referência - Albert

Einstein, Rede D’Or, Icesp - estão come-çando agora a colocar isso como requisito de compra. É algo muito recente, em fase muito embrionária. Também a rastreabili-dade de medicamentos está padronizada no exterior. Ou seja, temos uma tag associada ao medicamento que me dá todo o movi-mento dele, como correu e que me permite ativamente saber a localização dele. Essa é a área de IdC que tem crescido mais no Brasil, mas ainda é pouco utilizada, espe-cialmente em ambiente público, que tem muito controle manual de medicamentos. Isso faz com que a perda aumente, seja

por vencimento ou por armazenamento em condições não adequadas. Algumas pesqui-sas apontam que temos 15 a 20% dos me-dicamentos falsificados, então a rastreabili-dade dos medicamentos ajuda nesse tipo de controle também.

LÁ FORAUma área que já tem soluções no estran-

geiro é o monitoramento de insumos como líquidos e gases. Monitorar cilindros de hé-lio e gases especiais para a área de saúde é ainda muito manual. As pessoas têm que se deslocar periodicamente até os locais para ver se é necessário trocar. No estrangeiro isso já tem soluções, já está integrado no sistema de gestão. Quando o nível do gás está crítico, dispara automaticamente um processo de compra. É algo que aqui lemos, mas ainda não se vê na prática.

FilipE sousa

Fanem 2015

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 37

UMA SEGUNDA OPINIÃO

Roberto Cruz, CEO da Pixeon, falou recentemente sobre como a internet das coisas pode ser um dos novos pila-res da saúde. Internet das coisas (IdC) ou internet of things (IoT) é a comu-nicação entre “produtos do cotidiano” e a internet de forma a proporcionar ao usuário maior conforto e pratici-dade na hora de planejar atividades que dependam de alguma tecnologia. Dispositivos que lançam alertas, equi-pamentos programados para realizar uma determinada ação em determi-nado horário e com uma determinada periodicidade, ou os já famosos apare-lhos para monitoramento e os dispo-sitivos vestíveis. Mas existem aplica-ções mais complexas de IdC, algo que seria mais futurista, como dispositivos subdérmicos colocados no paciente para monitorar os níveis de açúcar ou sensores ingeríveis, que controlam os efeitos de um medicamento. A inter-net das coisas pode proporcionar um conjunto de vantagens, que vão da área clínica à área financeira, reduzin-do custos e aumentando a qualidade da assistência, diminuindo as perdas e os erros e majorando a eficácia dos tratamentos.

O controle de dispositivos vestíveis para monitoramento de pacientes traz bastante benefício para os hospitais, o que lá fora é bastante utilizado. As próprias farmacêuti-cas usam isso para testes de medicamentos, monitorando um paciente que está usando um medicamento em fase de teste, antes da aprovação. Mas isso está em fase de desen-volvimento, especialmente no Brasil, pois é necessário avaliar quais as soluções que têm uma boa relação custo-benefício. A po-pulação que tem dependência de alguém, que precisa de cuidados, tem a tendência de crescer e existe uma expectativa de que essa população dependente deve ultrapas-sar a população dita produtiva, uma meta apontada para 2025, o que abre um leque muito grande de oportunidades para os ves-tíveis. Uma vez que você monitora o pa-ciente, você pode trabalhar proativamente, verificar se ele está fazendo os exercícios regularmente, se está tendo os cuidados necessários, apoiar na indicação de medi-camentos. Ainda é, hoje, muito incipiente.

INVESTIMENTOA eficiência da monitorização do pa-

ciente tem vindo a se comprovar e existem reais vantagens sobre a internação. Nos EUA e na China existe financiamento pú-blico para vestíveis, o Estado está ajudando as pessoas a adquirir esse tipo de equipa-mento pensando numa qualidade de vida e numa redução de custos do próprio siste-ma. No Brasil, vemos um aumento dos pla-nos de saúde – atingiu quase 30% em 2015 -, comparativamente com outros países como os Estados Unidos, onde a cobertura engloba quase 90% da população. Dentro dos planos de saúde, existe o interesse em investir no monitoramento dos pacientes, especialmente idosos ou pacientes com problemas críticos. Já estamos comprovan-do os benefícios disso, evitando ter o pa-ciente internado, reduzindo custo e conse-guindo acompanhar o paciente diariamente e proativamente.

No Brasil deveremos ter várias frentes: os planos de saúde que vão disponibilizar isso para determinados perfis de pacientes, como os idosos, o próprio governo fomen-tando, mas não num curto prazo, e vai ter até o caso de famílias com poder aquisitivo contratando serviço de monitoramento di-retamente com as empresas que oferecem esse tipo de serviço. Ainda existe a possi-bilidade de certos médicos ou as clínicas particulares disponibilizarem esse tipo de

solução. Não há clareza quanto às formas como isso irá surgir, mas com toda a certe-za não irá surgir de uma única forma.

SEGURANÇA DOS DADOSDe acordo com artigo do médico esco-

cês Des Spence, no British Medical Jour-nal, os dispositivos vestíveis e apps de saúde são meros adornos comparáveis a brincos e colares. Para o médico de Glas-gow, “Estes dispositivos e apps são incer-tos, os dados recolhidos não são confiáveis e muitos desses instrumentos não foram testados e não são científicos. A humanida-de está perdendo tempo monitorando a vida em vez de vivê-la”. A segurança e privaci-dade dos dados são outras falhas apontadas por Spence.

Douglas Pesavento diz que isso é algo crítico no mundo inteiro, com casos de da-dos de planos de saúde e de hospitais que foram roubados ou extraviados, recupera-dos após o pagamento de milhares de dó-lares. Não há registro de casos de extravio de dados no Brasil, pelo menos na área de saúde. Mas é verdadeiro que há lacunas que vêm sendo corrigidas na infraestrutura de informação e telecom e de transmissão de dados. São coisas que atrasam a evolução da IdC, mas que obrigam a melhorar, tendo em consideração onde e como se guarda a informação, quem tem acesso a essa infor-mação. São pontos críticos, requerem uma estrutura segura e fazem com que se traba-lhe para melhorar a segurança dos dados e informações.

2016 É CEDO DEMAISHoje em dia a IdC para a área da saú-

de ainda está começando. Temos soluções, temos empresas iniciando nessa área, te-mos fundos de investimento, o primeiro fundo nasceu recentemente, em 2015, em São Paulo. Tem um tempo de maturação para isso e o próprio panorama do Brasil é complicado. Grande parte do investimento do setor de saúde vem do setor público e é sabido que há uma recessão. O próprio Ministério da Saúde admitiu que a situação está ruim, mas pode piorar, o que faz prever dificuldades na evolução. Na parte privada, com a abertura ao investimento estrangeiro, está tendo muito movimento de fundos es-trangeiros querendo investir em hospitais e estruturas, principalmente, o que pode tra-zer alguma evolução na área privada. O ano de 2016 não será o boom da IdC na saúde brasileira, mas será um ano de validação, é

o ano em que poderemos validar a viabili-dade financeira e vai permitir testar essas tecnologias e ter mais contato com isso, se familiarizar com esse tipo de solução, criar uma segurança na hora de apostar na tecno-logia de IdC. Isso é algo que a Sensorweb percebe de forma intima, um processo pelo qual passou e passa na hora de demonstrar para o cliente o quanto a solução é eficaz, qual o retorno do investimento que ele faz. Na área de saúde, é necessário provar por A+B que vai haver ganhos com a aposta em IdC. Hoje em dia, isso é algo possível de fazer com base em clientes existentes, apresentando históricos, o que se conse-guiu evitar de perdas, como foi possível tornar os processos mais eficientes, o que agregou de valor em termos de qualidade e segurança de paciente.

Diagnóstico | jan/fev/mar 201638

ANÁLISEINTERNET DAS COISAS EM SAÚDE

Cases de sucessoO Brasil está ainda engatinhando no que diz respeito à internet das coisas, no entanto, existem casos práticos dos pequenos avanços que vão já se registrando. A Sensorweb apresentou alguns desses casos que já são uma realidade no setor de saúde brasileiro

INSTITUTO DO CÂNCER DE SÃO PAULO - ICESP

O Icesp possui mais de 100 equipamentos monitorados, distribuídos em 27 andares. Antes da Sensorweb, os registros principalmente fora do horário comercial (noite, feriados, fins de semana) eram feitos pelos técnicos a cada quatro horas, ou seja, nem terminava de anotar as informações já tinham que recomeçar para dar conta. Ou seja, nestes horários alocavam praticamente uma pessoa dedicada a isso. Além da questão de tempo e de pessoas, o processo manual não garantia a confiabilidade necessária, ou seja, após a implantação do Sensorweb, os dados históricos de monitoramento e alertas no momento exato permitiram à equipe de manutenção trabalhar proativamente nestes problemas e conseguir evitar perdas. Os alertas e informações gráficas permitiram também fazer uma manutenção preditiva de equipamentos, o que não acontecia anteriormente, pois os registros eram pontuais de quatro em quatro horas, não permitindo identificar problemas ou falhas nos equipamentos.

HEMORREDE DE SANTA CATARINA - HEMOSC

São monitorados mais de 400 equipamen-tos em 23 unidades do Hemosc. Antes da Sensorweb, era necessário deslocar pes-soas durante fins de semana, feriados e à noite para as unidades a fim de realizar o registro da temperatura a cada quatro horas, conforme legislação. Também ha-via alocação de pessoas por 24 horas em algumas unidades mais críticas, para rea-lizar este registro. Além de reduzir estes custos, o sistema permitiu monitorar o sistema constantemente em tempo real e não somente a cada quatro horas, trazendo inúmeros benefícios, como a verificação de problemas em equipamentos, dispa-ro de alertas no momento do problema e

maior confiabilidade com a automação do registro. Também contribuiu para a conquista da certificação internacional da AABB (Associação Americana de Bancos de Sangue).

INSTITUTOS DE PESQUISAEm instituições de pesquisa, onde são ar-mazenados materiais com vários anos de estudo ou com vários anos de armazena-mento, os equipamentos monitorados pos-suem valores muitas vezes inestimáveis, devido ao grande esforço de equipe, tempo de estudo e materiais utilizados. Em dois casos a Sensorweb foi efetiva no monitora-mento, enviando os alarmes nos momentos críticos em que os ultrafreezers de armaze-namento ficaram inoperantes, permitindo aos responsáveis tomar as devidas ações e não perder o material destes equipamen-tos. Em outros dois registros de fatos, que aconteceram no Instituto Carlos Chagas da Fiocruz em Curitiba e também no Centro de Desenvolvimento Científico (CDCT) vinculado ao Governo do RS, a perda evita-da foi superior ao investimento na solução de IdC.

RESUMINDO OS GANHOS - Redução na frequência de falhas nos equipamentos, pois a atuação em alarmes permite antecipar algumas quebras;- Redução do risco de perda de produtos, com casos reais em que foram evitadas es-tas perdas;- Verificação de problemas dos freezers através dos gráficos e alertas que o siste-ma possibilita;- Melhoria na logística de manutenção, permitindo uma vez identificar equipa-mentos com problemas, planejar melhor sua manutenção;- Redução no tempo gasto com as ativida-des de registro e verificação manuais;- Registo em tempo real, o que permite cor-reção imediata de eventuais anomalias.

Como funciona?

Sensores monitoramsuas unidades

Enviam dados para uma plataforma segura

e de alta disponibilidade

Você acessa informações de qualquer dispositivo

via internet

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 39

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201640

SETOR DA SAÚDE BUSCA VACINAS CONTRA CONTAMINAÇÃO DIGITAL

Edson ValEntE

MUNDOCOMPLIANCE

Assegurar ao mesmo tempo a transpa-rência e a blinda-gem dos dados é o grande desafio do compliance na área da saúde. Afinal, se

da agilidade e da precisão no fluxo das

Sistemas de proteção são necessários para blindar tráfego de dados em meio digital

informações dependem as diretrizes ado-tadas no cuidado com os pacientes, tam-bém existe o risco de que elas caiam em mãos indevidas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com os prontuários do ex-pilo-to de Fórmula 1 Michael Schumacher – o criminoso os ofereceu a vários jornais em troca de dinheiro. Schumacher sofreu

um acidente quando esquiava nos Alpes franceses, em dezembro de 2013, e desde então sua família não divulga informa-ções sobre seu estado de saúde.

O ano de 2015 marcou o recorde de danos causados no setor nos Estados Unidos, segundo dados do US Depart-ment of Health and Human Services pu-

HOSPITAL DE GRENOBLE, NA FRANÇA, ONDE O HEPTACAMPEÃO DO MUNDO MICHAEL SCHUMACHER FICOU INTERNADO: prontuário do piloto alemão foi parar na mão de criminosos

Divulgação

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 41

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blicados em matéria do jornal Financial Times de 21 de dezembro. Oito dos dez maiores ataques de cibercriminosos em instituições da saúde no país em todos os tempos aconteceram no ano passado. O saldo dessas investidas: os bandidos se apropriaram de dados de 100 milhões de pessoas, a maioria provenientes dos arquivos da seguradora Anthem – infor-mações como nome, data de nascimen-to e número do seguro social de 78,8 milhões dos clientes da empresa foram roubados provavelmente por uma orga-nização chinesa, com o suposto objeti-vo de entender como funciona o sistema americano e copiá-lo.

A vulnerabilidade do meio digital a fraudes nas operações de liberação e autenticação dos dados tem sido am-plamente abordada, e não só nos EUA, quando se trata hoje de compliance em saúde – mesmo porque pontos que se sabe de acesso dos criminosos que po-deriam ser mais bem vigiados ainda são usados para ataques como o sofrido pela Anthem. O hacker, no caso, valeu-se da estratégia chamada “phishing”, um e-mail disfarçado de mensagem interna da empresa, mas que continha um link fraudulento para a invasão do criminoso.

Para Gustavo Artese, especialista em compliance da HMO Advogados, a preo-cupação com a proteção das informações deve partir dos gestores dos hospitais. “O estabelecimento de normas precisa ser de cima para baixo”, diz. Além da adoção de sistemas de blindagem via softwares e hardwares – “firewalls” e antivírus nos computadores, por exemplo – e de medi-das como restrições de acesso, o uso de criptografia e a realização de auditorias periódicas, é fundamental o treinamento da equipe médica para o uso consciente de e-mails e do WhatsApp. “Há aplicati-vos semelhantes a esse específicos para a classe médica. É recomendável a adoção de ferramentas que não sejam abertas para outros fins.”

São vários os benefícios do uso da tecnologia em compliance no setor, se-gundo Artese. Muitos deles contam pontos a favor da eficiência administra-tiva das instituições: a maior facilidade na estratificação de dados relacionados asua saúde financeira, por exemplo, bem

como a transparência nos processos con-tábeis devido à diminuição de lançamen-tos manuais.

“A evolução da automação na área da saúde acelerou durante os anos 2000, quando as instituições passaram a adotar prontuários eletrônicos integrados com módulos administrativos, os HIS (Hos-pital Information System), movidas pelas necessidades de melhorar os processos, aumentar a transparência e facilitar a gestão”, afirma Denis da Costa Rodri-gues, gerente de TI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Os prontuários eletrônicos dos pa-cientes permitem a rastreabilidade dos acessos realizados – quem acessou, quando e por qual equipamento – e fa-vorecem a redução de erros de interpre-tação dos dados, além de estar à mão dos médicos mesmo fora do hospital – o que é crucial para a rapidez no atendimento dos pacientes.

Com a identificação mais precisa de quem acessa o prontuário e o uso de certificados digitais para a assinatura de registros eletrônicos, a segurança da informação é reforçada, de acordo com Rodrigues. “O prontuário em papel que estiver no balcão da enfermaria ou na beira da cama do paciente fica muito mais vulnerável, pois pode ser visto por qualquer pessoa que passe por ali”, espe-cifica Robson Miguel, diretor comercial da Pixeon, empresa de soluções de tec-nologia para a área da saúde.

Uma das vantagens dos sistemas in-formatizados é multiplicar de forma rápida e eficiente conhecimentos que otimizam os resultados das práticas hospitalares. “A informatização é mola propulsora para implementar, a um cus-to menor, controles que seguem regras, padrões e procedimentos homologados e testados em várias instituições”, diz Miguel. “Nos últimos 12 anos houve um grande avanço em relação a isso.”

Esses controles, no entanto, não são inflexíveis, ressalta. “Sempre há livre ar-bítrio. Muitos procedimentos dependem do cruzamento de informações em uma ciência que nem sempre é exata. É pos-sível mudar a prescrição de um medica-mento para determinado paciente e não seguir a dosagem indicada pelo sistema,

mas o que for feito, por quem e em que horário ficará registrado.”

Alguns regulamentos dão suporte ao desenvolvimento da automação em compliance na área da saúde no Brasil – caso da resolução CFM nº 1.639/2002, que define normas técnicas para o uso de sistemas informatizados para a guarda e manuseio do prontuário médico. Essa resolução dispõe sobre o tempo de guar-da dos prontuários e estabelece critérios para a certificação dos sistemas de in-formação. A resolução CFM nº 1.821/07 também versa sobre o tempo de guarda dos prontuários e determina regras para o uso da assinatura digital.

Se todos os setores da saúde se benefi-ciam com a entrada de novas tecnologias – “desde o SUS, que pode implantar po-líticas de saúde pública de maneira mais eficiente, até os hospitais, que podem controlar a eficiência de seus tratamen-tos clínicos, e os planos de saúde, que podem realizar análise de performance de suas redes referenciadas” –, o Brasil ainda possui um mercado muito imatu-ro, principalmente se comparado aos dos EUA e do Canadá, na visão de Rodri-gues, do Oswaldo Cruz. “Temos poucas soluções especializadas, o que torna o processo de automação ainda lento.”

Essa imaturidade também se aplica aos sistemas de proteção de dados, se-gundo Edgar D’Andrea, sócio da consul-toria PwC, que publicou em dezembro sua Pesquisa Global de Segurança da Informação, com dez mil entrevistados de 127 países. “Os donos ou executi-vos principais das instituições se dizem preocupados com a questão, mas só um terço deles declarou estar preparado para detectar um incidente de segurança e responder a ele”, diz D’Andrea. “Há um descompasso.”

No estudo, 18,6% das empresas do setor da saúde na América do Sul afir-maram não ter detectado qualquer inci-dente relacionado a segurança de dados nos 12 meses anteriores à realização das entrevistas, que foram feitas entre maio e junho de 2015. “E aí fica a pergunta: não houve realmente ataques a esses res-pondentes ou eles não souberam detectá--los?”, questiona o sócio da PwC. “Acho que acontecem as duas coisas”, avalia.

Diagnóstico | jan/fev/mar 201642

Paulo Lopes é CEO do Grupo Organiza, headhunter, coach, palestrante e autor do livro “Segredos de um Headhunter”.

de como a organização deve ser administrada, assegurando que os ob-jetivos serão alcançados, e os riscos, minimizados, tendo em vista a sua eficácia (fazer a coisa certa) e a eficiência (fazer certo as coisas).

A partir do modelo de gestão, é fundamental o direcionamento para quatro áreas-chave para obtenção do lucro:

Em tempos de instabilidade econômica e política como a que atualmente vivemos, vem à tona o planejamen-to estratégico e o modelo de gestão como elementos--chave na consistência e no processo decisório em empresas de diferentes setores econômicos. A incapa-cidade de equilibrar a tensão entre as estratégias e as opiniões é generalizada no meio empresarial. Nesse

contexto, as empresas precisam ser administradas de forma efetivamen-te empresarial com estabelecimento de estratégias que, interligadas com os diferentes status operacionais, favoreçam as mensurações mais eficazes dos resultados, organizando ações gerencias para que ocorra uma melhor comunicação interna, focando o aumento da produção, da produtividade e da lucratividade.

Todos nós sabemos que a gestão empresarial é a espinha dorsal de qualquer organização que busca sua sobrevivência, crescimento e perpe-tuação. Hoje, os investidores não avaliam somente os ativos das empresas e seu market share e Ebitda, mas principalmente a sua equipe de gestão.

Logo, é necessário estabelecer um modelo de gestão com foco no pro-cesso de tomada de decisões e nas principais ferramentas necessárias para uma efetiva gestão, que é o tradicional e negligenciado planejamento, or-ganização, execução e controle das organizações.

Entende-se como modelo de gestão um conjunto de princípios e metas

Planejamento e gestão: receita para a crise

ARTIGOPaulo Lopes

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Uma ferramenta chave é a adoção de uma eficaz gestão orçamentária.A crise de gestão pode ser revertida com a formação

de uma equipe gerencial com novas pessoas

trazendo novos modelos gerencias, integrando

novos conhecimentos junto aos gestores mais

experientes da organização.

1 - Planejamento empresarialO processo de planejamento empresarial é muito mais importante

do que seu produto final, que normalmente são os objetivos, indicadores, metas, planos e orçamento.Se não for respeitada essa hierarquia, têm-se planos inadequados para a organização, bem como uma resistência e des-crédito efetivo para sua implementação.

2 - Indicadores de performanceOs indicadores ou índices de performance nos permitem avaliar

até que ponto as atividades e ações deveriam estar sendo desenvol-vidas na organização, se estão progredindo, sendo concluídas, ou ainda merecendo foco e a atenção da equipe.

Os indicadores precisam ser derivados da estratégia e objetos da or-ganização.

3 - Custo padrãoÉ fundamental para qualquer organização a fixação do custo de produ-

ção tanto para produtos como para serviços, pois tem importância especial para tomada de decisões.

O custo padrão é um custo predeterminado, calculado a partir de pro-cessos padronizados. Também é uma ferramenta chave para a performance da organização.

4 - Programa de redução de desperdício

É fundamental criar uma cultura de redução de desperdício, pois focar na redução de custos pode ser algo passa-geiro. É preciso criar e implantar uma cultura organizacional que objetive a lu-cratividade e a rentabilidade. Para isso, é fundamental focar em gestão de pesso-as, materiais, máquinas e equipamentos, tempo, energia, espaço físico e dinheiro.

Uma ferramenta chave é a adoção de uma eficaz gestão orçamentária. A crise de gestão pode ser revertida com a formação de uma equipe gerencial com novas pessoas trazendo novos modelos gerencias, integrando novos conheci-

mentos junto aos gestores mais experientes da organização. As crescentes exigências do mercado reunidas às pressões exercidas

dentro da cadeia de cada setor econômico exigirão tomadas de decisões com maior capacidade, aumento de eficácia gerencial e, na verdade, integração entre o planejamento e o controle.

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 43

Diagnóstico | jan/fev/mar 201644

Como a tecnologia está transformando pacientes em consumidores

RobERt pEaRl

O DEBATE SOBRE NOMENCLATURA PACIENTE OU COSUMIDOR ESTÁ CRESCENDO E É MAIS DO QUE UMA QUESTÃO DE SUTILEZAS SEMÂNTICAS

André Tapioca

Para o consumidor tecnologicamente focado, a palavra “paciente” soa como algo paternalista e antiquado. Ele está convencido de que médicos se opõem ao termo “consumidor” por estarem preocupados com ameaças a sua situação profissional e com medo de serem relegados para o papel de funcionários de varejo muito bem pagos

ENSAIOPACIENTE CONSUMIDOR

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 45

dicamento essencial, disponível há mais de meio século - e que não tem equivalente alternativo - e imediatamente elevou os pre-ços em 5.000%. Felizmente o ultraje público fê-lo voltar atrás.

Dada a resposta negativa, talvez o mundo farmacêutico vá frear, mas o aviso é poderoso. Quando o paciente é feito refém, o consumidor paga o preço.

Por que as demandas por tecnologia fazem de nós consu-midores

Do mesmo jeito que o consumidor e o paciente sofrem ao mesmo tempo, ambos se beneficiam quando um deles se bene-ficia. Os consumidores adoram alta tecnologia, e os pacientes desejam alta qualidade – e a maioria de nós quer ambas.

Aqueles que insistem em nos chamar de “consumidores” acreditam que a alta tecnologia pode resolver quase todos os de-safios da saúde. Eles argumentam que, na era digital, o controle passou para o indivíduo e deve continuar assim. Eles esperam ser capazes de obter acesso aos serviços em qualquer lugar, a qualquer hora.

Afinal, se os “consumidores” podem agendar um voo ou comprar um produto a partir de um país distante através da in-ternet “24 x 7”, por que eles precisam ligar para um consultó-rio médico entre as 9h e as 17h, de segunda a sexta-feira, para marcar uma consulta? Para um defensor dos consumidores, isso é praticamente pré-histórico. E eles perguntam se enquanto “consumidores” podemos pesquisar qualquer tema e responder a qualquer pergunta que vem à mente através do Google. Em seguida, por que não deveríamos ter mais controle sobre nossas próprias escolhas de cuidados de saúde?

Eles acreditam que à semelhança do que tem acontecido em viagens, varejo e finanças, uma vez que as ferramentas de enga-jamento proativo em saúde – agendamento direto, controle de informação pessoal e acesso de vídeo e e-mail a qualquer hora e em qualquer lugar – estejam amplamente disponíveis, a nossa saúde irá melhorar e os custos de saúde irão diminuir.

Para o consumidor tecnologicamente focado, a palavra “pa-ciente” soa a algo paternalista e antiquado. Ele está convencido de que médicos se opõem ao termo “consumidor” por estarem preocupados com ameaças a sua situação profissional e com medo de serem relegados para o papel de funcionários de varejo muito bem pagos. Os consumidores percebem a resistência dos médicos a tecnologia como egoísmo, apontando, como um caso em questão, como a medicina organizada no Texas tentou res-tringir o uso alargado de ferramentas como consultas por vídeo e fotografia digital devido à ansiedade causada pela concorrência de médicos de fora da comunidade.

O debate sobre nomenclatura está crescendo e é mais do que uma questão de sutilezas semânticas. Entre defensores apaixonados de ambos os lados da discussão, as emo-ções são fortes.

Às vezes vemos a nós mesmos como pacientes, incluindo quando aguardamos

cirurgia para solucionar uma inflamação aguda do apêndice. E em outras vezes, como quando comparamos os custos e benefí-cios de diferentes planos de saúde, somos claramente consumi-dores.

Mas a maior parte do tempo somos ambos. E, focando em um contra outro, revela-se não só uma falsa dicotomia, mas tam-bém perigosa para a nossa saúde e nosso bolso.

Como prejudicar os pacientes prejudica os consumidoresAs decisões de preços ultrajantes recentes na indústria far-

macêutica demonstram o porquê. Quando um medicamento de US$1 mil por comprimido foi introduzido para tratar a hepatite C, rapidamente seguido por uma terapia de US$1.125 por com-primido, “pacientes” não tiveram escolha a não ser pedir essa medicação e “consumidores” não tiveram escolha a não ser pa-gar a despesa do seu bolso.

Os novos medicamentos eram caros para se desenvolver, mas se o preço fosse fixado racionalmente, poderia ter acabado por valer a pena tanto para os pacientes quanto para os consumi-dores. Tivesse a Gilead, a empresa que adquiriu o medicamento, cobrado o mesmo pela medicação que o desenvolvedor, Phar-masset, havia dito a analistas que cobraria – cerca de US$36.000 pelo tratamento inteiro - ambos pacientes e consumidores teriam se beneficiado. E o fabricante teria colhido um justo retomo so-bre o investimento.

Mas não foi isso que aconteceu.Em vez disso, quando a Gilead comprou a empresa por

US$11 bilhões, sabia que independentemente do preço, os mé-dicos iriam prescrever a terapia e, além disso, que as pessoas – quer elas se vissem como pacientes ou consumidores - teriam pouca escolha senão obter a droga e pagar cada vez mais caras coparticipações, cosseguro e prémios no futuro. Sem desculpas – e sem investir um valor significante de dólares em pesquisa e desenvolvimento adicionais –, a Gilead triplicou o preço. O resultado é que o paciente e o consumidor estão pagando o custo hoje e a empresa vai lucrar US$ 200 bilhões com sua decisão.

Se ao menos a ganância tivesse parado aí, teria sido uma situação única, refletindo um grande avanço na assistência mé-dica. Mas não. A decisão de preço da Gilead rapidamente sinali-zou que nem os consumidores nem os pacientes estavam em po-sição de dizer “não”, e, como resultado, o céu era o limite para as empresas farmacêuticas e os seus acionistas. A Valeant logo comprou os direitos para dois medicamentos bem estabelecidos, que enfrentam pouca ou nenhuma concorrência, e imediatamen-te elevou o preço de um em mais de 200% e em outro em mais de 500%. Esta empresa de capital aberto, de acordo com o New York Times, gasta pouco em P&D.

E, como a imprensa tem destacado, qualquer um com capital pode lucrar com vendas de produtos farmacêuticos hoje em dia. Martin Shkreli, um gerente de fundo de investimento se tornou CEO farmacêutico, recentemente comprou os direitos de um me-

DO MESMO JEITO QUE O CONSUMIDOR E O PACIENTE SOFREM AO MESMO TEMPO, AMBOS SE BENEFICIAM QUANDO UM DELES SE BENEFICIA

Diagnóstico | jan/fev/mar 201646

Por que o desejo de alta interatividade faz de nós pacientesOs médicos entendem que os cuidados de saúde se baseiam

não só no conhecimento especializado, mas também na capaci-dade de construir a confiança. Eles reconhecem o poder da rela-ção médico-paciente e seu impacto positivo na cura, na adesão do paciente a terapias mutuamente acordadas e em melhores re-sultados clínicos.

Médicos experientes estão convencidos, também, que a medi-cina continua tanto arte quanto ciência, e temem que uma lógica de “um tamanho único” poderia levar não à excelência, mas à mediocridade. E lamentam que o computador tenha se interposto tão intrusamente entre eles e seus pacientes na sala de exame e, também, o tempo que o universo digital requer diariamente.

Os médicos que preferem o conceito de “paciente” veem o modelo de “consumidor” como ingênuo e incompleto. Eles lembram às pessoas todas as razões pelas quais a faculdade de medicina requer quatro anos e formação médica geral, uma dé-cada ou mais. Eles temem que os empresários de Silicon Valley vão convencer as pessoas de que o que eles mais precisam é de monitoramento contínuo de ECG e medição excessiva de ou-tros processos fisiológicos, quando, na prática, as informações se mostram em nada mais úteis do que receber atualizações sobre o índice Dow Jones Average de um consultor financeiro a cada cinco minutos. Eles temem que colocar todos esses dados em registros de saúde eletrônicos vá distrair do mandato central de cuidar de pacientes. E como pacientes, o velho ditado - “Nin-guém se importa o quanto você sabe, até saberem o quanto você se importa” - soa verdadeiro.

Nossas identidades como pacientes e como consumidoresEntão, quem somos, pacientes ou consumidores? A realidade

é que de vez em quando somos um ou o outro, mas a maior parte do tempo, somos ambos.

Aqui estão três exemplos reveladores:

1. Desejos complementaresNa maior parte de nossas vidas agimos como consumidores

escolhendo de longas listas de médicos, utilizando qualquer cri-tério que preferirmos. E nós queremos decidir se temos nossos problemas médicos abordados e nossas perguntas respondidas através de um e-mail seguro, uma fotografia digital ou uma con-sulta por vídeo.

Mas, se desenvolvermos uma doença grave ou enfrentarmos decisões de fim de vida, nós nos voltamos para os médicos que conhecemos e em quem confiamos para explicar a situação e se-rem honestos sobre o resultado provável. Nós ainda queremos to-mar nossas próprias decisões sobre o que para nós é qualidade de

vida, mas nós valorizamos os médicos que podem nos envolver em uma profunda e honesta conversa, cheia de carinho e compai-xão - algo que computadores hoje não podem providenciar.

2. Pesando qualidade dos cuidados em relação ao custo Como consumidores, estamos interessados no preço de tudo e

queremos controlar quanto gastamos. Enfrentando custos dedutí-veis cada vez mais elevados, queremos tomar as decisões sobre se tomamos medicamentos de referência ou genéricos e quão longe nós estamos dispostos a viajar para obter uma tomografia compu-tadorizada de alta qualidade ao menor preço. Afinal, isso é o que fazemos quando compramos um bilhete de avião ou compramos um carro.

Mas quando precisamos de uma cirurgia importante ou um tratamento para uma condição potencialmente fatal como o cân-cer, vemos o mundo de forma diferente. O custo de repente já não é um fator importante a considerar. Rapidamente mudamos a nossa mentalidade de consumidor para paciente, querendo os melhores tratamentos e esperando que outro, seja o governo ou o seguro comercial, cubra os enormes custos que serão gerados.

3. Quando alta tecnologia, quando alta interatividade?Quando temos problemas de rotina, como infecções na gar-

ganta ou dor nas costas, desejamos conveniência e a alta tecnolo-gia é uma importante avenida. Procuramos informação em tempo real, facilmente acessível, sobre as nossas necessidades de saúde e queremos ser capazes de ir online e obter o teste e medicamen-tos que precisamos tão facilmente e intuitivamente como quando compramos e vendemos ações. E um número crescente de pes-soas quer ler atentamente a literatura médica e decidir com seu médico o rigor com que sua pressão arterial ou glicose no sangue devem ser controladas. Durante esta parte de nossas vidas, o con-sumismo é rei.

Mas para as pessoas com múltiplas condições crônicas que tomam uma meia dúzia ou mais drogas, todo esse processo pode ser esmagador. Eles buscam um médico que lhes transmita con-fiança, que coloca seus interesses em primeiro lugar. Sob essas circunstâncias, eles são mesmo muito pacientes e seguem com afinco as instruções de um especialista.

E, como resultado, ao longo de nossas vidas, nós acabamos sendo ambos.

O que somos, quando e por quêO debate sobre consumidor versus paciente é importante e va-

loroso, pois ele irá conduzir médicos e hospitais a abraçar quer o atendimento personalizado quer a tecnologia. Esperemos que isso vá encorajar os legisladores a controlar essas ações de empresas farmacêuticas que ameaçam o bem-estar de ambos. E talvez o debate faça com que empresários se concentrem em investir em nova tecnologia que realmente vá melhorar a saúde das pessoas, não apenas gerar dados pensando nos dados. E o mais importante: ele tem o potencial para inspirar cada um de nós para amar os valores do passado enquanto exige as ferramentas do futuro.

ENSAIOPACIENTE CONSUMIDOR

ENTÃO, QUEM SOMOS, PACIENTES OU CONSUMIDORES? A REALIDADE É QUE DE VEZ EM QUANDO SOMOS UM OU O OUTRO, MAS A MAIOR PARTE DO TEMPO SOMOS AMBOS.

Robert Pearl é médico formado pela Escola de Medicina da Universidade de Yale, com residência em cirurgia plástica e reconstrutiva na Universidade de Stanford, onde ensina estratégia, liderança e tecnologia. É colunista da revista Forbes. Publicado com autorização.

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 47

Diagnóstico | jan/fev/mar 201648

A segunda edição do Fórum Hospitais Compliance acolheu personalidades de referência da saúde brasileira e autoridades mundiais de compliance. O evento foi coroado com a assinatura da Carta de São Paulo e o anúncio do Prêmio Ethics.

CARTA DE SÃO PAULO: assinatura do compromisso setorial lança desafio para criação de códigos de conduta das instituições de saúde

Cultura de compliance essencial para identificar e corrigir erros

Após o amplo consenso saído do primei-ro fórum Hospitais Compliance sobre a necessidade que o setor de saúde tem de adotar uma postura mais ética, havia che-gado a hora de dar mais um passo à fren-te. Encontrada a resposta para “o quê?”, a pergunta que se seguia era “como?”. E,

para dar essa resposta, o mais importante encontro sobre a sustenta-bilidade da saúde brasileira levou a São Paulo, nos dias 5 e 6 de no-vembro, os maiores nomes da saúde do país, para discutir o futuro de um mercado que representa 10% do PIB brasileiro – cerca de R$ 396 bilhões. Uma série de debates, liderados por alguns dos prin-cipais especialistas em compliance do mundo, criando um painel com análise, críticas e soluções para a construção de uma agenda positiva para o setor. Sempre com foco em experiências bem-suce-didas de ética e regulação no ambiente corporativo da saúde. Don Sinko, CIO da Cleveland Clinic, e Tom Fox, advogado de Houston especialista em Compliance, viajaram dos Estados Unidos trazendo importantes lições na bagagem. Francisco Balestrin, presidente da

Anahp, encabeçou o distinto grupo que assinou a Carta de São Pau-lo, um compromisso setorial para a urgente adoção de códigos de conduta. “Somos dirigentes e temos que assumir as responsabilida-des. Nós, homens e mulheres que representam as instituições, temos que lutar para mudar o país”, afirmou Balestrin, num discurso re-cheado de críticas a Brasília. Foi apresentado o Prêmio Ethics, dis-tinção para as instituições mais éticas da saúde brasileira, que ava-liará a cadeia produtiva pelo ponto de vista ético. O prêmio Ethics, uma iniciativa da Revista Diagnóstico, com o apoio da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde (Abimed), da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), da Confederação Nacional de Saúde (CNS) e da Associação Brasi-leira de Medicina Diagnóstica (Abramed), irá escolher os 10 Hospi-tais Mais Éticos do Brasil com base em ações de compliance. Além dos hospitais, o prêmio – que será concedido em 2016, referente a 2015 – vai abranger operadoras, laboratórios e clínicas de diagnós-tico por imagem. Em um segundo momento, a disputa vai incluir distribuidores, serviço de TI, fabricantes de equipamentos médicos, entre outros players das indústrias ligados ao setor.

RepoRtagem: Filipe SouSa

FotoS: RicaRdo Benichio

ÉTICA NA SAÚDEHOSPITAIS COMPLIANCE

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 49

BDon Sinko (Cleveland Clinic), foi keynote speaker da segunda edição do Fórum Hospitais Compliance

BGustavo Lucena, sócio da Consultoria de Riscos da Deloitte, que vai auditar o Prêmio Ethics

BFernando Boigues, presidente do SindhRio

BAna Regina Cruz Vlainich (Fundação Unimed)

BO médico Giovanni Cerri (Instituto Coalizão Saúde) falou sobre os exemplos para o Brasil do Hospital Mais Ético do Mundo

BO Fórum Hospitais Compliance 2015 é uma realização da Revista Diagnóstico

Diagnóstico | jan/fev/mar 201650

BO evento foi idealizado pela Revista Diagnóstico

BRoger Vallim, diretor comercial da Elfa Medicamentos: modelo de compliance para o mercado

BMatheus Sabbag (Grupo Fleury)

BHeloísa Ribeiro, presidente do Instituto Etco, provocou a plateia: ética pode ou não ser usada como uma vantagem competitiva?

BLuiz De Luca (CEO do Hospital Samaritano) moderou o debate sobre Ética e Cultura

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“O BRASIL RESPONDEU DE UMA FORMA FANTÁSTICA AO ESCÂNDALO DA PETROBRAS. A LEI ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA FOI TRADUZIDA E ANALISADA NOS ESTADOS UNIDOS E É CONSIDERADA UM DOCUMENTO DE REFERÊNCIA EM TERMOS LEGAIS E DE COMPLIANCE”.

THOMAS FOX, FPCA COMPLIANCE AND ETHICS

“FIQUEI IMPRESSIONADO PELA PRESENÇA DE UM GRANDE NÚMERO DE PRESIDENTES E DIRETORES DO SETOR DE HEALTHCARE QUERENDO IMPLEMENTAR PROGRAMAS DE COMPLIANCE EM SUAS ORGANIZAÇÕES. ELES CONQUISTARAM UMA COMPREENSÃO DO VALOR QUE COMPLIANCE E ÉTICA TRAZEM AOS SEUS FUNCIONÁRIOS E FORNECEDORES, BEM COMO À PRÓPRIA EMPRESA, E A IMPORTÂNCIA DA SUA LIDERANÇA PARA O SUCESSO.”

DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC

“SOMOS DIRIGENTES E TEMOS QUE ASSUMIR AS RESPONSABILIDADES. NÓS, HOMENS E MULHERES QUE REPRESENTAM AS INSTITUIÇÕES, TEMOS QUE LUTAR PARA MUDAR O PAÍS”

FRANCISCO BALESTRIN, PRESIDENTE DA ANAHP

“CULTURA DE COMPLIANCE PARA IDENTIFICAR E COR-RIGIR ERROS” - Cerca de duas centenas de participantes se reu-niram para assistir à abertura do Fórum Hospitais Compliance, em São Paulo. Don Sinko, Chief Integrity Officer da Cleveland Clinic, foi o nome que atraiu CEOs, presidentes, executivos, mé-dicos, engenheiros, advogados e outros representantes do setor de saúde nacional ao Hotel Intercontinental, na manhã de quinta.

Sinko trouxe uma importante lição de como implementar uma cultura de compliance em qualquer instituição de saúde, indepen-dentemente de sua dimensão. O CIO da Cleveland Clinic explicou os sete passos que foram aplicados no hospital mais ético do mun-do e relatou algumas experiências vividas na Cleveland Clinic. “Levamos muito a sério o nosso Código de Conduta e por isso dizemos que é preciso ter um código e mostrar às pessoas que o cumprimos. Só em 2014 conduzimos mais de mil investigações e temos, atualmente, dois ex-funcionários em prisões federais”. Ele lembrou uma frase de Dr. Cosgrove, o seu CEO: “Empregamos atualmente 40 mil pessoas. Se 99% delas agirem corretamente, isso significa que 400 pessoas estão cometendo erros”, e explicou que “os hospitais empregam pessoas e as pessoas cometem erros. O programa de compliance ajuda a identificar esses erros e permi-te corrigi-los”.

Outro importante aspecto da palestra de Don Sinko foi o papel do responsável de compliance, da sua independência em relação ao conselho de administração e dos seus poderes que, segundo o líder de compliance norte-americano, “mostram a todos a impor-tância da integridade e do compliance na organização e no seu funcionamento.

Após a palestra de Sinko, a plateia pôde assistir ao talk show “Como construir uma cultura de compliance em um serviço de saúde a partir do zero?”. Viviane Miranda (Einstein), Florence Monteiro Oliva (BPSP), Matheus Sabbag (Grupo Fleury), Gus-tavo Lucena (Deloitte) se juntaram, com mediação de Giovanni Falcetta (TozziniFreire Advogados), para discutir a complexida-de do processo da criação de normas e sua aplicação. Seguiu-se a apresentação da experiência de compliance da Elfa, por Luis Liveri (CEO da Elfa Medicamentos) e a manhã terminou com dis-cussão sob o tema “Ética como diferencial competitivo”, entregue a Heloísa Ribeiro (Instituto Etco) acompanhada pelo presidente da mesa, Fernando Boigues (presidente do Sindhrio), que transmiti-ram aos presentes as suas visões sobre como as empresas podem se destacar pelo seu comportamento íntegro.

Leni Hidalgo (Insper) regressou da pausa para almoço cheia de energia e contagiando a plateia durante o debate sobre “Tone at top e tone at middle e a governança corporativa na cultura ética de uma organização”. O painel, que discutiu o papel de cada ele-mento de uma organização e como o exemplo deve vir de cima, contou também com Ana Regina Cruz Vlainich (Fundação Uni-med), Daniel Coudry (Sanitas Internacional Brasil) e teve Luiz De Luca (Samaritano) como moderador. As poltronas colocadas no palco receberam, em seguida, Luis Roberto Natel (Abramed), moderador do talk show “Código de Conduta, da teoria à prática” que deixou o desafio para que “este evento e o que aborda sirvam de evento também para Brasília”. No painel, Lilian Cristina Lira Pacheco (Grupo Dasa/ Abramed), Carlos Alberto Marsal (Sírio--Libanês/ Abramed) enquadraram a perspectiva das instituições de saúde, enquanto Esther Miriam Flesch (Trench, Rossi e Wa-tanabe Advogados) partilhou o ponto de vista legal, elencando os

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BAlexandre Serpa (CVS Health)BCarlos Marsal, executivo de compliance do

Sírio-Libanês

BClaudia Cohn (Abramed), Don Sinko (Cleveland Clinic) e Esther Flesch (Trench, Rossi e Watanabe Advogados)

BGuilherme Dias Pires, ao centro (Hospital Samaritano)BViviane Miranda, executiva de compliance do

Einstein

BA doutora Leni Hidalgo (Insper) deu um show ao falar sobre a importância do Tone at Top em uma cultura de compliance

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diversos estágios da criação de diretrizes e sua aplicação, dando os exemplos das organizações que representavam. Segundo Es-ther, tomando o exemplo mundial em termos de compliance, “os Estados Unidos têm a FCPA desde 1977, uma lei antiga que só foi aplicada de verdade recentemente”, mostrando que não se prevê que seja um caminho a percorrer com rapidez.

CARTA DE SÃO PAULO – Um dos destaques da segunda edi-ção do Fórum Hospitais Compliance reuniu individualidades da saúde brasileira. Com Francisco Balestrin (Anahp) presidindo a cerimônia, foi assinada a Carta de São Paulo, documento que es-tabeleceu o compromisso das instituições - lideradas por Cláudia Cohn, representando a Abramed; Edson Rogatti, da CMB, em re-presentação das Santas Casas; Fernando Boigues, presidente do SindhRio; Denise Eloi, da Coalizão Saúde; Cícero Andrade, pela Fenaess; e Eduardo de Oliveira, em nome da FBH -, de implantar seus códigos de conduta e ética até dezembro de 2018. Na sole-nidade, as entidades representadas pelos signatários assumiram o compromisso de dar o exemplo e criar uma cultura de complian-ce no setor de saúde brasileiro. A caneta foi passada de mão em mão e as assinaturas inscritas no papel finalizaram a cerimônia e iniciaram o processo que vai envolver todos os membros das associações presentes.

Balestrin definiu o primeiro dia do fórum como muito provei-toso e essencial para um setor que aloca aproximadamente 10% do PIB nacional, algo que o presidente da Anahp disse ser uma aplica-ção equivocada de recursos. Após uma descrição do panorama da saúde brasileira, surgiu a inevitável comparação com outros mo-delos, como o norte-americano. “Ou eles estão errados, ou nós”, concluiu.

As críticas ao estado da nação e à forma como tem sido governa-da sucederam-se ao longo do dia, embora o principal tom do evento tenha sido o olhar no futuro, analisando o que tem acontecido de errado, mas, principalmente, estabelecendo o caminho para corrigir o que não está correto, para fazer melhor e, sobretudo, com mais ética.

Os responsáveis pelas entidades signatárias da Carta de São Paulo terão a partir de agora a tarefa de reunir os seus membros, passar a mensagem e, entre as medidas presentes no documento, implementar um código de conduta ética e moral que sirva de ba-lizador nas relações dos seus associados com os diversos stakehol-ders, até dezembro de 2018.

Balestrin lembrou a figura do beija-flor, da fábula em que todos os animais fugiam de um incêndio. “Enquanto todos fugiam, o bei-ja-flor tentava, sozinho, apagar o incêndio. Ele sabia que sozinho não o conseguiria apagar, mas ele estava fazendo a sua parte. E é isso que cada um de nós tem que fazer”, finalizou.

O presidente da solenidade deixou mais uma crítica contunden-te. “Você precisa se comportar como um cidadão que está vestido de branco atravessando um pântano. As instituições têm um papel fundamental”, disse, e em seguida deixou um desafio aos seus com-panheiros signatários: “Somos dirigentes e temos que assumir as responsabilidades. Nós, homens e mulheres que representam as ins-tituições, temos que lutar para mudar o país”, concluiu Balestrin.

O BRASIL RESPONDEU DE FORMA FANTÁSTICA AO ES-CÂNDALO DA PETROBRAS - O segundo dia trouxe um dos autores mais conceituados dos Estados Unidos. Qualquer respon-

“O CEO DA QUALICORP TEM UMA FRASE MUITO MARCANTE: TUDO EU SENTO CONVERSO, EVENTUALMENTE NEGOCIO E REVEJO. TEM UMA COISA QUE EU CUMPRO, QUE SÃO AS NORMAS DE COMPLIANCE.“

ADRIANO LONDRES, DIRETOR EXECUTIVO DA QUALICORP

“EU QUERO QUE A NOSSA EMPRESA POSSA LEVAR ALGUNS VALORES PARA OS STAKEHOLDERS LIGADOS AO NOSSO SEGMENTO PARA CRIAR UMA COMUNIDADE EM TORNO DE QUANTO O COMPLIANCE AFETA O NOSSO NEGÓCIO DENTRO DA CADEIA. ISSO VAI SER UM DIFERENCIAL MUITO GRANDE.”

ROGER VALLIM, DIRETOR COMERCIAL DA ELFA

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BGustavo Lucena (Deloitte), Matheus Sabbag (Grupo Fleury), Giovanni Falcetta (TozziniFreire Advogados), Florence Monteiro Oliva (BPSP), Viviane Miranda (Einstein)

BO público teve participação ativa no evento

BEsther Flesch (Trench, Rossi e Watanabe Advogados) e Luis Natel (Abramed)

BPresidente da Anahp, Francisco Balestrin

BClaudia Scarpim, Sérgio Madeira (Abraidi) e Carlos Alberto Goulart (Abimed)

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sável de compliance norte-americano que se preze segue os livros, artigos e podcasts de Tom Fox, advogado de Houston. Fox chegou a São Paulo trazendo o relato detalhado do escândalo da GSK na China. Os pormenores deixaram a plateia com a perfeita noção dos erros que foram cometidos e das providências que o governo chinês tomou. “Ninguém quer ser pego pela justiça chinesa, que condena 99,99% dos acusados, e ninguém quer ir parar numa pri-são chinesa”, disse Tom Fox, em tom professoral. “A China mos-trou ao mundo quais são as consequências para quem corrompe e para quem é corrompido”, acrescentou. Fox focou também a ques-tão da Volkswagen e o impacto que teve nas empresas do setor e na imagem e credibilidade da Alemanha. No entanto, segundo o especialista em compliance, o Brasil e a Petrobras não têm nada a ver com a VW e a Alemanha. O caso Petrobras não afetou a imagem do país internacionalmente, pelo menos não com a di-mensão da empresa germânica, e “o Brasil respondeu de uma for-ma fantástica ao sucedido”, disse Fox, passando a explicar que “o ‘Clean Act’ (nome dado à Lei Anticorrupção brasileira nos EUA) foi traduzido e analisado nos Estados Unidos e é considerado um documento de referência em termos legais e de compliance”. Fox encerrou a sua apresentação respondendo a diversas questões do público e deixando uma mensagem de esperança: “A legislação foi criada, basta ao Brasil cumpri-la”.

Em seguida, Denise Eloi, diretora executiva da Coalizão Saú-de, tomou o comando do talk show “O papel da assistência na construção de um conceito de compliance em serviços de saúde”, liderando um painel composto por Claudia Cohn (Abramed), José Eduardo de Siqueira (PUC/PR), Adriano Londres (Qualicorp), Jose Luiz Cunha Junior (Amil), um debate que suscitou uma ani-mada discussão sobre bioética e o papel do médico e do paciente. À saída do palco, Londres citou o CEO da Qualicorp, dizendo que tem por hábito ouvir e debater todas as sugestões, mas quando se trata de compliance, não levanta questões, apenas há que aplicar, reforçando uma mensagem muito presente em todo o evento: é fundamental ter um responsável de compliance e dar-lhe autono-mia.

Em outro debate sobre mais um tema quente da atualidade, o painel formado por Gustavo Artese (VPBG Advogados), Emil de Carvalho (Salamanca Group) e com mediação de Núbia Viana (Duosystem) dissecou “A Proteção de Dados do Paciente: contro-les regulatórios e responsabilidade ética”. Um debate que abor-dou, por exemplo, o acesso às fichas médicas e a segurança dos dados eletrônicos. A tecnologia marcou também a apresentação seguinte, quando Roberto Cruz, CEO da Pixeon, deu voz à contri-buição do setor de TI para a sustentabilidade da saúde, contando “A experiência de compliance da Pixeon” aos presentes.

Tendo em mente a assinatura da Carta de São Paulo, foi o momento de discutir a importância desse tipo de compromisso e Sérgio Madeira (Abraidi) foi o mediador da discussão sobre “O papel dos acordos setoriais na autorregulamentação do mercado de saúde”, com a companhia de Jorge Abrahão (Instituto Ethos). A troca de ideias foi constante e os temas se sucederam, suscitando a intervenção do público, sempre muito ativo. O talk Show “O papel da indústria na promoção de práticas éticas na cadeia da saúde”, mediado por Carlos Alberto Goulart (Abimed), deu a palavra a Denis Jacob (BD), Luís Felipe Kietzmann (Alcon) e Alexandre Serpa (Drogaria Onofre), responsáveis de compliance das respec-tivas instituições.

“ENQUANTO TODOS FUGIAM, O BEIJA-FLOR TENTAVA, SOZINHO, APAGAR O INCÊNDIO. ELE SABIA QUE SOZINHO NÃO O CONSEGUIRIA APAGAR, MAS ELE ESTAVA FAZENDO A SUA PARTE. E É ISSO QUE CADA UM DE NÓS TEM QUE FAZER”

FRANCISCO BALESTRIN, PRESIDENTE DA ANAHP

“NA ÁREA DE SAÚDE O COMPLIANCE E A ÉTICA SÃO DUAS COISAS QUE TÊM QUE ESTAR NO DNA DAS EMPRESAS. É MUITO IMPORTANTE QUE A REVISTA TENHA DADO ÊNFASE PARA QUE AS PESSOAS POSSAM CADA VEZ FALAR MAIS SOBRE ISSO”

FERNANDO BOIGUES, PRESIDENTE DO SINDHRIO

“EMPREGAMOS ATUALMENTE 40 MIL PESSOAS. SE 99% DELAS AGIREM CORRETAMENTE, ISSO SIGNIFICA QUE 400 PESSOAS ESTÃO COMETENDO ERROS . OS HOSPITAIS EMPREGAM PESSOAS E AS PESSOAS COMETEM ERROS, O PROGRAMA DE COMPLIANCE AJUDA A IDENTIFICAR ESSES ERROS E PERMITE CORRIGI-LOS”

DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC

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BGisele Figueiredo (Stryker) foi mediadora da palestra de Tom Fox BTom Fox (FCPA Compliance and Ethics)

BJorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos, falou sobre o papel dos acordos setoriais na autorregulamentação do mercado de saúde

BDenise Eloi (Coalizão Saúde), José Eduardo de Siqueira (PUC/PR), Jose Luiz Cunha Carneiro Junior (Amil), Claudia Cohn (Abramed), Adriano Londres (Qualicorp)

BPaulo Fraccaro (ABIMO), Claudia Scarpim (Abraidi), Reinaldo Braga (Grupo Criarmed), Carlos Figueiredo (Anahp), Aurimar Pinto (Abimed), Carlos Alberto Goulart (Abimed)

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Retomando a sessão de palestras, o microfone teve em Vi-nicius de Carvalho (presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, Cade) um novo dono. “A função do Cade no estímulo à livre concorrência no mercado de saúde” foi a te-mática mediada por Cícero Andrade (Fenaess) e motivou uma concorrida sessão de questões e respostas, rica em comparações com outros setores do mercado brasileiro, estabelecendo pontos de comparação com a saúde.

O evento terminou com o talk show “Fornecedor compliance/comprador compliance: o mercado de saúde está preparado para essa equação?”. Carlos Figueiredo (Anahp) mediou um grupo de debatedores de diferentes quadrantes do setor de saúde. Auri-mar Pinto (Abimed), Paulo Fraccaro (Abimo), Maurício Barbosa (Bionexo) e Claudia Scarpim (Abraidi) possibilitaram aos pre-sentes, por exemplo, perceber a importância da CPI de Órteses e Próteses para mudar o paradigma ético na saúde, ou a importância da tecnologia na hora de aumentar a transparência nos negócios.

Finalizado o fórum, a opinião era unânime e foi traduzida em uma frase de Don Sinko, CIO da Cleveland Clinic: “Fiquei im-pressionado pela presença de um grande número de presidentes e diretores do setor de healthcare querendo implementar progra-mas de compliance em suas organizações. Eles conquistaram uma compreensão do valor que compliance e ética trazem aos seus funcionários e fornecedores, bem como à própria empresa, e a importância da sua liderança para o sucesso. A revista Diag-nóstico realizou um excelente trabalho ao organizar este evento para o Brasil.”

PRÊMIO ETHICS - Em mais um momento marcante do Fórum Hospitais Compliance, Reinaldo Braga, publisher da revista Diagnóstico e CEO do grupo Criarmed, lançou o Prêmio Ethi-cs – Benchmarking em Compliance. Acompanhado por Fabrício Campolina (Abimed), o jornalista e idealizador do evento expli-cou as regras da competição e a importância para o setor de saú-de brasileiro. Segundo ele, o Prêmio, uma iniciativa da Revista Diagnóstico, com o apoio da Abimed, CNS e Abramed, irá esco-lher os 10 Hospitais que são referência em ações de compliance, além dos cinco players que mais de destacam na área de Medicina Diagnóstica.Requisito obrigatório para se candidatar ao Prêmio Ethics – in-ciativa inédita na história da saúde brasileira – é ter adotado um Código de Conduta e/ou Ética, com regras alinhadas à cultura organizacional da empresa. “A ideia do prêmio é estimular a troca de experiência no setor com foco em compliance”, afirmou Rei-naldo Braga. Outra novidade é a criação do Canal HC (Hospitais Compliance) – o primeiro do país a usar o benchmarking como estratégia de disseminação da cultura de compliance na saúde brasileira. Segundo ele, a iniciativa acontece no momento em que o país discute o seu futuro sob o ponto de vista do compliance. “Os brasileiros não querem um país corrupto. A sociedade vem demonstrando que não tolera mais atos non-compliant, seja na Petrobras, no Governo ou na Saúde”, sentenciou Braga, men-tor do Fórum Hospitais Compliance. No futuro, acredita ele, a relação da cadeia produtiva da saúde brasileira vai privilegiar, obrigatoriamente, atores que, além de bons serviços e produtos certificados, tenham uma conduta ética e moral reconhecida. “Os hospitais precisam liderar esse processo, já que são os comprado-res dos serviços e dos produtos da indústria”, finalizou.

“EU TENHO QUE ENSINAR COMPLIANCE E A TER ÉTICA AOS MEUS NETOS QUE ESTÃO COM 4 E 5 ANOS PARA QUANDO CHEGAREM A ADULTOS TEREM ESSA NOÇÃO ESSENCIAL E ACABAR COM AQUILO QUE É O JEITINHO BRASILEIRO. O JEITINHO BRASILEIRO É ANTICOMPLIANCE.”

FERNANDO BOIGUES, PRESIDENTE DO SINDHRIO

A REVISTA DIAGNÓSTICO REALIZOU UM EXCELENTE TRABALHO AO ORGANIZAR ESTE EVENTO PARA O BRASIL.”

DON SINKO, C.I.O. DA CLEVELAND CLINIC

“O PAÍS ESTÁ PASSANDO POR UMA FASE DE REEDUCAÇÃO. O BRASILEIRO NÃO TOLERA MAIS CORRUPÇÃO, ENTÃO TEMOS QUE FAZER DISSO UMA CONDUTA DIÁRIA. ESTAMOS PASSANDO DO PAÍS DO “JEITINHO”, EM QUE PODE TUDO, PARA O PAÍS EM QUE A INTEGRIDADE IMPERA.”

CLAUDIA SCARPIM, DIRETORA EXECUTIVA DA ABRAIDI

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BCondecoração, que vai eleger, em 2016, os prestadores que são referência em compliance, terá patrocínio da ABIMED

BClaudia Scarpim, diretora executiva da Abraidi

BO evento foi realizado no Hotel Intercontinental, em São Paulo, nos dias 5 e 6 de novembro de 2015

BDon Sinko (Cleveland Clinic), Tom Fox (FCPA Compliance and Ethics) e Adriano Londres (Qualicorp)

BFlorence Monteiro Oliva, executiva de compliance da Beneficência Portuguesa de São Paulo

B Aurimar Pinto (Abimed), Carlos Figueiredo (Anahp), Claudia Scarpim (Abraidi), Maurício Barbosa (Bionexo), Paulo Fraccaro (ABIMO)

BProfessor José Eduardo de Siqueira (PUC/PR) deu uma aula sobre bioética para os espectadores

BAdriano Londres (Qualicorp) participou do debate sobre ética na assistência

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GESTÃOREDE DE SAÚDE

O exemplo do Mater Dei

Hospital mineiro acelera expansão no mercado privado e cresce livre da dependência da Unimed, operadora predominante em Belo Horizonte.

A Rede Mater Dei de Saúde anda na con-tramão do mercado de saúde privado mineiro. Enquanto hospitais de Belo Horizonte, sua terra

natal, reduzem o número de leitos para pacientes não-SUS (de 4.393 em feve-reiro de 2013 para 4.188 no mesmo mês deste ano, segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), a rede inaugurou a segunda unidade em 2014, com 325 novos leitos. Em uma praça onde a Unimed detém mais de 60% de market share entre as operadoras de pla-nos de saúde, os hospitais Mater Dei são os únicos que não têm convênio com a cooperativa de médicos. Ao contrário de boa parte dos gestores de hospitais, seu presidente, Henrique Salvador, 57 anos, não vê como prioridade tirar o máximo de lucro da estrutura já existente, e sim criar novas fontes de receita com mais serviços, como os do centro de oncolo-gia que foi inaugurado em junho do ano passado. “Estamos nos preparando para ser a maior rede de saúde da Grande Belo Horizonte”, afirma o gestor. “Que-ro atender o público com mais do que só urgência e internação.”

O primeiro passo já foi dado: seu se-gundo hospital, o Complexo Mater Dei Contorno, começou a operar em junho de 2014, mesmo período em que a insti-tuição comemorou 34 anos de fundada. Para erguer uma unidade com 65.000 m2 de área construída e capacidade de

bRuna MaRtins FontEs

atender a 2.000 pacientes por dia, a rede investiu R$ 350 milhões, dos quais 50% foram capital próprio e outros 50% vie-ram de financiamento do BNDES (Ban-co Nacional de Desenvolvimento Eco-nômico e Social). Em junho, a Mater Dei Contorno também ganhou um cen-tro de convenções.

A etapa seguinte foi a inauguração, em 2015, do Mais Saúde Mater Dei, um espaço diferenciado para continuidade do cuidado, avaliação e acompanhamen-to de pacientes crônicos ou em situações clínicas altamente específicas e com baixa oferta na cidade. O projeto reúne, em um só lugar, estruturas de apoio e diagnóstico, com equipe multiprofissio-nal de referência, fisioterapeutas e ou-tros especialistas. Outras unidades de-vem sair em breve do papel. O Hospital Mater Dei Betim-Contagem já está com o projeto arquitetônico concluído, em fase de tramitação para fins de aprova-ção na Prefeitura de Betim. Em um ter-reno de, aproximadamente, 255.000 m2 e um investimento de R$ 180 milhões, será erguido um hospital geral do adulto e da criança, com atendimento de pron-to-socorro e maternidade. A rede tam-bém planeja construir uma unidade em Nova Lima.

Um dos segredos de tamanho fôle-go financeiro para bancar essa expan-são sem investidores externos é ter uma gestão eficiente de custos para negociar bem com as 80 operadoras de saúde atendidas na rede. Curiosamente, a úni-ca que não figura na lista é considerada

uma das principais razões do sucesso da rede Mater Dei.

Em Belo Horizonte, a Unimed domi-na o mercado, por isso é responsável por grande parte das receitas dos hospitais privados e atua como uma reguladora de preços. Segundo especialistas, o maior problema dos hospitais onde há uma operadora hegemônica é a baixa lucrati-vidade de suas operações, pois eles têm pouca margem para negociar as tabelas de preços de medicamentos e materiais e de remuneração por serviços. Em alguns casos, a margem de lucro de suas opera-ções tende a zero, especialmente devido a diárias subremuneradas. “A predomi-nância de uma operadora leva a uma pressão, em alguns casos quase preda-tória, com preços muito baixos”, afirma Sergio Lopes Bento, diretor da Planisa, consultoria paulista de organização e planejamento de instituições de saúde.

Ele comenta que, ao comparar ti-ckets médios de internação em suas ati-vidades, percebe diferenças sensíveis de remuneração, com valores muito meno-res nas praças em que há prevalência de uma operadora. “Um dos impactos fi-nanceiros causados por essa situação é que os hospitais que sofrem essa pressão de preços têm muita dificuldade para in-vestir em projetos de expansão. É o caso de Belo Horizonte”, diz.

“Em Belo Horizonte, quem manda é a Unimed”, completa Reginaldo Araújo, presidente da Associação dos Hospitais de Minas Gerais (AHMG). “É jogo duro negociar com eles, porque os hospitais

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Divulgação

são muito dependentes. Em alguns, a proporção de segurados da Unimed che-ga a 70% da clientela.” Araújo afirma que, em Belo Horizonte, os preços da tabela de materiais e medicamentos têm preços menores do que no resto do país. “Os hospitais vão sobrevivendo, não so-bra dinheiro para investir.”

Cícero Newton Andrade, sócio da Tecnosp, consultoria em gestão de ser-viços de saúde sediada em Salvador, concorda com a avaliação de Araújo. “Nenhum hospital que dependa da Uni-med está na mesma situação que o Mater Dei. A rede é um exemplo raro de como crescer em um ambiente dominado por uma operadora que regula os preços de mercado”, diz.

Em um cenário que pressupõe uma forte queda de braço entre hospitais e operadoras, porém, Henrique Salvador adota uma postura de conciliação. “A vida das operadoras também não está fácil”, afirma o presidente da rede, no mesmo tom sereno e pausado que man-teve durante toda a entrevista. “Procuro negociar insumos, materiais, medica-mentos e serviços para chegar a uma composição de preços que permita que elas viabilizem nosso negócio e, ao mes-mo tempo, continuem sendo competiti-

vas no mercado.”O resultado dessa tática ganha-ganha

é positivo. Por não estarem amarrados à tabela de preços de uma só operadora, os hospitais Mater Dei têm mais liberdade para traçar sua estratégia de gestão, opi-na Alfredo Martini Neto, diretor-geral do Hospital São Rafael, de Salvador, e vice-presidente da Federação dos Hos-pitais Filantrópicos da Bahia. Ele fala com propriedade: foi diretor do Mater Dei entre 2002 e 2005 e trabalhou por 12 anos no sistema Unimed. “O hospital é um player de alta performance, por isso não é dependente de nenhuma operadora e pode praticar uma tabela que valori-za a qualidade do serviço prestado. Por isso, é o único em Belo Horizonte que está em rápida expansão e com ótima saúde financeira.”

MAIS UNIDADES Henrique Salvador quer abrir mais

unidades com serviços especializados de saúde para gerar novas receitas, atenden-do a demandas de diferentes públicos. “O mercado privado de saúde está ficando mais competitivo. Nas grandes capitais, vejo grupos hospitalares focados em ni-chos pouco explorados de serviço para se manterem bem posicionados frente aos

gigantes do setor”, afirma. Desse modo, ele quer ampliar sua

rede na direção de oferecer atendimen-tos que se complementem – e evitem a sobrecarga do atendimento nos hospi-tais. Se o Centro de Medicina Avança-da quer atender a idosos em um prédio anexo ao hospital de Santo Agostinho, a futura unidade de Betim focará na popu-lação mais jovem, que trabalha nas em-presas da região.

Os serviços oferecidos também es-tão sendo diversificados. Nesse contex-to, para atender a uma grande demanda local, o Centro de Oncologia do Mater Dei, na unidade Contorno, inaugurou em abril o Hospital Integrado do Cân-cer, com capacidade para mais de 3.400 atendimentos por mês. Primeiro em Minas Gerais com este formato em um hospital privado, a nova estrutura conta com 52 leitos de infusão quimioterápica, parque completo de exames de diagnós-tico, centro cirúrgico e centro de terapia intensiva. O HCI possui ainda uma uni-dade de Transplante de Medula Óssea, com capacidade inicial para sete pacien-tes transplantados simultaneamente.

Desde agosto de 2014, o Centro de Reprodução Humana está em operação no Mater Dei Santo Agostinho – uma

HENRIQUE SALVADOR, MÉDICO E PRESIDENTE DA REDE MATER DEI DE SAÚDE

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GESTÃOREDE SAÚDE

retomada da tradição do hospital nessa área. O próprio Henrique Salvador fez parte do grupo de três médicos que, há 30 anos, foi estudar o que havia de mais avançado sobre o tema no exterior a pedido de seu pai, o fundador do Ma-ter Dei, José Salvador Silva, hoje com 84 anos e presidindo o Conselho de Ad-ministração. No retorno ao Brasil, eles continuaram o trabalho e fizeram parte da equipe responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta de Minas Gerais, em 1989.

A decisão de voltar a investir na área de reprodução, porém, não foi motivada pela nostalgia. “Percebemos que não ha-via ginecologistas e obstetras suficientes para cobrir a demanda de 450 partos por mês na nossa rede. Decidimos, então, abrir um centro para atender gestantes”, explica o presidente da rede. O resgate do passado, para ele, é uma estratégia de sustentabilidade para o futuro. “Em vez de avaliar como tirar mais dinheiro do que já existe, olhamos para o que pode ser uma nova fonte de receita para o ne-gócio”, diz. A rede não revela seu fatu-ramento, mas registrou um crescimento de mais de 34% da receita em 2014 em relação ao ano anterior. Para 2016, a previsão é de que esse crescimento seja de cerca 17% em comparação a 2015.

Para Yussif Ali Mere Junior, presi-dente do Sindhosp (Sindicato dos Hos-pitais de São Paulo), esse modelo diver-sificado de expansão é possível e traz benefícios para o setor. “O Mater Dei tem condições de crescer mais, e isso é muito bom para consolidar o merca-do. Nossa rede de saúde privada precisa ser expandida, mas não só em nível de internação. Os hospitais têm um papel importante no tratamento de doenças crônicas, em setores como oncologia e cardiologia”, afirma.

Construir unidades especializadas é uma boa maneira de aumentar a renta-bilidade do negócio, segundo Alexandra Bulgarelli do Nascimento, professora da pós-graduação em gestão de saúde do Senac (Serviço Nacional de Aprendiza-gem Comercial) em São Paulo. “Com o tempo, a expertise no trabalho otimiza processos e custos. É interessante apos-tar em procedimentos de baixa e média complexidade, especialmente em regi-ões periféricas”, pondera.

A diversificação dos serviços não

significa desinvestimento na oferta de leitos nos dois hospitais. Até dezembro do ano passado foram 689 leitos insta-lados nas duas unidades da rede, sendo 143 de CTIs adulto e pediátrico. “É uma boa notícia, pois hoje há uma tendência de redução de leitos no mundo. Em São Paulo, vemos hospitais cortando leitos de maternidade mesmo que a demanda não tenha caído”, afirma Ana Maria Ma-lik, coordenadora do GV Saúde, Centro de Estudos em Planejamento e Gestão da Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV).

CAPITAL ESTRANGEIROApesar da recente abertura do merca-

do de saúde ao capital estrangeiro, essa alternativa não está nos planos de Hen-rique Salvador em sua estratégia de ex-pansão. “Já fomos sondados por fundos, mas prefiro esperar esse modelo amadu-recer no Brasil”, afirma. “Trazer um in-vestidor depende muito do momento de cada empresa. Temos condições de ter um crescimento orgânico, com base na alavancagem.”

Aumentar o endividamento para crescer não é uma manobra preocupan-te para a rede. O objetivo de sua ges-tão centrada em controle de custos é demonstrar uma boa saúde financeira para obter os financiamentos necessá-rios para crescer. “Sempre busco cortar custos desnecessários. Os gestores estão

muito perto dos clientes e dos médicos para saber do que eles precisam e defi-nir que gastos são dispensáveis”, afirma Henrique Salvador.

Esse levantamento preciso de preços é essencial para o sucesso da rede, opina Andrade, da Tecnosp. “Eles conhecem bem o custo do serviço de qualidade que oferecem, por isso sabem o limite na hora de negociar. Esse nível de controle é fundamental para o futuro dos hospi-tais, pois a tendência é que nos próximos cinco anos eles sejam remunerados por procedimentos, e não por conta aberta”, afirma.

“EM VEZ DE AVALIAR COMO TIRAR MAIS DINHEIRO DO QUE JÁ EXISTE, OLHAMOS PARA O QUE PODE SER UMA NOVA FONTE DE RECEITA PARA O NEGÓCIO”. AFIRMA HENRIQUE SALVADOR, PRESIDENTE DA REDE MATER DEI DE SAÚDE

Divulgação

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Em médio prazo, Henrique Salvador planeja consolidar sua marca na região metropolitana de Belo Horizonte recor-rendo apenas a recursos próprios – uma decisão acertada, na avaliação de Carlos Suslik, diretor de consultoria em gestão de saúde da PwC. “Com sua expertise local, o Mater Dei desestimula outros grandes players a entrar em sua praça sem buscar parceria com a rede”, afir-ma.

Isso não significa, porém, que sua posição não seja ameaçada por grandes redes que pretendam investir no merca-do mineiro e sejam turbinadas por capi-tal estrangeiro. Nesse novo cenário, será essencial buscar parcerias para competir com players que reúnam trunfos como economia de escala e sinergia em conhe-cimento de gestão e de operação. “A es-tratégia atual do Mater Dei pode não ser suficiente para competir quando come-çarmos a passar por esse novo processo de consolidação. Mais cedo ou mais tar-de, a rede terá de pensar em fazer alian-ças para se fortalecer”, diz Suslik.

Quando se trata do futuro, Henri-que Salvador já vê seus sucessores se prepararem. A diretoria da rede hoje é composta pelos três filhos do fundador e outros dois profissionais não ligados à família. Se a próxima geração quiser integrar o corpo executivo do Mater Dei, precisará enfrentar uma verdadeira maratona, de acordo com as regras defi-nidas no acordo de acionistas desenhado em 1998.

Os herdeiros dispostos a conseguir um cargo de liderança precisam, primei-ro, trabalhar na gestão de um hospital de igual ou maior porte do que o Mater Dei por no mínimo dois anos – o filho e a so-brinha de Salvador já passaram por ins-tituições como o Hospital Israelita Al-bert Einstein, o Hospital Sírio-Libanês e o HCor, em São Paulo. Depois, devem atuar no Mater Dei por outros dois anos. Por fim, é essencial cursar um MBA em escolas de negócio internacionais de re-nome. Neste momento, o filho de Hen-rique Salvador e dois de seus sobrinhos estão passando por esse processo. “Nos-sa gestão é extremamente profissional, é preciso estar muito bem preparado para fazer parte dela. A responsabilidade com o negócio deve ser muito grande, porque a nossa responsabilidade perante a co-munidade também é”, afirma.

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O crescimento da maior parte das economias emergentes ultrapassa neste momento os investimentos em saúde e educação de suas populações. Esse fator está criando potenciais restrições ao crescimento futuro, mas também oportunidades para preencher as lacunas existentes

Turbulências diárias em es-cala global estão dando aos líderes e investidores mui-tas razões para agir com cautela, já que eles pre-cisam enfrentar grandes desafios constantemente.

O aumento de dívidas soberanas, os merca-dos voláteis, a instabilidade de moedas, os impasses políticos e o crescimento estagnado ameaçam as economias dos países desenvol-vidos. Enquanto isso, China, Índia, Brasil e outras nações emergentes se fortalecem, num dos maiores fenômenos econômicos das duas últimas décadas.

MACROTENDÊNCIAS PARA A SAÚDE GLOBAL

ENSAIOTENDÊNCIAS GLOBAIS

Diagnóstico | jan/fev/mar 201666

ENSAIOTENDÊNCIAS GLOBAIS

De um ponto de vista tradicional, os so-bressaltos atuais indicam mudanças profun-das e estruturais que definirão a agenda dos negócios no futuro. Esperamos choques ma-croeconômicos nos próximos dez anos, com descontinuidades que modelarão as opções que as empresas terão para se adaptar e cres-cer.

Um desses aspectos macroeconômicos é exatamente a questão de saúde: o crescimento da maior parte das economias emergentes ul-trapassa neste momento os investimentos em

Os sistemas globais de saúde estão em um ponto de inflexão com as pressões de custo que servem como um catalisador para mudanças. Em consequência disso, eles enfrentarão mudanças drásticas até o final da década. O gasto com saúde tem crescido sistematicamente acima do PIB – em alguns países os gastos com saú-de representam 20% do PIB. Nos países emergentes, embora o gasto com saúde per capita continue baixo, somente cres-cimento expressivo do PIB permitiria ex-pansões significativas no gasto em saúde, de acordo com os indicadores mostrados no gráfico ao lado.

saúde e educação de suas populações, criando potenciais restrições ao crescimento futuro, mas também oportunidades para preencher as lacunas existentes. Assim, a construção de um sistema de saúde básico e de uma rede de segurança social mais forte absorverá uma proporção muito maior de investimentos do que no passado. Sua contribuição estimada ao PIB global em 2020 é de US$ 2 trilhões, conforme consta no gráfico abaixo. Já em re-lação aos países desenvolvidos, observamos populações envelhecendo, de maneira que po-

demos esperar demanda por mais e melhores tratamentos médicos, além de mudanças nos sistemas de pagamento para elevar a eficiên-cia do gasto com saúde. Tudo isso estimulará, nos governos, a inovação e as reformas.

Sua contribuição estimada ao PIB global em 2020 é de US$ 4 trilhões. A expansão contínua da assistência médica como “bem de consumo” também criará demandas por novos produtos e inovações em serviços e, em alguns casos, aumentará o escopo do que é considerado cuidado necessário.

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 67

A recente recessão econômica e a neces-sidade de reformas fiscais criarão pressões significativas nos preços para os contribuintes dos setores público e privado. As respostas de-vem variar, mas incluirão uma mistura de con-trole direto dos custos, definição de protocolos para utilização de assistência de saúde e a bus-ca por modelos integrados que alinhem me-lhor os incentivos. Na melhor das hipóteses, esses esforços reduzirão o aumento dos custos ao mesmo nível do crescimento do PIB.

Os lucros permanecerão sob pressão em todos os setores, mas haverá oportunidades significativas para inovação. Produtores de equipamentos, centros de assistência médica e usuários pressionarão para que a oferta de assistência médica melhore. Mais eficiência, custos per capita reduzidos e mais transparen-tes, além de melhorias mensuráveis no estado dos pacientes, continuarão a dar excelentes retornos. Para reduzir a exposição a reembol-sos, as empresas e os investidores financeiros verão oportunidades em produtos e serviços de assistência médica mais orientados ao consumidor e pelos quais os pacientes estarão dispostos a pagar a mais: os chamados produ-tos saudáveis, conforme pode ser observado nos gráficos que seguem.

No Brasil, apesar do aumento nos inves-timentos sociais e das melhorias alcançadas em saúde, educação, nutrição e assistência social, ainda existe uma grande lacuna a ser preenchida em comparação com as eco-nomias desenvolvidas. Essa situação cria importantes chances de negócios para as empresas desses setores, mas também uma ameaça para o desenvolvimento do país no longo prazo, caso os investimentos não

Países desenvolvidos irão cuidar das doenças dos ricos

Produtos saudáveis passarão de dispensáveis a “necessários”

Obesidade, diabetes e outras doenças crônicas

Doenças relacionadas à idade

Por exemplo, tratamentos avançados contra o câncer ou cuidados do coração

Uma vez que os tratamentos estejam amplamente disponíveis, serão difíceis de racionalizar, aumentando os custos de saúde por pessoa

Despesas com vitaminas, spa, bem-estar, vaidade e outras irão aumentar

Haverá crescimento na demanda, já que o rótulo de “tratamento médico” cria acesso ao reembolso de seguros para alguns procedimentos que, anteriormente eram eletivos

No entanto, o aumento das opções também colocará mais pressão para conter custos, sobretudo nos Estados Unidos

sejam realizados com sucesso. Os investi-mentos na saúde brasileira serão impulsio-nados pelo foco em aumentar o acesso para a população, por uma maior preocupação com a saúde das classes médias e altas e por uma crescente demanda por mais qua-lidade nos serviços. Estas tendências serão acompanhadas por uma forte pressão de custos entre pacientes, pagadores e presta-dores de serviço.

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201668

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201670

Carogestor

A minha unidade hospitalar é bem gerida, com um quadro de funcionários enxuto e com excelentes níveis de performance. Mesmo assim, as margens da nossa operação continuam pequenas e cada vez menores. No futuro, ainda haverá espaço para pe-quenos negócios no setor de saúde, restritos a um único estado e com um ganho de escala consequen-temente limitado?

Olavo Buarque - SP - São PauloUma pena que ainda não inventaram um aplicativo para celular

que faça previsões do futuro a partir de algumas informações do passado, do presente e de algumas tendências. Não creio que isso vá acontecer, tão cedo. O fato é que muitos “negócios” tradicio-nais estão sentindo as ameaças crescentes provocadas pelas pro-fundas mudanças e transformações que vêm nos surpreendendo nos últimos anos ou décadas. O que observei durante muitos anos é que não adianta resistir a esses avanços, particularmente aqueles de origem tecnológica. Muitos “negócios” não sobreviveram seja porque as transformações os deixaram para trás e os fizeram sem sentido, seja porque não souberam reagir e antecipar mudanças que já se faziam necessárias. Isso nos remete à velha conhecida e prática Análise SWOT, entre outras ferramentas de gestão como

a Análise de Cenários. Os gestores contemporâneos não podem deixar de identificar e agir prontamente sobre as Oportunidades e Ameaças que vêm de onde menos se espera às vezes. O “radar” da gestão tem que se mover em toda a amplitude e com a maior velocidade possível. Apenas como exemplo, o negócio dos táxis tradicionais, que até pouco tempo não se via ameaçado, hoje se vê ameaçado por várias frentes, dos aplicativos para celular, Uber, carona solidária, além de uma potencial mudança nos meios de transportes coletivos e individuais. Assim, os gestores dos negó-cios da saúde também devem estar atentos. Você inicia sua per-gunta afirmando que sua unidade hospitalar é bem gerida, com um quadro de pessoal enxuto e excelentes níveis de performance. Que bom! Mas fique atento para as oportunidades e ameaças que não podem surpreendê-lo. Dentro do possível, antecipe-as, iden-tifique-as antes que os concorrentes o façam. Aja a tempo. O dito, que se popularizou, “fazer sempre mais com menos”. não é mais suficiente. Muitas vezes é preciso fazer diferente também, o que pode exigir mudanças dolorosas naquilo que idealizamos.

O senhor acredita que a economia compartilhada pode se adequar às particularidades do mercado de saúde?

OSVINO SOUZA

Túlio Carapiá

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 71

Osvino Souza é professor associado da Fundação Dom Cabral nas áreas de Comportamento e Desenvolvimento Organizacional.

Henrique Kruchevsky - SC - Santa CatarinaSem dúvida, acredito. Os recursos são finitos, desde o micro-

ambiente ao macroambiente em que vivemos precisamos entender o que isso significa diante do ritmo de consumo acelerado em que vivemos. No século passado, em particular, iniciamos um processo de desenvolvimento acelerado que não levou isso em consideração. Precisamos reverter esta tendência o quanto antes, antes que seja tarde demais. Um filósofo alemão contemporâneo, Hans Jonas, tra-ta disso com muita propriedade em muitas de suas obras, particu-larmente no livro “O Princípio Responsabilidade: ensaio para uma ética da civilização tecnológica”. Embora polêmico, ele trata esse assunto como uma nova abordagem ética, que vai além do respeito moral entre os seres humanos, mas também com o meio ambiente em que vivemos. Os filmes de ficção científica, que muitas vezes antecipam certas questões do futuro, já vêm tratando de temas como a busca de outros planetas para garantir a sobrevivência de nossa espécie. Você pergunta se a economia compartilhada pode ser apli-cada às particularidades do mercado da saúde. Veja! Os custos da saúde estão crescentes já há algum tempo e tendem a ser cada vez maiores, particularmente devido a evolução tecnológica. Acredito que estamos muito próximos do esgotamento desse modelo. A tec-nologia aplicada à saúde deve e precisa continuar se desenvolvendo até que, quem sabe um dia, encontremos os recursos para diagnos-ticar e tratar de todas as doenças humanas. Os sistemas de saúde brasileiros, tanto o público, quanto o privado, já dão fortes sinais de esgotamento. E não é só em nosso país, todos sabemos. Alguns estão em melhores condições, outros em situação muito pior. Veja as últimas notícias sobre o serviço de saúde britânico (NHS), que já foi considerado por alguns como modelo. Sendo assim, precisamos aprender a compartilhar recursos, não apenas os financeiros, mas os tecnológicos, os humanos, o conhecimento, etc.. A coopetição (co-operação com competição) torna-se cada dia mais necessária, senão indispensável para nossa sobrevivência.

Com a crise, o olhar na gestão tende a ser mais focado. Os hospitais podem sair fortalecidos com o atual momento econômico?

Afonso Silva – RS - Rio Grande do SulSem dúvida temos ouvido sistematicamente que uma das solu-

ções para a crise que vivemos na saúde é a melhoria da gestão. É preciso ressaltar que o sistema de saúde é muito complexo e que os hospitais são um dos importantes elementos desse sistema. Em outras palavras, os hospitais estão sujeitos a fatores endógenos e exógenos do sistema de saúde e, evidentemente, não têm autono-mia suficiente para atuar sobre todos os outros elementos e ajustá--los. Dessa forma, haverá sempre fatores que impedirão o desen-volvimento dos hospitais. Uma boa gestão pode cuidar disso, mas com limitações. Penso que é preciso que os hospitais, com toda a importância que têm, analisem que “novo” papel podem e de-vem desempenhar, visando primordialmente ser agentes da trans-formação do sistema para que este preste serviços de excelência, com qualidade e custo, acessíveis ao seu público-alvo. Desde que iniciei minha participação nesta sessão, defendo a opinião de que o cliente do sistema de saúde é o “paciente e agregados”. Como aconteceu com outras indústrias, quando essa visão passou a pre-valecer os negócios melhoraram, mas a competição se estabeleceu, levando algumas empresas ao sucesso e outras ao fracasso. Houve um processo de seleção natural, se assim podemos chamar. Creio que o mesmo precisa acontecer com os hospitais. Os clientes dos hospitais, pelo menos aqueles que podem, têm poder aquisitivo para isso, já procuram selecionar onde irão fazer seu diagnósti-co e/ou tratamento. Mas, como disse anteriormente, isso depende muito da complexidade do sistema, neste caso, por exemplo, do seguro saúde que ele adquiriu, do médico que lhe indicou onde se tratar. Além disso, vivemos os primórdios de uma era onde, acre-dito, vamos tratar mais da saúde do que da doença. Não a viverei infelizmente, mas esta é uma tendência muito clara e necessária. O atual momento econômico do pais e do mundo exige muita cons-ciência e criatividade por parte dos dirigentes dos elementos do sistema, pois estamos diante do que parece ser o esgotamento de certos recursos.

Túlio Carapiá

Diagnóstico | jan/fev/mar 201672

Maisa Domenech é engenheira civil, pós-graduada em administração hospitalar; atua como consultora, superintendente da Ahseb e representante técnica da Febase no DSS da Confederação Nacional de Saúde.

as regras contratualmente estabelecidas. O manual do credenciado poderia ser tolerado apenas nas situações em que uma determinada versão, validada pelas partes contratantes e assinada, fizesse parte integrante do contrato escrito. Manuais de credenciados em site, por-tanto, devem ser abolidos e ignorados pelo prestador, sob pena de ter alterados os termos contratuais previamente ajustados, sem qualquer anuência do prestador de serviço médico-hospitalar.

Sobre os reajustes, tanto em 2015 como em 2016, para a maior parte dos prestadores, não foram acordados durante o período de livre negociação. Também não se mostraram efetivos com base no IPCA, após o referido período, conforme definido pela ANS, já que as nego-ciações entre prestadores e operadoras ocorreram, quando exitosas, em patamares menores que o citado indexador. Até mesmo a referên-cia ao reajuste nos diversos contratos não retrata o legislado pela ANS e, em alguns destes instrumentos, quando existe cláusula de reajuste em conformidade com o regulado, eis que surge numa outra cláusula um impeditivo pra que o reajuste efetivamente aconteça.

Na RN 364, merece destaque e preocupação a informação de que, em 2016, os prestadores que não tiverem contratos formaliza-dos ou ajustados não têm o direito ao reajuste previsto pela ANS. Ocorre que até então, salvo pouquíssimas exceções em que o diálogo e ajustes foram efetivos, os contratos recebidos de operadoras conti-nuam sem retratar o equilíbrio na relação entre as partes e, portanto, os termos previstos na lei.

Como agravante do panorama aqui descrito, a ANS publicou re-centemente o FAQ da Lei 13.003, justificado por esta agência como forma de minimizar dúvidas. Contudo, os esclarecimentos contidos nesse instrumento sobre a referida lei e suas resoluções extrapolam, em diversos pontos, o descrito na legislação em vigor, favorecendo, de forma nítida, as não conformidades descritas nas diversas minutas das operadoras de planos de saúde e, confundindo o prestador de serviço.

Ações específicas através de associações ou federações do setor ocorreram com o intuito de alertar formalmente à ANS sobre a situ-ação vigente. Também diversas ações, inclusive jurídicas, têm sido desenvolvidas por parte da Confederação Nacional de Saúde (CNS), com firme oposição à ANS no que se refere, sobretudo, aos principais pontos de divergência, tais como, o deflator ao IPCA nos casos de não atendimento pelo prestador ao programa de qualidade, como também a falta de fiscalização da ANS sobre as próprias regulamentações.

Apesar do momento conturbado e desfavorável aos prestadores de serviços médico-hospitalares, não podemos fraquejar! Com força, união e luta, construiremos as cenas dos próximos capítulos com votos de que a Lei 13.003 possa efetivamente contribuir com uma relação mais justa entre os protagonistas do sistema.

Retornamos aqui a comentar a Lei 13.003 da ANS, não só pela sua importância e impacto no mer-cado de saúde suplementar, como em função da sua inexpressiva aplicação até então. A referida lei se encontra em vigor desde 24/12/2014. Ape-sar disso, se manteve silenciosa, sem qualquer efeito prático, durante o período inicial de livre

negociação (janeiro a março de 2015). E, após este período, o que efe-tivamente aconteceu? A contratualização entre prestadores de serviços médico-hospitalares e operadoras de planos de saúde aconteceu nos moldes descritos na RN 363? E o reajuste dos prestadores em 2015 e 2016 ocorreu e/ou está ocorrendo conforme descrito na RN 364?

Com relação à contratualização do setor, pouca evolução ocorreu até então. A rede prestadora de serviço continua sem os contratos

escritos ou com contratos em não conformidade com o previsto na RN 363. Na maioria dos instrumentos contratuais que circulam no mercado, as penalidades por infração contratual favorecem as ope-radoras. Penalidades à operadora por atraso de pagamento, o que é frequente no mercado de saúde suplementar, referentes a faturas e/ou recursos de glosas, inexistem, incentivando tal prática e compro-metendo o fluxo de caixa dos prestadores de serviços. Prazos para pagamento de recursos encaminhados pelos prestadores às operado-ras, referentes às glosas realizadas indevidamente por estas últimas, também não aparecem explicitados nas minutas. Chama também a atenção em alguns casos a ausência de descrição dos eventos e pro-cedimentos médicos assistenciais que necessitam de autorização ad-ministrativa da operadora e, principalmente, a forma e o prazo deste processo, problema este de grande impacto, sobretudo nas estruturas hospitalares. Verifica-se, como anteriormente, que na maioria das minutas contratuais consta referência ao manual do credenciado, re-ferência esta que deve ser extinta definitivamente, já que usualmen-te tem sido um mecanismo utilizado pelas operadoras para mudar

Lei 13.003 da ANS: construindo as cenas dos próximos capítulos

Os reajustes, tanto em 2015 como em 2016, para a maior

parte dos prestadores, não foram

acordados durante o período de

livre negociação. Também não

se mostraram efetivos com base

no IPCA, após o referido período,

conforme definido pela ANS.

ARTIGOMaisa Domenech

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201674

HOSPITAL FELÍCIO ROCHO

Benemerência, pioneirismo e tradição na saúde. Hospital Felício Rocho se destaca como referência em alta complexidade em Minas Gerais.

HOSPITAL FELÍCIO ROCHO. ANAHP

O Hospital Felício Rocho, um dos mais tradicionais da capital minei-ra, com 63 anos de história, é re-ferência na prestação de serviços de saúde, em especial nos de alta complexidade, conta com assistên-cia médica integral, ambulatorial e de internação para operadoras de saúde, clientes privados e pacientes do SUS. A instituição, que em 2014 faturou mais de R$ 183 milhões, é o maior centro transplantador de ór-gãos de Minas Gerais. O hospital foi pioneiro no estado na realização de transplantes de pulmão, pâncreas, duplo de rim e pâncreas, cardíaco e hepático, sendo o primeiro feito em uma mulher no país, em 1986.“A história da medicina em Minas Gerais – e mais diretamente de Belo Horizonte – está intimamente ligada ao Hospital Felício Rocho, dado o pioneirismo da instituição e os valores compartilhados com os mineiros”, afirma a assessora de Qualidade da instituição, Josiane de Carvalho Pereira. Para ela, não é possível analisar os progressos mé-dicos das seis últimas décadas no estado sem associá-los à atuação do hospital. Avanços como o da práti-ca de check-up para transplantes, feito em apenas um dia, e o da re-tirada de rim de doador renal vivo por videolaparoscopia, ambos pro-cedimentos em que o Felício Rocho também foi pioneiro.

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Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 75

Por meio do Núcleo Avançado de Tratamento das Epilepsias (Nate), recentemente modernizado, o hos-pital é referência nacional no tra-tamento cirúrgico da doença. A instituição também é modelo no país em cirurgias cardiovasculares e ortopédicas de alta complexidade. E, desde 2011, merece destaque a atuação do Centro de Radiocirur-gia e Radioterapia Estereotáxica. Outra área de consolidada excelên-cia é a oncologia clínica e cirúrgica no combate a tumores de diversos tipos.A qualidade dos serviços oferecidos pelo Felício Rocho é assegurada pela certificação internacional Acredi-tação Nacional Integrada para Or-ganizações de Saúde (NIAHO, sigla em inglês), além da Organização Nacional de Acreditação (ONA). “O Hospital trabalha com o princípio da melhoria contínua dos processos e está sempre em busca de novos desa-fios”, comenta Josiane sobre os esfor-ços do hospital em manter a qualida-de dos serviços prestados, colocando o paciente no foco da atenção. “Não ficamos limitados à conquista das certificações. Muito pelo contrário, para se manter competitivo tem que estar sempre inovando”, defende a assessora de Qualidade.

Novas estruturas – A inovação e a excelência na prestação dos servi-ços não seriam possíveis sem os in-

vestimentos constantes do hospital na modernização de equipamentos e instalações, além do corpo assis-tencial especializado, em contínua atualização, atuando de acordo com os princípios éticos e filosóficos que regem a fundação. Neste contexto, foi inaugurado, em 2015, o Ambu-latório de Especialidades Médicas, com tecnologia de ponta. “A estru-tura possibilitou atendimentos de forma mais ágil e assertiva, aumen-tando o giro de leitos e o fluxo de caixa do hospital”, explica Josiane.Outra novidade foi a inauguração, em julho de 2015, do Pronto Aten-dimento Pediátrico, um espaço lú-dico e estruturado para atender às crianças com a atenção e o cuidado necessários. No mesmo ano, o hos-pital também ganhou um laborató-rio de análises clínicas próprio. Em novembro, foi inaugurado o Núcleo de Ciências da Saúde Felício Rocho, um espaço criado dentro do hospital, com o objetivo de forta-lecer a pesquisa e a formação con-tínua. Em dois andares, dispõe de um moderno auditório para sediar simpósios, congressos, palestras e demais atividades científicas, além de salas de aula multimídia e um ambiente específico para a realiza-ção de pesquisas. Essa inauguração possibilitou a in-terligação entre o auditório prin-cipal do núcleo e a sala cirúrgica de alta tecnologia, recentemente

implantada, que permite a realiza-ção de aulas sobre procedimentos cirúrgicos. “O público presente no auditório poderá acompanhar to-dos os detalhes de uma intervenção cirúrgica, com excelente qualidade de imagem e som”, antecipa Josiane.Atualmente, o hospital conta com mais de 300 leitos, distribuídos em apartamentos e enfermarias, 30 lei-tos de CTI adulto, dez leitos de CTI cardiológico e 17 salas de cirurgia. Para 2016, está prevista a ampliação dos leitos de Unidade de Internação e do CTI. O Centro Cirúrgico tam-bém vai ser reformado e ampliado.Dentre as principais aquisições da instituição, destaque para o novo equipamento de hemodinâmica, único no estado. O hospital, que atualmente conta com mais de 632 médicos efetivos além de dezenas de residentes e especializandos, pri-ma pela excelência assistencial, ga-rantida pelos profissionais altamen-te capacitados e envolvidos com o trabalho da instituição. Por isso, uma das preocupações fundamentais da instituição é a formação continuada. “Em nossas clínicas foram formadas diversas turmas de especialistas, que hoje atuam no Felício Rocho, mas tam-bém nos principais centros médicos do país”, destaca Josiane.

Dr. José Carlos Braga Nitzsche,Diretor administrativo e financeiro do Hospital Felício Rocho

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201676

FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER. ANAHP

Administrado pela Fundação São Francisco Xavier, instituição de saúde é a 3ª maior de Minas

Em 2015, ano em que o Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga, Minas Gerais, completou 50 anos de his-tória, não faltaram bons feitos para comemorar. A instituição de saúde, administrada pela Fundação São Francisco Xavier (FSFX), já é o 3º maior prestador de saúde do esta-do, com 34 mil internações anuais, e segundo em número de partos, realizando quase seis mil anual-mente. A entidade é referência na-cional em oncologia, atendendo a cerca de 800 mil pessoas de 35 mu-nicípios do leste mineiro. É, ainda, hospital modelo de alta complexi-dade, referência em trauma, cirur-gia geral, cardíaca (intervencionista ou guiada), gestação de alto risco e hemodiálise. Foram muitos os investimentos recentes em infraestrutura e mo-dernização do hospital. A começar pela Unidade de Oncologia, incor-porada em 2011 e que permitiu à instituição ir além das cirurgias oncológicas que já realizava, dis-ponibilizando para a população os tratamentos de quimioterapia e ra-dioterapia. No último ano, o servi-ço ganhou novos equipamentos de última geração, como duas máqui-nas de radioterapia, uma com in-

tensidade modulada – IMRT e ra-diocirurgia, além da braquiterapia. A estrutura passa por reformas de ampliação das recepções, do núme-ro de poltronas para o tratamento da quimioterapia e espaço exclusivo para procedimentos de hemotrans-fusão. A unidade ganhou também nova farmácia, com sistema de fil-tragem de ar, ambiente específico para acolhimento e classificação de risco dos pacientes, além de aumen-to na quantidade de consultórios.“O nosso foco é a qualidade da as-sistência e o conforto do paciente”, afirma o diretor executivo da FSFX, Luís Márcio Ramos. Nos cálculos do gestor, a fundação investiu nos últimos cinco anos aproximada-mente R$ 100 milhões em reformas e ampliações de vários setores do hospital, incorporando novas tec-nologias e sistemas de informação, visando à qualidade da assistência e satisfação do cliente. “Essas melho-rias já são sentidas por nossos clien-tes, com atendimentos mais rápidos e seguros, além de propiciar maior conforto”, garante o executivo.

Novas unidades – Por meio do Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon), do

FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 77

Luís Márcio Ramos,diretor executivo da FSFX

“O nosso foco é a qualidade da assistência e o conforto do paciente”, Luís Márcio Ramos, diretor executivo da FSFX

Ministério da Saúde, que possibili-ta o financiamento proveniente de empresas privadas com dedução fiscal, a FSFX vai construir dois no-vos serviços no hospital. Os investi-mentos serão de R$ 6,6 milhões. Um dos projetos é o da Unidade On-cológica Pediátrica. “Com o novo serviço, as crianças e seus familia-res não vão mais precisar sair da região para centros como Belo Ho-rizonte ou São Paulo em busca do tratamento oncológico”, conta Luís Márcio, que aponta a implantação do serviço como prioridade para o próximo ano. “Pode parecer fácil, para um prestador de saúde que já trate o câncer em adultos, montar uma unidade oncológica pediátrica, mas não é”, comenta o gestor sobre o desafio para a fundação ao proje-tar o novo serviço. “Uma estrutura como a que planejamos precisa ser lúdica, ambientada para a criança,

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201678

FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER . ANAHP

conciliando o tratamento, o exercí-cio pleno da infância e a integração com a família, dentro do permitido pelas normas sanitárias”, completa. A outra novidade será a criação da Unidade de Cuidados Paliati-vos, com o intuito de proporcionar acolhimento, conforto e controle da dor. “É uma forma de apoiar os pacientes e suas famílias em um momento tão difícil da vida deles”, acredita Luís.O Márcio Cunha foi o primeiro do país a ser “Acreditado com Exce-lência” pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). No ano de 2014, recebeu a certificação inter-nacional DIAS/NIAHO (Det Nor-ske Veritas International Accredita-tion Standard / National Integrated Accreditation for Healthcare Or-ganizations). A instituição presta serviços para a saúde pública, su-plementar e particular do estado. A estrutura conta com 530 leitos de

internação, distribuídos em duas modernas unidades, equipadas para atendimentos de alta complexidade e prestação de serviços nas áreas de ambulatório, pronto-socorro, inter-nação e serviços de diagnóstico.

Humanitarismo – Entidade filan-trópica, a Fundação São Francisco Xavier é o braço social da empre-sa de siderurgia Usiminas. Maior fabricante de laminados planos da América Latina e líder no mercado nacional, a companhia se instalou em Ipatinga no final da década de 50, quando a cidade ainda era um vilarejo às margens da estrada de ferro Vitória a Minas (EFVM). Com o apoio do poder público da época, a Usiminas levou desenvol-vimento para a localidade, pondo em prática um projeto urbanístico. Na primeira metade dos anos 60, a organização construiu o Colégio São Francisco Xavier e o Hospital

“Aprendemos com a Usiminas que é importante sobreviver num mercado cada vez mais competitivo, mas trazendo o desenvolvimento social como algo inerente ao processo produtivo da empresa”, Luís Márcio Ramos, diretor executivo da FSFX

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Márcio Cunha, com o intuito de ga-rantir infraestrutura e atenção bá-sica necessárias às famílias dos co-laboradores da companhia que ali se instalariam. Em 1969, a empresa siderúrgica instituiu a Fundação São Francisco Xavier para adminis-trar a escola e o hospital, até aquele momento função do convênio com a Companhia de Jesus – Padres Je-suítas – e a Congregação Irmãs de Jesus da Santa Eucaristia. Posteriormente, a FSFX responde-ria também pelo Centro de Odon-tologia Integrada, pelo Serviço de Segurança do Trabalho, Saúde Ocu-pacional e Meio Ambiente, e pela Usisaúde, operadora de planos de saúde e odontológicos das empre-sas Usiminas em todo o país. Este último é responsável por cerca de 43% do faturamento da fundação, que em 2015 atingiu a casa dos qua-se R$ 700 milhões – a expectativa é que esse valor chegue a R$ 1 bilhão em 2018. Logo em seguida vem o Márcio Cunha, correspondendo a 35% dos negócios.Com a sua instituidora e, atualmen-te, maior cliente, a FSFX aprendeu os conceitos de gestão profissiona-lizada e autossustentável, adotando na gestão de suas unidades de ne-gócio conceitos advindos da admi-nistração industrial. “Aprendemos com a Usiminas que é importante

sobreviver num mercado cada vez mais competitivo, mas trazendo o desenvolvimento social como algo inerente ao processo produtivo da empresa”, diz Luís Márcio Ramos. Ele cita como exemplos as diversas iniciativas da instituição voltadas para a valorização do ser humano por meio da educação, cultura e saúde. Segundo o executivo, é mui-to importante para a durabilida-de dos negócios que o gestor atue com firmeza, evitando desperdícios e pensando a sustentabilidade do negócio. “Trata-se de um compro-misso em fazer a instituição perene, agregando para a sociedade e pen-sando no resultado que virá lá na frente”, aponta. Foi pensando na sustentabilidade e aplicando os preceitos da responsa-bilidade social, que a fundação, em parceria com a Usiminas, lançou o Projeto Educação em Segurança e Saúde. Iniciativa pioneira no Bra-sil, o programa visa desenvolver nas crianças e adolescentes uma cul-tura de cuidados e de valorização da vida. Para tanto, foi criada uma nova disciplina na matriz curricular da escola administrada pela FSFX, que abrangerá todas as séries esco-lares. “Vamos ensinar os conceitos de riscos, comportamentos segu-ros e aspectos ligados à saúde para conscientizar a sociedade quanto à

importância da prevenção contra os perigos da modernidade”, ex-plana Luís Márcio. O executivo se refere a problemas como violên-cia urbana, acidentes no trânsito e criminalidade, geradores de custos para o Estado e que, por muitas ve-zes, incapacitam pessoas em idade produtiva. Reforça ainda sobre os inúmeros acidentes, como queima-duras, quedas e afogamento envol-vendo crianças, muitas com desfe-cho trágico. “Práticas como essa do programa Educação em Segurança e Saúde, onde há a conscientização dos alunos com efetiva participação da sociedade, vão permitir a cria-ção de uma cultura de valorização da vida, desonerando os sistemas de saúde dos eventos preventivos”, conclui.

“Práticas como essa do programa Educação em Segurança e Saúde, onde há a conscientização dos alunos com efetiva participação da sociedade, vão permitir a criação de uma cultura de valorização da vida, desonerando os sistemas de saúde dos eventos preventivos”, Luís Márcio Ramos, diretor executivo da FSFX

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COMPLEXO HOSPITALAR EDMUNDO VASCONCELOSCentro de excelência médica integrada, a instituição ocupa uma posição de referência no setor

COMPLEXO HOSPITALAR EDMUNDO VASCONCELOS. ANAHP

Um dos principais hospitais priva-dos de São Paulo, com 220 leitos, o Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos é um centro de ex-celência médica no estado. Fun-dada em 1949, ao lado do Parque do Ibirapuera, a instituição atende mais de 50 especialidades, além de possuir importantes áreas de te-rapia intensiva e contar com uma das mais bem equipadas unidades de diagnóstico do país, realizando

1,45 milhão de exames anualmente. Há cinco anos, o hospital figura en-tre os Melhores Hospitais da Amé-rica Latina no Ranking da Revista América Economia, avaliação que combina indicadores de êxito mé-dico com resultados financeiros e de sustentabilidade do negócio. No último estudo, a publicação classifi-cou o Edmundo Vasconcelos como um dos seis melhores hospitais do Brasil.

Dr. Dario Antonio Ferreira Neto,Diretor administrativo do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos

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“Os investimentos em tecnologia de ponta, o acompanhamento dos re-cursos científicos e tecnológicos, a técnica e o desempenho dos profis-sionais do hospital levam a institui-ção a uma posição de referência no setor”, conta o diretor administra-tivo Dario Antonio Ferreira Neto. Ele também destaca a Acreditação Hospitalar Nível 3 - Excelência em Gestão, concedida ao Edmundo Vasconcelos pela Organização Na-cional de Acreditação (ONA), e o Prêmio Melhores Empresas para Trabalhar no Brasil, conquistado pelo quinto ano consecutivo em 2015.“Durante as mais de seis décadas de história do hospital, a busca pela melhoria contínua norteou todas as iniciativas da organização”, conti-nua o executivo, ressaltando a alta qualidade da equipe multidisci-plinar que atua na instituição. São cerca de 1.400 médicos realizando anualmente 12 mil procedimentos cirúrgicos, 13 mil internações, 230 mil consultas ambulatoriais e 145 mil atendimentos de pronto-socor-ro. Outro ponto que merece destaque são a arquitetura e a infraestrutura diferenciadas, onde todos os apar-tamentos são equipados com TV a cabo, ar-condicionado, cama elétri-ca, frigobar e wi-fi. “Tudo no Com-plexo Hospitalar reflete a preocupa-ção com o bem-estar dos clientes”, reforça o diretor, referindo-se ao acolhimento no atendimento, à ho-telaria de alto padrão, tecnologia de ponta e inovadora, pesquisa cientí-fica e novas soluções em medicina adotadas. A estrutura disponibiliza, ainda, coffee-shop 24 horas, restau-rante, banco dia e noite, heliponto e amplo estacionamento.A responsabilidade socioambien-

tal também é um dos compromis-sos do hospital, que há mais de dez anos põe em prática o Plano de Ge-renciamento de Resíduos da Saúde (PGRS). A iniciativa inclui coleta seletiva, realizada por meio da dife-renciação de cores dos sacos de lixo, com segregação de plásticos, pa-péis, latas de alumínio, lâmpadas e óleo saturado de cozinha – uma co-leta aproximada de 2.850 litros por ano. Os produtos coletados seguem para uma empresa parceira de reci-clagem. “Para cada litro de óleo des-tinado corretamente, evitamos que um milhão de litros de água sejam contaminados”, orgulha-se Ferreira.

Modernização – Nos últimos anos, foram constantes os investimen-tos no Parque Tecnológico Médi-co-Hospitalar do Edmundo Vas-concelos. A instituição empregou recursos na adoção de novas tec-nologias de produção, captação e transmissão de imagens de exames. Houve a ampliação, modernização e reestruturação do Centro Médi-co de Especialidades. Além disso, foram adquiridos equipamentos como a tomografia Multi-Slice e promovida a reestruturação da área de TI do hospital, com desta-que para a implantação do pron-tuário eletrônico e do sistema Pacs (Picture Archive Communications System). Este último conferiu mais

agilidade no fluxo de atendimento, ao permitir a visualização de ima-gens em alta resolução de qualquer ponto do hospital, produzidas no centro de diagnósticos.Em 2015, a organização também criou e estruturou uma nova unida-de de negócio, denominada Produ-tos e Precificação. A iniciativa teve como objetivo padronizar as condi-ções comerciais e fazer valorações de faturamentos e das suas respec-tivas cobranças, evitando a incidên-cia de inconsistências. Para 2016, serão mantidos os inves-timentos em ampliação e moderni-zação do Centro Médico de Espe-cialidades e do Centro Cirúrgico em infraestrutura médico hospitalar. A instituição também prevê aquisi-ção de novos equipamentos e em-prego de recursos para promover a qualificação dos seus funcionários. “Pretendemos manter a excelência de nossos serviços, desenvolvendo cada vez mais a tecnologia e aprimo-rando o conforto e a qualidade de nossas instalações”, afirma Ferreira sobre os desafios para o novo ano. Ainda segundo ele, “faz parte tam-bém dessa estratégia a valorização da nossa imagem social e científica, a evolução da nossa infraestrutura de serviços e o desenvolvimento profissional em busca da qualidade total em todas as nossas atividades”, completa.

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SISTEMA S DE SAÚDEUm total de R$ 400 milhões transitará do Sistema S do Comércio se o PL 559/15 for aprovado e, com ele, surgir o Sistema S de Saúde. Isso permitirá maior qualificação dos trabalhadores do setor e o acompanhamento permanente da evolução da medicina e equipamentos médicos e hospitalares. Quem sairá ganhando são os pacientes.

FilipE sousa E cyda bRito

ENTREVISTAJORGE SOLLA

O DEPUTADO JORGE SOLLA (PT-BA), AUTOR DO PL 559/15, QUE CRIA O SISTEMA S NA SAÚDE

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Especialistas defendem criação do Sistema S da Saúde, também apadrinhada por tra-balhadores, empresá-rios, governo federal e parlamentares com

atuação na área da saúde. Essa é uma discussão com mais de uma década e que teve agora desenvolvimentos impor-tantes. O Sistema S da Saúde tem como base o Projeto de Lei (PL) 559/15, que desvincula os estabelecimentos da saúde do Sistema S do Comércio. Essa desvin-culação faz transitar um orçamento de R$ 400 milhões do Comércio para a Saú-de. De acordo com o representante do Ministério da Saúde, o secretário Heider Aurélio Pinto “O texto foi analisado em três secretarias e todas foram favoráveis, observando, principalmente, o benefício que trará para os trabalhadores da saúde”, o que é demonstrativo do apoio federal. Outro dos apoiadores de relevo do PL é a Confederação Nacional de Saúde (CNS), liderada por Tércio Kasten, que também destacou a importância do processo de-cisório passar do domínio do Comércio para o da Saúde: “O princípio é simples: quem tem que dizer o que é necessário é quem é da área da saúde. Nós faremos aquilo que nos faz falta”. Por seu lado, o vice-presidente da Confederação Na-cional dos Trabalhadores de Saúde, João Rodrigues Filho, defende que a real de-manda dos serviços de saúde no Brasil terá resposta na oferta de cursos gra-tuitos. Isso permitirá aos trabalhadores prestar serviços de qualidade. “A medi-cina é muito dinâmica, equipamentos e tecnologias avançam a cada ano, e como não temos qualificação permanente, te-mos problemas para dar o atendimento digno aos pacientes”, afirmou.

O autor do PL, deputado Jorge Solla (PT-BA), explica que o investimento se destina prioritariamente a qualificação profissional. “Nós não faremos investi-mentos em infraestrutura de escolas, mas vamos aproveitar as já existentes do SUS (Sistema Único de Saúde), universidades e instituições de ensino privadas para parcerias, mas sempre com isenção total de taxas de matrícula e mensalidade”, afirmou o deputado. A Diagnóstico quis saber mais detalhes junto do principal di-namizador do Sistema S da Saúde.Revista Diagnóstico – A criação do Sis-

tema S de Saúde já foi um projeto de Lei do Senado, autoria do então sena-dor Geraldo Althoff (PFL-SC), em 2001. A matéria também foi discutida na Câ-mara (dep. Lelo Coimbra). O PL, no en-tanto, foi arquivado. O que deu errado anteriormente?Jorge Solla – Eu diria que, primeiro, o que não vai ser diferente agora, existe uma reação contrária dos setores ligados ao comércio e é fácil de entender. Obvia-mente que o Sesc/Senac não quer perder mais de R$400 milhões por ano. O que é que muda? Acho que muda muita coisa de 2001 para cá. Acho que o setor saúde continuou crescendo, ampliou a represen-tação do setor no Congresso. Nós temos hoje mais parlamentares que têm uma relação positiva com o setor saúde, não que necessariamente todos sejam profis-sionais de saúde. Aumentou o número de profissionais de saúde representantes e aumentou também o número dos que não são profissionais de saúde, mas têm uma relação positiva com o setor. Além disso, a proposta que foi debatida naquela épo-ca era muito nos marcos do formato do Sistema S das outras áreas. Nós estamos construindo uma proposta mais inovado-ra. Diferente de outras áreas, na saúde, o setor público e privado são muito in-terligados, eles têm vasos comunicantes muito fortes. O trabalhador da saúde, a maioria deles, tem vínculos públicos e privados durante a sua vida profissional. Mesmo quando não tem ao mesmo tem-po, que também é comum acontecer. Naquela época a legislação só permitia para médicos acumular dois vínculos no setor público e, de lá para cá, ampliou as possibilidades para todos os profissionais de saúde terem dois vínculos públicos, mas nada impede que mesmo assim ele acumule vínculo com o setor privado. E é muito comum isso acontecer. Mesmo que não tenha ao mesmo tempo, na sua traje-tória profissional, termina migrando en-tre o setor público e privado. Então o in-vestimento em formação profissional de saúde é positivo para todos os segmentos. Nós estamos construindo uma proposta, em que estamos não só ouvindo também o setor público, mas trazendo ele para participar. Já teve um parecer favorável do Ministério da Saúde. Estamos traba-lhando a proposta para que o Serviço Nacional de Aprendizagem da Saúde não venha a ter que construir uma rede pró-

pria de escolas. A ideia é que ele venha utilizar as escolas do Sistema Único de Saúde. Outra coisa que nós estamos tam-bém apontando é para que o Senass não cobre mensalidades nem taxas dos tra-balhadores no seu processo de formação profissional. Que o recurso captado pelas contribuições seja utilizado, e é suficien-te, para cobrir os custos desse processo de capacitação.

Diagnóstico – Com a criação do Sistema S de Saúde, cerca de R$ 400 milhões se-rão destinados a capacitação e ações de cunho social específicas para os traba-lhadores de saúde. Quem irá gerenciar essa verba?Solla – Então, no formato Sistema S, o mantenedor, gestor, é a confederação da área. A Confederação Nacional de Saú-de será a gestora, mas em parceria com a representação dos trabalhadores, a CNTS e a CNTSS, e também a representação dos poderes públicos. No caso, o SUS e o Ministério da Saúde (no plano federal), e queremos envolver também os conse-lhos e secretários estaduais e municipais nesse processo. Nós nunca tivemos R$

“Estamos trabalhando a proposta para que o Serviço Nacional de Aprendizagem da Saúde não venha a ter que construir uma rede própria de escolas. A ideia é que ele venha utilizar as escolas do Sistema Único de Saúde”

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400 milhões por ano para investir em um grande programa de capacitação pro-fissional, como poderemos ter com essa situação. O setor da saúde cresceu. Hoje a saúde movimenta 9,5% do PIB, quase 10% do PIB nacional está no setor saúde. É um segmento de alta empregabilidade e que mesmo nos momentos de dificuldade econômica como estamos vivendo este ano, em que cresceu o desemprego, ainda assim o setor saúde não só não desem-pregou, como aumentou novos postos de trabalho. Nós vamos fechar o ano com novos postos de trabalho, legalmente ins-tituídos, com carteira assinada. São cerca de cinco milhões de trabalhadores no se-tor privado da saúde, fora o público. Isso atuando em mais de 100 mil serviços pri-vados de saúde. Eu não tenho aqui o nú-mero de novos postos, mas acredito que chega perto de 100 mil novos postos de trabalho em 2015. Em um ano de cres-cimento do desemprego, um setor que abre 100 mil novos postos de trabalho formalizados mostra a potência que é. A saúde é um grande vetor de desenvolvi-mento regional, é um grande vetor de dis-tribuição de renda, tem impacto positivo na economia. Eu estou falando de cinco milhões de empregos diretos, fora todo o conjunto de empresas que gravitam na esfera suposta ao setor saúde, empresas voltadas a produção de medicamentos, distribuidoras, fornecedoras dos mais di-versos insumos para saúde. É bom lembrar que o Sistema S foi cria-do na década de 40 e nos anos 40 o se-tor saúde não tinha essa pujança. Então é natural que durante muito tempo a área

ENTREVISTAJORGE SOLLA

de saúde ficasse a reboque da área de co-mércio e serviço. Mas não faz mais senti-do. Hoje, pelo porte do setor, ele deve ter mais espaço. Outra característica impor-tante de lembrar é que na área de saúde, o maior investimento que você pode fazer é na formação dos trabalhadores. Porque é um setor que, diferente, por exemplo, do setor bancário ou da indústria, em que a incorporação tecnológica desempregou, no setor saúde a incorporação tecnológi-ca não gera desemprego. São tecnologias que se somam e que geram a cada novo processo a necessidade de trabalhadores mais qualificados. O trabalhador da saú-de não pode ficar dez anos sem se atuali-zar porque ele vai perder a capacidade de estar preparado para o processo de traba-lho que vai estar vigente. Incorporamos rapidamente tecnologia e com isso você precisa de investimentos e o maior inves-timento que você pode fazer na saúde é na qualificação e atualização profissional.

Diagnóstico – Quais são as principais demandas (carências) do setor em rela-ção a capacitação profissional?Solla – Nós temos, de um lado, algumas lacunas regionais importantes, de outro lado, a necessidade de perfis profissio-nais mais adequados a incorporações de determinas tecnologias e a novos pro-

cessos de trabalho. E a formação pro-fissional, não só na área de saúde, ela é geral. O profissional sai da universidade com uma formação mais geral naquela área e com a capacidade para se prepa-rar para determinados tipos de atividade. Então, um profissional recém-formado, saindo de um curso de enfermagem, por exemplo, pode fazer um concurso para uma instituição pública ou prestar uma seleção para uma instituição privada e a vaga que tem lá é para trabalhar em uma UTI. O profissional não sai da graduação plenamente capacitado para exercer uma atividade dessas. Então diversos postos de trabalho ao receber um novo profis-sional terminam precisando fazer algum tipo de investimento na preparação dele. E se esse investimento for feito de forma mais estruturada, com atualizações per-manentes, com certeza o profissional vai se sentir mais preparado, o serviço vai se sentir mais confiante na atuação daque-le profissional e o usuário vai ser melhor assistido por esse trabalhador da saúde.

Diagnóstico – As escolas do SUS serão suficientes para atender as demandas do Senass?Solla – Sim. Se nós utilizarmos as escolas do SUS, fizermos parcerias com as uni-versidades e com o próprio setor priva-

“É bom lembrar que o Sistema S foi criado na década de 40 e nos anos 40 o setor saúde não tinha essa pujança”

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QUEM LÊ DECIDE.QUEM DECIDE LÊ.

VALDIR PEREIRA VENTURA, PRESIDENTE /CEO DO GRUPO SÃO CRISTÓVÃO SAÚDE

Ricardo Benichio

A REVISTA DOS LÍDERES DA SAÚDE DO BRASIL

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do de saúde, que também já tem vários hospitais com investimentos próprios na área de formação profissional. Se traba-lharmos em rede, se trabalharmos a for-mação e qualificação profissional em ser-viço, utilizarmos a parceria com o setor público, com certeza, nós vamos poder utilizar muito melhor esses recursos para uma oferta muito melhor de qualificação profissional. Outra coisa é que nós esta-mos buscando uma gestão mais demo-crática, mais transparente, com a maior participação dos trabalhadores e do setor público nos rumos desse serviço nacional de aprendizagem em saúde.

Diagnóstico – E quais serão as compe-tências do Sess?Solla – As competências do Sess dizem respeito mais ao suporte social, viabilizar atividades assistenciais e de lazer para os trabalhadores. A ideia é que o Senass seja prioritário, não que o Sess não seja im-portante também, mas pela importância estratégica da formação profissional, da qualificação profissional, a ideia é que se dê uma ênfase maior nesse âmbito.

Diagnóstico – Como o senhor avalia o atual modelo, no qual a arrecadação anual do setor saúde é voltada para a Confederação Nacional do Comércio?Solla – O Sesc/Senac tem outras priori-dades. Nenhuma crítica ao Sesc/Senac,

ENTREVISTAJORGE SOLLA

“O trabalhador da saúde não pode ficar dez anos sem se atualizar porque ele vai perder a capacidade de estar preparado para o processo de trabalho que vai estar vigente”

pelo contrário, acho que o Sistema S no Brasil tem dado resultados positivos. Nós temos agora, por exemplo, uma parceria muito grande do Pronatec com o Sistema S e, sem sombra de dúvidas, ele tem sido muito importante para ampliar a qualifi-cação, especialmente, técnica dos jovens. Mas o setor saúde não tem sido priorida-de nesse trabalho feito pelo Sesc/Senac.

Diagnóstico – Quais são as perspectivas de aprovação do projeto?

Solla – Eu diria que são positivas. Nós fizemos uma audiência pública que rei-terou a posição favorável de todas as ins-tituições do setor saúde. Representantes dos empregadores, dos trabalhadores, do setor público. E na Comissão de Seguri-dade Social, a gente tem conversado com alguns deputados e há uma posição muito favorável também.

Diagnóstico – Quem participou?Solla – A Confederação Nacional da Saú-

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“Em um ano de crescimento do desemprego, um setor que abre 100 mil novos postos de trabalho formalizados mostra a potência que é”

de, Confederação Nacional de Trabalha-dores da Saúde, Ministério da Saúde e a Confederação Nacional do Comércio. Claro que a CNC foi contra, mas foi a única voz contrária na audiência.Diagnóstico – Quais foram os avanços alcançados na audiência e quais são os próximos passos?Solla – Nós debatemos a proposta e agora estamos aguardando o parecer do deputado Tarcísio Perone (PMDB-RS), escolhido como relator. A expectativa é de que ele possa pegar esse relatório o mais breve possível para que ainda nesse semestre a gente possa colocar em vota-ção na Comissão de Seguridade Social. Aprovando, nós vamos ter mais dois estágios: Comissão de Trabalho e a Co-missão de Constituição e Justiça. É um projeto terminativo, ou seja, ele não pre-cisa ir a Plenário se passar nas três co-missões. Temos boas chances. Para mim, a tarefa mais decisiva vai ser na Comis-são de Trabalho porque é onde nós temos um maior peso de representantes que têm uma maior relação com o setor de comér-cio.

Diagnóstico – Quem são os principais apoiadores do Projeto?Solla – Confederação Nacional de Saúde, Confederação Nacional dos Trabalhado-res da Saúde, Ministério da Saúde.

Diagnóstico – Qual o argumento dos opositores?Solla – Sesc/Senac argumentam que vão perder recursos. Qualquer instituição que se sinta ameaçada em perder R$ 400 mi-lhões por ano não vai ficar satisfeita. O argumento deles é que eles dão o retor-no para os trabalhadores de saúde, o que não é verdade. Eles falam que já fazem cursos para área de saúde, quando você vai ver são cursos de primeiros socorros, curso para balconista de farmácia. Ape-sar de farmácia ser um equipamento de saúde, o empreendimento farmacêutico privado é comércio, então o retorno é mí-nimo. Eles argumentam que já possuem uma infraestrutura montada de escolas, que nós teremos que fazer investimen-tos... Mas nós estamos mostrando que não, que não precisamos de prédios fa-raônicos, não precisamos construir uma rede de estruturas físicas, nós podemos usar o que já temos no setor saúde, tanto na área pública, quanto na área privada.

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Xamãs dos tempos modernosTribos indígenas na Amazônia recebem atendimento médico de alta qualidade graças à ONG Expedicionários da Saúde. Com o apoio e as doações de diversas instituições, os voluntários levam até os pacientes da Amazônia consultas, atendimento oftalmológico e um conjunto de serviços que muda suas vidas

REPORTAGEMMÉDICOS NA TRIBO

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ASSOCIAÇÃO EXPEDICIONÁRIOS DA SAÚDE: voluntários da ONG levam atendimento médico de alta qualidade aos indígenas da selva amazônica

Em 2002, uma caminhada turística levou à criação da Associação Expedi-cionários da Saúde. Um passeio que, segundo Ri-cardo Affonso Ferreira, presidente dos Expedi-

cionários da Saúde, médico ortopedista do Instituto Affonso Ferreira e membro do cor-po clínico do Centro Médico de Campinas, inspirou a mudança do foco das viagens.

Quando foi oficializada, em 2003, hou-ve necessidade de realizar um planejamento eficaz, procurar instituições de referência e parcerias que auxiliassem no projeto de operar mudanças significativas na saúde da população indígena.

E basta olhar para os resultados apre-sentados pela ONG. Uma expedição de 15 dias, em 2004, permitia realizar pouco mais de uma centena de consultas e 52 operações. Hoje em dia, uma semana corresponde a cerca de três milhares de pacientes atendi-dos e entre 200 a 300 cirurgias realizadas. São 12 anos que levaram os voluntários por 34 vezes até ao coração da selva amazônica, efetuando aproximadamente 5,5 mil cirur-gias e 35 mil atendimentos.

A Diagnóstico quis ouvir médicos e co-laboradores da organização e procurou tes-temunhos da mais recente expedição. Bene-dita e Maurício, da comunidade Yanomami contaram como as suas vidas mudaram após conhecerem a ONG.

Revista Diagnóstico – Como surgiu a ideia da Associação Expedicionários da Saúde?

Ricardo Affonso Ferreira – O expedicio-nário começou como uma caminhada para o Pico da Neblina a turismo, em 2002. No caminho, paramos em uma aldeia chamada Maturaca. Nos deparamos com uma reali-dade muito diferente da que vivíamos e re-solvemos mudar o foco das viagens e tentar fazer alguma coisa pela população indígena

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da região. Procuramos instituições respon-sáveis pelo atendimento à saúde para en-tender como atuavam e assim planejar uma participação eficaz.

Assim, em 2003, foi oficialmente es-truturada a Associação Expedicionários da Saúde. Desde então, as caminhadas iniciais transformaram-se em expedições de atendimento médico às comunidades indígenas na Amazônia, dando origem ao Programa Operando na Amazônia - Rio Negro. Nos primeiros anos, a ONG ficou dentro da ‘cabeça do cachorro’, noroeste brasileiro, onde vivem 22 etnias diferentes (entre 15 e 20 mil pessoas). Atualmente, as expedições estão voltadas para locais onde já fomos outras vezes e sabemos das necessidades. Também estamos indo para locais por meio de solicitações de líderes indígenas.

Diagnóstico – Quais os obstáculos que encontram e como os ultrapassam?

Ricardo – É importante ressaltar que se trata de um serviço complementar aos pro-gramas existentes de atendimento à saúde indígena e que visa evitar a necessidade de deslocamento, custoso e traumático, do doente e sua família até centros urbanos. O trabalho é viabilizado a partir de parce-rias com atores e instituições locais para realização de diagnósticos e pré-seleção de pacientes, planejamento das viagens da equipe de médicos e de utilização de nosso Centro Cirúrgico Móvel.

No início operávamos em hospitais se-miabandonados nas fronteiras do Brasil. Após um ano, tivemos a ideia de fazer ci-rurgias em tendas, consideradas “high-te-ch”, que são transformadas em um com-plexo hospitalar, com centro cirúrgico,

REPORTAGEMMÉDICOS NA TRIBO

para procedimentos de médio porte, como cataratas e hérnias inguinais e epigástricas, além de partos e exames de diagnósticos.

Os procedimentos mais recorrentes es-tão relacionados ao modo de vida nas tri-bos. Grande parte das cirurgias de hérnia é realizada em crianças que, desde cedo, aju-dam a família a transportar cargas como a colheita de mandioca e roupas para serem lavadas no rio. Além disso, realizamos um grande número de cirurgias de catarata em jovens e adultos afetados precocemente pela alta incidência de luz solar na região.

Diagnóstico – Que ajuda recebem?Ricardo – Além do trabalho dos mé-

dicos voluntários, os Expedicionários da Saúde contam com o apoio de outros pro-fissionais que ajudam a viabilizar a institui-ção. A parceria com empresas na forma de doações financeiras, de serviços e de mate-riais é o que tem tornado o projeto viável.

Diagnóstico – Quais os desafios e ob-jetivos dos Expedicionários?

Ricardo – Toda ONG tem começo, meio e fim. A EDS está no meio e planeja-mos expandir para o restante da América Latina. Buscamos ser referência de saúde pública no Brasil. Nesses 13 anos, a EDS já cobriu, com atendimentos, uma área maior do que a França - além de cuidar dos indivíduos, a ONG respeita a floresta.

A promessa da ONG é atender com excelência os indígenas e, para isso, preci-samos fazer com que diferentes órgãos do governo conversem. Sem o apoio de em-presas privadas, não conseguiríamos via-bilizar um atendimento de ponta. Hoje não há muito tempo para captação de recursos e as captações acabam sendo espontâneas.

Um dos mais recentes apoios que a EDS re-cebeu foi da GE. Um parceiro que surgiu através da iniciativa de uma voluntária da ONG. Fabiana

Garcia, gerente de produtos da GE, inte-grava as expedições da organização, quan-do decidiu propor a colaboração entre as duas instituições, como a própria explicou à Diagnóstico.

Diagnóstico – Como surgiu a ideia de fazer a ponte entre a GE e a Expedicioná-rios da Saúde?

FABIANA GARCIA (GERENTE DE PRODUTOS GE): a EDS ganhou uma voluntária e uma aliada

EM 12 ANOS, OS VOLUNTÁRIOS POR 34 VEZES VIAJARAM ATÉ O CORAÇÃO DA SELVA AMAZÔNICA, EFETUANDO APROXIMADAMENTE 5,5 MIL CIRURGIAS E 35 MIL ATENDIMENTOS.

Fabiana Garcia – A iniciativa da com-panhia partiu da minha indicação, já que sou voluntária na organização social há um ano. Comecei através do meu trabalho anterior, e nas minhas últimas férias me dediquei como voluntária às expedições da ONG e na terceira expedição que partici-pei, fui como voluntária e também como funcionária GE.

Ao chegar à GE, identifiquei que com os produtos disponíveis na empresa seria possível levar qualidade ao diagnóstico desse público e proporcionar agilidade no tratamento, já que, com os aparelhos portáteis, o tempo de deslocar essas pes-soas para fazer o diagnóstico em outro lu-

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NA VOZ DOS PACIENTES

O mais difícil, talvez, era conseguir recolher os testemunhos de pacien-tes que conseguiram atendimento médico da EDS. A Amazônia não será um local de fácil acesso, mas dois dos membros da comunidade Yanomami, Benedita (85 anos) e Maurício (70 anos) transmitiram o sentimento de gratidão pela forma como a EDS me-lhorou suas vidas. Maurício havia fei-to um pedido especial: “Ele pediu um chinelo, e conseguimos um para ele. Ficou muito agradecido e disse que fi-caria ainda melhor fazer tudo isso sem pisar no chão”. E conseguiu mais que um chinelo.

Diagnóstico – O que você acha de re-ceber atendimento médico?Maurício Yanomami – Muito especial. Nunca havia recebido nenhum tipo de atendimento e sofria demais sem enxergar. Tinha os dois olhos compro-metidos.Diagnóstico – Como foi receber os médicos?Maurício – Foi muito bom e impor-

tante. Nunca tive uma experiência tão boa. Não conhecia esse tipo de aten-dimento e nem imaginava que existia.Diagnóstico – No começo estava des-confiado, com medo?Maurício – Não tive medo. Fiquei ape-nas ansioso a respeito do resultado.Diagnóstico – O que mudou na sua vida depois da vinda dessas expedi-ções?Maurício – Meu sonho era andar de avião... Estava muito triste, pois só fi-cava na rede o dia todo dependendo de cuidados. Quando voltei a enxer-gar, isso me permitiu caçar, pescar, andar de barco e ver o sol e a lua de novo, pois gosto muito. Estou extre-mamente feliz e disse que não tinha como agradecer.Diagnóstico – O que a oportunida-de de cuidar da saúde significa para você?Maurício – Poder aproveitar a vida, ser útil e cuidar da família novamente.

Diagnóstico – O que você acha de re-ceber atendimento médico?Benedita Yanomami – Muito impor-tante, pois moro em uma aldeia mui-

to afastada e não enxergava mais e deixei de fazer várias coisas. Além de ser a primeira vez que tive um atendi-mento oftalmológico.Diagnóstico – Como foi receber os médicos?Benedita – Foi bonito e especial, fi-quei muito feliz por terem escolhidos os Yanomamis. Pois é um povo muito carente e isolado.Diagnóstico – No começo estava des-confiada/com medo?Benedita – Com muito medo, princi-palmente quando andei de helicóp-tero. Nunca havia visto um, porque sempre andei de barco a vida toda. Fiquei desconfiada dos médicos.Diagnóstico – O que mudou na sua vida depois da vinda dessas expedi-ções?Benedita – Poder voltar a trabalhar, pois cuido da família e de dez filhos e muitos netos sozinha. (Na cultura in-dígena, é muito comum a mais velha ser responsável pelo sustento da casa)Diagnóstico – O que a oportunida-de de cuidar da saúde significa para você?Benedita – Poder viver melhor.

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ESTAVA MUITO TRISTE, POIS SÓ FICAVA NA REDE O DIA TODO DEPENDENDO DE CUIDADOS. QUANDO VOLTEI A ENXERGAR, ISSO ME PERMITIU CAÇAR, PESCAR, ANDAR DE BARCO E VER O SOL E A LUA DE NOVO, POIUS GOSTO MUITO. ESTOU EXTREMAMENTE FELIZ E DISSE QUE NÃO TINHA COMO AGRADECER.

MAURÍCIO YANOMAMI

Diagnóstico | jan/fev/mar 201692

Experiência e Referência em Higienização Hospitalar.

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Todo o professional da Souza e Filhos passa por um processo de seleção rigoroso e por treinamento específico para a autilização das mais modernas técnicas de higieni-zação. A Souza e Filhos fez questão de montar sua própria Escola de Treinamento e Capacitação, um espaço amplo com estrutura física e humana diferenciadas.

Os nossos profissionais têm o domínio dos requisitos necessários para o exercicio satisfatório de suas atividades, além de uma postura profissional séria e comprometida.A Souza e Filhos entende que não basta o ambiente ter aparência de limpo. A limpeza precisa ser efetiva, contri-buindo para a preservação da saúde, mas também para a redução dos riscos de infecção hospitalar.

Treinamento e Capacitação Profissional

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 93

gar deixa de existir e possibilita chances de resolução do caso no mesmo local. Eu sempre fico um pouco fora do ar, pensan-do neles, o que vai acontecer e como pos-so ajudá-los mesmo que de longe. E aqui no meu trabalho foi possível ajudar ainda mais essa população.

Diagnóstico – Qual o impacto da ces-são de aparelhos da GE?

Fabiana – Com o empréstimo de um Vscan, da GE, equipamento portátil com tecnologia de ultrassom do tamanho de um celular, foi possível agilizar o trabalho dos médicos durante as triagens, exames de diagnóstico e procedimentos pré-ope-ratórios. Por ser portátil, o equipamento auxiliou na fácil locomoção dentro da ten-da para realizar exames básicos com mais agilidade.

Na minha última expedição, a viagem durou oito horas (de Campinas para São Gabriel em um avião da força aérea; de São Gabriel até a Aldeia com um avião de carga). Ao chegar, passa-se por uma trilha para iniciar mais rapidamente a missão. Todos se ajudam e foram construídos a

A EDS BUSCA SER REFERÊNCIA DE SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL. NESSES 13 ANOS, JÁ COBRIU, COM ATENDIMENTOS, UMA ÁREA MAIOR DO QUE A FRANÇA - ALÉM DE CUIDAR DOS INDIVÍDUOS, A ONG RESPEITA A FLORESTA

MAURÍCIO YANOMAMI: aos 70 anos, o membro da tribo Yanomami sonhava em andar de avião. Viajou de helicóptero e ainda recuperou a visão

cozinha, os banheiros, o alojamento e o centro cirúrgico. No primeiro dia é um dia mais de organização. Tudo é adaptado; na ginecologia, por exemplo, um lado da sala é claro e o outro é escuro, adaptamos tudo para atender da melhor forma possível. Os pacientes chegam ao local, se cadastram e falam sobre o que estão sentindo, e os voluntários realizam o trabalho de prepa-rar os pacientes para as consultas e para os procedimentos cirúrgicos.

Diagnóstico – O que representa para você ser voluntária e conseguir junto à GE outra importante contribuição para a ONG?

Fabiana – É uma experiência inesque-cível, diferente e que você sai do seu eixo. Você passa a dormir no chão, sem confor-to, come o que tem. E então você percebe que o mínimo que você faz já é o suficien-te. Isso me deixou muito mais humana, me fez prestar mais atenção nas coisas e nas pessoas. E, para fazer o bem, eu não pre-ciso estar na Amazônia, mas foi lá que eu percebi que uma coisa pequena pode mu-dar a vida de alguém.

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Diagnóstico | jan/fev/mar 201694

REPORTAGEMMÉDICOS NA TRIBO

AS TENDAS DE CIRURGIA, CONSIDERADAS “HIGH-TECH”, SÃO TRANSFORMADAS EM UM COMPLEXO HOSPITALAR, COM CENTRO CIRÚRGICO, PARA PROCEDIMENTOS DE MÉDIO PORTE, COMO CATARATAS E HÉRNIAS INGUINAIS E EPIGÁSTRICAS, ALÉM DE PARTOS E EXAMES DE DIAGNÓSTICOS

34 EXPEDIÇÕES: desde o passeio turístico de 2002 que deu orrigem aos Expedicionários da Saúde, as visitas médicas têm aumentado todos os anos

Mas o que leva as instituições a associarem o seu nome ao trabalho dos Expedicioná-rios e a con-

tribuírem com doações financeiras, ser-viços e insumos? A Diagnóstico bateu à porta da GE e, do outro lado, Daurio Speranzini Jr, presidente e CEO da GE Healthcare para a América Latina, deu as respostas que procurávamos.

Diagnóstico – O que a GE ganha com essa ligação e o que ela oferece?

Daurio Speranzini J r – A GE Heal thcare fornece serviços e tecnolo-gias médicas transformadoras que aten-dem a demanda por acesso mais amplo a serviços de saúde de melhor qualidade e menor custo, além de ajudar profis-sionais do mundo todo a proporcionar

saúde de qualidade a mais pessoas. E, desde 2010, produz, em sua unidade lo-calizada em Contagem, Minas Gearis, equipamentos médicos em sua primeira fábrica no país.

O recente trabalho com os Expedi-cionários da Saúde foi dispor para os voluntários da ONG o Vscan, equipa-mento portátil com tecnologia de ultras-som, e dois outros ultrassons chamados LOGIQ e. Mais uma forma encontrada pela GE Healthcare para levar diagnós-tico de qu\alidade até áreas remotas, proporcionando um cuidado efetivo e acesso à tecnologias de ponta. Para o futuro, a expectativa da empresa é tor-nar essa parceria cada vez mais forte e ajudar os Expedicionários da Saúde com equipamentos cada vez mais ino-vadores e, assim, poder contribuir para um diagnóstico mais seguro e ajudá-los a salvar vidas nos lugares mais distantes do Brasil.

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Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 95

Lembrando que a melhor alternativa aponta para o melhor benefício, com o maior con-forto, no menor tempo e no menor custo para o paciente, buscando isenção de influências externas. Vivemos num momento difícil nes-te País onde os valores se perderam. E como na cegueira de Saramago a população está vagando, sem identificar quem é quem e sem saber por onde e para onde caminha. Isso re-flete diretamente na escolha dos seus próprios representantes, que diariamente surpreendem com episódios inusitados. Todavia vale lem-brar os existencialistas: “Somos livres para as escolhas, mas somos responsáveis pela suas conseqüências”.

A SENHORA JÁ CONVIVEU COM COLEGAS NÃO ÉTICOS? OS DE-NUNCIOU?Já ouvi muitos relatos de comportamentos não aceitáveis para médicos, mas nunca pre-senciei, nem comprovei sua veracidade e por obvio, não denunciei pessoalmente. Entretan-to, como Conselheira do Cremeb tive diver-sas oportunidades de encaminhar documen-tos que permitiram a abertura de Processos Éticos Profissionais ex offício.

QUAIS FORAM AS PRINCIPAIS CRÍ-TICAS QUE A SENHORA OUVIU SO-BRE SEU MAIS FAMOSO LIVRO, ÉTI-CA PARA OS FUTUROS MÉDICOS?Com a 1ª edição esgotada, a maior crítica sempre foi a inexistência da 2ª.

“O ensino da Ética Médica é um desafio sem limites e por isso tão instigante”

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NEDY NEVESDiretoaoponto

O Brasil atravessa um período sombrio no que diz respeito a valores e ética, cabe a cada um mudar isso. Nedy Neves é professora de Ética Médica, o que lhe dá responsabilidade acrescida, e defende que todos temos a capacidade de discernir entre o certo e o errado. O papel dos educadores na formação de seres humanos e de médicos/cidadãos é de extrema importância. Nedy Neves não acha difícil a punição de profissionais não éticos, mas o processo em si deve ser rigoroso, para ser justo. E julgar não é tarefa fácil.

É POSSÍVEL ENSINAR ÉTICA PARA OS FUTUROS MÉDICOS?A conclusão que cheguei após 15 anos de ensino da disciplina de Ética Médica na EB-MSP – Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública - é que ética não se ensina. Então, há de se questionar a necessidade da manuten-ção da mesma na grade curricular do curso de Medicina. Posso afirmar que nosso trabalho é estimular a reflexão e não a doutrina. De acordo com Anna Arendt temos a capacidade de fazer julgamentos morais, discernir entre o certo e o errado, utilizando os valores in-trínsecos que estão categorizados e memori-zados por meio de preceitos da família e das experiências vividas. Destarte, é da espon-sabilidade do mestre/facilitador do ensino/aprendizagem abrir novos caminhos, novas possibilidades e expandir a consciência dos educandos, permitindo que os futuros mé-dicos façam melhores escolham durante sua vida profissional. Na minha experiência esse trabalho tem sido muito gratificante, na me-dida em que lançamos sementes que poderão gerar frutos, formando médicos/cidadãos ex-tremamente úteis à sociedade humana. Assim sendo, o ensino da Ética Médica é um desafio sem limites e por isso tão instigante. POR QUE É TÃO DIFÍCIL A PUNIÇÃO DE PROFISSIONAIS NÃO ÉTICOS?Não penso que é difícil a punição de pro-fissionais não éticos. Há de se compreender que toda denúncia gera um processo e este tem um rito jurídico a ser adotado, tanto na Justiça, quanto nos Conselhos de Medicina. E como tal segue a legislação vigente, res-peitando a norma superior, o Código Penal e Civil, assim como a Constituição Brasileira. Nesse diapasão é necessária a comprovação

dos fatos, através de documentos, das oitivas das partes envolvidas e das testemunhas e da defesa dos denunciados. Desta forma, o pro-cesso torna-se moroso para que todas as eta-pas sejam cumpridas e para impedir sua nuli-dade. Findada esta fase ocorre o julgamento, que sendo realizado por Juízes e/ou Conse-lheiros esbarra em toda subjetividade humana da captação do ocorrido. Nessa perspectiva, pode-se depreender que não existe um equi-pamento para julgar. Cada caso é singular, único e submerso em numerosos pormenores, constituindo um formato particular e específi-co. Portanto, julgar não é tarefa fácil. Como Conselheira do Cremeb – Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia – durante o período de 15 anos, fiquei imersa em profun-das reflexões no momento de apresentar meu voto, sempre procurando conservar a calma, a serenidade e a racionalidade, no sentido de acertar e fazer justiça.

A SENHORA VIU A MATÉRIA NO FANTÁSTICO SOBRE A DENÚNCIA DE ÓRTESE E PRÓTESE? PODE CO-MENTAR?Não vi a matéria do Fantástico, mas em rela-ção às órteses e próteses, a discussão ocorre em terreno pantanoso e complexo. Há opini-ões distintas. Se por um lado o avanço da tec-nologia trouxe artefatos admiráveis, capazes de minimizar o sofrimento humano, por outro o sistema vigente alinhado com a produção e com os interesses econômicos é capaz de fazer mau uso dos inventos. Nessa seara, é imperiosa a escolha ética. Temos que clamar pelo bom senso, não pelo senso comum ou o comportamento reproduzido, mas pela ética das ações. É importante e necessária a ava-liação da indicação diagnóstica e terapêutica.

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Nedy Neves, médica e professora de Ética Médica da EBMSP: a falta de valores do momento atual se reflete diretamente na escolha dos representantes da nação.

Diagnóstico | jan/fev/mar 201696

ALTERAR O MODELO DE PAGAMENTO DOS PRESTADORES DE SERVIÇO

Mudando o modelo de pagamento com base em atendimento para pagamento por serviço com sucesso/resolução do problema ou fazendo um mix entre os dois modelos. Hoje em dia, o prestador é pago por atendimento. Através do plano de saúde, o paciente vai no médico ou na fisioterapia e são atendidas quatro pessoas em uma hora, pois é pago por atendimento. Se passar a remunerar isso pelo êxito ou pelo mix entre êxito e atendimento, certamente esse atendi-mento vai ter uma quantidade menor e melhor. Com isto, melhora a resolutividade como reduz custos. É uma operação que agrega valor para toda a cadeia, para o paciente, para o médico e para a operadora.

MONTAR A SOLUÇÃO EM FUNÇÃO DO USUÁRIO OU PACIENTE E NÃO FOCAR APE-NAS NOS RECURSOS DISPONÍVEIS.

Atualmente as soluções dos problemas são oferecidas de forma isolada e com foco apenas nos recursos disponíveis, quando, na ver-dade, deveriam ser de forma integrada, sempre com foco no pacien-te. Por exemplo, quando você vai no médico com dor de cabeça. O médico diz que a causa é um problema de visão e encaminha para um oculista. Você escolhe um oculista, marca a consulta e o oculista analisa e fala que o problema é na retina. Então você vai para um especialista de retina. O especialista de retina diz que você precisa de uma cirurgia, então você tem que procurar um cirurgião. É necessá-rio focar nos recursos disponíveis. Se você efetivamente no primeiro atendimento já consegue encaminhar diretamente, o resultado vai ser mais rápido, melhor e menos custoso, com uma percepção de valor muito maior.

BUSCAR O EQUILÍBRIO ENTRE PESSOAS, TECNOLOGIAS E PROCESSOS.

A partir do diagnóstico correto da necessidade, a solução deve ser oferecida por meio do balanceamento entre pessoas (competên-cias), tecnologias e processos. Se for algo simples como, por exem-plo, alguém que quebrou um dedo. É um atendimento relativamente simples, baseado em protocolo de atendimento. A pessoa tem que fazer uma radiografia e engessa o dedo a partir do diagnóstico do médico, é algo bem processual. Nesse caso tem mais processo do que tecnologia. Num segundo caso, você precisa de um diagnóstico mais profundo, vai fazer um exame de imagem tridimensional, algo que requer mais tecnologia. Existe um técnico que opera a máqui-

Todos os indicadores levam o Brasil a procurar soluções para o cenário de crise que atravessa e que deverá se agravar. Os diversos setores buscam otimizar recursos e diminuir despe-sas, criar novos modelos de gestão e equili-brar a contabilidade para encarar a tempesta-de econômica brasileira.

As instituições de saúde tentam se organizar e procuram quem as possa auxiliar. Antônio Carlos Kronemberger, Diretor Acadêmico e de Soluções Corporativas e EAD do Grupo Ibmec, é é co-autor do livro “Marketing em Organizações de Saúde” e dá seis dicas para conseguir driblar a crise numa área responsável por quase 10% do PIB nacional. O setor de saúde no Brasil registra uma inflação anual de 18%, o que traduz uma considerável falha entre custos e preços. Exigem-se soluções, são necessárias para não cair no buraco da crise que parece querer engolir a economia brasileira e levar a saúde e suas instituições junto.

Numa lista de importantes dicas, a luz ao fundo do túnel pode ser surgir através de aprimorar a alocação de recursos humanos ou dotar de mais eficácia o tipo de serviços prestados serão preciosas ajudas na hora de superar os desafios que se avizinham.

OLHAR COM MUITA ATENÇÃO O SISTEMA DE CUSTEIO E ENTENDER CORRETAMENTE O NEGÓCIO

O objetivo é fim de reduzir o gap entre custos que aumentam mais do que os preços, destruindo valor (a inflação médica este ano está em 18%). O que acontece é que os custos aumentaram muito, em função, em grande parte, da tecnologia ser “dolarizada” e o mer-cado não consegue absorver esse aumento de custos nos preços. É necessário olhar para dentro e ver de que maneira pode se trabalhar esses custos para reduzir esse gap.

A administração da farmácia, chamada farmácia central, que normalmente tem diversos remédios escolhidos por cada médico, deverá ter um número reduzido de remédios de diferentes marcas de um determinado princípio ativo. Dessa forma o hospital tem maior capacidade de negociação junto do fornecedor, tanto para remédios como para insumos, pedindo maior número de um determinado pro-duto de certa marca.

A dose única é um outro exemplo. Por meio de tecnologia, con-segue fazer com que a enfermeira vá uma vez só por dia no aparta-mento ou quarto do paciente e coloque lá todos os medicamentos daquele dia, com o respectivo horário.

BOASPRÁTICAS DICAS PARA DRIBLAR A CRISE6

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FilipE sousa

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Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 97

na, estamos falando de um aparelho que custa centenas de milhares de dólares, operada por uma pessoa com um salário de 2 mil reais. Agora, se você vai para uma cirurgia de alta complexidade, é muito mais na competência da equipe médica do que em tecnologia ou processos. É preciso fazer uma seleção, decidir o que é mais focado em tecnologia, o que necessita mais de processos ou o que requer mais competências.

SEGMENTAR O TIPO DE ATENDIMENTO.

Esta dica complementa a anterior. O atendimento deve ser seg-mentado com base no usuário, baixa, média ou alta complexidade, por especialidade ou por outro critério que faça sentido e seja relevante. Se você faz o levantamento do tipo de atendimento, isso permite selecio-nar naturalmente o tipo de assistência, criar uma otimização e direcio-nar de forma eficaz o paciente, poupando tempo e recursos.

6 FOCAR MAIS NA PREVENÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE DO QUE NOS TRATAMENTOS.

Partindo do velho ditado “é melhor prevenir do que remediar”, sai muito mais barato acompanhar o paciente que sofre de pressão alta, estimular para que faça exercício e tenham uma alimentação re-grada, do que depois suportar o internamento. Apostar na educação das pessoas para que sigam um estilo de vida saudável e dessa forma não necessitem, por exemplo, de internamento. Olhando para o caso da AMIL, ela percebeu que 5% dos seus segurados correspondia a 35% dos seus custos. Esses 5% correspondiam a doenças crônicas, diabetes, hipertensos, que necessitam ir regularmente ao hospital e requerem tratamentos constantes, então, ela criou um produto que corresponde a um atendimento diferenciado, na sua rede própria e tem uma abordagem preventiva. Essa solução representa uma redu-ção importante nos seus custos.

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Direção de Arte

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.UMA REVISTA DE OPINIÃO.Para quem tem Opinião.

Em nosso hospital, os pro�ssionais não são pagos baseados no número de cirurgias. Eles fazem o que é o melhor para o paciente, não o que é melhor para suas contas bancárias.

Don Sinko, executivo de compliance da Cleveland Clinic (Diagnóstico – edição 26).

O Parlamento brasileiro funciona como uma fábrica em linha de produção, que faz do deputado um mero agenciador do município.

Deputado Darcísio Perondi, presidente da Frente Parlamentar da Saúde (Diagnóstico – 20).

Um terço dos médicos americanos continuam trabalhando porque essa é a sua vocação; outro terço por causa do dinheiro e o restante quer abandonar a carreira porque está cansado de ver colegas prescreverem procedimentos desnecessários.

Rosemary Gibson, autora de Treatement Trap – A Armadilha do Tratamento (Diagnóstico – 18).

Basta citar o exemplo de Pero Vaz de Caminha que, ao escrever a primeira carta ao rei D. Manoel I, narrando as belezas da ‘terra brasilis’, aproveitou para pedir emprego a um familiar. Foi o primeiro registro de nepotismo no Brasil.

Sergio Mindlin, Presidente do Conselho Deliberativo no UniEthos, ao falar sobre a origem da corrupção no Brasil (Diagnóstico – 24).

O Einstein quer o melhor para o paciente. E não para a fábrica de Implantes.

Claudio Lottenberg presidente do Einstein, ao comentar sobre o esquema de corrupção no comércio de órtese e prótese no Brasil (Diagnóstico – 20).

Dois. Pela educação dele.

Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica Brasileira, ao ser questionado sobre que nota daria ao então ministro da saúde, Alexandre Padilha (Diagnóstico – 22).

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 99

.UMA REVISTA DE OPINIÃO.Para quem tem Opinião.

Em nosso hospital, os pro�ssionais não são pagos baseados no número de cirurgias. Eles fazem o que é o melhor para o paciente, não o que é melhor para suas contas bancárias.

Don Sinko, executivo de compliance da Cleveland Clinic (Diagnóstico – edição 26).

O Parlamento brasileiro funciona como uma fábrica em linha de produção, que faz do deputado um mero agenciador do município.

Deputado Darcísio Perondi, presidente da Frente Parlamentar da Saúde (Diagnóstico – 20).

Um terço dos médicos americanos continuam trabalhando porque essa é a sua vocação; outro terço por causa do dinheiro e o restante quer abandonar a carreira porque está cansado de ver colegas prescreverem procedimentos desnecessários.

Rosemary Gibson, autora de Treatement Trap – A Armadilha do Tratamento (Diagnóstico – 18).

Basta citar o exemplo de Pero Vaz de Caminha que, ao escrever a primeira carta ao rei D. Manoel I, narrando as belezas da ‘terra brasilis’, aproveitou para pedir emprego a um familiar. Foi o primeiro registro de nepotismo no Brasil.

Sergio Mindlin, Presidente do Conselho Deliberativo no UniEthos, ao falar sobre a origem da corrupção no Brasil (Diagnóstico – 24).

O Einstein quer o melhor para o paciente. E não para a fábrica de Implantes.

Claudio Lottenberg presidente do Einstein, ao comentar sobre o esquema de corrupção no comércio de órtese e prótese no Brasil (Diagnóstico – 20).

Dois. Pela educação dele.

Florentino Cardoso, presidente da Associação Médica Brasileira, ao ser questionado sobre que nota daria ao então ministro da saúde, Alexandre Padilha (Diagnóstico – 22).

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FilipE sousa

2016 O ANO ZERO PARA A SAÚDEA crise brasileira avisou que ia chegar em 2013, mas só se instalou em 2015. Comércio e imobiliário foram dois dos setores mais afetados. A Saúde, pela sua demanda constante, não sofreu o mesmo tipo de sequela. E 2016? Como será?

ANÁLISEBALANÇO E PREVISÕES

“o graNde desafio das orgaNizações será o quão preparadas elas estarão para eNfreNtar a pressão sobre custos em toda a cadeia da saúde, para ofertar uma proposição de valor adequada para o quaNto os seus clieNtes estão preparados a pagar, Num coNtexto de crise”, eliaNe KiHara (pwc)

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Diagnóstico | jan/fev/mar 2016 101

No ano de 2013 já se falava na crise que estava chegando; em 2014, o pior estava por vir, mas o Brasil foi sacudindo como podia, evitando que

as previsões do ano anterior se confirmas-sem. Mas, em 2015, não teve mais volta. A crise bateu à porta e decidiu ficar. 2015 foi também o ano da aprovação da lei que permite investimento estrangeiro no setor da saúde. Interessados não faltam. O dólar em alta favorece fusões e aquisições, mas também levanta ressalvas, pois tem impac-to negativo na hora de importar insumos, dispositivos e tecnologia, tudo mais caro e diminuindo o lucro. A falta de acreditação e o nível de maturidade reduzido da gestão das instituições também deixam o capital estrangeiro hesitante.

O sistema de saúde brasileiro continua com falta de médicos e de leitos, a popu-lação segue envelhecendo, aumentando o número de pacientes crônicos, prosseguem velhos problemas, a luta entre privado, pú-blico e suplementar, o “nós” contra “eles” coloca a nu lacunas de gestão e atrasa o Brasil na corrida pelo melhor modelo de saúde possível.

E 2016 tem tudo para ser um ano de mudança, o ano zero de adoção de novos modelos, tecnologias e mentalidades. Será um ano em que muitos poderão sofrer as consequências darwinianas da sobrevivên-cia dos mais fortes e preparados, mas será também o ano em que se poderão vencer desafios e afinar estratégias que melhorem a gestão das instituições.

As consultorias são uma ajuda preciosa em horas de dificuldade; rara é a instituição que não recorre a esse auxílio especializa-do. Seguindo essa lógica, a Diagnóstico fez o mesmo e quis avaliar 2015 e projetar 2016 junto com algumas das consultorias de topo mundiais.

A Inflação médica é um parâmetro de elevada relevância destacado por Ernst & Young (EY) e PricewaterhouseCoopers (PwC). Para Eliane Kihara, sócia-líder da consultoria da PwC na área de health, “em março de 2015, ocorreu o maior índice de inflação médica já registrado desde 2007, de 18,24%”, explica, recorrendo a dados do IESS. É possível perceber que o setor está aberto a discussões para analisar ma-neiras de reverter a situação. Novos mo-delos de remuneração estão sendo anali-

sados. Sistemas de saúde do mundo todo já tiveram que lidar com a alta inflação do setor, portanto experiências internacionais, como o uso do DRG (metodologia Diag-nosis Related Group), têm sido considera-das. O aumento dos custos médico-hospi-talares poderá ser contido quando houver um compartilhamento de riscos entre pa-gadores e prestadores de saúde, pois, no atual modelo, quem demanda os recursos (prestadores) não é quem paga por eles (operadoras).

A diretora de consultoria para o setor de saúde da Ernst & Young, Adriana Gas-parian, diz que o ano não foi fácil para todos os setores da economia, incluindo a saúde. “O custo do setor está insustentá-vel, ele está numa linha de tendência, que é uma linha de crescimento, decorrente de uma inflação médica alta, muito aci-ma da inflação normal, decorrente não do aumento de honorários, mas de todos os custos assistenciais. Há um descolamen-to da inflação habitual que afeta todos os players do mercado, sejam prestadores, pagadores, todos os setores”, sustenta a diretora da EY.

Observamos também uma grande mo-vimentação das empresas. Com o aumento do custo médico, o benefício do colabo-rador, o do plano de saúde, está ficando insustentável nas empresas, portanto, isso está tendo um impacto grande nas empre-sas. Antes a gente falava de players e pro-viders, mas hoje em dia a maioria das em-presas está muito envolvida nessa cadeia e, por isso, elas estão revendo o modelo de oferecer esse benefício de saúde.

Há o aumento de custo devido ao en-velhecimento da população. Temos uma população mais idosa, invertendo a pirâ-mide. A população mais idosa tem doenças crônicas, fica doente com mais frequência, com coisas mais complexas. Isso impacta no custo médico. A receita das operadoras é muito menor, mesmo os hospitais de ex-celência estão tentando manter a qualida-de com um custo menor, mais controlado. Resumindo, os custos referentes à saúde aumentaram bastante, tornando o ambien-te bastante desafiador para todos os envol-vidos, incluindo aí as empresas dentro da cadeia.

Já Enrico de Vettori, sócio-líder da De-loitte na área de life sciences e healthcare, divide a análise pela área de life sciences, que engloba indústria farmacêutica, dis-positivos médico-hospitalares, medicina

diagnóstica e materiais de consumo, e de healthcare, relativa a médicos e presta-dores. De acordo com Vettori, “o grande ponto de 2015 é a questão das demissões, na medida em que, sendo 80% dos planos coletivos, foi registrada uma demissão na ordem de 100 pessoas por mês. Conside-rando colaboradores e família, o impacto global no setor é maior. Em segundo lugar, olhando para o plano de saúde dos funcio-nários, vemos um movimento importante, algo que até há três ou quatro anos não era alvo de cortes ou retenções ou reduções, passa a ter políticas muito fortes, quer na coparticipação, quer na migração para planos de uma categoria maior para uma categoria menor. Houve uma mudança de comportamento que era regra, pelo menos no que era normal em termos de despesas das empresas com saúde.

Ainda assim, nem tudo é negativo. Vettori refere a legislação que passou a ad-mitir investimento estrangeiro no setor de saúde e as consequências que daí advêm. O capital não chega sozinho, ele traz conhe-cimento, experiência, exigências, como o próprio desenvolve: “Já existem vários negócios em curso. Isso vai energizar, vai ajudar o setor, com uma priorização do in-vestimento em detrimento de outros seto-res, passando a ser uma opção no meio de outras escolhas de investimentos setoriais. Diante disso, iremos ver uma consolidação de um setor que ainda é fragmentado, divi-dido entre indústrias, distribuição, presta-dores, operadoras. Esse investimento vem mas traz com ele uma gama de outras em-presas, da área de tecnologia, de serviços, outras abordagens, como wellness, não é puramente capital e investidor. A reboque vêm mais benefícios, mas esses são dois grandes vetores, novas tendências, que, sem dúvida, vão ajudar a mexer com a or-

“Quem acreditar que 2016 é um ano que já está perdido deve fazer as malas e ir embora do Brasil”

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016102

dem natural do setor”. Mas 2015 merece uma outra aborda-

gem por parte de Cintia Soares, gerente da KPMG, que define como um ano de mui-to mais discussões e abertura de questões. Para a gerente da KPMG, a participação de capital estrangeiro no setor levou as em-presas, tanto hospitais quanto as demais fornecedoras de serviço em saúde, a dis-cutir o impacto e as mudanças nas institui-ções que podem surgir desta oportunidade. “Sobretudo no sentido de definir o momen-to de negociar com um fundo estrangeiro ou reavaliar o modelo de governança”, diz, deixando o aviso para não se esperar algo a curto prazo: “São alterações que benefi-ciam o setor, não agora, mas daqui a dois ou três anos”.

Saúde: Igual ou diferente dos outros setores?

Especialistas consideram o setor de saúde como um dos que menos sofrem os impactos da crise. A abertura para capital estrangeiro e a desvalorização do real tra-zem boas perspectivas para o setor na área de aquisições. Porém, avisa Eliane Kiha-ra, isso não significa que esteja totalmen-te protegido. Para a responsável da PwC, “a saúde suplementar, por exemplo, pode sofrer o impacto da crise atual, pois seu crescimento esteve nos últimos anos dire-tamente relacionado ao nível de emprego no país. Com o aumento do desemprego, espera-se diminuição no número de benefi-ciários. Se fizermos uma avaliação retroa-tiva desde junho/2011, março de 2015 foi a primeira vez em que houve diminuição da carteira de beneficiários das operadoras”.

O setor público também sofreu im-pacto. Foi anunciado em julho um corte orçamentário de aproximadamente R$ 12 bilhões. O subfinanciamento da saúde pú-blica afeta o setor como um todo, já que a maioria dos hospitais do país presta ser-viços ao SUS. O governo também possui bastante representatividade nas compras de medicamentos, podendo afetar também o setor farmacêutico. Além de, claro, afetar principalmente a população, que terá de li-dar com filas de espera mais longas e falta de atendimento.

Vettori indica o exemplo do setor da agricultura brasileira, que descolou bem da crise. Por outro lado, o setor da saúde já está tendo transformações e vai ter uma depuração no sentido de ficarem os maio-res, os mais competentes, os mais resilien-

tes, aqueles que olham mais para o longo prazo, que de fato valorizam a qualidade e que têm melhor gestão e governança. O se-tor foi impulsionado de modo a que agora passa a ter a necessidade de uma requalifi-cação e readequação, de uma atualização, principalmente nos aspectos de gestão, go-vernança, de estrutura, de capital, de ges-tão financeira do fluxo de caixa. O setor está sendo impactado por tantas variáveis, entre as quais o aparecimento de novos atores, que vieram para a área de saúde, e a vinda desses novos atores veio aumentar o nível de exigência. Em life sciences, o im-pacto do dólar foi muito forte. De acordo com o responsável da Deloitte, é preciso notar que “em materiais médicos, genéri-cos e outros insumos, o problema não é o dólar alto ou baixo, é o dólar instável. Isso atrapalha muito o fechamento de câmbio de negócios. E tem ainda a questão regu-latória de uma Anvisa que precisa se rein-ventar, na medida em que é necessário per-mitir o acesso a novas tecnologias e uma agência reguladora que não esteja com esse foco não dá à população local acesso aos melhores tratamentos possíveis”.

Transformações, mudanças, movimen-tações. As consultoras parecem estar de acordo e Cintia Soares menciona isso mes-mo, falando de um setor de saúde “carac-terizado predominantemente em relação a mudanças e movimentações, apostando na redução de custos e melhoria da eficiência operacional”. Embora seja semelhante aos outros setores, para a KPMG não é algo comparativo, uma vez que a saúde tem um nível menor de maturidade em termos de gestão profissional e aplicação de es-tratégias. Tem havido movimentações de parcerias entre players em relação à gover-nança, está sendo discutido como otimizar esse mercado misto, ou seja, como as insti-tuições podem atender os planos de saúde privados e suplementares, também ques-tões sobre remuneração e empoderamento das lideranças, ou nas palavras de Cintia Soares: “Tudo atrás dos restantes setores”.

Eficiência. Essa é a chave que permi-te abrir a porta de saída da crise, segun-do Kihara. As organizações devem tomar ações de investimentos para buscar efi-ciência operacional, através de melhoria de gestão e tecnologia. O momento é difícil para se tomar decisões sobre in-vestimentos, porém, quanto mais tempo as organizações esperarem, menor capa-cidade de reação elas terão para ser mais

competitivas num cenário de crise que parece que se manterá por um tempo. O investimento estrangeiro é, para a PwC, precioso, principalmente devido à des-valorização do real. As empresas estran-geiras percebem o país como fonte de oportunidades, e é uma fonte de capital importante para permitir os investimen-tos necessários para a modernização da gestão.

Já Gasparian acredita que o Brasil sai da crise sem o investimento estrangeiro: “Não é essencial. Precisamos buscar re-lações saudáveis, isso sim. Aliás, o ca-pital estrangeiro é saudável na medida em que ele não se torne essencialmente especulativo, que nem nos outros se-tores. Estamos mexendo com um bem essencial à população. Deve haver uma monitorização dos órgãos competentes e lapidando a lei”. Mas essa abertura aos investidores estrangeiros pode ter uma influência muito positiva. “Como esse capital está vindo de países com uma efi-ciência de processos maior que a nossa, pode ser muito útil na busca e constru-ção desse modelo de relação mais saudá-vel entre os prestadores e os pagadores. Até porque os investidores não colocam

ANÁLISEBALANÇO E PREVISÕES

“O capital [estrangeiro]não chega sozinho, ele traz conhecimento, experiência, exigências. Isso vai energizar, vai ajudar o setor, com uma priorização do investimento em detrimento de outros setores”

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o capital em algo ruim, o objetivo não é ajudar o Brasil num momento difícil. O Brasil deve aproveitar a chance des-sa entrada de empresas estrangeiras para aprender com essas empresas mais evo-luídas”, sustenta a diretora da EY, não sem relembrar as particularidades do Brasil: “É necessário tropicalizar a efi-ciência dessas empresas, não é possível pegar e aplicar uma cultura, isso não vai dar certo. É preciso considerar o cenário brasileiro, o modelo de saúde e a cultura do Brasil”.

Adriana Gasparian recomenda que o Brasil encontre um modelo de relaciona-mento novo para a cadeira da saúde. Ela descreve o modelo de saúde como sendo essencialmente paternalista e reativo: “Eu trato a doença, espero o paciente estar doente para tomar alguma atitude. O novo modelo é proativo, atua na pre-venção das doenças, ou seja, existe um historial do paciente desde a infância, acompanhando e fazendo um trabalho de prevenção. Outra diferença é o papel do paciente, ele tem que ser mais enga-jado e mais responsável pela sua saúde. O paciente atual tem uma postura muito passiva sobre a sua saúde”. O novo mo-delo, além da cultura da relação médico e paciente, deve instituir uma a relação

Direção de Arte

“A crise pode trazer oportunidades, aqueles que estão menos maduros e confiam no amadorismo, na sorte ou empirismo podem sofrer mais, mas os que estão preparados vão superar”

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ANÁLISEBALANÇO E PREVISÕES

diferente entre operadoras e hospitais: “Hoje estão em lados opostos e eles de-vem caminhar para a colaboração entre ambos, a troca de informação saudável. Não é necessário interferir na ação um do outro, mas eles têm algo em comum: o paciente”. Nos modelos mais maduros, essa troca de informações existe e só be-neficia o próprio sistema como um todo, tornando os custos mais sustentáveis.

KPGM e EY concordam na análise do impacto do financiamento estrangei-ro. A questão da lei, para que possa ser aproveitada, implica que as empresas es-tejam preparadas e para isso elas preci-sam elevar minimamente o seu patamar de gestão. “A salvação não é o financia-mento, as instituições devem seguir um caminho de reestruturação, governança com relação à gestão financeira, traba-lhar modelos de colaboração. Cada vez mais deve haver aproximação de grupos e empresas em prol de um único tema, como por exemplo, desenvolvimento de fornecedores, compartilhar com a in-dústria a custificação e remuneração de consumo de materiais e medicamentos”, refere Cintia Soares. No final do dia, o que dita quanto vai custar a saúde é o consumo de materiais e medicamentos, não dá para sustentar a indústria sem fa-zer mudanças no sistema. Para a KPMG o mais importante será instituir um mo-delo colaborativo.

No meio das diversas soluções apon-tadas para escapar das teias da crise, a tecnologia tem sido uma das mais refe-ridas. A adoção de tecnologias de infor-mação (TI) só por si nada garante, como explica Cláudio Giulliano Alves da Cos-ta, diretor-presidente da Folks. Aliás, quando mal utilizadas, essas ferramentas podem ter um efeito nefasto. Existem quatro benefícios básicos da adoção de TI: qualidade assistencial, segurança do paciente, eficiência operacional e redu-ção de custos. Esses dois últimos é que permitem que o hospital tenha um re-torno financeiro melhor, por exemplo, tornando mais rápidas tarefas que consu-miam largos minutos ou horas, ganhan-do também eficiência e produtividade. A redução e controle dos custos é consequ-ência do controle total da cadeia, todas as informações estão no sistema. Isso são resultados que, por vezes mais, por vezes menos mensurados, já acontecem e estão documentados. No entanto, para Cláudio

estão em diferentes estágios. Tomando o exemplo do Equador, que tem um mode-lo de saúde diferente do brasileiro, que não é universal, a população que não tem emprego formal, com baixas condi-ções socioeconômicas, não tem direito a assistência de saúde pública. Eles estão num estágio anterior ao Brasil. Gaspa-rian acredita numa diversidade que as-senta num plano comum, que se estende a uma escala planetária: “Cada um tem seu perfil, mas todos eles se encontram numa fase de controle de custos, não apenas na América Latina, mas também os países mais desenvolvidos e mesmo os que são inteiramente custeados pelo governo, com planos de saúde univer-sais”.

“O Brasil pode aprender com os seus vizinhos, tem algumas instituições que são referência na América Latina, mas não temos o melhor modelo de gestão em saúde da América Latina”. As pa-lavras são de Cintia Soares, que remete para a reforma feita na saúde da Colôm-bia, “principalmente dos modelos opera-cionais, que é onde o Brasil deve mudar,

“Operadoras e hospitais hoje estão em lados opostos e devem caminhar para a colaboração entre ambos, a troca de informação saudável. Não é necessário interferir na ação um do outro, mas eles têm algo em comum: o paciente”

Giulliano, 2016 pode ser cedo demais: “Nem sempre quando se investe em tecnologia os retornos vêm no primeiro ano ou no segundo. Em tempos de crise, qualquer ferramenta tecnológica que au-mente a eficiência operacional e controle ou reduza os custos é essencial para so-breviver a esse período turbulento. Pode ser que o retorno desse investimento não aconteça em apenas um ano”. Isso não significa que não existam instituições com resultados no imediato, basta que tenham se antecipado na adoção dessa tecnologia. Os hospitais que plantaram isso ao longo dos últimos três ou quatro anos vão colher os frutos agora em 2016.

América LatinaO universo da América Latina, no

que diz respeito à saúde, é altamente heterogêneo e exibe uma diversidade de estágios de desenvolvimento e maturi-dade, dependendo do país que analisa-mos. O Brasil deverá seguir modelos de sucesso de seus vizinhos e deverá servir como referência para outros.

Enrico de Vettori não tem dúvidas em afirmar que o setor de saúde brasilei-ro segue o modelo americano. “O Brasil tem um mercado privado mais pujante que a maioria da América Latina, mas alguns mercados deram soluções mais inteligentes do que o Brasil, começam a existir mais soluções na rede primária, mais integrada, em alguns casos não só com o próprio médico mas com a distri-buição de medicamentos”, afirma Vetto-ri, ilustrando com o caso da Fundação Carlos Slim, que começa a trazer a rede de atenção primária no metrô do México, e com o caso da Colômbia, onde já exis-te wellness de prevenção com um for-te ataque às indústrias de alimentação, por causa do açúcar e refrigerantes para crianças. “É um movimento global na América do Sul que busca uma melhor atenção primária. O mercado brasileiro é mais descolado e está mais próximo do que era o mercado norte-americano há uma década ou duas”, conclui.

Já Adriana Gasparian documenta sua visão com sua experiência no Equador. Dentro da América Latina, o Brasil tem o maior valor do PIB envolvido com saúde – 10% - mas está muito aquém dos países desenvolvidos. Existem rea-lidades muito distintas na América La-tina, até por existirem outros países que

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onde devem ser feitos alguns tipos de reformas ou no mínimo uma aproxima-ção do órgão regulador, a ANS, com o Ministério de Saúde, criando mais si-nergias entre os dois modelos de saúde existentes.”

A gerente da KPMG segue para a mesma localização e indica o Equador, país que está tomando o Brasil como modelo de elaboração de processos mais eficientes, de otimização e redução de custos e de atendimento a uma parce-la maior da população, dizendo que “o Equador tem deficiências semelhantes, faltam veículos, faltam médicos, faltam enfermeiras, mas o Brasil tem uma ma-turidade maior”.

Brasil não é uma nova Grécia ou uma

nova ArgentinaNão serão as vozes mais ouvidas,

mas a verdade é que há quem compare o Brasil com a Argentina. Outros dizem que o Brasil é uma repetição da recente situação da Grécia. Os mais pessimistas recuam mesmo até a crise de 2001 na Terra da Prata. Enrico Vettori assegura que “existe uma diferença brutal de uma Argentina ou até mesmo de uma Grécia. O que nós temos é uma crise política que está se abatendo fortemente, interesses pessoais que estão atrapalhando os nos-sos avanços fiscais, mas iremos avan-çar até porque esses interesses irão ser compatibilizados de uma maneira ou de outra, caso a classe política não tenha a dignidade, a decência ou a presteza de o fazer, o mercado já está fazendo”. O líder da Deloitte prossegue explicando que não é um caso de dominância fiscal, ou seja, quando o Banco Central perde totalmente a capacidade de política mo-netária”. Por outro lado, ele acredita que chegou ao fim aquilo que designa como “ciclo do populismo e inconsequência”. O momento agora é de arrumação, de as empresas olharem para dentro, para fa-zer uma reflexão de gestão e modelo de negócio. A crise pode trazer oportunida-des, aqueles que estão menos maduros e confiam no amadorismo, na sorte ou empirismo podem sofrer mais, mas os que estão preparados vão superar. Aliás, ele faz questão de deixar um elogio: “O DNA do empresariado brasileiro resiste bem a isso”.

Para a KPGM, na voz de Cintia So-ares, a única comparação que deve ser

feita é no sentido de seguir o exemplo da Argentina sob o ponto de vista de as-sumir uma postura colaborativa da saú-de com a indústria de fármacos, mas só nesse sentido. Transitar de um modelo individualista para modelos colaborati-vos em parceria com a indústria. Eliane Kihara concorda que apenas faz sentido comparar as duas realidades em apenas um detalhe: “As famílias argentinas op-taram por trocar seus planos de saúde por outros mais em conta. Nessa linha, acredito que este movimento pode ocor-rer aqui, vis-à-vis o impacto de custo de saúde no orçamento familiar bem como as famílias irão procurar opções mais em conta de medicamentos também, ala-vancando o mercado de genéricos”.

Projeções para 2016O ano de 2016 não será um ano de

crescimento para o setor de saúde bra-sileiro. Cintia Soares prevê que seja um ano – talvez o primeiro grande ano – em que existirá uma mobilização em massa para reestruturar e, aí sim, alcançar a es-tabilidade para fazer face às dificuldades

econômicas. O motor dessa mobilização será o setor privado: “Não teremos mu-dança nenhuma no sistema público, por isso essa mobilização terá que vir do se-tor privado”.

“As perspectivas são muito mais posi-tivas, que a maioria dos demais setores da economia”, nas palavras de Eliane Kiha-ra. A demanda por serviços de saúde se manterá ou aumentará, vis-à-vis aos refle-xos do envelhecimento da nossa popula-ção. “O grande desafio das organizações será o quão preparadas elas estarão para enfrentar a pressão sobre custos em toda a cadeia da saúde, para ofertar uma pro-posição de valor adequada para o quanto os seus clientes estão preparados a pagar, num contexto de crise”, sustenta Kihara.

Segundo Enrico de Vettori, 2016 vai ser um ano muito difícil, os índices eco-nômicos não são favoráveis, mas o mer-cado já passou por uma primeira perda do grau de investimento e está preparado para precificar uma segunda. “Não é um cenário econômico ou político positivo, mas é o final de ciclo democrático e esse final é o lado positivo. Houve um bom aproveitamento da liquidez gerada e da caixa existente, mas acabou”, explica, lançando seu vaticínio: “2016 vai ser um ano melhor que 2015 e vai ser bom para as empresas e empresários, primei-ro porque vai ter muitas oportunidades, segundo porque vai fazer com que mer-gulhem nessas empresas e vão sair mais fortalecidos”.

Adriana Gasparian é mais contun-dente e repele o pessimismo: “Quem acreditar que 2016 é um ano que já está perdido deve fazer as malas e ir embora do Brasil”. Gasparian define 2016 não como um ano perdido ou difícil, mas como mais desafiador. Vai exigir ser mais criativo, mais colaborativo e mais participativo. Pensando nisso, a saúde brasileira e os players da cadeia da saúde têm que se voltar para um modelo parti-cipativo, colaborativo e engajador, que envolva paciente, médico e governança. “A saúde não pode dar o ano como per-dido, isso significaria que muita gente morreria”, palavras fortes, seguidas de uma mensagem final de otimismo: “Os grandes players de saúde são afetados pela situação econômica, as empresas que contratam planos de saúde são afe-tadas, mas o Brasil e a saúde brasileira têm chance”.

“Existe uma diferença brutal do Brasil para uma Argentina ou até mesmo uma Grécia. O que nós temos é uma crise política que está se abatendo fortemente, interesses pessoais que estão atrapalhando os nossos avanços fiscais”

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Eduardo Najjar é expert brasileiro em family business, consultor e palestran-te associado da Empreenda, coordenador do GrandTour Family Business International, professor na ESPM e, além da Diagnóstico, é colunista do Blog do Management (Exame.com).

Relação entre irmãosNa maior parte das famílias, irmãos competem por inúmeros as-

pectos na vida, iniciando pela competição pelo carinho dos pais. No caso de muitos negócios familiares com os quais trabalhei, o motivo da competição deu-se pelo controle dos bens familiares e/ou por ocu-par cargos que ofereçam maior poder hierárquico.

Por outro lado, quando irmãos constroem relações de confiança e boa comunicação, formam equipes de alto desempenho que podem ser mantidas por toda a vida, agregando valor aos negócios da família.

Relação fundador-agregadosOs agregados, nas famílias empresárias (genros, noras, e outros)

fazem parte do folclore dos negócios familiares. Figuras controversas, existem inúmeras passagens que pontificam o quanto podem apoiar – ou não – o desempenho dos negócios da família.

Colocando-me no papel de um agregado, teria dificuldade de saber até que grau eu seria um membro da família e sempre levaria para o travesseiro uma análise sobre minha competência/falta de competên-cia na condução do trabalho na empresa de minha esposa (o poder do pillow talk).

Relação mãe e filhaExistem dois tipos possíveis de associação entre maridos e espo-

sas, nos negócios familiares.O primeiro tipo é do líder empresarial com um cônjuge de apoio. Um dos membros do casal administra o negócio enquanto o outro

oferece apoio (inclusive moral). Nesta opção, o cônjuge de apoio pode inclusive trabalhar em outro negócio.

O segundo tipo possível é o de sócios-empresários. O casal trabalha no negócio; são sócios e administradores da em-

presa. No papel de administradores, pode inclusive ocorrer a situação de que um ocupe um cargo hierárquico de menor grau.

Existem consequências positivas e negativas a respeito deste dese-nho societário, que variam de acordo com a cultura em que a família/a empresa está situada.

Cabe a você, que está lendo este texto, e encontra-se em uma des-sas posições, analisar se as indicações definem alguma situação que ocorre em sua família, em seus negócios, e agir no sentido de construir um ambiente harmonioso entre os membros da família, visando a per-petuação dos negócios, de geração para geração.

ARTIGOEduardo Najjar

Sabe-se, por pesquisas realizadas em vários países da Ásia, Europa, Estados Unidos e América do Sul, que os negócios familiares possuem diferenciais compe-titivos positivos em relação aos resultados econômi-co-financeiros.

Sabe-se também que no mundo dos negócios fa-miliares, grande parte não chegam a ser administra-

dos e fruídos pela terceira geração de familiares, sendo adquiridos ou simplesmente, desaparecendo do mercado.

A principal razão que concorre para essa dificuldade, na maior parte dos casos, são os conflitos familiares que se instalam ao longo do tempo no negócio, por diversas causas: doença ou perda do fun-dador, falhas na comunicação entre familiares, aumento do número de familiares que exigem participar do negócio sem que tenham a com-petência necessária, entrada dos chamados agregados - diretamente no negócio - entre outras causas.

Neste artigo será analisado apenas um dos aspecto que pode con-correr para apoiar o sucesso dos negócios familiares, dentro do es-pectro de disciplinas que abrangem a Governança Familiar: relações entre familiares diretos, trabalhando em um mesmo negócio.

Relação pai e filhoÉ a relação mais comum, em volume, que ocorre nos negócios

familiares.A relação profissional é determinada, em grande parte, pela fase de

vida em que cada um se encontra, pela experiência profissional, pelas expectativas de pais e filhos, pela qualidade da relação entre esses fa-miliares tão próximos.

Relação pai e filhaA sensibilidade natural das filhas, geralmente beneficia o fundador

e os negócios da família.

Relação mãe e filhoVia de regra, as relações entre mães e filhos são menos tensas do

que outras relações familiares, no que tange ao negócio. Uma expli-cação possível é a existência de um nível menor de competição entre eles. Geralmente as mães encontram nos filhos – na gestão de negó-cios familiares – apoiadores do trabalho a ser feito e costumam ter mais facilidade para delegar-lhes as responsabilidades pela direção dos negócios.

Relação mãe e filhaÉ uma relação de maior complexidade, nos negócios familiares.

Dentro da disciplina do comportamento humano pode-se verificar que mães e filhas, atuando na gestão dos negócios da família, tendem a repetir -no ambiente profissional - o mesmo padrão utilizado em casa que muitas vezes, com o passar dos anos, e com o amadurecimento das filhas, torna-se uma relação de competição.

Negócios em Família

Grande parte dos negócios familiares não chegam a ser administrados e fruídos pela terceira geração de familiares, sendo adquiridos ou simplesmente, desaparecendo do mercado.

Divulgação

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1 – Foram 80 premiados com os troféus ouro, prata e bronze 2 – Carlos Alberto Figueiredo (Petrobras), Anderson Mendes (Cassi) e Cristina Cardoso (Planserv) receberam os troféus na categoria Operadora de Autogestão

3 – Marcos Domingues (Qualivida), José Espiño e Edmundo Ribeiro (SOS Vida), Leonardo Salgado (Assiste Vida): bronze, ouro e prata na categoria Home Care

4 – Os books do Prêmio Benchmarking Saúde Bahia 2014/2015 foram entregues na festa

5 – José Tomaz do Nascimento (Maternidade Santa Emília), Sebastião Castro (Hospital Samur) e Luiz Pedroza (Hospital Semed), vencedores na categoria Hospital Interior do Estado

6 – Cerimônia de premiação foi realizada no Solar Cunha Guedes (Corredor da Vitória)

7 – Paulo Magnus (MV), André Silveira (Pixeon) e Humberto Guimarães (TOTVS) foram os vencedores em TI

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8 – Na categoria Serviço Financeiro, venceu o Banco do Nordeste, representado pelo gerente geral, José Eduardo Macedo Pinto de Abreu 9 – Fernanda Gonzalez e Delfin Gonzales (Clínica Delfin) e Gileno Portugal (Multimagem), vencedores na categoria Diagnóstico por Imagem

10 – Ruy Cunha, presidente da DayHorc, recebeu o troféu ouro na categoria Serviço de Oftalmologia

11 – Waleska Rochaat (SSantafé) e Sérgio Colavolpe (COT)

12 – Marla Cruz (LEME), troféu ouro na categoria Sustentabilidade

13 – Gildete Lessa (sócia-fundadora do NOB) e Rafael Vita (Cehon), ouro e prata, respectivamente, na categoria Serviço de Oncologia

14 – Estafe da DayHORC: Ouro na categoria Serviço de Oftalmologia e bronze na categoria Hospital Dia

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15 – Lise Weckerle (Santa Casa de Misericórdia da Bahia), troféu ouro em Ação Social 16 – Maurício Bernardino (Labchecap) foi eleito Empresário do Ano

17 – Marcus Machado (IHEF), José Antonio Barbosa (Grupo Meddi) e Eduardo Borges (Gerente do Laboratório Análise), vencedores na categoria Laboratório de Análise Clínicas (Interior do Estado)

18 – O Hospital Maternidade São Judas Tadeu (Fundação José Silveira) recebeu o prêmio especial “Destaque Interiorização da Saúde”

19 – Mauro Adan e a esposa, Luciana Pessoa Adan

20 – Christiane Macedo, da SH Brasil, recebeu o troféu ouro na categoria Benchmarking Brasil

21 – Equipe do Hospital Evangélico: Prata na categoria Hospital Privado (Pequeno e Médio Porte). O troféu foi entregue ao diretor geral da instituição, Rosalvo Coelho

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22 – Alfredo Martini, CEO do Hospital São Rafael, representou a Anahp, vencedora na categoria Benchmarking Brasil 23 – Reinaldo Braga (Grupo Criarmed) e Flávio Cento Sé (Tratar)

24 – Equipe do IBDAH, representada pelo seu presidente José Antônio Sousa (direita)

25 – Marcio Alirio (diretor administrativo do Hospital Cardio Pulmonar), Rosalvo Coelho (diretor do Hospital Evangélico), Fátima Monteiro (gerente administrativa do Hospital Jorge Valente), vencedores na categoria Hospital Privado Pequeno e Médio Porte

26 – Marcelo Zollinger recebeu o prêmio Benchmarking Saúde, na categoria Destaque Gestão, em nome do Hospital da Bahia

27 – Leonardo Salgado (Assiste Vida) e sua esposa, Ila Bahiense: prata na categoria Home Care

28 – Luiz Pascoalin (CSB), ouro na categoria Destaque Assistência Interior do Estado

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29 – Fábio Brinço, superintendente do Itaigara Memorial, recebeu o troféu de Executivo do Ano das mãos de Eduardo Queiroz, superintendente do Hospital Santa Izabel e tricampeão da mesma categoria 30 – Carlos Alberto Ribeiro de Figueiredo (Petrobras), ouro na categoria Operadora de Autogestão.

31 – Secretário de Saúde de Salvador, José Antônio Rodrigues Alves foi eleito o melhor Gestor Público pelos jurados

32 – Tânia Barros (Protécnica), vencedora na categoria Arquitetura Hospitalar, e o mestre de cerimônia Alessandro Timbó

33 – Vencedores na categoria Compliance: Marcello Ceotto (Diretor Administrativo do Hospital São Rafael) e Manoelito Souza (Superintendente do Hospital Santa Izabel)

34 – Membros da Orquestra Ibarra, que se apresentaram durante a premiação

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35 – João Cunha, diretor médico do Hospital Evangélico da Bahia e sua esposa Patricia Meira 36 – Alan Gusmão e Claudia Salestrim (LINDE) e Ricardo Nóbrega (White Martins), ouro e prata na categoria Indústria de Gases Medicinais

37 – Arnon Oliveira Chagas (Tesoureiro da Santa casa de misericórdia de Vitoria da Conquista), Almir Alexandrino do Nascimento (Provedor da Santa casa de Misericórdia de Itabuna) e Sandra Peggy (Administradora da Santa casa de misericórdia de Feira de Santana)

38 – Marilea Souza (Bradesco Saúde), pentacampeã na categoria Seguradora

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RESENHAFUTURO

“The Patient Will See You Now: The Future of Medicine is in Your Hands”. O poder na mão do paciente“Há muito tempo numa galáxia muito muito distante”. Para aguçar a curiosidade em torno do livro de Eric Topol, podemos adaptar esta frase tão usada recentemente para “em breve numa galáxia muito muito próxima”. A realidade que se segue parece ficção e mistura detalhes que achávamos irreais com pormenores que vamos observando usualmente aplicados nos dias que correm.

FilipE sousa

O mais recente livro do cardiologista Eric To-pol, ‘The Patient Will See You Now: The Fu-ture of Medicine is in Your Hands” (“O Pa-ciente vai vê-lo agora:

O Futuro da Medicina Está em Suas Mãos”, em tradução livre), possui um certo sabor ao “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Hu-xley, trazendo toda uma visão futurista do passado, que nos possibilita assistir à concre-tização dos sonhos de décadas anteriores.

Dr. Topol, além de cardiologista, dirige o Scripps Translational Science Institute em La Jolla, Califórnia, é editor-chefe do site Medscape, professor de genômica e funda-dor do primeiro banco genético cardiovascu-lar do mundo na Cleveland Clinic. Seu título no Scripps Institute é, no mínimo, curioso: “Professor de Medicina Inovadora”. Topol anuncia o fim dos dias da medicina a que estamos acostumados e o surgimento de cui-dados rigorosos, digitalmente aperfeiçoados, precisos e rentáveis.

A teoria central do livro anuncia a morte de um sistema assente no médico e depen-dente do médico, de suas decisões, de seus palpites e até do seu conhecimento. Não ha-verá mais a exclusividade dos médicos con-trolando dados médicos, tratamentos ou lu-cros. A ciência e a era digital estão trazendo a verdadeira democracia aos cuidados de saú-de. A humanidade está sendo empoderada, o paciente está sendo elevado no universo da medicina. O tremendo potencial dos smart-

phones leva o autor a assinalar um “Momen-to Gutenberg” da medicina, algo com um impacto tão avassalador e revolucionário na divulgação de informação quanto a invenção da imprensa.

A tecnologia que está ao nosso alcance permite pular de um sistema que, em muitos casos, está preso no século XVIII e avançar para um País das Maravilhas com estetoscó-pios de ultrassom, nanochips ou painéis de sangue realizados em gotas individuais.

Topol prevê o fim das visitas a um con-sultório médico. Adeus esperas humilhantes e intermináveis! Um smartphone equipado com os aplicativos corretos vai facilmente analisar, explicar e transmitir todos os dados fisiológicos relevantes para o médico, geral-mente sem a necessidade de presença física

do paciente. Ficção? Não. Topol usa a sua experiência pessoal-profissional para funda-mentar essa previsão. Ele relata que, duran-te anos, não usou estetoscópio, optando por áudio mais preciso e ferramentas eletrônicas de vídeo.

‘Sayonara’ hospitais anacrônicos. “O quarto de hospital do futuro será o quarto”, diz Topol. A maioria dos CEOs hospitalares acredita que estalou uma bolha hospitalar, com excesso de camas e acentuada sobre-capacidade. O resultado desta tendência será que o quarto do hospital do futuro será o quarto. Hospitais como existem hoje são configurados para falhar e seu futuro fiscal é mais do que desolador.

A casa da pessoa doente será equipada para a ocasião com todos os sensores portá-

ERIC TOPOL: Gutenberg e sua criação promoveram a liberalização do acesso à informação e as novas tecnologias estão aí para democratizar a medicina

Divulgação

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Acredito que vai ser o livro medico de 2015. O Dr. Topol realizou um trabalho fantástico na apresentação do imenso potencial de smartphones e tecnologia na democratização da medicina. O estilo de escrita é acessível a qualquer pessoa. Uma leitura imprescindível para todos quantos se interessam pela saúde.

DAVE CHASE, (FORBES)

“THE PATIENT WILL SEE YOU NOW: THE FUTURE OF MEDICINE IS IN YOUR HANDS”: BASIC BOOKS | 384 PÁGINAS | US$ 15,61 (KINDLE); US$ 17,99 (IMPRESSO) OU US$ 25,95 (AUDIOLIVRO)

Reprodução

teis apropriados, e assim estarão criados ser-viços hospitalares “realizados no conforto da nossa própria casa. Veremos os nossos pró-prios dados em nossos próprios dispositivos. Estaremos no comando.”

O diagnóstico médico será simplificado. Acabará o processo triturador-de-tempo-e--paciência de médicos explicando os seus sintomas com testes e exames intermináveis. Serão substituidos por páginas da web com-pletas de genes sequenciados e todas as for-mas de cálculos de risco biológico e compor-tamental. Assim iremos obter um diagnóstico provável instantaneamente. Topol vai mais longe e escreve que o paciente pode perfei-tamente fazer esse diagnóstico e apresentá-lo ao médico para avaliação, e todas as infor-mações estarão disponíveis gratuitamente.

Palpites e adivinhação deixarão de fazer parte da prescrição de medicamentos. Pa-drões genéticos permitirão distinguir facil-mente as pessoas susceptíveis de se benefi-ciar de uma droga das pessoas susceptíveis de sofrer consequências danosas. A selecção dos medicamentos vai se tornar segura a ponto de, em algumas situações, os pacientes prescreverem para si próprios. A inspiração

“THE PATIENT WILL SEE YOU NOW: THE FUTURE OF MEDICINE IS IN YOUR HANDS” PERSPECTIVA UMA NOVA ERA DE CUIDADOS APERFEIÇOADOS DIGITALMENTE(THE NEW YORK TIMES)

‘huxleyiana’ de Eric Topol fervilha a ponto de acreditar que pequenos sensores eletrôni-cos expedidos na corrente sanguínea ou nos intestinos dos pacientes irão calmamente rastrear dados de saúde em tempo real. São “estetoscópios moleculares” altamente sofis-ticados que, no seu expoente máximo, irão identificar de forma eficiente pequenas molé-culas como mediadores inflamatórios e DNA aberrante que anunciam acontecimentos ruins. ‘Bye bye’, catástrofes como ataques cardíacos, diabetes e até mesmo câncer. To-dos eles serão identificados, atacados e supe-rados bem antes de acontecerem.

O livro é uma boa notícia para os pa-cientes, embora possua algumas áreas mais sombrias para um leigo, com análises es-tatísticas mais complexas e uso pesado de terminologia médica, em particular em ge-nômica. O que é realmente impressionan-te é o volume de conhecimento que Topol reuniu neste livro. Assim como Gutenberg e a sua criação promoveram a liberalização do acesso à informação, acabando com o controle de uma classe de elite, a nova tec-nologia está aí para democratizar a medici-na. A tecnologia vai colocar o laboratório e a UTI em nossos bolsos. Apesar destes benefícios, o caminho a percorrer não será simples. O setor médico vai tentar resistir a essas mudanças e a medicina digital vai levantar questões sérias, como as relativas a privacidade. Mas esse caminho vai levar a um destino com resultados melhores, mais baratos e mais humanos para os cuidados de saúde.

É claro que ler que dispositivos digitais “vão substituir os médicos em muitas tare-fas” não é minimamente agradável para um médico. Um médico sul-africano, lendo as primeiras páginas, disse mesmo que a sua intenção era “lê-lo e rasgá-lo em pedaços”. Não rasgou. É que Topol não afirma que os médicos têm más intenções e que os pacien-

tes devem assumir. Ao longo de sua exposi-ção, ele reconhece o valor do médico e expli-ca como a tecnologia pode mudar a prática da medicina para melhor. Numa atualidade em que os médicos, muitas vezes, não têm mãos a medir, o digital pode ser um precioso aliado.

Uma leitura deste livro exige que se pense em duas realidades. A tal galáxia mui-to, muito distante e a galáxia muito, muito próxima. A próxima é aquela em que vemos acontecer muito do que Topol vê acontecer e acredita que se tornará procedimento usual. A galáxia distante, aquela que, presumivel-mente, é fruto de um otimismo e futurismo bem semelhante àquele que, décadas atrás, consideraríamos fantasioso. Só que, quanto do que era fantasioso há anos, é hoje comum?

Topol apresenta contra-argumentos às suas próprias crenças e admite que é neces-sário mais desenvolvimento. Isso torna o li-vro realista. Ele coloca no tubo de ensaio a promessa de tecnologias emergentes e abor-dagens, junta uma avaliação sóbria de que o atual sistema de saúde não está atingindo o seu pleno potencial e mistura ambas. O re-sultado é um livro com ideias suportadas por dados sólidos.

Várias questões surgem após a leitura. Será que todos os pacientes realmente que-rem, ou mesmo, será que devem querer ser seus próprios médicos? Quão engajada deve ser uma pessoa? Será que queremos dedicar nosso tempo a controlar nossa saúde? Será que queremos deixar de ter alguém cuidando de nossa saúde?

Diagnóstico | jan/fev/mar 2016116

Neste novo livro, Claudio Lot-tenberg expõe suas ideias a respeito das recentes tecnologias que começam a ser incorporadas à prática da medici-na. Enfatiza que, quaisquer que sejam, devem estar a serviço das pessoas, dos pacientes aos quais se destinam.

O objetivo da publicação é mostrar como os padrões de qualidade e se-gurança internacionais podem ser im-plantados com sucesso em instituições de saúde brasileiras.

O livro analisa aspectos como concentração, verticalização, inflação médica (evolução da despesa assisten-cial per capita), além das alternativas para reduzir a tendência crescente dos custos da saúde frente à capacidade de pagamento da sociedade.

Qualidade e segurança em saúde: os caminhos da melhoria via Acreditação Internacional – relatos, experiências e práticasAutor: Heleno Costa JuniorEditora: DOC ContentNúmero de páginas: 188Preço sugerido: R$ 62,00

Saúde e cidadania - A tecnologia a serviço do paciente e não o contrárioAutor: Claudio LottenbergEditora: AtheneuNúmero de páginas: 120RPreço sugerido: $ 49,00

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“Um excelente livro onde a proposta é ajudar na tarefa de tornar as nossas vidas mais produtivas”

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