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- S. PASCOAL BAILAO @ EDITORIAL MISSÕES CUCUJÃES

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S. PASCOAL BAILAO

@

EDITORIAL MISSÕES

CUCUJÃES

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Título original: SAN PASCUAL BAILON

Autor: Rafael M.ª López-Melús, carmelita

© Apostolado Mariano - Sevilha

Com licença eclesiástica.

Tradução e Adaptação: P. Januário dos Santos

Reservados todos os direitos para Portugal e países de expressão portuguesa pela EDITORIAL MISSÕES Apartado 40 - 3721-908 VILA DE CUCUJÃES

Composição e Impressão Escola Tipográfica das Missões - Cucujães

Julho de 2007

ISBN 978-972-577-283-6

Depósito Legal 260882/07

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QUE SERÁ ESTE MENINO?

A Divina Providência dirige todas as coisas com ma­ravilhosa sabedoria. É certo que, às vezes, se atribuempalavras ou obras a Deus que nem sequer passaram pela sua mente .. . mas também é certo que o Senhor, quando quer, faz prodígios já com as criancinhas apon­tando-lhes uma meta para a qual se vê, depois, que aqueles privilegiados estavam destinados.

Isto sucedeu com o menino Pascoal, protagonista desta bela biografia para que todos os que a lerem façam da Eucaristia o centro da sua vida.

Contam os primeiros biógrafos do santo que, quan­do o pequenito Pascoal era levado ao templo ao colo da mãe ou pelo mão do pai para assistir à celebração da Santa Missa, já aconteciam coisas extraordinárias com ele.

Punham-no sentadinho no banco e, dali a momen­tos, mal se davam conta, já ele deslizava, aproximava­

-se dos degraus do altar, subindo-os de gatas, para estar junto do sacerdote que estava a celebrar.

Depois, quando os adultos se aproximavam da Mesa Eucarística, ficava a olhá-los atónito e ele próprio man­tinha uma compostura angelical e um tal recolhimento que era causa de admiração para todos.

Quando a Missa terminava, ele não fazia como mui­tos meninos que correm à pressa para a porta para sair

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Aproximava-se dos degraus do altar para estar junto do sacerdote ...

e brincar. Fazia exactamente o contrário: era necessário forçá-lo a sair da igreja pois parecia que a sua alegria era estar na companhia d' Aquele por quem lutará toda a vida e que passará toda ela com ardentes desejos de O acompanhar e O receber.

Boa lição para aqueles que hoje têm tempo para tudo menos para passar uns momentos diante do sa­crário e receber Jesus todos os dias no seu coração.

UM DIA DE PÁSCOA

Aragão, terra nobre, deu muitos santos e filhos ilustres à Igreja e à Pátria. Quando o nosso protagonista nasceu, poucas pessoas pensariam que chegaria, um dia, a ser famoso em toda a Igreja de Deus e em todo o mundo.

Aos seus pais, agora pouco lhes restava daquela ilustre família que os precedeu segundo contam os biógrafos. Dizem que tanto Martín Bailão como Isabel Jubera descendiam de uma família de ilustre nobreza pela sua linhagem, onde se contavam vários sacerdotes e religiosos notáveis que se tinham distinguido tanto na ciência como na virtude.

Agora eles apenas possuíam o que ninguém pode roubar: uma honradez a toda a prova e uma fé vivida com muitas virtudes cristãs que todos os habitantes de Torrehermosa reconheciam e admiravam.

Puseram ao nosso biografado o nome de Pascoal

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O menino nasceu no dia de Páscoa. Por isso, puseram-lhe o nome de Pascoal.

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porque nasceu no dia de Páscoa no ano de 1540.

Naquela altura Espanha tinha chegado ao apogeu de esplendor e renome universal. "Quando a Espanha se move, dizia-se então, todo o mundo treme."

Grandes santos percorriam, nesses anos, os ca­minhos de Espanha: Santa Teresa, S. João da Cruz, Santo Inácio de Loiola, S. Francisco Xavier, S. Pedro de Alcântara, S. João de Ávila, S. João de Deus ...

Alguns biógrafos dirão que se chamava Bailão porque bailava muitíssimo diante de uma imagem da Virgem Maria a quem sempre amou com toda a alma, como veremos mais adiante. Mas, embora uma das notas mais salientes da sua curta vida tenha sido a alegria, o bom humor e a confiança no Senhor, este apelido herdou-o do seu pai.

Era de mediana estatura, rosto gracioso, amável e de boa presença. Tinha debaixo dos lábios uma cicatriz o que dava a impressão a todos os que olhavam para ele de que estava sempre a sorrir.

O PASTOR

Os seus pais eram pobres e não podiam dar-se ao luxo de o mandar cursar estudos em qualquer parte. Nem sequer pôde frequentar a pequena escola da aldeia porque a sua ajuda para aquele lar pobre era absolutamente necessária.

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Os pais possuíam algumas poucas ovelhas e encar­regaram-no de as levar a pastar para o campo. Assumiu esse encargo com muito carinho.

Em toda a sua vida de pastor, que durou catorze anos, nunca bateu numa ovelha nem sequer nas cabras que eram as que mais o arreliavam sobretudo quando entravam nos terrenos semeados ou nas vinhas dani­ficando as culturas ou as videiras.

Era natural que entre os pastores como ele, da mes­ma idade e até mais velhos, tivesse bons amigos. Entre eles partilhavam as coisitas que levavam para comer e conversavam dos seus problemas e do pouco de que tinham conhecimento que ia acontecendo por Espanha, pelas Índias e pela sua aldeia de Torrehermosa.

Mas o pequeno Pascoal procurava fugir quanto po­dia à conversa com eles, sobretudo com alguns, porque a sua linguagem era pouco correcta e, às vezes, até blasfemavam ou mantinham conversas desonestas.

Pascoal gostava da solidão para encontrar assim mais tempo para pensar em Deus, em Nossa Senhora, e para dialogar com o Santíssimo Sacramento, que sem­pre amou com um amor que lhe abrasava o coração.

Também se preocupava em encontrar tempo livre para se poder dedicar ao estudo já que ele foi um au­têntico autodidacta. Quer dizer que, sem ter nenhum mestre, aprendeu a ler e a escrever.

- Oiça, bom homem, dizia a um senhor que passava

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Pascoal gostava da solidão para encontrar assim mais tempo para pensar em Deus e em Nossa Senhora.

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por ali e que ele sabia que era versado em ciências, não me podia ensinar a ler? Oiça, como se escreve isto?

Até no próprio cajado de pastor gravou as letras do abecedário para as ir repetindo.

AMIGO DE NOSSA SENHORA

Pascoal foi, durante toda a sua vida, amigo de Nossa Senhora. A devoção à Virgem Maria juntamente com a devoção ao Santíssimo Sacramento do Altar serão os fundamentos da sua espiritualidade e o sustentáculo em todas as provas que lhe sobrevierem.

Esta devoção bebeu-a com primeira educação rece­bida dos pais que eram fervorosos devotos da Virgem Maria e o ensinaram a encomendar-se a Ela em todas as necessidades.

Era ainda muito pequenino quando fez uma espécie de rosário com uma corda. Encheu-a de nós e ia-os passando, um a um, com os seus deditos após cada Ave Maria. Depois ensiná-lo-á a fazer a alguns dos seus companheiros de pastoreio.

Perto da povoação de Torrehermosa havia uma ermida dedicada à Virgem da Serra. Pascoal tinha preferência por aquele lugar. Sempre que podia enca­minhava para lá o seu pequeno rebanho e ali passava horas maravilhosas. Espreitava pela janelita e dialogava com Maria:

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Muitas vezes encaminhava o seu rebanho para junto da ermida da Senhora da Serra.

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- Mãe queridíssima, quanto Te amo! Como estás? Olha, eu sou um pobre pecador. Quereria ter-Te sempre presente e ao teu Filho Jesus que ficou no Sacrário por mim e a Ti, que és minha Mãe. Mãe, ajuda os meus pais e as minhas ovelhas. Concede-me a graça de nunca

ofender o teu Filho pelo pecado. Quando por lá não havia pasto para o gado e devia

ir para outras partes, com frequência, voltava-se para a Ermida da Virgem e recitava orações e falava com Ela com grande afecto.

Às vezes as ovelhas e as cabras pregavam-lhe uma partida. Então ele exclamava, sem perder a paz:

- Santa Maria me valha! Tinha gravado a imagem de Maria no seu cajado e

abraçava-o com carinho até durante o sono.

EM BUSCA DO SENHOR

Levava já vários anos de pastoreio e cada dia fazia-o melhor. O seu rebanho e o do seu amo, um tal Martín Gar­cia, eram os mais bem cuidados da aldeia. Este senhor, que não tinha descendência, falou um dia ao jovem Pascoal:

- Olha, eu não tenho ninguém a quem deixar a minha herança. Vejo que tu és um jovem bom e que o Senhor te abençoa copiosamente. Pensei fazer-te herdeiro de tudo o que tenho, ou, pelo menos, quero que fiques com o meu rebanho.

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Pensei fazer-te herdeiro de tudo o que tenho ...

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- Muito obrigado, senhor! Agradeço-lho deveras mas devo dizer-lhe que decidi afastar-me desta terra e abraçar a vida religiosa num pobre convento, de que me tem falado a minha irmã Maria nas suas cartas e que existe lá para os lados de Valência, onde ela está, numa terra que se chama Monforte.

Um dia disse a um amigo: - Olha, João, comunico-te a ti em primeiro lugar

porque vejo que és uma boa pessoa. Sinto que Deus me chama a segui-1'0 na vida religiosa. Quero seguir o chamamento de Jesus Cristo numa vida de pobreza, de castidade e de obediência. Gosto muito da solidão.

- Bom . . . sinto muito em perder um amigo como tu mas não me admiro da tua decisão porque eu via que em ti há algo especial. Mas se queres ser frade, por que não entras nos Cistercienses, que estão perto daqui em Santa Maria de Huerta?

- Estes frades são grandes proprietários. Já sabes que quase todos lhes somos devedores de rendas. Eu quero uma Ordem muito pobre, muito austera para não apegar o meu coração à riqueza. Ouvi falar de uma reforma dos Frades Menores de S. Francisco feita por um tal Pedro de Alcântara e . . . decidi ir para eles.

- Pois, amigo, que tenhas boa viagem e que per­severes.

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DE NOVO COM AS OVELHAS

Vestido muito pobremente, fazendo o caminho a pé, de aldeia em aldeia, chegou a Monforte. Pensou:

- Se chamar e me virem assim, certamente não me receberão no convento. Não me atrevo nem a cha­mar na portaria. A minha irmã Maria tinha-me escrito acerca da pobreza e santidade destes frades mas não creio que eu possa entrar na comunidade deles. Sou ignorante e pobre.

Uns dias depois, atreveu-se a chamar à portaria: - Padre Guardião, venho em nome do Senhor, su­

plicar-lhe que tenha a bondade de me aceitar como o último dos seus filhos.

- Bem, filho meu, bem . . . Bem-vindo sejas em nome do Senhor. Mas, antes de te receber, eu devo saber algo da tua vida. Diz-me: que sabes fazer? De onde vens? Por que razão decidiste abraçar a nossa vida? Sabes que é uma vida muito dura a que levamos aqui dentro?

- Sim, padre, sim, venho das terras de Aragão, sou natural de Torrehermosa e sempre fui pastor. Só tenho boa vontade de servir o Senhor.

E contou-lhe que, um dia, enquanto guardava o rebanho, teve uma visão que lhe chamou a atenção:

- "Olhe, bom Padre Superior: apareceram-me um religioso e uma religiosa que vestiam um hábito igual

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Venho das terras de Aragão e sempre fui pastor. .. Só tenho boa vontade de servir o Senhor.

ao seu, inundados de luz e alegria disseram-me que viesse até estas terras para me tornar religioso da sua Ordem . . .

- Bom filho meu, acredito em tudo isso mas antes temos de dar passos firmes. Antes de ingressares no convento, deverás provar a tua virtude. Deves ir de­sempenhar o ofício de pastor de um bom amigo desta comunidade. Passado algum tempo, veremos como é o teu comportamento. Se for bom, verás satisfeitos os teus desejos de vestir este hábito franciscano.

REZEMOS, IRMÃOS!

Muito tempo depois, quando já contava vinte e qua­tro de idade, foi admitido na Ordem Seráfica que tão copiosos frutos de santidade estava dando em toda a Igreja.

Pascoal saltava de alegria e não sabia como de­monstrá-la ao Senhor.

Bem cedo começou a chamar a atenção de todos os religiosos pela sua grande virtude na oração, na mortificação, na caridade.

Os superiores tiveram, mais de uma vez, de pôr um freio às suas duras mortificações pois macerava o corpo muito barbaramente. Mas algo de belo acontecia na sua vida: quanto mais duro era para o seu corpo mais suave, alegre e compreensivo era no trato com os outros.

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Os pobre acudiam aos montões ao convento em busca de uma esmola ...

Confiaram-lhe vários cargos nos diversos conventos onde viveu: cozinheiro, porteiro, sacristão e sobretudo esmoler (encarregado de receber e distribuir esmolas).

Certo dia chegou ao convento o Padre Provincial acompanhado pelo seu secretário e ele, que era cozi­nheiro, preparou-lhes uma opípara e abundante refei­ção. Alguém observou-lhe:

- Irmão Pascoal, porquê tanta e tão rica comida? Não vê que isto é demasiado e contra o nosso espírito de pobreza franciscana?

- Sim, Padre, já sei, mas vossas mercês são su­periores, representam a Deus e devem trabalhar dura­mente pelo reino de Jesus Cristo e devem alimentar-se bem . . .

Noutra ocasião foi com os pobres. Acudiam aos montões ao convento em busca de uma esmola. Pas­coal nunca os despedia sem lhes dar algo embora fosse a porção que lhe pertencia da escassa comida. Com permissão dos superiores entregava-lhes tudo quanto encontrava no convento até da sua pobre roupa pessoal. Mas, antes de lhes dar esmola, instruía-os na fé.

QUEM VOS OUVE ...

Um dia, o Senhor disse falando dos superiores: - Quem vos ouve, a Mim ouve, quem vos despreza,

a Mim despreza.

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Esta doutrina tinha calado muito profundamente no coração do Irmão Pascoal. É certo que todas as virtudes tinham feito morada no seu coração mas esta da obe­diência foi, talvez, a que lançou raízes mais profundas.

O Senhor visitava-o frequentemente com arroubos e místicas visões ficando, naqueles momentos, alheado dos seus sentidos. Cheio de alegria começava a saltar e a cantar por cima das mesas, das vasilhas . .. e não havia força humana que o pudesse deter ... mas, se chegasse o Padre Guardião e lhe dissesse "Irmão Pascoal, esteja quieto", naquele mesmo instante, voltava a si e conver­tia-se num mansíssimo cordeiro lançando-se a seus pés pedindo-lhe mil perdões por tudo quanto tinha feito . ..

No capítulo de culpas era o lugar onde de uma ma­neira muito especial demonstrava a sua grande virtude. Durante essa reunião cada religioso costuma dizer as suas culpas e o superior corrige-o e impõe-lhe uma penitência. O Irmão Pascoal sempre tinha faltas de que acusar-se e ninguém as notava além dele próprio. Eram fruto da sua grande humildade.

Um dia, o Padre Guardião para experimentar a sua virtude e humildade, disse-lhe em pleno "Capítulo de Culpas":

- Irmão Pascoal, parece que o senhor anda dema­siado confiante e envaidecido com a sua virtude. Tenha cuidado para não cair e esse tesouro, que julga possuir, se converta em barro .. .

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O Irmão Pascoal ouviu com humildade esta advertência e foi beijar o cordão do P. Guardião ...

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O 1 rmão Pascoal ouviu com grande humildade esta advertência e foi beijar o cordão do Padre Guardião dando-lhe graças . ..

TODO O DIA COM JESUS

Quando ainda andava pelos campos de Torreher­mosa a pastorear o rebanho acontecia-lhe o mesmo que agora nos diversos conventos onde a obediência o enviou a viver .. . Tinha sempre, e ao longo de todo o dia, a Jesus presente no seu coração e na sua mente. Amava-O com todas as suas forças e lembrava-O du­rante as vinte e quatro horas do dia porque, até durante a noite, falava e dialogava com Ele.

Conta-se que nos campos de Torrehermosa, à hora da missa, imitando outro ilustre espanhol, Santo Isidro Lavrador, sabia de modo misterioso quando se celebra­va a missa e onde se celebrava. À hora da elevação voltava-se naquela direcção, punha-se de joelhos e dizia:

- "Adoro-Vos, Senhor Sacramentado, que estais nas mãos deste sacerdote que agora consagrou o vosso Corpo e o vosso Sangue. Fazei que sempre seja este grande Sacramento uma atracção do céu para os homens, para que todos se salvem. Que todos Vos adorem e Vos amem, Senhor . . . "

Ficava uns breves momentos de joelhos e em

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O Irmão Pascoal dialogava com Jesus com toda a familiaridade.

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profunda oração unia-se àquele Sacrifício Único e Universal.

O momento mais belo de todo o seu dia era o da comunhão em cada manhã. Para se preparar o melhor possível para esse momento passava longas horas em oração e penitência. Tudo lhe parecia pouco para poder tomar parte no Sagrado Banquete. Ele sentia-se muito indigno de O receber mas conhecia já a doutrina de Santa Catarina de Sena, a que mais tarde seria declarada doutora da Igreja, que dizia:

- Nós não somos dignos de receber a Jesus Euca­ristia no nosso coração, mas Ele sim é digno e mere­cedor de que O recebamos já que para isso ficou no Sacrário.

Durante todo o dia tinha presentes estes momentos da manhã e dialogava com Jesus com toda a familia­ridade.

AS SUAS VISITAS A JESUS

Pascoal Bailão não tinha nenhum estudo porque nem sequer tinha frequentado a escola. Ele mesmo levado pelo seu grande interesse aprendeu sozinho a ler e escrever. Também nele se realizou essa maravilha que o Senhor costuma conceder a algumas almas muito do seu Coração: a chamada ciência infusa.

Apesar de não ter conhecimentos teológicos nem

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bíblicos, chegou a falar coisas maravilhosas acerca deste Augusto Sacramento e de outros temas da vida espiritual. E deixou-nos alguns opúsculos escritos por si que contêm fervorosas orações e considerações que são, afinal, as que o ajudavam a entregar-se cada dia mais e mais ao Senhor.

Uma das suas práticas mais habituais e na qual mais se deliciava era a Visita ao Santíssimo Sacramento. Passava horas e horas com Jesus. Quando sabia que ninguém o escutava punha-se a falar em voz alta com Jesus Sacramentado e era uma maravilhoso escutar os ardentes dardos de amor que brotavam do seu coração. Pareciam setas ardentes de fogo.

Durante estas Visitas e ao longo de todo o dia, em­bora estivesse ocupado nos trabalhos mais humildes, nunca perdia o sentido da presença do Senhor e a lem­brança do seu Jesus Eucaristia. Revivia com frequência a comunhão da manhã. A isso chamava Comunhão Espiritual e repetia-a várias vezes durante o dia

- Que é a Comunhão Espiritual? - Um ardente desejo de receber Jesus no nosso

coração. Já que não podemos fazê-lo em determinado momento de modo sacramental ou real . .. pelo menos desejamos fazê-lo de um modo espiritual. Para isso a primeira coisa que é preciso fazer é um acto de fé. Depois ter ardentes desejos de que venha ao coração e, finalmente, dar-lhe graças por ter vindo.

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Passava horas e horas com Jesus ...

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TRISTE DE MIM ... FUI UM COBARDE ...

A vida do 1 rmão Pascoal foi bastante movimentada apesar de não ser sacerdote, teólogo ou superior. Os superiores enviavam-no para este ou para aquele con­vento sempre que viam ali uma necessidade a preen­cher, certos de que todos os ofícios que lhe confiavam saberia desempenhá-los com dignidade e proveito.

Fez parte, durante algum tempo, de diversas comu­nidades como: Valência, Játiva, Elche, Villena, Almaza, Jerez, Monforte, Jumilla, Villareal. .. Todos lhe chama­vam "o Santo". Já lhe davam este nome em Torreher­mosa e nos anos em que foi pastor em Monforte, antes de ingressar na vida religiosa.

Por fim, era preciso cumprir uma tarefa delicada e pensou-se no 1 rmão Pascoal. Era preciso fazer chegar uma importantíssima missiva do Provincial de Aragão ao próprio Ministro Geral da Ordem que se encontrava então em Paris.

Mas, como e quem fazê-lo? Os inimigos da Igreja, que se chamavam hugonotes ou calvinistas, atacavam todos os que percorriam aqueles caminhos. Ele iria ves­tido como um pobre mendigo. Não há palavras para des­crever o muito que teve de sofrer nesta viagem: prisão, fome, pancadas, pedradas, insultos ... Com tudo isto se sentia feliz o nosso Irmão Pascoal. Só o desgostava este facto que depois contava com muita tristeza:

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Aproximou-se dele um cavaleiro que lhe apontou uma espada ao coração ...

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Indo por um desses caminhos, aproximou-se dele um cavaleiro que apontando-lhe uma espada ao cora­ção, pronto para lha cravar, lhe perguntou:

- Diz-me, infame católico, que tens ares de ser um monge, diz-me ... onde está Deus?

- No céu, apressou-se a responder o Irmão Pascoal com valentia.

O pérfido cavaleiro abandonou-o com desprezo. Depois o Irmão Pascoal dirá:

- Fui um cobarde ao não dizer que também estava no Santíssimo Sacramento do Altar.

JESUS! JESUS!

Os dias deste lrmãozinho Leigo Franciscano estão a chegar ao fim ... Ele virá a ser declarado nada menos que Padroeiro de todos os Congressos e Associações Eucarísticas da Igreja.

Em seu nome e em sua honra se levantará um templo Votivo Universal na bela cidade de Villareal dos Infantes onde eu, autor desta breve biografia, tive a dita de pregar durante os treze anos que vivi nesta cidade.

Ali se conservam, em riquíssima urna, os restos do seu precioso corpo que foram salvos de ser queimados durante a guerra de 1936.

Ali recebem o culto de todos os católicos do mundo

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que acorrem a venerar aquele que tanto se enamorou de Jesus Hóstia, desse Jesus que agora ali recebe adoração perpétua NOITE E DIA . . . Sempre se encon­tram ali almas orantes para desagravar os pecados que se cometem em todo o mundo contra este Grande Sacramento.

Foi no dia 17 de Maio de 1592, dia de Pentecostes, festa do Espírito que sempre encheu o coração do Ir­mão Pascoal . . . Precisamente nesse dia ele tinha feito 52 anos.

Perguntou ao Irmão que o assistia: - Já deram o sinal para a Missa Solene? - Sim, Irmão Pascoal, acabam de tocar o sino

agora. Cheio de alegria, olhou para o céu, tomou o rosário

nas suas mãos e exclamou, como se estivesse fora de si, com uma grande emoção que lhe enchia a alma e embargava a voz:

- Jesus! Jesus! E entregou a sua alma ao Criador. Enquanto se rezava a missa de corpo presente, di­

zem os cronistas, que, à elevação, se ergueu três vezes do ataúde para adorar o Santíssimo Sacramento.

Lenda? Realidade? De qualquer forma uma maneira de sublinhar e exaltar o seu amor à Eucaristia.

ÍNDICE

Q , .

? ue sera este menino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Um dia de Páscoa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O pastor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Amigo de Nossa Senhora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Em busca do Senhor . . . . ... . . . .... ... . . . . ...... . . . . . . ...... .

De novo com as ovelhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Rezemos, irmãos! . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Quem vos ouve . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Todo o dia com Jesus . . . . . . . . ..... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

As suas visitas a Jesus ..... . . . .. ..... . . . . ....... . . . ...... .

Triste de mim . . . fui um cobarde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Jesus! Jesus! . . . . .. .. .. .. ... . .. ... .. . ... ...... ...... .. .. .. .. .. .. 29

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