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    IESP INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE SO PAULO

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO LATO-SENSU

    ESPECIALIZAO EM GESTO EDUCACIONAL

    GESTO DA ESCOLA PBLICA: O CURRCULO

    INTERDISCIPLINAR

    SANDRA REGINA SANTOS CHAVES

    ARAATUBA SO PAULO

    2007

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    SANDRA REGINA SANTOS CHAVES

    GESTO DA ESCOLA PBLICA: O CURRCULO

    INTERDISCIPLINAR

    Araatuba So Paulo

    2007

    Monografia apresentada a IESP Instituto de EnsinoSuperior de So Paulo como requisito para a concluso docurso de Ps-Graduao em Gesto Educacional, sob aorientao do Prof.

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    SANDRA REGINA SANTOS CHAVES

    GESTO DA ESCOLA PBLICA: O CURRCULO

    INTERDISCIPLINAR

    Data da Aprovao:

    ________/________/_________

    Banca Examinadora:

    _______________________________________

    Monografia apresentada a IESP Instituto deEnsino Superior de So Paulo como requisito paraa concluso do curso de Ps-Graduao em GestoEducacional, sob a orientao do Prof.

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    AGRADECIMENTOS

    A Prof. Mrcia Trevisan pela colaborao no desenvolvimento deste trabalho.

    A minha famlia, pela confiana e motivao.

    Aos ex-colegas e ex-alunos da escola E.E. Joaquim Adolfo de Arajo no desenvolvimento do

    Projeto Vida.

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    Sou sobrevivente de um campo de concentrao. Meus olhos viram

    o que nenhum homem deveria ver: Cmaras de gs construdas por

    Engenheiros formados; Crianas envenenadas por Mdicos

    diplomados. Recm-nascidos mortos por Enfermeirastreinadas.Mulheres e bebs fuzilados e queimados por graduados em

    Colgios e -Universidades. Assim, tenho minhas dvidas a respeito

    da Educao.Meu pedido este: ajudem seus futuros alunos a

    tornarem-se Humanos. Werneck (1999)

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    CHAVES, Sandra Regina Santos. Gesto da Escola Pblica: o currculo

    interdisciplinar. 2007 Monografia. Instituto de Ensino Superior de So Paulo.

    RESUMO

    Esta pesquisa apresenta a importncia do trabalho interdisciplinar frente aos procedimentos

    metodolgicos relacionados a prticas pedaggicas do currculo que oferecido a rede pblica do

    Estado de So Paulo, focalizando o currculo interdisciplinar como alternativa potencialmente

    eficaz para a construo de um conhecimento significativo dentro dos novos paradigmas

    educacionais. Partimos, para tanto, de experincias que vivenciamos no decorrer de nossa trajetriaformativa discente e docente , bem como de uma reflexo a respeito da realidade cotidiana na

    gesto da escola pblica.

    Este trabalho apresenta, por conseguinte, os principais conceitos de currculo e

    interdisciplinaridade, situando-os a dinmica no ambiente escolar da Educao Bsica nos dias

    atuais. Procura demonstrar que o currculo interdisciplinar, no mais uma opo isolada, na

    medida em que implica uma reformulao de conceitos que visam atender a demandas atuais da

    sociedade brasileira atravs da legislao vigente e os movimentos da gesto democrtica.Destacamos a ttulo de consideraes finais, suas principais contribuies para uma reflexo acerca

    de prticas mais coerentes e significativas, viabilizadas pela proposta interdisciplinar.

    Palavras-chave: Currculo- Interdisciplinaridade Escola- Gesto

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    CHAVES, Sandra Regina Santos. Gesto da Escola Pblica: o currculo

    interdisciplinar. 2007 Monografia. Instituto de Ensino Superior de So Paulo.

    ABSTRACT

    This research shows the importance of the inter-disciplinary work faced to the methodological

    procedures related to the pedagogical practices of the curriculum offered to the public education in

    the State of So Paulo.

    Its focus is the inter-disciplinary curriculum presented as a potentially powerful alternative for the

    building of significant cognition imbedded in the new educational pattern.

    We based our research in experiences of life during our formative years as students, and as teachers,

    as well as in a profound reflection concerning the daily reality in the public school administration.

    Therefore, this work presents, the main curricular and inter-disciplinarian concepts, placed in the

    dynamic of the school environment of the present Elementary Education, with the intention of

    showing that the inter-disciplinary curriculum is no longer an isolated option, inasmuch as it impliesa reformulation of concepts which aim to respond to the demands of the Brazilian society through

    the present legislation and through the motions of the democratic administration.

    To conclude, we emphasized that the main bibliographic contributions to this research, aided in the

    consideration of the most coherent and meaningful practices, that are made feasible by the inter-

    disciplinary proposal.

    Key words: Curriculum, Inter-disciplinary, School, Administration

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    SUMRIO

    RELATO DE EXPERINCIA NUMA ESCOLA ...............................................................34

    PBLICA DA PERIFERIA DE SO PAULO ...................................................................... 34

    3.1 O que prope os Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs ............................................37

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    INTRODUO

    Esta pesquisa tem como objetivo inicial identificar as fundamentaes tericas do pensamento

    interdisciplinar e suas prticas educativas, assim como seus reflexos polticos no currculo escolar.

    Nosso interesse pelo tema partiu da necessidade de aprofundamento terico conhecer mais sobre

    onde ele foi implantado, quais as dificuldades enfrentadas, quais os benefcios trazidos, enfim, saber

    como acontece um trabalho com projetos numa abordagem interdisciplinar dentro dos novos

    paradigmas educacionais.

    A teoria que vem sendo desenvolvida sobre o tema extensa, com ampla bibliografia, onde h

    ainda muitas dvidas, questionamentos, encontros, desencontros, sucessos, decepes, em busca de

    alternativas possveis.

    Quanto mais lemos, mais queremos conhecer e saber que a continuidade das leituras e a ampliao

    do conhecimento sobre o currculo interdisciplinar no podem parar.

    Que se entende por interdisciplinaridade? Como se d nossa relao com o mundo social, natural e

    cultural? Esta relao se d fragmentada, de tal modo que cada fenmeno observado ou vivido

    entendido ou percebido como fato isolado? Ou essa relao se d de forma global, entendendo que

    cada fenmeno observado ou vivido est inserido numa rede de relaes que lhe d sentido e

    significado. Enfim como se d o conhecimento? E como se realiza um fazer docente pautado noconceito de currculo interdisciplinar?

    Entre os princpios pedaggicos que estruturam as reas de conhecimento destaca-se como eixo

    articulador, a interdisciplinaridade. Para observncia da interdisciplinaridade preciso entender que

    as disciplinas escolares resultam de recortes e selees arbitrrias, historicamente constitudas,

    expresses de interesses e relaes de poder que ressaltam, ocultam ou negam saberes. O currculo

    interdisciplinar requer dos participantes uma postura coletiva para atingir suas metas com sucesso.

    Um trabalho contextualizado parte do saber dos alunos para desenvolver competncias que venhama ampliar este saber inicial. Um saber que situe os alunos num campo mais amplo de

    conhecimentos, de modo que possam efetivamente se integrar na sociedade, atuando, interagindo e

    interferindo sobre ela, de forma consciente de seu papel no contexto histrico e social.

    Uma articulao possvel a de diversos campos de conhecimento, a partir de eixos conceituais.

    Uma metodologia importante de trabalho didtico a que se d atravs de conceitos, como tempo,

    espao, dinmica das transformaes sociais, a conscincia da complexidade humana e da tica nas

    relaes, a importncia da preservao ambiental, o conhecimento bsico das condies para o

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    exerccio pleno da cidadania. A articulao do currculo a partir de conceitos-chave, sem dvida, d

    uma organicidade ao planejamento curricular.

    Tentaremos, ento, abordar algumas consideraes que, a nosso ver, parecem importantes; para

    responder a nossa questo inicial: Gesto da escola pblica: o currculo interdisciplinar, qual a sua

    importncia? a prtica nos tem mostrado que os currculos no so uma frmula que se pode aplicar

    de maneira repetida; cada tema pode surgir de uma circunstncia diferente. E importante estar

    atentos aos currculos que oferecemos na escola.

    Segundo Piaget1, um estudante que adquire um certo conhecimento atravs da livre investigao e

    do esforo espontneo ser capaz de ret-lo, no futuro; ele ter adquirido uma metodologia que

    pode ajud-lo o resto da vida .

    Quando pensamos no tema Gesto da Escola Pblica: o currculo interdisciplinar, a sua importnciana aquisio do conhecimento e aprendizagem do aluno da Educao Bsica 2. No tnhamos a

    noo clara e total do que exatamente se tratava na prtica educativa. Sabamos que deveria ser um

    tema a ser estudado e pesquisado teoricamente de maneira mais profunda. Comeamos a selecionar

    bibliografias sobre o assunto e percebemos a vasta pesquisa sobre este tema.

    A dvida era justamente como isso estaria acontecendo hoje: quais ou quantas disciplinas seriam

    envolvidas; de que forma aconteceria esse envolvimento; que profissionais estariam envolvidos

    num trabalho como esse; como surgiria, na escola, a proposta de um trabalho coletivo, para odesenvolvimento interdisciplinar; quais recursos a escola necessitaria para desenvolver essa idia;

    como coorden-lo; que outras instncias deveriam e/ou poderiam ajudar na elaborao de uma

    proposta interdisciplinar.

    Estes e muitos outros questionamentos surgiram e nos levou de imediato, a buscar uma bibliografia

    sobre o tema. Tais leituras foram esclarecendo e norteando a nossa pesquisa sobre o currculo

    integrado3.

    Ivani Fazenda, que pesquisa sobre a interdisciplinaridade h 30 anos, diz que a palavra compridae, para a maioria, indecifrvel. Escolas se esforam em criar projetos interdisciplinares,

    universidades se alvoroam para criar grupos de estudo com especialistas nas diversas reas do

    conhecimento e o mercado exige um profissional polivalente. Porm, uma das expoentes da

    pesquisa da interdisciplinaridade no pas, Ivani Fazenda, faz um alerta: "Muitos dizem que fazem

    (projetos interdisciplinares), mas poucos os fazem de forma consciente".

    1PIAGET, Jean.Para onde vai a Educao? Rio de Janeiro, Jos Olmpio, 1988.2 Educao Bsica compreendida da Educao Infantil ao Ensino Mdio3Termo usado por SANTOM, Jurjo Torres. Globalizao e Interdisciplinaridade: o currculo integrado. PortoAlegre, Artmed, 1998.

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    Segundo ela, essa abordagem tambm muito recompensadora para os professores. "Ns

    (educadores) somos espoliados de todas as formas: nos salrios, nas condies de trabalho e isso (o

    trabalho interdisciplinar) nos ajuda a recuperar a auto-estima".

    Para Ivani, no existe interdisciplinaridade sem disciplinas. " preciso haver um respeito

    disciplina", disse. "O problema que so feitos recortes nos contedos que no permitem

    compreender a sua essencialidade. Ela diz que at as tradicionais cartilhas so dignas de respeito,

    desde que sejam vistas como ferramentas e "usadas da maneira certa, no momento certo, para o

    aluno certo". Segundo ela, "bendito" do professor que faz isso.

    Nos anos 70, quando ela comeou a pesquisar a interdisciplinaridade, "quiseram acabar com as

    disciplinas em nome de uma pseudo-integrao e eliminou-se a importncia da matemtica, da

    lngua portuguesa e da geografia", lembra.Como trata-se de um tema ainda muito polmico, propusemos apresentar de forma simples no

    Captulo 1, uma breve reflexo para situar o conceito de interdisciplinaridade e currculo, sua

    trajetria nas dcadas de 1970 a 1990 e como se d a elaborao de currculos numa viso terica

    interdisciplinar.

    No Captulo 2, elaboramos algumas consideraes sobre o desenvolvimento do currculo

    interdisciplinar, comentando ainda, questes sobre Legislao, procedimentos metodolgicos e a

    prtica docente, a sala de aula e o processo avaliativo na viso interdisciplinar e o papel da liderananesta concepo.

    Para finalizarmos, apresentamos no captulo 3, um breve comentrio sobre as duas propostas:

    Projeto Vida, realizado em uma escola pblica e o documento elaborado pelo MEC4: PCNs, que ao

    nosso ver, vem de encontro a resposta desta pesquisa: Currculos interdisciplinares: qual a sua

    importncia na aquisio do conhecimento e aprendizagem do aluno na Educao Bsica?

    4 MEC Ministrio da Educao e Cultura; hoje 2007 so ministrios independentes, mas o Governo atual manteve amesma sigla para o Ministrio da Educao (MEC), por ser conhecido popularmente como tal.

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    Captulo I

    BREVE REFLEXO SOBRE OS CONCEITOS

    O currculo atual, segundo os indicadores tericos5, pensado num mbito maior, visando a

    formao integral do indivduo com objetivos que oferea instrumentos necessrios formao para

    exercer a cidadania plena no contexto transformador da sociedade em que vive.

    De acordo com Barbosa (2005, p.7) o currculo h muito tempo deixou de ser apenas uma rea

    meramente tcnica, voltada para questes relativas a procedimentos, tcnicas, mtodos. J se pode

    falar agora em uma tradio crtica do currculo, guiada por questes sociolgicas, polticas,epistemolgicas.

    1.1 O que Currculo

    O currculo um conceito de uso relativamente recente entre ns, se considerarmos a significao

    que tem em outros contextos culturais e pedaggicos nos quais conta com uma maior tradio.

    Segundo Corazza, ( 2001, p.14): um currculo o que dizemos e fazemos...com ele, por ele, nele. nosso passado que veio, o presente que nosso problema e limite, e o futuro que queremos mudar...Isto

    um currculo: um ser falante, como ns, efeito e derivado da linguagem. Hoje, sem intimidade, no mais

    bsico, nem fundamental, verdadeiro, autntico. Um ser sem coerncia e profundidade. Que experimenta

    relaes fracionadas, construdas ao redor de pedaos de falas de cada um

    Organizando as diversas definies, acepes e perspectivas o currculo pode ser analisado a partir

    de cinco mbitos formalmente diferenciados:

    * O ponto de vista sobre sua funo social como ponte entre a sociedade e a escola.

    * Projeto ou plano educativo, pretenso ou real, composto de diferentes aspectos, experincias,

    contedos, etc.

    *Fala-se do currculo como a expresso formal e material desse projeto que deve apresentar, sob

    determinado formato, seus contedos, suas orientaes e sua seqncias para abord-lo, etc.

    *Referem-se ao currculo os que o entendem como um campo prtico. Entend-lo assim supe a

    possibilidade de : 1) analisar os processos instrutivos e a realidade da prtica a partir de uma

    perspectiva que lhes dota de contedo; 2) estud-lo como territrio de intercesso de prticas

    5 Confirmado esta idia na legislao brasileira em vigor

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    diversas que no se referem apenas aos processos de tipo pedaggico, interaes e comunicaes

    educativas; 3) sustentar o discurso sobre a interao entre a teoria e a prtica em educao.

    * Referem-se a ele os que exercem um tipo de atividade discursiva acadmica e pesquisadora sobre

    todos estes temas.

    No podemos esquecer que o currculo supe a concretizao dos fins sociais e culturais, de

    socializao, que se atribui educao escolarizada, ou de ajuda ao desenvolvimento, de estmulo e

    cenrio do mesmo, o reflexo de um modelo educativo determinado, pelo que necessariamente tem

    de ser um tema controvertido e ideolgico, de difcil concretizao num modelo ou proposio

    simples.

    No devemos esquecer que o currculo no uma realidade abstrata margem do sistema educativo

    em que se desenvolve e para o qual se planeja.Para Sacristn (1998, p.17): o currculo, em seu contedo e nas formas atravs das quais se nos

    apresenta e se apresenta aos professores e aos alunos, uma opo historicamente configurada, que se

    sedimentou dentro de uma determinada trama cultural, poltica, social e escolar; est carregando, portanto,

    de valores e pressupostos que preciso decifrar.

    Quando definimos o currculo estamos descrevendo a concretizao das funes da prpria escola e

    a forma particular de enfoc-las num momento histrico e social determinado, para um nvel ou

    modalidade de educao, numa trama institucional, etc.

    Retomar e ressaltar a relevncia do currculo nos estudos pedaggicos, na discusso sobre a

    educao e no debate sobre a qualidade do ensino , pois, recuperar a conscincia do valor cultural

    da escola como instituio facilitadora de cultura, que reclama inexoravelmente o descobrir os

    mecanismos atravs dos quais cumpre tal funo e analisar o contedo e sentido da mesma. O

    contedo condio lgica do ensino, e o currculo , antes de mais nada, seleo cultural

    estruturada sob chaves psicopedaggicas dessa cultura que se oferece como projeto para a

    instituio escolar. oportuno afirmar que a educao a pea chave para o desenvolvimento das

    capacidades cognitivas do cidado, onde o currculo integrado favorece a produtividade intelectual,

    cabendo aqui citar Comenius (1592-1670 ): A educao dos jovens se desenvolver facilmente: Se

    iniciada cedo, antes que as mentes se corrompam. Se ocorrer com a devida preparao dos espritos. Se

    proceder das coisas mais gerais para as particulares.E das mais fceis para as mais difceis Se nenhum

    aluno for sobrecarregado com coisas suprfluas. Se em tudo se proceder lentamente. Se as mentes s forem

    compelidas para as coisas que naturalmente desejarem por razes de idade e de mtodo. Se tudo for

    ensinado por meio da experincia direta. E para utilidade imediata. 6

    6Comenius, 1592-1670, Didactica Magna; traduo Ivone Castilho Benedetti.-So Paulo: Martins Fontes, 1997.-

    (Paidia)

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    1.2 O que Interdisciplinaridade

    Este histrico, devido ao curto perodo de estudos para esta monografia, s est sendo possvel

    graas s contribuies dos livros da autora Ivani Catarina Arantes Fazenda.

    A autora citada iniciou sua pesquisa sobre interdisciplinaridade na dcada de 70. Segundo ela,

    impossvel a construo de uma nica, absoluta e geral teoria da interdisciplinaridade por

    intermdio de um levantamento bibliogrfico, procuramos verificar se realmente no existiam

    pesquisas abordando prticas interdisciplinares integradas ao currculo regular da Educao Bsica.

    De incio, vamos brevemente ressaltar o que se apresenta na Literatura sobre a noo de

    interdisciplinaridade. O movimento da interdisciplinaridade surge na Europa, principalmente na

    Frana e Itlia, em meados de 1960.

    Nesta poca tambm esto surgindo reivindicaes por parte de professores e alunos para a criao

    de um novo estatuto de universidade e de escola. Essas reivindicaes eram a favor de uma nova

    forma de conceber o ensino e a pesquisa, ou seja, no era possvel mais aceitar um conhecimento

    fragmentado e desconectado do cotidiano e organizaes curriculares que privilegiavam dessa

    forma, incio a toda a movimentao em prol da interdisciplinaridade7, sendo muitos os tericos que

    surgiram contribuindo com suas idias acerca do termo.

    Comea-se ento a questionar as barreiras entre as disciplinas, suas fronteiras e limitaes e indaga-

    se sobre o saber tradicional que subdivide as reas do conhecimento no currculo. Este espao pode

    ser caracterizado como nvel em que a colaborao entre as disciplinas ou entre os setores

    heterogneos de uma cincia conduz interaes propriamente ditas, isto , a uma certa

    reciprocidade nos intercmbios, de tal forma que, no final do processo interativo, cada disciplina

    saia enriquecida .

    Nesta perspectiva, a interdisciplinaridade se d na interao de duas ou mais disciplinas,

    estabelecendo um dilogo recproco. No Brasil, temos tambm muitos trabalhos de Ivani Fazendacom respeito a essas questes. A interdisciplinaridade, segundo ela, uma relao de

    reciprocidade, de mutualidade, um regime de propriedade que iria possibilitar o dilogo entre os

    interessados). (Fazenda,1979, p.39).

    Helosa Lck outra autora que reflete sobre o assunto e, segundo ela, a interdisciplinaridade

    pressupe mais que a interao entre duas ou mais disciplinas, a interdisciplinaridade pretende

    superar a fragmentao do conhecimento e para tanto necessita de uma viso de conjunto para

    7 De acordo com Machado (2000, p. 136), muito do que se pretende instaurar na escola sob o rtulo dainterdisciplinaridade, poderia situar-se de modo mais pertinente sob o signo da transdisciplinaridade.

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    que se estabelea coerncia na articulao dos conhecimentos (1994,p.60). Essa noo de

    conjunto se d no engajamento de educadores das diferentes reas do conhecimento entre si, a fim

    de tornar possvel o dilogo e uma aproximao dos contedos estudados sistematicamente com o

    cotidiano escolar.

    Um trabalho que se constitua interdisciplinar necessita de uma equipe engajada que possa dialogar e

    contribuir com informaes acerca dos diferentes contedos das disciplinas e presumi uma

    reciprocidade entre seus participantes, compartilhamos com a idia de que neste sentido um

    trabalho interdisciplinar depende basicamente de uma atitude ou de vrias atitudes. (Fazenda,

    1979, p. 39).

    No Brasil, em meados da dcada de 1970, um dos primeiros autores a refletir sobre o termo

    interdisciplinaridade foi Hilton Japiass, em seu livro Interdisciplinaridade e Patologia do Saber.Japiass acentua que a interdisciplinaridade ou o espao interdisciplinar dever ser procurar na

    negao e na superao das fronteiras disciplinares. (p.74-75).

    Em todas as teorias pesquisadas, verifica-se a necessidade da superao da dicotomia cincia-

    existncia no trato da interdisciplinaridade, levando-nos a pensar que qualquer atividade

    interdisciplinar, de ensino ou pesquisa, requer um aprofundamento terico nas discusses

    epistemolgicas mais fundamentais e atuais, j que a interdisciplinaridadeexige reflexo profunda

    sobre os impasses vividos pela cincia atual.O movimento interdisciplinar pode ser dividido em trs dcadas. Num recorte epistemolgico,

    temos: 1970 construo epistemolgica da interdisciplinaridade; 1980 explicao das contradies

    epistemolgicas decorrentes desta construo e 1990 tentativa de construir uma nova epistemologia,

    prpria da interdisciplinaridade. Pela ptica das influncias disciplinares, verificamos: 1970 busca

    de uma explicitao filosfica; 1980 busca de uma diretriz sociolgica; 1990 Busca de um projeto

    antropolgico. Organizando teoricamente o movimento, temos: 1970 a procura de uma definio da

    interdisciplinaridade; 1980 a tentativa de explicar um mtodo para a interdisciplinaridade e 1990 aconstruo de uma teoria de interdisciplinaridade.

    Na dcada de 1970, a preocupao era conceituar interdisciplinaridade, palavra difcil de ser

    pronunciada e de ser decifrada. Quando surgia, anunciava a necessidade da construo de um novo

    paradigma de cincia e elaborao de um novo projeto de educao, de escola e de vida. O

    movimento da interdisciplinaridade aparece na Europa (Frana e Itlia), em meados da dcada de

    1960, poca em que surgem os movimentos estudantis, reivindicando um novo estatuto de

    Universidade e de Escola inicialmente, como tentativa de elucidao e de classificao temtica

    das propostas educacionais, que buscavam o rompimento da educao por migalhas.

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    Toda discusso a respeito do papel humanista do conhecimento e da cincia encaminhou as

    primeiras discusses sobre interdisciplinaridade. Um dos principais precursores do movimento em

    prol da interdisciplinaridade foi Georges Gusdorf, que aborda o tema Totalidade. Apresentou em

    1961 UNESCO, um projeto de pesquisa interdisciplinar que previa a diminuio da distncia

    terica entre as Cincias Humanas.

    As discusses sobre interdisciplinaridade chegam ao Brasil, no final da dcada de 1960, com srias

    distores, prprias daqueles que se aventuram ao novo sem reflexo, ao modismo sem medir as

    conseqncias.

    Ivani Fazenda, informa-nos sobre dois aspectos fundamentais a serem considerados: o modismo

    que o vocbulo desencadeou palavra de ordem a ser empreendida na educao impensadamente

    que tornou-se a semente e o produto das reformas educacionais, entre 1968 e 1971;o avano que areflexo sobre interdisciplinaridade passou a ter a partir de estudos desenvolvidos por brasileiros

    como Hilton Japiass, em 1976, na publicao de seu livro Interdisciplinaridade e Patologia do

    Saber. O livro a primeira produo significativa sobre o tema no Brasil e composto de duas

    partes: a primeira apresenta, uma sntese das principais questes que envolvem a

    interdisciplinaridade e a segunda anuncia os pressupostos fundamentais para uma metodologia

    interdisciplinar. Hoje, percebe-se que todo o exerccio de elaborao conceitual na dcada de 1970

    ajudou muito a estabelecer as finalidades, e destinao e os porqus dos projetos interdisciplinares.Interdisciplinaridade, hoje, mais parece processo que produto. (FAZENDA, 1994, p.25).

    A partir dos estudos de Japiass e de outros que vinham sendo realizados, FAZENDA desenvolveu

    tambm um trabalho, na dcada de 1970 (pesquisa de mestrado), analisando as proposies sobre

    interdisciplinaridade poca das reformas do ensino no Brasil, levantando bibliografia, fazendo

    ampla visita legislao do ensino, constatando o descaso, a falta de critrio, de informao e

    perspectivas que subsidiavam a implementao do projeto reformista da educao:

    A alienao e o descompasso no trato das questes mais iniciais e primordiais dainterdisciplinaridade provocaram no apenas o desinteresse, por parte dos educadores da poca, em

    compreender a grandiosidade de uma proposta interdisciplinar, como contribuiu para o

    empobrecimento do conhecimento escolar. O barateamento das questes do conhecimento no

    projeto educacional brasileiro na dcada de 1970 conduziu a um esfacelamento da escola e das

    disciplinas. pobreza terica e conceitual agregaram-se outras tantas que somadas condenaram a

    educao a 20 anos de estagnao (Fazenda, 1994, p.26).

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    O movimento da histria da cincia, na dcada de 1980, caminhou na busca de epistemologias que

    explicitassem o terico, o abstrato, a partir do prtico, do real.

    Um dos documentos mais importantes surgido nesta dcada intitula-se Interdisciplinaridade e

    Cincias Humanas (1983), elaborado por Gusdorf, Apostel, Bottomore, Lufrenne, Mommsen,

    Morin, Palmarini, Smirnov e Ui. O documento trata dos pontos de encontro e cooperao das

    disciplinas que formam as Cincias Humanas e da influncia que umas exercem sobre as outras,

    seja do ponto de vista histrico, seja do ponto de vista filosfico.

    Em sntese, os avanos desse grupo em relao interdisciplinaridade so: a atitude interdisciplinar

    no seria apenas resultado de uma simples sntese, mas de snteses imaginativas e audazes;

    interdisciplinaridade no categoria de conhecimento, mas de ao; a interdisciplinaridade conduz

    a um exerccio de conhecimento: o perguntar e o duvidar; entre as disciplinas e ainterdisciplinaridade existe uma diferena de categoria; interdisciplinaridade a arte do tecido que

    nunca deixa ocorrer o divrcio entre seus elementos, entretanto, um tecido bem traado e flexvel;

    e a interdisciplinaridade desenvolve-se a partir do desenvolvimento das prprias disciplinas.

    No Brasil, pelos estudos feitos por FAZENDA, a partir da anlise do quadro poltico no Brasil

    (1960), fica claro o quadro de convenincias, onde a educao para a interdisciplinaridade foi

    gestada.

    Em nome dela, todo projeto de uma educao para a cidadania foi alterado e direitos do aluno-cidado foram cassados. Em nome da integrao, esvaziaram-se os crebros das universidades, as

    bibliotecas, as pesquisas, enfim, toda a educao. Era o tempo de silncio, com incio no final dos

    anos 50, percorrendo as dcadas de 1960 e 1970. Somente a partir de 1980, as vozes dos educadores

    voltaram a ser pronunciadas.

    O educador dos anos 80 renasce em busca de sua afirmao como profissional, de sua identidade

    perdida.

    O professor interdisciplinar, pesquisado e analisado por FAZENDA, tem um gosto especial porconhecer e pesquisar, tem um grau de comprometimento diferenciado para com seus alunos, ousa

    novas tcnicas e procedimentos de ensino, analisando-os e dosando-os convenientemente.

    J na dcada de 1990, os educadores percebem que a interdisciplinaridade exigncia importante

    na proposta atual de educao e de conhecimento.

    A reviso do conceito de cincia leva-nos a uma nova conscincia que no se apoia apenas na

    objetividade e sim na subjetividade . Constata-se que a condio da cincia no est no acerto mas

    no erro, provocando, assim, o viver interdisciplinar de diversas formas.

  • 8/3/2019 GESTO DA ESCOLA PBLICA

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    Muitos projetos, sem conhecimento adequado, intitulam-se interdisciplinares, mas aparecem sem

    regras, sem intenes claras. Por conta da interdisciplinaridade, abandonaram rotinas conhecidas,

    criando-se modismos, hipteses de trabalho (improvisados, impensados), sem a devida orientao.

    Muitas pesquisas, em todo o Brasil, esto sendo feitas para que se esclarea, questione e

    apresentem propostas de trabalhos interdisciplinares, para que outros, a partir delas, possam avanar

    no seu trabalho interdisciplinar.

    As novas formas de encarar a educao na sociedade atual esto suportadas pela compreenso de

    que o conhecimento uma apropriao individual, de que ele se constri em cada pessoa custa de

    informaes, mas sobretudo de experincias, vivncias reais que se articulam aos elementos de

    informao adquiridos de forma a permitir novas elaboraes pessoais com significado prprio.

    Conforme pode-se perceber, trata-se de um novo paradigma para a educao, em que o aprenderfica no centro das preocupaes e a aprendizagem ganha novo significado; longe de ser vista como

    simples aquisio e acumulao de conhecimentos, em que a transmisso de informaes adquire

    papel relevante, a aprendizagem agora concebida como um processo de apropriao individual

    que, embora se utilize de informaes, o faz de maneira totalmente diferente, pois supe que o

    prprio educando v busc-las, saiba selecion-las de acordo com as suas prprias necessidades de

    conhecimento e as elabore de forma a que elas ganhem significado para ele.

    A UNESCO (1996)8

    prope as aprendizagens fundamentais para esta sociedade, denominando-asde os quatro pilares do conhecimento:

    Aprender a conhecer isto , adquirir os instrumentos da compreenso; no se trata apenas de

    adquirir conhecimentos, mas de dominar os instrumentos do conhecimento; o aprender a aprender;

    Aprender a fazer, para poder agir sobre o meio envolvente; no se trata de competncia material

    para executar um trabalho, mas sim de uma combinao de competncia tcnica com a social

    (capacidade de trabalhar em equipe, iniciativa, etc.);

    Aprender a viver em comum, cooperar, participar de projetos comuns;Aprender a ser essencial e integra os trs anteriores; envolve discernimento, imaginao,

    capacidade de cuidar do seu destino.

    Certamente esses novos modelos de conceber o ensino e a aprendizagem supem uma nova atitude

    por parte de professores, dos alunos e toda a comunidade escolar e isto nos mostra mais uma vez

    que trabalhar com projetos numa abordagem interdisciplinar ainda um dos melhores caminhos

    para atingir estes objetivos propostos .

    8DELORS, Jacques. Um tesouro a descobrir. In: Relatrio para a Unesco da Comisso Internacional sobre a Educaopara o Sculo XXI. Porto: Edies ASA, 2002.

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    Desde a dcada de 70, a necessidade de desfragmentao ou descompartimentao do currculo

    escolar da educao bsica est sendo considerada largamente na literatura especializada. Nos anos

    80, programas de reformulao curricular, levados a efeito por vrios estados e municpios

    brasileiros, tomaram como um dos princpios metodolgicos fundamentais do ensino escolar a

    interdisciplinaridade. (Fundao Carlos Chagas, 1996).

    Para Nogueira (2004, p. 119), na maioria das vezes em que falamos de projetos, fazemos quase

    que uma relao imediata com a interdisciplinaridade e, por conseqncia, com os Projetos

    Interdisciplinares. Nogueira, faz uma crtica, dizendo que muitos professores desenvolvem projetos

    isolados, referentes apenas sua disciplina e ao seu contedo, e nem por isso deixam de ser

    projetos.

    Os relatos de experincias no mbito escolar tm mostrado que a escola que desenvolve projetosinterdisciplinares necessariamente abre espao para que os educadores e toda a comunidade escolar

    possam discutir, pesquisar e elaborar as propostas de trabalho, viabilizando recursos para que as

    mesmas sejam colocadas na prtica.

    Sabe-se que em virtude das muitas informaes s quais os alunos tm acesso atravs da mdia e

    das novas tecnologias, faz-se necessrio trabalhar os conceitos de forma dinmica, elaborando

    pesquisas que demandem diferentes fontes de conhecimento, avaliando a utilidade destas para a

    formao integral do indivduo ativo, crtico, com competncia intuitiva, intelectiva e emocionalpara atuar no cotidiano. A escola precisa entender que o aluno no mais um indivduo passivo e

    sim um sujeito ativo e social.

    A elaborao de um projeto, como metodologia de trabalho capaz de responder s dvidas e anseios

    implicadas numa viso interdisciplinar do conhecimento, parece o melhor caminho para uma

    aprendizagem significativa; mas o processo de elaborao bastante complexo. No obstante

    alguns autores indiquem caractersticas de um bom projeto, cada escola ou instituio deve criar o

    seu prprio projeto, de forma a atender s suas necessidades e expectativas, respeitando adiversidade de vises que compe a sua clientela: alunos, funcionrios, pais, professores, direo e

    comunidade em geral; alm disso, o projeto interdisciplinar deve contemplar as diferentes

    dimenses: da sala de aula, da escola, do entorno e das polticas pblicas.

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    II- O DESENVOLVIMENTO DO CURRCULO INTERDISCIPLINAR

    A Constituio prev a implantao de um currculo nico para a Nao O MEC elaborou os

    Parmetros Curriculares Nacionais e Temas Transversais que contemplam a Interdisciplinaridade

    entre os contedos propostos nas reas de conhecimento.

    Um currculo algo que precisa ser pensado. A comunidade escolar no o questiona, porque o

    desconhece, j que nem participou da sua elaborao. A ideologia dominante, implcita no

    currculo, precisa ser desvelada. A parte explcita, que tambm no questionada a referente aos

    contedos. Nunca os questionamos, nem paramos para reformul-los, planej-los. O que existe

    uma cpia do ano anterior ou de algum manual.

    H necessidade de compromisso dos profissionais do ensino com o trabalho escolar: parar e

    repensar a funo da escola, analisar a clientela, rever o que e como ensinar com a participao de

    todos os elementos envolvidos no processo Ensino-Aprendizagem. Toda essa anlise deve

    vislumbrar a formao de um homem-sujeito, crtico e transformador.

    Os alunos das escolas pblicas tm dificuldade para participar dos debates e das tomadas de

    decises, porque o currculo no adequado sua realidade. As diversidades regionais tambm no

    so levadas em conta. Os livros didticos no correspondem s caractersticas dos alunos. O

    planejamento elaborado, ignorando a participao dos alunos, da comunidade, da memriahistrica local, numa postura autoritria. O aluno sofre presso de foras estranhas e precisa ajustar-

    se, caso contrrio, a escola decide por sua inaptido.

    Pesquisar sobre o aluno e sua realidade, o que sabe, o que deseja saber, permitir que se comece a

    elaborao de um currculo real. Atravs destas investigao sobre a realidade scio-econmica-

    cultural do aluno, vo sendo captados os valores, formas de relao / organizao da sociedade, suas

    expectativas em relao escola, sua linguagem prpria, seu vocabulrio usual, seus interesses,

    suas formas de lazer, suas vivncias de trabalho, seus jogos e brincadeiras, suas formas de enfrentardificuldade etc.

    A investigao sobre a realidade vivencial do aluno e sua percepo dessa realidade deve ser o

    ponto de partida e o fio condutor da elaborao de um projeto pedaggico, bem como do

    desenvolvimento de um currculo.

    Numa escola comprometida com a transformao social possvel a construo de currculos

    interdisciplinares direcionados para o desenvolvimento da cidadania.

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    A Escola, que tem uma funo socializadora, valoriza diferentes identidades scio-culturais, busca

    novas propostas aumentando suas funes e recuperando sua condio de espao e tempo de

    socializao, de individualizao, de cultura e de construo de identidades diversas.

    Alm das disciplinas que devem ser contempladas no currculo, a interdisciplinaridade vem ao

    encontro da elaborao de projetos pedaggicos pelo grupo de profissionais da educao, com a

    colaborao da clientela estudantil e da comunidade.

    O objetivo desse projeto, como de toda proposta interdisciplinar, formar sujeitos scio-culturais.

    Todos precisam viver esta situao de criadores e sujeitos responsveis pela ampliao e divulgao

    da cultura, onde todos so partes integrantes da histria. Os projetos devem envolver o maior

    nmero de disciplinas possveis. O aprender no pode ser um ato de cpias, memorizaes e

    transmisses de conhecimentos prontos e acabados que esto do lado de fora e, de repente, passam ase incorporar ao educando. Os contedos no podem ter um fim em si mesmos, estando distantes da

    realidade, onde o que se aprende na escola no tem uso social.

    Todos os contedos, num processo interdisciplinar, tm uma nova conotao: os conhecimentos

    passam a ser frutos de um processo de interao entre ensino-aprendizagem- aluno-saber. Os

    educadores redescobrem um novo vnculo entre sala de aula e realidade social.

    O currculo deve estar abordando atividades que faam uma reflexo sobre o dia-a-dia e a realidade

    que est prxima ao aluno.Numa postura de interao, de construo e de troca, os contedos passam a ter significado. Devem

    ampliar a informao escolar, possibilitando o desenvolvimento das inmeras potencialidades do

    aluno.

    Podemos citar, como exemplo que fariam parte dos contedos escolares, alm das disciplinas j

    existentes, as artes plsticas, as artes cnicas, a culinria, as leis trabalhistas, a ecologia, as questes

    de afetividade, sexualidade, famlia, cidadania etc.

    necessrio considerar, no desenvolvimento do currculo, que todo o processo de ensino-aprendizagem no deve ser entendido apenas como atividade intelectual. S aprendemos quando

    nos envolvemos como sujeitos, quando participamos, vivenciamos sentimentos, tomamos atitudes

    diante de acontecimentos, escolhemos maneiras para atingirmos determinados objetivos.

    O processo ensino-aprendizagem se d no apenas por respostas corretas, mas pelas experincias

    proporcionadas, pelos desafios criados, pelas dvidas que surgem, enfim, pelo trabalho que comea

    para desvendar / elucidar problemas; agir enquanto condio bsica para aprender, atuar e intervir

    na prtica.

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    2.1 O que diz a Legislao

    No havia na legislao anterior, Lei 5.692/71, nada que proibia a Interdisciplinaridade e/ou

    Projetos Pedaggicos Interdisciplinares. O que percebemos que o tratamento dado, tanto no

    projeto da Cmara dos Deputados, PLC 1.258, de 1988, como no Substitutivo do Senado, Parecer

    n. 72, de 1996, com relao ao currculo mais amplo no que diz respeito democratizao a

    valorizao das artes (desenvolvimento da criatividade, da sensibilidade etc.), a contribuio das

    diferentes culturas e etnias para a formao do povo brasileiro, a preocupao com o aprendizado

    anterior do aluno, o seu meio-ambiente social e familiar e, quando for o caso, s suas condies de

    trabalho, o desporto educacional e as prticas desportivas no formais, tendo como objetivo a

    formao integral para a cidadania e o lazer, programas de sade para o desenvolvimento de

    prticas teis ao educando e comunidade, tratamento especial a preservao do patrimnio

    cultural nacional e regional, observando as diretrizes: educao ambiental, iniciao tecnologia,

    direitos, deveres e garantias fundamentais, alm do desenvolvimento de critrios de leitura crtica

    dos meios de comunicao social.

    Todas estas informaes apontam a educao como desenvolvimento integral do homem, para o

    exerccio da cidadania, cidadania esta que pode ser trabalhada na escola, dentro de um projeto

    pedaggico interdisciplinar.

    A integrao dos conhecimentos uma preocupao constante, em todo processo educacional, seja

    no mbito Federal, Estadual ou Municipal.

    Observando a Lei 5.692/71. Art. 1, Cap. I, conclumos que o objetivo geral do ensino de 1 e 2

    Graus o desenvolvimento das potencialidade do educando, auto-realizao, qualificao para o

    trabalho, exerccio da cidadania. O contedo encontra-se estruturado por matrias, sendo que as no

    Ncleo Comum so fixadas pelo C.F.E. e as da parte diversificada so apresentadas pelo C.E.E., e a

    escolha caber ao Estabelecimento de Ensino.O currculo, apesar de ser o instrumento de ao das escolas, tem implcito toda uma Poltica

    Educacional, onde pouco se faz para reformul-lo. Os termos Integrao e Interdisciplinaridade

    comeam a ser introduzidos, basicamente, para designar o estabelecimento de uma hierarquia dos

    contedos das matrias, seja na busca de uma ordenao horizontal ou vertical: currculo a

    seqncia de experincias atravs das quais a escola tenta estimular o desenvolvimento do aluno. A

    verificao do conceito leva a concluir que os problemas afetos ao currculo so os mesmo que

    compem o quadro das cincias pedaggicas. Da, sua constituio requerer um embasamento

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    terico interdisciplinar e envolver a totalidade dos mltiplos setores componentes das instituies

    escolares. (Ind. 1/72 C.F.E.).

    A fim de conferir ao currculo organicidade, logicidade e coerncia, impe-se a necessidade de um

    enfoque global, interdisciplinar, que leve em conta as dimenses filosficas e antropolgicas. (Ind.

    1/72 C.F.E.).

    A Interdisciplinaridade e a Integrao apontadas na legislao tm um sentido restrito integrao

    de contedos de uma mesma disciplina, no contemplando a elaborao de projetos pedaggicos

    que envolvam a globalizao de todas as reas do conhecimento.

    Apesar dos termos Interdisciplinaridade e Integrao aparecerem nos documentos legais referentes

    ao currculo, os mesmos no se destacam na elaborao dos guias curriculares que so trabalhados

    nas escolas as grades curriculares continuam com seus contedos divididos por disciplinas, comcarga horria prpria, e so definidas numa instncia superior.

    De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educao em vigor, lei n. 9394/96 , diz que o ensino

    ser ministrado nos seguintes princpios de liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a

    cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idias e de concepes pedaggicas; gesto

    democrtica , garantia de padro de qualidade, valorizao da experincia extra-escolar, vinculao

    entre educao escolar, o trabalho e as prticas sociais.

    Na dcada da Educao 1997-2007, a abordagem conceitual garante um entendimento mais amploda funo social da educao, buscando uma postura participante, crtica e libertadora no processo

    de construo do exerccio da cidadania plena; com isso a escola precisa estar atenta as mudanas

    que so necessrias a produo do conhecimento e sua contribuio para a formao do indivduo

    dentro do contexto da nossa sociedade.

    Neste contexto, torna-se prioridade ter uma viso consciente sobre a metodologia de trabalho que se

    quer adotar para obter uma formao integral do indivduo na sociedade atual. O propsito deste

    nosso trabalho est exatamente na organizao dos instrumentos que acompanham a educao; otrabalho com projetos numa concepo interdisciplinar proporciona uma aprendizagem muito mais

    rica e estruturada, pois percebemos que os conceitos so organizados em torno de temas/assuntos

    mais globais, de estruturas metodolgicas e conceituais compartilhadas por todos os envolvidos;

    tendo como objetivo a construo do conhecimento e no s adquirir informaes fragmentadas.

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    2.2 Procedimentos metodolgicos e a prtica docente

    O trabalho curricular numa abordagem interdisciplinar impe transmite conhecimento ao aluno,

    mas o que o auxilia a descobrir o construir e a se apropriar dos conhecimentos necessrios para uma

    ao consciente no mundo. Ser professor com a inteno de trabalhar nesta abordagem, exige a

    superao da prtica individual, sem abandon-la, assumindo-a com todas as suas contradies, pois

    parte-se do individual para se buscar o coletivo.

    Todo trabalho interdisciplinar s acontecer a partir de uma proposta de grupo. Alm do contedo

    propriamente dito de cada currculo, conta muito o processo de elaborao, execuo e avaliao de

    cada tema. O processo tambm produz aprendizagens novas. "A prpria organizao das atividades

    didticas deve ser encarada a partir da perspectiva do trabalho interdisciplinar. De fato, respostas a

    perguntas to freqentemente formuladas pelos alunos, em diferentes nveis, como "Para que

    estudar Matemtica? E Portugus? E Histria? E Qumica?" no podem mais ter como referncia o

    aumento do conhecimento ou da cultura, ou ainda, mais pragmaticamente, a aprovao nos exames.

    A justificativa dos contedos disciplinares a serem estudados deve fundar-se em elementos mais

    significativos para os estudantes, e nada mais adequado para isso do que a referncia aos projetos

    de vida de cada um deles, integrados simbioticamente em sua realizao aos projetos pedaggicos

    das unidades escolares" (MACHADO,1997:75).

    Os membros desse grupo devem estabelecer conceitos chaves, ou seja, uma linguagem adequada

    para facilitar sua comunicao, devem delimitar o projeto a ser desenvolvido, repartindo tarefas e

    comunicando os resultados.

    Registrar as etapas do trabalho garante rever os aspectos vividos, exigindo, dessa forma,

    acompanhamento criterioso de todos os seus momentos, possibilitando um aspecto imprescindvel

    numa proposta interdisciplinar: a avaliao.

    Quando pensamos no professor interdisciplinar, estamos falando do profissional que procuraconhecer e est sempre disposto a pesquisar, onde seu compromisso com o aluno est em primeiro

    lugar. O professor o condutor do processo e percebe-se tambm aprendiz. Aprende com os alunos

    e com a equipe responsvel pela elaborao do projeto pedaggico da escola, na troca constante de

    experincias.

    Os currculos interdisciplinares, para os profissionais que se dispem a faz-los, so como projetos

    de vida, nunca separando-os de um projeto coletivo. So profissionais que ousam, buscam o novo,

    novas tcnicas e novos procedimentos, sempre envolvidos em sua totalidade.

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    A competncia, o envolvimento, o compromisso, o trabalho e at a solido marcam a vida do

    profissional com atitude interdisciplinar. Este profissional busca, cada vez mais, conhecer, seja um

    conhecimento de ordem prtica, seja um conhecimento de ordem terica, ou ambos, e estes

    conhecimentos so colocados disposio do grupo.

    Os currculos interdisciplinares acontecem numa escola concebida como espao socializador, onde

    h prtica, hierarquia, mas que permite, nessa insero, a construo de papis, identidades, auto-

    imagens, representaes e valores ticos.

    A Instituio que se prope trabalhar numa proposta interdisciplinar precisa passar por uma

    profunda alterao no processo de capacitao do seu pessoal docente, permitindo que o trabalho

    interdisciplinar concorra para a troca, a reciprocidade. Este processo de capacitao deve estar

    atento: como efetivar o processo de engajamento do educador, num trabalho interdisciplinar,mesmo que sua formao tenha sido fragmentada; como favorecer condies para que o educador

    compreenda como ocorre a aprendizagem do aluno, mesmo que ele no tenha tido tempo para

    observar como ocorre a sua prpria aprendizagem; como propiciar formas de instaurao do

    dilogo, mesmo que o educador no tenha sido preparado para isso; como iniciar a busca de uma

    transformao social, mesmo que o educador apenas tenha iniciado seu processo de transformao

    pessoal e como propiciar condies para troca com outras disciplinas, mesmo que o educador no

    tenha adquirido o domnio da sua. Os Currculos Interdisciplinares s se realizaro com professorese equipe tcnica que estejam efetivamente redefinindo sua prtica, onde a troca faz parte de um

    projeto coletivo. Neste contexto, todos os envolvidos tem muito a aprender e a ensinar.

    Um trabalho coletivo acontece com o envolvimento dos professores, alunos, orientadores,

    supervisores, diretores, enfim, todos, criando um clima de respeito realidade, de participao, de

    liberdade e de integrao.

    Para organizar um trabalho coletivo num projeto interdisciplinar, precisamos pensar em trs

    momentos: o ponto de partida: onde os alunos expressaro suas idias, seus conhecimentos sobre otema/problema em questo. Trata-se de um ponto fundamental, pois ningum chega escola vazio,

    trazendo consigo uma bagagem sobre o mundo que o cerca. Aps anlise, o projeto tomar um

    outro caminho: ser organizado pelo grupo; o desenvolvimento, aqui, criar-se-o estratgias para

    buscar respostas s questes e hipteses levantadas no incio. Nesse momento, a ao do sujeito

    fundamental, pois os confrontos de pontos de vista diferentes permitiro rever hipteses e colocao

    de novas questes. Cria-se, ento, propostas de trabalho que exijam a sada da escola, o uso da

    biblioteca, a visita de outras pessoas escola etc. Nesse momento, do conhecimento existente

    defronta-se com inquietaes, novas dvidas e desequilbrio das hipteses iniciais e a finalizao .

    Desta forma, as novas aprendizagens passam a fazer parte do conhecimento do aluno e serviro de

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    conhecimento prvio para outras situaes de aprendizagens; os projetos so processos contnuos

    que no podem ser reduzidos a uma lista de objetivos e etapas; portanto, devem ser concebidos

    como produo coletiva, onde a experincia vivida e a produo cultural sistematizada se

    entrelaam dando significado s aprendizagens construdas e as aprendizagens servem no s

    reduo dos problemas colocados para aquele projeto, mas que so utilizadas em outras situaes,

    mostrando, assim, que os educandos so capazes de estabelecerem relaes e utilizarem o

    conhecimento sempre que necessrio.

    Para tanto, faz-se necessrio que a escola sempre fornea elementos aos alunos para que construam

    conhecimentos, procedimentos e atitudes que lhes permitam situar-se na sociedade, de maneira

    consciente, crtica, responsvel e solidria; assim, a metodologia do currculo interdisciplinar

    implica em: primeiro, integrao de contedos; segundo, passar de uma concepo fragmentriapara uma concepo unitria e ampla do conhecimento; terceiro, superar a dicotomia entre ensino e

    pesquisa, considerando o estudo e a pesquisa, a partir da contribuio das diversas cincias e quarto,

    o ensino-aprendizagem centrado numa viso de que aprendemos ao longo de toda a vida.

    O conceito chegou ao final do sculo passado com a mesma conotao positiva do incio do sculo,

    isto , como forma (mtodo) de buscar, nas cincias, um conhecimento integral e totalizante do

    mundo frente fragmentao do saber, e na educao, como forma cooperativa de trabalho para

    substituir procedimentos individualistas.A ao pedaggica atravs da interdisciplinaridade aponta para a construo de uma escola

    participativa e decisiva na formao do sujeito social. O seu objetivo tornou-se a experimentao da

    vivncia de uma realidade global, que se insere nas experincias cotidianas do aluno, do professor e

    do povo e que, na teoria positivista era compartimentada e fragmentada. Articular saber,

    conhecimento, vivncia, escola comunidade, meio-ambiente etc. tornou-se, nos ltimos anos, o

    objetivo da interdisciplinaridade que se traduz, na prtica, por um trabalho coletivo e solidrio na

    organizao da escola. Um currculo interdisciplinar de educao dever ser marcado por uma visogeral da educao, num sentido progressista e libertador.

    A interdisciplinaridade deve ser entendida como conceito correlato ao de autonomia intelectual e

    moral. Nesse sentido a interdisciplinaridade serve-se mais do construtivismo do que serve a ele. O

    construtivismo uma teoria da aprendizagem que entende o conhecimento como fruto da interao

    entre o sujeito e o meio. Nessa teoria o papel do sujeito primordial na construo do

    conhecimento. Portanto, o construtivismo tem tudo a ver com a interdisciplinaridade.

    A relao entre autonomia intelectual e interdisciplinaridade imediata. Na teoria do conhecimento

    de Piaget o sujeito no algum que espera que o conhecimento seja transmitido a ele por um ato

    de benevolncia. o sujeito que aprende atravs de suas prprias aes sobre os objetos do mundo.

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    ele, enquanto sujeito autnomo, que constri suas prprias categorias de pensamento ao mesmo

    tempo que organiza seu mundo.

    2.3 A sala de aula e o processo avaliativo na viso interdisciplinar

    A sala de aula um dos locais onde se processa o conhecimento interdisciplinar. O encontro na sala

    de aula um momento privilegiado onde se d o ensino-aprendizagem, o confronto de idias entre

    professor e alunos, entre alunos e alunos. o local da busca de aprimoramento de tcnicas para

    maior racionalizao da construo de contedos, j que a aprendizagem nunca termina.

    Na sala de aula, o dilogo, como em todo o desenvolvimento do projeto pedaggico,

    imprescindvel.

    A metodologia interdisciplinar alicera-se no dilogo e na colaborao, funda-se no desejo de

    inovar, de criar, de ir alm, exercitando a arte de pesquisar, objetivando a capacidade criativa de

    transformar a realidade.

    O professor tem que estar atento para que a sala de aula seja uma oportunidade de ultrapassar

    contedos, seja um local de interao, da descoberta contnua de sujeitos (professores e alunos). A

    sala de aula implica fundamentalmente a relao professor-aluno. Dentro dela, o professor e seus

    alunos vivenciam em tempo parcial e determinado a complexa trama da existncia humana.

    Percebemos que na prtica, o contexto torna-se um espao de indagaes : O sistema educacional

    muito complexo no mbito prtico, so muitos envolvidos neste processo, mas so poucos os que esto

    preocupados e comprometidos a enfrentar tantos obstculos visando a melhoria do ensino.Precisamos ter

    clareza dos objetivos educacionais e qual realmente a nossa parcela de comprometimento para ter uma

    escola que funcione eficazmente. (Chaves, 1995,p.26)

    A sala de aula um local poltico e pedaggico, onde existe um trabalho preocupado com questescomo explorao, dominao, desigualdades, etc. Esse espao precisa ser aproveitado. Um trabalho

    pedaggico em sala de aula que no tiver tais posturas opressivo, apoltico e acrtico.

    O trabalho do professor de socializar questes sociais, polticas, econmicas, ideolgicas, trazidas

    por seus alunos, transformando a sala de aula num lugar dinmico da circulao do saber, saber este

    que ser prazeroso se estiver voltado aos interesses dos alunos.

    Quando falamos do trabalho do professor, na sala de aula, entendemos o trabalho de todos os

    professores envolvidos na proposta pedaggica da escola, que independentemente da sua disciplinatem conscincia da questo maior da Educao: formao integral do sujeito.

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    O professor necessita optar por uma atitude que conduza sua prtica e, consequentemente, a de seus

    alunos, a atos de reflexo, de criao, de humildade frente ao conhecimento de observao, de

    vontade de ir alm, de criar...

    Nas salas de aula onde a atitude interdisciplinar acontece, novos caminhos de ensino e pesquisa se

    abrem, a frente de uma prtica que almeja a concretizao do processo ensino-aprendizagem, desta

    forma no podemos esquecer do processo avaliativo dentro deste contexto.

    Ao se pensar em uma proposta pedaggica, temos como uma das dimenses a avaliao. ela que

    nos permite interpretar a realidade, redefinir metas e processos para desenvolv-las.

    As questes que temos em mente quando falamos em avaliao so: o que avaliar ?; para que

    avaliar?; quem avalia?; quando avaliar? e como e com quais mecanismos avaliar?

    Numa escola com projeto pedaggico interdisciplinar, a avaliao atinge aspectos tanto globais doprocesso, abordando questes ligadas ao fator Ensino-Aprendizagem, como as que se referem

    interveno do professor, ao projeto curricular da escola, organizao do trabalho escolar,

    funo socializadora e cultural, formao das identidades, dos valores, da tica, etc.

    A avaliao acontece para identificar os problemas e os avanos redimensionando a ao educativa.

    Avaliar portanto um processo formativo e contnuo.

    Os responsveis pela avaliao so sujeitos do processo: o grupo dos profissionais da escola, os

    alunos, o conselho escolar, os pais e at as pessoas de outros rgos da Educao.Dependendo do que est sendo avaliado, um ou outro elemento ter mais responsabilidade, devido

    ao maior envolvimento que o projeto lhe exigiu.

    A ao de avaliar deve ser algo contnuo e no circunstancial, devendo portanto, acompanhar todo o

    processo.

    Podemos caracterizar os momentos da avaliao no processo ensino-aprendizagem em trs etapas: a

    avaliao inicial: procuramos conhecer os valores, as atitudes prvias dos alunos, avaliando-os no

    comeo de cada nova fase de aprendizagem. Desenvolve-se essa avaliao a partir de situaesproblematizadoras, onde os alunos revelam o que valorizam e sabem o que gostariam de saber e

    vivenciar; a avaliao contnua: percebemos o grau de avano dos alunos em relao aos objetivos,

    podendo assim, reorientarmos e melhorarmos a ao pedaggica. Vamos avaliar, nesta fase, os

    progressos, os bloqueios, os impasses, durante todo o processo de aprendizagem. Para isso, faremos

    uma observao sistemtica do processo, registrando e interpretando as produes do alunos e a

    avaliao final: identificamos os resultados e levantamos os objetivos para novas aprendizagens.

    Avaliamos, aqui os graus de aprendizagem alcanados a partir dos objetivos e contedos fixados.

    Essa avaliao ser feita no final de uma fase de aprendizagem e se dar a partir de observaes,

    registros e interpretao da produo dos alunos. Faz parte desta avaliao final a Auto-Avaliao.

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    A avaliao no pode ter carter de aprovao ou reprovao, mas servir como diagnstico do

    processo vivido.

    Uma das finalidades dos projetos promover formas de aprendizagem que questionem a idia de

    verdade nica onde o papel da avaliao passa a fazer parte do prprio processo de aprendizagem.

    2.4 O papel da liderana nesta concepo interdisciplinar

    Interdisciplinaridade, ainda que possa parecer algo moderno ou ps-moderno, parece que a idia

    antiga, o termo relativamente novo, mas essa tentativa de superar uma viso fragmentria dos

    objetos e dos acontecimentos, de construrem conhecimento da totalidade das coisas e de permitir

    um intercmbio entre os diversos conhecimentos, uma atitude um pouco antiga.

    Em Aristteles por exemplo, encontramos preocupaes interdisciplinares, quando este, sendo o

    pai da idia de dividir as cincias de acordo com os tipos de objetos para objetos distinto, cincias

    distintas, que teriam metodologia e linguagem diferentes percebeu o perigo que isso representava,

    criando vises parciais da totalidade do mundo. Assim, para superar esses conhecimentos

    fragmentrios, prope unific-los numa totalidade explicativa que seria realizada pela filosofia. A

    discusso aberta por Aristteles perpassou geraes de pensadores e j no sculo XVIII assistimos

    ao surgimento do enciclopedismo, que foi uma tentativa interdisciplinar de reter todas as

    informaes sobre o mundo e sobre o homem num nico livro, mesmo que com vrios volumes. Oobjetivo era que qualquer indivduo pudesse ter acesso ao conhecimento at ento acumulado.

    O fato que as tentativas e aes interdisciplinares no so recentes, porm sua prtica efetiva tem

    sido um desafio constante a ns educadores que acreditamos ser vital educao. Ressaltamos que

    a compreenso de interdisciplinaridade que norteia este trabalho, no a de uma categoria do

    conhecimento, mas de ao e sobre isso que estaremos dialogando interdisciplinarmente.

    Acreditamos portanto, que faz-se necessrio rever os fundamentos que constituem-se em uma

    reflexo indispensvel no sentido de nos capacitar e nos comover interdisciplinaridade.Para Paulo Freire: Conhecer, na dimenso humana, (...) no o ato atravs doqual um sujeito, transformado em objeto, recebe, dcil e passivamente, os contedosque outro lhe d ou impe. O conhecimento, pelo contrrio, exige uma presenacuriosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ao transformadora sobre arealidade. Demanda uma busca constante. Implica em inveno e reinveno.

    Reclama a reflexo crtica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual sereconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o como de seuconhecer e os condicionamentos a que est submetido seu ato. Conhecer tarefa de

    sujeitos, no de objetos. E como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homempode realmente conhecer. Por isso mesmo que, no processo de aprendizagem, s

    aprende verdadeiramente aquele que se apropria do aprendido, transformando-oem apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinvent-lo; aquele que capazde aplicar o aprendido-apreendido a situaes existenciais concretas(Freire.1977, P.27, 28).

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    Numa proposta de currculo interdisciplinar, onde h um projeto pedaggico-educativo, vemos a

    questo do poder sob a forma de liderana, de coordenao, de diviso de responsabilidade.

    Se pensarmos na liderana vinculada a uma atitude inteligente percebemos que podemos caminhar

    juntos, levando pessoas conosco. Sabemos que os caminhos a serem percorridos no sero iguais,

    mas podemos aprender juntos, ao longo dessa caminhada. Hoje precisamos recuperar o sentido da

    autoridade nas relaes pedaggicas, sem autoritarismo. Toda autoridade um valor e garantia de

    liberdade.

    A autoridade constituda e precisa ser aceita, devendo tambm ser respeitada. O profissional com

    autoridade, tendo a ver com liderana, implica num lder que se prope e aceito, nunca um chefe

    que se impe por um recurso de poder. No uso da autoridade, cabe aos profissionais da educao,seja o professor na sala de aula, o diretor, ou o coordenador, auxiliar o processo, provocando a

    socializao.

    O profissional no uso da sua autoridade tem conscincia de que necessria a busca de um

    equilbrio de foras e tendncias. com esforo e disciplina que se constri o equilbrio, muitas

    vezes at com sofrimento. Enquanto o autoritarismo imposto e at produzido por equvocos, a

    autoridade equilbrio. Atrs de um autoritarismo alguma incompetncia se esconde. Enquanto a

    autoridade trabalhada por pessoas humildes, mas firmes, o autoritarismo traz pessoas arrogantes,pois sabem que no so bem recebidas e precisam se impor.

    A autoridade como liderana conquistada no tem nada de policialesca, mas de conquista, respeito

    mtuo, de compromisso e de muitas responsabilidades: caminhar juntos na busca de um ideal

    maior, coletivo.

    Num processo pedaggico interdisciplinar, as relaes de poder acontecem com respeito s

    lideranas que coordenam os trabalhos, atravs de decises que so tomadas no coletivo.

    Quando falamos em prtica interdisciplinar, pensamos numa escola que tem um projeto

    pedaggico-educativo que foi elaborado no por uma nica pessoa, mas que surgiu da necessidade

    de se pensar a escola que queremos, para que serve essa escola e a quem ela atende.

    Do ponto de vista epistemolgico, consiste no mtodo de pesquisa e de ensino voltado para a

    interao em uma disciplina, de duas ou mais disciplinas, num processo que pode ir da simples

    comunicao de idias at a integrao recproca de finalidades, objetivos, conceitos, contedos,

    terminologia, metodologia, procedimentos, dados e formas de organiz-los e sistematiz-los no

    processo de elaborao do conhecimento.

    Interdisciplinaridade um termo que no tem significado, possuindo diferentes interpretaes, mas

    em todas elas est implcita uma nova postura diante do conhecimento, uma mudana de atitude em

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    busca da unidade do pensamento. Desta forma a interdisciplinaridade difere da concepo de pluri

    ou multidisciplinaridade, as quais apenas justape contedos.

    Nesse sentido, no estamos nos referindo interdisciplinaridade como uma teoria geral e absoluta

    do conhecimento, nem a compreendemos como uma cincia aplicada, mas sim como o estudo do

    desenvolvimento de um processo dinmico, integrador e, sobretudo, dialgico. Concordamos com

    FAZENDA, 1988 ao caracterizar a interdisciplinaridade:

    "pela intensidade das trocas entre os especialistas e pela integrao das

    disciplinas num mesmo projeto de pesquisa. (...) Em termos de

    interdisciplinaridade ter-se-ia uma relao de reciprocidade, de

    mutualidade, ou, melhor dizendo, um regime de co-propriedade, de

    interao, que ir possibilitar o dilogo entre os interessados. Ainterdisciplinaridade depende ento, basicamente, de uma mudana de

    atitude perante o problema do conhecimento, da substituio de uma

    concepo fragmentria pela unitria do ser humano" (Fazenda,

    1993,p.31).

    O ponto de partida e de chegada de uma prtica interdisciplinar est na ao. Desta forma, atravs

    do dilogo que se estabelece entre as disciplinas e entre os sujeitos das aes, a interdisciplinaridade

    "devolve a identidade s disciplinas, fortalecendo-as" e evidenciando uma mudana de postura na

    prtica pedaggica. Tal atitude embasa-se no reconhecimento da provisoriedade do

    conhecimento, no questionamento constante das prprias posies assumidas e dos procedimentos

    adotados, no respeito individualidade e na abertura investigao em busca da totalidade do

    conhecimento. No se trata de propor a eliminao de disciplinas, mas sim da criao de

    movimentos que propiciem o estabelecimento de relaes entre as mesmas, tendo como ponto de

    convergncia a ao que se desenvolve num trabalho cooperativo e reflexivo. Assim, alunos e

    professores sujeitos de sua prpria ao se engajam num processo de investigao, redescoberta

    e construo coletiva de conhecimento, que ignora a diviso do conhecimento em disciplinas. Aocompartilhar idias, aes e reflexes, cada participante ao mesmo tempo "ator" e "autor" do

    processo.

    A partir de todos esses referenciais, importante que os contedos das disciplinas sejam vistos

    como instrumentos culturais, necessrios para que os alunos avancem na formao global e no

    como fim de si mesmo.

    Temos ento o desafio de assegurar a abordagem global da realidade, atravs de uma perspectiva

    integradora da aprendizagem. Onde a valorizao centrada, no no que transmitido, e sim no que construdo. Assim a prtica interdisciplinar nos envolve no processo de aprender a aprender.

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    Se o grupo de profissionais da educao, tem clara a percepo do compromisso poltico com a

    sociedade e est preocupado com a necessidade da participao da sociedade para a mudana do

    ensino, da escola, buscar o desenvolvimento de um trabalho produtivo que envolva toda a

    comunidade escolar.

    O grupo de educadores se incorporar luta coletiva para a construo de uma escola competente

    na qual os alunos, em sua totalidade, se apropriaro do saber historicamente acumulado, criando um

    novo saber sobre a sociedade que pretendem transformar.

    Para tal processo haver necessidade da transformao interior desses educadores (professores,

    equipe tcnica pedaggica, administradores). Um no pode impor seu saber sobre os outros, numa

    evidente superposio, pois assim, caminharamos para uma sociedade autoritria, composta de

    homens conformistas.A escola transforma-se quando todos os saberes se pem a servio do aluno que aprende, quando os

    sem-voz tambm podem falar, revertendo assim, um sistema autoritrio, recuperando tambm, sua

    funo social, poltica, cultural e profissional.

    O Administrador Escolar e/ou Diretor, responsvel ltimo por tudo o que acontece na sua Unidade,

    antes de tudo um educador e como tal deve exercer sua funo administrativa como educativa.

    Alm das tarefas especficas de cada profissional da Educao, o orientador, o supervisor, o

    professor e o diretor tm o campo educacional como espao comum, e como instrumento detrabalho comum tm o currculo, entendido num sentido mais amplo, como tudo o que acontece na

    escola e que afeta, direta ou indiretamente o processo de transmisso, apropriao e ampliao do

    saber acumulado pela sociedade. Distinguimos ento, cada profissional pelos meios utilizados pelos

    mesmos para atingir o fim, o que nos permite afirmar que qualquer um dos profissionais citados

    est capacitado a desempenhar qualquer das funes dos demais especialistas, que no

    necessariamente aquela para qual foi habilitado.

    A contribuio de cada um reside na especificidade tcnica da administrao, da superviso, daorientao, do ensino. a partir desta especificidade que se d a ao interdisciplinar. S h

    interdisciplinaridade quando h diferentes formas de ao.

    O processo pedaggico, numa viso dialtica, recupera a totalidade, numa atuao articulada,

    complementando-se nas diferenas.

    Tudo o que acontece na escola: matrculas, horrios, escolha de professores, planejamento, grade

    curricular, seleo de contedos, critrios de avaliao, relao escola-famlia-comunidade, relaes

    internas na escola, limpeza, metodologias, facilitam ou dificultam a aprendizagem, portanto nada

    meramente administrativo ou pedaggico, mas necessariamente administrativo e pedaggico.

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    Todo o contexto em que se d a aprendizagem deve ser avaliado constantemente, pois na reflexo

    coletiva e contnua da prtica pedaggica que ser construda uma escola sria. Esta reflexo

    poltica e pedaggica da prtica escolar que vai responder sobre e quais interesses serve e quem

    o aluno a quem pretendemos servir.

    Para respondermos a estas reflexes precisamos compreender criticamente as relaes que se do na

    sociedade e as relaes escola-sociedade; bem como buscar um processo onde todos participem,

    possibilitando a adequao do currculo clientela atendida.

    A direo com a aquisio dessa nova postura, a partir de um processo de investigao (pesquisa

    coletiva), percebe como sua atuao pode interferir no sucesso ou fracasso escolar; permitindo que

    o currculo fundamentado na interdisciplinaridade seja uma verdadeira atividade coletiva que, em

    pouco tempo, demonstrar sua eficincia na aprendizagem de contedos significativos.

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    Captulo III

    RELATO DE EXPERINCIA NUMA ESCOLA

    PBLICA DA PERIFERIA DE SO PAULO

    O processo de elaborao de um currculo interdisciplinar bastante complexo; estudiosos

    indicam caractersticas de um bom currculo, entretanto, cada instituio/escola deve criar o seu

    prprio, que atenda as suas necessidades e expectativas e que respeite a diversidade do olhar que

    compe a escola: alunos, funcionrios, pais, professores, direo e comunidade; alm disso, o

    currculo deve contemplar as diferentes dimenses: da sala de aula, da escola, do entorno e das

    polticas pblicas.

    A elaborao de um currculo interdisciplinar como uma estratgia de trabalho capaz de

    responder s nossas dvidas e hesitao no contexto do conhecimento cientfico, nos parece o

    melhor caminho para uma aprendizagem significativa.

    Foi o que aconteceu numa Escola Pblica da periferia de So Paulo, segundo os relatos

    registrados na ntegra do caderno da coordenadora pedaggica da poca: No decorrer do ano letivo

    de 1999, muitas questes foram levantadas a cerca do nosso papel como educadores, alm dos

    nossos contedos e planejamentos sobre a aprendizagem dos alunos.

    Dentro do contexto da reflexo de atuais problemas enfrentados dentro da escola com

    relao a violncia e a falta de perspectivas sobre o futuro incerto da vida do adolescente de nossa

    comunidade, onde os meios de comunicao esto frisando a polmica de o que fazer com nossos

    jovens e qual ser o futuro do nosso pas, refletimos muito sobre qual o papel social da escola (...).

    Nos parece fcil tentar indicar proposta para solucionar estes problemas. Esto longe; em outro

    bairro; aconteceu em outra escola! Se compararmos com outras , a nossa realidade boa, porm

    sabemos que existem jovens do nosso lado que esto indo para o abismo sem volta, esto morrendoaos poucos em todos os sentidos; esto se destruindo...

    Entre outras drogas, o alcoolismo nos chamou ateno, por causa de fatos concretos

    envolvendo nossos alunos em situaes de brigas e alteraes de comportamentos, colocando em

    risco a vida dos outros. Afastar este aluno da escola a soluo?. Esta, foi a questo levantada em

    umas da HTPCs (hora de trabalho pedaggico coletivo) pelo professor de matemtica, j que um

    dos fatos aconteceu com um aluno de sua sala de coordenao (o aluno veio falecer, aps um

    acidente de carro, onde estava embriagado). Discutimos muito sobre este assunto: qual o papel da

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    escola neste contexto? Somente informao ou conscientizao a caminho de uma convivncia

    saudvel e de qualidade?

    Mas, nossos alunos j assistiram muitas palestras no ano passado!!!, dizia uma professora. ,

    realmente todos ns temos a informao; em qualquer livro est escrito, e qualquer pessoa tem

    acesso a ele. Ento, por que tantas ocorrncias de indisciplina gerando violncia com palavras,

    desrespeito, agresso fsica, mortes? Ao terminar de ouvir as colocaes dos professores, a

    coordenadora sugeriu: __J que estamos com esta preocupao, vamos fazer um projeto?

    __Mas estamos no final do 3 bimestre! No seria melhor no incio do ano?...disse um

    professor.

    Numa HTPC de 5 feira, resolvemos iniciar um projeto a curto prazo. Discutimos o nome doprojeto, os objetivos e encaminhamentos onde todos pudessem participar. A partir da sugesto da

    prof de Lngua Portuguesa, escolhemos o nome: Projeto Vida, e esta acrescentou: um projeto que

    abranja no somente as drogas, um trabalho que seja eficiente, com objetivos claros, que tambm

    busque a interdisciplinaridade, que se trabalhe no coletivo, que faa diferena...

    At ento, nesta escola s trabalhava com projetos prontos enviados e sugeridos pela

    Secretaria da Educao.

    Descrio resumida dos procedimentos metodolgicos discutidos na equipe: planejamento e

    organizao dos temas e assuntos (cada professor na sua disciplina fez o levantamento dos

    contedos/assuntos a serem abordados com os alunos em sala de aula) como por exemplo:

    Artes( recursos visuais, cartazes, folhetos, propaganda,...); Lngua Portuguesa( Interpretao de

    msicas, escrita de um roteiro de pea de teatro sobre o assunto); Matemtica e Estatstica

    (tabulao da pesquisa realizada com todos os alunos do perodo noturno, atravs de grficos e

    tabelas elaborados pelos alunos na sala de informtica com orientao dos 2 professores da rea);

    Qumica ( a composio qumica das drogas em geral: pesquisas bibliogrficas e exposio terica

    pela professora de qumica da escola); Biologia (os danos causados pelos produtos qumicos no

    corpo humano: pesquisa na internet, revistas, livros, jornais e exposio terica da professora de

    biologia); Geografia ( anlise de documentos oficiais publicados pelos rgos competentes sobre o

    assunto a nvel de pas); Psicologia ( os efeitos psicolgicos e possveis tratamentos

    paciente/famlia); Ingls (com sugesto da prpria professora, esta selecionou vdeos para debate

    sobre os assuntos contemplados no projeto e outros: dinmicas de grupo e debate de tema

    diversificado com professores voluntrios).

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    Definido todos os temas, os professores decidiram que este trabalho seria em forma de

    oficinas; cada professor definiu o seu tema, visando a interdisciplinaridade e o trabalho coletivo

    neste projeto: conversa com os representantes de classe sobre o projeto; socializao entre demais

    professores e escolha de pares por rea de afinidades; elaborao de um questionrio com 15

    questes referentes ao tema Projeto vida que foi feito na HTPC; ficou definido pelo grupo de

    professores, que todos aplicariam o questionrio na 2 aula, no mesmo dia; levantamento de

    subsdios para planejamento das atividades; elaborao do cronograma, ficha de inscrio,

    definio das datas, horrios, locais, materiais didticos e outros...; a participao do grmio

    estudantil no agendamento das palestras; inscrio dos alunos por rea de interesse, seguido de

    mais ou menos quatro alunos por srie na mesma turma, formando assim, participantes de todas as

    sries do perodo noturno; critrios de avaliao foram discutidos no coletivo, levando emconsiderao o envolvimento e responsabilidade de todos os participantes atravs do fechamento

    com exposio dos trabalhos da semana: apresentaes ( teatro, msicas, poesias, jogral, dana,

    painis, pesquisas estatstica e um jornal confeccionado pelos alunos referente a este projeto).

    Depoimentos dos alunos sobre o projeto: entre muitos outros esto: ___O projeto foi a

    melhor coisa na minha opinio, isto , na opinio do meu grupo foi o melhor projeto da escola.

    Achamos que esse projeto melhor porque vai alertar muitas pessoas da escola...(Luiz Carlos,

    Valria , Paula do Ensino Mdio 1 G)

    __Esse trabalho foi uma forma para pesquisar mais a respeito das drogas, doenas, etc.; foi

    bom, pois pude ter contato com alunos de outras sries, pois os trabalhos foram em grupos; cada

    matria um assunto diferente, tivemos a oportunidade de ver o trabalho de cada um: apresentaes,

    de teatro, cartazes com opinies, murais, .. (Fernanda, Patrcia, Fabiana, Rosngela e Priscila, 3 D

    do ensino mdio)

    ... os jovens hoje, deveriam aproveitar essa exposio de cartazes (elaborados pelos alunos

    do projeto vida sobre as drogas), para perceberem o mal que isso faz; pensarem um pouco e

    entender que a vida vale muito mais que alguns minutos de prazer com drogas ( Solange,

    Anderson, Gisele, Eloiza, Vera e Fbio do 2F do ensino mdio)

    ... as aulas desta semana foram muito legais, conhecemos pessoas novas, aprendemos mais

    sobre as drogas e a unio das salas resultou em um timo trabalho, o colgio com certeza vai ganhar

    muito com estas atividades e com certeza os alunos tambm (Kledson 2F)

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    ... ns achamos super interessante ter este projeto vida na escola, a maioria dos

    adolescentes entram nessa, pois tem a mente muito fraca, e tambm vo nos conselhos dos amigos;

    nem sempre amigo amigo. (Luciana, Claudia, Katia do 2E , Jos do 3C e Luiz Carlos da 8E).

    De acordo com a pesquisa realizada com 307 alunos desta escola, os resultados de algumas

    questes foram: Sobre as drogas: 57% s os pais esclarecem sobre as drogas; 13% s a escola

    esclarece; 23% ambos esclarecem; 7% nenhum esclarece;

    - Os alunos conversam com seus pais sobre DST? 37% No ; 63% Sim

    - Os alunos conversam com seus pais sobre sexo? 35% No; 65% Sim

    - Os alunos se preocupam com a AIDS e DST? 96,9% Sim; 3,1% no se preocupam.

    A concretizao deste projeto foi bastante gratificante para todos; o curto espao de tempo

    ofereceu um vnculo de socializao entre professores, coordenao, funcionrios e principalmente

    os alunos. Enfim este projeto interdisciplinar contagiou toda a comunidade, dando novo sentido ao

    processo ensino-aprendizagem.

    Descrevemos aqui apenas 20% do que aconteceu realmente, pois seria necessrio escrever um novo

    trabalho para retratar na ntegra os acontecimentos ocorridos neste projeto.

    3.1 O que prope os Parmetros Curriculares Nacionais - PCNs

    Para o educador Paulo Freire, o professor de Matemtica deve estar to interessado na

    criatividade do aluno quanto o professor de Geografia, de Histria ou de Linguagem.

    Concordamos com esta afirmao, dentre muitos desafios a serem enfrentados na escola este

    o que nos parece vir de encontro com os novos paradigmas educacionais e que so contemplados

    nos parmetros.

    Os Parmetros Curriculares Nacionais constituem um referencial para a educao no Ensino

    Fundamental em todo o Pas, seu propsito orientar e garantir a coerncia dos ensinamentos

    educacionais socializando discusses, pesquisas, orientaes, subsidiando o trabalho dos

    educadores. A proposta aberta, e flexvel, possibilitando contnuo aperfeioamento.

    Eles esto fundamentados na escola como constituio da cidadania, esta supondo o acesso

    de todos os bens culturais relevantes para a interveno e a participao responsvel na vida

    cultural, a escola como uma construo coletiva permanente e suas metodologias como capazes de

    priorizar a construo do conhecimento.

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    Sua estrutura est dividida em: reas do conhecimento, objetivos, organizao dos

    contedos, orientaes didticas, critrios de avaliao. Os objetivos propostos nos PCNs

    concretizam as intenes educativas em termos de capacidades que devem ser desenvolvidas pelos

    alunos ao longo da escolaridade obrigatria.

    Os objetivos se definem em termos de capacidades de ordem cognitiva, fsica, afetiva, de

    relao interpessoal e insero social tica, tendo em vista uma formao ampla e para a cidadania.

    Os contedos propem uma mudana de enfoque em relao aos contedos curriculares ao invs de

    um ensino em que seja visto como fim em si mesmo, o que se prope um ensino em que o

    contedo seja visto como meio para que os alunos desenvolvam as capacidades que lhes permitam

    produzir e usufruir dos bens culturais, sociais e econmicos. Qualquer que seja a linha pedaggica,

    professores e alunos trabalham, necessariamente, com contedo. O que diferencia as propostas a

    funo que se atribui aos contedos no contexto escolar e, em decorrncia disso, as diferentes

    concepes quanto maneira como devem ser selecionados e tratados. Os contedos conceituais

    envolvem fatos e princpios; referem-se construo das capacidades intelectuais para operar com

    smbolos, idias, imagens e representaes que permitem organizar a realidade. J os contedos

    procedimentais expressam um saber fazer, que envolve tomar decises e realizar uma srie de

    aes, de forma ordenada e no aleatria, para atingir uma meta ( aes presentes nas salas de aula).

    Ao ensinar procedimentos tambm se ensina um certo modo de pensar e produzir conhecimento. Os

    contedos atitudinais envolvem valores, normas e atitudes. a escola um contexto socializador,

    gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, aos colegas, s disciplinas, s tarefas e

    sociedade. ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento claro e consciente sobre o que e

    como se ensina na escola.

    As orientaes didticas nos PCNs so subsdios reflexo de como ensinar; esto feitas em

    relao cada tema tratado e bloco de contedos das reas de conhecimento que so: Lngua

    Portuguesa, Matemtica, Histria e Geografia, Artes, Educao Fsica, Cincias Naturais, Temas

    Transversais: tica, Pluralidade Cultural, Orientao Sexual, Meio Ambiente e Sade.

    A avaliao no se restringe ao julgamento sobre sucessos ou fracassos do aluno

    compreendida como um conjunto de atuaes que tem a funo de alimentar, sustentar e orientar a

    interveno pedaggica e acontece contnua e sistematicamente por meio da interpretao

    qualitativa do conhecimento construdo pelo aluno.

    Os Temas transversais no so novas disciplinas curriculares, e sim reas de conhecimentoque perpassam os campos disciplinares. Nesse sentido, importante trabalhar numa perspectiva

  • 8/3/2019 GESTO DA ESCOLA PBLICA

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    interdisciplinar, pois importante articular a transversalidade com a interdisciplinaridade Cada

    cultura, cada sociedade, cada comunidade pode eleger os temas transversais que considerar

    pertinentes.

    Os temas transversais dentro de uma nova perspectiva do processo ensino-aprendizagem,

    so abordados como necessidade de uma formao total do aluno, onde necessrio romper com a

    questo processo cumulativo e transmissivo de conhecimentos.

    A escola sempre esteve organizada pela lgica das disciplinas: Portugus, Matemtica,

    Cincias, Histria, Geografia. Quando temos como objetivo desenvolver integralmente o aluno

    numa realidade mais ampla, podemos questionar essa organizao.

    Diversidade de raas, classes, meio ambiente, afetividade, sexualidade, diversidade cultural,tica, so temas importantssimos que no podem ser ignorados por uma escola que se pretenda ser

    sria e formadora de cidados.

    Estes temas devem propiciar uma imediata reflexo e uma urgente relao entre as

    disciplinas curriculares e os temas contemporneos. No h necessidade de escolher entre o trabalho

    com as disciplinas conhecidas h anos e os temas atuais. preciso que se faa uma interao entre

    ambos. O currculo deve ser constitudo a partir de uma definio coletiva dos temas que se

    apresentam como problemas da atualidade, bem como sua integrao s disciplinas, possibilitando aestas ltimas o relacionamento com a realidade, permitindo s mesmas um valor social.

    O processo ensino-aprendizagem propiciar a formao de alunos sujeitos e capazes de

    construir seus valores, partindo