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7/29/2019 GRAW Alem Da Critica Institucional
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Alm da Crtica Institucional
Isabelle Graw
Isabelle Graw crtica de artes visuais e co-fundadora da revista Text zur Kunst. Professora
de Teoria e Histria da Arte na Universidade de Belas Artes (Stdelschule), em Frankfurt,Alemanha, onde tambm criou o Instituto de Crtica de Arte.
Resumo
No textoAlm da Crtica Institucional, Isabelle Graw inicia por pontuar os problemas das
duas terminologias crtica e instituio separadamente, e como essas palavras compem umtermo engessado e mal compreendido historicamente. Isabelle se interroga como a juno destes
dois temos em um, Crtica Institucional, leva a uma diluio de sentido na contemporaneidade
principalmente quando a crtica prefere canonizar o termo, bem como os artistas que foram
rotulados por ele, como Daniel Buren, Hans Haacke, Michael Asher e Marcel Broodthaers. Tal
atitude afasta novas possibilidades de questionar o mbito institucional e de permitir que essas
mesmas instituies atuem criticamente.
Palavras-chave: instituio, crtica, cnone
Introduo
A prpria deciso de colocar um conceito como o de Crtica Institucional na pauta de
discusso do segundo SoCCAS (Simpsio do Los Angeles County Museum of Art) em junho de
2005, j confronta tanto o apresentador quanto o pblico com inumerveis problemas. Isto no
apenas porque os termos, conceitos e territrios da Crtica Institucional so historicamente
carregados e calorosamente disputados, mas tambm porque eles funcionam como designao para
um tipo de arte que normalmente se supe ter uma funo epistemolgica. A Crtica Institucional
supostamente critica (sinnimos relacionados na literatura, neste sentido, incluem analisa,
revela ou expe) tanto um lugar institucional, literalmente (um museu ou espao de galeria etc)
quanto algum outro aspecto mais amplo de confinamento institucional. Poderamos colocar de outra
forma. O conceito de Crtica Institucional tal como aplicado arte baseado na suposio de que a
arte capaz defazeralguma coisa. A dificuldade desse termo reside, portanto, em ser descritivo e
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normativo ao mesmo tempo. Enquanto nos permite pensar sobre o potencial da arte, ele tende,
igualmente, a confinar a arte numa funo supostamente crtica. Quero sugerir que um resultado da
ao dual dos pressupostos e contextos da Crtica Institucional que a arte sobrecarregada e em
certa medida esgotada.
At mesmo as origens do termo Crtica Institucional esto em controvrsia. Apareceu pelaprimeira vez num texto de Andrea Fraser sobre Louise Lawer escrito em 1985, no qual ela sugeriu
que as abordagens de artistas como Marcel Broodthaers, Daniel Buren ou Hans Haacke, ainda que
diferentes em estilos e materiais, estavam todas em dbito com a Crtica Institucional (1)? Ou
foram os escritos de Benjamin Buchloh os principais responsveis pelo estabelecimento dos
parmetros deste termo, que ele usou no ttulo, - e como o tema - de um importante ensaio sobre a
arte conceitual, "Da Esttica da Administrao Crtica Institucional"? Buchloh certamente
contribuiu para a construo das figuras cannicas associadas com o movimento, ou melhor, eleajudou a garantir que a Crtica Institucional estivesse associada com seus suspeitos usuais - Daniel
Buren, Hans Haacke, Michel Asher, e Marcel Broodthaers. (2) Se voc perguntar a testemunhas
oculares quais artistas tiveram seus trabalhos subsumidos sob este rtulo, na maior parte elas no
conseguem se lembrar de quando exatamente ouviram o termo pela primeira vez, ou quem em
particular o colocou em circulao. Talvez Christopher Williams esteja certo. Ao ser entrevistado
em um filme recente de Rene Green, ele deu a seguinte explicao, levemente temperada com
teoria da conspirao: o termo foi propagado primeiro pelo Whitney Independent Studies Program e
comeou a conquistar o mundo desde ento comeando em New York ... e seguindo em frente.
Embora essa teoria tenha os seus mritos como especulao histrica, o termo foi reapropriado
novamente no incio da dcada de 1990 por uma gerao mais jovem de artistas, cujo trabalho pode
ser lido como uma srie de diferentes tentativas para continuar a rever algumas das premissas da
Crtica Institucional (3).
O problema segue dividido em trs partes. Primeiramente, considerarei as dificuldades
terminolgicas contidas no termo Critica Institucional, apontando para os limites deste
conceito/prtica enquanto tambm insisto nas idias e realizaes histricas que ele mediou. Em
segundo lugar, discutirei a institucionalizao da Crtica Institucional, abordando a violncia
estrutural do rgido, e naturalmente excludente, cnone que ela gerou. Eu opto, sempre, pela
necessidade de consideraessituacionais, porque certamente h momentos e locais, como na
esfera comercial do mundo da arte, em considerao dos quais se torna absolutamente necessrio
insistir nas idias mais fundamentais da Crtica Institucional. Devo ressaltar algumas delas: a de que
o valor no intrnseco obra de arte, mas que lhe atribuda atravs de operaes financeiras; que
a produo e outros contextos de uma obra de arte so necessariamente interiorizados e exprimidos
como parte de sua significao; ou, mais simplesmente, que faz diferena quando museus pblicos
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so geridos por administradores.
claro que existem outros tempos e circunstncias, digamos, nos circuitos internacionais
baseados em projetos das Manifestas e Bienais, onde as coisas ficam mais complicadas. Aqui
muitos curadores, instituies, tericos e artistas, implicitamente ou no, se identificaram com as
vrias premissas da Crtica Institucional. Basta apenas pensar no modo como as investigaes"crticas" so aceitas por certos curadores - ou por todas as publicaes onde a "criticalidade"
apresentada de forma esquemtica e atribuda, como se fosse quase auto-evidente, a este ou aquele
trabalho de arte (4). Mas, como essa criticalidade geralmente afirmada ao invs de ser definida, e
assumida ao invs de se criar um modo operacional especfico, o resultado geralmente a
neutralizao das prprias possibilidades para uma prtica artstica realmente crtica crtica no
sentido de levantar objees e gerar problemas em uma situao particular.
Ao confrontar tal neutralizao, parece necessrio analisar como as competncias artsticasgeralmente associadas Crtica Institucional (pesquisa, trabalho de equipe, assumir os riscos
pessoalmente, e assim por diante) alimentam, s vezes bastante perfeitamente, aquilo que os
socilogos Luc Boltanski e Eve Chiapello descreveram como "o novo esprito do capitalismo"(5).
Por outro lado, simplesmente insistir no potencial da Crtica Insitutional ou apontar seus limites no
o suficiente. Sob a luz do novo poder de definio do mercado de arte e as atuais mudanas
estruturais no que antes era chamado de "mundo da arte", proponho deixar ambas as dificuldades
terminolgicas e o cnone para trs a fim de - na ltima seo, abaixo - tentar formular uma
redefinio do que "instituio" e "crtica" poderiam e podem significar hoje.
Dificuldades terminolgicas
NoDictionary of the Terms of Contemporary ArtDumont(2002) Crtica Institucional
descrita por Johannes Meinhardt como uma atitude a favor da arte. De acordo com Meinhardt, esta
atitude pode ser encontrada em trabalhos de arte e procedimentos estticos que investigam
analiticamente as condies de enquadramento institucionais e sociais(6). Tal definio lana luz
sobre os problemas inerentes e realizaes do conceito. Ao assumir a capacidade de ativamente
investigar algo, quando definida desta maneira, a Crtica Institucional implica na funcionalizao da
arte. Certamente, as funes epistemolgicas tm sido freqentemente projetadas, de uma forma
bastante estereotipada, sobre as prticas artisticas classificadas sob a rbrica de Crtica Institucional.
Tipicamente, os termos arte ou obra de arte, so substitudos por interveno ou
proposio, descries que claramente pressupem uma orientao funcional. Mas esta re-
nominao uma faca de dois gumes. H, por um lado, a vantagem inegvel de permitir que nos
livremos de uma noo de arte idealista, substancialista, e restritiva por insistir numa legibilidade
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inscritiva da arte - na relao atual da arte com as condies sociais e na possibilidade
concomitante de renegoci-las. Esta uma viso qual sou bastante ligada e que considero como
uma necessidade histrica e poltica que no se pode abandonar.
Por outro lado, h um certo reducionismo operando quando as funes crticas, tais como
"investigao"ou "anlise" so reivindicadas para as obras por meio de generalizaes infundadas esem o exame de como e quando a suposta investigao ou anlise ou negociao tomam o
lugar do trabalho. Seguir esta questo sugere que mesmo a vaca sagrada do readymade torna-se
inconsistente, entendido, como geralmente , como a cena primria da Crtica Institucional e
consequentemente interpretada, nos termos de Meinhardt, como um exame das condies de
enquadramento institucional ou discursivo(7). Olhando mais de perto, enquanto o readymade um
mecanismo de delimitao de tipos, ele tambm manifesta aspectos especficos da sensibilidade
artstica de Duchamp, apresentando-se como o resultado de uma escolha que pessoal e especfica e no simplesmente arbitrria, como muitas vezes alegado. Elementos do processo do
readymade at mesmo se aproximam da idia de uma assinatura artstica. Da mesma forma, no
poderia o trabalho de Mel Bochner,Measurement room (1967), ser considerado no apenas como
uma anlise da realidade material das paredes da galeria como dispositivo de enquadramento,
como Miwon Kwon argumentou, mas tambm como uma intensificao literal dos seus parmetros,
como uma espcie de "homenagem" s condies materiais e as propores do espao da galeria?
(8)
Contudo, talvez uma certa dose de reducionismo seja o preo necessrio a pagar quando se
quer romper com um sistema dominante de crenas que ainda insiste que as qualidades
supostamente intrnsecas da arte, apenas, justificam seu valor. Um trabalho comoManet Projekt
(1974) de Hans Haacke mais atual do que nunca quando demonstra o processo de construo de
valor como uma sucesso de operaes financeiras entre uma seqncia de proprietrios. To
importante quanto isso insistir sobre a relevncia de fatores externos que se anexam s obras e so
negociados atravs delas, essa necessidade estratgica que passou por uma transformao e agora
serve frequentemente como uma licena para reduzir proposies artsticas complexas a uma funo
epistemolgica ou significado aparentemente inequvocos. A arte supostamente deveria "negociar"
questes, "investigar" ou "intervir"- e estas funes epistemolgicas so esquematicamente
projetadas sobre ela como se fossem um assunto que realmente fosse capaz de abordar. Mais uma
vez, s dar uma olhada em alguns dos inmeros exemplos de publicaes distribudas por
galerias, museus, e outras instituies para aprender a lio de que quanto mais as funes da crtica
atribudas ao trabalho de arte parecem ser auto-evidentes, melhor ser o seu valor promocional.
H trabalhos que facilitam tais rotulagens crticas basta pensar na popularidade atual de
Santiago Sierra. Esse problema est longe de ser novo tem sido amplamente discutido desde o
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final dos anos 1990 tanto por artistas como por crticos. Os crticos reagiram tomando mais em
conta o vocabulrio esttico-formal. Argumentaram a favor de significados mveis, o que causou
novos problemas dado o alto nvel de abstrao desta escolha e a sintonia com o interesse geral do
mercado por uma segunda ordem, um quase sublime neo-formalismo. Os artistas reagiram tornando
suas proposies mais poticas, multifacetadas ou obscuras, o que traz a desvantagem de s vezestornar o trabalho quase fora de contexto e sem contedo.
A Instituio Dentro de Ns
O termo Crtica Institucional , em si, uma construo paradoxal j que sugere a crtica de
uma instituio que em si institucional uma crtica no apenas dirigida s instituies e seus
crticos, mas tambm uma crtica da natureza institucional, por assim dizer. O duplo panorama destacrtica nos faz lembrar de duas coisas o entrelaamento profundo entre artistas e instituies e o
grau em que as instituies tm determinado a forma ou o sentido das obras feitas especialmente
para ou sobre estas. Pode-se at chegar a dizer que as instituies apresentam aos artistas o
caminho.
A institucionalizao progressiva de obras identificadas com a Crtica Institucional uma
questo que tem frequentemente preocupado os artistas. Buren apresentou uma reflexo incisiva em
1980, onde o problema no era que a instituio impedisse experimentaes de acontecer, mas que,
ao contrrio, incentivou os artistas a produzir obras que se assemelhassem ou se conformassem com
a instituio, sendo asim facilmente aceitas (9). Quando o curador Yves Aupetitallot pediu a alguns
artistas que produzissem obras para um local especfico, para oFirminy Projectno "Unit
d'habitation" de Le Corbusier , em Firminy, na Frana (1993), me lembro de vrias discusses entre
artistas e crticos sobre o que significava ser bem acolhido pela instituio e educadamente
convidado (e pago) para examinar criticamente um local e interagir socialmente com este. Uma
viso que surgiu pressupunha uma abrangente cooptao, uma totalizao que levaria a uma
paralisia total. (Uma observao: o termo "cooptao" em si problemtico, pois implica a
existncia de um estado puro ou inocente "antes" da cooptao o que , naturalmente, uma
fico.) Em outra parte, as tentativas mais produtivas caminharam no sentido de renegociar as novas
restries e novas liberdades que resultaram do avarento mercado por conhecimento e informao
um mercado que, por vezes coexiste, por vezes se sobrepe, e quase sempre no tem nada a ver com
o que acontece na esfera comercial.
Na dcada de 1990 um novo tipo de instituio de arte surgiu, incluindo Depot em Viena ou
Kunstraum Lneburg que so claramente identificadas com alguns dos princpios associados
Crtica Institucional. Ao optar por "pesquisa", "documentao", "trabalho em equipe", "no-
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hierarquia", "transparncia", ou "discusso", seus mtodos de trabalho foram, ao mesmo tempo,
completamente coniventes com os valores neoliberais. Este foi especialmente o caso, com esta
nfase na comunicao, que correspondeu com a tendncia da indstria cultural de transformar a
"capacidade comunicativa humana em mercadoria", como diz Paolo Virno. (10) Recordo meu
crescente ceticismo sobre o potencial crtico da chamada "prtica ps-ateli". Comecei a olhar paramodelos artsticos mais tradicionais, aparentemente conservadores, como o pintor obcecado no
ateli, que recusa explicaes, no se relaciona, nunca viaja, raramente aparece em pblico e,
portanto, recusa o espetculo do acesso direto s suas competncias cognitivas e emocionais. Diante
da tendncia do capitalismo de englobar todas as pessoas e ao mesmo tempo incentivara
investigao crtica, parecia-me uma estratgia valiosa novamente produzir obras altamente
mediadas no ateli, onde, pelo menos teoricamente, no h acesso direto possvel.
Embora seja verdade que algumas instituies de arte adotaram a Crtica Institucional, eucertamente no chegaria ao ponto de sugerir que isto completamente intil para se exercer
qualquer "exerccio crtico" dentro destas, como Olafur Eliasson colocou de forma bastante
condescendente em uma conversa recente com Daniel Buren (Artforum, maio de 2005). Deixe-me
enfatizar, ao contrrio, que este simplesmente no o caso em que "no h um 'l fora'" ou que at
mesmo a proposio mais ultrajante, inevitavelmente, ser absorvida pelas instituies, conforme
Buren e Eliasson parecem acreditar. Pelo contrrio, h algumas proposies que permanecem
"fora". A fim de construir uma instituio (o termo "instituio" deriva etimologicamente de
"instalao", o que significa montar ou colocar em) um exterior constitutivo no apenas
necessrio, mas inevitvel. Algumas coisas vo ser sempre deixadas de fora, muitas vezes,
deliberadamente: estruturalmente falando, cada centro produz sua periferia. Alm disso, se levarmos
em conta que as instituies de arte tm praticamente transmitido a autoridade para o novo mercado
de arte e que os artistas associados Crtica Institucional raramente alcanam posies importantes
na esfera comercial, chegamos concluso de que no h nenhuma razo para jogar o beb fora
junto com a gua da banheira. Eu optaria pela seguinte abordagem: insistir no potencial
investigativo da Crtica Institucional, especialmente em face da nova entidade empresarial do
museu, enquanto se trabalha em novas e mais adequadas definies de "instituio" e "crtica".
Outro Cnone
A histria e as realizaes da Crtica Institucional devem ser consideradas neste momento
como canonizadas de forma bem sucedida. Esta possui uma lista de nomes-chave, os suspeitos de
costume que mencionei acima, que constam como seus principais representantes: Daniel Buren,
Michael Asher, Marcel Broodthaers, e Hans Haacke. Mesmo que eu entenda perfeitamente a
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necessidade estratgica de se estabelecer este cnone, acho que um tanto surpreendente que a lista
de custo seja quase inconscientemente reproduzida e raramente modificada pelos jovens
historiadores da arte. Na verdade, esse rol de protagonistas tem sido iterado e petrificado em
detrimento de muitos artistas cujos mtodos de trabalho - independente da forma que suas
investigaes possa tomar - tambm poderiam ser descritos como mtodos de questionamento oumesmo de ataque instituio de arte, especialmente se estes contm todo um sistema de crenas.
Por exemplo, parece ser uma regra no definida no mbito da arte dominante historcamente
narrativa, ao menos, que a Crtica Institucional nunca pode ser manifesta na pintura.
Gostaria de propor, ao contrrio, que os primeiros trabalhos de Jrg Immendorff sejam bons
candidatos para incluso no cnone, j que eles expem a falncia da tradio da "arte"ou do
"artista". Sua prpria ambio desesperada para ser ao mesmo tempo bem sucedido e politicamente
responsvel foi impiedosamente tematizada no seu livro de artistaHier e Jetzt: Das tun, foi ist zutun (1973). Ele estava to envolvido com a luta poltica quanto irremediavelmente comprometido
com o sistema de galerias.
Podemos tambm considerar algumas das proposies de Martin Kippenberger, atualmente
o sujeito de uma quase santificada canonizao como o pai da pintura figurativa no mundo inteiro.
Quando convidado para expor no Centre Pompidou, em 1993, ele batizou sua exposio como
"Candidature une retrospective", desafiando diretamente e zombando da instituio de arte e sua
poltica de reconhecimento. Ao invs de esperar calmamente at que fosse considerado
suficientemente importante para uma retrospectiva de grande porte, optou por uma estratgia mais
agressiva e retrada. Sua iniciativa ousada simultaneamente questionou o papel regulador da
instituio de arte, sua ambio de recompensar "bons" artistas que "mereceram"e "trabalharam
duro", assim como atacou a grande illusio do mundo da arte - termo de Pierre Bourdieu para o
investimento coletivo e crena em todo um sistema de valores de uma estrutura. (11) Kippenberger
props que algo mais, de modo geral, poderia estar em jogo uma vez que ele insistiu em um
conjunto de outros - no menos duvidosos - critrios de valorizao, que geralmente permanecem
ocultos. O convite trazia a imagem de seu crculo de amigos ntimos e admiradores reunidos por
ocasio de seu 40 aniversrio. Embora ele se apresente como uma espcie de artista dos artistas
que no precisa de reconhecimento institucional, este convite exibe as redes informais e leis de
proteo que definem a vida como um "mundo de conexes" (Boltanski e Chiapello). Tais acordos
informais so raramente expostos, embora muitas vezes legitimem a poltica cultural oficial. (Outra
observao: o prprio Kippenberger foi profundamente influenciado por artistas como Louise
Lawler e Andrea Fraser, cujos trabalhos podem ser vistos como um lembrete constante do fato de
que no so apenas as supostas qualidades intrnsecas da arte que levam ao reconhecimento
institucional desta, mas uma interao de atividades promocionais, sociais e institucionais).
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Quando o Antigo Mundo da Arte se transforma em Indstria Cultural
Agora, as dificuldades certamente no param por aqui. O termo Crtica Institucional coloca
novos problemas, pois dois conceitos se fundem no termo cada um com sua prpria carga histrica:"instituio", por um lado, e "crtica", por outro. Consideremos o breve histrico das inflexes do
termo "instituio" em apenas um segmento social, o mundo da arte. Correndo o risco de
simplificar demais, gostaria de esboar o que se segue. Dois entendimentos convergentes de
"instituio" atravessaram os anos formadores da Crtica Institucional na dcada de 1970: primeiro,
uma designao bastante limitada de instituio como uma instituio de arte (ou seja, museus,
galerias) exemplificada nas abordagens de Buren e Asher. Lendo os textos de Buren, por exemplo,
percebe-se que para ele "instituio" sempre foi sinnimo de "museu". Esta noo restritiva implicauma compreenso topogrfica, que tem a inegvel vantagem de permitir intervenes muito
concretas e precisamente circunscritas. Quando Buren refletiu sobre a "funo do museu", como ele
chamou, ele analisou a forma como este define, valida, enquadra, isola, exclui, e naturaliza. til
com este sentido, tal noo limitada facilitou a fixao sobre o mecanismo da arte, ignorando o fato
de que no s mudou-se a natureza do termo, mas tambm que este perdeu muito de sua antiga
autoridade. Esta fixao sobre o mecanismo da arte parece estranhamente nostlgica hoje,
especialmente em relao ao novo poder de definio do mercado de arte, que tomou o comando
dos museus como principais gestores de valor em uma rede onde as transaes globais nos
mercados primrio e secundrio so quase sempre invisveis (12).
Por outro lado, de forma no tanto topogrfica, noes mais expansivas de instituio esto
em circulao desde os anos 1970, como foi evidenciado pelo trabalhoJournal Series (1976), de
John Knight, por exemplo. Neste projeto, o artista enviou assinaturas gratuitas no solicitadas para
membros da comunidade artstica, antecipando a maneira pela qual a lei da cultura de celebridades e
as regras da indstria de entretenimento alojam-se no mundo da arte atualmente No momento,
somos confrontados com uma situao em que o modelo do sistema de galerias com a sua estrutura
de comrcio varejista foi substitudo por fuses globais de grande porte, como a "Houses & Wirth &
Zwirner" ou a "Gagosian". O antigo mundo da arte se tornou o que podemos demominar como uma
"indstria visual" vagamente similar a outras indstrias culturais como a de Hollywood ou o mundo
da moda, que cada vez mais parece imitar. O programa da indstria visual implica que a visualidade
e os seus significados j no so produzidos por protagonistas singulares (artistas, galeristas,
curadores). Ao invs disso, a responsabilidade pela produo e distribuio de imagens e seu
contedo est nas mos de entidades maiores, incluindo franquias internacionais e conglomerados
multinacionais. Estruturas corporativas no podem mais ser localizadas, j que atuam num espao
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transnacional. Da mesma forma, as transaes no mercado secundrio - decisivas para o valor
comercial de uma obra de arte, ao menos - so pouco compreensveis. O novo poder do mercado de
arte se manifesta, ento, na substituio de critrios artsticos por imperativos econmicos. Um
artista que considerado economicamente bem sucedido, ser visto, quase automaticamente, como
"importante" ou "interessante" tanto por galerias, curadores, e muitos crticos. Em contraste com asituao em 1960, quando o papel das instituies de arte podia ser considerado decisivo no
processo de validao, estamos vivendo o paradoxo de uma proliferao de instituies de arte que
continuam a organizar e acolher a experincia da arte, que se caracteriza, como Buren colocou, pela
"incrvel fraqueza". Museus so dirigidos por curadores que tendem a reproduzir o consenso
reinante no mercado de arte - como constatado pela coleo de arte contempornea no Museu de
Arte Moderna de Nova York. Talvez devssemos parar de cham-los de "museus" definitivamente,
j que esta palavra conota, etimologicamente, a sua atribuio a alguma forma de produo deconhecimento, e encontrar um novo termo.
O termo "crtica" sofreu mudanas semnticas semelhantes e reconceituaes orientadas
para a prtica. Para uma gerao anterior, como Hans Haacke, o conceito de crtica parecia
depender de um ideal de distanciamento crtico. Artistas mais jovens, incluindo Andrea Fraser,
Christian Phillip Mller, Rene Green, e Fareed Armaly (note como eu mesma estou reproduzindo
um cnone, agora) basearam seu trabalho, em parte, na conscincia de que essa suposio de
distncia ou separao entre o agente de entrega da crtica e seu suposto objeto sempre foi uma
fico que no pode e no deve ser reproduzida nas atuais circunstncias. Sua obra prope uma
noo de crtica renegociada com base na admisso de que a "distncia crtica" comprometida a
priori. Alm disso, o que a princpio parece ser "crtico", pode ser um gesto totalmente inofensivo
em circunstncias diferentes. Se refletir sobre os parmetros institucionais j foi algo que a
instituio considerou preocupante, hoje algo aceito, bem-vindo, e mesmo apoiado, por muitas
instituies, que ativamente convidam artistas para investig-los. Crtica, em suma, pode se tornar
uma prtica reificada que alimenta o apetite voraz do capitalismo.
Novas formas de convergncia entre crtica e capitalismo foram analisadas pelos socilogos
ve Chiapello e Luc Boltanski em seu poderoso e ambicioso estudo, The New Spirit of Capitalism
(1999). (13) Mas sua narrativa postula novamente uma viso bastante pessimista e totalizante de um
capitalismo abrangente capaz de absorver qualquer tentativa de question-lo. Correndo o risco de
soar ainda mais prescritiva ao final da minha discusso, eu gostaria de contrariar esta viso fatalista,
com um apelo para consideraes situacionais. Em determinados momentos e contextos, se
perguntarmos ao cnone dominante, ou atacarmos o consenso atual, ou insistirmos em critrios
outros que no os interesses econmicos, ou recusarmos noes subdesenvolvidas de criticalidade,
ou mostrarmos como a crtica pode se tornar instrumentalizada, ou afastarmo-nos do que Pierre
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Bourdieu chamou de "espao de possibilidades"... podemos expandir e deslocar o horizonte de
constituio daquilo que possvel. Certamente, tais intervenes no impediro a mquina
capitalista de funcionar. Mas quero insistir que podemos romper com um sistema de crenas,
enquanto participantes se isso implica a crena na economia, ou uma crena no menos duvidosa,
mas enftica, na arte. Ambas tendem a desviar-nos do fato de que algo realmente est em jogo emcertas obras de arte em um determinado momento. Desta forma, ao insistir em "outros critrios",
parece-nos mais adequado observar a arte da maneira como circula neste meio - seja no mercado
secundrio ou no mercado do conhecimento - "sem iluses" (como Walter Benjamin exps s
vsperas da 2 Guerra Mundial, enquanto lutava para compreender a obra de Charles Baudelaire).
(14) Ao mesmo tempo, no entanto, parece ser necessrio manter uma noo de arte que seja crtica
no sentido de que ela levanta questionamentos ou coloca problemas.
No tenho certeza se Crtica Institucional o termo correto para tal esforo, j que suacanonizao to profunda at agora que difcil imaginar como os seus preceitos podem ser
regenerados e as suas formas e significados reformulados. Talvez o legado da Crtica Institucional
encontre-se em sua exigncia de que ns levemos em considerao suas lies, a fim de deix-las
para trs.
Notas
1 Andrea Fraser, "In and out of Place," em Reesa Greenberg, Bruce W. Ferguson e Sandy
Nairne, eds., Thinking about Exhibitions, Routiedge, New York 1996, p. 437-449; publicado pela
primeira vez emArt in America, Junho de 1985, p. 122-129.
2 Benjamin H.D. Buchloh, "From the Aesthetics of Administration to Institutional Critique,"
L'art conceptuel, une perspective, Muses d'Art moderne de la Ville de Paris, 1990.
3 Isabelle Graw, "Jugend forscht (Armaly, Dion, Fraser, Mller)," em Texte zur Kunst,
Outono de 1990, vol. 1, no.1, p.163-175.
4 Daniel Buren identificou este desdobramento em 1980: "O problema hoje no identificar
em que medida a instituio funciona como um amortecedor [literalmente,"pastilha de freio"] sobre
as experincias e trabalhos, mas sim, como esta conduz a produo de obras com os quais tem
afinidade, e que, compreensivelmente, aceita," in "Rund umPunktesetzen,'"Achtungl Texte 1967-
1991, Verlag der Kunst, Dresden, Basel 1995, p. 331-348, aqui, p. 340.
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5 Ver Luc Bottanski e Eve Chiapello, The New Spirit of Capitalism, trad. Gregory Elliott,
Verso, New York 2005, publicado pela primeira vez comoLe Nouvel Esprit du Capitalisme,
Gallimard, Paris 1999.
6 Ver o verbete de Johannes Meinhardt sobre "Institutionskritik" [Crtica Institucional] em
Hubertus Butin, ed.,DuMonts Begriffslexikon zur zeitgenssischen Kunst, Dumont, Cologne 2002,
p. 126-130.
7 Ver tambm Frazer Ward, que caracteriza o readymade como um "gesto epistemolgico"
em The Haunted Museum: Institutional Critique and Publicity, October, vol. 73, Vero de 1995, p.
71-89.
8 Miwon Kwon, "Genealogy of Site Specificity, One Place After Another: Site-Specific Art
And Locational Identity, MIT Press, Cambridge, Massachusetts, 2004, p. 11-31, aqui p. 14.
9 Ver Daniel Buren, "On Institutions in the art system," p. 340-341.
10 Ver Paolo Virno,A Grammar of the Multitude, Semiotext(e), New York 2004, p. 61.
11 Ver Pierre Bourdieu, "TheIllusio and the Work of Art as Fetish," emRules of Art:
Genesis and Structure of the Literary Field, Stanford University Press, Stanford 1999, p. 227-230.
12 Em sua contribuio para "O Novo MoMA", uma discusso entre quatro crticos do novo
edifcio para o Museu de Arte Moderna de Nova York (Artforum, vol. 43, no. 6, Fevereiro de 2005),
Benjamin H.D. Buchloh expressa apenas pena para as obras de arte contempornea que "refletem a
confiana ingnua de seus criadores em um mecanismo do mundo da arte e do museu que
aparentemente pretendem habitar, como se os tempos no tivessem mudado e como se seu estatuto
privilegiado de criadores de "arte moderna", continuasse a ser incondicionalmente garantido."
13 Ver a nota 5.
14 Walter Benjamin observou "o reconhecimento precoce do mercado, sem iluses" de
Baudelaire, em The Paris of the Second Empire in Baudelaire, Charles Baudelaire,A Lyric poet
In the Era of High Capitalism, trad. Harry Zohn, Verso, New York 1989.