I JucaPirama Análise Estilística

207
7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 1/207 Darcilia Simões Juliana Theodoro Pereira (Estagiária Voluntária PIBIC) Novos Estudos Estilísticos de I-Juca-Pirama (Incursões semióticas) 2005 Produzido em Projeto de Iniciação científica UERJ (PIBIC 2003-2005) 

Transcript of I JucaPirama Análise Estilística

Page 1: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 1/207

Darcilia Simões Juliana Theodoro Pereira

(Estagiária Voluntária PIBIC)

Novos Estudos Estilísticos de

I-Juca-Pirama

(Incursões semióticas)

2005

Produzido em Projeto deIniciação científica UERJ

(PIBIC 2003-2005) 

Page 2: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 2/207

 

FICHA CATALOGRÁFICA 

Correspondências para:UERJ/IL - a/c Darcilia Simões

R. São Francisco Xavier, 524 sala 11.139-FMaracanã - Rio de Janeiro: CEP 20 569-900Contatos: [email protected]  

[email protected] 

 Novos Estudos estilísticos de I-Juca-Pirama (Incursõessemióticas) / Darcilia Simões; Juliana Theodoro Pereira(Est. Vol. PIBIC) — Rio de Janeiro: Dialogarts, 2005. p. 208Publicações DialogartsBibliografia.ISBN 85.86837-20-2

S469

1. Estilística. 2. Língua portuguesa. 3. Gonçalves Dias.4. Semiótica. I. Simões, Darcilia - II. Juliana TheodoroPereira – III - Universidade do Estado do Rio de Janeiro.Departamento de Extensão. IV. Título.

CDD.869.1B

Page 3: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 3/207

Copyrigth @ 2005 Darcilia Simões

Publicações Dialogarts

(http://www.darcilia.simoes.com)

Coordenadora/autora do volume:

Darcilia Simões – [email protected] 

Co-coordenador do projeto:

Flavio García – [email protected]  

Coordenador de divulgação:

Cláudio Cezar Henriques: [email protected]  

Diagramação e Revisão:

Juliana Theodoro Pereira - [email protected]  

Logotipo: Rogério Coutinho

Centro de Educação e Humanidades

Faculdade de Formação de Professores – DELE

Instituto de Letras – LIPO

UERJ- DEPEXT – SR3 - Publicações Dialogarts 

2005

Page 4: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 4/207

SUMÁRIOPREFÁCIO...................................................................................................6 

CAPÍTULO I: PRESSUPOSTOS PARA A ANÁLISE DE UMPOEMA.........................................................................................................8 

1.1. Algumas informações sobre a Estilística: ...................................... 9 

1.2. Para quem ainda não tem familiaridade com a Semiótica: .......... 10 Explicitando a relação triádica:........................................................ ... 11 

CAPÍTULO II: GONÇALVES DIAS, O ROMANTISMO E ASLETRAS NACIONAIS..............................................................................18 

2.1. A criação literária nacional e o estilo romântico.......................... 18 2.2. O Poeta .......................................................... .............................. 21 2.3. A linguagem gonçalvina .............................................................. 23 2.3.1. Poesia Indianista .......................................................... ............. 24 

CAPÍTULO III: “ESTILÍSTICA, A LÍNGUA NACIONAL E ALEITURA”..................................................................................................29 

1.  Literatura, reinvenção da língua e criação da identidade

lingüística nacional brasileira. ............................................................ 34 2.  Vozes literárias na construção da língua do Brasil ..................... 38 3.  Estilo e estilística – marcas de identidade................................... 41 4.  Gonçalves Dias e sua contribuição ao estilo nacional ................ 42 5.  A importância da leitura numa perspectiva estilística................. 46 

CAPÍTULO IV: I-JUCA-PIRAMA..........................................................49 

4.1. Contextualização da Obra............................................................ 49 4.2.2 -- Critérios para a atualização da grafia do poema..................... 54 4.2.3 -- Mostra das alterações gráficas realizadas............................... 57 4.3. Análise estilística:........................................................... ............. 64 4.3.4. Canto IV: ............................................................... ................... 83 4.3.5. Canto V:........................ ............................................................ 93 4.3.6. Canto VI: ............................................................... ................... 99 4.3.7.Canto VII: .................................................. .............................. 109 4.3.8.Canto VIII:............................... ................................................ 114 4.3.9. Canto IX: ............................................................... ................. 121 4.3.10. Canto X:.................... ............................................................ 124 

CAPÍTULO V: ANÁLISE SEMIÓTICA...............................................128 

4.4.1. Canto I ......................................................... ........................... 129 

Page 5: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 5/207

4.4.2. Canto II ........................................................ ........................... 135 4.4.3. Canto III............................................ ...................................... 138 4.4.4. Canto IV............................................................................ ...... 140 4.4.5. Canto V................................................................... ................ 147 4.4.6. Canto VI............................................................................ ...... 152 4.4.7. Canto VII ............................................................... ................. 160 4.4.8. Canto VIII.................... ........................................................... 163 

4.4.9. Canto IX............................................................................ ...... 168 4.4.10. Canto X............................................................ ..................... 173 CONCLUSÃO..........................................................................................180  

ANEXO I: TEXTO INTEGRAL DO POEMA I-JUCA-PIRAMA:....183 

ANEXO II: GLOSSÁRIO:........................................... 200 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:.................................................204 

Page 6: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 6/207

Prefácio

Estudos estilísticos são sempre bem-vindos e oportunos por ratificarem a posição fundamental da Estilística emqualquer atividade com a Linguagem. Não carece deadvogados de defesa, já que é importante por si mesma, alémde suas possíveis e infinitas relações. Felizmente, em nossosdias, são poucos os que – por preconceito ou por falta de visãolingüística – não percebem a plenitude e o alcance de taisestudos, pondo em dúvida sua relevância.

Por meio da Estilística, podemos apre(e)nder aFonologia, a Morfologia, a Semântica e o Léxico. Constitui-seem disciplina completa na abordagem do fazer lingüístico.

O trabalho em questão  Novos Estudos Estilísticos de I- Juca-Pirama (Incursões semióticas) - oriundo de Projeto deIniciação Científica integrado pela estagiária voluntária JulianaTheodoro Pereira - confirma essa idéia. Se o anterior jámostrava um estudo sério e cuidadoso, a nova versão, bastanteampliada, oferece prestigiosa e decisiva contribuição para que,apresentando como corpus  um texto clássico, se vivencie aquestão estilística em profundidade.

Se é verdade que nenhuma análise esgota as possibilidades estilísticas, esta, que as autoras trazem a público,transita por diversas áreas que esclarecem, com bastante

 propriedade e embasamento teórico adequado, fatosrelacionados a I-Juca Pirama.

Observando o sumário, constatamos a objetiva e claraestruturação do estudo, tornando-o acessível a todos os que seinteressarem em obter mais subsídios sobre o assunto.Contemplam-se, aqui vários níveis de ensino.

Page 7: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 7/207

Apesar da atual versão vir enriquecida por novoscapítulos, não há, devido à linguagem coloquial utilizada,dificuldades para o entendimento do texto, mesmo que trate deconhecimentos específicos, como a Semiótica, por exemplo.

A Leitura e a Literatura são mencionadas,

contextualizando o autor e a obra, mostrando sua importânciana perspectiva estilística.

Assim, a pesquisa revela-se consistente em seus propósitos e finalidades, contribuindo para a permanência e aatualidade da abordagem em questão, apontando caminhos, sobóticas diversas.

Obras como esta, sem dúvida, confirmam a relevânciada Estilística no panorama dos estudos lingüísticos, enfatizandosua dupla face de tradição e modernidade.

Maria Teresa Gonçalves Pereira

Doutora em Letras Vernáculas

Professora Titular de Língua Portuguesa da UERJ

Coordenadora do Doutorado em Língua Portuguesa

da UERJ

Page 8: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 8/207

Capítulo I: Pressupostos para a análise de um poema

A intenção deste estudo é uma análise semiótico-estilísticado poema “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias, com vistas adiscutir os seus efeitos expressivo-comunicativos ali inscritos

 pelo poeta. Esta perspectiva também abarca fatores contextuais

ou sócio-históricos.

É por meio da estilística que se tem acesso a um conjuntode “instruções” sobre o funcionamento eficaz das formas dedizer. Também é de interesse estilístico a escolha do registroque, por sua vez, vai determinar a seleção vocabular e ascombinações sintagmáticas que mais se adaptem à formulaçãotextual pretendida.

Ao lado da estilística vem a semiótica, tomando os signosverbais ora como ícones, como índices ou como símbolos

(classificação genérica) e viabilizando a seleção da seleção e arecombinação mais oportuna e eficaz, associando a necessidadeexpressiva à interpretabilidade do texto. A semiótica trata do

 processo de semiose (ou geração de sentido) e, aliada àestilística, consegue subsidiar interpretações mais sustentadas

 pela cadeia sígnica e menos sujeitas ao impressionismoanalítico.

Pode-se dizer que há duas questões fundamentais quandoeste tipo de análise está em jogo. No nível semiótico, oestudioso deve se perguntar: “por que isto significa o que

significa?”; no nível estilístico, a questão seria: “o que isto pode provocar no leitor, enquanto impressão ou sugestão?”

Vejamos o que dizem Darcilia Simões e Vera Fontana deCastro a respeito da dimensão estilístico-semiótica:

Page 9: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 9/207

“(...) a semiótica combinada com um plano deanálise da língua que, a nosso ver, pode apontar,com maior precisão, os requintes deexpressividade e da impressividade que semanifestam nas estruturações lingüísticas: o planoestilístico. Ao lado da semiótica, a estilística senos mostra o meio mais eficiente de compreensão

de um texto, pelo simples fato de entender-se agramática do texto como algo além da gramáticanormativa”. (Simões & Castro, 2000: 140-1).

Ainda segundo essas autoras, esta seria uma análisecomplexa, uma vez que a estilística e a semiótica são camposdistintos de observação do signo. Esta possui uma ótica maisampla e mais filosófica, enquanto que aquela apresenta uma

 perspectiva mais restrita, já que é exclusivamente lingüística.

1.1. Algumas informações sobre a Estilística:

Ciência ou técnica criada por Charles Bally, discípulo deSaussure, em 1902. Estuda os efeitos da afetividade e dosrecursos expressivos da língua; os processos de que se servemas línguas para deixar ver a carga emocional que quase sempreacompanha o enunciado. Avalia o poder de expressão de cadaelemento do texto, verificando se a escolha vocabular se ajustaà situação lingüística concreta. É evidente que as normasobrigatórias pertencem à Gramática, e as facultativas àEstilística. Melhor dizendo: a Estilística viabiliza até mesmo atransgressão deliberada de normas gramaticais em benefício damaior expressividade e comunicabilidade do texto.

Roman Jakobson, do Círculo Lingüístico de Praga, nãocostumava empregar o termo “estilística”. Preferia falar em“função poética” em vez de “estilo”, o que é compreensível, já

Page 10: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 10/207

que a estilística melhor se caracteriza pelo emprego especial(não-usual) dos signos. Juntamente com a análise do uso,observam-se também os significantes.

 No momento de uma análise estilística, duas indagaçõeselementares devem ser feitas. A primeira refere-se à intençãodo autor (observada com muitas restrições e critérios); asegunda preocupa-se com a impressão do leitor. A estilística

 permitiu a mistura entre a norma e o que é efetivamenteempregado, observando-se que um uso de acordo com o padrãonem sempre será o mais eficaz na realização das intençõesexpressivo-comunicativas do autor.

1.2. Para quem ainda não tem familiaridade com aSemiótica:

Segundo Simões1 (2002) a ciência que nos ensina a “ver” por intermédio da exploração de todos os nossos sentidos,usando-os como “antenas” de captação de mensagens verbais enão verbais, visíveis e invisíveis na estrutura dos textos comque interagimos diuturnamente. E dessa capacidade de verresulta a faculdade de produzir imagens cuja plasticidadeviabiliza a re(a)presentação do sentido/percebido por meio deum signo de segunda instância que, a seu turno, dará origem araciocínios simbólicos e reguladores da interpretação: o

Interpretante Coletivo. 

Pode ainda ser entendida como o estudo das relaçõesentre códigos: fonético (falado) e alfabético (escrito), noâmbito dos estudos lingüísticos. Preza pela linguagemenquanto Lógica. Segundo ECO (1991), cinco conceitos

Page 11: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 11/207

dominam todas as discussões semióticas: signo, significado,metáfora, símbolo e código.

1 SIMÕES, Darcilia. “Semiótica: ciência, método e interdisciplinaridade”.In Caderno Seminal nº 13- Ano 8 – 2002 – UERJ- Dialogarts.

A semiótica americana, cujo representante principal éCharles Sanders Peirce (1839-1914), guiará nossa análise. A

 postulação fundamental do semioticista se resume em: osignificado de um signo é um outro signo. Segundo Peirce, umsigno representa algo que substitui algo, para alguém, em certamedida e para certos efeitos, e que sempre nos faz conheceralgo mais. Foi ele quem trouxe o enfoque triádico(primeiridade, secundidade e terceiridade) do fenômeno dasemiose, que constitui o processo de geração de significação e

sentido. Para ele, a semiose implica a cooperação do signo, doseu objeto e de seu interpretante, compondo assim uma relaçãotriádica.

Explicitando a relação triádica:

• signo - significante, nome

• objeto - referente que traz a informação queo signo deveria conter – realidade

• interpretante - um “supercódigo” construído pela comunidade usuária daquele código -significado, conceito / interpretante coletivo= senso-comum. 

Page 12: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 12/207

 Diretamente ligada ao estudo semiótico encontra-se aPragmática, que pode ser definida como o estudo dadependência essencial da comunicação para com o contextolingüístico. Em meio à determinada situação, podemosencontrar noções que ali não estavam previstas, o quecaracterizaria o fenômeno semiótico da multiplicação e

saturação dos códigos.

A poesia talvez seja o campo mais fértil para a linguagem-objeto. Toda poesia recupera e (re)propõe o mundo real:interpretante concreto, em sentido peirceano. A ambigüidadeviva fundamental do signo poético diz que o signo tende ou

 pretende ser o seu referente-objeto sem deixar de ser signo.Polissemia parece ser uma noção débil para explicar o processode multissignificação de um poema, onde cada letra é um íconeintersemiótico que se desdobra em inúmeros significados e

significantes.

1.1.1. Considerações acerca do Signo:

Uma definição usual para signo é a de qualquercoisa que representa algo que ali não pode estar. Toda palavra ésigno, visto que representa uma idéia, um ente, um ser, etc.Segundo Saussure (1972),  signo é uma entidade duplaindissociável resultante da associação entre um conceito

(significado; sinal interno e natural) e uma imagem acústica(significante; sinal externo e convencionalizado). Esta relaçãoé enriquecida pela contextualização da fala ( parole). Assimsurge o referente, que serve de baliza para a determinação dosignificado de uma palavra até atingir-lhe o sentido negociado

 pelo texto. Este termo representa o emprego de determinadosigno em dado contexto ou situação.

Page 13: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 13/207

 Quanto ao signo lingüístico, o modelo peirceano

apresenta uma perspectiva triádica, diferente da visão dual deFerdinand de Saussure. Para Peirce, todo signo deve ser lidoem três níveis: sintático, semântico e pragmático:

• a leitura sintática é puramente formal, de inter-relaçãode elementos, de estruturas.

• a apreciação semântica é um exame das relações signo-objeto com seu significado básico, denotativo (função).

• a análise pragmática é a leitura no nível das relações dosigno com o usuário-consumidor, ou seja, com ointérprete do signo.

Para Peirce, todo signo (ou representâmen, já querepresenta algo que ali não pode estar) exprime imediatamenteum objeto imediato  (que se poderia definir como seuconteúdo), mas para dar conta de um objeto dinâmico. Ointerpretante, como revelado na correta compreensão do

 próprio signo, costuma ser chamado de significado  do signo.De acordo com a semiótica americana, um signo podedesdobrar-se em:

• Ícone - signo que mantém uma relação desimilaridade com o objeto a que representa.

• Índice - signo que se apresenta em relação decontigüidade com o objeto a que representa.

Page 14: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 14/207

• Símbolo - signo que sugere para além dosignificado imediatamente atribuível a ele com

 base num sistema de funções sígnicas, umsignificado indireto. Como exemplos de símbolos,

 podemos citar metáforas e onomatopéias.

Peirce define como símbolo todo signo ligado ao próprioobjeto em virtude de uma convenção. Enquanto o índice serefere ao próprio objeto em virtude de caracteres próprios(similaridade), o símbolo “é um signo que se refere ao objetoque ele denota em virtude de uma lei, habitualmente umaassociação de idéias gerais” (Eco, 1991: 205). Ainda de acordocom o pensamento peirceano, nenhum signo é em si mesmoapenas um símbolo, um ícone ou um índice, mas contém, em

 proporções diversas, elementos das três modalidades. Em todocaso, é certo que, para Peirce, o termo símbolo  não sugere

nunca a presença de um significado vago ou impreciso.

1.1.2. O processo interpretativo

“O saber lingüístico é simultaneamente individual einterindividual” (Carvalho, 1973: 243). A afirmação deHerculano de Carvalho pode ser relacionada ao processointerpretativo, visto que este consiste em, uma vez recebido otexto, determinar nele as relações significativas que o autor

quis manifestar, de maneira a fazer em sentido inverso, ocaminho percorrido pelo emissor. A finalidade básica de tal processo parece ser a perfeita coincidência entre aquilo que oreceptor entende e o que o emissor teve intenção de transmitir.

A interpretação comporta essencialmente três fases deidentificação:

Page 15: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 15/207

1a) das entidades lingüísticas de que se compõe o texto;2a) dos respectivos valores significativos;3a) da realidade, o que constitui precisamente a

compreensão, meta e termo final do processointerpretativo.

A língua está sempre e necessariamente inserida emsituações sócio-culturais e abarca “formas de trabalho”lingüísticas e não-lingüísticas. Todo texto implica um contextosociológico e psicológico que deixa traços nos enunciados;logo, a significação das palavras só pode ser transmitida a

 partir dele, além da situação semântica.

Em um sistema semiótico de comunicação, a intenção decomunicação de um locutor ou a interpretação de um receptorescaparão sempre, por causa da sua singularidade, à análise. Otexto dito literário carece da co-produção do leitor. Apesar de oobjetivo primordial do autor ser a produção de um determinadosentido, pode-se afirmar que, ao mesmo tempo, a abertura dasignificância textual, o viver-se o plural do texto, seja tãoimportante quanto. Além disso, a Semiótica reconhece ointérprete como autônomo em relação ao enunciador.

Qualquer sistema de significação comporta um plano deexpressão e um plano de conteúdo. A significação coincidecom a relação entre os dois planos.

 Neste ponto, talvez seja interessante trazer à tona adiferença entre significado e sentido. Ambos surgem da relaçãodos signos com seus intérpretes:

• significado: algo imediatamente ligado aovocábulo (ou item léxico) – termo, via de regra,dicionarizado

Page 16: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 16/207

• sentido: é abstrato e fugaz, pois se situa nas mentesdo autor e do leitor.

Como no ato de leitura (interpretação) o que se busca éefetivamente o sentido, semiótica e estilística vêm ganhandocontornos de maior relevância, uma vez que suas teorias

alicerçam a discussão da tessitura textual e viabilizam aconstrução de paradigmas de análise consistente, bastantediferentes de modelos anteriormente praticados que deixavamno leitor a sensação de um trabalho de cunho quase esotérico.

A linguagem poética quebra a linearidade da sintaxeverbal, recuperando as qualidades físicas e sensíveis do objeto.Por isso, o texto poético requer um observador extremamenteatento, para que este possa saborear toda a delícia que uma

 poesia pode oferecer. Nesta perspectiva, a Semiótica traz uminstrumental muito rico que permite ao observador (leitor,

intérprete) examinar o objeto poético como um construto plástico, icônico.

A análise semiótica atravessa a camada semântica,abarcando também dados referentes ao contexto em que a obrafoi produzida; permite que se examinem “os limites dos signosno plano da denotação e a infinitude da semiose no plano daconotação” (Simões, 2001: 97). Por enquanto, podemosconcluir que tal ciência nos permite ir a fundo na compreensãode um texto ou de qualquer expressão verbal ou não; apesar denão perder-se de vista que a perfeita depreensão de tudo que o

autor quis nos oferecer dependerá do trabalho investigativo decada um.

“A obra literária é, portanto, um signo seminterpretante final, no sentido que Peirce dá a essaexpressão. A obra continuará aberta a

Page 17: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 17/207

interpretações imprevistas ate mesmo por parte deseu autor”. (Nöth, apud Simões & Castro, 2000:145).

Levando-se em conta que a análise de um texto demandaconhecimento das relações históricas que o emolduram, na próximaseção, serão trazidos à cena elementos relativos ao estilo românticoque caracterizou a fase indianista de nossa literatura e no qual seinsere “I-Juca-Pirama”, de Gonçalves Dias.

Page 18: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 18/207

Capítulo II: Gonçalves Dias, o Romantismo e as LetrasNacionais

2.1. A criação literária nacional e o estilo romântico

Para uma melhor compreensão da obra de Gonçalves

Dias, faz-se necessária uma breve introdução ao movimentoromântico em sua primeira fase. O nacionalismo e a temáticaindígena destacaram-se no período e estão presentes noclássico poema que é objeto desta pesquisa.

O Romantismo inicia uma nova etapa na literatura, mudao foco excludente até então determinado e abre espaço paratemas até então não-poéticos. As transformações políticas esociais e demais assuntos diretamente ligados ao cotidiano dohomem comum passaram a povoar páginas da literaturanacional. Opunha-se à arte clássica, buscando novas formas deexpressão, identificadas com os padrões mais simples da classemédia e da burguesia. Dentre suas características principais,destacam-se o emprego de uma linguagem mais direta esimples, além da ênfase no sentimentalismo e naespontaneidade.

O movimento destaca o homem emotivo, intuitivo e psicológico, desprezando o racionalismo dos Iluministas. Arelação artista/mundo é mediada pela emoção, o que reflete umgrande envolvimento do poeta com o tema. Sentimentos comosaudade, tristeza e desilusão são constantes. É notável umacerta preocupação com as sugestões sonoras, provocadasatravés de ritmos, sonoridades e de uma cuidadosa seleçãovocabular. Os românticos não seguiram os modelos greco-latinos e prezaram por uma maior aproximação entre obra erealidade. Todavia, a predominância da subjetividade fez com

Page 19: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 19/207

que, por diversas vezes, a realidade fosse retratada parcialmente.

Além de ser uma reação à tradição clássica, oRomantismo adquire, na literatura brasileira, a conotação deum movimento anticolonialista e antilusitanismo, ou seja, de

rejeição à literatura produzida na época colonial, em virtude doapego dessa produção aos modelos culturais portugueses.Estados de pureza e inocência passam a ser valorizados, bemcomo a natureza, a infância e o índio. Pode-se depreender queos escritores românticos nacionais se voltariam para a naturezaexuberante, para o exótico do Brasil. De acordo com essecontexto, percebe-se que vários fatores contribuíam para odesenvolvimento de uma literatura ufanista.

Os principais temas da primeira fase do Romantismo brasileiro que se destacam na obra de Gonçalves Dias são o

nacionalismo e o indianismo:

a) Nacionalismo - Conceito abrangente, já que engloba aidéia de nação, de povo e de uma identidade cultural que osrepresenta. A questão da identidade nacional foi uma

 preocupação de nossos artistas desde o período colonial; porém, as obras apresentavam apenas alguns vestígios danatureza ou da vida social do Brasil, caracterizando umaliteratura de cunho nativista. Foi somente no Romantismo quea temática nacionalista recebeu destaque, sendo Gonçalves

Dias um dos primeiros poetas brasileiros a se preocupar com a produção de uma literatura genuinamente nacional.

Visto que o Romantismo surge no Brasil pouco depois daIndependência, percebe-se um empenho dos primeiros artistasem definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos:língua, etnia, tradições, passado histórico, diferenças regionais,

Page 20: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 20/207

religião, etc. O nacionalismo é o traço essencial da produçãocultural brasileira identificada com suas próprias raízeshistóricas, lingüísticas e culturais.

 b) Indianismo - Em toda a cultura ocidental, verifica-se ointeresse dos românticos pelas origens de seu país, de seu povo

e de sua língua. O Brasil não fugiu a essa regra, e, aqui, o índiocumpriu o papel de nosso passado medieval vivo, estando suaidealização relacionada com o projeto nacionalista doRomantismo. Ele representa o elemento nativo, as verdadeirasorigens, opondo-se ao português colonizador e sua cultura.

O indígena encarna o ideal do “bom selvagem” de Jean-Jacques Rousseau, do homem que é primitivamente puro, masque se perverte no convívio com a sociedade. O nativoconverte-se em herói, em um legítimo representante do nosso

 passado e da nossa tradição, feito à imagem e semelhança de

um cavaleiro medieval. Porém, o que torna nosso índiodiferente é o fato de ele não ser fruto apenas da fantasialiterária, mas por estar vivo nas matas brasileiras.

Os autores do período, à exceção de Gonçalves Dias, parecem ter ignorado a cultura indígena em suas obras. Onativo é idealizado, cheio de boas virtudes, e, por diversasvezes, assemelha-se ao homem branco em suas ações. Estaimagem positiva do indígena nos é apresentada através dedescrições minuciosas, constantes comparações e amplametaforização. Acima de tudo, na sua condição  de primitivo

habitante, o índio é o próprio símbolo da nacionalidade.

Gonçalves Dias foi quem implantou e solidificou a poesiaromântica em nossa literatura. Sua obra pode ser considerada arealização de um verdadeiro projeto de construção da cultura

 brasileira. O poeta, buscando captar a sensibilidade e ossentimentos de nosso povo, criou uma poesia voltada para o

Page 21: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 21/207

índio e para a natureza brasileira, numa linguagem simples eacessível.

2.2. O Poeta

Gosto de afastar os olhos de sobre a nossa arena política para ler em minha alma, reduzido àlinguagem harmoniosa e cadente o pensamentoque me vem de improviso, e as idéias que emmim desperta a vista de uma paisagem ou dooceano -- o aspecto enfim da natureza. Casarassim o pensamento com o sentimento, a idéiacom a imaginação, fundir tudo isto com osentimento da religião e da divindade, eis aPoesia -- grande e santa -- a poesia como eu acompreendo sem a poder definir, como eu a sintosem a poder traduzir. (Gonçalves Dias, 1959:

101)

Assim Gonçalves Dias definia a poesia ao apresentar seusPrimeiros Cantos -- palavras do Prólogo à primeira edição, queora retomamos para abrir a apresentação do poeta que inspiroueste estudo.

Antônio Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão,em 10 de agosto de 1823. Era filho de um comerciante

 português com uma mestiça. Além de poeta, foi professor,

crítico de história e etnólogo. Estudou Direito na Faculdade deCoimbra. Por volta de 1840, integrou-se ao grupo dosromânticos nacionalistas. Poeta consagrado, teve apoio doimperador, recebendo assim, várias comissões para viagens eestudos, a fim de conhecer de perto os grupos indígenas dasterras brasileiras.

Page 22: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 22/207

Toda a sua obra de caráter literário foi escrita até 1854.Em 1847, publicaram-se os Primeiros cantos, com as “Poesiasamericanas”; no ano seguinte, os Segundos cantos  forameditados. A fim de vingar-se dos seus censores, conformeregistram historiadores, o poeta escreveu as Sextilhas de frei

 Antão, em que a intenção aparente de demonstrar

conhecimento da língua o levou a escrever um “ensaiofilológico”, num poema escrito em idioma misto de todas asépocas pelas quais passara a língua portuguesa até então. Em1851, saíram os Últimos cantos, encerrando a fase maisimportante de sua poesia.

A melhor parte da lírica dos Cantos inspira-se na natureza,na religião, mas, sobretudo no caráter e temperamento deGonçalves Dias, podendo-se assim afirmar que sua poesia éeminentemente autobiográfica. A consciência da inferioridadede origem, a saúde precária, tudo lhe era motivo de tristezas.

Os críticos atribuíram-nas ao infortúnio amoroso do autor, porém, parecem desconhecer que a grande paixão do poetaocorreu depois da publicação dos Últimos cantos.

 Nomeado para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros, permaneceu na Europa de 1854 a 1858, em missão oficial deestudos e pesquisa. Em 1856, viajou para a Alemanha e, na

 passagem por Leipzig, em 1857, o livreiro-editor Brockhauseditou os Cantos, os primeiros quatro cantos de Os Timbiras,compostos dez anos antes, e o  Dicionário da língua tupi.Voltou ao Brasil e, em 1861 e 1862, viajou pelo Norte, pelos

rios Madeira e Negro, como membro da Comissão Científicade Exploração. Em 10 de setembro de 1864, embarcou para oBrasil, vindo de Havre. O navio em que estava naufragou, no

 baixio de Atins, nas costas do Maranhão, em 3 de novembro de1864, sendo o poeta a única vítima do desastre, aos 41 anos deidade.

Page 23: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 23/207

Obras: Primeiros contos, poesia (1846); Leonor de Mendonça,teatro (1847); Segundos cantos  e Sextilhas de Frei Antão,

 poesia (1848); Últimos cantos  (1851); Cantos, poesia (1857);Os Timbiras, poesia (1857); Dicionário da língua tupi (1858);Obras póstumas, poesia e teatro (1868-69); Obras poéticas,org. de Manuel Bandeira (1944); Poesias completas e prosa

escolhida, org. de Antonio Houaiss (1959); Teatro completo (1979).

Após estas breves palavras sobre o poeta, serão tecidasalgumas considerações acerca de sua linguagem.

2.3. A linguagem gonçalvina

A linguagem poética de Gonçalves Dias não se limita a

uma questão de palavras. Deve-se atentar para a métrica, arima, o ritmo, a imagística, a linguagem, a técnica expressional(enjambement, ou encavalgamento) e a temática. Suasconstruções apresentam uma sintaxe ideológica, lírica.Também fez uso de versos brancos. Produziu certas passagenssem rimas, a fim de melhor exprimir as sensações do eu-lírico,em contraste com as rimas abundantes em outras passagens deseus poemas. A rima aparece no galanteio, nas canções, no“canto de morte” de “I-Juca-Pirama” e nos poemas líricos; masnão está presente quando se quer expressar a fúria sonora, agraça idílica.

Gonçalves Dias preocupou-se com a precisão, com o rigore com a beleza da expressão, sem descuidar-se do estilo. Deacordo com um dos grandes estudiosos do poeta, GladstoneChaves de Melo, “Gonçalves Dias renovou o léxico da língua,ressuscitando palavras esquecidas, empregando bem latinismosmuito adequados, e enriqueceu-o (...)” (Melo, 1992: 21).

Page 24: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 24/207

À época do autor, não se falava em duas normas, uma portuguesa, outra brasileira. Mas não se pode dizer queGonçalves Dias fora um “lusitanista”: no terreno do léxico, foium dos pioneiros no emprego de vocabulário indígena, do qualera profundo conhecedor. Empregou palavras tupis correntes,outras raras, e muitas por ele inventadas, além de tirar partido

do fato de as palavras se apresentarem rimadas: cunhã/Tupã;tajá/inajá; ipê/igaretê...

A língua portuguesa era íntima ao poeta. Não que aconhecesse das gramáticas, mas da prática, dos tratos comescritores de todas as épocas. Por isso, regras de metrificaçãonão o incomodavam, tampouco o preocupavam, pois ele criavaas suas próprias, de acordo com a necessidade de expressãonum e noutro momentos, segundo ele, o texto deveria conter o

 pensamento em sua plenitude, mas não a metrificação.

2.3.1. Poesia Indianista

 Neste contexto, está a poesia indianista do poeta maior,onde ele nos passa uma visão geral do índio brasileiro, emcenas ou costumes ligados a um índio qualquer, de identidadecomum. O índio gonçalvino é um modelo padrão, sem

 personalidade idealizada, porém simbólica. Pode-se perceberque Gonçalves Dias exalta o sentimento de honra do índio nosseus costumes tribais em seus versos. Esta era a visão pitoresca

da vida americana sob a lente do romantismo com veia poéticanova e surpreendente ao leitor habituado à tradição européia.

O índio presente em suas obras é verdadeiro, não-idealizado (cf. Peri, de José de Alencar, e suas atitudes nobres e

 polidas).

Page 25: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 25/207

Transcrevemos aqui trecho de O Guarani (Cap. VIII TrêsLinhas):

O pobre selvagem ergueu os olhos ao céu numassomo de desespero, como para ver se, colocadoduzentos palmos acima da terra, sobre as grimpasda árvore, poderia estender a mão e colherestrelas que deitasse aos pés de Cecília.

Eis então um trecho de  I-Juca-Pirama  (Canto IV – 1a.estrofe):

Meu canto de morte,Guerreiros, ouvi:Sou filho das selvas,

 Nas selvas cresci;Guerreiros, descendoDa tribo tupi.

Esta colagem de textos visa a demonstrar as perspectivasdiferenciadas dos dois artistas (José de Alencar e GonçalvesDias) na representação do indígena brasileiro. Peri (de OGuarani) é desenhado com estilo delicado e sensível; ao passoque I-Juca-Pirama (o que vai morrer) é mostrado como um serendurecido, rude.

O autor, definitivamente, não foi influenciado peloconvencionalismo árcade, em que o índio é um mero acessórioe simboliza o exótico, nem pelo Romantismo europeu, que

retratava o herói nacional como um mito. Ao contrário,substitui a ideologia pela realidade humana do índio. A figuraindígena em seus poemas também difere das narraçõesfolclóricas, nas quais o índio exerce sua superioridade sobre ohomem branco por meio da astúcia, da manha. Para GonçalvesDias, o importante era o sentido do heróico, o culto à lealdade ea beleza moral. O índio de Gonçalves Dias, ainda idealizado,

Page 26: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 26/207

não se propunha um super-herói, mas o retrato de um ser que,apesar de sua natureza rústica e selvagem, guiava-se porrígidos padrões de usos e costumes.

O autor mostra-se autêntico quanto à temática indígenaem três pontos:

•  pelo sangue: era filho de uma índia guajajara comum português

•  pelo conhecimento direto dos indígenas com osquais conviveu (quando menino e nas excursões

 pela Amazônia)

•  pelos estudos que realizou ( Brasil e Oceania, Dicionário da língua tupi, etc.)

 Ninguém conseguiu criar versos tão líricos quantos os queGonçalves Dias dedicou às crenças e tradições dos índios brasileiros, por ele considerados como verdadeirosrepresentantes de nossa cultura nacional. Isto talvez se deva aofato de o poeta ter possuído grande conhecimento sobre a vidaaborígine e por fazer uso épico e lírico de um índio ainda não-corrompido pelo homem branco.

A figura do indígena ganha tons míticos e épicos dentroda poesia, capazes de trazer à tona toda a sua harmonia com anatureza, sua honra, virtude, coragem e sentimentos amorosos,

mesmo que isso muitas vezes signifique uma imagemidealizada e exacerbada de sua vida cotidiana. É, apesar detodo esforço nacionalista, o resquício da visão que os povos daEuropa tinham do selvagem da América, aliada a uma tentativade conciliação entre imagem do silvícola e os ideais e honrasdo cavaleiro medieval europeu, fartamente cantado noRomantismo. Mais do que uma vigorosa exaltação

Page 27: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 27/207

nacionalista, alguns dos versos que Gonçalves Dias dedicouaos índios servem e muito para denunciar os três séculos dedestruição que os colonizadores impuseram a sua cultura.

Além de seus poemas indianistas, Gonçalves Dias tentouelaborar uma epopéia intitulada  Os Timbiras. Era um projeto

ambicioso: os índios substituindo os heróis gregos, numa Ilíada brasileira, tropical, com abundantes e coloridas descrições daflora e da fauna. A narrativa teria como eixo a formação edispersão do povo timbira. A obra, contudo, permaneceuinacabada, tendo sido publicados apenas os quatro primeiroscantos.

Os indígenas, com suas lendas e mitos, seus dramas econflitos, suas lutas e amores, sua fusão com o branco,ofereceram-lhe um mundo rico de significação simbólica. Aobra indianista está contida nas "Poesias americanas" dos

Primeiros cantos, nos Segundos cantos  e Últimos cantos,sobretudo nos poemas "Marabá", "Leito de folhas verdes","Canto do piaga", "Canto do tamoio", "Canto do guerreiro" e"I-Juca-Pirama", este talvez o ponto mais alto da poesiaindianista. É uma das obras-primas da poesia brasileira, graçasao conteúdo emocional e lírico, à força dramática, aoargumento, à linguagem, ao ritmo rico e variado, aos múltiplossentimentos, à fusão do poético, do sublime, do narrativo, dodiálogo, culminando na grandeza da maldição do pai ao filhoque chorou na presença da morte.

Eis o trecho ( I-Juca-Pirama, Canto VIII, 1ª estrofe):

"Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte;Pois choraste, meu filho não és!Possas tu, descendente maldito

Page 28: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 28/207

De uma tribo de nobres guerreiros,Implorando cruéis forasteiros,Seres presa de via Aimorés.

Finalizada esta breve introdução ao poeta em seu contextohistórico, resta-nos prosseguir, aplicando nossas ferramentas (a

semiótica e a estilística) ao estudo do belíssimo “I-Juca-Pirama”.

Page 29: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 29/207

Capítulo III: “Estilística, a língua nacional e a leitura”.

Declarar que este ou aquele autor tem estilo não seránecessariamente um elogio. Considerando a individualidadedos seres, ter estilo é conseqüência, e nem sempre esse estiloserá garantia de qualidade. Há estilos e estilos. Por isso, para

começar uma reflexão sobre estilística, cumpre definir estilo.

Vejamos o que dizem os dicionários no verbete estilo:

 substantivo masculino3 modo pelo qual um indivíduo usa osrecursos da língua para expressar,verbalmente ou por escrito, pensamentos,sentimentos, ou para fazer declarações, pronunciamentos etc.Ex: <e. dramático> <e. prolixo> <e.conciso>

4 maneira de exprimir-se, utilizando palavras, expressões, jargões, construçõessintáticas que identificam e caracterizam ofeitio de determinados grupos, classes ou profissõesEx: falava no e. dos comentaristasesportivos5 maneira de escrever que segue o padrão social de correção gramatical eelegânciaEx: <redigiu o texto em bom e.> <manualde e.>6 Rubrica: sociolingüística.cada um dos graus de formalidade de umdiscurso escrito ou falado; registro[Houaiss, s.u.] ___________________________________  _____________________2. Fig. Maneira de exprimir os

Page 30: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 30/207

 pensamentos, falando ou escrevendo: 23. Fig. Maneira de escrever correta eelegante; linguagem aprimorada: 24. Fig. Maneira de escrevercaracterizada pelo emprego de expressões efórmulas próprias de uma classe, profissão,ou grupo: 2

5. Fig. Feitio, tom, orientação de umtexto ou de uma alocução: 26. Fig. Afetação no falar ou noescrever: 27. E. Ling. Registro (12). [Aurélio,s.u.]

Observadas as definições apontadas pelos lexicógrafos,verifica-se que há um traço comum e constante indicado pelaexpressão maneira de. Tal expressão aponta para aidentificação de traços que definiriam modelos particulares de

realizar algo. Logo, o estilo lingüístico é a maneira deexpressar verbalmente as idéias. Portanto, fazem parte doestilo, além das marcas pessoais indiscutivelmente inscritas emcada dizer, elementos que identificam o lugar social do sujeitofalante, situando-o regionalmente, no grupo social de origem,na profissão ou ofício que exerce etc. Contudo, nosso estudonão vai recobrir toda sorte de variedades de estilo, mas apenasaquelas que permitem caracterizar um texto como artístico, queo individualizam em meio a outros textos que tratam do mesmotema, que pertencem a uma mesma época, que estão sujeitosaos mesmos cânones etc. Cuidaremos do estilo literário, pormeio do qual observar-se-á a língua como matéria prima de umtrabalho artístico, capaz de produzir textos-objeto quesurpreendam os leitores, dada a renovação de uma matéria-

 prima corroída pela fala cotidiana da nação lingüística em quese insere o autor em análise.

Page 31: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 31/207

Com o objetivo de reforçar a definição de estilo,recorremos a Monteiro (1991: 9) e trazemos a nosso texto suasdefinições:

1. Conjunto de traços característicos da personalidade de um escritor (estilo como

idiossincrasia);2. Tudo aquilo que contribui para tornar

reconhecível o que alguém escreve (estilo comotécnica de exposição);

3. Realização plena de uma significação universalem uma expressão pessoal e particular (estilocomo realização literária).

Observe-se que as definições eleitas por Monteiro nem

esgotam a série de significados possíveis para estilo  neminovam as definições recortadas dos dicionários. Logo, teremosde eleger nosso recorte, para garantir o entendimento do queexplanaremos a seguir sobre Estilística, a língua nacional e aleitura.

Inicialmente, definiremos estilística, do ponto de vistametodológico, à luz de alguns estudiosos tomados comoreferência, cujas propostas foram compiladas por Rei (2002) noquadro a seguir:

Page 32: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 32/207

 

CORRENTE ESTILÓLOGO CONCEITUAÇÃO

 DESCRITIVAChales Bally MarouzeauCressot

 Investigar a expressão dos fatosda sensibilidade pela linguagem ea ação dos fatos de linguagem

sobre a sensibilidade. Inicia-se,assim, a Estilística da língua ouda expressão lingüística, que seocupa da descrição doequipamento expressivo da línguacomo um todo, opondo a suaEstilística ao estudo dos estilosindividuais e afastando-se, portanto, da literatura. (Martins,1977: 4).

 RETÓRICA DuboisUtilizar os métodos lingüísticos para a análise do texto literário etranspor o conceito de função poética, formulado por Jakobson, para o de função retórica. (...)Resta dizer que a retomada dosesquemas retóricos procuraestender-se a outras linguagens,como a da publicidade ou a docinema. (Monteiro, 1998: 184)

 HISTÓRICA AuerbachVosslerCroce

 Busoño

 Investigar o estilo de cada autor,determinando-lhe o contextoespiritual e analisando-o

 justamente como forma deinterpretação e transmissão do

real. Por essa razão, tal estudoestá voltado para as idéias e paraas formas sociais, como

 fundamento de uma história dasmentalidades e da cultura.

Page 33: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 33/207

  IDEALISTA

 Leo Spitzer Dámaso Alonso Amado AlonsoG. Devoto

 José Luis Martín Helmult

 Hattfeld

 Recusar a divisão tradicionalentre o estudo da língua e oestudo da literatura, instalar-seno centro da obra, procurando asua chave na originalidade da

 forma lingüística – no estilo, poisesse método de análise se assenta

sobre a noção de motivação  dosigno poético, ou seja, tentarreproduzir a intuição que deuorigem à obra.

ESTRUTURAL RiffaterreSamuel Levin L. Dolez & el

 Basear-se na objetividade, emcritérios capazes de “frear” asinferências do leitor;  por isso, otrabalho de interpretação tem quecentrar-se apenas nos fatosestilisticamente marcados(Monteiro, 1998: 182). Riffaterre(1971: 121) afirma que o poema

não apenas é escrito num códigoque lhe pertence, mas a chavedesse código se encontra no próprio texto.

FUNCIONALCohenGuiraud

 RaúlCastagnino

Procurar a originalidade nasíntese de correntes diversas etentar reconciliar as váriastendências estilísticas. Sentir anecessidade de reintegrar aretórica no quadroepistemológico da lingüística e dereconciliar a estilística lingüísticacom a crítica literária. (...) Cada

obra é uma língua desconhecida,uma incógnita lançada àimaginação do espectador. Emcada obra o sentido de uma

 palavra depende das suasrelações com as outras na

 própria obra. (Yllera, 1979: 50)

Page 34: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 34/207

 

A partir deste quadro, torna-se possível concluir davariedade de abordagens disponíveis para a análise estilística.Por isso, pretendemos clarificar nossa atitude analítica, comvistas a facilitar a leitura desse novo estudo estilístico de I-

Juca-Pirama.Em primeiro lugar, vejamos: Gramática e Retórica

atendem ao fato comum, uniforme e externo da língua; já aEstilística atende ao ditame íntimo e individual  (Castagnino,1971: 223). Segundo o autor, a estilística permitiria identificartraços individualizantes na produção em análise. E nós vimosimprimindo uma perspectiva ampliada do comentárioestilístico, associando-o a uma consideração semiótica dossignos que constituem o texto-objeto.

Perfilhando-nos à teoria semiótica de C. S. Peirce etomando a iconicidade como um valor observável naorganização dos textos, temos procurado levantar os valoresicônicos, indiciais e simbólicos que se inscrevem nos signosquando de sua inclusão nos enunciados. Partimos da crença deque a individualização dos dizeres produz semioses múltiplas,uma vez que a relação construída entre os signos e os objetosestá sempre recheada das subjetividades e das particularidadesque envolvem o contexto de produção textual.

1. Literatura, reinvenção da língua e criação da

identidade lingüística nacional brasileira.

Relembrando o Capítulo II deste livro - GonçalvesDias, o Romantismo e as Letras Nacionais – é mister

Page 35: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 35/207

reconsiderar a moldura histórica que constituiu o cenário da produção do poema épico que elegemos para nossa análise.

Repetindo que o Romantismo inicia uma nova etapa naliteratura, muda o foco excludente até então determinado e abreespaço para temas até então não-poéticos, verifica-se que a

época propunha uma reorganização entre a literatura e ostemas; entre a língua e as formas de dizer: o novo modeloopunha-se à arte clássica, buscando novas formas de expressão,identificadas com os padrões mais simples da classe média e da

 burguesia. Estava entrando em cena a variação lingüística eesta trazia consigo muita polêmica, inclusive com reflexos àsvezes perversos sobre o reconhecimento dos valores estético-literários de certas obras.

 Nesse novo cenário, a relação artista/mundo é mediada pela emoção, o que reflete um grande envolvimento do poeta

com o tema. Disso decorre uma mudança na relação entresignos e objetos representados, e a língua (matéria prima daexpressão poética) sofre a ação desses novos processos e

 procedimentos artístico-literários, reconfigurando-se, trazendoà superfície dos textos formas inusitadas que buscavamdemonstrar plasticamente as imagens impressas nos espíritosem função de cada episódio narrado, de cada sensação-reaçãoexperimentada.

Recolho aqui algumas palavras de meu mestre –Gladstone Chaves de Melo – acerca da estilística, as quais

 podem dar sustentação às nossas investigações semiótico-estilísticas então traçadas.

Salientando que a língua não exprime só o pensamento mas também os sentimentos ea volições, propôs-se Bally estudar osefeitos da afetividade nos atos de fala, os processos de que se servem as línguas para

Page 36: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 36/207

deixar ver a carga emocional que tãofreqüentemente – quase sempre –acompanha o enunciado.(...) Daí – por ser a língua expressão não jádo pensamento senão do homem todo – palpitarem nela todas as oscilações, todasas ondulações, todas as cintilações e todas

as capitulações do sujeito-falante, ouemissor (...) (Chaves de Melo, 1976: 15).

Vê-se assim que estudar estilística demanda penetrarnas emoções, nas sensações, nas reações humanas com vistas aentender-lhes as resultantes manifestadas em linguagem.

 Nos estudos da língua portuguesa, a análise estilísticaimplica examinar as relações lingüístico-temáticas e seuscondicionamentos sócio-históricos que podem ser captáveisnos textos de época. Tais textos podem propiciar a

reconstrução de cenários político-culturais que refletem nalíngua, nas formas de dizer, os mecanismos presentes numdado modelo de sociedade.

A língua reflete, em sua organização interna, osmovimentos sócio-cognitivos que subjazem ao estabelecimentode um ou outro modelo. Uma língua sofre o processo degramatização que, a seu turno, submete-se a dois mecanismosque funcionam como pilares de nosso saber metalingüístico: odicionário e a gramática. São estes resultantes de duastecnologias que instrumentalizam a língua em seu

funcionamento (cf. Agustini, 2004: 47).A Independência do Brasil e a Proclamação da

República constituíram fatos que deflagraram o processo deconstituição de uma língua nacional brasileira. Assim, agramatização se impõe na configuração de uma língua de fatonacional assim como na organização de um saber sobre essa

Page 37: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 37/207

língua. Esta se impõe então como questão nacional e torna-seregistro de uma identidade já consistente e documentável: alíngua da literatura brasileira, do Romantismo.

Page 38: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 38/207

 

2. Vozes literárias na construção da língua do

Brasil

Esse processo, no entanto, foi objeto polêmico, uma vezque a constituição de uma identidade lingüística fundada emtextos artísticos é sempre passível das interpretações subjetivase, por conseguinte, do aplauso e do não-aplauso da críticaautorizada. José de Alencar, por exemplo, foi veemente nadefesa de um estilo brasileiro distinto do lusitano. Vejamos:

A literatura nacional que outra cousa ésenão a alma da pátria, que transmigrou para este solo virgem com uma raça ilustre,aqui impregnou-se da seiva americana

desta terra que lhe serviu de regaço; e cadadia se enriquece ao contacto de outros povos e ao influxo da civilização? (...) o povo que chupa o caju, a manga, ocambucá e a jabuticaba pode falara umalíngua com igual pronúncia e o mesmoespírito do povo que sorve o figo, a pêra, odamasco e a nêspera? (Alencar, 1872: 10-11 – apud Agustini, op. cit. P. 50 – cf.Ribeiro, 1996)

 Nesse excerto, verifica-se o pulsar do sentimento

 brasileiro na fala do literato. Não seria mais aceitávelreproduzir a fala lusitana para descrever as coisas do Brasil. Adespeito dessa consciência patriótica, a argumentaçãoalencariana não foi das mais felizes, segundo afirma Melo(1992: 19): O romancista improvisou conhecimentoslingüísticos e (...) passou a defender-se com denodo eincoerência (...).

Page 39: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 39/207

Contrariamente, Gonçalves Dias (GD), o autor-objetode nossa pesquisa -, segundo Melo, não se aventurou por maresdesconhecidos. Sua formação clássica permitiu-lhe concluirque o escritor não vive só de talento e vocação, mas que há de

 pôr apurado emprenho em se formar, para dominar esseingrato e indócil instrumento que é a língua (id. Ib.).

Vejamos uma de nossas reflexões anteriores sobre otema:

A palavra, com que labora o artistaliterário, é a mesma com que pedimoságua, nos persignamos, nos lamentamos,repudiamos, contestamos, concordamos,discutimos, brigamos, fazemos acordos,compramos, vendemos, matamos esalvamos, enfim, vivemos. Logo, essematerial gasto e cansado cai na mão do

 poeta como que indisposto a mais serviços,cheio de vícios e compromissos. Em suma,impuro e, às vezes, tão empedernido que seouve o tinir da caneta quando na palavra bate para esculpi-la. (Simões, 1998).

Reconhecendo esse fato (ou fenômeno?), GD tinha emaltíssima conta os clássicos, vernáculos e latinos, como fontede expressões e construções primorosas.

A despeito desse compromisso com certo purismo, GD propõe que se abram as portas aos brasileirismos de bom cunho

e bem formados, aconselhando: ...escrevam tudo, tudo o que é bom... (trecho de carta de GD a Dr. Pedro Nunes Leal – ouAntonio Henriques Leal – ver nota 8 em Melo, 1992, 19).

Dessa mesma carta, Melo realça os itens 2 e 3 doResumo final, a saber:

Page 40: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 40/207

1. A minha opinião é que, ainda sem o querem,havemos de modificar altamente o português.

2. Que uma só cousa fica e deve ficar eternamenterespeitada: a gramática, o gênio da língua.

3. Que se estudem muito e muito os clássicos,

 porque é miséria grande não saber usar dasriquezas que herdamos.

4. Mas que, nem só pode haver salvação fora doevangelho de S. Luís, como que devemosadmitir tudo o de que precisamos para exprimircousas ou novas ou exclusivamente nossas.

5. E que, enfim, o que é brasileiro é brasileiro, eque cuia virá a ser tão clássico como porcelana,ainda que a não achem bonita.

A despeito do estado dos estudos lingüísticos no Brasil

na época, onde ainda não se conhecia “estrutura”, GD, dadassuas qualidades de leitor, escritor e poeta, já entendia agramática e o gênio da língua como intocáveis. Dessa forma, oautor de I-Juca-Pirama exprimira sua convicção acerca daunião lingüística luso-brasileira, sem perder-se da indiscutívelnecessidade de expressão individual para cada uma dasliteraturas. Veja-se o excerto:

... e estreitar ainda mais, se for possível, asduas literaturas – brasileira e portuguesa –que hão de ser duas, mas semelhantes e

 parecidas, como irmãs que descendem deum mesmo tronco e que trajam os mesmosvestidos, embora os trajem por diversamaneira, com diverso gosto, com outro porte e graça diferente. (GD, “Prólogo” dosSegundos Cantos, apud Melo, 1992: 21).

Page 41: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 41/207

3. Estilo e estilíst ica – marcas de identidade

Recuperando falas anteriores sobre estilo e estilística,ressaltamos que por meio desses estudos é possível reconhecera importância da leitura – sobretudo dos clássicos – para a

construção de uma competência expressional plural, rica,malemolente. Assim como se destacam na biografia de GD suaformação intelectual e sua grande afeição à leitura dosclássicos, é patente a competência leitora de nossos grandesmestres da literatura. A partir de rico cabedal lingüístico-enciclopédico, nossos escritores e poetas têm presenteado o

 público-leitor em geral, e os brasileiros em especial, com páginas magistrais com que não só demonstram a riqueza denosso idioma, como também sua capacidade de representar umcenário muito particular por onde transitam entes e seres queconfiguram uma visão de mundo que nos individualiza não só

no cenário mundial, mas também no próprio cenárioamericano.

O traço de união pela língua nos aproxima dos paíseslusófonos, e os usos e costumes nos aproxima também dos

 países americanos cujas raízes aborígines associadas aosingredientes africanos e europeus gerou modelo cultural suigeneris que não poderia deixar de refletir-se também na língua.Se de fato o estilo é homem, o homem brasileiro é dotado deestilo particular que merece nossa atenção, para que melhorentendamos o pensamento brasileiro e sua evolução.

Page 42: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 42/207

4. Gonçalves Dias e sua contribuição ao estilo

nacional

Com a visão de língua e literatura anteriormentedescrita neste estudo (cf. item 2), GD renovou o léxico da

língua, ressuscitou palavras esquecidas, empregou latinismoscom adequação, enriquecendo-o, usando e dando foros decidade a tupinimos já correntes.

Partindo do princípio de que o estilo é uma maneira particular de usar a linguagem1 (traduzimos), entendemos quea língua literária será desdobrada nos estilos de cada autor, decada obra etc. Isso porque cada construção resulta de escolhasque, por sua vez, serão motivadas pelos temas, pelos gêneros,

 pelas épocas e, entre outras coisas, pelos recursos de que alíngua dispõe.

Vejamos o que diz Lajolo sobre literatura e formação deidentidade:

A literatura é um dos fatores que formatavivências emocionais, alegrias e tristezas,esperanças e medos. É também na literaturaque natureza e humanidade ganhamsentido: em resumo, a literatura foi (e aindaé) uma das linguagens através das quaisdiferentes comunidades constroem,reforçam ou reformatam sua identidade,

desdobram e renovam poderes dalinguagem verbal. (Lajolo, 1996: 108).

1 Texto original: style is indeed a distinctive way of using language (Verdonk, 2002:5)

Page 43: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 43/207

Com base na fala de Lajolo, transcrita por Agustini(2004: 50), reitera-se o poder formativo e transformador da arteliterária no que tange à constituição de uma identidadenacional. A língua é um dos símbolos nacionais e é por meiodela que se materializam as diferenças. É na língua e na suagramática que são regulados os mecanismos de discursivização

ou de suas discursividades. Logo, a análise estilística –sobretudo associada à semiótica – poderá identificar formasgenuínas e não-genuínas, demonstrando assim as forçasinternas e externas que agem sobre a língua e seus falantes,refletindo-se inclusive na manifestação artística que, a

 princípio, seria produto de usuários especiais, dotados dehabilidades incomuns e sensibilidades aguçadas, portantomenos vulneráveis às forças e poderes do sistema lingüístico ede suas marcas históricas, mormente as conservadoras.

A análise estilístico-semiótica – segundo nossa proposta

 – pretende acrescentar à descrição dos fatos e fenômenosexpressionais o conteúdo pragmático que se inscreve na línguae no discurso-texto. As escolhas que caracterizam os estilosnão se dão num âmbito puramente lingüístico. A língua é fatosociocultural e, por isso, não está infensa nem defesa às forçascentrífugas e centrípetas que movimentam a sociedadetrazendo-lhes contribuições e interferências de outros sistemasde cultura com que haja interação de qualquer natureza.

Vejamos outro de nossos textos sobre o tema:

Estudar e dominar uma língua é umaatividade que deveria ser desenvolvidadesde a mais tenra idade como umexercício de prazer. Logo nos primeiroscontatos com a língua nacional —orientados pelos familiares — os falantesdeveriam ser sensibilizados sobre aimportância e a beleza do vernáculo. Pode

Page 44: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 44/207

 parecer extravagante tal idéia, uma vez queos infantes não estariam — em tese —disponíveis e aptos para informações destanatureza, todavia, não estou falando deinstruções sistemáticas ou sistematizadas(pois se trata da fase de transmissão dalíngua), mas de uma prática cotidiana

estimulante do uso da língua observadocomo instrumento de realização pessoal.Isto porque, sobretudo na infância, asinterações pré-verbais e verbais destinam-se, a princípio, ao suprimento denecessidades primárias. Entretanto, o prazer — independentemente de suaorigem — ativa mecanismos cerebrais quese correlacionam com os produzidos naárea produtora de linguagens. Assim sendo,é perfeitamente possível realizar interaçõesverbais produtivas, proficientes e prazerosas desde a infância, com o objetivode gerar o gosto pela aquisição da língua,em especial, como meio de realização pessoal.Veja-se o excerto a seguir:

Tem sido contado muitas vezes(até pela própria protagonista)como Helen Keller - a famosasurda-muda e cega norte-americana - estabeleceu contato,aos sete anos, pela primeira vez,

com a língua, uma língua desinais que soletrava na palma damão. Helen considerava esse diacomo o de um autênticorenascimento. Lembrava a vida

anterior a esse momento apenasde maneira muito vaga eincompleta. Tinha sido um

Page 45: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 45/207

simples organismo vegetativo.Graças à língua, adquiriurapidamente o acesso a ummundo rico e passou a dispor dacapacidade de recordar, sonhar,fantasiar. E adquiriu também, pela primeira vez, a capacidadede pensar e de organizar idéias(Malmberg2,1976).

Como partilho desta crença — língua comoforma de apreensão do mundo ecompletude pessoal — atravesso, desbravoincansavelmente o território dasmetodologias de ensino para tentardescobrir/aperfeiçoar estratégias deestimulação dos potenciais lingüístico-gramaticais dos falantes no sentido deviabilizar-lhes o domínio efetivo dovernáculo, em sua variedade. (Simões,

2002).

Por isso, vimos estudando obras literárias nacionais deépocas distintas, com vistas a identificar o que permanece e oque muda em nossa língua, do ponto de vista expressional, paraque se possa aferir os graus de intervenção das culturas, umassobre as outras, na produção de linguagens e textos, queacabam por tornarem-se documentos de épocas.

 Nessa ótica, entendemos a obra de GD, muitoespecialmente o épico I-Juca-Pirama, como sendo um dos

grandes documentos da expressão artístico-literária nacional, a partir da qual se foi construindo a identidade lingüística pelaqual se luta até nossos dias.

2 MALMBERG, Bertil (1976).  A língua e o homem. São Paulo: Nórdica - DuasCidades [p.82-3]

Page 46: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 46/207

As raízes clássicas da formação de GD não oimpermeabilizaram ao gênio da língua portuguesa pulsante noBrasil, portanto sujeito às influências de um modelodiferenciado de pensar o mundo a partir das referências de uma

 paisagem totalmente distinta daquela de onde partiu a língua portuguesa para aqui chegar.

5. A importância da leitura numa perspectiva

estilística

Para entenderem-se as paisagens que envolvem as práticas sociais, cumpre conhecerem-se os povos e suasrespectivas culturas. Não vemos outro caminho mais direto eeficiente senão a leitura. Por intermédio da leitura podemosviajar sem sair do lugar. Conhecer usos e costumes dos mais

variados. Visitar paisagens e cenários inusitados,extravagantes, exóticos.

É também por intermédio da leitura que ampliamosnosso potencial de linguagem. Os livros nos trazem o verbal enão-verbal associados em prol da expressão mais eficiente.Logo, aprender a ler é uma necessidade, pode-ser dizer, básica.

A leitura do verbal, por exemplo, permite-nos contrastarmodelos de escrita diversificados: a escrita oriental é, via deregra vertical; e o sentido da escrita não é necessariamente de

cima para baixo e da esquerda para a direita. Se formos buscaras raízes dessas diferenças, encontraremos motivações sociais,históricas e políticas das mais interessantes e inesperadas.

O percurso da produção da escrita leva-nos a conhecer pictogramas, ideogramas, hieróglifos e outros sistemasgráficos. Por isso, a escrita hodierna não mais se restringe às

Page 47: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 47/207

letras. Outros sistemas de representação se agregam à escrita etornam o texto mais rico, e a leitura mais exigente.

Partindo de um poema especial, construído em narrativaépica, vamos encontrar na distribuição do texto no papel umconjunto de marcas que podem ser semioticamente

interpretadas, porque agregam valor ao conteúdo do texto.Atravessam nosso poema-corpus versos de métrica variada,distribuídos em estrofes de modelos distintos, com o que o

 poeta conseguiu com maestria desenhar o ritual macabro protagonizado pelo Tupi. Métrica, rima, estrofação se associam para representar iconicamente o andamento, o ritmo, do ritual.

Para que se possa atribuir valor a tais elementos, é preciso aprender a ler. Logo, ler não mais se resume àdecodificação de sinais gráficos (letras, grafemas), mas àinterpretação de signos distribuídos numa superfície com metas

específicas, por isso são signos e são capazes de propiciar a produção de sentido durante a leitura.

Mais uma vez nos repetimos, por considerar importanteo já dito:

Acreditamos que a teoria da iconicidade,associada à estilística, permite-nosinvestigar os recursos impressivos eexpressivos manifestos na representaçãosígnica de nossos pensamentos,sentimentos, idéias, etc. Tal associação

 parece-nos facilitar a compreensão detextos em geral.Tencionamos, ainda, aprofundar oconhecimento das estruturas lingüísticas,levando o aluno a compreender aimportância da Gramática na compreensãode textos. (Simões & Martins, 2000).

Page 48: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 48/207

Com tais argumentos, entendemos a parceria entresemiótica e estilística altamente produtiva, conforme já odissemos na seguinte passagem:

Assim como a lingüística textual e a análisedo discurso, o suporte semiótico vemcontribuir com uma análise mais ampla do

material concreto (sistemas de códigos) eabstrato (discurso, ideologia) por meio doque são transmitidas as mensagens.(Simões, 2001:86).

Rastreando os excertos de nossas falas trazidos ao presente texto, verifica-se que perseguimos há algum tempo aassociação entre pressupostos estilísticos e semióticos com ameta de clarificar e, se possível, objetivar os comentários, paraque o estudioso que nos leia não sinta a mesma insegurançaque outrora sentimos diante de análises que se nosapresentavam, cujo teor nos fazia ora entender-nos comograndes ignorantes ora avaliar os analistas como visionários(no mau sentido).

Por isso, aceitamos a proposta de nossa bolsista- parceira Juliana Theodoro Pereira de reeditar o estudoestilístico-sintático de I-Juca-Pirama (publicado como Simões,Darcilia et al.  A estilística singular de I-Juca-Pirama, Rio deJaneiro: Dialogarts, 1997), acrescentando-lhe comentários denatureza semiótica.

A perspectiva semiótica nada mais é senão umrefinamento dos processos de leitura, ao mesmo tempo queamplia-lhes a possibilidade de interpretação e descoberta defunções-valores nos subterrâneos dos textos. Logo, emconclusão a este capitulo, esclarecemos que não há saída outra

 para o desenvolvimento da competência lingüística senão aconvivência permanente com os bons textos.

Page 49: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 49/207

Capítulo IV: I-Juca-Pirama

4.1. Contextualização da Obra

“I-Juca-Pirama” (doravante representado pela sigla IJP) é

considerado o mais perfeito poema épico-indianista de nossaliteratura. O poema narra a história vivida por um índio tupique cai prisioneiro de uma nação inimiga, os timbiras. O dramado prisioneiro reside nos sentimentos contraditórios

 provocados por sua prisão: de um lado, deseja morrer lutando,como guerreiro corajoso que sempre fora; e, de outro, desejaviver para cuidar do pai, doente e cego.

Observe-se (IJP, Canto IV, Estrofes 7, 8 e 9):

Meu pai a meu lado

Já cego e quebrado,De penas ralado,Firmava-se em mi:

 Nós ambos, mesquinhos,Por ínvios caminhos,Cobertos d’espinhosChegamos aqui!

O velho no entantoSofrendo já tantoDe fome e quebranto,

Só qu’ria morrer! Não mais me contenho, Nas matas me embrenho,Das frechas que tenhoMe quero valer.

Page 50: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 50/207

Então, forasteiro,Caí prisioneiroDe um troço guerreiroCom que me encontrei:O cru dessossêgoDo pai fraco e cego,

Enquanto não chegoQual seja, – dizei!

O prisioneiro é libertado e afirma que voltará a se entregarquando seu pai vier a falecer. Os timbiras não acreditam emseu argumento e acusam-no de covarde. Posteriormente, oíndio reencontra o pai, leva-lhe alimento, mas o velho,

 percebendo o cheiro das tintas e os ornamentos do ritual,descobre-lhe o segredo. O pai nega o próprio filho, leva-o àtribo timbira e pede que ele seja sacrificado. O título do poema,

em tupi, já sugere a sina de seu protagonista: “o que há de sermorto”.

Veja-se mais um trecho (IJP, Canto VIII, Estrofe 1):

"Tu choraste em presença da morte? Na presença de estranhos choraste? Não descende o cobarde do forte;Pois choraste, meu filho não és!Possas tu, descendente malditoDe uma tribo de nobres guerreiros,

Implorando cruéis forasteiros,Seres presa de via Aimorés.

O autor soube atualizar e dar nova dimensão ao índiocomo tema literário, a dimensão de que necessitavam a naçãorecém-independente e a cultura brasileira, em fase de definição

Page 51: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 51/207

e consolidação. O herói do poema não é apenas um índio tupi:representa todos os índios brasileiros ou ainda todos os

 brasileiros, uma vez que o índio foi durante o Romantismo orepresentante de nossa nacionalidade. Além disso, ao pôr emdiscussão profundos valores e sentimentos humanos, como a

 bondade filial e a honra, o poema supera os limites da

abordagem puramente indianista e ganha universalidade.

Mais um trecho relevante (IJP, Canto IX, Estrofes, 4, 5, 6,e 7):

Era ele, o Tupi; nem fora justoQue a fama dos Tupis – o nome, a glória,Aturado labor de tantos anos,Derradeiro brasão da raça extinta,De um jacto e por um só se aniquilasse.

 – Basta! Clama o chefe dos Timbiras, – Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,E para o sacrifício é mister forças. –

O guerreiro parou, caiu nos braçosDo velho pai, que o cinge contra o peito,Com lágrimas de júbilo bradando:"Este, sim, que é meu filho muito amado!

"E pois que o acho enfim, qual sempre otive,"Corram livres as lágrimas que choro,

"Estas lágrimas, sim, que não desonram."

Voltado para a estética do pitoresco e do exótico,Gonçalves Dias nos remete ao seu valor de escritor indianista,

 por ser ele, em sua obra, profundo conhecedor da vidaindígena. O poeta enriqueceu a obra literária pela proposta

Page 52: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 52/207

temerária das imagens exóticas de seus poemas. Seu índiodiferencia-se do de Joaquim Norberto e Gonçalves Magalhães,não pela questão de autenticidade do índio, mas por ser mais

 poético, como vemos em “I-Juca-Pirama”. O deslumbramentosem vulgaridade do herói indígena, traduz a poesia do poeta,malabarista de ritmos nos sentimentos de heroísmo, dignidade,

generosidade, bravura, maldição e tradição.

Os dez cantos do poema caracterizam-se formalmente pela perfeita utilização dos vários recursos da métrica, damusicalidade e do ritmo, recortando os vários momentos danarração na amplitude de seu cenário, ondeando os episódiosem que se movem os grupos humanos. A melodia é estruturadaimpecavelmente nos momentos de calmaria ou exaltação, emmovimentos variados de ritmo e escolha cuidadosa das

 palavras.

Quanto aos aspectos formais, em “I-Juca-Pirama”,Gonçalves Dias variou a métrica de trecho em trecho.Teoricamente, o poeta teria desprezado a metrificação. Noentanto, do ponto de vista expressivo, a variação métricautilizada produziu a iconicidade sonora do texto, construindo

 plasticamente o poema como um significante rítmico do ritualnarrado. Observam-se também vários ritmos no mesmo metro;o ritmo varia de acordo com a situação que está sendodescrita/narrada.

Observa-se um ritmo associado à semântica e à técnica de

expressão. O poeta muito empregou o anapesto  (o que temquatro tempos, compondo-se de duas sílabas breves seguidasde uma longa (diz-se de pé métrico do sistema greco-latino), afim de tornar o ritmo igual em versos silabicamente desiguais.Pode-se dizer que o anapesto é a célula rítmica de toda a sua

 poesia de inspiração indianista.

Page 53: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 53/207

Observe-se o início do poema (IJP, Canto I, Estrofe 1,versos 1-3):

 No meio das tabas de amenos verdores,Cercadas de troncos – cobertos de flores,Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

A riqueza estilística desse romântico, a magnitudeconcentrada em cada um de seus textos, especialmente do “I-Juca-Pirama”, fazem desse poema épico, página ímpar naliteratura nacional brasileira. Sendo, portanto, um produto damaturidade literária de Gonçalves Dias, que, apesar de umavida breve, deixou patente em sua obra a experiência secular doartista. O poema em estudo representa, em nossa cultura, o

 passo decisivo para a transformação das manifestaçõesnativistas da literatura colonial em manifestações

conscientemente nacionalistas.

4.2. Estabelecimento do texto

4.2.1.- Cotejo de edições

A partir de um levantamento das edições disponíveis do poema “I-Juca-Pirama”, estabelecemos como corpus: “I-Juca-

Pirama” In Gonçalves Dias, A. (1865) Cantos - Colecção de poesias. 4a edição. Leipizg: Brockhaus.

Entre as edições cotejadas, encontramos as seguintes:

DIAS, Antônio Gonçalves. Últimos cantos. Poesias. Tzp.de F. P. de Paula Brito, Rio de Janeiro, 1851.

Page 54: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 54/207

DIAS, Antônio Gonçalves. Coleção de Poesias. F. A.Brockhaus, 2a edição, Leipzig, 1857.

DIAS, Antônio Gonçalves. Coleção de Poesias. F. A.Brockhaus, 3a edição, Leipzig, 1857.

DIAS, Antônio Gonçalves. Quadros da vida selvagem Y Juca Pirama. Typ. do Rio de Janeiro, Porto Alegre,1869.

DIAS, Antônio Gonçalves. Poesias. B. L. Garnier, 5a edição comentada, Rio de Janeiro, 1870.

Do texto eleito, foi feita a modernização da grafia das palavras que sofreram evolução e mantiveram-se as palavrasque desapareceram ou caíram em desuso, acrescentando-se ao

 poema um apêndice com pequeno glossário para auxiliar acompreensão.

4.2.2 -- Critérios para a atualização da grafia dopoema

Para a modernização da grafia (ou atualização ortográfica)seguimos os critérios abaixo:

1. Eliminação das particularidades gráficas semqualquer valor fonológico. Ex: verso 113 -- ouví > 

ouvi2. Atualização dos acentos de acordo com o modelo atual.

Ex: verso 156 -- desgôsto > desgosto

Page 55: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 55/207

3. Substituição do y  por i e  k  por   c, salvo emestrangeirismos que mereçam o tratamento de realcematerial correspondente.

Ex: martyrio > martírio; kanitar > canitar

4. Conservação de todas as formas ou sabidamente típicasda época.

Ex: verso 7 -- rudos; verso 101 -- d’imigos (Caldas Aulete,s.u.);

5. Supressão da consoante -c no declive silábico de acordocom a ortografia atual.

Ex: verso 256 -- afflicção > aflição

6. Supressão do h etimológico no interior do vocábulo.

Ex: verso 439 -- deshonram > desonram

7. Simplificação das letras dobradas (exceto ss e rr).

Ex: verso 264 -- afflige > aflige

8. Representação da DNP de P6 com -am

Ex: verso 3 -- alteião-se > alteiam-se

9. Marcação da nasalidade fonológica com til. 

Ex: verso 81 -- Tupan10. Substituição do grupo inicial sc  por  c. 

Ex: verso 217 -- scintilla > cintila

11. Substituição do grupo ph por f . 

Page 56: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 56/207

 Ex. : verso 338 -- triumpho > triunfo

12. Substituição do u final por  o. 

Ex: verso 13 -- tribus > tribos

13. Substituição do e  final por   i  (mesmo nos ditongos

decrescentes). 

Ex: verso 179 -- pae > pai; verso 343 -- heróes > heróis 

14. Substituição do o na formação do ditongo crescente oa.

Ex: verso 377 -- agoas > águas

15. Substituição do acento agudo pelo grave na demarcaçãoda crase.

Ex: verso 77 -- á > à

Page 57: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 57/207

 

4.2.3 -- Mostra das alterações gráficas realizadas

Fizemos um recolho de palavras que sofrerammodificações gráficas para que o leitor possa ter uma idéia do

que se fez concretamente. Não apresentamos, no entanto, umlevantamento exaustivo, pois não fizemos estudo dasocorrências das formas.

Vamos à listagem:

verso 3 -- alteião-se > alteiam-se

verso 5 -- cohortes > coortes

verso 6 -- immensa > imensa

verso 7 -- gloria > glória

verso 8 -- incitão > incitam; victoria > vitória

verso 9 -- attendem > atendem

verso 10 -- Tymbiras > Timbiras

verso 13 -- visinhas > vizinhas

verso 16 -- accendem > acendem

verso 18 -- sugeitos -- sujeitosverso 11 -- bôca > boca

verso 13 -- tribus > tribos

verso 22 -- praticão > praticam

Page 58: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 58/207

verso 24 -- tôrno > em torno

verso 24 -- derramão-se > derramam-se

verso 25 -- ninguem > ninguém

verso 28 -- Grecia > Grécia

verso 29 -- tornavão > tornavam; distincto > distinto

verso 30 -- correctas > corretas

verso 31 -- cahiu > caiu

verso 33 -- tecto > teto

verso 34 -- convidão-se > convidam-se

verso 36 -- varios > vários: funcção > função

verso 39 -- pennas > penas

verso 44 -- affeitas > afeitas

verso 45 -- indio > índio; captivo > cativo

verso 46 -- cortão > cortam

verso 47 -- enduápe > enduape

verso 48 -- kanitar > canitar

verso 49 -- argilla > argilaverso 53 -- anceião > anceiam

verso 55 -- occaso > ocaso

verso 56 -- jámais > jamais

Page 59: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 59/207

verso 57 -- collo > colo

verso 62 -- seccos > secos

verso 63 -- labios > lábios; descerrão > descerram

verso 65 -- martyrio > martírio

verso 71 -- virão > viram

verso 77 -- á > à

verso 79 -- sómente > somente

verso 80 -- offende > ofende

verso 81 -- êle > ele

verso 89 -- noveis > novéis

verso 96 -- collar > colar

verso 99 -- alli > ali

verso 100 -- Tapuyas > Tapuias

verso 102 -- aquí > aqui

verso 106 -- misero > mísero; contrario > contrário

verso 111 -- animos > ânimos: commove > comove

verso 113 -- ouví > ouviverso 116 -- crescí > cresci

verso 137 -- Aymores -- Aimorés

verso 148 -- vinhão > vinham

Page 60: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 60/207

verso 151 -- ultimo > último

verso 153 -- cahio > caiu

verso 154 -- placido > plácido

verso 156 -- desgôsto > desgosto

verso 157 -- sofrí > sofri; commigo > comigo

verso 163 -- invios > ínvios

verso 166 -- em tanto > entanto

verso 167 -- soffrendo > sofrendo

verso 175 -- cahi > caí

verso 179 -- pae > pai

verso 180 -- em quanto > enquanto

verso 185 -- Deos > Deus

verso 195 -- gyro > giro

verso 207 -- murmurão > murmuram: ouvirão >ouviram

verso 208 -- poude > pôde

verso 210 -- afrouxão-se > afrouxam-se

verso 213 -- seguravão > seguravam

verso 214 -- es > és; illustre > ilustre

verso 215 -- commoveste > comoveste

verso 216 -- soffres > sofres

Page 61: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 61/207

verso 217 -- scintilla > cintila

verso 218 -- cançado > cansado

verso 224 -- suppões > supões

verso 229 -- affronta > afronta

verso 235 -- precipite > precípite

verso 236 -- gelidas -- gélidas; corrião > corriam

verso 241 -- quasi > quase

verso 246 -- fôrças > forças

verso 251 -- perdí-me > perdi-me

verso 256 -- afflicção > aflição; esgotárão > esgotaram

verso 259 -- afan > afã

verso 260 -- mysterioso > misterioso; falla > fala

verso 264 -- afflige > aflige

verso 266 -- tremula > trêmula

verso 267 -- tacteando > tateando

verso 268 -- lugubre > lúgubre

verso 274 -- craneo > crânioverso 276 -- afflicto > aflito

verso 280 -- exicio > exício

verso 285 -- elle > ele; alí > ali

Page 62: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 62/207

verso 287 -- dôr > dor

verso 293 -- musurana > muçurana

verso 295 -- emmudecem > emudecem

verso 296 -- prosegue > prossegue

verso 298 -- fôras > foras

verso 299 -- souberão > souberam ; existência >existência

verso 302 -- direcção . direção

verso 304 -- occaso > ocaso

verso 306 -- têrmo > termo

verso 309 -- acção > açãoverso 312 -- forão > foram

verso 316 -- actos > atos

verso 321 -- sacrificio > sacrifício

verso 326 -- gentís > gentis; revelão > revelam

verso 327 -- alguem > alguém

verso 335 -- accento > acento

verso 337 -- imbelle > imbele

verso 338 -- triumpho > triunfo

verso 343 -- heróes > heróis

verso 353 -- maldicto > maldito

Page 63: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 63/207

verso 358 -- patria > pátria

verso 359- regeitado > rejeitado

verso 364 -- tenhão > tenham

verso 366 -- côres > cores

verso 368 -- descanço -- descanso

verso 370 -- ás > às

verso 374 -- desfalleça -- defaleça

verso 375 -- limpido -- límpido

verso 376 -- accenda > acenda

verso 377 -- agoas > águas

verso 378 -- contacto > contato; labios > lábios

verso 381 -- céo > céu; tecto > teto

verso 386 -- fallem > falem

verso 393 -- sòsinho > sozinho

verso 400 -- vae > vai; tremulo > trêmulo

verso 404 -- ouvio > ouviu

verso 413 -- exhaurido > exauridoverso 415 -- soão > soam

verso 416 -- emmaranhada > emaranhada

verso 417 -- ennovela-se > enovela-se

Page 64: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 64/207

verso 417 -- revôlta > revolta [ô]

verso 424 -- quebravão > quebravam

verso 426 -- fôra > fora

verso 428 -- extincta > extinta

verso 429 -- jacto > jato

verso 431 -- assás > assaz

verso 432 -- mister > mistér

verso 434 -- lagrimas > lágrimas; jubilo > júbilo

verso 437 -- em fim > enfim

verso 439 -- deshonrão > desonram

4.3. Análise estilística:

Esta sessão dá início à análise do material sensível do poema: o texto verbal. Contudo, nosso estudo não se pautaránuma estilística tradicional em que as figuras seriam o objetoobservado com exclusividade. Ao contrário disto,

 procuraremos demonstrar em nossa análise o quanto o poetatrabalhou o material de nossa língua (resguardados os traços

epistemológicos), buscando desenhar com a língua, com as palavras, as ações e seus cenários na epopéia de I-Juca-Pirama.

É importante enfatizar que o texto é então tomado comoum objeto sensível, dotado de características plásticas quedeveriam conduzir o leitor pelas trilhas do texto até a produçãodo sentido. Observe-se que não se fala aqui em uma

Page 65: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 65/207

mensagem, mas num potencial expressivo-comunicativo que pode emanar dos signos que compõem a tessitura textual.

Assim sendo, a análise do poema intenta apontar valores-funções dos signos, a partir do que o leitor vai tecendo seutexto, relacionando os conteúdos emergentes do poema em

leitura com as suas experiências, de modo a estabelecer umcontato íntimo entre os enunciados textuais e os significadoscaptados. Desta forma se constrói o sentido na leitura.

Passemos então à análise do texto.

4.3.1.Canto I:

O primeiro canto nos apresenta a tribo Timbira, descrita

 pelo poeta como sendo formada por “guerreiros valentes”,temíveis pelos índios de tribos vizinhas. Já na quarta estrofe, édescrita a cena em que um aglomerado de Timbiras encontra-seem torno de um índio feito prisioneiro, e este não relata a suaorigem. Nas duas últimas estrofes do canto, mostram-se os

 preparativos para o ritual de sacrifício. Os versos 33-48descrevem parte das cerimônias nas quais os prisioneiros deguerra eram sacrificados. Destaca-se aqui a submissão dastribos vizinhas.

 Neste canto, observa-se o predomínio de verbos no

 presente do indicativo. O emprego deste tempo verbal sugerecerta sintonia entre o eu-lírico e a ação, além de umaaproximação do leitor. Ao se trazer a ação para o presente, faz-se com que o leitor presencie os fatos. Além disso, nota-se adescrição do ambiente em que será feito o ritual de sacrifício.

v.1 No meio das tabas de amenos verdores,

Page 66: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 66/207

v.2 Cercadas de troncos – cobertos de flores,

v.3 Alteiam-se os tetos d’altiva nação;

v.4 São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,

v.5 Temíveis na guerra, que em densas coortes

v.6 Assombram das matas a imensa extensão. (1ª estrofe)

Os substantivos:verso 1: No meio das tabas de amenos verdores

Taba  significa uma aldeia de índios, composta dediferentes habitações (ocas).

verso 10: São todos Timbiras, guerreiros valentes

Timbiras  são os índios tapuias, que habitavam o interiordo Maranhão.

verso 38: Entesa-se a corda da embira ligeira A corda usada para amarrar o prisioneiro chamava-se

muçurana.

Ainda neste verso observamos um sintagma que sedestaca pela aproximação de palavras contrastantes: embira,um tipo de arbusto, logo, elemento estático, é acompanhado

 pelo adjetivo ligeira.

verso 40: A custo, entre as vagas do povo da aldeia 

vagas – ondas (fig.); índios dançando, indo e vindo sobreo prisioneiro.

verso 47: Brilhante enduape no corpo lhe cingem

Page 67: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 67/207

Enduape era um fraldão de penas usado pelos guerreiros;aquele usado pelas mulheres denomina-se arasóia.

verso 48: Sombreia-lhe a fronte gentil canitar

Canitar é o nome do penacho ou cocar usado pelos

guerreiros de raça tupi, quando iam guerrear ou quando haveriaalguma solenidade de igual importância.

Gentil canitar , porque vistosa, alegre.

Os adjetivos e os adjuntos adnominais:

verso 2: Cercadas de troncos – cobertos de flores, 

verso formado por dois adjuntos adnominais separados

 por um travessão. O primeiro refere-se ao substantivo tabas,mencionado no primeiro verso; já o segundo tem comoreferente o termo tetos  do verso seguinte. O travessão, nestecaso, vem a desfazer uma possível ambigüidade, já quecobertos de flores poderia funcionar como adjunto de troncos,nome imediatamente anterior.

 Nota-se aqui a divisão do verso em doishemistíquios:

Hemistíquio s.m. Lit. Cada unha das dúas metades dun verso

dividido por unha pausa central. O verso consta de doushemistiquios heptasílabos. — Diccionario da Real AcademíaGallega(http://www.edu.xunta.es/diccionarios/g/ListaDefinicion.jsp?IDXT=10280) 

hemistíquio [Do lat. tard. hemistichiu < gr. hemistíchion.]S. m. 1. Metade de um verso alexandrino. 2. P. ext. Metade deum verso. [Aurélio, s.u.]

Page 68: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 68/207

O emprego de tal recurso acentua a “...predisposição do poeta em configurar a união dos contrastes (força e beleza)como característica da paisagem exótica descrita.” (Simões,1985: 19)

verso 6: Assombram das matas a imensa extensão 

Observamos que o emprego do adjetivo imensa reforça aidéia de “grande área” implícita em extensão.

verso 7: São rudos, severos, sedentos de glória, 

 Nota-se que a enumeração de adjetivos enfatiza a bravurado índios timbiras. Cada adjetivo parece reforçar a idéiaexpressa pelo outro, destacando-se, assim, a coragem timbiracomo um todo.

Observe-se (IJP, Canto I, 2ª estrofe):

v.7 São rudos, severos, sedentos de glória,v.8 Já prélios incitam, já cantam vitória,v.9 Já meigos atendem à voz do cantor:v.10 São todos Timbiras, guerreiros valentes!v.11 Seu nome lá voa na boca das gentes,v. 12 Condão de prodígios, de glória e terror![grifamos as expressões adjetivas]

verso 9: Já meigos atendem à voz do cantor:

A título de curiosidade, destacamos a predileção do poeta

 pelo adjetivo meigo, largamente utilizado em sua obra.Vejamos o trecho (Canto, 3a. estrofe):

v.13 As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,v.14 As armas quebrando, lançando-as ao rio,v.15 O incenso aspiraram dos seus maracás:v.16 Medrosos das guerras que os fortes acendem,

Page 69: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 69/207

v.17 Custosos tributos ignavos lá rendem,v.18 Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

verso 13: As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,

 Neste verso, as outras tribos são caracterizadas como

inferiores. Ninguém é capaz de derrotar um Timbira; todostemem tão bravos guerreiros. Mais uma vez se materializa adualidade do ritual (vida & morte) na marcação doshemistíquios que compõem o verso.

verso 17: Custosos tributos ignavos lá rendem, 

A colocação dos adjetivos custoso  e ignavos  promoveflutuação na leitura deste verso. O enunciado custosos tributosignavos lá rendem pode ser entendido como: a) [X] rendem látributos custosos e ignavos;  b) [índios] ignavos rendem lá

custosos tributos.  Em “a”, os dois adjetivos determinariam osubstantivo tributos; em “b”, ignavos  seria atributo desubstantivo implícito índios. Um e outro casos, no entanto,realçam a função metafórica de tributos:  Inconveniência ou

 privação associada a determinada circunstância  [Aurélio,s.u.]. Definição esta que acentua a condição de  pusilânime atribuída às outras tribos.

verso 27: Descende por certo – dum povo gentil;

 povo gentil: hospitaleiro

verso 39: Adorna-se a maça com penas gentis:

A maça do sacrifício era ornamentada. Gentis  comsentido de delicadas.

Page 70: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 70/207

 

verso 42: Garboso nas plumas de vário matiz.

A escolha do adjetivo que inicia o verso chama a atenção para a imponência da marcha.

Os pronomes.

verso 24:  Derramam-se em torno dum índio infeliz. 

O sujeito é reiterado pelo pronome objeto.

versos 46-48: A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,

 Brilhante enduape no corpo lhe cingem,

Sombreia-lhe a fronte gentil canitar. Objeto indireto “lhe” conversível no analítico a ele.

Traduz idéia de posse.

As formas verbais.

verso 20: Onde ora se aduna o concílio guerreiro 

“Adunar-se”- reunir-se, juntar-se. O vocabulário na obrade Gonçalves Dias é sempre adequado e preciso; parececonvidar o leitor a elevar-se acima do trivial, do usual.

verso 33: Assola-se o teto, que o teve em prisão; 

Ter – manter, reter; julgar, dar por certo; conter-se.

Page 71: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 71/207

versos 37-39 : Acerva-se a lenha da vasta fogueira.

Entesa-se a corda da embira ligeira

 Adorna-se a maça com penas gentis: 

Paralelismo verbal através do emprego de verbos naterceira pessoa do plural mais a partícula  –se. Em se tratando

de orações sem sujeito, pode-se dizer que as ações são oselementos mais relevantes.

Cumpre esclarecer que, neste estudo, o  paralelismo  serádividido em dois tipos: a)  paralelismo sintático: repetição daestrutura sintagmática ainda que referente a noções distintas; b)

 paralelismo semântico: na repetição imediata de um mesmo pensamento com outras palavras ou pequenas modificações.

As figuras de construção.

verso 4: São muitos seus filhos, nos ânimos fortes, 

Anástrofe em nos ânimos fortes. A expectativalingüística é quebrada toda vez que se rompe a ordem habitual(ou lógica) e desloca-se um elemento de sua posição decostume (ordem psicológica). Também se obtém realce doselementos envolvidos no processo.

verso 6: Assombram das matas a imensa extensão.

Mais um caso de anástrofe, sendo que mais complexa –das matas a imensa extensão. Segundo SIMÕES (1985: 27), “aantecipação dos termos é um dos recursos-base da estruturaçãode “I-Juca-Pirama”.

Page 72: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 72/207

verso 16: Medrosos das guerras que os fortes acendem, 

 Nota-se um silepse de gênero, visto que o adjetivomedrosos  refere-se a tribos vizinhas  (verso 13). É possívelinterpretar este uso como sendo uma concordância ideológicacom índios  (das tribos vizinhas), uma vez que o medo écaracterística humana (animal), e tribo designa ente abstratoresultante da reunião de índios.

Vejamos o trecho (Canto, 3a. estrofe):

 As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,As armas quebrando, lançando-as ao rio,O incenso aspiraram dos seus maracás:

 Medrosos das guerras que os fortes acendem,Custosos tributos ignavos lá rendem,Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

verso 24: Derramam-se em torno dum índio infeliz. Seleção vocabular (“os moços...derramam-se”). O verbo

sugere que o prisioneiro encontra-se cercado pelos índios danação inimiga, sendo um caso de metáfora.

verso 30: As linhas corretas do nobre perfil. 

Este verso constitui o sujeito dos dois versos anteriores.O termo posposto é geralmente enfatizado, o que ocorre nestecaso.

verso 48: Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.

Apresenta-se um caso de inversão (sujeito após o predicado). O verbo sombrear , de conotação negativa, é postoem destaque no início do verso.

Page 73: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 73/207

Palavras ou expressões especiais.

verso 14: As armas quebrando, lançando-as ao rio,

Sintagma que representa ato que sela a paz entre os índios.

versos 14 e 15: As armas quebrando, lançando-as ao rio,

O incenso aspiraram dos seus maracás:

O trecho descreve parte de um ritual indígena.

Gonçalves Dias era mestiço e cresceu em contato com acultura indígena; porém, tal fato não o impediu de pesquisar oscostumes de diferentes tribos. Por conta disso, a formulação deseus versos se mostra prenhe de emoção, a qual só seria sentida

 por quem de fato se envolvesse com a cultura de um povo, quese integrasse a ela.

verso 22: Os velhos sentados praticam d’outrora,

Uso clássico de “de” em d´outrora.

verso 43: Entanto as mulheres com leda trigança,

Vê-se um emprego raro de “entanto”, com sentido dalocução adverbial “no entanto”, marcando diferença, contraste.Observa-se neste mesmo verso o emprego da palavra trigança,de origem portuguesa e encontrada em escrituras. Os

arcaísmos possuem forte poder evocativo e proporcionam uma“cor local” ao texto. Para Lapa (1998, p.50), deve-se atentar

 para o seu uso, já que existe o risco de ridicularizar o que seescreve. Não parece ser o caso em Gonçalves Dias, visto queseu objetivo ao retratar os índios com linguajar europeu éelevá-lo socialmente.

Page 74: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 74/207

Outros recursos estilísticos

verso 19: No centro da taba se estende um terreiro, 

Paralelismo sintático com o primeiro verso do poema.

versos 20-21: Onde ora se aduna o concílio guerreiro

 Da tribo senhora, das tribos servis:

Eis um dos diversos casos de enjambement presentes notexto, o que acelera o ritmo da poesia.

verso 21: Da tribo senhora, das tribos servis:

O emprego de um eco (“da tribo... das tribos”) parecesugerir o som dos tambores.

versos 26-27, 32: Sua tribo não diz: - de um povo remoto

descende por certo – dum povo gentil;

(...)

 Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro 

O uso de travessões confere destaque à informação quelhe segue. No caso específico dos versos 26 e 27, o travessãomarca o paralelismo sintático dos termos que o seguem.

verso 28: Assim lá na Grécia ao escravo insulano 

 Nota-se a presença de objeto direto preposicionado, o quevem a dar destaque ao termo escravo insulano.

Page 75: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 75/207

 

4.3.2. Canto II:

Este canto retoma a descrição do ritual de sacrifício, quese inicia. O prisioneiro mostra-se preocupado, todavia nãolamenta ou verte uma lágrima, como destacado nos versos 61-64. No entanto, a aparente tranqüilidade não se prolonga, poisrugas de preocupação surgem em seu rosto, desmascarando a“mentirosa placidez” (verso 67). Um Timbira, talvez oguerreiro que o capturou, pergunta qual o motivo de seuaparente medo e diz que aquele que enfrenta a morte comcoragem revive (verso 74), já que é lembrado como um herói.

 Neste segundo canto, o fato que se destaca é a mudançade ritmo em relação ao primeiro canto: versos curtos, em rima

aguda, que se intercalam com decassílabos e estrofes menores.Tal ritmo sugere a dança, o bate-pé dos selvagens no ritual. Os pés dos selvagens é que determinam a cadência do verso. Amudança na métrica somada à abundância de encavalgamentos(enjambements) resulta em uma clara aceleração do ritmo.

Os substantivos.

verso 79: Somente o tronco, que devassa os ares, 

A escolha pelo uso no plural (os ares) sugere amplitude.

verso 81: Que foi? Tupã mandou que ele caísse, 

O sujeito Tupã  empregado na ordem direta tem destacadasua importância.

Page 76: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 76/207

Os adjetivos.

verso 57: A dura corda, que lhe enlaça o colo, 

A seleção do adjetivo “dura” para caracterizar a cordamostra a rigidez dos Timbiras.

verso 59: Da vida escura, que será mais breve 

Seleção vocabular (da vida escura...) imprime um tomtrágico ao episódio.

versos 76 e 88: Da fria morte.

(...)

 Da fria morte.

O emprego do adjetivo  fria reforça a conotação negativada morte.

verso 76: Da fria morte.

Adjetivo anteposto faz com que tal qualidade sejaconferida pelo autor, torna-se subjetiva; diferente de ser umacaracterística inerente, objetiva, geralmente expressa poradjetivos pospostos.

verso 87: Que soube ufano contrastar os medos 

Emprego do adjetivo em função predicativa acessória, para sugerir a situação em que se acha ou em que foi posto osujeito ou o objeto no momento da ação expressa pelo verbo.Este emprego também é observado nos versos 95, 104, 235

Page 77: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 77/207

(“precípite”), 242-243 (“taciturno e frio, espectro d’homem”),276, 375, 391, 416-419 e 445.

Epifânio Dias e Sousa da Silveira consideram o adjetivo,assim empregado, aposto circunstancial; outros, como SousaLima, chamam-lhe atributo circunstancial.

Segundo Gladstone Chaves de Melo, este uso é erudito, proveniente do latim clássico. “O aposto circunstancial  ou predicativo-adjunto  resume, por assim dizer, duas funções,uma referida ao nome, outra ao verbo; concorda com osubstantivo e traz conotação adverbial. Portanto, a frase ondeele aparece é mais sintética, exige esforço um pouco maior dedescodificação” (MELO, op.cit, p.77).

As formas verbais.

versos 58 e 59: Mostra-lhe o fim

 Da vida escura, que será mais breve

O emprego do verbo “mostrar” deixa claro o que significaa corda enlaçada ao índio tupi ( Mostra-lhe o fim da vidaescura).

verso 75: Que soube ufano contrastar os medos 

O verbo contrastar  se usa geralmente em sentido objetivo,em referência a coisas, a situações. Muito mais raro é empregá-

lo referindo-se a agente livre, com sentido de “enfrentar”,“arrostar”, como o faz Gonçalves Dias neste verso. Tem-seaqui exemplificado o gosto do poeta pela erudição.

As figuras de construção

Page 78: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 78/207

verso 49: Em fundos vasos d’alvacenta argila 

Anástrofe (alvacenta argila). O termo anteposto destaca-senão só pela sua posição, mas também por estar ligado aosubstantivo que está; a cor da argila é realçada.

verso 51: Enchem-se as copas, o prazer começa, O poeta abusa da inversão dos elementos nas frases,

 porém, aqui, encontra-se uma oração na ordem direta (o prazercomeça), marcando o início do ritual.

versos 53 e 55: O prisioneiro, cuja morte anseiam,

(...)

O prisioneiro, que outro sol no ocaso 

Anáfora (repetição do sintagma O prisioneiro no início dos

versos). As orações adjetivas que lhes seguem enfatizam a sinadeste prisioneiro, que é ser morto.

verso 61-62: Contudo os olhos d’ignóbil pranto

Secos estão;

O adjetivo “ignóbil” ressalta a impotência do prisioneiro.Todavia, os “olhos secos” demonstram sua coragem frente àmorte. O paradoxo ilustra a confusão de sentimentos pela qualo Tupi passa.

verso 68: Na fronte audaz!Aqui, a face do Tupi mostra-se “audaz”, em contraste ao

“ignóbil pranto” do verso 61.

versos 72-73: Folga morrendo.

Page 79: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 79/207

  Folga morrendo; porque além dos Andes 

Repetição do sintagma  folga morrendo. A anadiplosedestaca a sina do prisioneiro.

Outros recursos estilísticos

verso 69: Que tens, guerreiro? Que temor te assalta

Início de discurso direto do chefe Timbira. Ao retratar ofalar de uma personagem, o poeta imprime um tom de narrativaao poema.

versos 81 e 85: Que foi? Tupã mandou que ele caísse,

(...)

Que temes, ó guerreiro? Além dos AndesPerguntas sugerem um diálogo entre o guerreiro Timbira e

o prisioneiro.

versos 85-88: Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes

 Revive o forte,

Que soube ufano contrastar os medos

 Da fria morte.

Observa-se repetição de trecho de estrofe anterior (versos73-76).

4.3.3. Canto III:

Page 80: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 80/207

Prossegue o poema ainda com a narrativa em relação aoritual. Neste pequeno canto (há somente duas estrofes),enfatiza-se a ornamentação dos índios timbiras. Na segundaestrofe, nota-se o emprego de discurso direto: um timbiraordena ao índio prisioneiro que diga quem é e por que invadiuterritório alheio. O canto termina quando o prisioneiro iniciaria

o seu discurso, “com triste voz que os ânimos comove”.

Observa-se neste canto o emprego de versos brancos, ouseja, sem rima.

Os substantivos

verso 100: Dos vencidos Tapuias, inda chorem

Aqui são citados os Tapuias, outra tribo derrotada pelosvalentes Timbiras.

Os adjetivos

verso 95: Orgulhoso e pujante. – Ao menor passo 

O emprego do travessão coloca os adjetivos em destaqueno início do verso, além de estarem sendo usados em função

 predicativa acessória. O esquisito da construção é intensificado pela posposição do adjetivo ao verbo.

versos 103 e 104: “Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,“As nossas matas devassaste ousado,

 Nota-se um contraste na caracterização do prisioneiro,visto que são utilizados os adjetivos “fraco” e “ousado” emreferência a ele. Talvez o poeta quis demonstrar que um bravo

Page 81: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 81/207

guerreiro, mesmo em condições desfavoráveis, persiste na suamissão.

As formas verbais.

verso 97: Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,Verbos rugir  e fremir  concedem tom animalesco, intenso

ao colar.

verso 101: Serem glória e brasão d’inimigos feros.

Infinitivo flexionado (“Serem”). Sugere maior energia,torna o processo mais intenso.

versos 108 e 109: “Dize-nos quem és, teus feitos canta,

“Ou se mais te apraz, defende-te.” Começa Emprego de verbos no imperativo (“dize-nos...defende-

te”) reforça a autoridade do Timbira.

verso 110: O índio, que ao redor derrama os olhos, 

A escolha do verbo derramar  sugere um olhar desoladodo Tupi. O estado do prisioneiro é confirmado no versoseguinte (“com triste voz que os ânimos comove”).

As figuras de construção.

verso 91: A quem do sacrifício cabe as honras 

Anástrofe em cabe as honras.

Page 82: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 82/207

verso 105: “ Morrerás morte vil da mão de um forte.”

Pleonasmo (uso de palavras cognatas em um mesmosintagma) ou aliteração semântica. O pleonasmo é uma figurade linguagem bastante expressiva por imprimir intensidade àrepresentação. As palavras de condenação, do castigo do jovemtupi, soam solenes e rituais.

Segundo Lapa, “a repetição de palavras cognatas realça aimagem verbal” (1998, p.163), o que se aplica perfeitamente aesse caso. À primeira vista, construções desse tipo podem

 parecer redundantes, mas a adjetivação do substantivo quefunciona como núcleo do objeto direto as valida, reforçandoseu caráter notadamente enfático. Além disso, convémobservar que "morrer" é normalmente intransitivo, mas, nesseverso, passa a transitivo direto. Neste caso, ocorre o queautores como Celso Cunha e Sousa da Silveira chamam deobjeto direto interno.

verso 107: Do colo à cinta muçurana desce:

Mais um caso de anástrofe

Outros recursos estilísticos.

verso 91: A quem do sacrifício cabe as honras,

Observa-se uma discordância entre o sujeito honras  e o

verbo cabe. Tal ocorrência pode ser devido à emoção poética.Estudiosos concordam que raríssimos são os descuidosgramaticais na obra de Gonçalves Dias, e quando estesocorrem, são propositais.

Segundo Gladstone Chaves de Melo, “os ‘desvios’ do poeta constituem ‘escolha’ do menos usual, do aristocrático, do

Page 83: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 83/207

mais adequado, quando não represente a busca do ‘efeitoevocador’”(1992, p.75). Logo, quase sempre cabe umaobservação estilística.

verso 96: Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,

Dois casos de elisão  (Quando a última sílaba de uma

 palavra termina em vogal, e a palavra seguinte começa porvogal diferente, precedida ou não de “h” e sendo as vogaisátonas, dá-se a junção delas numa sílaba só): d’alvo; d’honra.

verso 102: “Eis-me aqui,” diz ao índio prisioneiro;

Mais uma vez, o discurso direto aparece no texto.

4.3.4. Canto IV:

É o canto de morte do prisioneiro Tupi, que vemacompanhado pelo retorno da rima ao texto. Conforme astradições indígenas, o prisioneiro é preparado para umcerimonial antropofágico, em que serão vingados os mortostimbiras. Como é próprio do ritual, pedem-lhe que cante seusfeitos de guerra e que se defenda da morte. Neste canto, o índionarra ainda a trajetória de sua vida e de sua tribo: “Esta

 passagem nos é mostrada como a realização do último desejodo que há de ser morto (y-jucá-pyrama), costume consideradoem alguns, senão em todos, rituais de execução.” (SIMÕES,1985, p.58). Confessa que teme por sua vida, pois deixaria seu

 pai, cego e em idade avançada, sozinho. O guerreiro tupitermina seu discurso afirmando que não se envergonha porchorar, já que tem convicção de sua bravura e de que “sabemorrer” (verso 205).

O ritmo instável e a mudança do timbre vocálico podemrepresentar a modificação do comportamento do índio cativo e

Page 84: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 84/207

da própria tribo timbira. O tom erudito do discurso iguala oTupi aos Timbiras. Observa-se uma mudança gradativa: dacondição de prisioneiro em defesa para a de herói que narraseus feitos.

Os substantivos.

verso 117: Da tribo tupi. 

O nome da tribo é empregado com letra minúscula,sugerindo uma condição de inferioridade.

verso 168: De fome e quebranto, 

Quebranto – desfalecimento, fraqueza.

Os adjetivos e os adjuntos adnominais.versos 122 e 123: Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Os adjetivos aqui empregados pelo Tupi modificam adescrição timbira do prisioneiro.

verso 126: Já vi cruas brigas,

“Cru” (adjetivo)- cruel, difícil.

verso 135: Lidei cruas guerras,

Seleção vocabular (“cruas guerras”). “Cruas” – penosas,difíceis.

Page 85: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 85/207

verso 137: Dos vis Aimorés; 

Adjunto adnominal em destaque.

verso 155: Sereno e composto,

 Neste verso apresenta-se uma ambigüidade, já que ostermos podem funcionar tanto como predicativos do sujeito (oíndio tupi) ou como adjuntos adnominais de rosto.

versos 158-160: Meu pai a meu lado

 Já cego e quebrado,

 De penas ralado,

A distância entre o sujeito e o núcleo do predicadoenaltece a triste condição do pai.

verso 159: Já cego e quebrado,

Quebrado (adjetivo) – alquebrado

verso 198: Não vil, não ignavo,

 Ignavo (adjetivo) – covarde, fraco.

Os pronomes.

verso 112: Meu canto de morte,

O canto inicia-se com o pronome pessoal “meu”,marcando a subjetividade do discurso. Este é centrado no

 próprio emissor, o prisioneiro tupi.

Page 86: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 86/207

verso 157: Comigo sofri.

O uso do pronome comigo  traz ênfase ao sujeito bemcomo à solidão deste.

verso 162: Nós ambos, mesquinhos,

O pronome pessoal nós  é reforçado com a presença deambos.

versos 170-173: Não mais me contenho,

 Nas matas me embrenho.

 Das frechas que tenho

 Me quero valer.

A próclise do pronome reflexivo conota sujeito predominando sobre o objeto. Além disso, a mensagem destetrecho é reforçada pelo sujeito oculto, que sugere cautela.

verso 182: Eu era o seu guia

O sujeito deixa de ser oculto com a presença do pronome pessoal eu.

verso 189: Que filho lhe sou.

O pronome “lhe” é complemento do nome “filho” (=“sou filho dele”). A forma do pronome, dativo, nãocorresponde à função. Não pode ser adjunto, porque a palavra énecessária à compreensão da frase. É um adjunto adnominal de

 posse (pronome adjetivo).

Page 87: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 87/207

versos 200 e 201: Serei vosso escravo:

 Aqui virei ter.

Apresenta-se nestes versos o desfecho do discurso tupi. Otom cerimonioso é proporcionado pelo emprego do pronome“vosso”.

Os advérbios e os adjuntos adverbiais.

verso 145: Já sem maracás,

O advérbio  já enfatiza a ausência dos maracás, situandoem tempo remoto a submissão dos piagas à bravura dosguerreiros.

verso 151: Meu último amigo,

Sujeito apresenta-se entre adjuntos adverbiais.

verso 167: Sofrendo já tanto

A presença do advérbio  já  acentua a intensidade dosofrimento.

verso 174: Então, forasteiro,

O verso inicia-se com o advérbio então, que estabelece a

relação temporal entre o presente da narrativa e o passado daação descrita.

versos 174 e 175: Então, forasteiro,

Caí prisioneiro

Page 88: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 88/207

Estes dois versos mantêm uma relação de causa econseqüência, já que o Tupi foi preso por ser forasteiro.

As formas verbais.

verso 113: Guerreiros, ouvi:

O verbo no imperativo é proferido pelo Tupi, mostrandoque é o prisioneiro quem invoca agora a atenção.

verso 119: Que agora anda errante

A escolha pelo verbo “andar” junto a “errante” enfatiza osentido deste último.

verso 134: Andei longes terras,

Verbo “andar” empregado como transitivo direto, comsentido de “percorrer”. Em muitos casos, Gonçalves Dias fugiuda construção habitual e escolheu a rara, sempre na linha daaristocracia de estilo.

verso 167: Sofrendo já tanto 

O emprego do verbo no gerúndio faz com que esteadquira valor atributivo (“que sofria”).

verso 181: Qual seja, - dizei!

O travessão introduz o discurso direto e realça a formaverbal, que possui carga emotiva (verbo no imperativo).

verso 194: Enquanto descreve

Page 89: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 89/207

 Descrever – seguir, percorrer

versos 194-197: Enquanto descreve

O giro tão breve

 Da vida que teve, Deixai-me viver!

 Nota-se neste trecho o emprego de dois verbos na terceira pessoa do singular, referentes a ações do índio narrador. Talfato parece sugerir que o Tupi deseja desvencilhar a imagem doguerreiro que era antes da prisão e daquela de prisioneiro que éagora.

verso 204: Se a vida deploro,

 Deplorar   – sentir, lamentar a perda de. Nenhumdicionário consigna sentido adequado ao deplorar   desta

 passagem. A palavra é dessas mal chamadas “eruditas”, e parece que só passou a fazer parte da língua no século XVI.

As figuras de construção.

versos 138 e 139: Vi lutas de bravos,

Vi fortes – escravos!

Anáfora

versos 140 e 141: De estranhos ignavos

Calcados aos pés.

Anástrofe

Page 90: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 90/207

 

versos 142-144: E os campos talados,

E os arcos quebrados,

E os piagas coitados

Polissíndeto. Além de acelerar o ritmo, tal recurso indicaa adição dos termos, enfatizando a seqüência narrativo-descritiva.

versos 186-188: Em mim se apoiava,

Em mim se firmava,

Em mim descansava,

Um caso de anáfora (paralelismo sintático). Além daadição de idéias, percebe-se uma certa gradação.

versos 198 e 199: Não vil, não ignavo,

 Mas forte, mas bravo,

Antítese. A apresentação de uma idéia contrária éenfatizada pelo duplo uso do advérbio de negação e daconjunção adversativa.

Palavras ou expressões especiaisversos 126 e 145: Já vi cruas brigas,

(...)

 Já sem maracás,

Page 91: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 91/207

 Nestes versos encontra-se um exemplo de construçãocorrelativa alternativa (“já...já...”), muito apreciada pelo poeta.

verso 127: de tribos imigas,

O emprego do termo imigas  (forma arcaica) enfatiza a

antiga rivalidade existente entre as tribos.

verso 161: Firmava-se em mi:

Emprego de arcaísmo (“mi”: mim). Tal foi a primeiraforma da palavra na língua, proveniente do latim vulgar.Gladstone Chaves de Melo se manifesta a respeito: “Interpretoos arcaísmos em Gonçalves Dias como conseqüência da atitudearistocrática (...) Formas raras, de todo ausentes da língua cultacotidiana do seu tempo, pareceram-lhe os arcaísmos apenas

requinte. Reforça-me a impressão o fato de estar a maior partedeles nos poemas indianistas, não raro em boca de índio, quetem de falar da maneira mais caprichosa, maisapurada”.(op.cit., p.199).

verso 169: Só qu’ria morrer! 

Há dois valores possíveis para o termo só neste verso: ele pode ser um advérbio, com o sentido de “apenas”, ou umadjetivo, equivalendo a “sozinho”.

verso 203: Do pranto que choro;

Eis aqui mais um caso de objeto direto interno, intrínsecoou pleonástico, enfatizando-se o sofrimento do jovemguerreiro. Tal fenômeno é acompanhado pela mudança na

Page 92: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 92/207

transitividade usual do verbo “chorar”, que se apresenta comotransitivo direto.

Outros recursos estilísticos

versos 114 e 115: Sou filho das selvas,

 Nas selvas cresci;

O discurso alterna entre a ordem direta e inversa (lógica e psicológica), o que pode conotar a instabilidade do guerreirotupi.

versos 128 e 129: E as duras fadigas

 Da guerra provei;

Observa-se uma inversão da ordem direta. O emprego do

objeto direto anteposto ao verbo enfatiza as penalidadesimpostas pela guerra, intensificando-as.

verso 139: Vi fortes – escravos!

Predicativo é posto em destaque com o uso do travessão.

verso 177: Com que me encontrei:

Os dois pontos funcionam como indicadores deexplicação conclusiva.

verso 185: Que Deus lhe deixou:

Os dois pontos anunciam explicação conclusiva.

Page 93: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 93/207

versos 190-192: Ao velho coitado

 De penas ralado,

 Já cego e quebrado,

A repetição de trecho anterior, o que proporciona certasimetria ao texto, parece funcionar como um refrão do canto de

morte.

verso 193: Que resta? – Morrer.

O uso do travessão destaca a força da resposta: o fato denão haver outra saída senão morrer.

4.3.5. Canto V:

Aqui encontramos o diálogo explícito entre o Timbira e oTupi cativo. Este canto inicia-se com a ordem do chefe timbirade se libertar o guerreiro tupi. Os outros índios estranham, jáque este não é um fato rotineiro. O chefe timbira lamenta osofrimento que a morte do tupi poderia vir a causar em umvelho índio – o pai. Entre os versos 226 e 229, nota-se umaatitude mais enérgica do tupi, pois deseja provar que possuihonra. Quando o prisioneiro diz que voltaria quando o paiestivesse morto, chefe da tribo inimiga ordena que não o faça,

 já que a presença de um covarde entre os guerreiros de suatribo poderia ser ameaçadora: “não queremos com carne vilenfraquecer os fortes” (v. 231-232). Tais versos descrevemuma crença indígena. No seu canto de morte, o prisioneiroalega que é filho de pai doente e cego. Assim, aqueles que seapresentavam para comê-lo desistem do intento, em razão doseu canto que tomaram como sinal de fraqueza. Isto ocorre

 porque acreditam carregar nas veias o sangue daqueles que lhe

Page 94: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 94/207

serviram de alimento; incorporam à sua carne a carne doinimigo. A imagem descrita do guerreiro tupi ao deixar a aldeiaé a de um derrotado; ele parece temer pelas conseqüências da

 provável decepção que seu pai virá a ter.

Os adjetivos.

verso 214: És um guerreiro ilustre, um grande chefe,

O emprego do adjetivo anteposto acrescenta a este umacarga emotiva.

Os pronomes.

verso 215: Tu que assim do meu mal te comoveste,

A escolha por pronome em 2a

  pessoa (Tu) denotaigualdade entre os interlocutores. Ainda neste verso, aantecipação de do meu mal  ressalta as circunstâncias queresultaram na comoção do chefe da tribo.

Os advérbios.

verso 219: Que somente por seu na voz conhece.

O uso do advérbio somente  vem a enfatizar a condição precária do velho Tupi, que, por ser cego, reconhece o filho

 pela voz.

verso 220: - És livre; parte.

- E voltarei.

- Debalde.

Advérbio debalde denota indiferença pelo ex-cativo.

Page 95: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 95/207

 

As formas verbais.

verso 206: Soltai-o! – diz o chefe. Pasma a turba;

O emprego de verbo no imperativo no início do verso

representa a urgência da ação, algo que deve ser feitoimediatamente, além de trazer para o presente o discurso – omomento do ritual.

 Neste mesmo verso, a anteposição do predicado emPasma a turba acentua a reação da aldeia.

verso 215: Tu que assim do meu mal te comoveste,

“Comover-se de”. Observa-se uma regência não-comumdo verbo, que apresenta-se como pronominal. A partícula “se”

não é objeto direto, já que ninguém comove a si mesmo.Percebe-se um tom clássico neste uso, visto que se podeentender que tal emprego seja voz passiva, cujo complementovem, na língua clássica, geralmente comandado por de.

verso 216: Nem sofres que, transposta a natureza,

Sofrer  – suportar, tolerar, agüentar.

versos 228 e 229: E com honra maior, se acaso o vencem,

 Da morte o passo glorioso afronta.Verbos no presente, como vencem e afronta demonstram

que a honra é uma característica atemporal da tribo Tupi.

verso 233: Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas

Page 96: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 96/207

  Sobrestar   – parar, deter-se, não ir adiante. O prefixoneste verbo é intensificador. Também neste verso, a oraçãoarfando em ondas  deixa claro o envolvimento emocional donarrador, como que ele percebe o fato.

verso 234: O rebater do coração se ouviaO prefixo em rebater  também é intensificador, e a escolha

 por verbo na voz passiva (se ouvia)  faz com que o coração perca sua força de agente

verso 236: Gélidas bagas de suor corriam:

Estando o verbo na voz ativa, o sujeito gélidas bagas desuor  é enfatizado, ou seja, a tensão do tupi.

As figuras de construção.

versos 215 e 216: Tu que assim do meu mal te comoveste,

 Nem sofres que, transposta a natureza,

A antítese esclarece porque o chefe quis libertar o prisioneiro: não foi por pena, mas por este ser um covarde.

verso 232: Com carne vil enfraquecer os fortes.

Anteposição de com carne vil  ressalta o perigo da presença do covarde tupi. Ainda, o contraste presente emenfraquecer os fortes realça a oposição timbira/tupi.

versos 234-236: O rebater do coração se ouvia

Precípite. – Do rosto afogueado

Page 97: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 97/207

  Gélidas bagas de suor corriam:

Seleção vocabular. Emoções confusas são representadas por paradoxo (suor frio, rosto em brasa), demonstrando atensão interna, a instabilidade emocional do indígena.

verso 240: Do velho pai a moribunda imagemMais uma anástrofe de adjunto adnominal.  Moribunda

imagem reforça a idéia de um pai velho e acabado.

Palavras ou expressões especiais.

verso 209: Brada segunda vez com voz mais alta,

O sujeito não está explícito, sendo enfatizada, assim, aordem.

verso 211: A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.

O uso de conjunção adversativa faz com que haja umaquebra do ritmo, além da ligação de idéias contrárias.

Marca de oralidade (“A custo, sim”): ênfase

verso 217: Com olhos onde a luz já não cintila,

Presença da expressão lusitana já não.

verso 220: - És livre; parte.

- E voltarei.

- Debalde.

Apresenta-se a conjunção E com valor adversativo.

Page 98: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 98/207

 

versos 227 e 228: Que um filho dos Tupis vive com honra,

E com honra maior, se acaso o vencem,

A repetição presente nestes versos marca a importância dahonra para os indígenas. Segundo Lapa (1998), a repetição de

nome intensifica seu significado, o que, no trecho em destaque,exprime a idéia de uma honra sem limites. É tal a importânciada honra para as tribos indígenas que o substantivo é repetidodiversas vezes por toda a extensão do poema.

verso 231: E tu choraste!...parte; não queremos

Conjunção E  empregada com valor adversativo.

Outros recursos estilísticos.verso 218: Chore a morte do filho o pai cansado,

a inversão enfatiza ambos os termos (a morte do filho e o pai cansado).

versos 220 e 221: - És livre; parte.

- E voltarei.

- Debalde.

- Sim, voltarei, morto meu pai.

- Não voltes!

Sendo a estrutura dos versos em diálogo facilita-se aidentificação das vozes.

Page 99: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 99/207

verso 235: Precípite. – Do rosto afogueado

Travessão marca a mudança da descrição interna paraexterna.

verso 239: Um pesar, um martírio ao mesmo tempo, 

Enumeração gradativa.

verso 241: Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! ingrato!

Uma possível reação do velho pai é sugerido por meio deum discurso direto com entonação emocional.

4.3.6. Canto VI:

 Neste canto é narrado o encontro do ex-prisioneiro comseu pai, iniciando-se esta parte com a fala do velho tupi. Comoque emerso da imaginação do filho, surge o velho guerreiro jácego e quebrado, buscando reencontrar o filho, há muito

 perdido. O pai pergunta o motivo da demora do jovem, já que“não era nado o sol, quando partiste, e frouxo o seu calor jásinto agora!” (versos 248-249). Este trecho demonstra que,devido à cegueira, o velho tupi se orienta pelo calor do sol.

O jovem responde que havia se perdido nas matas

desconhecidas e insiste para que partam prontamente. O velho pai percebe o estado alterado do filho e desconfia que algograve possa ter acontecido. Ao tocar o filho, o velho índioreconhece as tintas e os ornamentos usados em rituais desacrifício. Nos versos 276-280, o velho tenta rejeitar a “visão”levando as mãos aos olhos. A decepção que parece iminente

Page 100: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 100/207

faz com que ele tema enxergar a verdade com os própriosolhos.

A partir do verso 291, o pai prossegue o interrogatório, buscando justificativa para o fato de o filho ainda estar vivo. O jovem guerreiro confessa que índios timbiras haviam libertado-

o após saberem da existência de seu pai, que do filho muitodependia. Ao fim do canto, o velho tupi pede para que partam“na direção do ocaso”, o que vem a ser a aldeia timbira.

Os substantivos.

verso 280: Daquele exício grande a imagem viva

Exício  – ruína, destruição, morte. Palavra de origemlatina, demonstrando, mais uma vez, o gosto do poeta peloclassicismo.

verso 304: - E quereis ir?...

- Na direção do ocaso.

O substantivo ocaso parece funcionar aqui como índice dodesfecho de morte, da ruína dos índios tupis.

Os adjetivos.

verso 246: As vossas forças restaurai perdidas,

A projeção do adjetivo para o fim do verso é comum nalíngua clássica, onde é própria do discurso poético. Poderepercutir na sintaxe das funções, com a passagem de umadjunto adnominal a predicativo. O deslocamento, que é umaquebra da expectativa lingüística, revitaliza o epíteto.

Page 101: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 101/207

 

verso 274: Encontra sob as mãos o duro crânio. 

O adjetivo duro, estando anteposto, recebe maiordestaque.

versos 276 e 277: Recua aflito e pávido, cobrindo

 Às mãos ambas os olhos fulminados.

Os versos fazem referência aos olhos “fulminados” do paicego. Quando este percebe a desonra do filho, leva as mãos aosolhos, como se estivesse realmente vendo a cena. O“fulminado” de verdade foi ele, não os olhos que já eramcegos. Mas o qualificativo deslocado para os olhos adquireforça, em um tremendo ajuste da alma com o corpo, em que afulminação moral se sobrepõe à física. O emprego do particípio

tem dupla função expressiva, significando qualidade e ação aomesmo tempo; sendo, como é, adjetivo e verbosimultaneamente.

verso 298: Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!

Adjetivo adverbializado. O adjetivo é tornado invariável erefere-se somente ao verbo. Tal emprego, que foi herdado dolatim, também é encontrado no verso 325.

Os pronomes.verso 244: - Filho meu, onde estás?

- Ao vosso lado;

A resposta imediata do filho ao chamado de seu pai é feitacom tom cerimonioso e respeitoso, marcado pela presença do

 pronome em 2a pessoa do plural.

Page 102: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 102/207

 

verso 264: Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,

A ligação entre pai e filho é tão forte que tal aproximação pode ser exemplifica por meio do uso do pronome pessoal nos neste verso: a aflição do filho também é do pai.

verso 270: Uma idéia fatal correu-lhe à mente...

O pronome oblíquo –lhe, de valor possessivo, refere-se aovelho tupi.

verso 285: Ele o via; ele o tinha ali presente;

O emprego do pronome oblíquo o  como objeto direto pleonástico reforça o funesto azar  a que se refere.

verso 291: - Tu prisioneiro, tu?

- Vós o dissestes.

A reiteração do pronome pessoal tu  indica emoção ehesitação em uma pergunta retórica. A resposta do filho que sesegue é evasiva, ao transferir para o pai a confirmação daverdade.

versos 301 e 302: - E depois?...

- Eis-me aqui.- Fica essa taba?

- Na direção do sol, quando transmonta.

O pronome interrogativo “onde” está omisso na últimaoração do verso 301, porém a compreensão entre pai e filho étal que a resposta é automática no verso seguinte. Há perfeito

Page 103: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 103/207

entendimento apesar das frases curtas, já que ambos estãoenvolvidos pelo contexto.

Os advérbios.

versos 260 e 261: Um quê misterioso aqui me fala, Aqui no coração; piedosa fraude

O fato de que algo misterioso deixa inquieto o pai éreforçado pela repetição do advérbio aqui.

verso 262: Será por certo, que não mentes nunca!

Dupla negação através de não...nunca enfatiza o fato de oguerreiro não mentir.

As formas verbais.

versos 250-252: - Sim, demorei-me a divagar sem rumo,

Perdi-me nestas matas intrincadas,

 Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo:

O emprego de verbos reflexivos neste trecho visa a indicaro tupi como sujeito-paciente de suas próprias ações (tentativasfrustradas).

verso 264: Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,

O emprego do verbo “ver” representa a confiança do paiem seu filho, visto que, sendo cego, ele se rende à opinião dofilho, enxerga o mundo através dos olhos do guerreiro tupi.

Page 104: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 104/207

verso 298: Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!

 Nota-se o uso de verbo no pretérito mais-que-perfeito doindicativo (“foras”), em vez de no futuro do pretérito.

As figuras de construção.

versos 253 – 255: Convém partir, e já!

- Que novos males

 Nos resta de sofrer? - que novas dores,

Que outro fado pior Tupã nos guarda?

Anáfora do pronome interrogativo que.

verso 256: - As setas da aflição já se esgotaram,

A imagem sugerida pela metáfora as setas da aflição é de

algo que machuca, que faz alguém sofrer.

verso 272: E a dolorosa maciez das plumas

Paradoxo. O pai, que é velho e já cego, adquire, pelo tato,uma terrível certeza; descobre a falta de certo ornato no corpodo filho e por aí verifica que este, tendo caído prisioneiro dostimbiras, se livrara sem ter lutado, desonrando, assim, o nomede sua tribo. A certeza é que é “dolorosa”, mas o poeta deslocao adjetivo, dizendo que o cego, tateando nas trevas, apalpando

os membros gélidos do filho, se certifica da verdade ao tocar “adolorosa maciez das plumas” que ainda o enfeitam. Observa-setambém como o tato é de grande sentido para o velho pai, jáque este é cego, e a antítese expressa pelo adjetivo “dolorosa” ea maciez típica das plumas.

Page 105: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 105/207

verso 281: Ante os olhos do corpo afigurada.

Os olhos do corpo  é uma metáfora, que vem fazerreferência aos outros sentidos humanos que são geralmenteaguçados em pessoas cegas.

Palavras ou expressões especiais.

verso 247: E a caminho, e já!

- Tardaste muito!

A expressão e já, que será repetida no verso 253,demonstra a ansiedade do tupi quanto à partida.

verso 248: Não era nado o sol, quando partiste,

“Nado” equivale a “nascido”.

verso 259: - Talvez do afã da caça...

- Oh filho caro!

A expressão afã da caça  possui dupla interpretação: oguerreiro pode ser tanto a caça quanto o caçador.

verso 260: Um quê misterioso aqui me fala,

A expressão um quê misterioso  é usada pelo velho pai para se referir a um sentimento indefinido que possui.

verso 271: Do filho os membros gélidos apalpa,

O sintagma membros gélidos  mostra a tensão do ex-cativo.

Page 106: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 106/207

 

versos 276 e 277: Recua aflito e pávido, cobrindo

 Às mãos ambas os olhos fulminados.

Observa-se também um emprego incomum da preposiçãoa. Neste caso, a preposição transmite a idéia de “meio”,

“instrumento”. Além disso, a palavra ambos, que,habitualmente, precede o determinado, encontra-se após deste.

versos 278-279: Como que temesse ainda o triste velho

 De ver, não mais cruel, porém mais clara,

Observa-se nestes versos o emprego de uma construçãofreqüente na língua antiga: o uso da preposição de  antes deinfinitivo como objeto direto.

versos 285 – 288: Ele o via; ele o tinha ali presente;

E era de repetir-se a cada instante.

 A dor passada, a previsão futura

E o presente tão negro, ali os tinha;

A presença de diversos termos com noções temporaisneste trecho faz com que o presente se mostre mais forte.

Outros recursos estilísticos

verso 263: Não conheces temor, e agora temes?

A ausência de artigo antes de temor  amplia o sentido dotermo, aumenta-lhe a abrangência. O emprego de termoscognatos realça a idéia de medo. Observa-se ainda a presença

Page 107: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 107/207

da conjunção E   que, mais uma vez, apresenta valoradversativo. Assim, pode-se dizer que o tom da frase seja deconfirmação.

verso 266: Partamos!... –

E com mão trêmula, incertaO narrador reassume o discurso na segunda parte deste

verso com uma trágica descrição. O fato é indicado com umaindentação.

verso 267: Procura o filho, tateando as trevas

A aliteração presente em tateando as trevas  sugere otoque impreciso das mãos. Além disso, tal imagem conota aignorância da verdade por parte do velho pai.

verso 269: Sentindo o acre odor das frescas tintas,

Os sintagmas acre odor   e  frescas tintas  nos apresentamsinestesias.

versos 291-304: - Tu prisioneiro, tu?

- Vós o dissestes.

- Dos índios?

- Sim.

- De que nação?

- Timbiras.

- E a muçurana funeral rompeste,

Page 108: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 108/207

  Dos falsos manitôs quebrastes a maça...

 Nada fiz... aqui estou,

- Nada! -

Emudecem;

Curto instante depois prossegue o velho:- Tu és valente, bem o sei; confessa,

Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!

- Nada fiz; mas souberam da existência

 De um pobre velho, que em mim só vivia...

- E depois?...

- Eis-me aqui.

- Fica essa taba?

- Na direção do sol, quando transmonta.

- Longe?

- Não muito.

- Tens razão: partamos.

- E quereis ir?...

- Na direção do ocaso.

Todo este trecho em diálogo mostra-se de forte tensãocom o emprego de frases curtas.

versos 293 e 294: - E a muçurana funeral rompeste,

 Dos falsos manitôs quebrastes a maça...

Page 109: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 109/207

O velho cita ações heróicas que ele acreditava que o filho pudesse ter praticado. As reticências possuem caráter deênfase, pois mostram que a interrupção do pensamento éintencional.

verso 295: - Nada fiz... aqui estou,- Nada! -

Emudecem;

Diferente das reticências do verso anterior, as que aqui seapresentam são de hesitação. A oração  Nada fiz  será repetida

 pelo filho no verso 299.

verso 299: - Nada fiz; mas souberam da existência

Após a repetição da oração  Nada fiz há uma pausa breve,representada por um ponto-e-vírgula. O guerreiro quer justificar-se.

verso 301: - E depois?...

- Eis-me aqui.

- Fica essa taba? 

O filho sofre um processo de reificação ao se colocar comobjeto da oração Eis-me aqui.

4.3.7.Canto VII:

Este canto apresenta o confronto do velho pai com o chefetimbira. Já na aldeia inimiga, o velho pai reconhece que a

Page 110: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 110/207

libertação de seu filho fora um ato de cortesia; porém, astradições não devem ser quebradas. Assim, o velho tupidevolve o filho e cobra dos Timbiras o cumprimento do ritualde morte reservado a este. O chefe dos Timbiras responde quenão poderia aceitar o ex-prisioneiro, já que este “chorou decobarde”, sendo, logo, “imbele e fraco”. Após o discurso cheio

de emoção do chefe timbira, mostra-se a transformação internado velho pai na última estrofe do canto, que vem a preparar oleitor para a furiosa reação do ex-guerreiro.

Os substantivos.

versos 317-319: Aqui venho, e o filho trago.

Vós o dizeis prisioneiro,

Seja assim, como dizeis;

O substantivo está sendo utilizado como predicativo-complemento. A construção “normal” seria “dizeis que ele é

 prisioneiro”. O autor “preferiu um estrutura mais sintética, queevita a subordinada objetiva, então condensada no acusativo o,ficando o predicativo qualificador em perfeito paralelismosintático” (Melo, op.cit, p.76).

As formas verbais.

verso 314: “Eu porém nunca vencidoO uso de particípio com valor de adjetivo (“vencido”)

sugere a idéia de conclusão. A frase sem verbo pode exprimirforte influência de choque emocional por parte do eu-lírico.

versos 317-319: Aqui venho, e o filho trago.

Page 111: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 111/207

  Vós o dizeis prisioneiro,

Seja assim, como dizeis; 

 Neste trecho, o velho tupi devolve o filho para que ostimbiras dêem prosseguimento ao ritual do sacrifício. Assim,não se quebraria o costume da tribo. O pai dirige-se aos

Timbiras com tom cerimonioso, representado pelo emprego da2a pessoa do plural. Coloca-se em contraste o acatamento tupi eo poder timbira.

verso 320: Mandai vir a lenha, o fogo.

O uso do verbo no imperativo mostra-se com um misto deordem e súplica, já que o velho tupi se apresenta em condiçãofísica inferior (cego e cansado), mas moralmente elevado.

verso 323: Em tudo o rito se cumpra!Verbo na voz passiva sintética conota a necessidade de se

apressar a consumação do ritual, além de acelerar o discurso.

verso 331: De haver-me por pai se ufane!”

 Haver  – ter, segurar; considerar, ter na conta de; alcançar,conseguir.

As figuras de construção.verso 324: E quando eu for só na terra,

o eufemismo neste verso refere-se à morte do filho.

verso 327 e 328: Alguém que meus passos guie;

Page 112: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 112/207

  Alguém, que vendo o meu peito

A anáfora do pronome indefinido representa um futurodesconhecido.

versos 337- 343: É teu filho imbele e fraco!

 Aviltaria o triunfo

 Da mais guerreira das tribos

 Derramar seu ignóbil sangue:

Ele chorou de cobarde;

 Nós outros, fortes Timbiras,

Só de heróis fazemos pasto. -

 No discurso do chefe timbira, as tribos são colocadas emcontraste: os tupis são fracos e covardes, enquanto que ostimbiras são fortes e valentes.

versos 338 – 340: Aviltaria o triunfo

 Da mais guerreira das tribos

 Derramar seu ignóbil sangue: 

Hipérbato marca o desprezo em relação ao moço tupi(predicado em primeiro plano)

versos 341 e 342: Ele chorou de cobarde;

 Nós outros, fortes Timbiras, 

Antítese em Tupi covarde  x  fortes Timbiras. O empregodo adjetivo anteposto ao substantivo intensifica a qualidade dosíndios timbiras.

Page 113: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 113/207

Toda a estrofe (versos 336-343) contrasta a bravuratimbira e a covardia tupi através da seleção vocabular:“imbele”, “fraco”, “ignóbil”, “cobarde”, “guerreira”, “fortes”,“heróis”.

versos 344 e 345: Do velho Tupi guerreiro A surda voz na garganta

A anástrofe coloca em destaque o adjunto adnominal.

verso 347 e 348: Como os rugidos de um tigre,

Que pouco a pouco se assanha!

Eis uma comparação explícita, o que torna a imagemsugerida mais clara. A “fera interna” do velho pai começa a

libertar-se, após tomar conhecimento do choro do filho ante amorte.

Palavras ou expressões especiais.

verso 312: Entre os Tupis, - e mas foram

Valor concessivo em e mas.

versos 315 e 316: Nem nos combates por armas,

 Nem por pobreza nos atos;

A força do velho tupi é expressa pelos combates porarmas  (poder material) e pela nobreza nos atos  (poderespiritual).

verso 323: Em tudo o rito se cumpra!

Page 114: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 114/207

Page 115: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 115/207

outra situação o pai amaldiçoaria o filho porque este choroudiante da morte? A concepção de morte, aí, é especificamenteindígena; só se concebe nas circunstâncias em que ia ocorrer,dentro do ritual mágico característico de tal sacrifício entre osselvagens. Se tal situação fosse transposta para um meiocivilizado qualquer, a cena da maldição e da luta, em que o

 prisioneiro triunfa, perderiam, por certo, o saber poético que possuem.

O velho tupi não aceita ter como descendente um covardee descerra uma lista de maldições para o filho: que nãoencontre o amor, que não tenha paz ou alimento, entre outras.

 No verso 363, o pai já não acredita que o filho venha a teramigos após seu ato de covardia, o que é um agravante dadesgraça. Na quarta estrofe do canto, destaca-se a impotênciados elementos diante da força dos processos desencadeados

 pela presença do índio amaldiçoado.

A menção a um ritual indígena, nos versos 389-392,quando da morte de um semelhante, demonstra como o autor se

 preocupou em conhecer a fundo a cultura indígena. Éimportante lembrar que o poeta teve contato com tribos desdemuito jovem, o que lhe permitiu falar com bastante propriedadesobre costumes indígenas.

Ao fim, ele reitera sua maldição, repetindo palavras antesditas: “Que em presença da morte choraste, / Tu, cobarde, meufilho não és”(versos 395-396). Por meio da repetição de trecho

anterior, enfatiza-se a negação ao filho devido a sua covardia efixa-se a imagem execrável deste tida pelo pai.

Os adjetivos.

verso 375: E o regato que límpido corre,

Page 116: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 116/207

Ao apresentar-se anteposto, o adjetivo tem o seu valoradverbial realçado.

verso 385: Miserável, faminto, sedento,

A gradação dos adjetivos permite a visualização de uma

exata imagem proposta pelo autor; no caso, a destruição, aflagelação do índio covarde.

Os pronomes.

verso 386: Manitôs lhe não falem nos sonhos,

É comum encontrar o não a interromper a seqüência pronome-verbo na obra de GD, e até com o mesmo propósito,um pronome-sujeito, ou um substantivo. Segundo GladstoneChaves de Melo (1992), esta colocação de pronomes-pessoais-objeto é própria da língua arcaica. Na língua moderna, quaseque só permaneceu a intercalação do advérbio negativo que,

 pelo menos hoje, é rara no Brasil.

Advérbios e locuções adverbiais.

versos 357- 362: “Possas tu, isolado na terra,

Sem arrimo e sem pátria vagando,

 Rejeitado da morte na guerra,

 Rejeitado dos homens na paz,

Ser das gentes o espectro execrado:

 Não encontres amor nas mulheres,

O paralelismo entre locuções adverbiais (na terra...naguerra... na paz...nas mulheres) conota a idéia de que o pai

Page 117: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 117/207

condena o filho à total desgraça, em todos os lugares ecircunstâncias.

verso 376: Mais te acenda o vesano furor;

O advérbio “mais” funciona neste verso como

intensificador. Além disso, sua posição sugere envolvimentoafetivo.

As formas verbais.

versos 353-356: Possas tu, descendente maldito

 De uma tribo de nobres guerreiros,

 Implorando cruéis forasteiros,

Seres presa de vis Aimorés. (grifo nosso)

O autor nunca pretendeu ser um purista; assim, mais um“erro gramatical” fez-se presente. A gramática normativaestabelece que, caso o sujeito de ambas as orações seja omesmo, não há necessidade de pluralizar o segundo verbo. Já,se o sujeito da segunda oração for diferente, o verbo deveconcordar com o sujeito dessa oração. Muitos autoresentendem, como regra geral, que se deve flexionar o segundoverbo toda vez que o sujeito plural vier imediatamente antes doverbo:

‘O professor mandou os alunos saírem da sala’.

‘Mandaram os soldados invadirem o presídio’.Todavia, se for uma locução verbal (um verbo auxiliar +

um verbo principal) somente o primeiro verbo é flexionado:

‘As punições não podem ser iguais para todos osrebelados’.

Page 118: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 118/207

‘Diante dessas rebeliões, as regras dos presídios devemser revistas’.

Talvez o poeta tenha feito uso consciente de tal infração, afim de intensificar a situação dramática em que o pai tupi estáenvolvido, já que o trecho mostra o discurso do velho tupi,

cheio de ódio, raiva e desprezo pelo filho. Todavia, a flexãoverbal é bem-vinda neste caso, visto que o verbo no infinitivoencontra-se muito afastado de seu auxiliar (“possas”). Assim,estando o infinitivo flexionado, reforça-se a atribuição à 2a

 pessoa do singular, àquele que é alvo da fúria do pai.

verso 355: Implorando cruéis forasteiros,

Sintaxe rara do verbo (implorar alguém), freqüente nalíngua arcaica. Habitualmente, o verbo traz objeto direto decoisa e indireto de pessoa.

verso 371: Padecendo os maiores tormentos,

O emprego de verbo no gerúndio funcionando como predicativo dá mais destaque à situação do tupi amaldiçoado.

verso 372: Onde possas a fronte pousar.

Merece atenção a escolha vocabular neste verso. O autorutilizou o verbo “pousar” para se referir ao rosto do índio. Acomparação aqui feita é com a imagem de um pássaro perdido,

que precisa de conforto.

verso 393: Sê maldito, e sozinho na terra;

Mais uma vez, um verbo no imperativo vem caracterizar odesejo do pai enfurecido.

Page 119: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 119/207

 

As figuras de construção.

verso 351: Não descende o cobarde do forte;

Forte contraste semântico (cobarde / forte).

verso 366: Nem as cores da aurora te ameiguem,

A conjunção nem  vem enfatizar a negação do versoanterior (pleonasmo).

versos 377 – 380: Suas águas depressa se tornem,

 Ao contato dos lábios sedentos,

 Lago impuro de vermes nojentos,

 Donde fujas com asco e terror!

A metáfora presente nestes versos é formada por termosde forte significação, o que colabora para uma caracterizaçãomais concreta.

verso 384: Seja a terra ao ignavo tupi!

A ordem do sintagma, com a anteposição do adjetivo,denota total desprezo pelo ex-cativo. Ainda, o uso de inicialminúscula para o nome de sua tribo colabora com este quadro,reduzindo o índio a um qualquer.

Palavras ou expressões especiais.

versos 359-360: Rejeitado da morte na guerra,

 Rejeitado dos homens na paz,

Page 120: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 120/207

“De” na regência do complemento da passiva. Esta é umaconstrução habitual da língua clássica; o emprego de “por”seria o usual.

verso 367 e 371: E entre as larvas da noite sombria

(...)Padecendo os maiores tormentos,

O uso de expressões tais como “larvas da noite sombria”,“maiores tormentos” sugere castigo.

versos 381 e 382: “Sempre o céu, como um teto incendido,

Creste e punja teus membros malditos

 Incendido, creste e punja são mais algumas palavras que

exemplificam o repertório clássico fartamente utilizado porGonçalves Dias em suas obras.

Outros recursos estilísticos.

versos 359-360: Rejeitado da morte na guerra,

 Rejeitado dos homens na paz, 

Anáfora – adição de idéias e ênfase no adjetivo“rejeitado”.

versos 362 e 365: Não encontres amor nas mulheres,

(...)

“Não encontres doçura no dia,

Anáfora ( Não encontres) reforça a maldição do pai.

Page 121: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 121/207

 

4.3.9. Canto IX:

O narrador retoma o discurso e descreve as ações que sedesenrolam em seqüência à atitude do velho pai. Encerrada amaldição, o velho pai começa a se mover com dificuldade,apalpando ao seu redor, o que é dito como sendo um castigo deTupã, o deus indígena. Nos versos 402 e 405: ouvem-se osgritos do ex-cativo, “Alarma! Alarma!”, gritos proferidosquando em lutas, em épocas anteriores (noutra quadra melhor ).O pai reconhece a voz do filho e chora de orgulho, ao perceberque a coragem está de volta ao guerreiro (versos 412 e 413). Ochoro de um representante tupi agora é de orgulho, diferente do

 pranto do prisioneiro diante da morte. O alívio é tal para o paique este choro de glória “remoça” o sua coração. O jovem

índio luta como um herói; os timbiras em combate sãocomparados a uma tempestade (verso 424), e o ex-prisioneiro éum rochedo vivo, já que retomou toda a sua coragem e honra(verso 424).

 Na segunda estrofe do canto, é narrada a luta do jovemtupi com índios da tribo inimiga, que só acaba com a ordem dochefe dos timbiras; este reconhece ser o Tupi um “guerreiroilustre”. Em seguida, o velho pai perdoa o filho e abraçam-se.Agora, após a vitória do guerreiro tupi, o velho pai chora deorgulho; logo, tais lágrimas não desonram, visto que são de

alegria. O pranto do pai contrasta com o de seu filho, quechorou devido ao medo.

Os substantivos:

verso 426: Que a fama dos Tupis – o nome, a glória 

Page 122: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 122/207

A enumeração de tais nomes como  fama, nome  e glória vem caracterizar a tribo Tupi e, conseqüentemente o

 prisioneiro, que pôde recuperar sua honra.

Os adjetivos e as locuções adjetivas:

verso 409: De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.

A caracterização do coração do velho pai é aqui feita,dando-se destaque para sua condição de guerreiro, que émencionada em primeiro lugar. O seu coração é “de guerreiro ede pai”. Demonstra-se que, acima de tudo, um índio nasce paraa luta.

verso 431: - Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,

O chefe timbira refere-se ao tupi como guerreiro ilustre, oque demonstra não ser mais este fraco e covarde.

verso 438: “Corram livres as lágrimas que choro,

As lágrimas que agora correm livres poderiam simbolizara libertação tanto do pai quanto do filho. Este foi presoefetivamente enquanto que aquele foi, durante o período do

 poema, prisioneiro da amargura, da desonra.

Os pronomes:

verso 429: De um jato e por um só se aniquilasse.

A repetição do pronome um  enfatiza a gravidade domomento: somente um episódio (o pranto do prisioneiro) foracapaz de enfraquecer a fama dos Tupis.

Page 123: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 123/207

As formas verbais:

verso 419: E os sons dos golpes que incessante fervem,

A escolha do verbo  ferver   para ser usado com o sujeitosons dos golpes sugere que tal luta foi muito violenta.

versos 430-432: - Basta! clama o chefe dos Timbiras,

- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,

E para o sacrifício é mister forças. -

 Nesta estrofe apresenta-se discurso direto do chefetimbira. Seu tom é veemente, visto que o índio clama.

verso 434: Do velho pai, que o cinge contra o peito,

Cingir contra... com sentido de apertar contra.... A preposição empregada traduz a idéia de movimento em direçãoa. Sendo o  peito o termo desse movimento, entende-se que a

 preposição foi utilizada para exprimir um gesto afetivo, cordial.

As figuras de construção:

versos 400- 402: Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias

 Da sua noite escura as densas trevas

Palpando. – Alarma! alarma! – O velho pára!

Ao descrever-se a dificuldade de deslocamento do velho pai, sua fraqueza física é destacada por uma hipálage: não só o pé, mas todo o corpo do índio treme. Seu estado é deploráveldevido não somente pela velhice, mas também pela amargasurpresa do destino.

Page 124: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 124/207

verso 401: Da sua noite escura as densas trevas 

O poeta enfatiza a infelicidade do velho pai através de bela metáfora (...noite escura as densas trevas). GonçalvesDias compara a limitação física – cegueira- com a decepção dovelho índio. A escuridão de seus olhos transferiu-se para suaalma.

versos 417-418: Revolve-se, enovela-se confusa,

E mais revolta em mor furor se acende.  

Aliterações (revolve-se, enovela-se...revolta) parecemsugerir a confusão do embate.

versos 418 e 419: E mais revolta em mor furor se acende. 

E os sons dos golpes que incessante fervem,Polissíndeto. Adição de idéias contribui para o tom

narrativo do poema.

Outros recursos estilísticos:

verso 420: Vozes, gemidos, estertor de morte

Gradação representa o desenrolar do combate, com certodestaque para a derrota de alguns.

4.3.10. Canto X:

 No canto que encerra o poema, nota-se o emprego deverbos no pretérito imperfeito do indicativo, muito utilizado ao

Page 125: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 125/207

se contar histórias, e a retomada do ritmo marcial, abandonadono canto IV, indica que o equilíbrio está de volta à rotina datribo.

A figura de um velho timbira aparece, contando oepisódio narrado neste poema. Os membros mais antigos das

tribos são os responsáveis pela transmissão das tradições, dosusos e dos costumes, e pelo relato das experiências vividas. Neste último canto, o velho timbira narra o episódio ocorridocom o prisioneiro Tupi; são afirmadas as qualidades heróicasdo guerreiro, que se transforma em mito nas tradições dacultura timbira. O velho índio, que presenciou o fato, relata tervisto o guerreiro proferir o canto de morte, chorar diante daameaça e, mais adiante, enfrentar os Timbiras.

As estrofes primeira e última desta parte são semelhantes,o que representa o fato de um velho Timbira repetir o relato do

episódio diversas vezes, transmitindo a lembrança e fama doguerreiro tupi: “Neste canto, o narrador nos diz da marca quetal episódio deixara entre os Timbiras, e mais, informa o leitoracerca do processo de transmissão cultural constante nassociedades tribais: o contador de histórias, um documentovivo”. (Simões, 1985, p. 230). A repetição da frase “Meninos,eu vi!” (versos 445 e 463) destaca ser o ocorrido um fatoverídico, e não uma lenda. Na segunda vez em que tal frase é

 proferida, observa-se a ausência de travessão antes de discursodireto, o que pode significar a fusão da voz do narrador épicodo poema a do narrador timbira.

A típica visão do índio romântico, idealizado, faz-se presente no fim do poema. Apesar de chorar na presença damorte, o guerreiro tupi foi capaz de derrotar seus inimigos erecuperar sua honra.

Page 126: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 126/207

Os artigos:

verso 442: Do moço guerreiro, do velho Tupi!

O uso de artigo definido para se referir ao ex-prisioneirodemonstra que a personagem tornou-se única, lendária, já quetal elemento especifica um ser.

verso 458: Assim o Timbira, coberto de glória,

Mais uma vez utiliza-se artigo definido paraespecificação. Neste caso, sugere familiaridade, já que o velhoTimbira já foi mencionado anteriormente.

As formas verbais:

verso 451: Que o tenho nest’hora diante de mi.

Tem-se aqui a presentificação do fato na mente destevelho timbira através do emprego de verbo no presente doindicativo e do sintagma nest´hora. O índio é testemunha vivado episódio, assim, seu relato torna-se confiável.

verso 459: Guardava a memória

A escolha pelo verbo guardar , o que também ocorre noverso 441, sugere a afetividade com que o fato era conservado,além do sentido primeiro de permanência na memória.

verso 463: Tornava prudente: “Meninos, eu vi!”

Outra escolha vocabular relevante: o verbo tornar   indicainsistência, e o seu emprego no pretérito imperfeito reforça aidéia do recontar dos fatos.

Page 127: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 127/207

 

As figuras de construção:

versos 446-448: “Eu vi o brioso no largo terreiro

Cantar prisioneiro

Seu canto de morte, que nunca esqueci:

O efeito da sínquise provém precisamente daambigüidade. A palavra deslocada passa a permitir duasinterpretações para o texto.

A ordem direta seria: “eu vi o brioso prisioneiro cantar, nolargo terreiro, seu canto de morte, que nunca esqueci”. Daforma como é apresentado o trecho, pode-se, ao mesmo tempo,interpretar brioso como substantivo na função de objeto direto,e prisioneiro como adjetivo em função de predicativo-adjunto;

ou brioso prisioneiro  como um sintagma nominal apenasinterrompido pela projeção do substantivo.

Palavras ou expressões especiais:

verso 445: Dizia prudente: - “Meninos, eu vi!”

O vocativo é comumente utilizado no relato de histórias,tendo como função chamar a atenção dos ouvintes para o queestá sendo contado (função apelativa).

Page 128: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 128/207

Capítulo V: ANÁLISE SEMIÓTICA

Uma análise semiótica de um poema como I-Juca-Piramaassemelha-se à interpretação de uma obra teatral ou mesmo deum filme. A qualidade plástica dos versos de Gonçalves Dias,especialmente neste épico, permite a reprodução mental das

imagens que compõem as cenas descritas ao longo do poema.

As qualidades icônicas, simbólicas e indiciais apuráveisno texto podem servir de lanterna a iluminar leituras denatureza histórico-literária muito ricas.

 Na trilha da teoria da iconicidade, é possível, porexemplo, fazer um levantamento dos adjetivos (e locuçõesadjetivas) e dos advérbios (e locuções adverbiais) com vistas aclassificá-las como icônicas, indiciais ou simbólicas para darconsistência à interpretação imagética da obra.

A iconicidade lexical (reunindo a potencialidade sígnicaem um só plano) é o recurso primeiro na produção textualConsiderando-se que os enunciados são constituídos a partirdas combinações lexicais, verifica-se que a seleção desteselementos é garantidora da eficiência comunicativo-expressivados textos.

Vemos a iconicidade lexical  quase sempre associada àiconicidade diagramática  (organização dos sintagmas edistribuição dos signos na superfície do texto). A elaboração

dos sintagmas demanda acurada seleção lexical para produzirimagens mentais que se distribuem nos planos fônico, mórficoe sintático-semântico.

É claro que uma análise semiótica não se restringiria aoexame do léxico, contudo, no presente estudo, utilizaremos aiconicidade lexical como demonstração da capacidade

Page 129: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 129/207

estilística do poeta maranhense na composição de um texto quere(a)presenta um ritual indígena que transita entre o bem e omal, o sagrado e o profano, a audácia e a extrema covardia.

Para organizar a leitura do texto numa dimensãosemiótica, iniciaremos pela classificação dos adjetivos, por

Canto, distribuindo-os pelas categorias de ícone, índice esímbolo, com vistas a realçar a descrição das cenas narradas.

4.4.1. Canto I

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

1 amenos avaliação índice O termo qualifica o localcomo sendo de temperaturaamena, devido à presença demata ao redor.

2 de flores descriçãoexterna

ícone Correspondência direta coma realidade

3 altiva afeto índice A escolha por tal adjetivodemonstra a intenção de seexaltar a tribo referida, a dosTimbiras.

4 fortes avaliação símbolo O termo qualifica “osânimos” dos Timbiras, o queos caracteriza como sendouma tribo de guerreirosvalentes, de “briosexaltados”.

5 Temíveis avaliação índice O adjetivo deixa claro que osguerreiros timbiras sãodifíceis de se derrotar.

5 em densascoortes

descriçãoexterna

índice Descrição que induz a umaimagem de força, vigor e poderio.

6 das matas posse ícone Sintagma que faz referênciaàs florestas

Page 130: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 130/207

6 imensa descriçãoexterna /avaliação

ícone-índice

Termo que demonstra o poderia dos Timbiras: elessão temíveis em um grandeterritório

7 rudos,severos,sedentos

descriçãointerna

índice Adjetivos que qualificam osíndios timbiras: bravos,imbatíveis, sempre prontos

 para a guerra.8 prélios descriçãointerna

índice Com espírito de luta

9 meigos descriçãointerna

índice Apesar de bravos guerreiros,os Timbiras também sãosensíveis.

9 do cantor posse ícone A locução adjetiva indica dequem é a voz

10 valentes avaliação índice Talvez seja este o termo quemelhor descreve osguerreiros timbiras, visto quediversos sinônimos sãoutilizados no poema para se

descrever membros da tribosupracitada.12 de

 prodígios,de glória eterror

avaliação índice Os sintagmas caracterizam ashistórias contadas pelosíndios sobre os Timbiras: asvitórias e os grandes feitosdestes, além do temor sentido pelos inimigos sãoenfatizados.

13 vizinhas descriçãoexterna

ícone O termo aponta para quaistribos sucumbem ao podertimbira; são aquelas cujasaldeias são próximas.

17 custosos avaliação símbolo É uma grande sacrifício paraos derrotados prestarhomenagem ao inimigo.

17 ignavos avaliação índice Termo referente à covardiade tribos que desistem docombate contra os Timbiras

18 duros afeto símbolo O adjetivo representa a forçae o poder do Timbira

Page 131: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 131/207

20 guerreiro descriçãoexterna

ícone O adjetivo se refere à reuniãode guerreiros da tribo

21 da tribosenhora

avaliação índice O sintagma alude à tribotimbira, a mais poderosa daregião.

21 das tribosservis

avaliação índice Este sintagma demonstra,assim como o anterior, o

 poder timbira: as decisõestomadas no concílioguerreiro não só dizemrespeito aos Timbiras mas àsoutras tribos sob seu domíniotambém.

22 sentados descriçãoexterna

ícone O termo indica não só a posição dos homens mastambém seu estado físico (sendo velhos, encontram-secansados, o que justifica ofato de estarem sentados enão de pé) ou até mesmo uma

hierarquia: os velhosguerreiros, a quem todosdevem respeito, têm pordireito permanecer em posição mais confortável.

23 inquietos descriçãoexterna

ícone Os jovens timbiras, com aansiedade típica damocidade, querem que osacrifício comece prontamente.

24 infeliz descriçãointerna

ícone É evidente a tristeza do prisioneiro, visto que seucativeiro representa uma

desonra grave para qualquerguerreiro.25 ignoto avaliação índice O nome do prisioneiro é

desconhecido, provavelmente por não ser um guerreirocujas glórias são exaltadas por outros.

Page 132: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 132/207

26 remoto avaliação ícone Sua ascendência provavelmente é antiga, dealguma tribo de tradição; oude uma aldeia distante

27 gentil afeto índice A escolha deste termo indicaque o prisioneiro e sua gentesão considerados inferiores.

28 insulano descriçãoexterna ícone O adjetivo caracterizaalguém afastado, isolado, preso.

29 distinto avaliação índice O adjetivo destaca adiferença existente entre astribos. Há aquelas que sedestacam por terem tradiçãoguerreira e, assim, tornam-serespeitadas. Outras, amargamum legado de submissão paracom as primeiras.

29 vil avaliação índice Termo empregado paracontrastar com o adjetivo

nobre, marca a origeminferior do prisioneiro.30 corretas avaliação símbolo O termo vem a designar

como o ideal a origem nobrede alguém.

30 nobre afeto índice Perfil nobre sugereascendência rica, de um povoinfluente.

31 prisionei-ro

estado ícone Termo com correspondênciadireta com a realidade.

32 extenso descriçãoexterna

ícone Mais um adjetivo quedescreve o tamanho da aldeia

34 dos seus

arredores

local ícone Locução que indica a

localidade das tribos que irão participar do ritual; são tribosvizinhas.

35 cuidosos avaliação ícone-índice

Os índios são cuidadosos aolidarem com objetosutilizados em rituais, o quedemonstra respeito para comas tradições.

Page 133: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 133/207

35 das cores descriçãoexterna

símbolo O termo cores representa astintas a serem utilizadas noritual.

36 vários quantidade ícone O ritual envolve diversos procedimentos

36 honrosa afeto símbolo O fato de ter sido convidadae possuir uma

responsabilidade no ritual deoutro povo é motivo de honra para qualquer tribo.

37 Da vastafogueira

 posse ícone Correspondência direta coma realidade

38 da embiraligeira

 posse ícone Constrói a imagem da embiracomo se fosse uma cobra;anima-a.

40 da aldeia posse ícone Correspondência direta coma realidade

42 Garboso afeto ícone Representa a imponência doque vai morrer.

42 de vário

matiz

descrição

externa

ícone Locução que transmite a

idéia de colorido do objeto.44 Afeitas avaliação índice As mulheres timbiras

também são contagiadas peloespírito da ritualística, queenvolve o sacrifício do prisioneiro. Elas também sesentem responsáveis pelofeito.

44 bárbara avaliação índice Adjetivo que conota acrueldade do ritual.

45 cativo estado ícone Termo que indica a situaçãodo índio; este encontra-se preso.

47 Brilhante descriçãoexterna

ícone Adjetivo comcorrespondência direta com arealidade (um objeto que brilha).

48 gentil avaliação símbolo Termo referente ao penachodo prisioneiro, o que podeconotar uma origem nobre.

Page 134: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 134/207

Semiose dos advérbios:Verso  Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

1 No meiodas tabas

lugar ícone Correspondência direta coma realidade (no centro dealgum lugar)

2 Cercadas

de troncos

modo ícone Composição do cenário.

5 na guerra tempo índice Locução que indica temposde luta, geralmente commuitas mortes.

11 lá lugar índice Tal advérbio sugere que afama dos Timbiras atingeum vasto território, que seusfeitos são cantados atémesmo em terras muitodistantes.

11 na bocadas gentes

lugar ícone Locução que determinaquem canta as glórias dosTimbiras.

13 semforças,sem brio

modo índices As duas locuções ilustram oestado das tribos derrotadas pelos Timbiras.

14 ao rio lugar símbolo Local de destino das armasquebradas.

17 lá lugar índice Mostração com força dêitica,como se apontasse para olocal.

18 na paz tempo índice Quando não há a guerra19 No centro

da tabalugar ícone O local exato

22 D’outrora tempo índice Termo que remete a “tempos

remotos”24 em torno lugar ícone O local exato27 por certo afirmação índice Já que o nome do índio é

desconhecido, elecertamente pertence a umatribo sem expressão.

28 Assim lána Grécia

lugar ícone O local exato

Page 135: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 135/207

31 Por casosde guerra

tempo índice Locução que indica o motivoe ocasião em que o índio foi preso.

32 Nas mãosdosTimbiras

lugar símbolo A expressão “cair nas mãosde” conota a idéia de estar àmercê de, ser pego ou preso por alguém.

33 em prisão lugar ícone O local em que foi preso39 com penasgentis

instrumento ícone A locução apresentaexatamente o objetoutilizado; relação direta coma realidade.

43 com ledatrigança

modo índice As mulheres ansiavam peloinício do ritual, tinham pressa.

47 no corpo lugar ícone Relação direta com arealidade.

4.4.2. Canto IISemiose dos adjetivos:

Verso Adjetivo  Indicadorde

Categoria Justificativa

49 fundos descriçãoexterna

ícone Correspondência direta coma realidade

49 d’alvacentaargila

descriçãoexterna

ícone Correspondência direta coma realidade

54 sentado descriçãoexterna

ícone Correspondência direta coma realidade

57 dura avaliação ícone /símbolo

O termo tanto pode fazerreferência à rigidez doobjeto quanto ao destinoinfeliz que ela representa.

59 da vidaescura

 posse /avaliação

índice /símbolo

Todo o sintagma refere-seao termo fim, o que indica amorte do Tupi; já o adjetivoescura caracteriza a vida do prisioneiro, que seria uma

Page 136: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 136/207

Page 137: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 137/207

83 prostrado estado ícone O prisioneiro encontra-seabatido, fraco.

86 forte afeto símbolo Adjetivo que caracteriza umherói lembrado por suavalentia ao encarar a morte.

87 ufano avaliação índice O herói enfrentou a mortecom altivez, ou até com

certo desdém, o que indicaser alguém bastanteconfiante em si mesmo.

88 Da friamorte

avaliação índice Sintagma referente ao termomedo, o que evidencia umterror comum aos sereshumanos: o do morte.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

49 Em fundosvasos

lugar ícone Correspondência direta coma realidade

55 no ocaso lugar /tempo

ícone-índice

O termo pode significar oocidente (ícone) ou a ruína,morte do prisioneiro(índice).

63 não negação símbolo Afastamento; proteção.65 não negação símbolo Afastamento; proteção.68 Na fronte lugar ícone Representação imagética.70 No passo modo ícone Representação imagética.73 além dos

Andeslugar ícone /

símboloCorrespondência direta coma realidade ou “localdistante”

78 lá lugar índice Indicação do local exato.

85 Além dosAndes lugar ícone /símbolo Correspondência direta coma realidade ou “localdistante”

Page 138: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 138/207

 

4.4.3. Canto III

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

89 larga descriçãoexterna ícone-índice Sendo uma roda grande, provavelmente há muitosguerreiros participando daritualística.

89 novéis descriçãoexterna

ícone Jovens, inexperientes

90 Timbira relação índice Ritual dos timbiras91 do sacrifício avaliação ícone Representação afetiva.94 destra descrição

externaícone Mão direita

95 Orgulhoso e pujante

avaliação índice Os adjetivos aquiempregados demonstramcomo um Timbira

 participante do ritual sesente: poderoso, altivo,forte.

96 d’alvomarfim

descriçãoexterna

ícone Correspondência diretacom a realidade – omaterial de que é feito ocolar.

d’honra afeto índice O que o colar significa para os Timbiras

97 Que lhe ornao colo e o peito

descriçãoexterna /afeto

ícone /símbolo

O colar é um ornamentonão só do corpo (ícone) bem como da alma timbira(símbolo).

98 não sabido avaliação índice Sugere incerteza99 Encantadas estado símbolo Impressão99 grandes afeto símbolo Por terem sido derrotados,

é dito que os Tapuias possuem almas “grandes”,são consideradosimportantes.

Page 139: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 139/207

100 Dosvencidos

avaliação ícone Os Tapuias são umexemplo de tribo derrotada pelos bravos Timbiras.

101 d’inimigosferos

 posse índice Sintagma alude à bravuratimbira: são guerreirosdessa tribo que ostentam aglória de terem derrotado

os Tapuias.102 prisioneiro estado ícone Correspondência diretacom a realidade.

103 fraco avaliação ícone-índice

O índio encontra-se nesteestado devido à luta comos Timbiras ou graças aum desgaste emocional.

103 sem tribo, esem família

descriçãoexterna

ícone Retrata a solidão do Tupi

104 ousado avaliação símbolo Denota modelo.105 vil avaliação índice A morte do Tupi é

considerada um fatoordinário, sem

importância.105 de um forte afeto índice Aquele que sacrificará o prisioneiro será umTimbira, ou seja, um forte.

106 mísero avaliação símbolo Retrata estado precário.111 triste avaliação índice Sugere estado de

sofrimento.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

89 Em larga

roda

lugar ícone Correspondência direta com a

realidade90 Ledo modo índice Os Timbiras celebram osacrifício do prisioneiro. Oemprego do termo ledo demonstra que o ritualtranscorre de forma alegre,vibrante.

92 Na fronte lugar índice O sintagma refere-se à testa,

Page 140: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 140/207

onde se encontra o canitar(penacho)

92 em ondas modo símbolo O movimento das ondas, aque é comparada a agitaçãodo canitar, sugere tanto ummovimento contínuo comoviolento (caso se pense em

um mar agitado).93 na cinta lugar ícone Correspondência direta com arealidade

94 Na destramão

lugar ícone Correspondência direta com arealidade (na mão direita)

95 Ao menor passo

tempo símbolo “A qualquer movimentoleve”

99 ali lugar símbolo Termo que se refere ao colar,objeto representativo dasconquistas da tribo (as almasdos derrotados ficamguardadas no colar).

100 inda tempo índice Situa na história.

102 aqui lugar índice Situa no cenário.106 a terreiro lugar índice Situa no cenário.110 ao redor lugar ícone Retrata cenário.111 Com triste

vozinstrumento índice O tom de voz do prisioneiro

deixa transparecer seuconflito interno.

4.4.4. Canto IV

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

112 de morte posse índice Prenunciando que serásacrificado, o jovem tupidecide por contar as glóriasde sua tribo.

114 das selvas posse índice O sintagma indica o localonde o guerreiro nasceu efoi criado.

117 tupi avaliação índice Termo designador de seu

Page 141: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 141/207

 povo.118 pujante afeto índice Adjetivo que qualifica sua

tribo como sendo altiva, poderosa

119 errante avaliação índice O termo tanto aponta paraações equivocadas e possíveis derrotas dos Tupis

quanto para o fato de seruma tribo sem aldeia fixa,mas com seus membrosespalhados por diversaslocalidades.

120 inconstante avaliação índice O prisioneiro afirma queseu destino não é certo.

122 bravo...forte avaliação índice O guerreiro tupi fala de si eafirma ser valente.

123 do Norte posse índice O sintagma aponta para alocalidade onde o jovemnasceu.

124 de morte posse índice Repetição de verso anterior

(112). Enfatiza-se o destinotrágico do prisioneiro.126 cruas avaliação símbolo Termo qualifica batalhas

difíceis de serem vencidas.127 De tribos

imigasavaliação índice O Tupi diz ter enfrentado

inimigos em lutascomplicadas. O uso daforma arcaica do adjetivoinimigas demonstra que aanimosidade existente entreas tribos vem de temposremotos.

128 duras avaliação símbolo Adjetivo refere-se aos

desafios das guerras.129 Da guerra origem índice O jovem guerreiro afirma

ter sofrido muito durante batalhas.

130 mendaces avaliação Índice-ícone

Atributo dado às ondas quegeravam temor

132 fugaces avaliação índice Termo que remete ao levefrescor da brisa no rosto.

Page 142: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 142/207

133 Dos ventos posse ícone134 longes descrição

externaícone O prisioneiro afirma ter ido

a lugares muito distantes.135 cruas avaliação símbolo Termo já utilizado em verso

anterior (126) e com amesma finalidade:qualificar batalhas difíceis

de serem vencidas.137 Dos visAimorés

 posse índice O sintagma indica que oTupi esteve em terras deinimigos. Estes sãoqualificados como “vis”, ouseja, formam uma tribo semimportância.

138 de bravos avaliação ícone O jovem Tupi presencioulutas entre valentesguerreiros.

139 fortes descriçãoexterna /avaliação

Ícone-índice

Termo referente à forçafísica dos guerreiros e à sua bravura.

139 escravos estado ícone Se tomado como adjetivo, otermo qualifica guerreirosderrotados e, por isso, feitosde escravos.

140 Deestranhosignavos

Origem Ícone Classificação judiciosa dosíndios da outra tribo.

141 Calcados Estado símbolo Prisioneiros sãohumilhados, reprimidos.

142 talados descriçãoexterna

ícone Adjetivo caracteriza oscampos como devastadosapós as batalhas.

143 quebrados descrição

externa

ícone Armas são destruídas

durante as lutas144 coitados avaliação índice O adjetivo torna os pajés

dignos de pena146 meigos avaliação índice O termo refere-se à forma

como os cantores semostram. Visto que estão àserviço de índios traidores,seu comportamento não

Page 143: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 143/207

deve levantar qualquersuspeita.

148 traidores avaliação índice Condição predicativa.149 de paz Matéria Índice Locução adjetiva

reforçativa da máscaraatribuída aos inimigos.

150 do imigo Posse ícone Sintagma referente ao

ataque do inimigo.151 último avaliação ícone-índice

O adjetivo remete ao únicocompanheiro do jovem Tupique ainda era vivo; todos osoutros provavelmente pereceram ante inimigos.

154 plácido descriçãoexterna

ícone-índice

Termo demonstra aserenidade, o auto-controledo jovem tupi.

155 Sereno ecomposto

descriçãoexterna /estado

ícone-índice

Os adjetivos tanto podem sereferir ao rosto do Tupiquanto ao índio em si, sua postura perante a derrota do

amigo.156 acerbo avaliação símbolo A tristeza, a decepção, écomumente qualificadacomo “amarga”.

159 cego equebrado

descriçãoexterna

ícone /símbolo

O primeiro adjetivo remetea uma característica físicado pai; já o segundo refere-se ao seu cansaço e idadeavançada.

160 De penasralado

Causa Ícone-símbolo

Causa da aparência sofridado indígena.

162 mesquinhos estado índice Pai e filho mostram-secansados

163164

ínvios...Cobertosd’espinhos

descriçãoexterna /avaliação

ícone /símbolo

Os caminhos por eles percorridos podem ter sidofísicos (as matas queatravessaram) oumetafóricos (os desafiosenfrentados). No primeirocaso, os caminhos difíceisde se transitar,

Page 144: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 144/207

 provavelmente de matafechada com muitosespinhos que osmachucaram. No segundo,os “caminhos” seriamgrandes provas,consideradas impraticáveis.

169 Só estado ícone Se tomado como adjetivo, otermo refletiria o desejo dovelho tupi de morrersozinho, sem que o filhovisse seu sofrimento.

174 forasteiro estado ícone O Tupi é estranho em terrasinimigas

175 prisioneiro estado ícone Por ser estrangeiro, o jovemíndio é capturado.

176 De um troçoguerreiro

agentivo índice Indicador do agente da prisão.

178 cru avaliação símbolo O nervosismo do pai, quenão tem notícias do jovem,

é desesperador.179 do pai posse ícone O velho tupi não se acalma.179 fraco e cego descrição

externaícone Novamente a fragilidade

física do índio é enfatizada.183 sombria descrição

externaícone /símbolo

O sintagma noite sombria  pode ter sentido denotativo(uma noite muito escura) ouconotativo (simbolizando acegueira do velho tupi). Emambos os casos, o jovemguerreiro serviria de guia para o pai.

184 só Atributo Ícone-

símbolo

Identificação absoluta

189 lhe posse Índice Destinação190 velho

coitadoavaliação Índice-

símboloDescrição misericordiosa

191 De penasralado

Avaliação Índice-ícone

Causa da aparência sofridado velho.

192 cego equebrado

descriçãoexterna

ícone /símbolo

Repetição de verso anterior(159) com a mesma

Page 145: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 145/207

finalidade: referir-se a umacaracterística física do pai eao seu cansaço pela idadeavançada.

195 breve avaliação índice Adjetivo remete à vida doíndio, sendo este ainda jovem.

196 da vida posse índice O sintagma giro da vida indica a extensão da vida.198 vil...ignavo avaliação índice O prisioneiro diz não ser

covarde199 forte...bravo avaliação índice O jovem tupi enfatiza sua

coragem

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

115 Nas selvas lugar ícone Local onde foi criado: nasmatas.

119 agora tempo símbolo Refere-se ao momento presente.

126 Já tempo símbolo Presentificação absoluta130 Nas ondas

mendacesLugar/modo Ícone-

símboloAtributo de uma forçairresistível

131 pelas faces lugar ícone Local onde sentiu o ventotocar sua pele.

134 longesterras

lugar ícone Os lugares por onde andoueram distantes.

136 pelasserras

lugar ícone Um dos locais por ondeandou era de uma triboinimiga.

141 aos pés lugar Índice subserviência

145 Já tempo índice Advérbio enfatiza aausência de maracás, alémde situar em tempo remotoa submissão dos piagas aosguerreiros.

149 Commostras de paz

instrumento índice Sendo os índios traidores,tais demonstrações de pazindicam uma futura

Page 146: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 146/207

reviravolta em suas ações.153 junto lugar ícone O amigo caiu perto do

 jovem tupi.158 a meu lado lugar ícone Posição do pai junto ao

filho, tendo este como seuguia.

159 Já tempo índice Termo indica que o pai

sofre fisicamente há algumtempo.163 Por ínvios

caminhoslugar ícone /

símboloA trajetória de ambos foi por matas fechadas,caminhos difíceis de setranspor, ou por grandesdesafios (sentidometafórico).

165 aqui lugar índice Situa no cenário.167 já tempo índice Sendo empregado junto ao

termo “tanto”, o advérbioacentua a intensidade dosofrimento.

167 tanto intensidade símbolo Indica que o velho pai sofremuito.169 Só Exclusão símbolo “apenas”170 Não mais Negação Ícone-

símboloForça negativa.

171 Nas matas lugar ícone Lugar onde o índio adentraà procura de alimento eabrigo para ele e seu pai.

174 Então tempo símbolo Relaciona a situação presente (o índio prisioneiro) e a do passado(o índio como umestrangeiro).

180 Enquanto tempo símbolo Movimento cíclico.183 Na noite

sombriatempo símbolo Sintagma referente à

cegueira do pai.186187188

Em mim lugar ícone-índice

A repetição marca adependência do velho tupi para com o filho.

192 Já tempo índice Repetição de verso anterior(159) com mesma

Page 147: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 147/207

finalidade: indicar que o paisofre fisicamente há algumtempo.

194 Enquanto tempo símbolo Movimento cíclico.195 tão intensidade símbolo O termo indica que o

 prisioneiro é bem jovem.198 Não (2x) negação símbolo O prisioneiro enfatiza o

fato de não ser covarde.201 Aqui lugar índice Situa no cenário.202 não negação símbolo O prisioneiro quer deixar

claro que não seenvergonha por chorar.

205 também Inclusão Ícone O Tupi inclui-se entre osfortes.

4.4.5. Canto V

Semiose dos adjetivos:

Verso Adjetivo Indicadorde

Categoria Justificativa

209 segunda quantidade ícone O chefe timbira teve queemitir a ordem novamente pois os outros índios pareciam não acreditar nasoltura do prisioneiro.

211 estranho avaliação índice Termo caracteriza o prisioneiro, sendo esteestrangeiro. Neste verso, oadjetivo exerce a função desujeito.

212 enternecido avaliação índice O jovem tupi mostra-secomovido com a sualibertação

213 Solto estado ícone Predicativo.214 ilustre afeto índice Atributo descritivo.214 grande afeto símbolo Termo utilizado para

designar alguémimportante.

Page 148: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 148/207

218 do filho Origem Ícone Atributo especifiativo218 cansado estado ícone O velho pai encontra-se

cansado devido à avançadaidade.

220 livre estado ícone O jovem tupi foi libertado.221 morto estado ícone Quando o pai não for mais

vivo, o ex-prisioneiro

 promete voltar paracumprir sua sina.222 feliz descrição

internaícone O chefe timbira acredita

que o velho tupidesconhece a covardia doex-prisioneiro.

223225

livre estado ícone-índice

Enfatiza-se a liberação do jovem tupi já que osTimbiras não querem umcovarde entre eles.

227 dos Tupis posse índice O jovem guerreirodemonstra orgulho de pertencer à tribo tupi.

228 maior Avaliação ícone A honra tupi cresce quandodesafiados.229 Da morte posse Índice-

íconeAtributo deslocado pararealce.

229 glorioso avaliação índice A escolha de tal termo parase referir à mortedemonstra respeito paracom ela.

232 vil avaliação índice Sendo o índio covarde, suacarne também está“contaminada” por essemal.

234 do coração posse ícone A reação do prisioneiro é

enfatizada neste versoatravés do enfoque nas batidas do coração.

235 Precípite avaliação índice As batidas do coração eramrápidas, o que demonstra aemoção tomando conta doex-prisioneiro.

235 afogueado descrição símbolo O rosto esquentava devido

Page 149: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 149/207

externa à raiva contida.236 Gélidas...

de suordescriçãoexterna

índice O suor frio remete aonervosismo.

238 enlutada Descriçãointerna

Índice O sentimento de luto que povoa a mente do velho.

240 Do velho pai

 posse ícone Ao pensar na provávelreação do pai ao saber o

que lhe ocorreu, o prisioneiro vislumbra aimagem do velho índio.

240 moribunda descriçãoexterna

ícone O jovem guerreiro parecever o pai quase morto. Eleacredita que o estado dovelho tupi se agravariacaso soubesse de seu “atode covardia”.

241 Ingrato (2x) avaliação índice Repetição do adjetivo noverso adiciona cargaemocional ao termo, que o pai usaria para se referir ao

filho.242 Curvado descriçãoexterna

índice Tal posição demonstra osentimento de derrota doTupi.

242 taciturno efrio

descriçãointerna eexterna

ícone-índice

O ex-prisioneiro mostra-secalado, com ar soturno,triste...

243 d’homem Atributo Ícone Descrição da condiçãofunesta do selvagem.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador de Categoria Justificativa

207 mal modo índice Provavelmente osTimbiras ouviram aordem, mas não puderamacreditar

208 nunca negação símbolo O emprego do termoevidencia o ineditismo dadecisão do chefe timbirae a surpresa dos demais

Page 150: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 150/207

membros da tribo.209 com voz

mais altainstrumento ícone Sendo o sintagma

utilizado comocomplemento do verbobradar , enfatiza-se aordem do líder.

209 alta intensidade índice A altura da voz indica

que a ordem remete aalgo urgente.211 A custo modo índice O fato de a embira (uma

espécie de cipó) tercedido a muito custodemonstra que o prisioneiro estava bemamarrado.

211 sim afirmação Ícone Ênfase213 apenas Exclusão Índice ênfase215 assim modo ícone ênfase217 Com olhos instrumento índice Os olhos referidos são os

do velho tupi. Tendo

como ação o verbochorar , o trecho refere-sea um provável sofrimentodo pai em caso de mortedo filho.

217 onde a luz já nãocintila

lugar índice A oração alude àcegueira do pai.

219 somente Exclusão/modo Índice ênfase220 Debalde Avaliação índice O uso de tal advérbio

denota uma certaindiferença para com oex-cativo, visto que seu

retorno seria consideradoem vão.

221 Sim afirmação índice O jovem tupi insiste nasua decisão de retornar.

221 Não Negação símbolo Ênfase222 bem intensidade Ícone Ênfase222 não Negação símbolo Ênfase224 Acaso dúvida índice Ênfase

Page 151: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 151/207

226 Ora tempo símbolo Neste momento, o ex- prisioneiro decide ficar, já que foi consideradocovarde.

226 não negação símbolo Ênfase227228

com honra instrumento índice Reafirma-se o orgulho datribo tupi nos dois versos,

ao se afirmar que seusmembros vivem emorrem com honra.

228 Acaso dúvida índice Ênfase230 não...nun-

canegação índice A dupla negação do

verbo chorar  mostra agravidade de tal “ato decovardia” para os índios.

231 não negação símbolo Ênfase232 Com carne

vilinstrumento índice Segundo o líder timbira,

a covardia do jovem tupi parece contaminar seusórgãos, deixando-os

fracos, podres.233 em ondas modo símbolo O sintagma retrata arespiração pesada,ofegante do ex- prisioneiro.

235 Do rosto lugar índice Neste verso, faz-sereferência ao suorescorrendo no rosto doguerreiro tupi, o quedemonstra suainstabilidade emocional:um misto de nervosismo,raiva e tristeza.

237 Talvez dúvida símbolo O narrador não sabe aocerto se a reação do tupi(descrita nos versos 233-235) deve-se à imagemvislumbrada pelo jovemda reação negativa de seu pai.

238 Já não Negativa Ícone Negativa peremptória

Page 152: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 152/207

temporal238 na

enlutadafantasia

modo ícone Circunstância de tristeza

239 ao mesmotempo

tempo ícone Em pensamento, o ex-cativo vê o pai abatido,decepcionado, com a

covardia do filho mascom forças para insultá-lo.

241 Quase dúvida ícone Ênfase243 no bosque lugar ícone O jovem adentra a

floresta e vai ao encontrodo pai.

4.4.6. Canto VI

Semiose dos adjetivos:

Verso Adjetivo Indicadorde

Categoria Justificativa

246 perdidas estado índice Sendo o pai já velho, oguerreiro tupi diz que suasforças foram perdidas.

248 nado estado símbolo O ex-prisioneiro havia partido quando ainda não eradia claro, visto que o sol “nãoera nado” (nascido)

249 frouxo estado índice Se o calor do sol mostra-se frouxo para o velho pai,subentende-se que esteencontro com o filho ocorreno fim da tarde.

251 intrincadas descriçãoexterna

ícone O jovem tupi diz ter vagado ese perdido nas matasfechadas, emaranhadas.

253254

novosnovas

avaliação índice Devido à insistência do filho para que partam, o velhoíndio deduz que algo de ruimdeve ter ocorrido.

Page 153: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 153/207

255 pior avaliação ícone O velho tupi se pergunta sealgo mais grave possa aindaacontecer a ele e a seu filho.

256 da aflição Atributo símbolo Tupã, o deus indígena, é oresponsável por tudo queacontece aos índios. Nestetrecho, o sintagma As setas

da aflição simboliza osofrimento das desgraçasocorridas ao velho tupi e seufilho, já que setas feremquando atingem um alvohumano.

257 novo avaliação índice Uma outra prova seria demais para pai e filho.

257 intacto descriçãoexterna

índice Se nos corpos deles não háespaço intacto, isto significaque ambos já sofreram muito.

259 da caça Atributo índice Sendo a caça uma atividadeque requer esforço físico,

espera-se que o índio fiquecansado depois.259 caro Afeto índice O termo explicita como o

filho é importante para ovelho tupi.

260 misterioso avaliação índice O adjetivo refere-se a umaintuição do pai; ele pressenteque algo importanteaconteceu mas não sabe dizero quê exatamente.

261 piedosa avaliação índice O adjetivo tem valor paradoxal em relação aosubstantivo fraude.

266 trêmula,incerta

descriçãoexterna

índice Ambos os termos referentesàs mãos do velho tupiremetem à sua cegueira, jáque o índio precisa tatear ovazio a fim de encontrar oque procura.

268 Da suanoite

 posse símbolo A “noite” do velho pai é a suacegueira.

Page 154: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 154/207

268 lúgubre emedonha

avaliação índice A “noite” torna-semelancólica, funesta eassustadora porque o velhotupi já pressente que algoruim aconteceu com o filho.

269 acre avaliação índice /símbolo

Os outros sentidos são maisaguçados em pessoas cegas;

 por isso o destaque dado aocheiro da tinta. Além disso,sendo a pintura um indício deluta entre índios, o velho tupi presume que o filho pode tersido derrotado, o que torna oodor ainda mais “acre”,azedo.

269 frescas descriçãoexterna

índice Estando as tintas frescas,deduz o pai que o jovem tupifoi preso há poucas horas.

270 fatal avaliação índice A idéia fatal é a prisão de seufilho, grande desonra para

qualquer índio.271 Do filho posse ícone O velho tupi precisa tocar osmembros do filho, já que não pode ver, a fim de descobrir oque pode ter ocorrido.

271 gélidos avaliação índice Novamente o poeta enfatiza acegueira do velho pai,descrevendo a sensação deseu tato ao tocar o filho. Este parece ainda estar sob ochoque da prisão, visto queseus membros encontram-segelados.

272 dolorosa avaliação símbolo O tocar das plumas torna-sedoloroso para o velho pai porque elas significam que ofilho sucumbiu a inimigos.

272 das plumas atributo ícone As plumas referidas sãomacias (denotativamente), porém dolorosas(conotativamente).

Page 155: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 155/207

274 duro descriçãoexterna

ícone Termo referente ao crâniohumano.

275 Despido descriçãoexterna

ícone O jovem guerreiro encontra-se sem ornamento na cabeça.

275 natural índice O ornamento é natural porqueé regularmente usado pelosíndios.

276 aflito e pávido descriçãointerna índice Ambos os adjetivosdescrevem o pai ao se darconta da prisão do filho.

277 fulminados descriçãoexterna

símbolo O choque da descoberta foitamanha para o velho tupique este parece enxergar acena, o que acarreta asensação de ter os olhosfulminados.

278 triste descriçãointerna

ícone A tristeza do pai é evidente, já que a prisão de um índiorepresenta uma grandedesonra.

279 cruel avaliação índice A imagem de seu filho presoé quase insuportável para ovelho tupi.

279 clara avaliação símbolo Sendo uma imagem maisclara, ela é mais evidente.

280 grande avaliação símbolo A ruína mostrava-seimpiedosa.

280 viva avaliação índice A imagem parece real, apesarda cegueira do velhoguerreiro.

281 do corpo posse ícone /símbolo

Os olhos do corpo podemservir de símbolo para osoutros sentidos humanos,

geralmente aguçados emquem é cego.

281 afigurada Atributo ícone Uma imagem porsemelhança, poraproximação.

283 inteira Avaliação Ícone Adjetivo com valorcircunstancial.

283 cruel avaliação índice A realidade que começa a

Page 156: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 156/207

284 funesto tomar forma para o velho tupié humilhante.

285 presente Atributo símbolo Termo refere-se ao azar domomento, sendo personificado.

287 passada Atributo índice Adjetivo que remete asofrimentos vividos

anteriormente. A dor pareceretornar devido à descobertada prisão do filho.

287 futura Atributo índice O que está por vir tambémamedronta o velho pai.

288 negro avaliação símbolo O presente é dito negro  porque a cor é geralmenterelacionada com situaçõesdesagradáveis.

292 Dos índios Posse índice Tendo sido capturado poriguais (outros índios),mostra-se a inferioridade do prisioneiro.

294 Dos falsosmanitôs Posse ícone Locução adjetiva Enfática emrelação a maça.296 curto avaliação índice Visto que o índio fala quase

sem pausas, enfatizam-se onervosismo e a ansiedade.

297 valente avaliação índice O velho pai não aceita averdade e tenta encobri-la,exaltando a bravura do filho.

298 vivo estado ícone O filho deveria estar mortocaso não tivesse enfrentadoos inimigos.

300 pobre afeto índice Termo que, sendo aplicado àdescrição do pai, torna-o

digno de pena.300 velho descrição

externaícone Outro termo que também

apela à piedade dos Timbiras, para que estes libertem o jovem guerreiro.

302 do sol atributo índice Locução adjetiva com valorcircunstancializador locativo.

304 do ocaso atributo índice Locução adjetiva com valor

Page 157: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 157/207

circunstancializador locativo.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

244 onde lugar índice Indaga localização245 Aqui lugar índice Situa no cenário

247 muito intensidade ícone Modalizador248 Não negação símbolo Modalizador248 quando tempo índice Situa na história.249 já...agora tempo índice Situa na história.250 Sim afirmação símbolo Modalizador250 sem rumo modo índice Modalizador251 nestas

matasintrincadas

lugar ícone /símbolo

O sintagma tanto se refere àmata física quanto à grande prova enfrentada pelo jovem guerreiro.

253 já tempo Ícone Situa na história.256 já tempo Ícone Situa na história.

258 Em nossoscorpos lugar ícone-índice As tristezas atingem as pessoas psicologicamente;depois, o desgaste contagiao físico.

259 Talvez dúvida índice Modalizador260 aqui lugar índice Termo faz referência ao

interior do velho pai.261 Aqui no

coraçãolugar símbolo O coração é o lugar físico

onde, simbolicamente,residem as emoções. Notrecho, é a angústia que“fala” ao velho tupi.

262 por certo afirmação índice Modalizador

262 não...nunca negação índice A dupla negação reforça overbo que a acompanha. Ovelho tupi não queracreditar que o filho possater mentido.

263 Não negação ícone Modalizador263 agora tempo índice Situa na história.265 não negação ícone Modalizador

Page 158: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 158/207

266 com mão instrumento índice Devido à cegueira, o velhotupi procura o filho com asmãos, e não com os olhos.

270 à mente lugar ícone O local exato274 sob as mãos lugar ícone Já que não enxerga, o velho

 pai apalpa a cabeça do filhoe não encontra o natural

ornato. Se um índio foidespido de seusornamentos, tal fato indicaque ele pode ter sidocapturado por inimigos.

275 então tempo índice Situa na história.277 Às mãos

ambasinstrumento índice O velho tupi cobre os olhos

com as mãos, como setemesse enxergar adesgraça.

278 ainda tempo índice Situa na história.279 não negação ícone Modalizador279 mais (2x) intensidade ícone Modalizador

281 Ante lugar índice Situa no cenário282 Não negação ícone Modalizador283 tão intensidade índice Termo que enfatiza o

adjetivo cruel. A aparenteverdade era muito dolorosa para o velho tupi.

285 ali lugar índice Indicação do local exato.286 a cada

instantetempo índice O azar parece não

abandonar pai e filho, vistoque ambos têm uma vidasofrida há algum tempo.

288 tão intensidade índice Termo que enfatiza oadjetivo negro. A situação presente era nefasta,decepcionante.

288 ali lugar índice Indicação do local exato.289 Ali no

coraçãolugar símbolo O coração representa o

local no corpo humanoonde sentimos as emoções. No verso em questão, aangústia e a tristeza pelo

Page 159: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 159/207

destino do filho machuca o peito do velho tupi.

290 num pontosó

lugar ícone O local exato

295 aqui lugar índice Situa no cenário. O índioestá de volta, para junto deseu pai, e não na tribo

Timbira.296 depois tempo índice Situa na história.297 bem modo índice Modalizador298 certo afirmação índice Já que o ex-prisioneiro está

vivo, o velho pai acreditaque ele certamenteenfrentou os inimigos.

298 já não Negação Índice-ícone

 Negação enfática

300 em mim Lugar índice Situa na história.301 depois tempo índice Situa na história.301 aqui lugar índice Situa no cenário. O índio

está de volta, para junto de

seu pai, e não na triboTimbira.

302 Na direçãodo sol

lugar índice O trecho indica onde fica aaldeia timbira: na direçãodo sol quando transmonta(no ocidente; para o oeste).

302 quando tempo índice Situa na história.303 Longe lugar ícone O velho pai quer saber se a

tribo Timbira fica distantedali.

303 Não muito intensidade ícone Modalizador304 Na direção

do ocasolugar ícone-

índiceA escolha pelo termo ocaso já evidencia o destino do pai e do filho: a ruína, amorte.

Page 160: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 160/207

4.4.7. Canto VII

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

305 de umtriste velho

Atributo Ícone Enfatiza a condição precáriado velho índio.

306 fatal avaliação símbolo O termo fatal significa amorte, que ronda os maisvelhos.

309 nobre avaliação índice A ação do Timbiras foinobre porque eles libertaramum prisioneiro que precisavacuidar de um painecessitado.

310 alta avaliação ícone Descrição subjetiva313 Senhores Estado ícone Descrição predicativa318 prisioneiro estado ícone Termo com correspondência

direta com a realidade.

321 dosacrifício Atributo ícone Expressão de qualidade dearma322 ligeira Avaliação ícone Descrição predicativa324 só estado índice O velho índio refere-se à

morte do filho, quando eleficará sozinho.

326 gentis afeto índice Descrição predicativa329 coberto de

cicatrizesdescriçãoexterna /

índice /símbolo

As cicatrizes podem serfísicas, devido às muitasguerras por ele enfrentadas;ou metafóricas,simbolizando marcasdeixadas pelos sofrimentos.

332 dosTimbiras

Atributo ícone Locução adjetiva que situa o poder

334 velho Tupi descriçãoexterna /

ícone Expressão pejorativa emrelação à condição doindígena

335 torvo avaliação índice Adjetivo com valorcircunstancializador

337 imbele e avaliação ícone Devido ao seu

Page 161: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 161/207

fraco comportamento, o jovemtupi é desacreditado pelosTimbiras. Estes nãoacreditam que um índio quechora possa ser um bravoguerreiro.

339 guerreira avaliação índice Termo refere-se tribo

Timbira, formada porvalentes guerreiros.340 ignóbil avaliação índice O sangue do ex-prisioneiro é

considerado indigno,desprezível, visto que o índiomostrou-se covarde.

341 cobarde avaliação ícone Os Timbiras consideram o jovem tupi um fraco, poischorou diante da morte.

342 fortes Avaliação índice Em oposição à covardia doex-prisioneiro, a triboTimbira se orgulha davalentia de seus heróis.

344 Do velhoTupiguerreiro

Atributo Ícone Descrição avaliativa

345 surda Avaliação índice A voz é surda por que não seouve; o impacto dadescoberta (o choro de seufilho diante da morte) é talque impede uma prontareação do velho tupi.

346 confusos avaliação índice Juízo de valor de baseexterna

347 de um tigre posse índice A voz presa na garganta dovelho pai é comparada aos

rugidos de um tigre, o que jáindica o tipo de reaçãoesboçada pelo índio.

Page 162: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 162/207

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

306 ao termofatal

tempo símbolo O velho tupi, com saúde precária, já se aproxima damorte.

306 já tempo índice Advérbio enfatiza a proximidade da morte dovelho pai.

309310

tão intensidade símbolo O termo enfatiza a nobrezada ação dos Timbiras (alibertação do jovem tupi).

311 jamais Negaçãotemporal

índice Negação peremptória

313 emgentileza

modo índice Modalizador

314 nunca negação ícone Modalizador315 nos

combatestempo ícone O velho guerreiro afirma

nunca ter sido derrotadoem lutas.

315 por armas instrumento ícone O velho tupi diz nunca tersucumbido a nenhum golpede armas.

316 pornobreza

modo ícone Modalizador

316 nos atos Situação Ícone Modalizador317 Aqui lugar índice Situa no cenário.319 assim modo ícone Modalizador323 Em tudo inclusão ícone Modalizador324 quando tempo índice Situa na história.324 na terra lugar índice Sintagma referente ao

mundo.325 Certo afirmação índice Modalizador326 tão intensidade símbolo Novamente, o velho pai

enfatiza a gentileza dosTimbiras.

335 com torvoacento

modo índice Modalizador

343 Só exclusão índice Modalizador

Page 163: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 163/207

345 na garganta lugar ícone Indicação do local exato.348 pouco a

 poucomodo índice Modalizador

4.4.8. Canto VIII

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

349 da morte posse símbolo A morte não se fez presentefisicamente; na verdade, o jovem tupi se viuameaçado.

350 de estranhos posse ícone Tais estranhos sãomembros da tribo Timbira.

353 maldito avaliação índice Visto que o índio chorou,ele é considerado covardee, conseqüentemente, édesprezado.

354 De uma tribode nobresguerreiros

afeto ícone Sendo o ex-prisioneiro umTupi, ele pertence a umatribo de bravos guerreiros

355 cruéis avaliação índice Os timbiras sãoconsiderados cruéis porterem capturado o jovemtupi.

356 presa estado ícone O termo refere-se àsituação anterior do jovemtupi, feito prisioneiro.

356 de vis

Aimorés

 posse /

avaliação

ícone Ao empregar o adjetivo vis 

 para qualificar os inimigos,demonstra-se desprezo paracom estes.

357 isolado descriçãoexterna

ícone O termo remonta aoisolamento físico ao qual o jovem tupi é condenado pelo pai.

359 / Rejeitado avaliação índice O ex-prisioneiro está

Page 164: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 164/207

360 fadado ao total desprezo,não só dos homens mas atémesmo da morte.

361 das gentes......execrado

avaliação índice Todos terão aversão ao jovem tupi.

364 inconstante efalaz

avaliação índice O pai deseja que, caso seufilho tenha amigos, que

esses sejam falsos (já quesuas almas seriam“inconstantes e falazes”).

366 da aurora posse índice O sintagma cores daaurora remetem ao períodoantes do nascer do sol.

367 da noitesombria

 posse índice Por ser amaldiçoado, asnoites do ex-prisioneironão serão agradáveis períodos de descanso.

371 Maiores avaliação índice Termo que, empregado junto a tormentos, qualificaeste como sendo profundo

efeito.376 Vesano avaliação índice A água, ao invés deacalmá-lo, aumentará a suafúria, tornando o jovemtupi mais insano.

378 dos lábiossedentos

Atributo símbolo O verso apresenta umametonímia: o índio terásede, e não seus lábios.

379 impuro devermesnojentos

descriçãoexterna

ícone O lago cuja água o jovemtupi venha a beber setornará sujo antes que ele possa saciar sua sede.

381 incendido descrição

externa

índice O céu é comparado a um

teto em chamas sobre o jovem tupi.

382 malditos avaliação índice Termo relativo ao sintagmamembros: sendo o ex- prisioneiro amaldiçoado, osadjetivos empregados a elese estendem a cada parte deseu corpo.

Page 165: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 165/207

383 de pódenegrido

descriçãoexterna

símbolo /índice

O oceano não deve maisexistir para o jovemguerreiro; ele não terá maiscomo se banhar ou matar asede.

384 ignavo avaliação índice Termo que caracteriza oTupi como covarde.

385 Miserável,faminto,sedento

estado ícone Eis o retrato do ex- prisioneiro ao sofrer amaldição de seu pai.

387 do horror......medonhos

 possedescriçãoexterna

símbolo Sintagmas relativos aespectros, termo querepresentariaassombrações.

389 piedoso Afeto índice O velho tupi não quer queninguém tenha pena de seufilho.

391 d’argila descriçãoexterna

ícone Material de que é feito ovaso em que são colocadasas armas dos índios quando

estes morrem.391 cuidoso avaliação índice O mesmo que cuidadoso. A postura do amigo, aocolocar o vaso, seriarespeitosa.

393 maldito(...)sozinho

estado índice O velho pai deseja a totalinfelicidade e solidão parao filho.

395 da morte posse símbolo Repetição de trechoanterior (verso 349). Amorte não se fez presentefisicamente; na verdade, o jovem tupi se viu

ameaçado.396 cobarde avaliação índice Estando o termo

empregado como vocativo,mostra-se aqui uma nova“identidade” do jovemguerreiro: para o pai, eledeixou de ser um tupi e passou a ser simplesmente

Page 166: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 166/207

um covarde. 

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

349 em presençada morte

tempo símbolo O sintagma refere-se aomomento em que o índio

fraquejou: quando se viuameaçado.

350 Na presençade estranhos

lugar ícone Diante de estranhos, quesão os Timbiras, o jovemguerreiro chorou.

351 /352

 Nãonão

negação símbolo O advérbio, em ambas asorações, é de forte cargaemocional, visto que nega adescendência do jovemtupi.

357 na terra lugar ícone O ex-prisioneiro écondenado a um totalisolamento; o velho tupideseja que ele fique sem lare sem pátria.

359 na guerra tempo ícone Em tal ocasião, o jovemtupi não morrerá porque atéa morte o desprezará.

360 na paz tempo índice Quando não houver guerra362 Não negação símbolo Modalizador362 nas

mulhereslugar símbolo O velho pai deseja que

nenhuma mulher ame o ex- prisioneiro.

365 Não negação símbolo modalizador365 no dia tempo ícone Cada dia há de ser amargo

 para o jovem guerreiro, semesperanças.367 entre as

larvas danoitesombria

lugar símbolo “Local” onde o velho paideseja que seu filhodescanse à noite. Osintagma simboliza ostormentos que hão deassombrar o jovem tupi.

Page 167: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 167/207

368 Nunca Negaçãotemporal

símbolo Modalizador

369 Não Negação símbolo Modalizador370 ao sol (...)

às chuvas(...) aosventos

Lugar índice Não importa o tempo ou odia; o jovem tupi não há deencontrar condições para odescanso.

372 Onde Lugar índice Termo que remete aoslocais tronco ou pedra.377 depressa modo índice A rapidez da transformação

das águas mostra que nadahá de restar para o jovemtupi.

378 Ao contatodos lábiossedentos

tempo ícone O momento exato.

380 Donde lugar índice Termo que remete ao lagoonde o índio beberia água.

380 com asco eterror

modo ícone A imagem exata do índioao (quase) beber água com

vermes.381 Sempre tempo índice O velho tupi deseja que o

sofrimento do ex- prisioneiro não tenha fim.

386 não negação símbolo Modalizador386 nos sonhos tempo símbolo Situa na história388 sempre tempo índice O velho tupi deseja que o

sofrimento do ex- prisioneiro não tenha fim.

388 após si lugar Índice Situa no cenário390 na terra lugar Ícone Local onde os índios são

embalsamados.391 em vaso

d’argilalugar Ícone Objeto em que são

colocadas as armas dosíndios falecidos.

392 a teus pés lugar Ícone Local em que é disposto ovaso com as armas.

393 na terra lugar Ícone O ex-prisioneiro énovamente condenado a umtotal isolamento.

395 em presença tempo símbolo O sintagma refere-se ao

Page 168: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 168/207

da morte momento em que o índiofraquejou: quando se viuameaçado.

396 não negação símbolo O velho tupi nega, pelasegunda vez, adescendência tupi ao ex- prisioneiro.

4.4.9. Canto IX

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

397 miserando estado índice Termo faz referência aoestado lastimável do velhotupi.

398 tamanha avaliação índice O adjetivo sugere aintensidade do sofrimento

do pai, que é grande.399 da vida atributo índice Descrição subjetiva400 trêmulo descrição

externaícone-índice

O modo como o paicaminha indica não só amovimentação típica dequem não enxerga (umcaminhar mais cuidadoso)como também sugere seunervosismo após condenaro filho.

400 frias descriçãoexterna

ícone-índice

A frieza nas mãos serve deíndice para a instabilidadeemocional do velho índiono momento.

401 Da sua noiteescura

 posse símbolo Sintagma que, junto com osubstantivo a que se refere(trevas), remete à cegueirado velho pai.

401 densas avaliação símbolo Termo que caracteriza osubstantivo trevas. Adesilusão com o filho

Page 169: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 169/207

 parece tornar a cegueira doíndio mais dramática.

403 do filho atributo índice404 de guerra Avaliação símbolo

Ambos os sintagmasreferem-se ao termo voz. Na verdade, foi um “gritode guerra”, e não voz. Otrecho indica que o ex-

 prisioneiro resolveu reagir.405 melhor afeto índice Em tempos anteriores,quando o jovem guerreiroenfrentou inimigos, este eraum grito muito escutado; por isso, são consideradostempos melhores.

407 compridos avaliação símbolo Termo que, junto aosubstantivo transes, indicaque o pai sofreu por umlongo período.

408 frio avaliação símbolo Descrição subjetiva409 De guerreiro

e de pai

 posse índice Sintagma referente ao

termo coração. O trechofaz uma ponte entre o passado e o presente dovelho tupi: hoje, ele ésomente pai; no entanto,seu espírito guerreiro permanece.

411 súbito avaliação índice A reação do filho é tidacomo inesperada.

412 copioso avaliação índice A emoção do momento édemasiado intensa para ovelho tupi, que choracopiosamente.

413 exaurido avaliação símbolo O sofrimento de anos temcomo símbolo o sintagmaexaurido coração.

415 profundas avaliação Símbolo Descrição subjetiva416

417418

Emaranhadaconfusarevolta

descriçãoexterna

índice A confusa multidão indicaque Timbiras atacam o jovem tupi.

Page 170: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 170/207

418 mor avaliação índice A fúria aumenta419 dos golpes posse índice Sendo destacado o som

destes golpes, pode-sedepreender que a luta eraintensa.

420 de morte avaliação índice A voz e a respiração dosíndios feridos é retratada

neste verso; é sugerido quemuitos Timbirasencontram-se jámoribundos.

421 ermas avaliação índice Descrição objetiva422 Da humana

tempestadeAtributo Índice-

símboloDescrição subjetiva

423 de povoenfurecido

atributo ícone Tal sintagma retrata oataque de Timbiras furiososao jovem tupi.

424 Vivo Descriçãointerna

símbolo A bravura do ex-prisioneiroé destacada através de suacomparação a um rochedo.

425 Justo avaliação índice426 dos Tupis posse índice Possuindo os Tupis fama,

entende-se que forammuitas as conquistas datribo.

427 de tantosanos

avaliação índice É dito que o ex-prisioneirodefende a honra de suatribo há muitos anos.

428 Derradeiro Atributo índice O jovem tupi é o últimoguerreiro vivo de sua tribo.

428 da raçaextinta

Posse índice São poucos os Tupissobreviventes: somente oex-prisioneiro e seu pai.

430 dos Timbiras Posse índice O chefe dos Timbiras é o pajé, aquele que, nestemomento, tem o direito deordenar o fim da luta.

431 ilustre avaliação índice Utilizando tal adjetivo emrelação ao jovem tupi, ochefe dos Timbirasreconhece a bravura e a

Page 171: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 171/207

honra do ex-prisioneiro.434 Do velho pai Posse ícone Descrição subjetiva435 de júbilo avaliação índice Neste momento, as

lágrimas do pai são dealegria pela demonstraçãode coragem do filho.

436 amado Afeto índice O velho tupi refere-se ao

filho com tal termo, o queindica seu amorincondicional para com o jovem e também seu perdão.

438 livres Atributo símbolo O alívio do velho tupireflete-se na liberação deseu pranto.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

399 Já nosconfins davida

tempo índice O trecho faz referência àidade avançada do velhotupi.

400 comtrêmulo pé,com asmãos jáfrias

modo ícone-índice

O modo como o índiocaminha retrata seu estadoapós amaldiçoar o filho. Osadjetivos trêmulo e frias indicam seu nervosismo.

404 já tempo ícone Modalizador405 Noutra

quadramelhor

tempo índice O sintagma indica que emtempo anterior, quando o jovem guerreiro enfrentavatodos os inimigos, eram dias

melhores.406 só exclusão ícone modalizador407 tão intensidade índice Modalizador412 agora tempo índice Situa na história.418 em mor

furormodo índice A revolta, a luta entre o

 jovem tupi e os Timbirastorna-se mais intensa.

419 incessante modo Índice Os golpes não param

Page 172: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 172/207

421 longe pelasermasserranias

lugar Ícone Correspondência direta coma realidade.

424 Contra umrochedovivo

lugar símbolo O jovem tupi é comparado aum rochedo vivo, sendo, portanto, o local onde as“ondas”, o “mar” de

timbiras enfurecidos sequebrava; ou seja, osinimigos eram derrotados.

429 só exclusão ícone modalizador431 assaz intensidade índice O chefe timbira reconhece

que o jovem tupi lutou osuficiente para ter sua honrarecuperada.

433 nos braços lugar símbolo A ação cair nos braços simboliza o abraçocarinhoso e de reconciliaçãode pai e filho.

434 contra o

 peito

lugar índice Mais uma ação que sugere o

abraço dos Tupis.435 Comlágrimas

Modo ícone O choro do velho pai éretratado como sendo dealegria.

437 sempre tempo símbolo Situa na história439 sim afirmação índice O emprego de tal advérbio

(sendo este desnecessário)enfatiza a idéia de que,neste momento, as lágrimasdo índio são de felicidade.

439 não negação símbolo Modalizador

Page 173: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 173/207

4.4.10. Canto X

Semiose dos adjetivos:Verso Adjetivo Indicador

deCategoria Justificativa

440 velho descriçãoexterna

ícone-índice

O termo caracteriza não sóaquele de avançada idadecomo também o que possuisabedoria e que transmitelições aos mais jovens.

440 coberto deglória

avaliação símbolo O velho Timbira é descritocomo sendo um índio degrande honra e deimportância para sua tribo.

442 Do moçoguerreiro, dovelho Tupi

Atributo índice As lembranças do episódioforam guardadas etransmitidas através dosanos, como lição às novasgerações.

446 brioso Afeto índice Após seu grande ato de bravura, o jovem tupi passou a ser consideradovalente

446 largo descriçãoexterna

ícone O terreiro era grande.

447 prisioneiro estado ícone No momento da açãodescrita, o jovem Tupiainda se encontrava em poder dos Timbiras.

448 de morte avaliação índice Cita-se o discurso do jovem tupi antes de seusacrifício.

449453454

Valente bravoValente e brioso

avaliação índice

458 coberto deglória

avaliação símbolo Novamente faz-sereferência ao valor queeste velho Timbira possui para sua tribo.

Page 174: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 174/207

460 Do moçoguerreiro, dovelho Tupi

Atributo índice Ao se repetir este trecho,reafirma-se a importânciada transmissão de valorescomo a honra, lealdade e bravura para os índios.

Semiose dos advérbios:Verso Advérbio Indicador

deCategoria Justificativa

443 à noite Tempo ícone Período do dia em que provavelmente os Timbiras sereuniam para escutar as palavras dos mais experientes.

443 nas tabas Lugar ícone Correspondência direta com arealidade.

445 prudente Modo índice O modo como o velhoTimbira relata o episódio dos

índios tupis (com prudência)implica que não se devesubestimar o inimigo.

446 no largoterreiro

lugar ícone Situa no cenário.

448 nunca negação índice O fato de o episódio não tersido esquecido demonstra seuimpacto na aldeia timbira.

449 sem ter pejo

modo índice Visto que o jovem tupi chorousem acanhamento, entende-seque o amor e a devoção paracom o pai era mais importantedo que defender sua honra de

guerreiro tupi.451 nest’hora tempo índice O episódio foi tão marcante

que o velho timbira parecerevivê-lo a cada momento emque o relata.

451 diante demi

lugar ícone O local exato.

453 não negação símbolo Modalizador

Page 175: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 175/207

454 não negação símbolo Modalizador456 tanto intensidade índice Modalizador461 à noite tempo ícone Período do dia em que

 provavelmente os Timbiras sereuniam para escutar as palavras dos mais experientes.

461 nas tabas lugar ícone Correspondência direta com a

realidade.463 prudente modo índice Uma espécie de moral podeser destacada do discurso dovelho Timbira, já que arepetição de trechos reforça oseu sentido. A mensagemenfatizada é a não-subestimação do outro.

Apresentaremos um levantamento quantitativo dos tipossígnicos identificados no poeta, distribuídos entre adjetivos eadvérbios.

Pretendemos com isto objetivar a relevância de umaanálise tipológica dos signos com vistas demonstrar a relaçãosemiótico-pragmática inscrita na seleção vocabular que, a seuturno, representa as escolhas do poeta, sua visão de mundo

 projetada na temática desenvolvida no texto.

Observe que o ícone é uma representação quasematerial da idéia; o índice é um indutor temático, é um vetorsemântico-pragmático, e o símbolos é um signo generalizanteque manifestaria valores gerais caracterizadores de uma modode pensar coletivo que influi o ideário do artista literário.

Distribuídos pelos Cantos, temos os seguintes valores:

Page 176: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 176/207

Canto ícones índices símbolos predominância

Adj Adv Adj Adv Adj Adv Adj Adv

I 23 9 21 9 7 2 ícones Ícones /índices

II 11 6 10 2 6 3 ícones Ícones /símbolos

III 13 4 10 6 5 3 ícones índices

IV 26 13 36 8 13 14 índices Ícones /símbolos

V 16 9 14 15 2 8 ícones Índices

VI 16 17 28 32 11 5 índices Índices

VII 12 8 11 10 2 3 ícones Índices

VIII 8 10 17 8 5 12 índices Símbolos

IX 4 6 25 10 10 4 índices Índices

X 3 6 6 6 2 2 índices Ícones/índices

Como se pode deduzir desse quadro, os adjetivosdividem-se meio a meio entre as funções de ícones e índices;enquanto os advérbios vêm 50% como índices, 20 % comoícones-símbolos, 20 % como ícones-índices e 10% comosímbolos. Desta leitura pode-se inferir que a classe adjetiva no

 poema em estudo reúne mais atributos plásticos, imagéticos, ao

Page 177: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 177/207

 passo que os advérbios, distribuem-se por todas as funções,inclusive mesclando-as. Mostra-se então esta classe comoresponsável pela discursivização do processo narrativo, umavez que suas mesclas de funções sígnicas serviriam de índicesda flutuação subjetiva do autor em meio às influências docontexto sócio-histórico em que se inscreve seu texto.

É possível ainda identificar por meio daquele quadro detipos sígnicos que os Cantos de I-Juca-Pirama se nosapresentam como:

Canto Classes Tipos sígnicos Função quepredomina no Canto

Adj Adv

I ícones Ícones / índices Icônico

II ícones Ícones / símbolos

Icônico

III ícones índices Icônico-indicial

IV índices Ícones / símbolos Icônico

V ícones Índices Icônico-indicial

VI índices Índices indicial

VII ícones Índices indicial

VIII índices Símbolos Icônico-simbólico

IX índices Índices indicial

X índices Ícones /índices indicial

Page 178: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 178/207

Logo, a última classificação é a de que I-Juca-Pirama éum poema predominantemente icônico-indicial o que significaque seu texto apresenta intensa qualidade plástica, além de seussignos funcionarem como indutores de imagens mentais queconduzem o leitor à construção de sentido para o poema.

A informação semântica associada aos valoressemióticos apresentados nos quadros queclassificam/interpretam os adjetivos e advérbios presentes no

 poema, a nosso ver, seriam os elementos responsáveis pelaindução dos sentidos disponíveis para o texto.

Entendemos que com essa demonstração, pudemosoferecer um modelo diferente de exploração estilística, umavez que não nos restringimos às figuras ou à poética, masenveredamos por marcações culturais que podem balizar umaleitura das marcas epistemológicas inscritas no texto.

Acrescentamos ainda que a predominância de um tiposignos em cada Canto pode ser semiotizada como:

• os cantos em que prevalecem as funções icônicasou icônico-indiciais podem ser interpretadas comoabundantes em qualidades plásticas que

 possibilitam a construção de imagens muitodetalhadas do cenário físico e psicológico traçado

 pelo poeta. Vemos isto nos cantos de I a V.

• Os Cantos VI, VII IX e X têm a prevalência doíndice, o que pode ser interpretado como aabertura do texto às ponderações articuláveis aogênero épico, ao estilo romântico, a questões

 político-culturais, etc. O índice é um signo vetorialque induz leituras, sem, contudo desenhar objetossensíveis. Ele apenas os insinua.

Page 179: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 179/207

• Quando o que prevalece é o icônico simbólico(Canto VIII), verifica-se a possibilidade de umainterpretação articulada com crenças, usos ecostumes de época. Isso faz adentrarem o texto

 palavras e expressões que não mais se ocupam dedesenhar cenas, mas efetivamente de narrar fatos

com avaliações e argumentos de vezo histórico.Como o Canto VIII traz à cena a fala do velhoíndio, desgraçado pela desgraça do filho, verifica-se ali a travessia do discurso da moral e da ética.Logo, os símbolos se impõem.

Levando-se em conta o eixo temático de cada Canto, oleitor poderá comprovar que a análise semiótica pode darmaior relevo para as interpretações semântico-sintáticasdestacadas do estilo do poema, acentuando não só agenialidade do artista, mas, sobretudo a qualidade

documental histórica e artística do poema I-Juca-Pirama.

Page 180: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 180/207

Conclusão

O estudo das particularidades expressivas da obraanalisada visa, além da detecção da subjetividade criativa doestilo do autor, demonstrar o potencial expressivo-comunicativo do vernáculo, fornecendo subsídios aos

apreciadores do texto clássico modelos eficientes deestruturações sintático-semânticas, exploração da camadafônica etc, para a textualização de seu discurso.

Acrescemos nesta edição uma análise de cunhosemiótica, por meio da qual adjetivos e advérbios foramminuciosamente observados como signos muito especiais, umavez que ambos atuam como modificadores e podem inscreverno texto as modalizações responsáveis por boa parte dosubjetivismo textual.

Examinadas as inusitadas estruturas que chegam afazer-ns ir e vir na leitura em busca de uma compreensão àaltura do quadro descrito/narrado, vemo-nos, de fato, ante umautilização epopéica da língua, onde a dramatização lingüísticase corporifica nas figuras de construção, nas pontuaçõesespeciais, na seleção dos vocábulos, na métrica ousada, enfim,no desenho poético do romântico indianista Gonçalves Dias.

A partir da leitura atenta dos comentários apresentados,o estudioso do português poderá viajar na malemolênciasintática e semântica nascida dos usos artísticos inaugurados ou

reutilizados pelo poeta (à luz dos textos de outros vates predecessores). Poderá ainda introjetar organizações oracionaisespeciais que lhe permitirão transmitir de modo mais eficientesuas emoções e impressões. Ao reutilizar modelos absorvidosdo poema, poderá conduzir o leitor dos textos que venha a criar

 por um oceano de significações, quer unívocas quer equívocas

Page 181: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 181/207

 – dependendo da natureza do texto criado – fazendo-o desfrutarde um sistema lingüístico ímpar em termos de variabilidadeformal.

Por meio dessa análise é possível confrontarem-se oslimites da gramática, da estilística e da semiótica, em que a

expressão beneficia-se da ampliação das interpretações,anteriormente cerceadas por uma visão gramatical retrógrada einadequada.

Isto porque a gramática ocupa-se de uma descriçãoanatômica da língua; e a anatomia, em geral, é o exame de umaestrutura estática. Ao contrário, estilística e semiótica mostram-se como observadoras da fisiologia e da interação sócio-cultural dos signos, mostrando-os como sujeitos àsinterferências contextuais e co-textuais, assim como à

 participação do leitor na re-criação do texto e na produção de

sentido(s).

Procuramos apontar fatos de especialmente de naturezasintático-semântica, com incursões pelo léxico, buscandoabonações de teóricos de renome, para garantir a confiabilidadede nosso texto.

Os acréscimos de natureza semiótica não atingem umnível de profundidade maior, uma vez que se trata de um

 produto de Estágio Voluntário de Iniciação Científica, no quala graduanda-pesquisadora Juliana Theodora Pereira esforçou-se

em aplicar as noções que pôde adquirir durante o desenrolar do projeto.

Reiteramos que não há qualquer intenção de esgotar aanálise dos aspectos estilísticos e semióticos apuráveis em I-Juca-Pirama. Contudo, temos plena certeza de ter realizado umtrabalho sério e cuidadoso. Portanto, queremos crer que aqui

Page 182: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 182/207

deixamos alguma contribuição para os interessados na língua portuguesa e em sua literatura.

Page 183: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 183/207

Anexo I: Texto integral do poema I-Juca-Pirama:

I-JUCA-PIRAMA

1. No meio das tabas de amenos verdores,2. Cercadas de troncos -- cobertos de flores,3. Alteiam-se os tetos d`altiva nação;4. São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,5. Temíveis na guerra, que em densas coortes6. Assombram das matas a imensa extensão.

7. São rudos, severos, sedentos de glória,8. Já prélios incitam, já cantam vitória.9. Já meigos atendem à voz do cantor:10.São todos Timbiras, guerreiros valentes!11.Seu nome lá voa na boca das gentes,

12.Condão de prodígios, de glória e terror!

13.As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,14.As armas quebrando, lançando-as ao rio,15.O incenso aspiraram dos seus maracás:16.Medrosos das guerras que os fortes acendem,17.Custosos tributos ignavos lá rendem,18.Aos duros guerreiros sujeitos na paz.

19.No centro da taba se estende um terreiro,20.Onde ora se aduna o concílio guerreiro

21.Da tribo senhora, das tribos servis:22.Os velhos sentados praticam d`outrora,23.E os moços inquietos, que a festa enamora,24.Derramam-se em torno dum índio infeliz.

25.Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,26.Sua tribo não diz: - de um povo remoto

Page 184: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 184/207

27.Descende por certo - dum povo gentil;28.Assim lá na Grécia ao escravo insulano29.Tornavam distinto do vil muçulmano30.As linhas corretas do nobre perfil.

31.Por casos de guerra caiu prisioneiro

32.Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro33.Assola-se o teto, que o teve em prisão;34.Convidam-se as tribos dos seus arredores,35.Cuidosos se incumbem do vaso das cores,36.Dos vários aprestos da honrosa função.

37.Acerva-se a lenha da vasta fogueira.38.Entesa-se a corda da embira ligeira39.Adorna-se a maça com penas gentis:40.A custo, entre as vagas do povo da aldeia41.Caminha o Timbira, que a turba rodeia,

42.Garboso nas plumas de vário matiz.

43.Entanto as mulheres com leda trigança,44.Afeitas ao rito da bárbara usança,45.O índio já querem cativo acabar:46.A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,47.Brilhante enduape no corpo lhe cingem,48.Sombreia-lhe a fronte gentil canitar.

II

49.Em fundos vasos d’alvacenta argila50. Ferve o cauim;51.Enchem-se as copas, o prazer começa,52. Reina o festim.

53.O prisioneiro, cuja morte anseiam,

Page 185: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 185/207

54. Sentado está,55.O prisioneiro, que outro sol no ocaso56. Jamais verá!

57.A dura corda, que lhe enlaça o colo,58. Mostra-lhe o fim

59.Da vida escura, que será mais breve60. Do que o festim!

61.Contudo os olhos d’ignóbil pranto62. Secos estão;63.Mudos os lábios não descerram queixas64. Do coração.

65.Mas um martírio, que encobrir não pode,66. Em rugas faz67.A mentirosa placidez do rosto

68. Na fronte audaz!

69.Que tens, guerreiro? Que temor te assalta70. No passo horrendo?71.Honra das tabas que nascer te viram,72. Folga morrendo.

73.Folga morrendo; porque além dos Andes74. Revive o forte,75.Que soube ufano contrastar os medos76. Da fria morte.

77.Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,78. Lá murcha e pende:79.Somente ao tronco, que devassa os ares,80. O raio ofende!

Page 186: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 186/207

81.Que foi? Tupã mandou que ele caísse,82. Como viveu;83.E o caçador que o avistou prostrado84. Esmoreceu!

85.Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes

86. Revive o forte,87.Que soube ufano contrastar os medos88. Da fria morte.

III

89.Em larga roda de novéis guerreiros90.Ledo caminha o festival Timbira,91.A quem do sacrifício cabe as honras.92.Na fronte o canitar sacode em ondas,93.O enduape na cinta se embalança,

94.Na destra mão sopesa a iverapeme,95.Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo96.Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,97.Que lhe o orna o colo e o peito, ruge e freme,98.Como que por feitiço não sabido99.Encantadas ali as almas grandes100.Dos vencidos Tapuias, inda chorem101.Serem glória e brasão d’inimigos feros.

102.“Eis-me aqui,” diz ao índio prisioneiro;103.“Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,104.“As nossas matas devassaste ousado,105.“Morrerás morte vil da mão de um forte.”106.Vem a terreiro o mísero contrário;107.Do colo à cinta muçurana desce:108.“Dize-nos quem és, teus feitos canta,109.“Ou se mais te apraz, defende-te.” Começa

Page 187: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 187/207

110.O índio, que ao redor derrama os olhos,111.Com triste voz que os ânimos comove.

IV112. Meu canto de morte,113.Guerreiros, ouvi:

114.Sou filho das selvas,115.Nas selvas cresci;116.Guerreiros, descendo117.Da tribo tupi.

118.Da tribo pujante,119.Que agora anda errante120.Por fado inconstante,121.Guerreiros, nasci:122.Sou bravo, sou forte,123.Sou filho do Norte;

124.Meu canto de morte,125.Guerreiros, ouvi.

126.Já vi cruas brigas,127.De tribos imigas,128.E as duras fadigas129.Da guerra provei;130.Nas ondas mendaces131.Senti pelas faces132.Os silvos fugaces133.Dos ventos que amei.

134.Andei longes terras,135.Lidei cruas guerras,136.Vaguei pelas serras137.Dos vis Aimorés;138.Vi lutas de bravos,

Page 188: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 188/207

139.Vi fortes - escravos!140.De estranhos ignavos141.Calcados aos pés.

142.E os campos talados,143.E os arcos quebrados,

144.E os piagas coitados145.Já sem maracás,146.E os meigos cantores,147.Servindo a senhores,148.Que vinham traidores,149.Com mostras de paz.

150.Aos golpes do imigo151.Meu último amigo,152.Sem lar, sem abrigo153.Caiu junto a mi!

154.Com plácido rosto,155.Sereno e composto,156.O acerbo desgosto157.Comigo sofri.

158.Meu pai a meu lado159.Já cego e quebrado,160.De penas ralado,161.Firmava-se em mi:162.Nós ambos, mesquinhos,163.Por ínvios caminhos,164.Cobertos d’espinhos165.Chegamos aqui!

166.O velho no entanto167.Sofrendo já tanto168.De fome e quebranto,

Page 189: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 189/207

169.Só qu’ria morrer!170.Não mais me contenho,171.Nas matas me embrenho.172.Das frechas que tenho173.Me quero valer.

174.Então, forasteiro,175.Caí prisioneiro176.De um troço guerreiro177.Com que me encontrei:178.O cru dessossego179.Do pai fraco e cego,180.Enquanto não chego,181.Qual seja, - dizei!182.Eu era o seu guia183.Na noite sombria,184.A só alegria

185.Que Deus lhe deixou:186.Em mim se apoiava,187.Em mim se firmava,188.Em mim descansava,189.Que filho lhe sou.190.Ao velho coitado191.De penas ralado,192.Já cego e quebrado,193.Que resta? - Morrer.194.Enquanto descreve195.O giro tão breve196.Da vida que teve,197.Deixai-me viver!

198.Não vil, não ignavo,199.Mas forte, mas bravo,200.Serei vosso escravo:

Page 190: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 190/207

201.Aqui virei ter.202.Guerreiros, não coro203.Do pranto que choro;204.Se a vida deploro,205.Também sei morrer.

V

206.Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;207.Os guerreiros murmuram: mal ouviram,208.Nem pôde nunca um chefe dar tal ordem!209.Brada segunda vez com voz mais alta,210.Afrouxam-se as prisões, a embira cede,211.A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.212.- Timbira, diz o índio enternecido,213.Solto apenas dos nós que o seguravam:214.És um guerreiro ilustre, um grande chefe,

215.Tu que assim do meu mal te comoveste,216.Nem sofres que, transposta a natureza,217.Com olhos onde a luz já não cintila,218.Chore a morte do filho o pai cansado,219.Que somente por seu na voz conhece.220.- És livre; parte.

- E voltarei.- Debalde.

221.- Sim, voltarei, morto meu pai.- Não voltes!

222.É bem feliz, se existe, em que não veja,223.Que filho tem, qual chora: és livre; parte!224.- Acaso tu supões que me acobardo,225. Que receio morrer!

-És livre; parte!226.- Ora não partirei; quero provar-te227.Que um filho dos Tupis vive com honra,

Page 191: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 191/207

228.E com honra maior, se acaso o vencem,229.Da morte o passo glorioso afronta.

230.- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,231.E tu choraste!... parte; não queremos232.Com carne vil enfraquecer os fortes.

233.Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas234.O rebater do coração se ouvia235.Precípite. - Do rosto afogueado236.Gélidas bagas de suor corriam:237.Talvez que o assaltava um pensamento...238.Já não... que na enlutada fantasia,239.Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,240.Do velho pai a moribunda imagem241.Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! ingrato!242.Curvado o colo, taciturno e frio,

243.Espectro d’homem, penetrou no bosque!

VI

244.- Filho meu, onde estás?-Ao vosso lado;

245.Aqui vos trago provisões: tomai-as,246.As vossas forças restaurai perdidas,247.E a caminho, e já!

- Tardaste muito!248.Não era nado o sol, quando partiste,249.E frouxo o seu calor já sinto agora!

250.- Sim, demorei-me a divagar sem rumo,251.Perdi-me nestas matas intrincadas,252.Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo:253.Convém partir, e já!

Page 192: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 192/207

  -Que novos males254.Nos resta de sofrer? - que novas dores,255.Que outro fado pior Tupã nos guarda?256.- As setas da aflição já se esgotaram,257.Nem para novo golpe espaço intacto258.Em nossos corpos resta.

- Mas tu tremes!259.- Talvez do afã da caça...- Oh filho caro!

260.Um quê misterioso aqui me fala,261.Aqui no coração; piedosa fraude262.Será por certo, que não mentes nunca!263.Não conheces temor, e agora temes?264.Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,265.E contra o seu querer não valem brios.266.Partamos!... -

E com mão trêmula, incerta

267.Procura o filho, tateando as trevas268.Da sua noite lúgubre e medonha.269.Sentindo o acre odor das frescas tintas,270.Uma idéia fatal correu-lhe à mente...271.Do filho os membros gélidos apalpa,272.E a dolorosa maciez das plumas273.Conhece estremecendo: - foge, volta,274.Encontra sob as mãos o duro crânio.275.Despido então do natural ornato!...276.Recua aflito e pávido, cobrindo277.Às mãos ambas os olhos fulminados.278.Como que teme ainda o triste velho279.De ver, não mais cruel, porém mais clara,280.Daquele exício grande a imagem viva281.Ante os olhos do corpo afigurada.282.Não era que a verdade conhecesse283.Inteira e tão cruel qual tinha sido;

Page 193: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 193/207

284.Mas que funesto azar correra o filho,285.Ele o via; ele o tinha ali presente;286.E era de repetir-se a cada instante.287.A dor passada, a previsão futura288.E o presente tão negro, ali os tinha;289.Ali no coração se concentrava,

290.Era num ponto só, mas era a morte!

291.- Tu prisioneiro, tu?-Vós o dissestes.

292.- Dos índios?- Sim.

- De que nação?- Timbiras.

293.- E a muçurana funeral rompeste,294. Dos falsos manitôs quebrastes a maça...295.- Nada fiz...aqui estou,

- Nada! -Emudecem;

296.Curto instante depois prossegue o velho:297.- Tu és valente, bem o sei; confessa,298.Fizeste-o, certo, ou já não foras vivo!

299.- Nada fiz; mas souberam da existência300.De um pobre velho, que em mim só vivia...301.- E depois?...

- Eis-me aqui.- Fica essa taba?

302.- Na direção do sol, quando transmonta.303.- Longe?

- Não muito.- Tens razão : partamos.

304.- E quereis ir?...- Na direção do ocaso.

Page 194: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 194/207

 VII

305.”Por amor de um triste velho,306.Que ao termo fatal já chega,307.Vós, guerreiros, concedestes

308.A vida a um prisioneiro.309.Ação tão nobre vos honra,310.Nem tão alta cortesia311.Vi eu jamais praticada312.Entre os Tupis, - e mas foram313.Senhores em gentileza.”

314.”Eu porém nunca vencido315.Nem nos combates por armas,316.Nem por nobreza nos atos;317.Aqui venho, e o filho trago.

318.Vós o dizeis prisioneiro,319.Seja assim como dizeis;320.Mandai vir a lenha, o fogo.321.A maça do sacrifício322.E a muçurana ligeira:323.Em tudo o rito se cumpra!324.E quando eu for só na terra,325.Certo acharei entre os vossos,326.Que tão gentis se revelam,327.Alguém que meus passos guie;328.Alguém, que vendo o meu peito329.Coberto de cicatrizes,330.Tomando a vez de meu filho,331.De haver-me por pai se ufane!”

332.Mas o chefe dos Timbiras,333.Os sobrolhos encrespando,

Page 195: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 195/207

334.Ao velho Tupi guerreiro335.Responde com torvo acento:

336.- Nada farei do que dizes:337.É teu filho imbele e fraco!338.Aviltaria o triunfo

339.Da mais guerreira das tribos340.Derramar seu ignóbil sangue:341.Ele chorou de cobarde;342.Nós outros, fortes Timbiras,343.Só de heróis fazemos pasto. -

344.Do velho Tupi guerreiro345.A surda voz na garganta346.Faz ouvir uns sons confusos,347.Como os rugidos de um tigre,348.Que pouco a pouco se assanha!

VIII

349.“Tu choraste em presença da morte?350.Na presença de estranhos choraste?351.Não descende o cobarde do forte;352.Pois choraste, meu filho não és!353.Possas tu, descendente maldito354.De uma tribo de nobres guerreiros,355.Implorando cruéis forasteiros,356. Seres presa de vis Aimorés.

357.“Possas tu, isolado na terra,358.Sem arrimo e sem pátria vagando,359.Rejeitado da morte na guerra,360.Rejeitado dos homens na paz,361.Ser das gentes o espectro execrado:

Page 196: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 196/207

362.Não encontres amor nas mulheres,363.Teus amigos, se amigos tiveres,364.Tenham alma inconstante e falaz!

365.“Não encontres doçura no dia,366.Nem as cores da aurora te ameiguem,

367.E entre as larvas da noite sombria368.Nunca possas descanso gozar:369.Não encontres um tronco, uma pedra,370.Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos.371.Padecendo os maiores tormentos,372.Onde possas a fronte pousar.

373.“Que a teus passos a relva se torre;374.Murchem prados, a flor desfaleça,375.E o regato que límpido corre,376.Mais te acenda o vesano furor;

377.Suas águas depressa se tornem,378.Ao contato dos lábios sedentos,379.Lago impuro de vermes nojentos,380.Donde fujas com asco e terror!

381.“Sempre o céu, como um teto incendido,382.Creste e punja teus membros malditos383.E o oceano de pó denegrido384.Seja a terra ao ignavo tupi!385.Miserável, faminto, sedento,386.Manitôs lhe não falem nos sonhos,387.E do horror os espectros medonhos388.Traga sempre o cobarde após si.”

389.“Um amigo não tenhas piedoso390.Que o teu corpo na terra embalsame,391.Pondo em vaso d’argila cuidoso

Page 197: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 197/207

392.Arco e frecha e tacape a teus pés!393.Sê maldito, e sozinho na terra;394.Pois que a tanta vileza chegaste,395.Que em presença da morte choraste,396.Tu, cobarde, meu filho não és.”

IX

397.Isto dizendo, o miserando velho398.A quem Tupã tamanha dor, tal fado399.Já nos confins da vida reservara,400.Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias401.Da sua noite escura as densas trevas402.Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára !403.O grito que escutou é voz do filho,404.Voz de guerra que ouviu já tantas vezes405.Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!

406.- Esse momento só vale apagar-lhe407.Os tão compridos transes, as angústias,408.Que o frio coração lhe atormentaram409.De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.410.Ele que em tanta dor se contivera,411.Tomado pelo súbito contraste,412.Desfaz-se agora em pranto copioso,413.Que o exaurido coração remoça.

414.A taba se alborota, os golpes descem,415.Gritos, imprecações profundas soam,416.Emaranhada a multidão braveja,417.Revolve-se, enovela-se confusa,418.E mais revolta em mor furor se acende.419.E os sons dos golpes que incessante fervem,420.Vozes, gemidos, estertor de morte421.Vão longe pelas ermas serranias

Page 198: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 198/207

422.Da humana tempestade propagando423.Quantas vagas de povo enfurecido424.Contra um rochedo vivo se quebravam.

425.Era ele, o Tupi; nem fora justo426.Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,

427.Aturado labor de tantos anos,428.Derradeiro brasão da raça extinta,429.De um jato e por um só se aniquilasse.

430.- Basta! clama o chefe dos Timbiras,431.- Basta, guerreiro ilustre! assaz lutaste,432.E para o sacrifício é mister forças. --

433.O guerreiro parou, caiu nos braços434.Do velho pai, que o cinge contra o peito,435.Com lágrimas de júbilo bradando:

436.“Este, sim, que é meu filho muito amado!437.“E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,438.“Corram livres as lágrimas que choro,439.“Estas lágrimas, sim, que não desonram.”

X

440.Um velho Timbira, coberto de glória,441. Guardou a memória442.Do moço guerreiro, do velho Tupi!443.E à noite, nas tabas, se alguém duvidava444. Do que ele contava;445.Dizia prudente: - “Meninos, eu vi!”

446.“Eu vi o brioso no largo terreiro447. Cantar prisioneiro448.Seu canto de morte, que nunca esqueci:

Page 199: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 199/207

449.Valente, como era, chorou sem ter pejo;450. Parece que o vejo,451.Que o tenho nest’hora diante de mi.

452.“Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!453. Pois não, era um bravo:

454.Valente e brioso, como ele, não vi!455.E à fé que vos digo: parece-me encanto456. Que quem chorou tanto,457.Tivesse a coragem que tinha o Tupi!”

458.Assim o Timbira, coberto de glória,459. Guardava a memória460.Do moço guerreiro, do velho Tupi.461.E à noite nas tabas, se alguém duvidava462. Do que ele contava,463.Tornava prudente: “Meninos, eu vi!” 

Page 200: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 200/207

 

Anexo II: Glossário:

ACERBO - adj. azedo, amargo, áspero, duro, severo.(G.DiasIV, 156)

ACOBARDO - v. tr. intimidar // -, v. pr. sentir,timidez.// F.cobarde (G. Dias V,224)

AIMORÉS - s.m. tribo de índios que nos séculos XV e XVIhabitavam na região atualmente ocupada pelos estados daBahia e do Espírito Santo. O mesmo que ambarés ou emborés.(G.Dias.IV,137)

ALBOROTA - v. forma paralela a ALVOROÇAR-SE, usada por Gonçalves Dias com sua significação antiga: AMOTINAR-SE (Aulete, 1964,s.u.)

AVILTAR - desonrar, rebaixar, humilhar.

BAGA - s.f.(bot.) nome genérico dos frutos de polpa mole esem caroço mas, com mais de uma semente, como a uva e omedronho.// Por analogia, gota, pingo de suor, camarinhas //(Bras.) semente de mamona. // F. latim Baca. (G.Dias.V,236)

BRAVEJA - A forma paralela de ESBRAVEJA, ao norte doBrasil (G. Dias é maranhense), significa TIRAR PARTE DABRAVEJA A. Portanto, a forma BRAVEJA se faz obrigatóriaao poeta.

CRESTE - (crestar) (Do latim castrase) v.t.d. // 1. Tirar o mel

de (colméia) colhendo parte dos favos. // 2. Reduzir aquantidade de; desfalcar. // 3. Saquear, despojo. (Aurélio,s.u.)

CUIDOSO - forma sincopada de CUIDADOSO

CUIDOSO - (ô), adj., o mesmo que cuidadoso, em cuidado; pensativo; preocupado.(Aulete;1964,s.u.)

Page 201: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 201/207

DESTRA (ê) palavra poética - a mão direita // à destra,(loc.adv.) à direita // (Bras.) o mesmo que a destra. F. lat.dextra (G.Dias.III,94) (Aulete;1964,s.u.)

ENTANTO - adv.neste meio tempo, neste ínterim, entretanto.De EM + TANTO. (Cunha;1982,s.u.)

EMBIRA - s.f. (Bras.) fibra liberiana de certos vegetaisempregada como cordel. // liame vegetal.

EXÍCIO - Termo erudito, um tanto esquecido, do latimexitium: ruína, perda, aniquilamento (G.Dias.I,16)(Nogueira;1960,s.u.)

FADO - Forma registrada como do século XVI. A opção poreste vocábulo nos parece resultar do seu sentido místico de“vaticínio, decreto do destino, profecia”,etc. que se ajusta aoclima do texto. (Cunha;1982,s.u.) (Aulete;1964,s.u.)

FUGACE - adj. (poét.) fugaz // F. latina fugax

(Aulete;1964,s.u.) -- Forma erudita (Neto;1976,128)

FRECHA - variante de FLECHA (Aulete;1964,s.u.)

FREME - v. FREMIR v.int.bramir, gemer, bramar, rugir //estremecer, tremer // vibrar, agitar-se ligeiramente // tercomoções agradáveis, agitar-se com júbilo.// F. latina fremere(G.Dias.III,97)

GÉLIDA - adj. (poé.) frio, congelado // Que paralisa; quesuspende; torpente //suspenso, paralisado, insensível, imóvel.//F. latina gelidus (G.Dias.V,236)

IGNAVO - adj. indolente, preguiçoso, negligente, remisso; //covarde, fraco de ânimo // F. latina ignares (G.Dias.I,17-8)

IGNÓBIL - adj. baixo, vil, desprezível, que não tem valia //Que não tem nobreza nem distinção, que denota uma alma vilou sentimento baixos.// F. latina ignobilis (G.Dias.II,61)

Page 202: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 202/207

IGNOTO - adj. incógnito, não conhecido; // obscuro, humilde,de baixa condição. // F.latina ignotus (G.Dias.I,250)

IMBELE - adj. incapaz para a guerra // débil, fraco, tímido,covarde // F. latina imbellis

IMIGO - Forma antiga e popular de INIMIGO (‘inimicus’, de

‘in amicus’) (...) Camões já usa INIMIGO em III-35, 119; VI-46; X-59,89.(Nogueira;1960,220) -- Forma em desuso(Aulete;1964,s.u.)

IVERAPEME - (IVIRAPEMA) - s.m. (Bras.) maça com que osindígenas matavam os prisioneiros; tangapema; tacape;ivirapeme. (G.Dias.III,94)

LEDA - alegre, contente (Lus.X-156). Qualificativo muitousado pelo poeta. (Nogueira;1960,243)

MANITÔ - (De MANITU <  algonquino MANITU, espírito)s.m. designação que os índios algonquinos, dos EUA, dão auma forma mágica não personificada, mas inerente a todas ascoisas, pessoas, fenômenos naturais e atividades; // gêniotutelar, ou demônio, entre índios americanos.(F. paralelamanitô) -- (Aurélio;s.u.)

MARACÁS - s.m. bálsamo precioso usado no Peru. //(Bras.)cabaça grande, seca e limpa de miolo , em que os índios metemcaroço de frutos ou pedras pequenas , e que usam nas guerras enas suas festas, agitando-as e fazendo grande ruído; // (Bras.)chocalho com que brincam as crianças. // -, s.f. o mesmo quecascavel(cobra). (G.Dias.I,15)

MAÇA - s.f. pau bastante pesado com uma das extremidadesmais grossa, que antigamente servia de arma. // clava, insígniade maceiros. // F. latina mattea (G.Dias.I,39)

MENDACE - palavra poética (JUCÁ FILHO;1965,s.u.)Contudo, Caldas Aulete não a aponta como tal.

Page 203: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 203/207

PRÉLIO - s.m.(poét.) batalha, combate, luta // F. latina praelium (G.Dias. I,8)

PIAGA - s.m. (Bras.) o mesmo que pajé (G.Dias.IV,144)

TRIGANÇA - s.f. pressa, azáfama: // F. triga (G.Dias.I,43-4)

TALADOS - adj. arrasado, devastado (G.Dias.IV,142)

TROÇO - (ô) s.m.(...)porção de gente; rancho, grupo(G.Dias.IV,142)

TIMBIRAS - s.m.pl. (Bras.) antiga tribo indígena que ocupavao Maranhão e o Piauí.

TUPIS - tupi.s.m. e f. indivíduo dos tupis, grande nação deíndios que compreendia cerca de duzentas e quarenta tribos,espalhadas por várias regiões do Brasil, Colômbia, GuianaFrancesa, Peru, Equador, Bolívia, Paraguai e Argentina, cujoidioma constitui uma das principais famílias lingüísticas dos

índios brasileiros. // Nomes dados pelos guaranis e brancos doAlto Paraná aos caigangues e a quaisquer índios temidos. // -,s.m. língua geral falada no litoral brasileiro até o século XIX e,ainda hoje, no Amazonas, com o nome de nheesgatu // -, pl.designação genérica das tribos tupis, especialmente do litoral

 brasileiro.// -, adj. relativo aos tupis.// F. pal. tupi de or. incerta.(G.Dias.V,227;230;233)

TRANSMONTAR - v. De TRÁS+MONTE+AR(...) no séc.XVI:”que o sol vai-se e transmonta” (MACHADO;1967,s.u.)v.tr. passar por cima de (monte) // -, v. intr. tramontar: “Nadireção do sol quando TRANSMONTA...”(G.Dias)(Aulete;1964, s.u.)

USANÇA - palavra sem curso no Brasil, substituída por USO.Ainda figura nos léxicos portugueses. (Lus., VII- 20,39,77; IX-50; X-126)

Page 204: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 204/207

 Referências bibliográficas:

AGUSTINI, Carmen Lúcia Hernandes.  A estilística do discurso dagramática. São Paulo: Pontes, 2004.

ALBUQUERQUE, Elizabeth Correia de. O exótico e o

vernáculo no léxico de Maíra.  Rio de Janeiro: UERJ.Dissertação de mestrado em língua portuguesa, 2000.

BARTHES, Roland. Aula. 6ª ed. São Paulo: Cultrix, 1978.

 _____. Elementos de semiologia. 14a  ed. São Paulo: Cultrix,2001.

CALDAS AULETE.  Dicionário contemporâneo da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Delta, 1964.

CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso.  Manual de expressão oral eescrita. 13a ed. Petrópolis: Vozes, 1995.

CÂNDIDO, Antônio. Formação da Literatura Brasileira:momentos decisivos. 7a. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993. 

CARVALHO, José G. Herculano. Teoria da linguagem. TomoI. Coimbra: Atlântida, 1974. 

CASTAGNINO, Raúl.  Análise literária. 2ª ed. São Paulo: MestreJou, 1971.

CHABROL, Claude (org.). Semiótica narrativa e textual. SãoPaulo: Cultrix, 1977. 

CHAVES DE MELO, Gladstone. Ensaio de Estilística da LínguaPortuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Padrão, 1976.

CHAVES DE MELO. Gladstone.  A excelência vernácula de

Gonçalves Dias. Niterói: EDUFF, 1992.COUTINHO, Afrânio & COUTINHO, Eduardo de Faria.  Aliteratura no Brasil: Era   Romântica. Vol.III. Rio deJaneiro/Niterói: José Olympio/ EDUFF, 1986.

CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

DIAS, Antônio Gonçalves. Coleção de Poesias. F. A. Brockhaus, 2a

Page 205: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 205/207

edição, Leipzig, 1857. _____. Coleção de Poesias. F. A. Brockhaus, 3a edição, Leipzig,

1857. _____. Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro: José

Aguilar Ltda, 1959. _____. Poesias. B. L. Garnier, 5a edição comentada, Rio de Janeiro,

1870.

 _____. Quadros da vida selvagem Y-Juca-Pirama. Typ. do Rio deJaneiro, Porto Alegre, 1869.

 _____. Últimos cantos. Poesias. Tzp. de F. P. de Paula Brito, Rio deJaneiro, 1851.

ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. São Paulo:Ática, 1991.

FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo dicionário Aurélio. 2ª ed. Rio deJaneiro: Nova Fronteira, 1985.

GALVÃO, Jesus Bello. Subconsciência e Afetividade na LínguaPortuguesa. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1982.

JUCÁ FILHO, Cândido.  Dicionário escolar das dificuldades dalíngua portuguesa. Rio de Janeiro: MEC, 1965.

LAPA, Manuel Rodrigues. Estilística da língua portuguesa. 4ª ed.São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MACHADO, J. P.  Dicionário etimológico da língua portuguesa.Lisboa: Confluência, 1967. [3 vol.]

MARTINS, Nilce Sant'Anna.  Iniciação à Estilística. 2ª ed. SãoPaulo: T. A. Queiroz Editora, l987.

MONTEIRO, José Lemos. “O Percurso da Estilística”. In:  Língua, Lingüística e Literatura. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998.[p.174-198]

 _____. A Estilística. São Paulo, Ática (Fundamentos), l991. NOGUEIRA, Júlio.  Dicionário e gramática de “Os Lusíadas”. Rio

de Janeiro: Freitas Bastos, 1960.PIGNATARI, Décio. Semiótica e Literatura. São Paulo: Perspectiva,1974.

PLAZA, Julio. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva,2001.

REI, Cláudio Artur de Oliveira.  A palavra caetana: estudosestilísticos. Rio de Janeiro: UERJ. Edição Acadêmica.Dissertação de Mestrado em Letras (subárea: língua

Page 206: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 206/207

 portuguesa) orientada pela Profª Drª Darcilia Simões, 2002.RIBEIRO, Luis Filipe - Alencar, Alencares... In  Mulheres de Papel:

um estudo do imaginário em José de Alencar e Machado de Assis. Niterói: EDUFF, 1996.

RIFFATERRE, Michael. Estilística Estrutural. São Paulo: Cultrix,1973.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de Lingüística Geral. 10ª  ed. Trad.

Antonio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. SãoPaulo: Cultrix, 1972.

SILVA NETO, Serafim da.  Introdução ao estudo da filologia portuguesa. Rio de Janeiro: Grifo, 1976.

SIMÕES, Darcilia & CASTRO, Vera Fontana de. “Linguagens,ensino e semiótica aplicada". In: Caderno seminal  Vol. 9 1ª ed. Rio de Janeiro: DIALOGARTS, 2000, p.140-149.

SIMÕES, Darcilia et al. A Estilística Singular de I-Juca-Pirama. Riode Janeiro: Dialogarts, 1997. 

SIMÕES, Darcilia. “Carlos Drummond de Andrade: Poesia de corpoe alma”. In Caderno Seminal Vol. 5 . nº 5 . 1998 [fls.40-54]

 _____. “Língua portuguesa, semiótica e análise do discurso: umanova dimensão para o ler e redigir”. In: Caderno seminal Vol.11 1a ed. Rio de Janeiro: DIALOGARTS, 2001, p.07-16.

 _____. “Parcela da língua sertaneza  de Elomar Figueira de Melo”.Comunicação no V SENELP. Erechim /RS – 2002.

SIMÕES, Darcilia. “Semiótica na comunicação lingüística: uminstrumental indispensável”. In AZEREDO, José Carlos (org)

 Letras & comunicação: uma parceria no ensino de língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 2001. [p. 86-100]

 _____. Estudo estilístico-sintático de “I-Juca-Pirama” de Gonçalves Dias: léxico e giros sintáticos.  Niterói: UFF. Dissertação demestrado em língua portuguesa, 1985.

SIMOES, Darcilia & MARTINS, Aira Suzana Ribeiro. “UmaAnálise Semiótica de Canção Excêntrica”. In: SIMÕES,Darcilia. (Org.). Estudos semióticos. Papéis avulsos.  Rio deJaneiro, 2004, v. 1, [p. 39-46]

VERDONK, Peter. Stylistic. Oxford: Oxford University Press, 2002.YLLERA, Alicia. Estilística, poética e semiótica literária. Coimbra:

Almedina, 1979.

Page 207: I JucaPirama Análise Estilística

7/26/2019 I JucaPirama Análise Estilística

http://slidepdf.com/reader/full/i-jucapirama-analise-estilistica 207/207

 Fontes digitais:http://www.academia.org.br/cads/15/goncalve.htmhttp://www.cce.ufsc.br/~nupill/ensino/goncalves_dias.htmhttp://www.nilc.icmsc.sc.usp.br/literatura/gon.alvesdias.htm