II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II...

40
II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS II CESMAD JOAQUINA PERES INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III BRASÍLIA - DF 2015

Transcript of II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II...

Page 1: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

BRASIacuteLIA - DF

2015

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

Monografia apresentada ao II Curso de

Especializaccedilatildeo em Sauacutede Mental Aacutelcool e

Outras Drogas do Instituto de Psicologia da

Universidade de Brasiacutelia para a obtenccedilatildeo do

Tiacutetulo de Especialista em Sauacutede Mental

Aacutelcool e Outras Drogas

Orientado por Erwin Adnen Smeja Hunter

BRASIacuteLIA - DF

2015

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

Esta Monografia foi avaliada para a obtenccedilatildeo do Grau de Especialista em Sauacutede Mental

Aacutelcool e Outras Drogas e aprovada na sua forma final pela Banca a seguir

Data ____________

Nota _____________

________________________________________________

Prof Dr IlenoIziacutedio da Costa

Coordenador Geral do II CESMAD

__________________________________________________

Prof

BRASIacuteLIA ndash DF

2015

Autorizaccedilatildeo para Publicaccedilatildeo Eletrocircnica de Trabalhos Acadecircmicos

Na qualidade de titular dos direitos autorais do trabalho citado em consonacircncia com a

Lei nordm 961098 autorizo a Coordenaccedilatildeo Geral do II CESMAD a disponibilizar gratuitamente

em sua Biblioteca Digital e por meios eletrocircnicos em particular pela Internet extrair coacutepia

sem ressarcimento dos direitos autorais o referido documento de minha autoria para leitura

impressatildeo ou download eou publicaccedilatildeo no formato de artigo conforme permissatildeo concedida

Para minha matildee Mariquinha para meus

filhos Josy Lorena Luiz Gustavo e Luiz

Gutemberg e para meu amor e grande

companheiro Erwin minha eterna

gratidatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 2: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

Monografia apresentada ao II Curso de

Especializaccedilatildeo em Sauacutede Mental Aacutelcool e

Outras Drogas do Instituto de Psicologia da

Universidade de Brasiacutelia para a obtenccedilatildeo do

Tiacutetulo de Especialista em Sauacutede Mental

Aacutelcool e Outras Drogas

Orientado por Erwin Adnen Smeja Hunter

BRASIacuteLIA - DF

2015

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

Esta Monografia foi avaliada para a obtenccedilatildeo do Grau de Especialista em Sauacutede Mental

Aacutelcool e Outras Drogas e aprovada na sua forma final pela Banca a seguir

Data ____________

Nota _____________

________________________________________________

Prof Dr IlenoIziacutedio da Costa

Coordenador Geral do II CESMAD

__________________________________________________

Prof

BRASIacuteLIA ndash DF

2015

Autorizaccedilatildeo para Publicaccedilatildeo Eletrocircnica de Trabalhos Acadecircmicos

Na qualidade de titular dos direitos autorais do trabalho citado em consonacircncia com a

Lei nordm 961098 autorizo a Coordenaccedilatildeo Geral do II CESMAD a disponibilizar gratuitamente

em sua Biblioteca Digital e por meios eletrocircnicos em particular pela Internet extrair coacutepia

sem ressarcimento dos direitos autorais o referido documento de minha autoria para leitura

impressatildeo ou download eou publicaccedilatildeo no formato de artigo conforme permissatildeo concedida

Para minha matildee Mariquinha para meus

filhos Josy Lorena Luiz Gustavo e Luiz

Gutemberg e para meu amor e grande

companheiro Erwin minha eterna

gratidatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 3: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

II CURSO DE ESPECIALIZACcedilAtildeO EM SAUacuteDE MENTAL

AacuteLCOOL E OUTRAS DROGAS ndash II CESMAD

JOAQUINA PERES

INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

Esta Monografia foi avaliada para a obtenccedilatildeo do Grau de Especialista em Sauacutede Mental

Aacutelcool e Outras Drogas e aprovada na sua forma final pela Banca a seguir

Data ____________

Nota _____________

________________________________________________

Prof Dr IlenoIziacutedio da Costa

Coordenador Geral do II CESMAD

__________________________________________________

Prof

BRASIacuteLIA ndash DF

2015

Autorizaccedilatildeo para Publicaccedilatildeo Eletrocircnica de Trabalhos Acadecircmicos

Na qualidade de titular dos direitos autorais do trabalho citado em consonacircncia com a

Lei nordm 961098 autorizo a Coordenaccedilatildeo Geral do II CESMAD a disponibilizar gratuitamente

em sua Biblioteca Digital e por meios eletrocircnicos em particular pela Internet extrair coacutepia

sem ressarcimento dos direitos autorais o referido documento de minha autoria para leitura

impressatildeo ou download eou publicaccedilatildeo no formato de artigo conforme permissatildeo concedida

Para minha matildee Mariquinha para meus

filhos Josy Lorena Luiz Gustavo e Luiz

Gutemberg e para meu amor e grande

companheiro Erwin minha eterna

gratidatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 4: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

Autorizaccedilatildeo para Publicaccedilatildeo Eletrocircnica de Trabalhos Acadecircmicos

Na qualidade de titular dos direitos autorais do trabalho citado em consonacircncia com a

Lei nordm 961098 autorizo a Coordenaccedilatildeo Geral do II CESMAD a disponibilizar gratuitamente

em sua Biblioteca Digital e por meios eletrocircnicos em particular pela Internet extrair coacutepia

sem ressarcimento dos direitos autorais o referido documento de minha autoria para leitura

impressatildeo ou download eou publicaccedilatildeo no formato de artigo conforme permissatildeo concedida

Para minha matildee Mariquinha para meus

filhos Josy Lorena Luiz Gustavo e Luiz

Gutemberg e para meu amor e grande

companheiro Erwin minha eterna

gratidatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 5: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

Para minha matildee Mariquinha para meus

filhos Josy Lorena Luiz Gustavo e Luiz

Gutemberg e para meu amor e grande

companheiro Erwin minha eterna

gratidatildeo

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 6: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

AGRADECIMENTOS

A Deus pela daacutediva da vida esse privileacutegio nos ofertado para a experimentaccedilatildeo dos

momentos a serem registrados na memoacuteria

Aos meus pais que acreditaram nos meus projetos e guiaram meus primeiros passos

rumo ao que sou

A minha famiacutelia amada que jamais me abandonou e creditou-me respeito e confianccedila

Ao meu orientador que me apoiou e pacientemente orientou as pesquisas

bibliograacuteficas e fez suas criacuteticas e avaliaccedilotildees dos textos

A todos os professores pela riqueza de conhecimentos e experiecircncias que

acrescentaram ao meu crescimento profissional

Aos colegas queridos aos amigos que enriqueceram a grande aquisiccedilatildeo de

conhecimento que foi esse curso para mim

Aos pacientes meus melhores livros

A todos aqueles de alguma forma ajudaram a semear cultivar e colher os frutos desses

meses de curso

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 7: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

ldquoProcurei confrontar minha experiecircncia cliacutenica

com a realidade natildeo sem sentir uma certa

perplexidade filosoacutefica sobre qual seria a

realidade mais vaacutelidardquo

Carl R Rogers

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 8: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

RESUMO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no Distrito

Federal e este processo se mostra como um grande desafio para os trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas identificados apontamos o sofrimento psicoloacutegico dos teacutecnicos que

compotildeem as equipes multiprofissionais A atuaccedilatildeo destas equipes multidisciplinares nos

CAPS Ad III ante esta situaccedilatildeo pode comprometer os resultados esperados para este

processo em virtude das visotildees diferentes a respeito da dependecircncia quiacutemica e abuso de aacutelcool

e outras drogas com divergecircncias entre os profissionais na abordagem dos pacientes e seus

familiares Divergecircncias estas que atuam como fatores desencadeantes de estresse Neste

trabalho abordamos a praacutetica da interdisciplinaridade em CAPS Ad III como uma estrateacutegia

de melhor integraccedilatildeo dos profissionais das equipes com reduccedilatildeo dos riscos de fragilidade do

funcionamento do serviccedilo Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da

valorizaccedilatildeo da interdisciplinaridade nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III em virtude de

que o trabalho coletivo compartilhado e coordenado atraveacutes de equipes interdisciplinares eacute

substancial em serviccedilos de Sauacutede

Palavras-chave CAPS Ad III Interdisciplinaridade Equipe

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 9: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

ABSTRACT

Public policies on alcohol and other drugs are in full deployment in the Federal District and

this process appears as a big challenge for workers in the area Among the problems

identified point the psychological suffering of the techniques that make up the

multidisciplinary teams The performance of these multidisciplinary teams in CAPS Ad III

before this situation may compromise the results expected for this process because of different

views about addiction and abuse of alcohol and other drugs with differences among

professionals to approach the patients and their family these differences that act as triggers of

stress In this paper we address the practice of interdisciplinarity in CAPS Ad III as a strategy

for better integration of professional teams with reduction of frailty risk of running the

service This work aims to contribute to the discussion of the need for recovery of

interdisciplinarity in professional practices in CAPS Ad III due to the collective shared and

coordinated by interdisciplinary teams is substantial at healthcare centers

Keywords CAPS Ad III interdisciplinarity Team

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 10: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA 18

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federalhellip22

Figura 3 - Associaccedilatildeo entre consumo de bebida alcooacutelica com acidentes e violecircncia23

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 11: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO11

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DE PESQUISA13

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA16

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS16

311 Intoxicaccedilatildeo17

312 Abstinecircncia18

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL19

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS19

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III21

5 RESULTADOS 29

6 DISCUSSAtildeO34

7 CONCLUSOtildeES 38

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS39

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 12: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

11

1 INTRODUCcedilAtildeO

As Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras drogas estatildeo em plena implantaccedilatildeo no

Distrito Federal com vaacuterias unidades participando deste processo Alguns problemas que

emergem durante as diferentes fases deste processo se apresentam como um desafio para os

trabalhadores da aacuterea

Entre os problemas observados mencionamos o natildeo diagnoacutestico da necessidade de

treinamentos especiacuteficos direcionados a suprir deficiecircncia em informaccedilatildeo dos profissionais

sobre os objetivos e o funcionamento de um Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial Aacutelcool e outras

drogas 24hs (CAPS Ad III) e da necessidade de integraccedilatildeo destes profissionais atraveacutes de

trabalho em equipes multiprofissionais para que atuem de forma interdisciplinar A ausecircncia

deste diagnoacutestico de gestatildeo leva a dificuldades estruturais de funcionamento e de resultados

A experiecircncia profissional na aacuterea da psiquiatria em CAPS AD III foi um dos fatores

que desencadearam os questionamentos do presente trabalho A percepccedilatildeo do sofrimento dos

profissionais integrantes de uma equipe multiprofissional que por natildeo receberem treinamentos

especiacuteficos para desenvolver habilidades na abordagem de pacientes da sauacutede mental

percebem-se limitados em suas accedilotildees Alguns deles chegaram ao CAPS AD III com

experiecircncia predominantemente hospitalocecircntrica e outros sem experiecircncia especiacutefica

situaccedilatildeo esta que pode influenciar negativamente os resultados a que se propotildee o CAPS AD

III que segue a Poliacutetica Nacional de Enfrentamento ao aacutelcool e outras drogas

Vaacuterias publicaccedilotildees sobre serviccedilos puacuteblicos de sauacutede relatam bons resultados no

atendimento a pacientes e bom niacutevel de adequaccedilatildeo dos profissionais quando atuam de forma

integrada e coordenada em equipes teacutecnicas que adotaram a estrateacutegia da

interdisciplinaridade Esta forma de trabalhar influencia positivamente os resultados

esperados no tratamento de pessoas que fazem uso abusivo de aacutelcool e outras drogas em

funccedilatildeo das diferentes contribuiccedilotildees individuais que se integram para o tratamento da

dependecircncia quiacutemica e nas praacuteticas de abordagem destes pacientes e seus familiares

A dependecircncia quiacutemica eacute um problema complexo de natureza biopsicossocial que

impacta fortemente sobre o equiliacutebrio da sociedade e que natildeo se resolve com respostas

simples Esta complexidade se deve agrave interaccedilatildeo de trecircs dimensotildees a bioloacutegica a psicoloacutegica e

a social cada uma com sua proacutepria complexidade

Segundo Morin (2006) complexidade eacute um tecido (complexus significa o que eacute

tecido junto) de constituintes heterogecircneos inseparavelmente associados e em um segundo

momento eacute efetivamente o tecido de acontecimentos accedilotildees interaccedilotildees retroaccedilotildees

determinaccedilotildees acasos que constituem nosso mundo fenomecircnico

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 13: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

12

Quando se fala de dependecircncia quiacutemica como um objeto de estudo complexo fazemos

referecircncia ao conjunto de elementos que interagindo de forma dinacircmica a definem na forma

expressa por Morin (2006) Pensar em dependecircncia quiacutemica eacute pensar de forma complexa

Abordar a dependecircncia quiacutemica exige estrateacutegias diversas e metodologias especiacuteficas de cada

uma das aacutereas do conhecimento humano envolvidas

A inter-relaccedilatildeo e a interaccedilatildeo destas diversas aacutereas para atingir um objetivo comum

constitui uma interdisciplinaridade ou seja uma forma coletiva de produzir e compartilhar

conhecimentos que diversas disciplinas realizam para um mesmo objetivo

No caso que nos ocupa seriam as aacutereas do conhecimento humano da biologia da

psicologia e da sociologia que interagindo entre si constituem base de evidecircncias cientiacuteficas

e oferecem uma metodologia de trabalho adequada para abordar a dependecircncia quiacutemica

A proposta eacute a de que ante uma realidade complexa e dentro dela uma questatildeo

complexa como a dependecircncia de substacircncias a abordagem adequada eacute a da

interdisciplinaridade que se apresenta como um instrumento complexo adequado para

compreender a complexidade da dependecircncia produzir um corpo de conhecimentos

diagnosticar tratar e reabilitar o indiviacuteduo em situaccedilatildeo de dependecircncia com transtornos

biopsicossociais decorrentes dela a ser praticada pelos profissionais que acolhem estes

indiviacuteduos em sofrimento

Este trabalho pretende contribuir para o debate da necessidade da interdisciplinaridade

nas praacuteticas profissionais nos CAPS Ad III destacando essa praacutetica como estrateacutegia eficaz

para alcanccedilar os melhores resultados no atendimento aos usuaacuterios do serviccedilo

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 14: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

13

2 METODOLOGIA E MEacuteTODO DA PESQUISA

O trabalho proposto aborda a interdisciplinaridade como a melhor estrateacutegia de

atuaccedilatildeo da equipe do CAPS Ad III no desafio do enfrentamento ao consumo abusivo de

aacutelcool crack e outras drogas Foi realizada revisatildeo bibliograacutefica de publicaccedilotildees que fazem

referecircncia agrave complexidade na sauacutede dependecircncia quiacutemica transtornos por uso de substacircncias

abordagens atuais desta situaccedilatildeo interdisciplinaridade no acircmbito da sauacutede puacuteblica e de

trabalhos que descrevam experiecircncias bem sucedidas da praacutetica da interdisciplinaridade

principalmente em equipes de CAPS Ad III em consulta online em bibliotecas virtuais de

sauacutede BVS Bireme SciELO Lilacs

Contribui tambeacutem para esta pesquisa a literatura do Ministeacuterio da Sauacutede sobre o tema

bem como mateacuterias publicadas da Secretaria Nacional de Poliacuteticas sobre Drogas do Ministeacuterio

da Justiccedila e vaacuterios outros autores

Trata-se de um estudo qualitativo exploratoacuterio realizado atraveacutes de revisatildeo

bibliograacutefica que busca esclarecer e enfatizar a importacircncia da construccedilatildeo gradativa da

interdisciplinaridade pela equipe multiprofissional para melhor assistir cidadatildeos com

problemas relacionados com o uso de aacutelcool e outras drogas

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 15: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

14

3 A COMPLEXIDADE DA DEPENDEcircNCIA QUIacuteMICA

O consumo de substacircncias psicoativas eacute uma praacutetica milenar e universal de todos os

povos em todas as eacutepocas e com diversos objetivos A dependecircncia quiacutemica decorrente do

uso crocircnico e abusivo eacute um fenocircmeno mundial que se insere na histoacuteria da humanidade haacute

mais de quatro mil anos e que tem sido tema de intenso debate pelo seu impacto sobre os

indiviacuteduos e a sociedade em geral

A dependecircncia quiacutemica decorre da interaccedilatildeo de trecircs fatores o indiviacuteduo a substacircncia

psicoativa (droga) e o meio ambiente onde os dois primeiros fatores se encontram

A dependecircncia a uma substacircncia indica uma relaccedilatildeo alterada entre um individuo e a

forma dele consumir a substacircncia Tal relaccedilatildeo pode ter efeitos nocivos no indiviacuteduo e

produzir transtornos fisioloacutegicos mentais e sociais

A Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede ndash OMS reconhece a dependecircncia quiacutemica como um

transtorno e define em sua uacuteltima Classificaccedilatildeo Internacional de Doenccedilas ndash CID-10 essa

condiccedilatildeo como transtornos mentais e comportamentais decorrentes do uso de substacircncias

psicoativas geradoras de alteraccedilotildees do funcionamento normal da pessoa sendo a classificaccedilatildeo

feita de acordo com o tipo de substacircncia em uso

O Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico de Transtornos Mentais ndash DSM-5 (2014)

elaborado e publicado pela Associaccedilatildeo Americana de Psiquiatria eacute uma referecircncia mundial

similarmente agrave CID da OMS descreve a caracteriacutestica principal de um transtorno por uso de

substacircncias como a presenccedila de sintomas cognitivos comportamentais e fisioloacutegicos que

assinalam o uso contiacutenuo e abusivo apesar de estarem presentes problemas significativos

relacionados a tal uso

Entende-se tambeacutem que transtornos por uso de substacircncias satildeo decorrentes de

alteraccedilotildees de circuitos neuronais cerebrais (DSM-5)

Como uma forma de auxiliar na compreensatildeo da dependecircncia quiacutemica o DSM-5

indica criteacuterios que a definem e que se agrupam em controle deterioraccedilatildeo social uso

arriscado e criteacuterios farmacoloacutegicos

Criteacuterio 1 O baixo controle no uso de substacircncias se refere ao consumo de maiores

quantidades da substacircncia e por um longo periacuteodo de tempo aleacutem do desejado

Criteacuterio 2 O indiviacuteduo pode desejar parar de fazer uso ou diminuir a quantidade consumida

sem sucesso

Criteacuterio 3 O indiviacuteduo pode gastar muito tempo para buscar a substacircncia usaacute-la ou recuperar-

se de seus efeitos

Criteacuterio 4 O desejo intenso (fissura) se manifesta em qualquer momento

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 16: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

15

Criteacuterio 5 O prejuiacutezo social se manifesta pela impossibilidade de cumprir com suas principais

obrigaccedilotildees na famiacutelia na escola no trabalho

Criteacuterio 6 O indiviacuteduo sabendo dos efeitos nocivos do uso da substacircncia continua com seu

uso

Criteacuterio 7 Refere-se ao abandono por parte do indiviacuteduo de suas atividades importantes da

sua vida tais como ocupacional familiar recreativa e dedica todo seu tempo agrave busca e uso da

substacircncia

Criteacuterio 8 Um terceiro agrupamento de criteacuterios diagnoacutesticos se refere ao uso arriscado da

substacircncia O uso persistente apesar de saber que jaacute apresenta riscos para si em situaccedilotildees

especiacuteficas - como dirigir um veiacuteculo sob efeito da substacircncia

Criteacuterio 9 Refere-se ao fracasso do indiviacuteduo em parar de usar a substacircncia apesar do

problema que ela estaacute causando

Criteacuterio 10 Os criteacuterios farmacoloacutegicos a serem identificados para diagnosticar dependecircncia

quiacutemica satildeo a toleracircncia e a abstinecircncia A toleracircncia eacute um criteacuterio farmacoloacutegico e consiste

na necessidade de consumir uma quantidade maior para obter o mesmo efeito

O grau de toleracircncia depende muito do indiviacuteduo e da proacutepria substacircncia

Criteacuterio 11 Consiste na abstinecircncia como elemento da maior importacircncia para o diagnostico

da dependecircncia quiacutemica

A abstinecircncia eacute um conjunto de sinais e sintomas decorrentes da diminuiccedilatildeo da

concentraccedilatildeo da substacircncia no sangue e tecidos em indiviacuteduos que vinham fazendo uso de

grandes quantidades da substacircncia Para aliviar tais sintomas o individuo passa a fazer uso

dela novamente A abstinecircncia do aacutelcool eacute a mais frequentemente encontrada nos serviccedilos de

sauacutede Nem todas as substacircncias geram abstinecircncia

31 TRANSTORNOS INDUZIDOS POR SUBSTAcircNCIAS

O consumo de substacircncias pode induzir alteraccedilotildees anatomofisioloacutegicas e

comportamentais de quem faz uso abusivo Uma abordagem mais abrangente desta temaacutetica

inclui leituras no campo da Toxicologia Humana que oferece conceitos poucas vezes

lembrados na praacutetica diaacuteria em serviccedilos de sauacutede mental tais como Intoxicaccedilatildeo e

Abstinecircncia

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 17: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

16

311 Intoxicaccedilatildeo

A complexidade da dependecircncia quiacutemica envolve a Toxicologia Humana A

toxicologia cliacutenica e a toxicologia farmacoloacutegica constituem ramos da ciecircncia que abordam a

estrutura quiacutemica a exposiccedilatildeo as vias de contato da substacircncia com os seres vivos a forma

como se distribuem no organismo as accedilotildees os efeitos e as respostas fisioloacutegicas do

organismo vivo agrave presenccedila da substacircncia A toxicologia geral eacute uma ciecircncia multidisciplinar

por receber colaboraccedilotildees de outras ciecircncias (Sauacutede governo do Paranaacute 2015)

No presente trabalho interessa mencionar a toxicologia farmacoloacutegica que estuda os

efeitos bioloacutegicos e os mecanismos de accedilatildeo das substacircncias e a toxicologia cliacutenica que aborda

a sintomatologia o diagnoacutestico e o tratamento como ramos da toxicologia geral que

contribuem para o entendimento da intoxicaccedilatildeo por substacircncias psicoativas

Dependendo da concentraccedilatildeo no sangue e nos tecidos uma substacircncia pode ter maior

ou menor grau de toxicidade A toxicidade eacute a capacidade de uma substacircncia produzir efeitos

prejudiciais ao organismo vivo (httpltcnutesufrjbrtoxicologiamIIIareahtm)

Diariamente nos deparamos nos serviccedilos de sauacutede com pacientes que por diversos

motivos entram em contato com substacircncias de forma acidental ou proposital ao ponto de

serem intoxicados e com suas vidas ameaccediladas

Pacientes em estado de intoxicaccedilatildeo satildeo frequumlentes nos serviccedilos de

urgecircnciaemergecircncia e ocasionalmente nos CAPS Eles configuram uma situaccedilatildeo que exige

pronto atendimento por profissionais altamente treinados e vinculados a uma rede eficiente

em virtude da complexidade da abordagem e do acompanhamento posterior em especial

quando estamos frente a um abuso consciente da substacircncia como eacute o caso dos dependentes

quiacutemicos e dos suicidas

Cada substacircncia produz efeitos geralmente reversiacuteveis especiacuteficos de cada uma e as

mudanccedilas comportamentais ou psicoloacutegicas presentes em quem a consumiu satildeo atribuiacutedas aos

efeitos fisioloacutegicos da substacircncia sobre o sistema nervoso central (DSM-5 2014)

Os profissionais que atendem estes pacientes devem ter o conhecimento aleacutem do

cliacutenico e farmacoloacutegico de que estas intoxicaccedilotildees satildeo frequumlentes em indiviacuteduos com

transtornos mentais Devem saber tambeacutem que os efeitos no sistema nervoso central

permanecem mais tempo do que a substacircncia no organismo Todo este conhecimento eacute

necessariamente compartilhado pelos profissionais que atuam nestes serviccedilos como forma de

obter melhores resultados e deve fazer parte da formaccedilatildeo deles

Os quadros cliacutenicos de intoxicaccedilatildeo satildeo especiacuteficos de cada substacircncia atuando sobre o

sistema nervoso central poreacutem todas elas produzem alteraccedilotildees comportamentais ou

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 18: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

17

psicoloacutegicas significativas ou desadaptativas tipo agressividade humor instaacutevel julgamento

prejudicado aleacutem de sinais e sintomas que indicam prejuiacutezo neuroloacutegico como fala arrastada

incoordenaccedilatildeo motora instabilidade na marcha Dependendo da dose da substacircncia a pessoa

pode evoluir para estupor ou coma (DIEHL 2011)

312 Abstinecircncia

Eacute uma siacutendrome cliacutenica que acontece em indiviacuteduos que vinham fazendo uso abusivo

por longo tempo de uma substacircncia e por alguma razatildeo a concentraccedilatildeo da substacircncia no

sangue ou nos tecidos diminui Esta situaccedilatildeo eacute diferente da intoxicaccedilatildeo

O grau de gravidade da abstinecircncia assim como os sintomas dependem do tipo de

substacircncia do tempo de consumo assim como das quantidades consumidas Para algumas

substacircncias natildeo foi possiacutevel identificar sinais e sintomas de abstinecircncia (fenciclidina e alguns

alucinoacutegenos) Os quadros cliacutenicos de abstinecircncia satildeo frequumlentes nos serviccedilos de sauacutede e a

gravidade dos sintomas apresentados orientam o tratamento e o local onde a pessoa seraacute

atendida Classicamente a abstinecircncia constitui uma siacutendrome (conjunto de sinais e sintomas)

denominada no caso do aacutelcool de Siacutendrome de Abstinecircncia Alcooacutelica ndash SAA

O exemplo de abstinecircncia a seguir refere-se agravequela vinculada a dependecircncia alcooacutelica

por ser a mais frequumlente e conhecida Nela podem ser identificados trecircs graus de gravidade

Leve Moderada e Grave A SAA grave constitui o denominado Delirium tremens situaccedilatildeo de

maacutexima gravidade e elevado risco de morte e frequente nos serviccedilos de urgecircnciaemergecircncia

A SAA eacute um conjunto de sinais e sintomas que surgem nas primeiras 6 a 8 horas apoacutes

a suspensatildeo ou a diminuiccedilatildeo da ingesta de bebida alcooacutelica sendo o tempo e a quantidade de

consumo diretamente proporcionais agrave gravidade da sua apresentaccedilatildeo (DIEHL 2011 p 135)

A abstinecircncia resulta de uma reaccedilatildeo do sistema nervoso autocircnomo agrave presenccedila da

substacircncia que se inicia com sintomas de desconforto fiacutesico e psiacutequico evoluindo para

ansiedade tremores taquicardia insocircnia alteraccedilotildees do humor

A SAA pode evoluir para um estado cliacutenico grave com confusatildeo desorientaccedilatildeo

deliacuterios alucinaccedilotildees visuais torpor coma e eventualmente morte (Fig 1)

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 19: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

18

Figura 1 - Gravidade e Duraccedilatildeo dos Sinais e Sintomas da SAA

Fonte FREELAND et al (1993)29(D) in Projeto Diretrizes-ABP-Abuso e dependecircncia de aacutelcool

Tanto a intoxicaccedilatildeo como a abstinecircncia constituem emergecircncias cliacutenica- psiquiaacutetricas

por precipitarem aleacutem de sintomatologia cliacutenica descrita diversos sintomas mentais ideaccedilatildeo

e tentativa de suiciacutedio e homiciacutedio agitaccedilatildeo psicomotora siacutendromes psicoacuteticas maniacuteacas e

depressivas (QUEVEDO SCHMITT amp KAPCZINSKI 2008)

32 O SISTEMA DE RECOMPENSA CEREBRAL

Para aumentar a complexidade do entendimento da dependecircncia quiacutemica os avanccedilos

cientiacuteficos na aacuterea da neurobiologia contribuem com os conceitos de neurotransmissores

neurorreceptores e sistema de recompensa cerebral que pretendem explicar como as

substacircncias psicotroacutepicas atuam no ceacuterebro e desenvolvem dependecircncia quiacutemica

Esta nova abordagem contribui com as ideacuteias de reprogramaccedilatildeo de circuitos neuronais

que processam a motivaccedilatildeo os comportamentos a memoacuteria o condicionamento o

funcionamento executivo e o controle inibitoacuterio (DIEHL 2011)

33 ETIOLOGIA - MODELOS TEOacuteRICOS

Etiologia eacute o estudo ou ciecircncia das causas No ramo da biologia a etiologia se

preocupa com as causas das doenccedilas (AUREacuteLIO) Modelos etioloacutegicos satildeo construccedilotildees

teoacutericas que nos permitem refletir melhor sobre a realidade e pretendem explicar guiar e

observar os fenocircmenos que ocorrem na natureza

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 20: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

19

Para este trabalho entende-se modelo etioloacutegico como uma construccedilatildeo teoacuterica que

pretende explicar a dependecircncia quiacutemica a partir de suas supostas causas (HESSELBROCK

HESSELBROCK amp EPSTEIN 1999)

Os modelos etioloacutegicos sobre dependecircncia quiacutemica pretendem explicar os motivos que

levam a uma pessoa a fazer uso de uma substacircncia psicoativa pela primeira vez do consumo

persistente ou ocasional do aparecimento do uso nocivo e as condiccedilotildees que fazem com que a

dependecircncia se estabeleccedila (DIEHL2011)

Diversas formas de explicar a dependecircncia quiacutemica foram elaborados com as mais

diversas abordagens Mencionamos aqueles que tiveram maior repercussatildeo (DIEHL 2011)

Modelo moral foi a primeira e mais antiga tentativa de explicar e controlar o consumo

exagerado de substacircncias Segundo este modelo a pessoa que fazia uso excessivo estava

violando conscientemente regras sociais e portanto passiacutevel de ser castigado Este modelo

assinala o usuaacuterio de substacircncias como irresponsaacutevel e o uso abusivo como um desvio moral

Modelo da temperanccedila surge no seacuteculo XVIII a partir das ideias de Benjamin Rush e

de Thomas Trotter de que o uso abusivo era consequecircncia de uma perda de controle e que era

uma escolha pessoal Afirmavam tambeacutem de que a substacircncia passava a ter o controle sobre a

vontade da pessoa

Modelo bioloacutegico que se fundamenta em alteraccedilotildees orgacircnicas consequumlentes ao uso de

substacircncias e sugere uma predisposiccedilatildeo geneacutetica A explicaccedilatildeo neurobioloacutegica inserida neste

modelo explica o comportamento aditivo como anaacutelogo ao mecanismo da aprendizagem e

pela plasticidade sinaacuteptica (JONES amp BONCI 2005)

Modelos psicoloacutegicos A teoria que fundamenta estes modelos estaacute focada no

indiviacuteduo A explicaccedilatildeo psicanaliacutetica entende que a dependecircncia quiacutemica decorre de um

desenvolvimento anormal da personalidade O consumo de substacircncias aparece como uma

tentativa do indiviacuteduo em aliviar frustraccedilotildees decorrentes da falta de habilidade para enfrentar

a realidade (DIEHL 2011)

As teorias comportamentais entendem que a dependecircncia eacute resultado de

comportamentos estruturados a parti da presenccedila estiacutemulos especiacuteficos reforccedilos positivos e

reforccedilos negativos(OMS 2004)

Atualmente o modelo com maiores evidecircncias e que vem se fortalecendo eacute o modelo

biopsicossocial ou modelo de sauacutede puacuteblica que correlaciona o indiviacuteduo o ambiente e a

substacircncia psicoativa Fatores como controle aprendizado social estados bioloacutegicos e

psicoloacutegicos satildeo levados em conta O modelo considera tambeacutem fatores de proteccedilatildeo e

fatores de riscos (DIEHL2011)

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 21: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

20

Esta complexidade de modelos existentes ainda em nossa praacutetica desencadeia um

debate conceitual ao mesmo tempo enriquecedor e prejudicial dependendo do

posicionamentos de quem aborda esta problemaacutetica Natildeo existe uma abordagem melhor do

que outra para o tratamento da dependecircncia quiacutemica mas sim formas de abordar esta questatildeo

se levarmos em conta o indiviacuteduo suas peculiaridades e as proacuteprias das equipes de sauacutede

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 22: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

21

4 A INTERDISCIPLINARIDADE EM CAPS AD III

O abuso e a dependecircncia quiacutemica de substacircncias psicoativas constituem grave

problema biopsicossocial que impacta fortemente na sociedade Tanto as causas como os

fatores mantenedores e as consequumlecircncias do abuso de substacircncias satildeo diversas e interagem

entre si de tal forma que em conjunto constituem um problema complexo que natildeo se resolve

de forma simples ou adotando um uacutenico modelo explicativo criado para enfrentar tal

complexidade

No caso especiacutefico da atuaccedilatildeo dos profissionais da sauacutede a Poliacutetica Nacional sobre

Drogas em suas Diretrizes (2005) orienta para o trabalho interdisciplinar e multidisciplinar a

articulaccedilatildeo e integraccedilatildeo em rede das intervenccedilotildees para tratamento recuperaccedilatildeo reduccedilatildeo de

danos e reinserccedilatildeo social e ocupacional

A estruturaccedilatildeo dos serviccedilos se baseia nas portarias do Ministeacuterio da Sauacutede que foram

oficializadas para nortear a construccedilatildeo dos aparelhos denominados CAPS em consonacircncia

com todos os outros serviccedilos de atenccedilatildeo agrave sauacutede incluindo urgecircncias e emergecircncias que todos

juntos compotildeem a Rede de Atenccedilatildeo Psicossocial ndash RAPS Portaria nordm 3088 de 23122011 do

MS

Eacute importante ressaltar que essa rede precisa estar coesa em suas atividades e embora

possua recurso humano diverso esses profissionais precisam trabalhar de forma

interdisciplinar na busca de atender o usuaacuterio com qualidade possibilitando melhores

resultados no trabalho proposto

O CAPS Ad III Samambaia existe haacute cerca de dois anos e foi implantado pela

necessidade constatada por dados estatiacutesticos de alto iacutendice de violecircncia social e domeacutestica

aleacutem de comorbidades gerais relacionadas com o uso abusivo e dependecircncia quiacutemica de

Aacutelcool Crack e outras drogas diagnosticadas em todas as aacutereas de atendimento meacutedico nas

aacutereas de Ortopedia Cliacutenica meacutedica Cirurgia geral Obstetriacutecia e Pediatria

O Inqueacuterito epidemioloacutegico domiciliar sobre uso de substacircncias psicotroacutepicas no

Brasil em 2005 eacute um estudo descritivo de prevalecircncia realizado em 108 cidades inclusive no

Distrito Federal que revelou uma realidade preocupante o elevado consumo de drogas liacutecita

e iliacutecitas na vida dos entrevistados (GALDUROacuteZ et al CEBRID 2005)

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 23: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

22

Figura 2 - Prevalecircncia de uso na vida de substacircncias psicoativas no Distrito Federal

Fonte GALDUROacuteZ et al CEBRID (2005)

Soma-se a estes dados a mortalidade proporcional por causas externas no Distrito

Federal de 2002 a 2007 de 9932 casos (17) com 868 oacutebitos por lesotildees autoprovocadas

Dados fornecidos pelo Observatoacuterio de Violecircncias NESPUNB nuacutemeros estes que expressam

situaccedilotildees relacionadas com o uso de substacircncias psicoativas

Tipo de droga

Qualquer droga exceto Tabaco e aacutelcool 230

Alcool 652

Solventes Inalantes 155

Substancias energizantes 12

Maconha 59

Benzodiazepinicos 41

Anfetaminas 37

Cocaiacutena 20

Anticolineacutergicos 12

Esteroides anabolizantes 10

Crack 07

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 24: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

23

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Fonte httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes

Esta realidade leva os governos regionais a investirem recursos na prevenccedilatildeo no

tratamento de crises e na recuperaccedilatildeo daqueles que fazem abuso de drogas

Estes dados resultaram do estudo realizado pelo programa do Ministeacuterio da Sauacutede -

VIVA (Vigilacircncia de violecircncia e acidentes) - em 71 hospitais puacuteblicos de todo o paiacutes que

fazem atendimento de urgecircnciaemergecircncia Os dados foram publicados em fevereiro de

2013

O modelo de CAPS AD III no atendimento de usuaacuterios de aacutelcool crack e outras

drogas vem ao encontro das poliacuteticas nacionais e regionais de enfrentamento desta realidade

social e implica em funcionamento de unidade de atendimento de forma ininterrupta ndash todos

os dias da semana durante 24 horas

A implantaccedilatildeo destas unidades para assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na

busca de controle dos problemas relacionados foi necessaacuteria no Distrito Federal e por esse

motivo o CAPS AD III Samambaia foi criado e apresenta-se nesse momento ainda em fase

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 25: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

24

de organizaccedilatildeo do serviccedilo enfrentando os desafios e aprendendo a arte de melhor acolher

para cuidar com humanidade integralidade e longitudinalidade que satildeo os princiacutepios do

Sistema Uacutenico de Sauacutede do Brasil

Antes de aprofundar devidamente a questatildeo do abuso do consumo de aacutelcool e outras

drogas faz-se necessaacuterio discutir nossa compreensatildeo sobre sauacutede que eacute a base para todas as

reflexotildees aqui registradas Essa discussatildeo eacute fundamental porque sustenta ao mesmo tempo os

debates acerca das drogas e as anaacutelises sobre a metodologia dos tratamentos propostos

Tem se tornado comum o discurso sobre as loacutegicas operantes em sauacutede nos tempos

atuais De fato lanccedilar um olhar sobre as praacuteticas de sauacutede a partir desse referencial facilita a

compreensatildeo de sua condiccedilatildeo no seacuteculo XXI

Os sistemas de sauacutede do mundo ocidental incluindo o Brasil tecircm sido questionados

por sua dependecircncia em relaccedilatildeo a um modelo assistencial individualista com ecircnfase na

dimensatildeo curativa da doenccedila aleacutem dos elevados custos e da baixa efetividade

Acompanhando esse raciociacutenio identificamos nesse conceito de modelo assistencial

individualista o que chamamos de loacutegica curativa Esta se justifica pela existecircncia das doenccedilas

e enfermidades de uma forma geral sendo necessaacuteria como praacutetica objetiva frente agraves penuacuterias

urgentes e emergentes em sauacutede Contudo tambeacutem eacute predominante como uacutenica forma de

acesso agrave sauacutede especialmente nos paiacuteses em desenvolvimento e justamente aiacute reside o seu

problema

Outra loacutegica no saber - fazer sauacutede eacute a da prevenccedilatildeo Muito se tem avanccedilado nas

praacuteticas preventivas em sauacutede no Brasil As estrateacutegias nesse sentido resultaram na

erradicaccedilatildeo de diversas doenccedilas por meio da vacinaccedilatildeo a maior representante dessa loacutegica

Vale destacar tambeacutem que a prevenccedilatildeo tem sido utilizada em acircmbitos da vida cotidiana que

inicialmente natildeo dizem respeito ao contexto da sauacutede todavia em uma anaacutelise mais atenta

tecircm tudo a ver com ela

Eacute o caso das campanhas contra a violecircncia no tracircnsito ou das atuaccedilotildees na seguranccedila

do trabalho bem como a atuaccedilatildeo da SENAD com relaccedilatildeo aos cursos como o SUPERA

oferecido aos profissionais da sauacutede ou o curso de prevenccedilatildeo de problemas relacionados com

o uso de aacutelcool e outras drogas oferecido aos profissionais da educaccedilatildeo

Portanto as accedilotildees preventivas definem-se como intervenccedilotildees orientadas a evitar o

surgimento de doenccedilas especiacuteficas reduzindo sua incidecircncia e prevalecircncia nas populaccedilotildees

Assim acerca dessa loacutegica que identificamos torna-se evidente que a ampliaccedilatildeo do

conceito de sauacutede eacute inerente ao avanccedilo significativo enquanto praacutetica resolutiva contudo

ainda estaacute presente o fantasma da doenccedila ou das enfermidades sendo estas o foco das accedilotildees

preventivas e natildeo a sauacutede propriamente dita

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 26: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

25

Nessa esfera de raciociacutenio partindo das anaacutelises criacuteticas sobre os outros modelos de

sauacutede surge a loacutegica de promoccedilatildeo da sauacutede Sua novidade reside na observaccedilatildeo dos

determinantes da sauacutede ampliando uma compreensatildeo individualizante destes para aspectos

coletivos sociais e culturais Ganha forccedila a ideia de promover sauacutede e natildeo apenas de curar a

doenccedila emergindo daiacute os conceitos de vigilacircncia em sauacutede poliacuteticas puacuteblicas saudaacuteveis e

cidades saudaacuteveis articulados agrave noccedilatildeo de promoccedilatildeo de sauacutede pela mudanccedila das condiccedilotildees de

vida e de trabalho da populaccedilatildeo

A partir dessa nova posiccedilatildeo sobre as questotildees da sauacutede natildeo apenas as praacuteticas nessa

aacuterea tiveram que evoluir mas tambeacutem o proacuteprio conceito sobre o que eacute sauacutede Dessa forma

ela passa de um estado temporaacuterio eou desejaacutevel de ausecircncia de doenccedilas para uma

caracteriacutestica dinacircmica construiacuteda no marco da vida cotidiana (OMS 1986) Assim a sauacutede eacute

vista como processo e como um bem em construccedilatildeo

A promoccedilatildeo da sauacutede eacute um desafio agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sob quaisquer perspectivas na

sociedade brasileira No que tange aos problemas relacionados ao abuso do consumo de

aacutelcool e outras drogas natildeo eacute diferente De fato eacute mais correto afirmar que nesse contexto a

promoccedilatildeo da sauacutede encontra entraves especiacuteficos a comeccedilar pelos mitos e distorccedilotildees no

entendimento sobre o que satildeo as drogas seus efeitos seu papel na sociedade e como devemos

trabalhar acerca delas

Crenccedilas desenvolvidas nos meios sociais como ldquoFumar maconha causa impulsos

assassinosrdquo ldquoCrack na gravidez deforma os bebecircsrdquo ldquoO ecstasy mata neurocircniosrdquo ldquoO oacutexi

existerdquo ou ldquoMaconha nunca faz malrdquo circulam livremente na sociedade

Em grande parte podemos atribuir a construccedilatildeo desses mitos ao papel das disputas

ideoloacutegicas religiosas e poliacuteticas existentes haacute seacuteculos e que ao longo da histoacuteria tecircm

camuflado o verdadeiro lugar das drogas em nosso desenvolvimento social cultural e

econocircmico

Contudo vale destacar que na atualidade outros cenaacuterios vecircm se desenhando com

papel fundamental dos grandes meios de comunicaccedilatildeo como principais reprodutores dos

mitos sobre as drogas Fica evidente que na tentativa de entender a questatildeo e abordaacute-la com a

urgecircncia que merece as informaccedilotildees produzidas pelos meios de comunicaccedilatildeo em massa

apropriadas e reproduzidas pela populaccedilatildeo em geral (a verdadeira construccedilatildeo de um senso

comum) acabam por perder completamente o criteacuterio e embasamento teacutecnicos e se atolam no

extenso campo das especulaccedilotildees sem fundamento

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 27: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

26

Eacute nesse sentido que surgem e se reforccedilam preconceitos contra os usuaacuterios das drogas

bem como diversas propostas de tratamento pautadas na abstinecircncia total no afastamento das

drogas como proposta de desintoxicaccedilatildeo (internaccedilotildees longas) e ateacute mesmo a inclusatildeo de

elementos metafiacutesicos como a espiritualidade entre seus principais fundamentos terapecircuticos

Em parte esse contexto acriacutetico e acientiacutefico se fortalece conforme apontado

anteriormente justamente pela falta de uma metodologia mais criteriosa e eficiente Isso abre

espaccedilo para a diversidade de interpretaccedilotildees que encontramos sobre o tema especialmente

concernente agraves formas de tratamento

Aqui entendemos que cabe aos CAPS ADs legitimados pelo MS o papel de ampliar

o debate sobre meacutetodos e tratamentos para pessoas convivendo com problemas decorrentes do

abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas pois satildeo serviccedilos da sauacutede mental ldquode

comprovada resolubilidade podendo abrigar em seus projetos terapecircuticos praacuteticas de

cuidados que contemplem a flexibilidade e abrangecircncia possiacuteveis e necessaacuterias a essa atenccedilatildeo

especiacutefica dentro de uma perspectiva estrateacutegica de reduccedilatildeo de danos sociais e agrave sauacutederdquo

(Ministeacuterio da Sauacutede 2003 p 25)

Ressaltamos que o CAPS AD III de Samambaia existe haacute dois anos e durante esse

periacuteodo tem promovido o atendimento agrave populaccedilatildeo referenciada buscando gradualmente um

modelo de tratamento adequado agraves orientaccedilotildees ministeriais todavia adaptado agrave realidade

local

Eacute importante ressaltar o esforccedilo de toda a equipe o comando gestor compartilhado

que compotildee o colegiado gestor juntamente com o gestor da unidade para realizar esse

trabalho de assistecircncia aos usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas na busca do exerciacutecio da

interdisciplinaridade nos planejamentos das accedilotildees e na atuaccedilatildeo diaacuteria de cada profissional da

equipe no exerciacutecio individual de suas funccedilotildees embasados pelo ideal do grupo

Os profissionais atuantes nestas unidades de atendimento se organizam em equipes

multidisciplinares ndash psicoacutelogo terapeuta ocupacional assistente social enfermeiro

farmacecircutico meacutedico cliacutenico meacutedico psiquiatra pedagogo educador fiacutesico teacutecnico

administrativo e teacutecnicos de enfermagem trabalhando na interdisciplinaridade segundo a

Portaria 130 de 26 de janeiro de 2012 do MS

Estes profissionais que constituem as equipes teacutecnicas necessitam compartilhar

informaccedilotildees serem coordenados estarem treinados especificamente para acolher e

acompanhar pacientes da sauacutede mental Os procedimentos destas equipes devem ser

orientados para alcanccedilar os melhores resultados possiacuteveis com estes pacientes e seus

familiares

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 28: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

27

A eficaacutecia e a eficiecircncia destas equipes depende das competecircncias desenvolvidas na

vida profissional de cada um destes profissionais que deveriam chegar ao CAPS AD III apoacutes

atuaccedilatildeo na aacuterea da sauacutede mental eou com treinamento especiacutefico para atuarem nesta aacuterea da

sauacutede puacuteblica Some-se a estes preacute-requisitos miacutenimos o desenvolvimento de habilidades para

trabalharem em equipes multidisciplinares com a loacutegica da interdisciplinaridade

O trabalho de equipe constituiacuteda com profissionais de diversas aacutereas atuando de forma

multiprofissional sem um objetivo comum pode prejudicar os resultados do tratamento de

pacientes em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica em funccedilatildeo do parcelamento do mecanicismo e

do reducionismo a aacutereas estanques do conhecimento

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 29: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

28

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 30: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

29

5 RESULTADOS

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que fucinciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A literatura e a praacutetica de campo na aacuterea da sauacutede sobre interdisciplinaridade oferece

uma estrateacutegia que atende nossas expectativas A apresentaccedilatildeo dos artigos de ABUHAB et

AL (2005) ALVES (2009) GOMES (1994) MEIRELLES et al (2011) e VILELA (2003) nos

trazem experiecircncias positivas de praacutetica de interdisciplinaridade em seus serviccedilos

A complexidade que constitui a dependecircncia quiacutemica seraacute prejudicada segundo Morin

(2011) pela racionalizaccedilatildeo e a especializaccedilatildeo do conhecimento que separa fragmenta e

comportamentaliza tal conhecimento e o afasta da contextualizaccedilatildeo A especializaccedilatildeo abstrai

o objeto de estudo de seu contexto o afasta de sua totalidade e corta as interaccedilotildees com o

ambiente onde esse objeto se constituiu

A dependecircncia quiacutemica natildeo deve ser separada do contexto onde surgiu logo

pensamos que o trabalho de equipes multiprofissionais que a isolam natildeo se constitui em uma

metodologia adequada Haacute necessidade de outra metodologia a da interdisciplinaridade mais

abrangente e educadora

Piaget (1973) trouxe para o setor da educaccedilatildeo a ideia de interdisciplinaridade que foi

amplamente discutida e posteriormente difundida em outros setores inclusive na Sauacutede

Vygotsky (1988) referindo-se agrave gecircnese do conceito como categoria de anaacutelise no

desenvolvimento da crianccedila natildeo faz referecircncia direta agrave interdisciplinaridade mas podemos

contextualizar seus desenvolvimentos teoacutericos no acircmbito do trabalho O trabalho de uma

equipe interdisciplinar seraacute efetivo quando cada profissional compartilhe vivencias

pensamentos e sentimentos no ambiente de trabalho Para que isto aconteccedila deve haver

comunicaccedilatildeo verbal

A fala entre os profissionais eacute indispensaacutevel e para compreender a fala do colega de

trabalho natildeo eacute suficiente entender as palavras ndash devemos compreender o seu pensamento e

conhecer os significados para depois emitir palavras

Vygotsky elaborou uma saacutebia reflexatildeo agrave respeito da comunicaccedilatildeo quando escreveu

A transmissatildeo racional e intencional de experiecircncias e pensamentos a outros requer um

sistema mediador a fala humana oriunda da necessidade de intercacircmbio durante o

trabalho A funccedilatildeo primordial da fala eacute a comunicaccedilatildeo o intercacircmbio social

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 31: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

30

No trabalho multidisciplinar o fato de se trabalhar de forma estanque e focar nos

resultados do processo perde-se a consideraccedilatildeo da percepccedilatildeo e a elaboraccedilatildeo mental das

informaccedilotildees reduzindo o aprendizado individual e social no ambiente de trabalho O trabalho

interdisciplinar eacute favorecido ao compartilhar experiecircncias e pensamentos atraveacutes da fala

Quando falamos de trabalho interdisciplinar de equipes estamos fazendo referecircncia a

uma forma de organizaccedilatildeo do trabalho ou seja uma forma de relaccedilatildeo social entre

trabalhadores Segundo Dejours (1994) a organizaccedilatildeo do trabalho eacute uma forma de relaccedilatildeo

intersubjetiva que privilegia relaccedilotildees entre sujeitos e com o coletivo

A interface trabalhador-trabalho natildeo haacute de ser considerada unicamente teacutecnica

unicamente cognitiva ou estritamente fiacutesica O trabalho de equipes interdisciplinares seraacute mais

eficiente quanto mais se desenvolver a intersubjetividade e a criaccedilatildeo de um contexto

intersubjetivo onde haacute tambeacutem relaccedilotildees de solidariedade de companheirismo de formaccedilatildeo

de aprendizado coletivo de inclusatildeo de reconhecimento dos potenciais dos outros incluindo

relaccedilotildees conflituosas

Continuando com Dejours vemos no trabalhador da sauacutede como todo trabalhador

um sujeito pensante que interage com seu ambiente e com seu objeto de trabalho Este

trabalhador pensa sua relaccedilatildeo com o trabalho interpreta sua realidade suas condiccedilotildees de

trabalho produz intersubjetividade reage afetiva fiacutesica e cognitivamente contribuindo para a

construccedilatildeo e elaboraccedilatildeo de suas relaccedilotildees no trabalho de forma mais efetiva na medida em que

compartilha competecircncias para um objetivo comum que natildeo se limita ao produto final de seu

trabalho mas inclui sua aprendizagem e desenvolvimento

Dejours de certa forma contribui para este estudo na medida em que nos mostra a

necessidade e a capacidade que o profissional da equipe tem de construir sentido para o que

ele faz e esta construccedilatildeo ocorre em contextos coletivos complexos de intersubjetividade

atraveacutes da interdisciplinaridade

Berger e Luckmann (1985) afirmam que a vida cotidiana apresenta-se como uma

realidade interpretada compartilhada e dotada de sentido Para estes autores a realidade da

vida cotidiana apresenta-se como um mundo intersubjetivo um mundo de intercacircmbios de

comunicaccedilatildeo entre as pessoas

O conhecimento que temos do mundo eacute o conhecimento compartilhado naturalmente

nas rotinas da vida comum incluindo-se o ambiente de trabalho O trabalho coletivamente

construiacutedo e compartilhado tem maior funccedilatildeo social na medida em que desenvolve o

trabalhador como pessoa e alcanccedila resultados superiores O produto do trabalho coletivo

compartilhado multidisciplinar interdisciplinar eacute um mundo objetivado que contecircm

significado para quem o construiu e para a sociedade

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 32: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

31

Equipes interdisciplinares onde os profissionais participantes constroem a

intersubjetividade e efetivam a comunicaccedilatildeo conseguem criar sentido no que fazem e

alcanccedilam melhores resultados

As ideacuteias de Morin (1996) Japiassu (1976) e Minayo (1991) foram centrais na

estruturaccedilatildeo das estrateacutegias do SUS valorizando a existecircncia de muacuteltiplas disciplinas

dialogando entre si na busca de melhores resultados para a assistecircncia agrave sauacutede do cidadatildeo

brasileiro

Japiassu (1976) enfoca sua preocupaccedilatildeo ao estreitamento a que chegou o saber na

valorizaccedilatildeo das especialidades e faz suas criacuteticas ao especialista que privatiza o espaccedilo

puacuteblico em sua praacutetica diaacuteria e natildeo compartilha saberes e praacuteticas no acircmbito da sauacutede puacuteblica

e propotildee a interdisciplinaridade como estrateacutegia de construccedilatildeo coletiva de um saber que vem

ao encontro das reais demandas em sauacutede puacuteblica onde os protagonistas interagem e

integram conceitos da metodologia dos procedimentos das informaccedilotildees e da proacutepria

organizaccedilatildeo dos serviccedilos

Minayo (1991) por sua vez em trabalho publicado em 1994 faz referecircncia a

Habermas (1994) socioacutelogo e filoacutesofo que desenvolve a teoria criacutetica no campo da filosofia

onde trabalha com a ideia do agir comunicativo Minayo tenta trazer para o campo da sauacutede as

ideias de Habermas que inicialmente se direcionavam agrave interdisciplinaridade nas ciecircncias

Para Habermas (in Ingram 1994) a conduta operativa e a accedilatildeo comunicativa

representam dois aspectos diferentes da vida social trabalho e linguagem O trabalho eacute para o

filoacutesofo uma forma de satisfaccedilatildeo das necessidades materiais e a linguagem uma forma de

comunicaccedilatildeo social que permite estabelecer sentido compartilhado e valor aos fatos

Na vida quotidiana as pessoas coordenam suas accedilotildees em torno da definiccedilatildeo de accedilotildees

consideradas normais e que surgem como accedilotildees comunicativas A accedilatildeo comunicativa somente

ocorre quando as pessoas procuram chegar a um acordo voluntaacuterio de modo a poder cooperar

para uma determinada accedilatildeo ou tarefa Ao falar as pessoas interagem a intersubjetividade se

manifesta atraveacutes da expressatildeo de suas intenccedilotildees como por exemplo compartilhar

informaccedilotildees sobre o que estatildeo fazendo ou pretendem fazer

No trabalho de profissionais da sauacutede este compartilhar informaccedilotildees pressupotildee a

necessidade de coordenaccedilatildeo estrateacutegica de suas accedilotildees redundando em um trabalho mais

eficiente Habermas declara que o principal meio de cooperaccedilatildeo nas atividades diaacuterias eacute a

accedilatildeo comunicativa Esta forma de trabalhar compartilhando experiecircncias e cooperando

constroacutei a confianccedila muacutetua entre as pessoas o que para nosso tema constitui um trabalho

interdisciplinar ao ser aplicado ao trabalho dos diferentes profissionais dos CAPS

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 33: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

32

Buber (1985) filoacutesofo austriacuteaco em suas publicaccedilotildees filosoacuteficas deu ecircnfase a sua

ideia de que natildeo haacute existecircncia sem comunicaccedilatildeo e diaacutelogo e que os objetos natildeo existem sem

que haja uma interaccedilatildeo com eles

O homem nasce com a capacidade de interrelacionamento com seu semelhante ou

seja a intersubjetividade Intersubjetividade eacute a relaccedilatildeo entre sujeito e sujeito eou sujeito e

objeto O relacionamento segundo Buber acontece entre o Eu e o Tu e a interrrelaccedilatildeo

envolve o diaacutelogo o encontro e a responsabilidade

Um grupo natildeo se define pela simples proximidade ou soma dos seus membros

segundo nos informa Lewin (1978) mas como um conjunto de pessoas interdependentes Eacute

neste sentido que o grupo constitui um organismo e natildeo um agregado ou uma coleccedilatildeo de

indiviacuteduos sem qualquer viacutenculo entre si

Avanccedilando na visatildeo de uma possiacutevel evoluccedilatildeo estrutural e funcional da reuniatildeo de

pessoas partindo de um agregado de pessoas (reuniatildeo ao acaso de pessoas) como o grupo

(pex uma fila no caixa do banco com objetivo comum de pagar algo) todos eles se reuacutenem de

forma totalmente aleatoacuteria e dificilmente voltaratildeo a se encontrar

De forma diferente uma equipe eacute uma reuniatildeo de pessoas que dividem um mesmo

espaccedilo interagem durante um tempo prolongado tecircm um mesmo objetivo de trabalho

recebem instruccedilotildees cada um dos integrantes contribui com seus saberes e competecircncias

especiacuteficas e satildeo coordenados Estamos fazendo referecircncia a uma equipe multiprofissional

como por exemplo a que eacute constituiacuteda pelos profissionais que atuam em serviccedilos de sauacutede

Avanccedilando na evoluccedilatildeo dos grupos de trabalho encontramos a equipe

multiprofissional que atua de forma interdisciplinar A diferenccedila estaacute na interdisciplinaridade

Para Piaget (1973) o interdisciplinar depende do estabelecimento de problemas

gerais e mecanismos comuns As trocas implicam em relaccedilotildees que consideram as estruturas

funccedilotildees e sinais bem como implicam em comportamentos relacionados agrave abstraccedilatildeo reflexiva

que explicitam e explicam as interaccedilotildees entre o sujeito e o objeto

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 34: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

33

5 DISCUSSAtildeO

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

A partir da reflexatildeo anteriormente apresentada eacute possiacutevel concluir que abordar a

dependecircncia quiacutemica significa discutir sua complexidade as formas como ela se apresenta

nos usuaacuterios e as estrateacutegias de abordagem focadas no trabalho de equipes profissionais

multidisciplinares atuando de forma interdisciplinar

A revisatildeo da literatura nos mostra uma realidade complexa que exige para sua

compreensatildeo a adoccedilatildeo de um pensamento complexo que nos leve a praacuteticas adequadas

Assim a dependecircncia quiacutemica como fenocircmeno biopsicossocial que afeta os indiviacuteduos

tambeacutem se nos apresenta como um evento complexo onde o bioloacutegico interage com o

psicoloacutegico e o ambiente

O exame de experiecircncias de sucesso no acircmbito da sauacutede reforccedila as evidecircncias de que a

abordagem interdisciplinar eacute uma via possiacutevel para entender e trabalhar com equipes

multidisciplinares de profissionais dentro da loacutegica interdisciplinar

O acolhimento de pessoas em situaccedilatildeo de dependecircncia quiacutemica por uso abusivo de

substacircncias psicoativas nos coloca ante esta realidade complexa onde o paciente sua histoacuteria

sua famiacutelia sua realidade psiacutequica e social e a formaccedilatildeo dos profissionais as estrateacutegias de

trabalho e os proacuteprios recursos oferecidos pelo sistema de sauacutede interagem Como abordar

uma situaccedilatildeo destas sem desenvolvimento teoacuterico e praacutetico adequado e sem uma dinacircmica

grupal das equipes multidisciplinares que permita o desenvolvimento de novos conhecimentos

e praacuteticas para melhor atender

Os resultados obtidos nas pesquisas bibliograacuteficas revelam os motivos pelos quais se

busca exercitar as atividades durante o trabalho em CAPS AD de forma interdisciplinar pois

as inuacutemeras experiecircncias de trabalhos de equipe multidisciplinar que funciona na

interdisciplinaridade obtiveram resultados satisfatoacuterios melhores e mais consistentes

Todos os pensadores deste tema interdisciplinaridade que foram citados neste trabalho

juntamente com os artigos pesquisados compotildeem um quadro de citaccedilotildees positivas com

relaccedilatildeo agrave ideia central da importacircncia de se trabalhar em equipe de forma interdisciplinar

Entatildeo os resultados confirmam o pensamento inicial da valorizaccedilatildeo desse formato de

funcionamento de equipes em CAPS

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 35: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

34

Especificamente citando aqui o CAPS AD III Samambaia podemos afirmar que esta

unidade busca desde sua implantaccedilatildeo desenvolver o trabalho de assistecircncia aos dependentes

de aacutelcool e outras drogas dentro das premissas definidas nas portarias do MS citadas em

anexo neste trabalho com a ideia central de estruturar o trabalho realizado por uma equipe

multidisciplinar na loacutegica da interdisciplinaridade

Toda a literatura apresentada neste trabalho traz a ideia comum da importacircncia da

praacutetica da interdisciplinaridade em todos os serviccedilos constituiacutedos por equipe multiprofissional

tanto na educaccedilatildeo como na sauacutede e outras aacutereas como nos revelam Piaget Vygotsky Morin

Dejours Minayo que cita Habermas Japiassu Buber Lewin e vaacuterios outros todos nos

mostrando com suas citaccedilotildees que o conhecimento humano eacute construiacutedo a partir das

interrelaccedilotildees entre as pessoas

De forma consensual todos os autores exprimem o valor de grupos heterogecircneos que

comungam conhecimentos em prol de objetivos comuns sem jamais desistir de manter o

trabalho em equipe no formato da interdisciplinaridade com o intuito de reduzir estresse e

principalmente pela possibilidade de se conseguir resultados melhores

Os vaacuterios serviccedilos que conquistaram bons resultados nesta aacuterea de CAPS auxiliam

com seus exemplos e modelos de funcionamento com base na interdisciplinaridade para o

sucesso dos serviccedilos prestados por equipes multidisciplinares agrave essa clientela especiacutefica que

necessita muito desse investimento na formaccedilatildeo dos profissionais

Citamos em nossa referecircncia artigos que descrevem serviccedilos em funcionamento em

vaacuterias cidades brasileiras que trabalham nessa perspectiva da interdisciplinaridade inclusive

aleacutem dos CAPS tambeacutem vaacuterios outros serviccedilos da Atenccedilatildeo Primaacuteria que desenvolvem

trabalho por equipe multiprofissional foram pesquisados e todos em consenso concluem bons

resultados desta forma de se trabalhar em equipe

Contextualizando diriacuteamos que a interrelaccedilatildeo e a interaccedilatildeo de todos os profissionais

que atuam em um CAPS AD III constitui a interdisciplinaridade necessaacuteria para abordar de

forma adequada e efetiva a dependecircncia quiacutemica dos pacientes essa condiccedilatildeo tatildeo complexa

descrita neste trabalho trazendo discursos de vaacuterios autores que expressam a credibilidade

neste formato de funcionamento do serviccedilo para a conquista de melhores resultados na

abordagem dos problemas apresentados pelos usuaacuterios deste serviccedilo aleacutem de promover o

proacuteprio desenvolvimento dos profissionais na praacutetica do trabalho coletivo coordenado

Com a reforma psiquiaacutetrica no Brasil a organizaccedilatildeo institucional e juriacutedica que

regulam a praacutetica dos trabalhadores vinculados agraves Poliacuteticas Puacuteblicas sobre aacutelcool e outras

drogas passaram a se embasar diretamente nos princiacutepios da desinstitucionalizaccedilatildeo

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 36: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

35

Nesse contexto o processo de transiccedilatildeo entre o modelo anterior e essa nova forma de

atuar pautada especialmente na atenccedilatildeo psicossocial e nos cuidados de sauacutede em detrimento

da priorizaccedilatildeo da abstinecircncia tem se dado de maneira polecircmica mas progressiva e contiacutenua

com o zelo de ser prudente para evitar abortamento do processo de construccedilatildeo

Aleacutem do campo de conflitos poliacuteticos a sauacutede mental tambeacutem se apresenta como

palco de debates cientiacuteficos ideoloacutegicos e econocircmicos (Sistema Uacutenico de Sauacutede 2010) Eacute

nesse sentido que em uma anaacutelise mais especiacutefica destacamos a poliacutetica dos Centros de

Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS) particularmente aqueles voltados para problemas relacionados

ao abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas portanto os CAPS ADs

Algumas criacuteticas aos CAPS produzidas durante a Reforma Psiquiaacutetrica se natildeo

fortalecidas para o seu enfrentamento e superaccedilatildeo poderatildeo expor os serviccedilos ao risco de sua

deslegitimizaccedilatildeo social

Pelo fato de serem os CAPS ADs os principais representantes do Ministeacuterio da Sauacutede

nessa nova forma de pensar e atuar sobre o tratamento para problemas relacionados a aacutelcool e

outras drogas acreditamos que elaborar nossas anaacutelises nesse espaccedilo de trabalho contribuiraacute

com as Poliacuteticas Puacuteblicas

O abuso do consumo de aacutelcool e outras drogas tem se apresentado como um grande

desafio para as disciplinas da sauacutede seja concernente agraves estrateacutegias de prevenccedilatildeo dos riscos e

doenccedilas associados seja acerca das metodologias de tratamentos ou ainda na formulaccedilatildeo

das propostas de promoccedilatildeo da sauacutede para a populaccedilatildeo em geral Em primeiro lugar porque

natildeo se trata de um fenocircmeno isolado e contemporacircneo como se tem abordado o tema a partir

dos meios de comunicaccedilatildeo tradicionais

Antes trata-se de um conjunto de comportamentos desenvolvidos histoacuterica e

culturalmente e que tem evoluiacutedo tecnologicamente no mesmo ritmo das sociedades humanas

E em segundo lugar porque a complexidade de suas implicaccedilotildees extrapola as

fronteiras do puacuteblico e do privado representando ao mesmo tempo um problema da ordem

da escolha e do desejo de cada pessoa e uma questatildeo de natureza coletiva por suas

manifestaccedilotildees sociais

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 37: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

36

6- CONCLUSAtildeO

A partir do objetivo elencado neste estudo realizou-se anaacutelise de artigos e textos de

autores que se dedicaram ao tema da interdisciplinaridade Na anaacutelise da literatura pesquisada

constatou-se que a interdisciplinaridade em CAPS AD III eacute possiacutevel e essencial para a atuaccedilatildeo

das equipes multidisciplinares que se organizaram de acordo com as diretrizes do Sauacutede

Mental alinhadas aos princiacutepios do SUS em busca de assistir os usuaacuterios de aacutelcool e outras

drogas

A atenccedilatildeo agrave preparaccedilatildeo das equipes no sentido de atuar de forma interdisciplinar

garante melhores resultados e reduz o estresse desses profissionais Essa eacute uma accedilatildeo gerencial

que necessita desenvolver treinamentos essenciais para o crescimento profissional dos

membros da equipe e o fortalecer os encontros semanais desses profissionais nas chamadas

reuniotildees de equipe onde a fala e a comunicaccedilatildeo dos profissionais de forma compartilhada

em torno do debate de questotildees acadecircmicas teacutecnicas e administrativas se pratica uma

interdisciplinaridade que ensina

Eacute durante estes encontros que se daacute a troca dialoacutegica e a reciprocidade construiacuteda

permanentemente propicia o crescimento muacutetuo dos profissionais E desta forma acontece a

interdisciplinaridade como nos apresentam todos os autores citados neste estudo e neles

embasei-me para firmar e afirmar mais esta ideia saacutebia de que trabalho em grupo eacute promissor

e vantajoso na obtenccedilatildeo de sucesso nas conquistas buscadas

Um grupo que comunga ideais e que trabalha dentro de uma perspectiva de

crescimento e qualidade do fazer embasado por sentimentos de respeito e amor pelo outro

com certeza se protege e dessa forma se fortalece em seus alicerces bancando uma estrutura

invejaacutevel aos olhos da comunidade

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 38: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

37

REFEREcircNCIAS BIBLIOGRAacuteFICAS

ABUHAB D SANTOS ABAP MESSENBERGCB FONSECA RMGS ARANHA

Eamp SILVA AL O trabalho em equipe multiprofissional no CAPS III um desafio Rev

Gauacutecha Enferm Porto Alegre (RS) 2005 dez26(3)369-80

ALVES VS Modelo de atenccedilatildeo agrave sauacutede de usuaacuterios de aacutelcool e outras drogas no

contexto do Centro de Atenccedilatildeo Psicossocial (CAPS ad) 2009 365f Tese (Doutorado) -

Instituto de Sauacutede Coletiva Universidade Federal da Bahia Salvador 2009

AMARANTE P Loucos pela vida a trajetoacuteria da reforma psiquiaacutetrica no Brasil Rio de

Janeiro Fiocruz 1995

BERGER Pamp LUCKMANN T A construccedilatildeo social da realidade Tratado de Sociologia

do Conhecimeto Petroacutepolis Vozes 1985

BRASIL MS Portaria nordm 3088 de 23 de dezembro de 2011

BRASILMS Portaria nordm 130 de 26 de janeiro de 2012

BRASILMS Sistema de vigilacircncia de violecircncias e acidentes

httpptslidesharenetMinSaudesistema-de-vigilncia-de-violncias-e-acidentes 2013

BUBER M EU e TU 2ordf ed Satildeo Paulo Editora Moraes 1974

COSTA RP Interdisciplinaridade e equipes de sauacutede concepccedilotildees Universidade

Presidente Antocircnio Carlos ndash Brasil

DEJOURS C Psicodinacircmica do trabalho contribuiccedilotildees da Escola Dejouriana agrave anaacutelise

da relaccedilatildeo prazer sofrimento e trabalho Satildeo Paulo Atlas 1994

DIEHL A CORDEIRO CC amp LARANJEIRA R Dependecircncia Quiacutemica Prevenccedilatildeo

Tratamento e Poliacuteticas Puacuteblicas Porto Alegre Artmed 2011

DSM-5 Manual diagnoacutestico e estatiacutestico de transtornos mentais Traduccedilatildeo Maria Inecircs

Correa Nascimentoet al Revisatildeo teacutecnica Aristides Valpato Cordioli ndash 5ed ndash Porto Alegre

Artmed 2014

FORTUNATO MAB Morbimortalidade por causas externas no Distrito Federal e

Entorno 2002 a 2007 Dissertaccedilatildeo de mestrado apresentada a Faculdade de Ciecircncias da

Sauacutede da Universidade de Brasiacutelia ndash UnB- Aacuterea de Concentraccedilatildeo Epidemiologia Sauacutede e

Educaccedilatildeo Orientador Hamann Edgar Merchan 2009

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 39: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

38

FREEDLAND ES MCMICHEN DB Alcohol-related seizures Part II Clinical

presentation and management J Emerg Med 1993 11605-18 in

httpprojetodiretrizesorgbrprojeto_diretrizes002pdf (acessado 23022015)

GALDUROacuteZ JCF NOTO AR FONSECA AM CARLINI CMA NAPPO SA

MOURA YGamp CARLINI EA Cataacutelogo de instituiccedilotildees que assistem crianccedilas e

adolescentes em situaccedilatildeo de rua nas 27 capitais brasileiras em 2004 CEBRID (2005)

GOMES R amp DESLANDES S F Interdisciplinaridade na Sauacutede Puacuteblica um campo

em construccedilatildeo Revista Latino-Americana Enfermagem Ribeiratildeo Preto v 2 n 2 p 103-

114 jan 1994

HESSELBROCK MN HESSELBROCK VM EPSTEIN EE Theories of Etiology of

alcohol and other drug use disorders from Addictions a comprehesive guidebook Mc

Crady BS Epstein EEOxford University Press New York 1999

INGRAM D Habermas e a dialeacutetica da razatildeo 2ordf ediccedilatildeo Brasiacutelia Ed Universidade de

Brasilia 1994

JONES S BONCI A Synaptic plasticiy and drug addiction Curr Opin Pharmacol2005

Feb5(1)20-5

JAPIASSU H Interdisciplinaridade e patologia do saber Rio de Janeiro Imago 1976

LEMOS GS Interdisciplinaridade e pensamento complexo dois caminhos da totalidade

perdida In II Seminaacuterio Nacional de Filosofia e Educaccedilatildeo 2006 Santa Maria RS Anais

2006

LEWIN K Problemas de dinacircmica de grupo Satildeo Paulo Cultrix 1978

MEIRELLES MCP KANTORSKI LP amp HYPOLITO AM Reflexotildees sobre a

interdisciplinaridade no processo de trabalho de Centros de Atenccedilatildeo Psicossocial Rev

enferm UFSM 1(2) 282-289 maio-ago 2011

MILLER WR amp ROLLNICK S Entrevista Motivacional Preparando as pessoas para a

mudanccedila de comportamentos adictivos Traduccedilatildeo Andrea Caleffi e Claudia Dornelles

Porto Alegre Atmed 2001

MINAYO MCS Interdisciplinaridade uma questatildeo que atravessa o saber o poder e o

mundo vivido Medicina Ribeiratildeo Preto v 24 n 2 p 70 - 77 abr jun 1991

MINAYO MCS Interdisciplinaridade Funcionalidade ou utopia Rev Sauacutede e

Sociedade 3(2) 42-64 1994

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988

Page 40: II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS … · 2015. 11. 5. · II CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL, ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS – II CESMAD

39

MORIN E O problema epistemoloacutegico da complexidade Portugal Publicaccedilotildees Europa-

Ameacuterica sd 1996

MORIN E Os sete saberes necessaacuterios agrave educaccedilatildeo do futuro Satildeo Paulo Cortez 2005

PIAGET J Para onde vai a educaccedilatildeo Rio de Janeiro Joseacute Olympio 1973

QUEVEDO J SCHMTT RKAPCZINSKI Emergecircncias psiquiaacutetricas 2 ed Porto Alegre

Artmed 2008

RESOLUCcedilAtildeO GSIPRCHCONAD nordm3 de 27 de outubro de 2005 Disponiacutevel em

lthttpobidsenadgovbrOBIDPortalconteudojspIdPJ=4402ampIdEC=6975gt [Acesso em

fevereiro 2015]

SAUacuteDE Governo do Paranaacute (acesso em 300315)

httpwwwsaudeprgovbrarquivosFilezoonoses_intoxicacoesConceitos_Basicos_de_Toxicologiapdf

VILELA EM amp MENDES IJM Interdisciplinaridade e sauacutede estudo bibliograacutefico

Rev Latino-am Enfermagem 2003 julho-agosto 11(4)525-31

VYGOTSKY LS Pensamento e linguagem 2ordfed Satildeo Paulo Martins Fontes 1988