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Os Maias e Frei Luís de Sousa Paula Cruz Esboço de estudo paralelo de OS MAIAS e FREI LUÍS DE SOUSA  (Duas formas de recuperação da tragédia clássica) Frei Luís de Sousa Os Maias Uma partida e separação: D. João de Portugal parte para a batalha de Alcácer Quibir, deixando em Portugal sua mulher, D. Madalena. Uma partida e separação: Maria Monforte parte com o napolitano, deixando em Portugal Pedro, seu marido, e Carlos, seu filho. D. João de Portugal é dado como morto; D. Madalena tenta, por todos os meios ao seu alcance, certificar-se da morte do marido. A hipótese da morte acaba por ser aceite como certeza. Maria Monforte e sua filha são consideradas mortas; Afonso da maia tenta, por todos os processos, adquirir a certeza da morte da neta. A hipótese da morte acaba por ser aceite como certeza. D. Madalena reorganiza a sua vida, baseando-se na morte de D. João. Afonso dedica-se inteiramente a Carlos, considerada a neta para sempre perdida. D. João de Portugal, erradamente considerado morto, vai-se aproximando de portugal. Maria Eduarda, erradamente tida por morta, aproxima-se de Portugal. D. João de Portugal, uma vez re gressado, dirige- se à sua antiga casa. Encontra-se com D. Madalena que não o reconhece e pára diante do retrato. Perante a interrogação inquieta de Frei Jorge, responde: «Ninguém». Maria Eduarda, uma vez de regresso a Lisboa, encontra Carlos que, naturalmente, a não reconhece. Acabando ela por se dirigir ao Ramalhete, pára diante do retrato do Pai. Carlos esclarece: «- É meu Pai». Uma vez consumada a tragédia, D. Madalena revolta-se, tenta negar a evidência dos factos, lutando desesperadamente pela conservação de um amor para ela mais forte que todas as dúvidas. Quando conhece o parentesco que o une a Maria Eduarda, Carlos revolta-se e tenta, também ele, com desespero, lutar pela sobrevivência de um amor que  julga superior a todos os imperativos que lhe são exteriores. D. João de Portugal permanece impassível e silencioso perante a tragédia. Sensibilizado apenas por uma falsa interpretação dos sentimentos de D. Madalena, quando pretende (?) alterar o curso dos acontecimentos que desencadeara, vê-se impossibilitado de o fazer. Maria Eduarda aceita, discreta e silenciosa, a tragédia que destrói as suas relações amorosas com Carlos. Apenas de ressente do mutismo e ausência deste último. Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena separam-se. Permanecem vivos para se enterrarem no convento. Carlos e Maria Eduarda separam-se. Tentam reintegrar-se, aparentemente incólumes, numa vida solitária: Carlos - instalado em Paris, Maria Eduarda - casada em Orléans Maria, a verdadeira vítima trágica e testemunha acusadora do «erro» dos pais, morre. Afonso, oponente racional à paixão «incestuosa» de Carlos e Maria Eduarda, morre. Gandra, Maria António / Oliveira, Luís Amaro de, Caderno Para Uma Direcção de Leitura de OS MAIAS, Porto Editora, Ldª, Porto, 1987 

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Os Maias e Frei Luís de Sousa

Paula Cruz 

Esboço de estudo paralelo de OS MAIAS e FREI LUÍS DE SOUSA (Duas formas de recuperação da tragédia clássica) 

Frei Luís de Sousa  Os Maias 

Uma partida e separação: D. João de Portugalparte para a batalha de Alcácer Quibir, deixandoem Portugal sua mulher, D. Madalena.

Uma partida e separação: Maria Monforte parte como napolitano, deixando em Portugal Pedro, seumarido, e Carlos, seu filho.

D. João de Portugal é dado como morto; D.Madalena tenta, por todos os meios ao seualcance, certificar-se da morte do marido.A hipótese da morte acaba por ser aceite comocerteza.

Maria Monforte e sua filha são consideradas mortas;Afonso da maia tenta, por todos os processos,adquirir a certeza da morte da neta. A hipótese damorte acaba por ser aceite como certeza.

D. Madalena reorganiza a sua vida, baseando-sena morte de D. João.

Afonso dedica-se inteiramente a Carlos, consideradaa neta para sempre perdida.

D. João de Portugal, erradamente consideradomorto, vai-se aproximando de portugal.

Maria Eduarda, erradamente tida por morta,aproxima-se de Portugal.

D. João de Portugal, uma vez regressado, dirige-se à sua antiga casa. Encontra-se com D.Madalena que não o reconhece e pára diante doretrato. Perante a interrogação inquieta de FreiJorge, responde: «Ninguém».

Maria Eduarda, uma vez de regresso a Lisboa,encontra Carlos que, naturalmente, a não reconhece.Acabando ela por se dirigir ao Ramalhete, páradiante do retrato do Pai. Carlos esclarece: «- É meuPai».

Uma vez consumada a tragédia, D. Madalenarevolta-se, tenta negar a evidência dos factos,lutando desesperadamente pela conservação deum amor para ela mais forte que todas asdúvidas.

Quando conhece o parentesco que o une a MariaEduarda, Carlos revolta-se e tenta, também ele, comdesespero, lutar pela sobrevivência de um amor que

 julga superior a todos os imperativos que lhe sãoexteriores.

D. João de Portugal permanece impassível esilencioso perante a tragédia. Sensibilizadoapenas por uma falsa interpretação dossentimentos de D. Madalena, quando pretende

(?) alterar o curso dos acontecimentos quedesencadeara, vê-se impossibilitado de o fazer.

Maria Eduarda aceita, discreta e silenciosa, a tragédiaque destrói as suas relações amorosas com Carlos.Apenas de ressente do mutismo e ausência deste

último.

Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalenaseparam-se. Permanecem vivos para seenterrarem no convento.

Carlos e Maria Eduarda separam-se. Tentamreintegrar-se, aparentemente incólumes, numa vidasolitária: Carlos - instalado em Paris, Maria Eduarda- casada em Orléans

Maria, a verdadeira vítima trágica e testemunhaacusadora do «erro» dos pais, morre.

Afonso, oponente racional à paixão «incestuosa» deCarlos e Maria Eduarda, morre.

Gandra, Maria António / Oliveira, Luís Amaro de, Caderno Para Uma Direcção de Leitura de OS MAIAS, Porto Editora,Ldª, Porto, 1987