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    3/4

    1)Y1it1Act)()111011117/1'

    1.I)

  • SEARA NOVA

    1976

    Antonio Gramsci

    escritospoliticos

    TrothsOa deManuel Slindes

    Capa de

    Acacia Santos

    Maqueta de

    Lucilia Louro

    Empresa de Publicidade Seara Nova, S. A. FL L.Ftua Bernardo Lima, 23-1.° Esq. — Lisboa

  • volumes publicados colecgclo universidade livre

    1—EstiHence da Lingua Portuguesepor Rodrigues Laps

    2 —Marx/Engelspor Jean Bruhat

    3— 0 Modo de Produgclo AsidticoC. E. R. M.

    4 — Camparseses, Sans-Culottes e JacoMnoepor Albert Soboul

    5 — Condig6es Actuais do Humanismopor Hector Agosti

    6 — Escritos Politicos —1por Antonio Gramsel

    C

    C

    1r

  • NOTA PREVIA

    Na traduccio que agora se apresenta, tivemos o cui-dada de respeitar, tanto quanto possivel, a prosa nadafdcil de Gramsci (6 conhecida a ova tese de obrigar0 leitor a um esforgo de leitura), os seus periodosdilacerados pekt necessidade de exposigdo do rigor ideo-legico, o seu aestilo), o que equivale a dizer que pro-curcimos respeitar o homem e o pensador.

    Se se ccmsiclerar, alem disso, que estes textos car-respowlem a juventude do autor (o primeiro dos quais,com efeito, escrito aos 19 anos) e se se tiver presenteque correspondem a um momenta de pesquisa nao soideolOgica como linguistica, teremos urn quadro de con-dicionalismos que a prosa de Gramsci nao deixarci dereflectir, tornando-se mais «fluidax, a medida que o seuautor avangct para a maturidade. (N. do T.)

    INDICE

    INTRODUCAOADVERTENCIACRONOLOGIA BIOGRAFICA .

    1910-1914

    Oprimidos e opressores

    94547

    elNeutralldade activa e operante . 85

    1918

    0 Sflabo e Hegel 73A comemoracão de Miss Cavell . 77GvA l Socialism° e cultura . 814— Vozes de além-ttmulo . 87Velhariaa 89Luta de classe e guerra 91A histOria 93Os jornals e os operirios 95Harness ou inttquInas? 99

    Universidade Popular ... 103Preocupagees 107

    1917

    ProfanagOes 111Tres principlos, tres orders 113

    nori-Indlferentes 121DiscIpllna e Ilberdade 125Margens 127Carecter 133

    bcpl-Notas sobre a revolugtio russa 1370 homem mats line 141Os maximallstas russoa 143

    7

  • 1919

    O relojoeiro ••. ••• • •

    Analoglas e metiforas .Demagogia • • ••Gatafunhos .• •A revolugao contra ix0 Capital>Lelturas •Instransigencia-tolerancia. Intolerancia-transigéncia

    ay\f— Para urns associagao de cultura .

    A critics criticsA Lin das NagOesDiamantlnoConstituinte e SovieteA organizagao econ6mica e o socialism° .. ••Wilson e os maximalistas russosIndividualismo e colectivismo .

    N4 ano de historicA tua heranga .O nosso Marx .Abstraccito e intransiganciaA intransigencia de classe e a Wistaria italiana

    'vim— Culture. e luta de classesto Os dies

    Floresce a ilusaoA politica do (se>Uma tverciade> deturpadaUtopiaA obra de Lenine .Depots do Congresso .

    -0 Pacto de &fangs .B a fri -O dever de sermon fortesOs catalicos Italianos .

    .n r— 0 jornal-mercadoria .

    O pais de Polichinelo401.0 Um Soviete local .12.0M Estado e soberania .

    Leninismo e marxismo de Rodolfo Mondolfo .IS as1A internacional comunista .

    Etnaudi ou a prop6sito da utopia liberal .0 O tA A medida da histeria

    Walt Whitman\ADemocracia operiria '111

    #44 0 Estado e o socialism° ..0 trabalho de propaganda .

    Conquhrta do Estado

    147151153157159161167171175

    183187191193195199203207211217223229241245247251257261271279283287291297

    301305309315&ZS. )323327333337343351353

    INTRODUCAO

    Pretendemos corn esta antologia — que voltamos aapresentar depois de uma afortunada primeira ediflo —oferecer um panorama vastissimo dos Escritos Poli-ticos, procurando na,o omitir nenhum dos que fornegamelementos essenciais do pensamento teerico e da expe-riencia real de Antonio Gramsci. 0 leitor podera, ver,desde os primeiros artigos do Grido del Popolo de 1914--1918 ate as Ultima ligag6es politicos havidas entre 1925e 1926 com os Orgaos dirigentes do P. C. I., de que setornara secreterio-geral, o desenrolar da actividade eda elaboragio deste grande marxista italiano, ao longode urn decenio (urn decênio crucial da histeria dadesde a Primeira Guerra Mundial ate a instauragdo plenado regime fascista).

    Procurou-se mostrar, seguindo urna ordem estrita-mente cronolegica, uma das pecullaridades essenciais dapersonalidade de Gramsci politico: a fusão ou, pelomenos, a relagâo estreita entre a produgio teerico--politica e uma actividade jornalistica de organizador,de prapagandista, de suscitador de cultura proletkria.2 isto que ressalta da evolugio, no periodo de 1916--1918, das notas de costumes de :Sotto la Mole), noAvanti! piemontes, e dos escritos comprometidos doGrido del Popolo a propesito de quest5es do momento,da revolugEo russa, das vicissitudes da luta da classeoperiria de Turim, do debate em curso nas fileiras doPartido Socialists. Ainda mais eficazmente, uma Ha°

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  • do trienio 1924-1926. Deles publicamos os textos maisimportantes e significativos, que nao sao apenas inter-vengOes jornalisticas mas, quase sempre, documentos deorientagao e de direcgao que exprimem o trabalho deGramsci como dirigente do Partido (relatOrios, propos-tas aos outros grupos politicos antifascistas, plata-forma programfitica).

    Eles podem dar uma imagem eficaz quer do pensa-mento politico quer das orientagees da acgao de Gramscinum periodo crucial. 0 leitor que pretends, porem,documentar-se mais amplamente sobre o trabalho quo-tidiano de direcgao, sobre a presenga escrupulosa deGramsci na arena nacional e no intenso debate internodo P. C. I., deve consultar o volume das Obras, La Cos-truzione del Partido Comunista (Twins, 1971), que apre-senta um panorama completo. Dizemos desde JO., entre-tanto, que a pr6pria publicagao daquele volume deveriacontribuir — ou melhor, deveria ter contribuido, o quede facto nao sucedeu — para afastar a falsa imagem deum Gramsci puro elaborador, mais teOrico do que diri-gente efectivo de partido. De 1924 a 1926 Gramsci em-penhou-se em primeira pessoa na batalha parlamentar ede massa, na organizagao das celulas comunistas noslocais de trabalho, numa polemics — tambem feroz —contra a «bordiguismo», na qual langa 0 peso de todaa concepgao bolchevista do «centralism° democritico»,acompanhando os esclarecimentos de linha corn umaacgao constante destinada a chamar a si a grande maio-ria dos quadros e dos militantes. Uma luta politica,ideal, uma visao das fungees do partido e a individuali-zagao das forgas motoras da revolugao italiana quedesaguam nas Teses de Lyon, o documento que Gramsci,corn a colaboragio principal de Togliatti mas tambem detodo 0 nficleo dirigente, apresenta ao III Congresso doPartido, em 1926, e cujo texto achamos fitil publicar emApendice. Porque o leitor tem agora I disposigao umaedigao econOmica de Quaderni del carcere, pareceu-nos,pelo contrario, superfluo fornecer — como se tinha feitopara a primeira edigfio da presente antologia de Escri-tos Politicos — algumas notas dos Quaderni, ainda quea referencia ao seu conteAdo seja conservada neste dis-curso introdutivo. Assim sumariamente delineada a com-

    1 1

    de metodo e urn desenvolvimento do pensamento que sealimenta da experiencia do movimento medem-se nos es-critos aqui amplamente documentados do «bienio verme-lhol. de 1919-1920: artigos comentando a situagio ita-liana e internacional, crOnicas da vida e dos problemasdo Ordine Nuovo e procura de novos instrumentos, denovas instituigees da classe operaria, comparaveis asdos «sovietesx russos, nos editoriais dedicados ao terrados conselhos de fabrica. Assim, urn dos momentos maisaltos e mais originals da teoria politica de Gramsci re-flecte-se em toda a sua amplitude. Uma criagao, umacritica, uma polemica, que tem o seu panto maxima nabatalha para a fundagao de urn partido comunista emItalia.

    0 volume recolhe, depois, os escritos de 1921-1922,redigidos na situagao incandescente da guerra civil, ondeos temas dominantes sao os dos modos, das forgas e dasperspectivas de luta contra o fascismo e o das escolhasfundamentals do movimento operirio (noutros termos,os das relagees corn o Partido Socialista, a sua tradigao,os seus sinais ideolOgicos). 2 aqui que encontra umaverificagao o processo de distingio do reformismo e domaximalismo que se tinha iniciado em 1919. Os escritosde 1921-1922 devem ser considerados e lidos noutraperspectiva, tendo presente tudo o que caracteriza a posi-gem pessoal de Gramsci, ainda nao chefe do Partido, emrelagao a posigao oficial do Executivo, dirigido porAmadeo Bordiga, a propOsito das previsees, da tactica,da prOpria concepgao da natureza do Partido e das suasfungees.

    Com a segunda metade de 1922, abre-se para Gramscio periodo da permanencia em Moscovo e depois em Vienaate Maio de 1924. E urn periodo de grande importanciana sua experiencia politica que the permite reflectirsabre o «primeiro tempo2. atravessado pelo P. C. I., obser-var problemas e perspectivas corn um horizonte maisvasto. E o tempo da correspondencia corn Togliatti,Terracini, Scoccimarro, Leonetti, etc., que Togliatti pu-blicou depois no volume La Formazione del GruppoDirigente del PC! (Editori Riuniti, Roma, 1962). Osfrutos desta maturagao colhem-se em 1924, corn o re-gresso de Gramsci a Italia, e reflectem-se nos escritos

    1 0

  • posigao da antologia, a oportuno entrarmos nos temasque mais alimentam o debate e a orifice sobre Gramsci.

    A maior parte das contribuigOes para a discussao dopensamento politico de Gramsci vain do momento dapublicagao dos seus escritos no Ordine Nuovo, 1919--1920. Eles foram depois diversamente solicitados einfluenciados pelo prOprio debate politico, sobretudodepois de 1956.

    Movemo-nos no confronto entre a teoria politica dosconselhos, ou melhor, do Estado, que Gramsci is elabo-rando e construindo no vivo da luta do (biénio verme-lho), e o corpo da teoria leninista sobre o Estado erevolugao, sobre o partido, sobre a estrategia do poderoperario, expressa nos escritos e na praxis. Nao seviu ainda resolvida uma s6rie de implicagOes filo1O-gicas (seria de controlar minuciosamente quanto e comoGramsci possuia e conhecia da obra de Lenine, de 1917a 1921, e quanto aprofundava e completava tal estudo noseu periodo moscovita, de 1922-1923), cuja importanciaatraiu a atengio, em primeiro lugar, de Palmiro To-gliatti ('). A questao aberta nao impede, porta, que sevejam delinear os momentos de concordancia, de influén-cia e de diferenciagao. No primeiro periodo, o de1919-1920 (que a tamb6m, em sentido lato, o periododos tconselhos» de toda a frente operaria e revolucio-naria da Europa, da Russia a Inglaterra), Gramsci re-tem de leninismo, em primeiro lugar, a indicagao — exal-tando-a enormemente — de que nao se tratara apenasde substituir, corn a tomada do poder, a maquina doEstado burgues por uma máquina nova, mas que asengrenagens desta nova máquina devem estar ja cons-truidas antes da tomada do poder. Por outras palavras,o momenta construtivo da acgao revolucionaria, que naoe parte secundaria da teoria leninista do poder, a assi-

    (9 Palmiro TIDO. tti, zil lentaismo nel pensiero e nellazionedi Gramsci (Appunti)s, relatOrio apresentado ao Constant° de Romade 1149 de Janeiro de 1858, in Stud{ gramaciani, Roma, 1958,pp. 19-21.

    milado por Gramsci perfeitamente, e s6 por ele, no mo-vimento operitrio italiano e provavelmente europeu (2).

    Existe uma relagao estreita entre esta conquistaconceitual e a experimentagao prittica do movimento dosconselhos de Tarim e a rapida apropriagiio, por parte deGramsci, da inspiragao leninista sobre um outro pontoessencial. Estamos ja., em 1917-1920, perante a assimi-lagao organics e criativa do problema das aliangas declasse? Apenas em termos muito gerais, esquematica-mente forgado, ainda que, retomando a discussao doterra em 1926, quando escreve o famoso ensaio sobre aquesta() meridional, o prOprio Gramsci reproponha ereivindique as formulagOes essenciais do Ordine Nuevoa propOsito da alianga entre operkrios e camponeses.de facto verdade que em 1919-1920 se comega a colhero trago caracteristico da sucessiva indicagao estrategicae tactica, mas math Como arco de interesses, como cola-cacao de metodo, como atitude mental, como modo deentender os termos da regra do jogo do que coma ex-pressao e instrumentagao politica. Desde aquele mo-menta, Gramsci tem a tendencia — que se tornara mathevidente a seguir — de conduzir constantemente as suasdimensOes sociais, de procurar aclarar as dimengessocials os termos de uma batalha de vertices, a direcgaodeste ou daquele partido, os alinhamentos e as contra-posigOes parlamentares (que segue frequentemente cornum certo enfado).

    Atender ao essencial, ao fundo das antiteses em jogo,considerar as porporgOes de massa dos fenOmenos edeter-se essencialmente neles: eis o trago distintivo doprimeiro Gramsci politico e que o tornara n5.0 so recep-tivo mas criativo no esforgo posterior de traduzir emtermos gerais a prOpria essencia da estratêgia (e domarxismo) de Lenine: a alianga entre operfirios e cam-poneses pobres como premissa e como base para a ins-tauragao do novo poder; a frente (mica coma expressaoorganica das tarps motoras da revolugio.

    Mas avangando nesta perlustragao, depressa no da-mos conta como nao pode conduzir muito longe uma

    et Cf. Lenine, As Fungdes do Proletanado na Nona Revo-lis�o (1917).

    12 13

  • exegese que se fundamente apenas numa relagao te6ricatenda a discernir apenas quanto existe de Lenine em

    Gramsci, quanto de original, quanto tornado por empres-timo de outros pensadores. Gramsci procura, opera,move-se, num periodo de extrema crise, social e politica,

    — o que a mais relevante — aprofundare a pr6priaelaboragao num periodo durante o qual o movimentooperário atravessath uma fase de recuo, constante em-bora corn sobressaltos vigorosos, ate a derrota e a desa-gregagao sob os golpes da ditadura triunfante. Assim,do mesmo modo que, quando se analisa a teoria dos Con-selhos de 1919, nao se deve nunca ignorar quanto o ele-mento inege.vel de mito ideokigico tenha tido de maieu-tic°, de suscitador de energias e de novas formas deorganizagao, quanto tenha servido, para alem de certasabstracgOes paradigmaticas, de treino revoluciondriopara os operarios protagonistas de urn movimento real,tambem quando se examina o Gramsci de 1921-1922 ou

    Gramsci secrethrio-geral do P. C. I. de 1924-1926, naose pode deixar de ter constantemente em primeiro pianoesta dramatica contradigao — que é afinal a do partidonascido em Livorno. A contradigao nasce do facto deum pensamento politico se cimentar, se desenvolver eevolucionar no ea de perseguir uma situagao sempremais dificil, perante uma diminuigao progressiva do pesopolitico da classe opethria, do proletariado urbano.

    Quando, por exemplo, constatamos — e é constatagaomotivada — que se o acento de Gramsci bate tao insis-tentemente, em 1924-1926, no papel dos camponeses naestrategia e tictica revolucionarias é tambem porque— por sua explicita admissao ( 3) — diminuiu de factoa capacidade de direcgao e de clitadura expansiva) dasociedade, exercida pelo operfirio de fabrica do Norte,nao queremos corn isso invalidar o valor geral de umaindicagao de perspectiva mas, pelo contthrio,

    apercebemo-nos do motivo contingente e tortu-rante que delimita melhor as formulagOes do ensaiosobre a cquestao meridional,.

    (*) a. c0 cdtezzogiorno> e o fascismos, vol. III da presenteedict°.

    Relevar os pontos principais do leninismo de Gramscinao conduz por isso a um obscurecer das diferenciagOesideolOgicas nem dos limites de uma inspiragao teerico--politica. Uma distingao que é fundamental, porque naofoi sujeita a uma profunda correcgao nem sequer depoisdo periodo do Online Nuovo, é a que se estabelece entreLenine e Gramsci a propOsito do ponto das prioridadese da articulagao necessárias na tâctica revoluciondria.Parece-nos possivel afirmar que enquanto em Lenine énitidissima e prevalente a consciencia do catheter deci-sivo que assumem, num certo momento da crise revolu-cionária, o elemento de direcgao, do alto, a fungao doPartido como maxim() organizador e propulsor das mas-sas, em Gramsci, o aspecto de agressão de baixo aoEstado inimigo, do processo molecular pelo qual sechega a criar urn dualism° de poder, a procura de novasinstituicOes e articulagees das massas, partindo do lugardo trabalho, nao sao menos prevalentes e constantes,pelo menos coma ponto de partida, coma processo nao s6conceitual mas de acgao. Quanto muito, como veremos, adiferenciagdo sera aceite historicamente por Gramscinao como urn ponto de afastamento do leninismo mascoma uma sua aplicagdo a sociedades politicas e civis,como as ocidentais, que requerem uma mais complexaarticulagao da estrategia revoluciondria.

    verdade que Gramsci formula em 1920, corn pre-,cisao, e concordancia de inspiragao, um conceito de par-tido e da sua importancia, que e o da Internacional comu-nista ; a verdade tambem que o prOprio Gramsci consi-dera como componente essential da praxis revolucioni-ria o moment° destrutivo, e que nao the escapa o valorda ruptura revolucionAria, das necessidades coercitivasda ditadura do proletariado. Mas é depois na direcgaopolitica que a diferenciagdo resulta evidente. QuandoGramsci, em 1924, reconhece ter errado, ter cometido.erros gravissimosi) em 1919-1920 como lider do grupode Purim do Ordine Nuovo, ter transcurado um trabalhode fracgao, a nivel national, de presenga e intervengaotempestivas no interior do P. S. I., ter olhado quase exclu-sivamente para a construgao de urn movimento de massasubestimando o Partido e as suss mudangas, nao nosajuda ele, primeiro que ning-uern, a discernir esta dife-

    19 15

  • renciagio? 0 problema mais interessante reside precisa-mente neste ponto. No Gramsci dirigente do P. C. I., noGramsci passando pela experiencia de trabalho no centroda Internacional Comunista, quer em Moscovo quer emViena, que evolugao sof reu a primeira atitude, a inspi-raga° originaria, tao molhada de motivos libertarios, ozeloso cuidado de valorizar o elemento espontineeComo se enriquece depois a problematica do OnlineNuovo? Eis o que se pode comegar a afrontar, tomandocomo ponto de referencia o prOprio principio constitu-tivo dos conselhos de fibrica.

    Ha uma observagao de Togliatti, relator sobre a«questa° sindical» no Congresso de Lyon (Janeiro de1926) particularmente iluminante. Togliatti afirma na-quele relatOrio que o reformismo sindical tinha histo-ricamente procurado conduzir, em Italia, esta funglo:impor ao Partido a prOpria direcgao das massas e in-troduzir reformas democriticas no aparelho e no modode funcionamento do Estado burgues; «assim o prole-tariado revolucionasio teria sido posto no seguimentoda burguesia radical» ( 4 ). 0 projecto tinha falido no pOs--guerra e Togliatti registava-o essencialmente como me-rito dos conselhos de fabrics que representaram parsele a reacgao mais vigorosa da vanguarda operariaaquela tentativa, o maxim° esforgo exercido por ela paraconquistar a sua hegemonia, para se tornar protagonistsda histOria. Deste modo, Togliatti partia do ponto deruptura representado no socialismo italiano pelo movi-mento dos conselhos. E pode acrescentar-se que a nip-tura nunca foi tao explicita, consciente, plena de ali-ment° ideal, como o foi no grupo do Online Nuovo. Esteapresenta-se, de facto, como o imico grupo que parteefectivamente do repUdio total pela tradigao socialistsprecedente, de uma censura completa corn o terreno his-thrico da II Internacional. Tornar as fontes do marxismosignificava para ele cumprir esta operagao preliminar

    •) 0 texto do projecto das teses sindthais, escrtto por P.Togliatti, existe no Arquivo Central do Estado, Mastro della Di-volutions fascista, Cartage() Serrati, b. 139, f. 9.

    16

    de limpeza dos escombros da II Internacional, do traba-lhismo, colmar a separagao entre momento econOmico emomenta politico.

    A polemica de Gramsci contra o sindicato traditionale contra o partido socialista nao a apenas, portanto, detipo doutrinal, 6 tambem histOrica ; 6 um aspecto da suaconvicgao de que o proletariado urbano nunca pOde ex-primir em Italia lima sua representagao directa, nuncapride pesar, como teria sido necessario e urgente, querno interior do movimento organizado dos trabalhadoresquer na sociedade e no Estado. E uma polemica, por-tanto, politica e histOrica contra instrumentos tradicio-nais que, dado o modo como nasceram, se inseriram e sedesenvolveram na Italia pOs-unitaria, the parecem ins-trumentos tipicos de urns fase subalterna do movimentode classe. E subalterna tambem porquanto a influenciade outras classes, de outras ideologias, a tutela da pr6-pria classe dirigente, permanecem comprimidas e para-lisantes.

    Eis urn ponto sobre o qual a continuidade de critics ede andlise alternativa do Gramsci de 1919-1920 e doGramsci de 1924-1926 6 linear, embora em circunstânciasdiversas A polemica incorpora no seu alvo o examedo reformismo oportunista, como resultante politica, ea critica da inadequagao de organismos representativoscomo espelho social dos estratos mais atrasados domundo do trabalho. Noutros termos, Gramsci combatea via reformista (a maximalista, para ele, e apenas umavariante do oportunismo de direita) da CLG e da FIOM,nao so e nao tanto como expressao de debilidade diri-gente, acomodaticia, que ele tambem ataca asperamente(D'Aragona, Baldesi e Guarnieri do lado sindical, Tu-rati, Treves e os centristas* no Partido), mas comofruto da formagao histOrica national daquele sindicatoe daquele partido que detem o mau egoverno» da classeoperaria e das massas agricolas proletárias e semipro-letfirias.

    A falencia do cbienio vermelho» — dos movimentosde 1919 contra o aumento do custo de vida, deixadosapagar pela direcgao, numa expectativa parasitfiria, atea ocupagao das fabricas, onde o tema do controle ope-rail° da produgao foi restrito e contraposto em forma de

    17

  • controle corporativo e colaboracionista implantado porGiolitti (e ate esse considerado letra morta) — e, paraGramsci, a ocasido de confirmar o seu juizo critico, adesconfianga profunda, institucional. E a construed° denovos instrumentos autenomos das massas é ainda, de1921 a 1926, o motivo principal, o verdadeiro fio ver-melho do pensamento e da acgao politica de Gramsci,que se desdobra em duas direcgOes, directa expressao daelaboragao do Ordine Nuovo mas tambem o sinal do seudesenvolvimento: a de construir urn partido novo, novona sua natureza para alêm da sua colocagao estrategicae tactica, e a de uma organizagdo que parta dos lugaresde producao e se expanda no pais, uma organizag5,o di-versa do sindicato traditional, sovietista na sua estru-turagdo.

    Quanto ao Partido, Gramsci sublinha no primeiroperiodo, a volta da cisao de Livorno, todos os elementosque deveriam concorrer para fazer do P. C. I. uma coisacompletamente diferente do P. S. I. (e isto verifica-se— corno ja se apontou corn esta programagao, nalinha da batalha de Lenine e da Internacional que sereassume nos famosos 21 pontos do II Congresso doComintern) : uma secgao de vanguarda da classe opera-ria, coesa, disciplinada, centralizada, que tern as suasraizes e extrai os seus quadros das fabricas e dos cam-pos, dos «grupos comunistas) que ele procurou suscitarem 1920, em Turim e nao so. o partido da autonomia daclasse °pet-aria Nenhum destes elementos sera depoisrepudiado na elaboragdo sucessiva. Neste sentido, a ex-periencia «moscovita) reforga-lhe a convicgao de queum partido revolucionario deve, em primeiro lugar, serunido, possuir uma unidade ideolegica e politica [chegaa teorizar a oportunidade duma unanimidade ( 6 ) ], cons-

    (•) Em algumas notas, escritas em Moscovo, datadas deJunbo de 1923, escreve Gramscl: (Urns das manifestaglies a queo Executivo se atêm 6 que nas votagdes exists sempre uma una-ntrnidade. Esta nao 6 uma simples questdo formal. De toda aexperidncla da revalued° russa results que a ausencia de una-nirnidade nas grandes votagOes pUblicas determina comporta-mentos especlals no melo das grandes massas; os advenoiriospoliticos polarlzam-se em direcello A minor's, alargam-lhe e gene-rallzam-lbe a posiglo, publicam conspirativamente panfletos, pro-

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    tituir um «conjunto de ago), como dirfi em Lyon. nGramsci quern di uma forga particular, e tambem seve-ridade intolerante, a luta contra o fraccionismo e pelabolchevizagdo. 0 seu repensarnento critico sobre 0 «pri-meiro tempo) do P. C. I., sobre o dogmatismo e organi-zagao da direcgao de Bordiga, sobre a falta de articulagdodo centralismo democratic°, nao revela nenhuma ten-tagio de liberalismo interne.

    Quanto muito, veremos desenvolver-se perfeitamente,e decerto na linha do pensamento de Lenine e da expe-riencia bolchevista, uma inspiragao que ja se tinha inse-rido nas batalhas de 1920-1921: a polemica anti-sect&ria, a aversdo de fechar a vanguarda numa paligada depureza revolucionaria (que e o trago obsessivo do Bor-diga dirigente), o impulso para fazer do partido comu-nista o partido da rnaioria dos trabalhadores. Daquiprovêm a insistencia do Gramsci dirigente do P. C. I. so-bre o conceito de partido como parte da classe e nao comoOrgdo investido, a priori, por uma funeao de sintese ede direcgdo. 0 sentido profundo da disputa corn Bordiga,em 1923-1926, é de facto este: construir um tipo de par-tido que nunca perca a contacto com as massas, que sigae controle as fases de desenvolvirnento e tambem deregresso ou de paragem, que nao se feche em si pre--pH°, que nao se limite a desenvolver uma mera fungaopedagegica ou propagandista, partindo de factos acon-tecidos, alem do mais, sem a sua intervened°, que lavapolitica e nao apenas organizaglo, que nao marque en-contros com a classe operaria entricheirando-se numreduto avangado.

    Num dirigente como Gramsci, isto traduz-se tambemnum trabalho quotidiano e pessoal de contacto, de dis-missal° e de elevag5.0 dos quadros operarios, num qua-dro articulado de doutrinagao teOrica e de desenvolvi-month cultural dos militantes. E na atengdo extremaprestada ao sector cultural, prestada precisamente pela

    gramas, etc., assinados porventura pelos opositores au por umgrupo dos seus amigos, cumprem todo urn trabalho de agitaclioque pode tomar-se extremamente perigoso num memento deter-minado...s. Cf. Paolo Spriano, Starlet del Partido comuniata Ita-lian°, vol. I, Da Bordigo a Gramaci, Purim, 1967, p. 293.

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  • sua iniciativa pessoal de organizador de cultura do par-tido, no facto de Gramsci se pOr a trabalhar, em 1924,numa nova serie do Ordine Nuovo como Orgio formativo,pensar num jornal para os camponeses, Il Seme, orga-nizar uma escola de partido por correspondencia (pre-parando os textos), sublinhar em conjunto corn os seuscamaradas o trabalho urgente, estirnulante, de uma ele-vagdo, de um salto de qualidade, teoretico, de uma pre-paracdo ideolOgica de massa ( 6 ), existe je. a prefiguragaopratica dos pontos das cloths carcereriasx. , assumidoscomo normas gerais e como formulagOes de principio:afirrnar o valor, prejudicial para a conquista da hege-monia social, de que se revestem uma supremacia cul-tural proletaria e a formagdo de intelectuais orgdnicosda classe que aspira ao poder politico; exprimir a con-cepg5.o do partido como intelectual colectivo, partindo dopreprio modo como no partido se deve realizar a figurado dirigente, a soldagem entre dirigente e militantes debase.

    0 acento recai talvez apenas no partido? E verdade,no entanto — e aqui tocamos talvez o ponto mais ori-ginal da sua constante teerico-politica que Gramscipermanece convencido (e muitas vezes se bate deses-peradamente por este fim) que a instrumentagdo do mo-vimento deve ser mUtipla e nova, deve despontar sem-pre, germinar de baixo, do vivo da experiencia das mas-sas, para fazer nascer instituicaes auteinamas da sua von-tade politica e capacidade de mobilizagdo. 0 rtheleo cen-tral da teoria dos conselhos e este e permanece comotal em 1924-1926. Mudadas as circunstancias, mudadasas relagOes de forga, Gramsci continua todavia a intro-duzir constantemente o tema. Trabalha em 1922 ate queuma coligagio de vertice sindical-politico, a alianga dotrabalho, surgida para organizar a defesa das liberda-des democraticas e o poder de contrato dos trabalha-dores perante o fascismo e a crise econOrnica, se trans-forme de organismo burocratico numa rede de comis-saes locals a fazer surgir de bases eleitas nas febricas enos campos e que, a maneira de piramide, consigam ex-

    •) Cf. eNecessidade de urns preparagno IdeolOgica de mas-sap , vol. III da presente edlcao.

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    primir um seu centro directivo verdadeiramente repre-sentativo das massas. Nas cartas que escreve aos cama-radas em 1923-1924, ele perscruta todos os sinais possi-veis para fazer renascer lamas «de conselhos), de de-fesa e organizagdo operkria Em 1924-1926, toda a suaconcepgdo da luta contra o fascismo se rege pela preo-cupagio de criar uma frente de massa pie se contra-ponha, corn uma acgdo molecular, ao poder fascista: erenas «comissOes antifascistas, operkrias e camponesas)Tido como simples cimento organizativo da resistenciaao fascismo mas como base para um desforra autonomadas classes trabalhadoras, como germe de uma recons-trued° sovietista das massas.

    Neste caso, o aspecto mais interessante e o trabalhogramsciano de traduzir ern termos adequados a situagdoitaliana a formula geral do «govern° operksio e cam-pones) langada pela Internacional. A garantia da auto-nomia a exaltada por Gramsci mesmo no que respeitaaos camponeses. Ele insiste, no momento em que elucidatoda a elaboragdo do conceito de alianga de classe entre°public's do Norte e camponeses pobres do Sul (comoplataforma da revoluedo italiana), na importancia es-sencial de o movimento campones (no Sul mas nao soall) possuir instituigOes prOprias, associagOes, tuna suaarticulagdo democreitica, pondo o problema da direcgdogeral, por parte da classe operksia e do seu partido, emtermos tipicamente hegemenicos e de direcgao mediata.

    Sintometicos sdo ainda, neste quadro, outros tragos:Gramsci acentua, em toda a sua batalha antifascista,depois do delito Matteotti, a exigencia de uma frenteUnica de base. Isto rao o leva a excluir a nova politicade acordos com outras forgas de oposigio, nem a advo-gar uma ruptura do sindicato de classe, ainda que esteseja dirigido pela corrente reformists. Mas parece maisclaro, neste periodo, que ele Tido deposita nenhuma con-fianga nem na congaed° antifascista nem na CGL comoinstrumentos capazes de abaterem o regime fascista. Ascomissries operarias e camponesas, o «antiparlamento),a cassembleia republicans.), sdo concebidos como a Unicaalternativa real a urn complexo de forgas reaccionarias,fascistas e «filo-fascistas p aue tem as suas ramificactiesate no P. S. I. e na CGL de D'Aragona e Baldesi.

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  • Precisamente a prop6sito dos discursos hoje recor-rentes em sede histOrica (e politica) sobre o social-fas-cismo, que em geral se referem ao periodo sucessivo a1928, valeri a pena notar que uma certa propensão paraaceitar as formulagOes do Comintern segundo as quaffsa social-democracia é uma facctio do fascismo — forma-lagOes que datam já. de 1924 ( 7 ) — chega aos comu-nistas italianos atraves do conceit° de que a fracc5.0comunista, no seu conjunto, amadureceu sobre o socia-lism° italiano no primeiro p6s-guerra. Em Gramsci aformula parte sempre daquela individualizagaio social&gica a que já. nos referimos: o P. S. I. como partido quenão tern uma natureza operaria mas sim prevalente-mente camponesa-pequeno-burguesa, como partido defuncionarios expressos pela parte mais atrasada do mo-vimento operario e corrompidos pela escola de governode Giolitti. Daqui se ilumina tambem a directriz geraldo P. C. I., em 1924-1926, de uma luta em duas frentes,contra o fascismo e contra os (ventinianos, (•).

    0 discurso segue nao menos nitidamente em relagãoao problema sindical. Quando as condigOes das organi-zag'Oes sindicais livres se tornam quase insustentáveis,em 1925-1926, Gramsci pensa num tipo de resistencia ede renascimento do sindicato que se estabeleca nasbricas, criando tambem aqui, atraves de instituic5esnovas (as conferencias de fabrica, as comissOes de de-fesa sindical, as comissOes de agitacdo, sustentadas poruma organizacao de partido coma celula de fabrica),não s6 instrumentos eficazes de resistencia, mas o em-

    (') A mats nitida deve-se a Zinovjev, no V Congresso doComintern: Cie fascistas sae a mao direita e os socials-demo-crates a mao esquerda da burguesla. Eta o facto novo... 0 factoessential E que a social-democracia se tornou numa faccao dofascismo., Do cRaport sur les travaux du Comite Executif de'Internationale Communistev, pronunciado em 19 de Junho de1924, In La Correspondance international°, IV, n.° 43, 10 de Julhode 1924.

    (•) De Aventlno, uma das collnas de Roma. aventinianossforam chamados os quo, durante o fascism°, abandonaram oParlamento corn a intengdo de Isolarem o partido fascista.(N. do T.)

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    brifto de um novo poder, formas diversas das tradicio-nais de expansio sindical, com a esperanga, nem sequercamuflada, de fazer renascer uma nova confederaflo dotrabaiho que tivesse a sua base nestas comissfies ( 8) eassim se pudesse renovar intimamente.

    0 problems de Gramsci politico nio se resolve, porem,descobrindo a continuidade dos motivos originfirios doOrdine Nuovo nem o constante (sistema mental,, tradu-zindo a experiéncia bolchevista em ItMia, desde que ele°omega, ja em 1917-1918, a interrogar-se sobre o tipode soviet que se pode fazer crescer entre n6s (e o indi-vidua na comissaio interna) ate que recebe a palavra deordem do (govern° operário e tampons,, com uma fortepredileccao autonomista e pensa numa remiblica fede-rative (1923) e nao exclui uma constituinte coma etapa -intermedia (1924) para a ditadura do proletariado, atea palavra de ordem (1925) da assembleia republicanacorn base nas comissOes operdrias e camponesas. 0 pro-blema tern outros aspectos, quer essenciais a Gramsciquer comuns ao movimento comunista das origens e dosprimeiros cinco congressos da Internacional.

    Que no Gramsci politico o preconceito ideoldgico sejavivissimo, de tal modo que constitui urn impasse, emmais do que urn momenta, ao contact° directo corn arealidade, é inegkvel. Deve porem entender-se igual-mente como é pr6pria —e muitas vezes com uma rigi-dez doutrinal exasperante — uma certa (ideologia*, atendencia constante para sistematizar em termos de so-ciologia marxista cada nova «prega).) da realidade, para

    ( I ) Gramsci, na sua intervenetto no C.C. do P.C.I. de 9-11Novembro de 1925, tract( como perspectiva histerica a taref ade que co movimento sindical ressurja controlado por n6s) eacrescenta, em relagao ao presente: c0 Partido Comunista tern,pots, o dever de esttmular a °Macao de organtsmos que cons-tituam meths de expressao das massas; a proprla situagAo seencarrega de tornar necessiria e possivel a criacao de comiss5esoperirias que, partindo das formes mais embrionarlas, cheguema assumir as formes mais completes, que, partindo da fabrics, seestendam as massas, se tornem Organs representativos das mas-ses,. Cf. A. Gramsci, La coatruzlone del partido comunista, ob.cit., p. 479.

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  • encontrar uma definigio universalmente vklida parauma situagao em movimento, todo o movimento comu-nista nesta sua fase histerica. Isto acontece, pensandobeen, nao so pela grande carga finalistica e forga teo-retica da personalidade de Lenine (e tambem de Bu-karine, Trotski, Zinovjev, etc.) e por um modo de pen-sar tipico dos bolchevistas, nos quais o acento sobre ateoria a tat) forte, mas por uma lick° histOrica concreta.0 principio de que nao se produz acgao revolucioneriasem teoria revolucionkria a tanto mais unanimementeaceite no movimento quanto mais a revolugao russa apa-rece vitoriosa, precisamente por esta sua fidelidade ecorrespondencia de rigor ideolOgico e de praxis.

    A ideia de um modelo prover°, em suma, do prOpriofacto — uma revelagao para a mente e um enorme mo-tivo de atracgao psicolegica e sentimental — de que,corn aquele modelo, corn os principios de estrategia ede tâctica explicados por Lenine e pelo estado-maiorbolchevistas, se realizou a primeira revolugao socialistavitoriosa da histbria. De resto, nao eram a heteroge-neidade de inspiragao, a falta de tense.° teOrica da IIInternacional, o empirismo e o objectivismo determi-nistico que a dominavam, uma causa fundamental do seucrack?

    SO neste quadro se podem cornpreender a severidade,a paixao, o empenho, de cada debate aceso a propesitode uma fOrmula singular, de uma «lei de desenvolvi-mento» do movimento, a recondugao de cada discursoa urn modelo. Ou melhor, se Lenine nao deixava de pres-tar atengao a cada assungao dogmatica dos principios— regra de acgao Gramsci faz a sua admoestagaocorn urn processo dialectic° que nos parece poder serdefinido leniniano: isto e, nao se desarmando ou liber-tando de uma bagagem teerica, mas aumentando e aden-sando a investigagao da realidade social, econamica, cul-tural, dirigindo a atengao para uma multiplicidade ex-traordindria de factores (tradigOes histOricas, psicolo-gia das massas, centros de direcgao das classes dirigen-tes, formagao dos varios estratos que compOem urn par-tido, diferenciagOes regionais, relagOes entre as váriascentrais financeiras, raizes culturais e modos de vida dapequena burguesia, caracteres do pessoal dirigente do

    Estado, componentes, manifestagOes e contradigOes dofascismo, etc., etc.).

    E ja um grande intelectual o Gramsci politico de1919-1920 e de 1921-1926, um homem que vigia cadscharneira do real, que tern sempre presente a dimenstioda politica como invencolo, possui o gosto da previs5.o,reflecte o salto do irnpulso moral. Se a grande contra-digao dos primeiros anos de vida do P. C. I. e a de umaformagao que deve operar a sua experiencia, superar asua doenga infantil, consolidar a prepria organizagao,conquistar a confianga das massas num momento derapid° refluxo da crise revolucionkria, no fogo de umaguerra civil cuja sorte assinalark uma grande derrotapara o movimento operkrio e para a democracia italiana,Gramsci 6, ele prOprio, parte desta contradigao. Nao foiele quern escreveu em 1924 que os comunistas, nos pri-meiros anos, foram arrastados pelos acontecimentos,«foram, sem querer, um aspecto da dissolugao geral dasociedade italiana, tornada numa tempera incandes-cente onde todas as tradigOes, todas as formagOes his-tOricas, todas as ideias prevalecentes se fundiam algu-mas vezes sem residuo*?

    Quando se analisa de perto o period° do crepasculosanguinoso da liberdade italiana, em 1925-1926, naodeixa de admirar-nos o contraste entre uma perspectivageral dos comunistas, permanecendo a que se tinha deli-neado em Outubro, e a realidade; entre o esquema ideo-lOgico de uma permanente ou recorrente crise revolucio-traria que repitiria, em substancia, o seu andamentoclassic° e o processo de estabilizacao crescente da dita-dura reaccionaria; a luta em duas frentes tern, nestemomento, o seu que de dramaticamente anacronisticoe perguntamo-nos como pode Gramsci continuar a sus-tentar em 1926 que a fungal° principal 6 a de «tentarabreviar o mais possivel o intermezzo democratic°,tendo ate hoje disposto a nosso favor o maior nfunero decondigOes favoraveis*. A questao que se nos apresentapode tambem formular-se nestes termos: em que medidaum preconceito ideolOgico, a forga da inercia de urnmodelo pre-constituido, concorrem para tornar err6neaa previsao e, portanto, a perspectiva politica? Neste pe-riod°, o esquema segundo o qual o fascismo deixara de-

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  • pressa o campo a uma coligagao democratica (de talmodo que sera aquele o momento em que o partido serasuficientemente forte — como o partido bolchevista.—para mudar rapidamente as relagOes de forga e superardepois a fase democratica para alcangar o poder) é deve-ras urn obsticulo que se apresenta a luta para fazer cairentretanto o fascismo.

    Dir-se-ia que o Gramsci destes momentos vive em sium intern° contraste de motivos, enquanto prisioneirode uma contradigao geral, ele prOprio acurnula os ele-mentos criticos para a superar, em seguida. Parece-nosque o que desta contradigao se reflecte particularmentenele se contem em dois daqueles motivos que se entrela-gam continuamente: a perspectiva persistente duma radi-calizagao da situagao e, portanto, a insistencia sobre fun-goes autOnomas, revolucionaxias, do partido, sobre osovietismo dos Orgdos de massa; o acento sobre o mo-mento da preparagao, sobre o trabalho vigoroso, sobrea 4( agressao molecular*. 0 segundo motivo sere, o que,em 1926, nas meditagOes do carcere, verb', um major de-senvolvimento. Decerto que o cruzamento de urn e deoutro cria urn no inextricavel a uma analise que procure,pelo contrail°, um processo linear de pensamento. Naverdade, a fisionomia de Gramsci dirigente politico époliedrica, escapa muitas vezes, no biênio 1925-1926, auma rigida definigfio que parta e se limite ao ambitode uma critica tendente a distinguir historicamente «po-sigOes justas>> de «erros*, regras de accao justificadasna realidade do mito ideolOgico que vem contrariando.Nao se consegue medir a influencia de Gramsci politicodaquele periodo se nao se tern em conta os dois pianossobre os quais ele opera constantemente, quer dizer, se-mentes que langa no movimento nao inferiores a tacticsque preconiza, o metodo que instaura e que sere fertilmesmo depois da sua prisao, a indicagão dada no mo-ment° dos acontecirnenots e que nao se pOde utilizar en-tao mas que se tona perspectiva histOrica na herangade urn repensamento colect5vo, a prOpria complexidadede motivos que anirnarn cada urn dos seus artigos jorna-listicos.

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    Tome-se como exemplo o juizo sobre o fascismo ea luta contra ele. Gramsci, ja desde 1919-1920 massobretudo em 1921-1922, desenvolve urn tipo de analisedo fascismo cuja importancia, no movimento italiano eno movimento internacional, ultrapassa largamente omomento em que a expressa. Introduz o conceito de urnnovo tipo de reaccdo com base de massa, coisa bastantediferente de uma reacgao tradicional de tipo militar-po-licial que parte, do vertice do Estado, a que era «fami-liar* ao movimento operkrio. Sublinha a importanciachave da pequena burguesia urbana ao fornecer os qua-dros e a massa de manobra do fascismo, de que examinatambern outros componentes (o agrario em primeiro Lu-gar, coma é sabido).

    A articulagao deste juizo, o exame das contradigOesinseridas na natureza compOsita do fenOmeno e nas sussorigens, podem agora conduzir a uma tal importancia dafungal° da pequena burguesia que fags nutrir ilusOesacerca da incidencia que a sua sucessiva desorientagaoCerise Matteotti) poderia ter para a sorte do regimefascists e obscurecer a resultante essencial da ditadura.de Mussolini como instrumento ao servigo do grandecapital (embora sempre afirmado por Gramsci). Mascomo nao observar o grande salto de qualidade e a sa-lutar ligao de metodo que provem de tal tipo de analiseem relagao ao juizo sumario e limitativo — que vem deI/arias lados do movimento comunista e socialista.—,segundo o qual o fascismo nao seria mais do que urnexpediente, uma pega manobravel, a disposigao da velhaclasse dirigente?

    A grande burguesia, segundo Bordiga, acabaria de-pois por pOr de parte Mussolini e sequazes, esgotada asua fungao dilacerante, e retomaria uma politica «social--democrats.* giolittiana com a participagio directs dosreformistas no poder. E nao a apenas paradoxal coin-cidencia mas prova da novidade essencial que a persona-lidade politica de Gramsci introduz no movimento, ofacto de, neste panto, Bordiga vir a coincidir com Turati.Este, de facto, nao é menos convencido da infalivel rege-neragao democratica da classe dirigente. Naturalmente,segundo Turati, isto sera urn bem para o movimento, queprosseguiria assim ao longo de uma linha estrategica, a

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  • linha hist6rica do reformismo, de alianga salutar corna burguesia economics), enquanto para Bordiga aperspectiva social-dernocratica e o inimigo principal aeliminar, depois de to-la pedagogicamente tornado reale explicita perante as massas. E Gramsci quem ultra-passa as visOes esquematicas e cheias de erros, colhendoa novidade do fenOmeno, o que politicamente significa,em 1921-1922, considerar o perigo de um golpe de EstadoIsubversivo)b da direita e em 1924-1926, ou melhor em1926, precisar aquele desenvolvimento agregativo dofascismo, fazendo da politica da classe dirigente o ele-mento unificador, acentuando o aspecto reaccionario (9).Tambern a prop6sito do fascismo, eis que desponta umacomplexidade de relevos contrastantes: primeiro, a so-brevalorizagao da crise em que caiu o regime depois doassassinio de Matteotti, uma certa frieza de reacgao,quase uma relutancia, logo a seguir ao 3 de Janeiro de1925, para admitir que a crise fosse superada ( 10 ), de-pois, gradualrnente, o cruzamento mais fixo das hipOte-ses assaz diversas, de uma solugao de compromisso ede uma posterior exacerbaclo do monopOlio politico deMussolini. Em 1926, todavia, a analise parece dispor-seem modo de ultrapassar o dilema e de escolher o con-junto das raz5es econOmico-politicas que estimulam aconsolidagao daquele monopOlio, ainda que bastante in-certa seja ainda a previsao politica (n).

    (') No relatdrio de Gramsci ao C.C. de 9-11 de Novembro de1925, P. citado, pode ler-se: No campo burguas, os fascistasobtiveram a completa primazia. 0 fascismo atingiu hoje o curveda sua parabola e esti unificando a sua volta a burguesia. 0Grande Conselho fascists tornou-se o Orgdo central da burguesiaque doming tudo.)

    (") Gramsci considers, depots do 3 de Janeiro, que o gestode Mussolini deve ser interpretado como a tentativa de «par-se emcondigeles mals favoraveis tendo em vista uma solugdo de corn-promisso). Mussolini queria «chegar ao compromisso pela faro).Cf. &aria an PCI, ob. cit., p. 426.

    (") A este propOsito, importante a intervengdo de Gramscino Comtta Directive do P.C.I. de 2-3 de Agosto de 1926 (que publi-cantos no vol. III da presente edigdo, sob o titulo «Urn exame daetuagão Itsliana), especialmente pela analise dos vários compo-

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    Mas vale tambem, por este aspecto, a adverténcia queja se propunha a propOsito das formulas do tipo social--fascism°, isto e, nao se afastando das suas aplicageoesconcretas e nacionais. E possivel, por exemplo, que ojuizo sobre o P. S. I. e sobre o P. S. U. seja influenciado(e decerto que e reforgado) pelas acusagOes durissimasque 0 V Congresso do Comintern dirige a social-de-mocracia, especialmente pela teorizagao da social-demo-Gracia como parte da formagao inimiga de classe. Mascomo esquecer que sap o comportamento politico e alinha ideolOgica assumidos nos factos do socialismo ita-liano, em 1924-1926, a motivar o ataque vigorosode Gramsci? 0 P. S. I. e o P. S. U. alinham supinamentecorn os lideres «democratas popularesl. do Aventino, re-cusam constantemente qualquer perspectiva de unidade,de frente Unica operesia contra o fascismo, tendem a iso-lar o partido comunista no interior das oposigOes e nossindicatos. Gramsci opera numa situagao na qual aaversao ao P. C. I., por parte das outras forgas antifas-cistas, a geral e prejudicial. RFomos postos a porta),recordath ele prOprio a propOsito das relagOes corn ascoligagOes do Aventino.

    A constatagao leva-nos a considerar como o nasci-mento e o desenvolvimento de urn partido como o comu-nista em Italia fossem recebidos corn uma hostilidadeque derivava do prOprio conservadorismo de posigOes,das autelasz, adquiridas, da concepgao paternalista ecorporativa da representagao politica que Gramsci re-conhecia e indicava como o Maximo «vicio» da «demo-cracia) italiana. Neste quadro de hostilidade preconce-bida, o apelo constante do P. C. I. pan uma dimens'd.ointernacional dos problemas e a sua peroragao de umaaced° directs na batalha antifascista eram entendidospelos socialistas e democratas como confirmagio do seucatheter estranho a tradigao italiana! Mas tambem aquiGramsci era destinado a operar em profundidade. Dols

    nentes do domlnio politico fascists. Poram, a perspectiva que aquise confirms de uma fragmentagao «do bloco burgues, agrario efascists) e da tenclancia pars se constituir «urn bloco democra-tic° de esquerda) ao qual contrapor uma frente proletaria tnica,repete o esquema mats ilusario do biênio de 1924-1926.

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  • parecem ser os aspectos nao caducos nem meramentetacticos da sua batalha, desde o momento do delito Mat-

    , teotti ate a prisao em Novembro de 1926. 0 primeiroo discurso constante, incitante e fundamentado queGramsci dirige a todo o antifascismo sobre o catheter declasse da opressao fascista, sobre o bloco histOrico queela conseguiu aglutinar. Daqui deriva o corolirio, lOgicoe politico, de combater o fascismo contrapondo-lhe umafrente de classes igualmente sOlida e ampla. A elabora-Ca° da alianga entre operirios e camponeses, nos termosdelineados por Gramsci, nasce tambern como base de umantifascismo popular. 0 segundo aspecto e talvez aindamais importante, tipico de uma direcgao gramsciana derenovagao. E refere-se ao trabalho desenvolvido paraprovocar tuna ruptura a esquerda do consenso intelec-tual desenvolvido a volta das classes dirigentes, é o tra-balho conduzido para constituir uma trincheira da qualnao se afastem os intelectuais — ainda que sejam pou-cos — que conseguem compreender atraves da experien-cia da luta politica em curso, do advento fascista e dassuas causes, como a acgao unitaria dos opethrios ecamponeses se toms a Unica base real, a Imica plata-forma a sustentar pan contrastar e hater o regime, ecomo lhes respeita, pois, uma fungi() dirigente na novaItalia.

    Ocorre imeditamente o nome de Gobetti [nao poracaso citado, a este propOsito, por Gramsci no ensaiosobre a questa. ° meridional ( 12 )], Mas Gramsci estaocupado, em 1925-1926, a recolher e a dirigir para ummovimento real unithrio todas as vozes criticas que selevantam do campo de Aventino, especialmente entre os

    (") Cf. cAlguns temas da questdo meridional», onde Gramsciescreve: c... E importante e Ohl que na massa dos intelectuals sedetermine uma fractura de catheter organic°, historicamentecaracterizada; que se forme, como formacdo de massa, umatendencia de esquerda, no significado moderno da palavra, 1st°4, orlentada para o proletariado revolucionario...» As Ultimaspalavras do ensaio sublinham a importh.ncia da funtho daqueleslntelectuais setentrionais a meridionais que acompreenderam seressencialmente nacionais a portadores do futuro, duas Unitas for-las socials: o proletariado e os camponeses...:. Ver o voLda presente et:110o.

    jovens, a impulsionar todas as personalidades politicas,ainda que cisoladas), de Guido Miglioli a Emilio Lussu,de Carlo Rosselli a Guido Dorso, que exprimem de vitasmodos a mesma exig'encia de renovagao da fileira poli-tica antifascista, partindo da revisal) critica de um blocogeneric° de oposig5es corn base moral ou legalitaria.sao forgas, names e grupos juvenis que Gramsci querajudar e corn os quais entende colaborar (e no partido osadeptos de Bordiga reprovar-lho-ao), ate porque elepensa que o velho pessoal politico dirigente socialists,catelico e democrata esti «perdidoo para tuna verda-deira luta antifascista. A sua constatagao nao tern, po-rem, um sinal secthrio, mas sumo oposto. E o mesmoimpulso anti-sectario que ja em 1920 procurava impri-mir ao movimento de fibrica, agrupando °per-arias anat.-quicos, catOlicos e tdesorganizados, que agora o induz aorientar-se para estas sementes de renovagio que naopodem, para germinar, deixar de romper a crosta con-servadora de que sac, prisioneiros, para dar vida a umanova formagao antifascista. Este facto pode ser cons-tatado a propasito do juizo de Gramsci sobre o movi-mento catOlico. Se UM certo esquematismo ideolOgico(Don Sturzo como Kerensky...) esti presente, a direcgaoda pesquisa é a de entender a extraordinaria importan-cia que o ingresso das massas catOlicas na vida politicatern para a proposta de uma frente Unica, de uma aliangade classe contra o fascismo.

    0 Ultimo momenta a considerar — e caso pars dizerque se trata de urn last not least — é o nexo que seestabelece em Gramsci entre a visa° politica das coisasitalianas e a dimensao internacional da revolugao. tnitido em Gramsci, ja desde 1917-1920, o sentido de taldimensao. Wrias vezes transparece nos escritos desteperiodo o seu eepticismo sobre a oportunidade revolu-cionaria intern, italiana, quer pela desconfianga ex-pressa nos dirigentes do movimento quer pela imaturi-dade, os obstaculos locais, os desniveis de consciencia ede organizagao das prOprias massas, que ele regista seve-ramente. A dilvida e o pessimism° sao sempre, porem,superados, atendendo as condigOes internacionais da si-tuagao, a amplitude da crise revolucionaria que sacode

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  • a Europa, a forga expansiva da revolugao russa e a suauniversalidade. 0 famoso artigo «Para uma renovagao doP. S. I.) que impressionou favoravelmente Lenine e peloqual este cunsiderou as criticas e as propostas do OrdineNuovo como as (micas que correspondiam em Italia alinha e ao espirito da Internacional ( 13 ), nao 6 urn do-cumento «ordinovista», isto 6, nao reflecte a especificaproblematica «dos conselhos». E um ataque, do ponto devista da revolugdo mundial, ao provincianismo do P. S. I.,a sua surdez perante as dimensees e as tarefas interna-cionais dos problemas, etc., etc.

    Foi justamente dito por Ernesto Ragionieri (con-venio de Cagliari de 1967) que Gramsci e o homemda Internacional Comunista ( 14 ). Into a verdade emrios sentidos. E verdade, antes de mais, porque a convic-gel° de operar num periodo em que a historicamentepresente uma grande crise revolucionaria nunca o dimi-nui. Isto leva-o a individuar uma estrategia do prole-tariado italiano que se enquadre sempre no processorevolucionario euroneu, que consolide de facto o leni-nismo nos seus pilares essenciais: o conceito de aliancade classe e o conceito de faces intermgdias, quanto, naprâtica, vive ou procura viver na formula do governooperario e campones.

    «Homem da Internacional» 6 tambem Gramsci porter formado urn conjunto de convicgOes que remetemdirectamente para a experiéncia dos anos passados entreMoscovo e Viena. 0 mesrno se diga da fungao dirigenteque, no movimento, ele confia explicitarnente ao partidorusso e da sua insistencia sobre o valor da unidade.Para Gramsci, os dirigentes bolchevistas — que ele viude perto — sac) por direito o estado-maior da revolugaomundial e nao apenas porque conquistararn tal direitocorn a vitOria socialists no seu pais, enquanto nos outrospaises a revolugao faliu, mas porque the aparecem comoos finicos que possuem uma capacidade de ver as coisasa escala mundial, «porque a concepgao politica dos

    (") Cf. Lenine, A Propasito do Movitnento Operdrio Italian.(") Cf. E. Ragionieri, Gramsci e it dibattito teorico nel

    movimento operarto Internazionalea, la Gramsci e la cultura con-temporanea, Roma, 1969, vol. I, pp. 116 e ss.

    comunistas russos formou-se a partir de um terrenointernacional e nao national) ("). Assim, pleno e o seuconsenso a linha politica da maioria bolchevista nadisputa corn as oposigees sobre o tema da politica agrit-ria, da fungi.° dos camponeses.

    Se nao se tem presente tal dado de partida, nao secompreende sequer a sua famosa e dramitica carta deOutubro de 1926 ao C. C. do partido russo, a qual se regepor esta inspiragao: reivindicar a importencia decisivada unidade do grupo e avisar tanto a maioria coma asminorias do perigo extremo que representaria a perdado ponto de vista internacionalista, afrontando as ques-toes decisivas do prOprio partido russo ( 18 ), o que, emGramsci, nao a trago de uma concepglo que se possaconfigurar como mandato de confianga por parte dasoutras secgOes da Internacional relativamente a russa:ele fala de urn contributo mfiltiplo, de uma disciplinadeal e convicta» tanto mais possivel de alcangar quantomais cada secgao national conquistar, no prOprio pais,a maioria dos trabalhadores, exprimindo assim um pesoe uma incidencia reais ( 17 ). 0 que 6 tambem o Unico

    (") Cf. a carta de Gramsci a Togliatti, Terracint e C., deFevereiro de 1924, in Palmiro Togliatti, La formazione del grupodirigente del Partido comunista Italian o, ob. cit., p. 196.

    ( Is ) Na carta assinada (Direccao politica do P.C.I", escritapor Gramsci ao C.C. do Partido Comunista russo em Outubro de1926, pode ler-se: (Parece-nos que a paixao violenta das ques-tbes russas vos faz perder de vista os aspectos internactonais dasprbprias questbes russas, vos faz esquecer que os vossos deveresde militantes russos podem e devem ser sattsfeitos apenas noquadro dos interesses do proletariado internacional,. Cf. o vol.III da presente ediglo.

    (") 0 conceito 6 expresso varlas vezes por Gramsci, masnuma carts a Terracini, datada de Viena, em 27 de Margo de 1924,que ele 6 formulado em directa relaglio corn os contrastes nascidosno partido boichevista e em värios outros partidos, sobre ques-tbes essentials: cReforco cada vez male esta convIccAo: que 6preciso trabalhar no nosso pais pare construir urn partido forte,politica e organIzativamente preparado e resistente, corn umabagagem de idelas gerats bem clans e bem firmes nas conscten-etas individuals, de modo que sieja possivel a desagregagio a cadachoque de tais questbes que surgirAo cada dia mats numerosase perigosas, corn o desenvolvimento da sltuagilo e o reforgo objec-tivo do movimento revolucionarlo., (La formazione del grupodirigente del Partido comunieta italkno, p. 263).

    32 33

  • modo de pOr a premissa de uma autonomia politica aescala internacional, para alêm da nacional.

    particularmente iluminante seguir a linha de dis-criminagdo entre Gramsci e Bordiga a prop6sito do temadas relagOes corn a Internacional. Bordiga, que teorizao centralismo absoluto e um Unica modelo de revalued°,

    o homem que — porquanto possa parecer paradoxal —reivindica quer a necessidade de seguir nacionalmenteuma politica diversa da estabelecida nos congressosquer uma organizagdo de «fracgdo interna.cionabo parsmudar a direcgdo decidida da «Oentrah. 2 verdade queBordiga estabelece isto nao como ponto de doutrina,mas simplesmente porque nao the parecem justas aquelaorientagao determinada ou esta especifica indicagao (afrente Unica, a fusao corn o P. S. I., a bolchevizagao, etc.).Mas ele aparece, no contexto da luta politica da Inter-nacional, coma o defensor da autonomia dos //arias par-tidos de Moscovo, como a possivel ponto de referenciade uma oposigao internacional que alce a bandeira dasvarias escolas nacicmais do marxismo e, ao mesmotempo, da tradigao e da forga dos partidos dos paisescapitalisticamente desenvolvidos Em Gramsci, o coin-portamento e os pontos de principio sao opostos. Ele

    pela bolchevizagao, pela estabilizaccio leninista de todasas seceees da Internacional, rejeita a ideia de um partidorusso coma expressao de uma «civilizagao capitalistaatrasada e primitiva», contraposta a uma Europa Cen-tral e Ocidental, cujos partidos comunistas sejam auto-maticamente o fruto politico de «largos estratos prole-Carlos * ( 18 ) avangados. Mas mostra-se depois leninistae ao mesmo tempo livre de impasses hierarquicos, aoconfigurar o problema da revolugao no Ocidente emtermos diversos, em modo de requerer «toda uma estra-tegia e uma tactica mais complexa e de maior vigor doque as que foram necessarias aos bolchevistas no periodoentre Margo e Novembro de 1917):. (18).

    No Gramsci politico do decênio legal, nada nos induza pensar que se the ponha o problema da democracia

    (") Da carta de Gramsci a Togliatti, Terracini e C., ob. cit.,pp. 196-191.

    ( a ) /b4ciem.

    em termos diferentes dos que corriam na DI Internacio-nal, isto é, que preveja um regime de democracia poli-tica, representativa, como terreno histOrico sobre o qualavangar para o socialismo. Estamos em 1916-1926 e naoem 1936-1946. Nem convira dar a Gramsci quanta per-tence a Togliatti. Quando Gramsci fala de fase demo-cratica, de passagem para a fase socialista, quando falade situactio democrcitica, fala em sentido rigorosamenteleninista, critic°, tendo em mente o desenvolvimento darevalued° tal como Lenine a analisa e universaliza, an-Enos° por abreviar o mais possivel o intermezzo demo-cratic°. 0 fogo da sua pesquisa politica concentra-se,de preferencia, cada vez mais sobre a complexidadeda sociedade ocidental, sobre as suas variantes italianas,sobre a riqueza e variedade de estratos intermedios(aristocracia operdria, pequena burguesia urbana, cam-pesinato, etc.), nos quais convem discernir as forgasaliadas e as que se devem neutralizar. Ele reflecte sabreos tempos das varias fases, sobre os modes de passagemobrigatOria de uma a outra, sobre as charneiras quesoldam os estratos intermedios a classe dominante.

    0 internacionalismo de Gramsci configura-se muitonitidamente neste cruzamento dialectico: reconheci-mento da disciplina substantial, exaltagao da unidade,afirmagdo do valor de guia do partido russo, em sentidomundial, de urn lado; reivindicagao nao so do que élicito, mas da necessidade de traduzir em termos nacio-nais a estrategia da Internacional, por outro.

    Gramsci nao a menos intransigente do que Bordigae mais concreto do que ele num panto decisivo: salvarsempre a fungao histOrica de urn partido, de uma sec-gala nacional. A defesa desta fungal/ deve ser conduzida,observa ele, tambem contra aquelas tentagOes tacticasda Internacional que poderiam compromete-la, frag-mentando as bases e comprometendo a natureza de par-tido de classe (20).

    ('°) Nas notas de Junho de 1923 (Storia c7,62 ob. cit.,p. 293) Gramsci delineia assim a questa° de principlo:

  • n

    1

    0 discurso sobre Gramsci politico deve ter em conta,chegados a este ponto, uma singularidade deveras ex-cepcional: que a sua acgao de dirigente se paralisanum momento — Novembro de 1926 — em que a reali-dade mais o conduz a submeter a criticas dois pontosda sua proposta: a permanencia da situaglo revolucio-nada na Europa e a consolidagao progressiva dos gru-pos dirigentes comunistas, do estado-maior da Inter-nacional. Gramsci encontra-se perante, quando as portasdo eircere se the abrem (para o encerrarem numa cela),ao triunfo do fascismo em Italia como sistema de poderunificador da classe dirigente, a recuperagdo reacciona-ria noutros paises europeus e a grave crise no interiordo movimento bolchevista, embora no contexto de umreforgo da U. R. S. S. A sua reflexfio politica do carcerenao pode deixar de partir da constatagio de quantomudada a situagfio, resultando mais arduas e em majornUmero as tarefas para uma desforra geral. E sobre ofascismo, sobre a Italia, sabre o problema da revolugfiono nosso pais que podemos colher, da leitura dos Qua-derni, os temas criticos mais validos, embora paregalicito ler uma serie de notas sobre o partido, sobre arelagão entre as massas e os dirigentes politicos combase na experiencia dos problemas e nas contradigOesda Internacional Comunista.

    Mas quando nos aproximamos dos Quaderni paramedir a profundidade ali observada dos motivos jaexpressos no decenio legal — e que aqui analisaremosapenas de passagem sentimos logo, em primeiropiano, uma questdo de comportamento do autor, o seuafrontar as coisas nao em modo destacado, mas maishomogeneo e maduro. Nal° ha problema que Gramscinao trate partindo da sua complexiclade, dos nexos cornos outros, na concatenagao de um discurso geral. E ver-dade que tal impressao proven/ tambem do catheter, doestilo dos escritos carcerarios, da sua intrinseca natu-reza de notas, de material de pesquisa e ate de adverten-

    P.C. unificado corn urn centro ideolOgico que nao seja o traditionaldo P.S. e Lao pouco urn compromisso. Nos defendemos o futuro darevoluglo

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    cias «externass pelas quais a referenda politica 6 muitasvezes implicita ou expressa com cautelas e astaciasimpostas pela linguagem; dai o relevo sugestivo ao con-siderar as varias faces, o passado mesmo longinquo, aimprevista multiplicagio de direcgOes, interrogagOes, otrabalho legico e analogico, a variada solicitagao nascidade leituras de outro «Oiler()) e transferida no contextopor reflexOes organicas sobre um particular objecto deestudo. Mas ha tambem — parece-me — uma ideia cons-tante de partir da 'experiencia de uma grande der-rotapara the explicar as razOes, para descobrir as insuficien-cias de urn esquema de representagao da realidade, reve-lado inadequado, path conjecturar as mudangas neces-sárias de posigao.

    Neste quadro, devemos provavelmente ter em contaquer a proposta ( 21 ) de uma Constituigão republicanacomo plataforma e perspectiva a assumir na luta contrao fascismo, quer as observagOes sobre a guerra estitica,em lugar da guerra de movimento, para urn inteiro pe-riodo Mate/rico; propostas e observagOes de que nit)faltam as premissas em 1924-1926, mas que no deceniocarcerärio aparecem assumidas com outra nitidez poli-tica e individuagio estrategica. Se nos atemos as famo-sas notas sobre a «guerra esta,tic,n ( 12 ), podemos afir-mar que elas gm a continuagfio da perspectiva fixadacomo dirigente politico em 1924-1926? Mao partem elas,pelo contrario, da consciencia do erro de uma perspec-tiva de «guerra de movimentox., ou, pelo menos, daconstatacfio de que mudou o periodo histerico e que1924-1926 assinalou a fase de passagem de um a outro,e nao de dual ondas revolucionarias (como entao, nofundo, ele considerava) ?

    (") Fol a proposta que Gramsci apresentou em 1930, emcontraste corn a orientaglio que prevalecla no partido corn ochamado edesvio, (onde se conslderava a sltuactio the radicali-zada que exciula uma fase intermtdia de luta democrfitica anti-fascista e que requeria uma perspectiva socialists imedlata).A proposta de Gramsci foi expressa em conversagOes corn oscamaradas, no cArcere, segundo o testemunho de Athos Lisa,publicada sob a dIreccao de Franco Ferri, in Rinascita, 12-12-1964.

    (t) Cf. Passato a presents, Roma, 1971, pp. 103-104.

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  • E daqui que torna relevo a investigagao sobre osintelectuais, sobre a histOria das classes subalternas,sobre a formagao unithria do Estado italiano, sobre acultura italiana, sobre o papel revolucionario que exer-cita uma hegemonia ideal, sobre a relagao entre socie-dade politica e sociedade civil, sobre a riqueza das tare-fas do Principe moderno. Guerra estatica pressupOe, defacto, uma articulagao mais ampla, complexa, da lutade classes, uma observagao mais minuciosa do terreno,urn trabalho constante para uma mudanga moleculardas relagOes de forga entre as classes, um espago detempo math amplo entre a fase democratica e a socia-lista. E, no cfircere, Gramsci repensa tambem estesaspectos do pensamento de Lenine que sublinhavam asdiferentes vias de desenvolvimento da revolugao no Oci-dente em relagao a estrada percorrida na Russia, queinsistiam no grande e necessario trabalho preliminar depreparacdo ( 23 ). E sintomatico, por exemplo, que, querem 1919 quer ainda em 1924-1926, Gramsci sublinhassemais do que uma vez as afinidades sociais entre a Italiae a Riissia (tambem para extrair uma certa analogiade dinamica politica — depois desmentida pela reali-dade), enquanto no carcere era sobre as diferengas quese debrugava.

    0 conceito de hegemonia nutre-se e enriquece-se as-sim de nova linfa, do mesmo modo que a diferenga entrerevoluctio passiva e revoluglio activa passa atraves dacapacidade de acumular e tornar operantes os elementosde consciancia num processo histOrico, sem colocar emsegundo piano o estimulo espontaneo que vem das for-gas motoras da revolugao, nem a funcao originiria dedireccao por parte do proletariado urbano. 0 tema darelagao entre direcetio consciente e espontaneidade tor-na-se entao motivo central, Mao condutor da elaboragaoestrategica, eixo a volta do qual gira a prOpria essanciada sua experiencia politica. E aqui, na justa propostadaquela relagao, que se unificara, em Ultima analise,como parece ter sugerido Gramsci, a capacidade bege-

    ( s ) Cf. Note au: Machiavelli, sulfa politica e suite Eitatomodern*, Roma, 1971, p. 98.

    mOnica do movimento operario corn o estimulo queprovem das contradigOes do capitalism°, das exiganciasinsatisfeitas das massas. De resto, nao é por acaso quea explicitagao desta relagao como momenta essentialde uma teoria da revolugao a feita no contexto da refle-ado, ja histOrica nele, sobre o periodo do Ordine Nuovo,sobre o maximo momento da expansão da fungao hege-mOnica concreta da classe operaria (").

    Consideramos justo observar na primeiradesta Introdugdo (1967) que se prospecta urn salt° naelaboragao carceraria da teoria da revolugao em con-fronto com o period° precedente. A nossa tese levantouuma objecgao de fundo por parte de urn jovem e atentoestudioso de Gramsci, Leonardo Paggi, o qual apresentauma conclusao esimetricamente opostab que prometemotivar amplamente no desenvolvimento do seu traba-lho ( 2 ). E uma discussao aberta que sera util continuare, de resto, Paggi oferece no seu estudo ja publicado mui-tos e validos motivos de reflexao. 0 que aqui queremosconfirmar é a profundidade do repensamento politico deGramsci que nos parece sair de toda a produgao car-ceraria. 2 um repensamento no qual a temitica dademocracia politica, das aliangas da classe operaria, anecessidade de contrapor ao bloco histarico da burguesiaurn novo bloco histOrico, tern um acento diverso e for-nece novas indicagOes. De facto, na contraposigao entreguerra estatica e guerra de movimento nao existemapenas Bois elementos importantes de indicagao e dejuizo politico: 1) o repOdio da concepgao trotskista darevolugao permanente; 2) a consideracao de que para oOcidente um ataque frontal e votado ao fracasso. En-volve uma teorizagao mais ampla: a guerra estaticatorna-se a forma de luta decisiva, em toda a parte, parsconquistar estavelmente uma nova ordem socialists:«ern politica, a guerra estatica, uma vez vencida, é defi-nitivamente decisiva», é uma etwerra de assedio, com-plexa. d i ficil, que requer qualidades excepcionais de

    (") Cf. a note tSnontaneita e direzione consapevoles, in Pas-sato e presente, pp. 85-88.

    ( m ) L. Paggi, Antonio Grarnaci e 4 tnoderno princips, Roma,1970, vol. I, p. XVI e es.

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  • paciéncia e de espirito inventivox ("). E o seu lugar6 a hegemonia. E tamb6m aqui Gramsci parece dar urnvalor enormemente extensivo a estrategia da conquistapartindo de baixo, da hegemonia no Estado atraves daformagao de uma vontade colectiva national-popularque surja do irromper simultdneo ( 27 ) na vida politicadas grandes massas operlrias e camponesas, mas a redetorna-se mais densa, a atengEo sobre a sociedade civilmais urgente e a andlise dos componentes mais arti-culada.

    Foi recordado justamente, a este propOsito, quetodo o pensamento politico de Gramsci desagua no prin-cipio da hegemonia: que tende, primeiro, a concepgaodos Conselhos, do qual se mantêm depois o escrito sobrea questa() meridional, onde o «conceito de hegemonia seapresenta como uma articulacao do da ditadura do pro-letariado nos seus momentos de direcgdo e de domi-nio» ( 28 ). Mao queremos aqui recordar quanto o pro-blema da hegemonia invade toda a problemhtica dosQuaderni. Bastar-nos-A, para tornar aos elernentos es-senciais da teoria e da experiOncia politica gramscianas,insistir num ponto que emerge das notas iluminantesjá citadas (e de outras em conexao corn alas). «Profun-damente nacional e profundamente europeu>, Gramscidefine assim Lenine. As dimensbes nacional e a europeia(e o nexo entre uma e outra) sao, nao por acaso, aque-las sobre as quais mais parece saltar a tensäo da anklisepolitica de Gramsci, quando no cárcere, e 6 a falta decompreensao das particularidades nacionais o que eleimputa maiormente a Trotski (29).

    Gramsci exprime a conviccao de que uma classedirigente deve «nacionalizar-se> para poder hegemoni-zar «estratos sociais estritamente nacionais (intelec-

    (") Cf. a nota ePassaggio dalla guerra rnanovratas, in Pas-auto e presente, pp. 103-104.

    (") Ibidem.(") Luciano Gruppl, «Il concetto di egemoniav, in Prassi rivo-

    Iuzfonarfa a storiciamo in Gramsci, caderno n.° 3 de Critics mar-data, 1967, p. 79.

    (") Cf. eInternazionalismo e politica nazionale>, in Note InaMachiavelli, pp. 153-155.

    tuais) e quase sempre menores do que nacionais popu-listas e municipalistas (os camponeses)) ("). Aquiestamos ja muito para alem dos pontos de chegada doperiodo legal, se nao das Teses de Lyon; quanto muito,

    licito encontrar aqui uma concordfincia corn a elabo-raga° do P. C. I. sob a direccao de Togliatti, especialmen-te se a ligamos corn a experiencia do fascism° que, porum lado (e Gramsci mostra adverti-lo agudamente),exprime urn tipo de dominio e de «consenso) diferentesdo do Estado liberal, corn urn cruzamento mais estreitoentre grupos dirigentes e sociedade civil, entre poderpolitico e sistema econemico; e, por outro, p6s as mas-sas trabalhadoras a questa° da democracia politica,tambem esta em termos novos, corn particularidadesnacionais bem nitidas

    E verdade que tamb6m nesta fase Gramsci continuaa traduzir a experi6ncia leninista para a situagio ita-liana, procurando apoderar-se de conquistas conceituaisdo «mais recente grande teOricos, (Lenine) da filosofiada praxis, para as aplicar ao ponto de partida nacionale, ao mesmo tempo, alargar-lhe os cantinas e as corre-lagOes. Significativo, a propOsito, 6 o seu comenthrioentrevista concedida por Estaline a ‘primeira delegacaooperária americanat, de 9 de Setembro de 1927, comen-Uri° intitulado «Internacionalismo e politica nacio-nab> ( 22 ). A entrevista e as respostas de Estaline sobreo leninismo, sobre o conceito de hegemonia, sobre apolitica da U. it. S. S. (respostas cujo significado politicoGramsci mostra compartilhar, rejeitando as criticas de

    (") Ibidem.(") VeJam-se as observagbes de Togliatti a prop6sito do con-

    vite dirigido por Lenine aos comunistas dos outros palace, noIV Congresso da LC., para estudar as particularidades nacionais:

    dificuldade math Freda consistiu, para os comunIstas itallanos,no facto de o advento da ditadura fascista exlgir que se afron-tasse e pusesse como base da nossa politica o problems da demo-cracla. De todas as particularidades que deviamos ter em coats,esta era a math importante..., Palmiro Togliatti, thenine it nostropartido*, in Rinascita, Maio de 1959, depois publicado com outrosensaioe em Problemi del moviinento operario internazionale, Roma,1962, p. 379.

    (") In Note sal Machiavelli, p. 153.

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  • nacionalismo movidas por Trotski), servem-lhe de alu-sao para o que lite é mais taro e de que, na verdade, aentrevista nao faz explicita men*); a relagao entreas «exigencias de carketer nacional» e «a perspectiva eas directives internacionais», que ]he parecem irrenun-ciiveis.

    Uma politica realista sera, pois, a «de depurar ointernacionalismo de todos os elementos vagos e pura-mente ideolOgicos», de «previsOes mecanicas hegemO-nicas». E neste esforgo mAximo de entender a dialecticarevoluciondria do seu, do nosso tempo, eis que se theapresentam estreitamente conexas a lick) do passado(de que nests nota adverte os limites negativos comolimites pr6prios da concepgao da revolugao permanente)e as indicagOes do presente. Gramsci reivindica, aomesmo tempo, a natureza da classe operdria como classeinternacional e o estudo da combinagdo de foreas nacio-nais em que a imersa como sua tarefa hegemOnica fun-damental.

    A obra politica de Gramsci nao se observe apenasatravês da leitura dos escritos do periodo «legal» ou dasconsideragOes escritas no carcere. 0 seu trabalho deeducagao dos quadros, o seu estilo de dirigente comu-nista, inserem-se na histOria do Partido Comunista, deque ele foi o grande construtor. Assim, a anklise sobrea problemktica mais actual nao deve obscurecer a corn-preensao de urn caminho e do desenvolvimento de umpensamento e de uma acgao que sac), eles prOprios, urncapitulo fundamental da histOria deste partido. Poder,porem, seguir, corn a amplitude que esta recolha con-sente, todo o itinerkrio da formagao e da maturidade daexneriencia gramsciana, aclara de facto o campo dasdeformagOes tentadas recentemente, quer das que que-reriam isolar o momento «ordinovista» e fazer delea base para uma doutrina do Estado e da revolucao,quer das que apresentam Gramsci como urn «refor-mista», urn democrata-burgues. Ignora-se ou finge igno-rar-se nap apenas a constante lice.° de marxismo cria-dor que ele fornece mesmo nos seus escritos mais ligadosa urn momento imediato mas. mais do que isso, tudo 0que ele representou como antitese radical da tradicaoe das inconveniencias do reformismo, o aliment() leni-

    nista que ele assimila e langa na dialectica do movimentooperário italiano, fêrtil e rigoroso visto que a sua auk-Ilse se baseia na realidade da situagao italiana e dascondigóes de classe que a determinant

    0 nome de Gramsci tornou-se, na culture marxista,urn sinal constante, a Oriente e a Ocidente, na Europa,nos Estados Unidos, na America Latina, no Japao. Portoda a parte se sublinham a riqueza de aplicagaes e avastidao dos temas da sua concepgao materialista, e aoriginalidade de uma proposta na qual a relagao entrea acgao, a vontade dos homens e as condigOes objec-tivas, a fixada sem dogmatismos e sem empirismos.Ler historicamente a produce:0 politica de Gramsci nä°significa querer diminui-la da sua actualidade agres-siva, pelo contririo. Significa entender os motivos vAli-dos de um m6todo vivo, reconhecer e percorrer de novouma ternatica de renovagao do movimento, tuna anklisedas forgas motoras da revolugao italiana, que esti° naordem do dia nao so do debate mas da realidade italiana.

    Da vida do seu pais, das lutes das massas populares,Gramsci foi urn exceptional testemunho. E este é omotivo de nao menos interesse dos seus escritos. Elesfornecem um material precioso para a histOria da It&lia,fonte e, ao mesmo tempo, trago interpretativo. E isto naoé valid° apenas para os escritos de 1919-1926 mas tam-bent para aqueles, nao muito justamente indicados como«Escritos juvenis», de 1914-1918. Estes sao, em geral,considerados apenas como espelho da formagao ideal deGramsci mas, em nosso parecer, seria de considerar emprimeiro piano o seu caricter de maravilhosa crOnicada «frente interne.» da Primeira Guerra Mundial, talvezo (mica grande testemunho de um ponto de vista socia-lista e revolucionário sobre os acontecimentos e as difi-culdades daquele quadriênio. Nestas paginas, e tambemnas sucessivas, o vi gor pessoalissimo e o timbre da prosade Gramsci fazem dele um classic° da literatura politicadeste seculo.

    Paolo Spriano

    42 43

  • ADVERTENCIA

    A presente colectanea a orientada fundamentalmentecorn base nas Obras de Antonio Gramsci, publicadaspelo editor Giulio Einaudi. Desenvolvemos e integrAmoslargamente as notas para melhor compreensio do texto,em relacko aos artigos ja publicados nos volumes ScrittiGiovanili, Sotto la Mole, Ordine Nuovo 1919-1920 eSocialism° e Fascism°. Dos escritos de 1924 a 1926,publicados numa volume das Obras corn o titulo LaCostruzione del Partido Comunista 1923-1926, forne-cem-se aqui alguns dos textos mais importantes (rela-t6rios, artigos publicados no Unita e na terceira seriede Ordine Nuovo). 0 ensaio Alcuni Temi della QuistioneMeridionale e publicado corn base na Ultima edigko diri-gida por Franco de Felice e Valentino Parlato (EditoriRiuniti, Roma, 1966). Desejamos agradecer, pela ajudafornecida, aos responsfiveis pelas edigOes Einaudi (emparticular Elsa Fubini) e a direceäo do Institute AntonioGramsci Cabe-nos tambem a obrigacdo de recordar oprecioso trabalho de Giansiro Ferrata para o primeirovolume de 2000 Pagine di Gramsci (casa editora,Saggiatore, mirdo, 1964) que nos foi muito titil con-frontar.

    P. S.

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  • CRONOLOGIA BIOGRAFICA (•)

    1891

    22 de Janeiro: nasce em Ales (Cagliari) de familiapequeno-burguesa. 0 pad, Francesco (n. em Gaeta em1860), é procurador distrital de Ghilarza. A mae, Giu-seppina Marcias (n. em Ghilarza em 1861), pertence auma familia abastada da ilha. Antonio (Nino) é o quartode sete filhos.

    1892

    A familia transfere-se para SOrgono (Nuoro).

    1894-1895

    Remonta, a estes anos uma queda de Antonio, a qualvem atribuida a sua deformagio fisica.

    1897-1898

    Francesco Gramsci, envolvido num processo judicial,perde o emprego, a julgado e condenado. A mae, com os

    (•) A cronologla blografica fed organizada por Elsa rublnl.

    47

  • Obtendo-a, inscreve-se na Faculdade de Letras da Uni-versidade de Turim. Do mesmo concurso participa Pal-miro Togliatti, que se inscreve na Faculdade de Direito.

    sete filhos, transfere-se para Ghilarza, habitando emcasa da firma Grazia, onde, corn trabalhos de costura,prove ao sustento da familia. Antonio frequenta a escolaelementar.

    1912-19131903

    Consegue o diploma elementar. Para ajudar a fami-lia, trabalha per dais anos no Institute Cadastral deGhilarza, made a empregado o innio mais velho, Gennaro.Estuda como autodidacta.

    1905-1908

    Gragas a ajuda da mae e das très irmas, frequenta asintimos tres anos do Ginisio (") em Santu Lussurgiu,nito longe de Ghilarza. Obtem em Oristano o diplomarespectivo.

    1908-1911

    Frequenta o liceu Dettori, de Cagliari. Vive cornGennaro, contabilista numa fibrica de gelo e tesoureiroda tars de trabalho local, depois secrethrio da secgdosocialists. Torna-se correspondente em Aidomaggiore(pequeno centro nas proximidades de Ghilarza) do jor-nal independente Unione Sarda, de Cagliari. Em 26 deJulho publica-se a sua primeira correspondencia, assi-nada. «gb.

    1911

    Conseguido no Vera° o diploma liceal, concorre aum* balsa de estudo do colegio Carlo Alberto de Turim.

    (") Correspondente a escola media superior, antes daextract& no llceu. (N. do T.)

    Entre continuos restrigOes econemicas, que agravamas ji percerias condig5es de safide, frequenta curses dasFaculdades de Letras e de Direito. Estabelece os pri-meiros contactos corn o movimento socialista de Turime, em particular, com os jovens do «Fascio Centrale).Provavelmente ao Outono de 1913, remonta a sua ins-crigeo na secge.o socialista de 'Purim.

    1914

    18 de Outubro: intervem, no Avanti!, no debatesabre a posigio dos socialistas perante a guerra, cam oartigo intitulado Neutralidade Activa e Operant; empolemica corn Tasca, que a favorfivel a neutralidadeabsoluta. 0 artigo a reproduzido em 31 de Outubro noGrido del Popolo, dirigido por Gieuseppe Bianchi. Sofrede um grave esgotamento nervosa que influi no anda-mento dos estudos.

    1915

    Depois do exame de Literatura Italiana, abandona osestudos universithrios. Retoma no Outono a colaboragdono Grido del Popolo e, per volta do firn do ano, comegaa fazer parte da redacgdo do Avanti!

    1916

    Desenvolve intensa actividade jornalistica como cro-nista teatral e redactor de notas de costumes (Sotto laMole) no Avanti!

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  • 1917

    11 de Fevereiro: organiza a publicagaio do Damenanico da Federagao Juvenil Socialists, La Cita, Futura.Depois da sublevagao operasia de 23-26 de Agosto eda prisao de quase todos os exponentes socialistas deTurim, torna-se secretario da comissao executiva pro-visaria da secgao de Turim e assume a direcgio doGrido del Popolo. 18-19 de Novembro: participa em Flo-renga numa reuniao clandestina da efracgao intransi-gente revolucionazia, onde, corn Bordiga, sustenta anecessidade de uma intervenglo activa do proletariadona crise determinada pela guerra. Dezembro: prop5e acriagao, em Turim, de uma associagao proletaria decultura e, corn outros jovens (Carlo Boccardo, AttilioCarena, Andrea Viglongo), funda um «clube de vidamoral).

    1918

    19 de Outubro: com uma conclusao de Gramsci,Grido del Popolo cessa a publicagao. 5 de Dezembro: saio primeiro naniero da edigao torinesa do Avanti! ; redac-tor-chefe: Ottavio Pastore; redactores: Gramsci, Leo-netti, Togliatti.

    1919

    Sai o primeiro namero da revista L'Ordine Nuovo,semanario de cultura socialista, por iniciativa deGramsci, Tasca, Terracini e Togliatti. G. é secretariode redaccao, praticamente director. Maio • é eleito paraa comissao executiva da secgao socialista de Turim,dirigida pelo abstencionista Boero. Julho: durante agreve politica de solidariedade corn as repablicas comu-nistas de Rassia e Hungria, é preso e enviado para aprisao de Carceri Nuove, de Turim. Outono: a anima-dor do movimento dos iKconselhos de fibrica3, e tomaparte activa na cescola de cultura), promovida pelarevista.

    1920

    Abril: no inicio da greve dos metalargicos de Turim,espalha urn documento critico pars a renovagio doPartido Socialista Italian, que, no II Congresso daInternacional Comunista, Lenine considerari como - abase para o desenvolvimento do movimento. Procuraurn contacto com Bordiga para uma plataforma comumde oposigâo no interior do Partido Socialista. Junho--Julho: desenvolve-se o choque aberto entre G. e Tascasobre o problema dos conselhos de fabrica. Atrave:s doOrdine Nuovo apoia a iniciativa para a constituigio dos«grupos comunistas de fibrica). Agosto: forma umpequeno grupo de «educagäo comunistax. na secgão dePurim. Setembro: participa no movimento pant a ocupa-gdo das fabricas. 28-29 de Novembro: participa numconvenio, em Imola, onde se constitui oficialmente afracgão comunista chefiada por Bordiga. Dezembro:desloca-se a Ghilarza por ocasi50 da morte da irm5.Emma. 24 de Dezembro: sai o Ultimo mimero do OrdineNuovo semanfirio.

    1921

    1.° de Janeiro: sai em Turim o primeiro /lamer° doOrdine Nuovo quotidiano, de que G. é director. 15,21Janeiro: participa em Livorno no VII Congresso doPartido Socialista e na fundagao do Partido Comunistade Italia, secgao da DI Internacional. Faz parte doComita Central do novo partido. E apresentado, pelaprimeira vez, como candidato do P. C. I. as eleigOespoliticas de 15 de Maio, mas nao é eleito.

    1922

    20-24 de Margo: participa no II Congresso do P. C. I.,realizado em Roma, onde apresenta as teses sobre aquesta° sindical, escritas de colaborag5.0 corn Tasca.Intervêm na discussio sobre a alianga do trabalho esobre a tactica da frente Unica. 25 de Margo: por deci-sdo do Comit6 Central 6 enviado a Moscovo como repre-

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  • sentante do Partido junto da Internacional. 3 de Junho:chega a Moscovo corn Bordiga e Gennari. 7-11 de Junho:participa na segunda conferencia do executivo alar-gado da Internacional. Verdo: a internado na clinicsSerebjanyj Bor, perto de Moscovo, onde conhece JuliaSchucht (Julka). 5 de Novembro-5 de Dezembro: parti-cipa no IV Congresso da I. C. Faz parte da comissio defusio (entre o P. C. I. e o P. S. I.), juntamente cornScoccimarro e Tasca (pelos comunistas), e Maffi, Serratie Tonetti (pelos socialistas).

    1923

    Fevereiro: em Italia, e emitido contra G. um man-dato de captura. 12-23 de Junho- participa em Moscovo,juntamente corn Scoccimarro, Tasca, Terracini e Votana terceira conferéncia do executivo alargado da I. C.,onde intervêm na comissko «para a questa° italianax'.4 de Dezembro: chega a Viena, onde se estabelece. Iniciauma assidua correspond6ncia corn Terracini, Togliatti,Leonetti, Scoccimarro e Tresso, para encontrar umasolugko a crise intern que mina o grupo dirigente doP. C. I.

    1924

    12 de Fevereiro: sai em Milko o primeiro mimero deUnita, quotidiano dos operóxios e dos camponeses ( de-pois de 12 de Agosto, Oita° do P. C. de ItAlia), titulosugerido por G., em Viena. 1.° de Margo • sai em Romao primeiro manaero do quinzenkrio L'Ordine Nuovo, re-vista de politica e de cultura operkria, III tie, escritoquase inteiramente por G. 6 de Abril: G. 6 eleito depu-tado nas provincias do Veneto-Venezia Giulia. 12 deMaio: volta a Italia. Segunda metade de Julho: parti-cipa na primeira confer6ncia nacional do Partido quese realiza clandestinamente nas montanhas de Comasco.0 relatOrio a desenvolvido por Togliatti. Na sua inter-vengdo, G. critica a linha politica de Bordiga, mas amaioria apoia as posigOes bordiguianas. G. entra parao Comit6 Executivo do Partido. Junho: transfere-se para

    Roma. Durante a crise que se segue ao delito Matteotti,participa nas reuniOes das oposigOes parlamentares, ondeprop5e urn apelo as massas e uma greve politica geral.Fins de Outubro: desloca-sea Sardenha, onde em 26dirige urn convenio de algumas secgOes do Partido 0.n2Punta Is Arenas, perto de Cagliari. Ali passa algunsdias na casa paterna. 2 a sua Ultima viagem a Sardenha.

    1925

    Fevereiro: conhece em Roma a irma de Julia, Ta-tiana. 21 de Margo-6 de Abril: