Património, Centros Históricos e Arquitectura - PÚBLICO

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Patrimnio, centros histricos e arquitectura - PBLICO 31-07-2014

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Patrimnio, centros histricos e arquitecturaPor Jos Ferro Afonso

30/07/2014 - 08:15

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Tpicos1. Porto2. Arquitectura3. Patrimnio

H poucas semanas, a fachada principal da Reitoria da Universidade do Porto, voltada aos Lees, foi completamente revestida porum enorme painel publicitrio.

Afinal, o Centro Histrico do Porto foi considerado pela UNESCO Patrimnio Cultural da Humanidade em 1996 e uma situaocomo essa, de que responsvel o maiss importante organismo cultural da cidade a Universidade , pelo menos inslita. AReitoria, antiga Academia da Marinha e Comrcio, um dos mais importantes exemplares da arquitectura neoclssica portuguesae o seu embrulho Christiano reveladora da ideia de mercantilizao que se apoderou da palavra patrimnio.

A reitoria est, porm, longe de ser um caso nico. A mercantilizao presidiu igualmente a uma srie de intervenes que, emtempos recentes, ocorreram no centro histrico. Entre elas sobressai, pela sua violncia, a renovao do quarteiro das Cardosas,levada a cabo pela SRU operao abertamente condenada pela UNESCO que fez desaparecer o claustro do antigo convento

de Santo Eli e destruiu uma srie de fachadas traseiras de habitaes, algumas delas quinhentistas, cujas frentes se voltam para arua das Flores. Em seu lugar, ergueu-se um conjunto de alegres e piturescos cenrios, revestidos a azulejo multicor, que fazeminveja ao Portugal dos Pequeninos. A mercantilizao, obrigatoriamente imitativa, tem outros exemplos; a retirada recente, na ruada Bainharia, de um dos nicos prticos de arquitectura renascentista existentes no Porto e a sua substituio por um ersatz emgranito polido um dos mais preocupantes. Noutros casos, as intervenes revelam da mais pura ignorncia: o revestimento daescarpa das Escadas do Colgio, frente igreja de S. Loureno, por uma rede metlica, deturpou por completo o profundosimbolismo clssico do conjunto, em que a obra da natureza a escarpa era enquadrada pela do homem a escada.

Uma cidade um organismo vivo. Resulta de uma sucesso estratigrfica muito prxima, escrita e reescrita por geraessucessivas. As preocupaes sociais, econmicas, estticas e simblicas do homem esto na origem dessa sucesso. Assim, asdemolies, como as reconstrues, fazem parte de um processo que no se pode pr em causa; foram e sero sempre um dosmotores da paisagem urbana. Quando necessrias, devem avanar; sem essa renovao, o imobilismo congelado dos parquestemticos invade os centros histricos. A esta imobilidade conduziu o conceito de patrimnio, encarado como sntese globalizante;a preocupao em substituir o original por duplos andrides uma consequncia desse processo. A essa viso burocrtica esinttica deve substituir-se, portanto, a proximidade analtica do primado da arquitectura e do projecto. O que implicar oreconhecimento de que o conceito de patrimnio, cada vez mais indexado aos centros urbanos antigos, se foi, em determinadapoca, instrumental e extremamente til, rapidamente degenerou, por questes que lhe eram intrnsecas e foram exponenciadas emanipuladas pelo poder poltico.

Regressando ao caso do embrulho da reitoria: devemos retirar das cidades os painis, feitos de conceitos grandiloquentes, quecompletamente as desfiguram

Docente da Escola das Artes da Universidade Catlica Portuguesa, no Porto

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