Teoria Da Responsabilidade

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UNIFAE DULCILENI GONÇALVES FERREIRA DA SILVA A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA TEORIA DA RESPONSABILIDADE DE HANS JONAS CURITIBA 2007

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A Responsabilidade Social agrega as mais importantes teorias que podem ajudar uma boa administração.

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  • UNIFAE

    DULCILENI GONALVES FERREIRA DA SILVA

    A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA TEORIA DA

    RESPONSABILIDADE DE HANS JONAS

    CURITIBA

    2007

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    DULCILENI GONALVES FERREIRA DA SILVA

    A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA TEORIA DA

    RESPONSABILIDADE DE HANS JONAS

    Dissertao apresentada UNIFAE, Centro Universitrio Franciscano do Paran, para a obteno do grau de Mestre em Organizaes e Desenvolvimento.

    Orientador: Prof. Dr. Osmar Ponchirolli

    CURITIBA

    2007

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    DULCILENI GONALVES FERREIRA DA SILVA

    A RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL NA TEORIA DA RESPONSABILIDADE DE HANS JONAS

    Esta dissertao foi julgada e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadmico Multidisciplinar em Organizaes e Desenvolvimento da UNIFAE - Centro Universitrio Franciscano.

    Curitiba, 12 de outubro de 2007.

    Prof. Dr. Jos Edmilson de Souza Lima Coordenador do Curso

    Banca Examinadora:

    Prof. Dr. Osmar Ponchirolli Orientador

    UNIFAE - Centro Universitrio Franciscano

    Prof.. Dr.. Ana Maria Coelho Pereira Mendes Examinador Interno

    UNIFAE - Centro Universitrio Franciscano

    Prof. Dr. Sidney Reinaldo da Silva Examinador Externo

    Universidade Tuiuti do Paran

    Prof.. Dr.. Lcia Izabel C. Sermann Suplente

    UNIFAE - Centro Universitrio Franciscano

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    O verdadeiro mestre aquele capaz de reconhecer, no aluno, um ser cheio de

    questionamentos, muitas vezes irrelevantes, porm sempre vido de conhecimento e,

    apesar de tudo, ter por este ser RESPEITO.

    Eliva, 2006.

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    AGRADECIMENTOS

    A minha Santa protetora, Nossa Senhora do Perptuo Socorro, por me

    iluminar em todas as situaes...

    A meu esposo dson, companheiro que me apia e encoraja sempre em minhas decises...

    As minhas filhas Tassiana e Bruna, duas das grandes razes de meu viver, por

    compreenderem a minha ausncia em alguns momentos...

    A minha famlia que me impulsionou a perseguir meus objetivos...

    Aos meus amigos do mestrado Kharina, Emlio, Pedro, Fabiano e Luciane que

    sempre me apoiaram e deram fora em momentos difceis...

    Ao meu orientador Osmar Ponchirolli, por acompanhar e orientar com

    pacincia este trabalho com o qual me identifico e me orgulho de t-lo feito...

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    RESUMO

    A presente dissertao trata de uma pesquisa de natureza qualitativa exploratria do tipo Estudo de Caso que tem como objetivo analisar a responsabilidade social empresarial segundo a teoria da responsabilidade de Hans Jonas. O estudo ser subdividido em trs objetivos especficos: a) Descrever os princpios da responsabilidade segundo Hans Jonas; b) Analisar a evoluo da responsabilidade social empresarial; c) Verificar a importncia da responsabilidade scio-ambiental; d) Verificar a contribuio da responsabilidade social empresarial para o desenvolvimento sustentvel. Na coleta de dados e anlise de dados da pesquisa emprica, foi utilizado o mtodo DSC (Discurso do Sujeito Coletivo) elaborado atravs de entrevistas com os funcionrios da instituio selecionada para o estudo, onde se utilizaram dados primrios e, em seguida, foi feita a anlise dos dados atravs da verificao da relevncia da responsabilidade social empresarial para o desenvolvimento sustentvel, exemplificando os programas adotados pela instituio posteriormente detalhados no apndice da pesquisa. Para o universo deste estudo, foram considerados todos os funcionrios de uma instituio bancria, inseridos em uma agncia da regio de CuritibaPR, sendo a populao selecionada atravs de alguns funcionrios do departamento financeiro, acoplados nesta mesma agncia. A abordagem deste tema tem como relevante importncia dos programas sociais, abordagem esta vista atravs de outro foco, ou seja, atravs da teoria de responsabilidade de Hans Jonas.

    Palavras-chave:responsabilidade social; percepo, comportamento humano; desenvolvimento sustentvel.

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    ABSTRACT

    The present work consists of a qualitative exploratory research, made as a case study which aims to analyse the managerial social responsibility according to the Responsibility Theory of Hans Jonas. The present work has three different specific objectives: a) To describe the principles of responsibility according to Hans Jonas; b)Analyse the evolution of the corporate social responsibility; c)To verify the importance of the social-environmental responsibility; d) To verify the contributions made by the adoption of the corporate social responsibility to the sustainable development; During the data collection and analysis of the empiric research, we used the DSC method (Collective subject speech), which was made using the information obtained with interview that were made with the employees of the selected institution. From these interviews we obtained the primary data and then after that the data were analysed through the verification of the remakability of the corporate social responsibility to the sustainable development, mentioning the programmes adopted by the institution and which were, later on, detailed in the appendix of the research. As universe of this study, we considered all the employees of a bank institution. And to select the sample we chose the employees of one specific agency located in Curitiba- PR. The approach of this object is relevant due to the importance of the social programmes analysed ubder a different point of view: the responsibility theory of Hans Jonas.

    Key-words: Social responsibility, perception, human behavior, sustainable development.

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    SUMRIO

    INTRODUO .............................................................................................................1

    1 FUNDAMENTOS TERICOS.................................................................................5 1.1 PRINCPIOS DA RESPONSABILIDADE............................................................................5

    1.2 EVOLUES DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ............................................14 1.2.1 Responsabilidade social no Brasil ........................................................................16

    1.2.2 Voluntariado .........................................................................................................19

    1.2.3 tica empresarial ..................................................................................................21 1.2.4 Responsabilidade Social x Filantropia (assistencialismo)....................................22 1.2.5 Balano Social ......................................................................................................24

    2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL ....................................................26

    2.1 PERCEPO ..............................................................................................................34

    2.2 CONSCIENTIZAO SOCIAL......................................................................................36

    2.3 VALORES ..................................................................................................................37

    2.4 INFLUNCIA NA FORMAO DE OPINIES ...............................................................38

    2.5 COMPROMISSO COM OS FUNCIONRIOS...................................................................40

    2.6 DESENVOLVIMENTO SUSTENTVEL.............................................................41 2.6.1 Dimenso Espacial ...............................................................................................42

    2.6.2 Dimenso Cultural................................................................................................43

    2.6.3 Dimenso Social ...................................................................................................43

    2.6.4 Dimenso ambiental .............................................................................................45

    2.6.5 Dimenso Econmica...........................................................................................46

    2.6.6 Responsabilidade Social x Sustentabilidade ........................................................49

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS ..........................................................51 3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO...........................................................................52

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    3.2 LOCAL DO ESTUDO.............................................................................................53

    3.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ...........................................................................56

    3.4 COLETA DE DADOS.............................................................................................56

    4 ANLISES DOS DADOS........................................................................................59

    4.1 ANLISE E DISCUSSO DAS ENTREVISTAS .................................................60

    CONCLUSO..............................................................................................................74

    ANEXOS.......................................................................................................................76

    REFERNCIAS ..........................................................................................................98

  • INTRODUO

    Pode-se dizer que os primeiros anos deste milnio esto cheios de novidades:

    o mundo no mais dividido em capitalismo x socialismo; no processo de

    globalizao, a internet um mecanismo extremamente facilitador de contato, e

    algumas questes so mais discutidas do que outras. Tem-se ouvido muito sobre um

    assunto que, apesar de no ser novidade, tem-se difundido pelo mundo e ganhou

    ateno especial nos ltimos tempos: a Responsabilidade Social.

    s universidades, cabe promover todas as formas de conhecimento interativo com os problemas humanos da realidade moderna, bem como cuidar para que este

    conhecimento esteja voltado, efetivamente, para melhoria da qualidade de vida. Por meio das pesquisas de ps-graduao, o Mestrado em Organizaes e

    Desenvolvimento tem como linha de atuao, entre outras, o estudo das Empresas

    Socialmente Responsveis e algumas dissertaes j realizadas por outros pesquisadores na rea de responsabilidade scioambiental e voluntariado.

    Segundo Ashley (2002), so muitas as interpretaes da expresso responsabilidade social e que, para alguns, o aspecto legal o mais relevante e

    representa um dever fiducirio. Para outros, uma funo social da empresa, e h

    quem considere responsabilidade social um comportamento eticamente responsvel.

    Entretanto, primeiramente necessrio que a populao se conscientize dos

    problemas, tanto individuais quanto globais. A importncia da conscientizao est no

    seguinte: a partir do conhecimento da necessidade do outro, as pessoas podem

    desenvolver seu senso de responsabilidade e, ento, agir.

    Nesse sentido, Hans Jonas (1979, p.18) prope um princpio de responsabilidade: Age de tal maneira que os efeitos de tua ao sejam compatveis com a permanncia de uma vida humana autntica, que surge como um referencial

    terico, aquecendo o debate acerca do compromisso social garantindo um mundo

    vivel para as prximas geraes.

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    No atual momento, nas circunstncias em que se vive, quando o planeta e o ser

    humano esto perigosamente ameaados, a reflexo de Hans Jonas extremamente

    pertinente e iluminadora. Somente com a tica que responsabilize a todos, pode-se

    cumprir o papel de apontar os valores e os fins a serem perseguidos e utilizar os meios

    como aquilo que realmente so sem transform-los em fins em si mesmos.

    Nesse contexto, a proposta de tomada de conscincia e atuao pode ser

    levada para as organizaes atravs de pesquisas sobre responsabilidade social.

    As empresas socialmente responsveis so consideradas agentes relevantes no

    processo do desenvolvimento, por isso torna-se essencial analisar a participao delas

    atravs dos programas sociais e a compreenso dos funcionrios a respeito da forma

    como interagem com o desenvolvimento sustentvel.

    Segundo Melo Neto e Froes (2001), uma empresa socialmente responsvel aquela que investe no bem-estar dos funcionrios e dependentes e num saudvel

    ambiente de trabalho, alm de preservar o meio ambiente e investir em aes sociais.

    Este conceito tem duas dimenses: o foco no pblico interno (Responsabilidade Social Interna) e na comunidade (Responsabilidade Social Externa).

    Ashley (2002) defende que responsabilidade social pode ser definida como o compromisso que uma organizao deve ter para com a sociedade, expresso por meio

    de atos e atitudes que a afetem positivamente, de modo amplo, ou a alguma

    comunidade, de modo especfico, agindo pr-ativa e coerentemente no que se refere ao

    seu papel especfico na sociedade e sua prestao de contas para com ela.

    Uma postura ativa em relao aos problemas sociais gera, de um lado, ganhos

    para a parcela da sociedade que beneficiada e, de outro, melhorias na imagem da

    organizao diante da sociedade. H tambm a possibilidade de aprendizado e

    desenvolvimento pessoal para aqueles funcionrios que participam em aes ou

    programas sociais.

    Um funcionrio comprometido com a empresa considerado um

    multiplicador de servios, voluntrios ou no, comunidade. Satisfeito com o que lhe

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    foi proporcionado, retribui com produtividade na empresa e colabora nos programas de

    responsabilidade social da organizao.

    Gomes (2002) afirma que, quando uma empresa investe em projetos sociais que beneficiam a comunidade e os seus funcionrios, tem o maior retorno em termos

    de lucro, inclusive porque os funcionrios de uma empresa cidad sentem-se

    estimulados a desempenhar um pleno papel de cidado desenvolvendo a sua

    capacidade de tomar decises e conviver em grupo.

    Se a empresa na qual o indivduo trabalha oferece creche, escola, assistncia

    mdica, entre outros benefcios para ele e para a sua famlia, os problemas desse

    funcionrio, fora da empresa, tornam-se menores. Funcionrios menos preocupados

    com problemas essenciais (educao dos filhos, segurana e sade) tendem a trabalhar mais e proporcionar menos perdas.

    O conhecimento dos direitos e deveres dos indivduos afasta a violncia,

    alcana o comprometimento do cidado com o futuro do Pas. A autonomia e a

    sustentabilidade de qualquer projeto ou ao social dependem da capacidade de gerar co-responsabilidade e protagonismo dentro da comunidade, fortalecendo sua

    capacidade de articulao e gerando um campo de participao e solidariedade.

    A abordagem deste tema tem como relevante a importncia da

    responsabilidade social empresarial vista atravs de outro foco, ou seja, atravs da teoria de responsabilidade de Hans Jonas, reconhecendo tambm a necessidade de

    procurar solues para as questes sociais, pressupondo-se que a atuao responsvel

    dos funcionrios e das organizaes baseadas na teoria de Hans Jonas, que pode ser

    uma resposta a esse desafio, apresenta como questo norteadora para o estudo: Qual a importncia da concepo de responsabilidade de Hans Jonas para a compreenso da responsabilidade social empresarial?

    O objetivo geral desta pesquisa, pretende: analisar a responsabilidade social empresarial a partir da teoria da responsabilidade de Hans Jonas.

    Como objetivos especficos o estudo prope-se a:

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    Descrever os princpios da responsabilidade segundo Hans Jonas;

    Analisar a evoluo da responsabilidade social empresarial;

    Verificar a importncia da responsabilidade socioambiental;

    Verificar a contribuio da responsabilidade social empresarial para o

    desenvolvimento sustentvel.

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    1 FUNDAMENTOS TERICOS

    1.1 PRINCPIOS DA RESPONSABILIDADE Quando o ser humano busca desesperadamente maneiras que o ajude a

    continuar vivendo uma vida digna e que continue merecendo o nome de humana,

    fundamental que pesquisadores busquem algumas alternativas, baseando-se em autores

    clssicos como o filsofo Hans Jonas. Assim, ser descrita neste trabalho uma

    interpretao da sua obra e a correlao com o tema responsabilidade social

    empresarial.

    Seguindo a linha do pensamento do filsofo Hans Jonas, cuja contribuio terica parece responder aos crescentes desafios trazidos pela modernidade

    tecnolgica, Jonas (2006) prope ao pensamento e ao comportamento uma nova tica. A tica tradicional, segundo ele, fundava-se e acontecia apenas dentro dos limites do

    ser humano, no afetando a natureza das coisas extra-humanas. Natureza no era

    objeto da responsabilidade humana, pois cuidava de si mesma. A tica tinha a ver apenas com o aqui e o agora.

    A tica da responsabilidade, segundo Jonas (2006), tem como caracterstica combater o defeito mais forte e favorecer o lado menos beneficiado pelas

    circunstncias. Sendo assim, a tica est sempre ao lado dos fracos e contra os fortes,

    bem como dos que conspiram contra os que j a possuem. Para que haja responsabilidade, preciso existir um sujeito consciente, porm

    o imperativo tecnolgico elimina a conscincia, o sujeito, a liberdade de um determinismo. O avano das cincias mutila e desloca a noo mesma de ser humano.

    Esse pensamento cruzado entre os avanos cientficos e a reflexo tica fez com que

    Jonas (2006) propusesse novas dimenses para a responsabilidade, pois a tcnica moderna introduziu aes de magnitudes to diferentes, com objetivos e conseqncias to imprevisveis, que a tica anterior j no mais pode cont-los.

  • 6

    Entretanto, Jonas (2006) prope um imperativo de responsabilidade: Age de tal maneira que os efeitos de tua ao sejam compatveis com a permanncia de uma autntica vida humana sobre a Terra (p.18), ou formulado negativamente, no ponhas em perigo as condies necessrias para a conservao indefinida da

    humanidade sobre a Terra. Ao formular o seu imperativo de responsabilidade tornado

    princpio, Jonas est pensando menos no perigo da pura e simples destruio fsica da

    humanidade, mas sim na sua morte essencial, aquela que advm da destruio e da

    aleatria reconstruo tecnolgica do homem e do ambiente.

    O imperativo afirma que se pode arriscar a prpria vida, mas no a da

    humanidade, ou seja, as aes do todo coletivo assumem caractersticas de universalidade na medida real de sua eficcia. Estas aes totalizam a si prprias na

    progresso de seu impulso, ampliando os resultados do estado das coisas.

    Jonas (2006) defende a criao de uma teoria de responsabilidade, que estaria baseada em categorias de bem, de dever e de ser, e sua origem estaria na relao

    parental.

    Na linha de pensamento de Jonas (2006), a natureza nova do agir exige uma tica de responsabilidade de longo alcance, proporcional amplitude do poder, ento,

    tambm exige uma espcie de humildade, pois h um excesso no poder de fazer sobre

    o poder de prever e conceder valor e julgar. O prprio desconhecimento das conseqncias motivo para uma conteno responsvel - a melhor alternativa, a falta

    da prpria sabedoria.

    Nesta diferente maneira de agir, h outra noo de responsabilidade, uma

    determinao do que se tem que fazer, uma virtude pela qual eu me sinto responsvel,

    no por minha conduta e suas conseqncias, mas pelo objeto que reivindica meu agir (Jonas, 2006, p.20). Responsabilidade, por exemplo, pelo bem-estar de outros, considerando determinadas aes no s do ponto de vista da aceitao moral, mas

    sem nenhum outro objetivo.

  • 7

    Segundo Jonas (2006), h muitas formas de se enxergar responsabilidade, entre elas, pode-se citar, em relao humanidade futura, que se trata de um dever,

    independentemente do fato de que nossos descendentes diretos estejam entre ela; um dever em relao ao seu modo de ser, sua condio. O primeiro inclui o dever da

    reproduo e concomitantemente o dever bsico para com o futuro da humanidade.

    Estes deveres podem ser subordinados tica da solidariedade que se transforma numa

    responsabilidade particular por causa do nosso papel de autores da sua condio.

    Jonas (2006) afirma que a promessa da tecnologia moderna concebida para a felicidade humana, a submisso da natureza, atualmente, devido ao do homem, se

    converteu em ameaa. Ele ainda afirma: Nada se equivale no passado ao que o

    homem capaz de fazer no presente e se ver impulsionado a seguir fazendo, no

    exerccio irresistvel desse seu poder. (p.24) Na dinmica do avano tecnolgico, h necessidade de retomar alguns pontos

    de vista: as antigas questes sobre relaes entre ser e dever, causa e finalidade,

    natureza e valor, fundamentar no Ser o bem ou o valor que, de acordo com sua

    prpria definio, esse bem ou valor, quando existe por si mesmo e no graas a

    desejo, necessidade ou escolha, algo cuja possibilidade contm exigncia de sua realizao. Com isso, torna-se um dever, desde que haja uma vontade que assuma essa exigncia e trate de realiz-la.

    Os mesmos pontos de vista entre ser e dever poderiam ser citados no contexto

    do tema responsabilidade social empresarial, atravs da tica e da conscincia, ou seja, transformaes que acarretam mudana na natureza do agir humano.

    Um dos princpios que regem a modernidade tecnolgica a razo

    instrumental, o agir para determinados fins e a tecnologia moderna que se estrutura a

    partir de aes, prticas e instituies orientadas para a obteno desses fins, e

    geralmente esses princpios so atrelados a interesses econmicos, sabendo-se que a

    maioria das decises associadas s tecnologias e seus usos tm um forte impacto social

    ou ambiental e muitos resultados negativos imprevisveis.

  • 8

    Para Jonas (2006), a ao humana tecnologicamente potencializada pode danificar irreversivelmente a natureza e o prprio ser humano, surge ento uma nova

    dimenso para a responsabilidade no prevista pelas ticas tradicionais, que seja capaz de interagir com novas ordens de grandeza em termos de conseqncias futuras para o

    agir humano.

    Se anteriormente o brao curto do poder humano no exigia um longo brao

    e de conhecimento preditivo, agora a conscincia no agir, em todas as suas etapas e

    desdobramentos futuros, passe a se opor a posturas imediatistas e fragmentadas.

    (Jonas, 2006 , p.26) Diante da natureza como uma responsabilidade humana, os deveres, os

    interesses devero ser revistos com mais cautela, pois, de acordo com Jonas (2006, p. 28), no existe nada melhor que o sucesso, e nada nos aprisiona mais que o sucesso. Ainda afirma que o homem atual cada vez mais o produtor daquilo que produziu e o

    feitor daquilo que ele pode fazer; mais ainda, o preparador daquilo que ele, em

    seguida, estar em condies de fazer.

    Portanto, o homem amplamente responsvel pelos seus atos, dever estar

    consciente das conseqncias provveis, e ainda estar colhendo no futuro o fruto da

    semente que est plantando no presente. Entretanto, as aes devem ser coletivas,

    transferidas de um eu individual para um todos imaginrio e ainda o imperativo

    adequado ao novo tipo de agir humano que defende poder-se arriscar a prpria vida,

    mas no a da humanidade, ou seja, no se tem o direito de escolher a no existncia de futuras geraes em funo da existncia atual, ou mesmo de as colocar em risco.

    Quando se relacionam com o tema de responsabilidade social, as aes individuais so conceituadas como assistencialismo ou filantropia; porm, quando

    transferidas de um eu individual para um todos imaginrio, conceitua-se como

    responsabilidade social, porque so estabelecidos valores e so aes coletivas, que

    resultam em melhores resultados.

  • 9

    Jonas (2006) comenta que o saber cientfico significa pensar no futuro, com base nas primeiras verdades filosficas, a partir das quais se retorna s aes atuais,

    avaliando-as como causa e conseqncia, provveis ou possveis do futuro, que

    chamado pelo autor de futurologia comparativa.

    A partir deste pressuposto de futurologia comparativa, afirma que as

    perspectivas de longo prazo, sendo atraentes ou ameaadoras, fazem parte da essncia

    e do dever humano e, em termos ticos e conhecendo os princpios, no se pode pr

    em risco o interesse de todos e principalmente de suas vidas. Nunca existe uma razo

    para apostar entre ganhar ou perder tudo; mas pode ser moralmente justificado, ou at mesmo imperativo, tentar salvar o inalienvel, correndo o perigo de perder tudo na

    tentativa.

    Em relao aos riscos da tecnologia, se exclui no mbito dessa autorizao,

    pois estes no so assumidos com a finalidade de salvar o que existe ou abolir o

    insuportvel, mas para melhorar permanentemente o j alcanado, ou seja, o progresso que uma necessidade. Jonas (2006) afirma que se pode discutir a respeito do direito individual ao suicdio, mas no a respeito do direito de suicdio por parte da

    humanidade. De acordo com o princpio tico fundamental, a existncia ou a essncia

    do homem, em sua totalidade, nunca podem ser transformadas em apostas do agir.

    Sendo o progresso necessrio, a responsabilidade sobre o agir individual, ou

    por interesses prprios, no vai ao encontro do princpio tico fundamental. Ocorre

    tambm nas empresas quando por interesse atuam com objetivos diferentes da sociedade, pensando unicamente em lucros ou marketing social.

    Segundo Jonas (2006), o princpio no poder obtido pela idia tradicional de direitos e deveres, mas pela idia baseada na reciprocidade, onde o dever a imagem

    refletida no dever alheio, de modo que, uma vez estabelecidos certos direitos do outro,

    tambm se estabelece o dever de respeit-los. Quando se trata de moral tradicional, tem-se um caso de responsabilidade e obrigao elementar no recproca e que

    reconhecido e praticado espontaneamente: a responsabilidade com os filhos.

  • 10

    provvel que se espere deles uma recompensa pelo amor e pelos esforos despendidos,

    mas esta no precondio para tal e, ao contrrio, incondicional.

    Nesse momento se encontra o exemplo de todo agir responsvel, que no

    necessita qualquer princpio, pois a natureza plantou solidamente em toda a

    humanidade. Mas algo diferente do dever resultante da procriao, que reivindica o

    seu direito de existncia, seria o dever de procriar, a responsabilidade em relao

    humanidade futura, independentemente do fato de que os descendentes diretos estejam entre ela.

    Esta reciprocidade comentada pelo autor vem ao encontro da reciprocidade

    que as aes sociais podem trazer aos voluntrios destas aes ou programas, da

    mesma maneira quando a pessoa est auxiliando no desenvolvimento da outra, mesmo

    ser ter qualquer grau de parentesco, acaba encontrando novos valores, cria uma

    satisfao em servir e at mesmo torna-se um dever aquilo que o entendimento

    mostrou que digno de existir por si mesmo e necessita de interveno.

    Para que algo atinja o ser humano e afete a maneira de influenciar a sua prpria vontade, preciso que seja capaz de ser influenciado por algo. O lado emocional tem que estar em questo. E da prpria essncia da natureza moral que a

    inteligncia transmita um apelo que encontre uma resposta no sentimento das pessoas.

    Este sentimento responsabilidade.

    Entre as distines da teoria de responsabilidade, Jonas (2006), so citadas pelo autor algumas fundamentais para o tema de responsabilidade social, dentre elas a

    responsabilidade causal de atos realizados, que compreendida do ponto de vista legal

    e no moral, ou seja, o agente deve responder por seus atos e os danos causados devem ser reparados, ainda que a causa no tenha sido um ato mau e suas conseqncias no

    tenham sido previstas, nem desejadas. Em outra concepo de responsabilidade, Jonas (2006) afirma que o

    verdadeiro objeto de responsabilidade o xito do empreendimento coletivo, e no o

  • 11

    bem ou mal-estar dos companheiros. De uma forma emprica, pode-se citar como

    exemplo a camaradagem entre os soldados na guerra ou a escalada de uma montanha.

    As teorias de responsabilidade de Jonas (2006) vm corroborar a responsabilidade socioambiental, no sentido do comportamento das pessoas, e no

    com uma responsabilidade moral e contratos firmados, mas existe um compromisso

    com o bem-estar de outros e que determina o agir dos envolvidos. Em relao

    responsabilidade moral, ou seja, quando se responde pelos atos realizados, mesmo que no se tenha a inteno de prejudicar nada e nem a ningum, pode-se empiricamente citar a degradao do meio ambiente cujos danos causados, muitas vezes, no so intencionais, porm isso poder ser considerado um crime e a pena dever ser

    calculada.

    Em relao responsabilidade poltica, diferentemente das outras

    anteriormente citadas, Jonas (2006) afirma que a responsabilidade de um homem pblico garantir que a arte de governar continue possvel no futuro, portanto cabe

    ressaltar que este homem pblico estaria contribuindo de alguma forma com o

    desenvolvimento sustentvel e em busca da sustentabilidade.

    De acordo com Jonas (2006), a tica no exerceu grande importncia para as teorias morais tradicionais, devido ao sentimento da responsabilidade nunca aparecer

    como elemento afetivo da constituio da vontade moral, mas por outros sentimentos

    como o amor, o respeito. A tica e a responsabilidade eram to restritas, que no se

    pensava no futuro, apenas em agir corretamente em relao ao aqui e o agora.

    As futuras geraes eram uma repetio das primeiras. Aquelas viveriam

    sempre da mesma forma, com os mesmos fundamentos. Havia necessidade das

    primeiras geraes ser bem estruturadas desde o comeo, e sua preservao era um dos

    objetivos da virtude, que representa o melhor Ser possvel dos homens, sem se preocupar com atuao em longo prazo.

    Como objeto originrio da responsabilidade, Jonas (2006) considera a criana, o recm-nascido, como simples existncia de um Ser que contm, intrinsecamente, um

  • 12

    dever para os outros, mesmo que a natureza no aparea por meio dos instintos e

    sentimentos, coisa da qual, na maioria das vezes, ela se encarrega sozinha.

    A aceitao desse encargo estaria contida no ato de procriao (mesmo que por outras pessoas), torna-se um dever irrecusvel diante de um Ser que depende inteiramente do outro. O poder de responsabilidade consiste no s em fazer, mas

    tambm na omisso, que poderia ser fatal para o recm-nascido. A responsabilidade

    muito maior do que o dever comum entre os seres humanos diante do sofrimento de

    seus semelhantes, decorre do fato de serem autores do Ser, alm de genitores, a famlia

    humana de cada momento.

    Jonas (2006) cita a respeito da responsabilidade do Estado em relao s crianas, pelo bem-estar dos cidados em geral. Ele afirma que o infanticdio um

    crime como todo assassinato, mas permitir que uma criana morra de fome constitui o

    pior pecado contra a primeira e mais fundamental de todas as responsabilidades que

    possam existir para o homem como tal. Com cada criana que nasce recomea a

    humanidade em face da mortalidade, e nesse sentido tambm est em jogo a sobrevivncia da humanidade.

    Corroborando com a responsabilidade social, pode-se concluir que o cuidado

    com as crianas muito mais que um dever, significa a origem da responsabilidade.

    Zelar pela origem de todos os homens recomear a humanidade e garantir a

    sobrevivncia dos seres humanos.

    Na luta da existncia humana, inclui-se o futuro da natureza como condio da

    sua prpria continuidade e como um dos elementos da sua prpria integridade

    existencial. Jonas (2006) reconhece que na escolha entre o homem e a natureza, o homem vem em primeiro lugar. Mesmo que se reconhea natureza a sua dignidade,

    ela deve se curvar dignidade superior do homem. Mesmo independente deste fato, o

    homem se tornou perigoso no s para si, mas para toda a biosfera, devido ao seu

    comportamento irresponsvel e atitudes imediatistas, sem viso em sustentabilidade.

  • 13

    Nesta relao entre o homem e a natureza, considera-se que se deve constituir

    uma nova ordem de forma prioritria como uma tica de emergncia voltada para o

    futuro ameaado, deve transpor para uma ao coletiva e como um dever humano,

    para que os meios no destruam os fins.

    Segundo Jonas (2006), para o desenvolvimento de uma ao coletiva, surge o progresso em direo ao melhor ou ao mais desejado. Geralmente em todas as modalidades de saber humano constituem patrimnio coletivo: a cincia e a tcnica, a

    ordem social, econmica e poltica, a segurana, as satisfaes das necessidades. Mas

    h um preo que se paga por este progresso: com cada ganho, tambm se perde algo

    valioso. O custo humano e animal da civilizao considerado alto e, com o

    progresso, tende a aumentar. Mas o autor defende que, se houvesse oportunidade de

    escolha (mesmo que na maioria das vezes no se tenha), as pessoas estariam dispostas a pagar este preo ou fazer com que a humanidade o pagasse, exceto no caso em que o

    preo privaria o empreendimento do seu significado ou ameaasse a destruio dela.

    No que se refere ao progresso cientfico, Jonas (2006) ressalta a importncia da especializao e de pesquisadores. Por causa da expanso e subdivises do

    conhecimento e a necessidade de mtodos especiais se faz necessria uma maior

    fragmentao do conhecimento total. Afirma que seguir adiante nos desafios do

    conhecimento um dever supremo e, mesmo se o preo for alto, dever ser pago de

    qualquer forma. Por tratar-se de progresso real e de carter desejvel, merece o apoio de todos.

    Seguindo o raciocnio de Jonas (2006), o homem deve confiar em si mesmo, no se deixar deter pela incerteza, assumindo-se, ao contrrio, a responsabilidade pelo

    desconhecido, dado o carter incerto da esperana, que chamado de coragem para

    assumir a responsabilidade. Afirma que a esperana uma condio de toda ao,

    pois supe fazer algo e dizer que vale a pena faz-lo em uma determinada situao.

    Um patrimnio mal preservado degradaria igualmente os seus herdeiros. A

    proteo do patrimnio em sua exigncia de permanecer semelhante aos dias atuais

  • 14

    uma tarefa de cada minuto e no permitir nenhuma interrupo nessa tarefa a melhor

    garantia de sua durao. Se ela no uma garantia, pelo menos o pressuposto da

    integridade futura da imagem e semelhana. Mas sua integridade no nada mais do

    que a manifestao do seu apelo humildade, cada vez maior por parte de seus

    representantes, sempre bastante deficientes.

    Guardar intacto tal patrimnio contra os perigos do tempo e contra a prpria

    ao dos homens no um fim utpico, mas tampouco se trata de um fim humilde.

    Trata-se de assumir a responsabilidade pelo futuro do homem.

    As aproximaes entre os princpios de responsabilidade de Hans Jonas so

    fundamentais para a reflexo sobre responsabilidade social e neste sentido apresenta-se

    nos prximos captulos a evoluo da responsabilidade social e socioambiental com as

    contribuies para o desenvolvimento sustentvel.

    1.2 EVOLUES DA RESPONSABILIDADE SOCIAL Tornou-se mais evidente a questo da responsabilidade social em 1919, com o

    julgamento pela justia americana do caso Henry Ford, presidente e acionista majoritrio da Ford Motors Company, e seu grupo de acionistas liderados por John Horace Dodge. Estes contestavam a idia de Ford, que decidiu no distribuir parte dos

    dividendos aos acionistas e investiu na capacidade de produo, no aumento de

    salrios e em fundo de reserva para a diminuio esperada de receitas devido reduo

    dos preos dos carros.

    A Suprema Corte de Michigan decidiu a favor dos Dodges, entendendo que as

    corporaes existem para o benefcio de seus acionistas e que os diretores precisam

    garantir lucros, no podendo us-los para outros fins. Assim, entendeu-se que a

    responsabilidade social corporativa e investimento na imagem da empresa para atrair

    consumidores s poderiam ser realizados medida que favorecessem os lucros dos

    acionistas (ASHLEY, 2002).

  • 15

    Na dcada de 50 nos Estados Unidos e no final da dcada de 60 na Europa, o

    meio empresarial e acadmico discute a importncia da responsabilidade social

    promovida pelas aes de seus dirigentes.

    Mas durante a evoluo da responsabilidade social, alguns estudiosos

    acreditavam que cabia ao governo, igrejas, sindicatos e organizaes no-governamentais o suprimento das necessidades comunitrias por meio de aes sociais

    organizadas e no s corporaes, que, na verdade, precisavam satisfazer seus

    acionistas.

    Nos anos 60, autores europeus se destacaram apresentando problemas sociais

    e suas possveis solues e, nos Estados Unidos, as empresas j se preocupavam com a questo ambiental e em divulgar suas atividades no campo social.

    Em 1972, foi publicado o primeiro relatrio do Clube de Roma, ou Relatrio

    Meadows, sobre os limites do crescimento, relatrio que representou o aumento da

    expanso econmica contestativa (MELO NETO e FROES, 2001). Ainda na dcada de 70, as empresas passaram a responder sobre suas

    obrigaes sociais, demonstrando para a sociedade o seu interesse sobre o tema.

    A partir dos anos 80, percebe-se que as organizaes tm-se preocupado com

    problemas que envolvem a sociedade e o meio ambiente nos quais esto inseridas,

    passando a compreender a importncia de se responsabilizarem por reas como as da

    sade, educao e moradia, as quais o Estado no tem conseguido suprir

    eficientemente.

    Com maior participao de autores na questo de responsabilidade social, na

    dcada de 90, abre-se o caminho para uma percepo de novos rumos de ao social,

    uma noo que considera a partilha de responsabilidade como necessria ao

    enfrentamento da excluso social, contribuindo de modo significativo para a definio

    do papel da organizao e a conceituao de responsabilidade social.

    Nesse mbito, o Brasil tambm teve a sua contribuio e ser detalhado a

    seguir, segundo a linha de pensamentos de alguns autores selecionados para o estudo.

  • 16

    1.2.1 Responsabilidade social no Brasil

    Em 1960, foi criada a Associao dos Dirigentes Cristos de Empresas

    (ADCE), que reconheceu a funo social da empresa associada, podendo ser considerado como incio da responsabilidade social no Brasil.

    Nos anos 80, a Cmara Americana do Comrcio de So Paulo lana, e

    promove at hoje, o prmio de cidadania empresarial. Em 1984, a Nitrofrtil destacou-se por ser a primeira empresa brasileira a publicar um balano social.

    Em 1992, o Banespa divulgou todas as suas aes sociais. Tal iniciativa

    contempornea da Eco/92, realizada no Rio de Janeiro, que discutiu a importncia do

    meio ambiente e sua preservao.

    Em 1997, o empresrio Oded Grajew, um dos fundadores da empresa Grow Jogos e Brinquedos, criou o Instituto Ethos de Responsabilidade Empresarial dedicado

    a informar, sensibilizar e mobilizar as empresas a gerirem seus negcios de forma

    socialmente responsvel (MIRANDA, 2002). O Instituto serve como ponte entre os empresrios e as causas sociais. Seu o objetivo disseminar a prtica da responsabilidade social empresarial por meio de publicaes, experincias, programas

    e eventos para os interessados na temtica.

    Para o Instituto Ethos (2004), diante da excluso social presente na estrutura da sociedade brasileira, tem sido observado nos ltimos anos que as empresas vm

    mobilizando um volume cada vez maior de recursos destinados a iniciativas sociais.

    Muitos empresrios passam a ter conscincia de que governos no podem atender

    sozinhos toda a demanda de aes provenientes da sociedade.

    Em 1999, a Cmara Municipal de So Paulo criou o selo Empresa Cidad para

    as empresas que praticam a responsabilidade social e publica o seu balano social

    (INSTITUTO ETHOS, 2004). Enfim, foram muitas conquistas que mostram o empenho das empresas em

    contribuir para uma sociedade com qualidade de vida melhor para todos.

  • 17

    O novo milnio traz consigo fatos preocupantes como a crescente

    concentrao econmica, a desigualdade social e o desequilbrio ambiental, ao mesmo

    tempo em que apresentam a alternativa proposta pela responsabilidade social.

    O bem-estar comum depende, cada vez mais, de uma ao cooperativa e

    integrada de todos os setores da economia, num processo de desenvolvimento que

    insira metas na preservao do meio ambiente e na promoo dos direitos humanos.

    Nesse contexto, relevante ressaltar a presena das empresas e de seus stake-

    holders, a promoo do desenvolvimento econmico e do avano tecnolgico, pois so

    possuidores de grande capacidade de criao e de gerao de recursos.

    Rompendo o paradigma de que as empresas s se preocupam com a gerao

    de lucros, torna-se necessria a realizao da parte que lhes cabe na responsabilidade

    social, ressaltando tambm que o consumidor est gradativamente tornando-se mais

    seletivo, preferindo empresas que realmente se integram comunidade.

    Para contribuir com este compromisso das empresas, seria necessrio o

    desenvolvimento de programas, projetos e aes no governamentais e de governos que incentivassem o desenvolvimento sustentvel, a diminuio das desigualdades

    sociais e o respeito ao meio ambiente.

    Segundo Melo Neto e Froes (2001), a responsabilidade social tem duas formas de atuar: atravs dos projetos sociais e das aes comunitrias. As aes comunitrias so feitas por meio de outras entidades que recebem repasse de recursos. uma atividade indireta sobre a comunidade, gerida por terceiros. Essa atividade se

    caracteriza pelas doaes e apoio a essas entidades. Na maioria das vezes, as aes

    comunitrias no utilizam as aes de comunicao e marketing. Por outro lado, os

    projetos sociais tm participao direta na comunidade com aplicao, sem intermedirios, dos recursos, j que a gesto feita pela prpria empresa.

    Segundo Ashley (2002), so muitas as interpretaes da expresso de responsabilidade social. Para alguns, o aspecto legal o mais relevante e representa

    um dever fiducirio, para outros uma funo social da empresa, e h quem considere

  • 18

    responsabilidade social um comportamento eticamente responsvel. Para Ashley

    (2002), um conceito em construo. De acordo com Melo Neto e Froes (1999), o termo responsabilidade social

    refere-se aos relacionamentos que a instituio tem alm dos seus stake holders, visto

    que envolve comunidade, meio ambiente e desenvolvimento comunitrio em todo o

    seu contexto onde se encontra inserido, formando uma grande teia.

    Melo Neto e Froes (2001) utilizam-se do conceito de desenvolvimento sustentvel para definir responsabilidade social. O desenvolvimento sustentvel, para

    estes especialistas, possui trs dimenses, que so trs pilares onde se sustentam:

    dimenso econmica, dimenso social e dimenso ambiental. Afirmam que a

    responsabilidade est inserida na dimenso social, um dos trs pilares do

    desenvolvimento sustentvel.

    Baseado em Grajew (2000), no se distingue a responsabilidade social empresarial ou a cidadania empresarial com o investimento que a empresa faz na

    comunidade, o que pode ser considerado louvvel e importante, porm o tema deve ser

    tratado com abrangncia total, pois necessrio analisar os impactos das empresas em

    todos os empreendimentos. Bem como os impactos da tecnologia nas pessoas, nas

    organizaes, na sociedade e no ambiente.

    A responsabilidade empresarial inicia-se com a avaliao da relevncia e do

    poder das empresas. Estas so detentoras de meios de influncia muito grandes, o que

    implica ter muita responsabilidade. H muitos casos no Brasil de organizaes que

    realizam aes junto comunidade, porm no valorizam o bem-estar dos prprios funcionrios. Todas as aes devem ser avaliadas com preceitos ticos, construindo

    uma viso global como forma de gesto empresarial. (GRAJEW, 2000). Diante de tantos enfoques diversos, abrangncia excessiva, falta de

    delimitao do conceito e amplitude de dimenses, os autores Melo Neto e Brennand

    (2004, p. 32) apresentam uma definio que consideram a sntese de todos os enunciados citados de responsabilidade social, afirmando que:

  • 19

    [...] responsabilidade social uma atividade favorvel ao desenvolvimento sustentvel qualidade de vida no trabalho e na sociedade, ao respeito s minorias e aos mais necessitados, igualdade de oportunidades, justia comum e ao fomento da cidadania e respeito aos princpios e valores ticos e morais.

    Para Grajew (2000), a percepo dos stakeholders de que as empresas tm um papel mais amplo a cumprir, sendo co-responsveis no desenvolvimento da

    sociedade. Essa postura que caracteriza a responsabilidade social, um conceito em

    construo, requer uma mudana cultural. Para o Brasil de hoje, a grande contribuio das empresas colaborar para a construo de uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentvel.

    Para fortalecer a dimenso social das organizaes, existem alguns parmetros

    de responsabilidade social, segundo Melo Neto e Froes (1999), que auxiliam no direcionamento do processo de gesto:

    a) apoio ao desenvolvimento da comunidade onde a empresa atua; b) preservao do meio ambiente; c) investimento no bem-estar dos funcionrios e seus dependentes e num

    agradvel ambiente de trabalho;

    d) comunicaes transparentes; e) retorno aos acionistas. Diante dessa reflexo sobre responsabilidade social, se faz necessrio explanar

    sobre o tema de voluntariado que ser apresentado a seguir.

    1.2.2 Voluntariado

    Na viso da Fundao Abrinq para Defesa dos Direitos da Criana, o

    voluntrio um ator social e agente de transformao, que presta servios no

    remunerados em benefcios da comunidade. Doando seu tempo e conhecimentos,

    realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidrio e atende no s s

  • 20

    necessidades do prximo, como tambm aos imperativos de uma causa. O voluntrio

    atende tambm suas prprias motivaes pessoais, sejam de carter religioso, cultural, filosfico ou emocional.

    O trabalho voluntrio gera realizao pessoal, bem-estar interior advindo do

    prazer de servir a quem precisa. Funda-se no sentimento de solidariedade e amor ao

    prximo; na importncia de sentir-se socialmente til, como forma de retribuir

    sociedade todo o conhecimento e experincias adquiridas ao longo da vida, ou apenas

    para ter-se ocupao do tempo livre, s vezes produto inclusive da situao de

    desemprego.

    Outros motivos podem acontecer, como busca da valorizao social e busca do

    crescimento pessoal, procura de novas amizades, descrena no poder pblico,

    necessidade de sentir-se socialmente responsvel, busca por terapia, troca de energia,

    entre outros.

    Tratando-se de voluntariado, a ONG Faa Parte, atravs do Jogo da Cidadania,

    apresenta muitas informaes e enfoca o voluntariado juvenil, que tem por finalidade informar educadores e jovens a capacit-los para o voluntariado. (VIVELA, 2006)

    Para isso o Faa Parte produz e distribui kits (material para instrumentalizar e facilitar o trabalho voluntrio), divulga atravs da mdia casos de sucesso na rea de voluntariado, forma parcerias para que o programa se estenda a nvel nacional, alm de

    promover encontros para selecionar e treinar o voluntariado profissional.

    Segundo a ONG Faa Parte, do voluntariado profissional espera-se

    conscincia, comprometimento e constncia que, inter-relacionados, resultam em

    investimento, com resultados futuros e transferncia dos relacionamentos.

    Vale a pena ressaltar que os meios de comunicao so valiosos para se obter

    sucesso no campo de voluntariado, entre eles pode-se citar a informao para a

    educao com prtica social, o envolvimento e constncia de uma relao mundo e ser

    humano mais saudvel, a democratizao do informar, entreter e saber, pensar no

    sujeito como um ser histrico e a possibilidade de interao com o mundo.

  • 21

    Em uma associao com meios de comunicao do voluntariado, seria

    apropriado afirmar que o correto ter o cidado como mdia, multiplicando o trabalho

    de voluntariado em nosso pas, ou seja, Fazer a diferena. No mbito empresarial, o voluntariado une os funcionrios para uma causa,

    fortalecendo os vnculos entre as pessoas e a empresa, devido ao prprio

    desenvolvimento da organizao que depende da sociedade qual pertencem e que,

    por sua vez, tambm parte de cada um.

    Outro ponto que tambm contribui para o sucesso empresarial a tica, que

    para muitos especialistas o sinnimo de responsabilidade social e ser tratado

    adiante.

    1.2.3 tica empresarial

    Seguindo o raciocnio de Jonas (2006), a tica tradicional tinha a ver com o aqui e o agora, demonstram um confinamento ao crculo imediato da ao. Ama o teu

    prximo como a ti mesmo, Faze aos outros o que gostarias que eles fizessem a ti e

    assim por diante, ou seja, o indivduo age e no necessariamente responde pelas conseqncias de seus atos.

    Na mesma linha de raciocnio, Weber (1968) percebe uma distino clara e definida no domnio da tica. Mencionada por Srour (2000), existe uma tica da convico que est associada obedincia cega a determinados princpios, tradies

    ou divindades.

    Nas organizaes, a tica da convico est presente em todos os momentos,

    pois induz os funcionrios busca pela eficincia. Assim, desenvolve-se a tica da

    convico porque as atenes ficam voltadas para o como fazer as coisas, ou seja, para o processo. Em caso de descumprimento das normas burocrticas, h punies

    previstas em diversos graus. Vistas por outro ngulo, estas normas podem fomentar o

    desejo de cumpri-las fielmente para se alcanar promoes.

  • 22

    Para Srour (2000), a tica no campo empresarial costuma ser definida como o estudo da forma pela qual normas morais e pessoais se aplicam s atividades e aos

    objetivos da empresa comercial. Aguilar (1996) expressa que no mundo dos negcios a conduta tica

    considerada, em geral, como uma limitao, e no como uma oportunidade. Altos

    executivos freqentemente frisam regras e regulamentos na formao da atmosfera

    tica da empresa. Subordinados consideram a dimenso tica como problema e no

    como maneira de progredir. As respostas a perguntas sobre o papel desempenhado

    pela conduta tica em avaliaes de merecimento, designaes e promoes so em

    geral bastante representativas.

    A funo tica da responsabilidade social centrada no dever cvico, enquanto

    que a filantropia tem no dever moral sua tica absoluta.

    Essas diferenas entre responsabilidade social e filantropia sero ressaltadas a

    seguir.

    1.2.4 Responsabilidade Social x Filantropia (assistencialismo)

    Na leitura sobre responsabilidade social, observa-se que esta assume outras

    caractersticas, sendo confundida, por muitos, com benevolncia ou filantropia, que

    tem como base o assistencialismo, no auxlio aos pobres, aos desvalidos,

    desfavorecidos, miserveis, excludos e enfermos.

    Segundo Grajew (2000), o assistencialismo uma forma de manter dependncia e no de dar oportunidade de escolha para a pessoa. Um grande problema

    fazer as coisas sem reflexo, sem pensar nas conseqncias e nem perceber os

    resultados das aes. Se as pessoas estabelecem valores, objetivos com a comunidade, coletivos e pessoais, ento o resultado final ser muito melhor.

    Para Melo Neto e Froes (1999), a prtica da responsabilidade social busca estimular o desenvolvimento do cidado e fomentar a cidadania individual e coletiva.

  • 23

    Sua tica social centrada no dever cvico, enquanto que a filantropia tem no dever

    moral sua tica absoluta.

    Segundo Melo Neto e Froes (1999), a prtica da responsabilidade social leva sustentabilidade grandes e pequenas comunidades. Essa prtica extensiva a todos que

    participam da vida em sociedade e pode ser definida como uma nova forma de

    insero social ou uma interveno direta em busca da soluo de problemas sociais;

    porm, sob a viso dos mesmos autores, a filantropia pode ser a simples doao, fruto

    da maior sensibilidade e conscincia social do empresrio.

    Sob esta tica, convm ressaltar as diferenas existentes entre filantropia e

    responsabilidade social, analisadas por esses pesquisadores:

    QUADRO 1 DIFERENAS ENTRE FILANTROPIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL FILANTROPIA RESPONSABILIDADE SOCIAL Ao individual Ao coletiva Fomento de caridade Fomento cidadania Base assistencialista Base estratgica Restrita a empresrios filantrpicos e abnegados Extensiva a todos Prescinde de gerenciamentos Demanda gerenciamento Deciso individual Deciso consensual FONTE: MELO NETO e FROES (1999).

    Conforme esses autores, a natureza das aes indiretas surge pela participao

    de outras entidades. A empresa repassa os recursos para essas entidades aplicarem em

    projetos comunitrios, sendo a forma de gesto diferente, j que no tinham participao direta da empresa.

    Sendo assim, observa-se que, para um retorno maior, em termos de

    credibilidade e marketing, os projetos sociais so eficazes, uma vez que a empresa contribui melhor com a comunidade, fortalecendo e obtendo ganhos sociais

    expressivos.

    O marketing da filantropia surgiu nos EUA quando grandes milionrios do

    busisness americano comearam a doar parte de suas fortunas para aes sociais do

    governo e da sociedade civil. Alguns criaram suas prprias fundaes, aproveitando-se

    dos benefcios fiscais existentes.

  • 24

    Ainda segundo Melo Neto e Froes (1999), o marketing de filantropia usado por muitas empresas uma estratgia de promoo de produtos e marcas ou uma

    promoo de vendas especiais, cuja parte do volume de recursos obtidos destinada as entidades beneficentes.

    As empresas que desenvolvem aes de marketing social obtm certificaes

    sociais e ambientais.

    O principal diferencial das prticas filantrpicas atuais com relao ao passado

    reside no fato de que as pessoas no so mais vistas como sujeitos dependentes e tutelados. Os cidados engajam-se em atividades voluntrias no apenas para exercitar a caridade, mas tambm para exercer a cidadania na defesa de seus direitos e os dos

    outros.

    E neste contexto da cidadania empresarial, as empresas comeam a rever as

    suas prticas e passam a elaborar o balano social, ou seja, uma avaliao do desempenho empresarial, que ser descrito a seguir.

    1.2.5 Balano Social

    Diante da necessidade das empresas dedicarem suas atenes no somente s

    normas tcnicas e legais, como tambm de elaborarem um instrumento de informaes

    voltadas para a sociedade e de sua preocupao com o meio ambiente, surge na dcada

    de 1970 o chamado Balano Social, adotado inicialmente na Frana e

    posteriormente em outros pases.

    De acordo com o disposto na lei, o balano social recapitula num documento

    nico os principais dados quantitativos, permitindo apreciar a situao da empresa no

    domnio social, comportando informaes sobre o emprego, as remuneraes e

    encargos, as condies de trabalho, a formao, as relaes profissionais e suas

    famlias na medida em que estas condies dependem da empresa.

    Em funo da globalizao, da tecnologia da informao, da comunicao de

    massa, as empresas dependem cada vez menos de mquinas e de tecnologia, que

  • 25

    rapidamente ficam ao alcance de todos. Assim elas estaro cada vez mais dependentes

    das pessoas. Os bons profissionais, quando podem escolher, preferem trabalhar em

    empresas socialmente responsveis e estabelecem um compromisso fundamental para

    o sucesso das organizaes.

    Sob a tica dos autores Melo Neto e Froes (2001), o conceito de Balano Social o instrumento de avaliao do desempenho da empresa no campo da

    cidadania empresarial, pois demonstra todas as aes sociais desenvolvidas pela

    empresa naquele perodo, representando o seu nvel de compromisso com a busca de

    solues para os problemas sociais do pas.

    Os elementos do Balano Social so representados por dois tipos de aes,

    primeiramente as aes direcionadas para os empregados e seus familiares (interna) e tambm aes sociais voltadas para a sociedade (externa).

    Dentro deste contexto, as aes sociais ou indicadores sociais representam as

    diversas contribuies da empresa para a sociedade sob a forma de doaes, aes de

    filantropia, patrocnio de projetos sociais, gastos em campanhas sociais e parcerias com rgos governamentais e aporte de recursos para projetos sociais.

    Os balanos sociais contribuem para demonstrar o que de fato est sendo

    trabalhado na empresa em relao s questes sociais, e conseqentemente deve-se ser

    exemplificado tambm no que se refere responsabilidade socioambiental, para isso

    ser desenvolvido a seguir um captulo do trabalho sobre o tema.

  • 26

    2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

    Conforme Jacobi (1999), algumas mudanas marcaram o ano de 1990 no debate internacional sobre os problemas ambientais. A ateno do planeta para com a

    crise ambiental iniciou-se em Estocolmo em 1972, atingiu o seu pice no Rio de

    Janeiro em 1992, quando so lanadas as bases para uma nova concepo de

    desenvolvimento, e vive um momento de frustrao em 2002 em Johannesburgo, dez

    anos depois.

    Tal discusso teve como conseqncia o relatrio Nosso Futuro Comum, em

    1987, que foi originrio da Comisso Mundial sobre Meio ambiente e

    Desenvolvimento, formado pela ONU em 1983, e que foi presidida pela 1. Ministra

    da Noruega, Gro Harlen Brundtland. Assim sendo, o conceito de desenvolvimento

    sustentvel , de uma vez por todas, apresentado ao mundo atravs do documento que

    ficou conhecido com o nome de Relatrio Brundtland. Em tal relatrio, se fixava o

    entendimento de que a definio de desenvolvimento sustentvel seria: o

    desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem

    comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem s suas prprias

    necessidades.

    Em 1993, geravam-se condies para fortalecer um novo momento de

    cooperao internacional. A Cpula da Terra contribuiu para consolidar a percepo

    da sociedade para as inter-relaes entre as dimenses ambientais, sociais, culturais e

    econmicas do desenvolvimento, obtendo um consenso em torno da questo ambiental

    por meio da Agenda 21. Em 2002, no RIO + 10, as concluses so de poucas decises

    e muita frustrao pela concreo de poucas metas e pela falta de prazos precisos para

    a soluo dos problemas que se avolumam e reduzido avano nas polticas globais que

    promovam o desenvolvimento sustentvel.

  • 27

    Para Jacobi (1999), uma dimenso moderna do desenvolvimento sustentvel, fortalecida graas Cpula da Terra, foi a promoo da participao da sociedade civil

    e dos setores produtivos no processo de deciso.

    O fato de os problemas ambientais e os riscos decorrentes terem crescido a

    passos largos e a sua lenta resoluo ter-se tornado de conhecimento pblico pelo seu

    impacto aumenta a importncia da educao ambiental nas duas diversas dimenses. O

    desafio, ento, criar condies para atenuar o quadro de riscos existentes que afeta

    desigualmente a populao.

    Para Barbieri (2004), a soluo dos problemas ambientais, ou a sua minimizao, exige uma nova atitude dos empresrios e administradores, que devem

    passar a considerar o meio ambiente em suas decises e adotar concepes

    administrativas e tecnolgicas que contribuam para ampliar a capacidade de suporte do

    planeta. As preocupaes ambientais dos empresrios so influenciadas por trs

    grandes conjuntos de foras que se interagem reciprocamente: o governo, a sociedade e o mercado.

    Se no houvesse presses da sociedade e medidas governamentais, no se

    observaria o crescente envolvimento das empresas em matria ambiental. As

    legislaes ambientais geralmente resultam da percepo de problemas ambientais por

    parte de segmentos da sociedade e que pressionam os agentes estatais para solucion-

    los. As questes ambientais passaram a ter impactos importantes sobre a

    competitividade dos pases e de suas empresas.

    Outro tipo de presso vem dos investidores que procuram minimizar os riscos

    de seus investimentos. A gerao de passivos ambientais pelo no cumprimento da

    legislao pode comprometer a rentabilidade futura das empresas, pois esses passivos

    podero ser aes judiciais. Essa questo tem sido to decisiva para os investimentos, que j foram criados diversos indicadores para informar aos investidores a situao de empresas em relao a essas questes, como o Dow Jones Sustainability Indexes, um

    indicador pela Dow Jones e SAM Group em 1999. Esses ndices tm como finalidade

  • 28

    criar referncias para os produtos financeiros baseados no conceito de corporao

    sustentvel e medir seu desempenho. Corporao sustentvel uma abordagem de

    negcio para criar valor aos acionistas de longo prazo, aproveitando as oportunidades

    e administrando os riscos econmicos, ambientais e sociais.

    Ainda segundo o autor, outra fonte de presso sobre as empresas advm do

    aumento da conscincia da populao em geral e, principalmente, dos consumidores

    que procuram cada vez mais utilizar produtos e servios ambientalmente saudveis. O

    perfil desse novo tipo de consumidor a prtica de diferenciar produtos e servios pelo

    desempenho ambiental.

    A proliferao de rtulos ou selos verdes em muitos pases desde as ltimas

    dcadas do sculo XX um indicador da importncia do desempenho ambiental como

    critrio definidor das escolhas por parte dos consumidores na hora de realizar suas

    compras. Esses rtulos objetivam atrair consumidores ou usurios que se preocupam com o meio ambiente, destacando as qualidades do produto ou servio em termos

    ambientais, como, por exemplo: biodegrabilidade, retornabilidade, percentual de

    material reciclado, eficincia energtica e outras.

    Na medida em que diferenciam produtos e servios em funo dos seus

    impactos ambientais, os rtulos e as declaraes podem se tornar instrumentos da

    estratgia de marketing da empresa.

    Enfim, no faltam presses para que as empresas adotem medidas de proteo

    ao meio ambiente. Miles e Covin (2000) demonstram que a reputao da empresa um importante ativo intangvel que se relaciona fortemente com seu desempenho

    financeiro e mercadolgico. Esses autores verificaram mediante uma ampla pesquisa

    que a reputao uma vantagem competitiva importante e entre as fontes de reputao

    est o modo como a empresa trata as questes sociais e ambientais.

    De outra forma, pode-se observar, aps vrias conferncias em todo o mundo,

    que meio ambiente e desenvolvimento no podem ser tratados separadamente. Foi

  • 29

    dessa vinculao entre desenvolvimento e meio ambiente que surgiu o conceito

    denominado desenvolvimento sustentvel.

    Segundo Demajorovic (2003), a partir da dcada de 1970, quando a percepo de que o aumento da instabilidade ambiental, social, econmica, poltica e tecnolgica

    impunha uma srie de novos desafios s organizaes pblicas e privadas, colocando

    em dvida o modelo taylorista/fordista, se abriram espaos para repensar os formatos

    organizacionais tradicionais e ampliar o entendimento do papel da educao nas

    empresas.

    Os debates sobre o tema ressaltam cada vez mais que, em um mundo em

    constante mudana, as organizaes dependero menos de um conjunto particular de conhecimento ou habilidades e mais de sua capacidade de aprender para se ajustar s novas demandas.

    A viso obsoleta de que o conhecimento pode ser embalado em unidades,

    mdulos e conferncias e aplicado de forma padronizada de cima para baixo,

    caracterstica dos programas de treinamentos tradicionais, desafiada por uma viso

    que privilegia um contexto mais amplo de formao, como afirma Jordan: o

    paradigma cognitivo de transferncia de conhecimento est sendo contestado por

    teorias construtivistas e noes de cognio e inteligncia distribudas. (JORDAN, 1977, p. 241-259).

    Nesse contexto, uma organizao que aprende entendida como uma empresa

    que facilita a aprendizagem de todos os seus membros e que se transforma

    continuamente. Assim, o aprendizado em grupo, a comunicao lateral e as

    tecnologias informatizadas assumem um papel central nos debates sobre ensino e

    aprendizagem nas organizaes.

    Importante destacar que a reformulao dos programas educacionais nas

    organizaes, depois de dcadas de nfase no treinamento, no uma tarefa simples.

  • 30

    Na linha de pensamento de Senge (1998), um dos principais problemas esta justamente no fato de que muitas organizaes continuam a pensar que o processo de aprendizado se restringe aos programas de treinamento.

    O aprendizado pode envolver algum treinamento, mas vai alm. Poucas

    pessoas aprendem o que realmente importante para a vida em programas de

    treinamento. O aprendizado ocorre no dia-a-dia, ao longo do tempo.

    Sempre acontece o aprendizado sempre acontece quando as pessoas esto s

    voltas com questes essenciais ou se vem diante de desafios. Nesse sentido, o

    aprendizado no tem muito a ver com treinamento. Programas de treinamento podem

    ser teis, por exemplo, para a apresentao de um assunto novo.

    Segundo Demajorovic (2003), os objetivos de curto prazo das organizaes so identificados como um dos obstculos ao desenvolvimento de programas de

    educao mais amplos.

    Educao corporativa continua sendo um instrumento ttico e no estratgico

    para as organizaes trabalharem com necessidades imediatas. Educao e treinamento

    de curto prazo, exigido para um determinado tipo de produto, processo ou tecnologia

    so sempre prioritrios em relao aos objetivos educacionais de longo prazo, sendo que a justificativa dada para esta escolha sempre tempo e dinheiro, impedindo uma compreenso mais abrangente da educao e do treinamento.

    Do aprendizado individual ao aprendizado organizacional, Fleury (2001) define o aprendizado individual como um processo de mudana resultante da prtica

    ou experincia anterior que pode vir, ou no, manifestar em uma mudana perceptvel

    do comportamento. (FLEURY, 2001, p. 152). Partindo da constatao de que todas as organizaes so conjuntos de

    indivduos e que os indivduos tm capacidade de aprender a partir de sua experincia

    e inteligncia, tornando seu trabalho mais eficaz e eficiente, pode-se afirmar que toda

    organizao aprende quando um ou mais de seus integrantes aprendem algo de novo.

    O aprendizado organizacional s pode se concretizar se duas condies bsicas forem

  • 31

    respeitadas: primeiro, os membros devem atuar em nome da coletividade; segundo,

    sua ao deve resultar de uma interao social e transformar-se em ao

    organizacional.

    Segundo Demajorovic (2003), uma organizao aprende sempre que seu repertrio de informaes (conhecimento, entendimento, know-how, tcnicas e prticas), construdo e transformado diariamente por meio de relaes internas e externas e da aquisio e perda de membros, modifica as estratgias organizacionais.

    No entanto, ser o embate entre seus membros que determinar se o

    conhecimento em transformao diria ser utilizado para a preservao do

    conhecimento associado s habilidades e atividades ou ser transformado com o

    objetivo de desenvolver novas habilidades e atividades. Dessa forma, o aprendizado organizacional no se limita capacidade de

    manter uma organizao competitiva, inclui tambm a capacidade de se adequar s

    demandas sociais e ambientais em um contexto de mudana.

    Karkotli e Arago (2004) afirmam que a busca de alternativas para garantir o crescimento e sobrevivncia no mercado de alta competitividade tem estado

    permanentemente na agenda dos gestores organizacionais.

    crescente a utilizao de estratgias e processos que contribuam com o lucro, a sensibilidade e sintonia das organizaes para as necessidades de seus clientes

    internos e externos, a proteo e uso adequado de recursos do meio ambiente natural,

    as relaes ticas e justas com os trabalhadores, fornecedores e governos, como indicadores que retratam a responsabilidade social da organizao para com a

    comunidade da qual sofre e exerce influncias.

    As organizaes decididas a assumir suas responsabilidades sociais

    defrontam-se, principalmente, com o problema de como determinar e avaliar o seu

    desempenho social, seja para efeitos de diagnstico, seja para acompanhamento das atividades ou para avaliao de resultados.

  • 32

    Apesar da necessidade de definirem suas estratgias operacionais, planejar as atividades que tm a desempenhar para a produo do bem ou do servio, coordenar

    esforos e os recursos disponveis para atingir os resultados predefinidos, as empresas

    precisam, ainda, gerar valor e benefcios sociais para a comunidade onde esto

    inseridas. Assim, a necessidade de elaborao do planejamento, desde ento, passa a ser de fundamental importncia para as organizaes que procuram uma atuao

    socialmente responsvel.

    Para Thompson e Strickland (2002), o plano estratgico de uma organizao constitui-se do desenvolvimento da misso e viso estratgica, do estabelecimento de

    objetivos de curto, mdio e longo prazo, bem como das mudanas competitivas e as abordagens de ao interna que devem ser utilizadas para atingir os resultados

    programados.

    O desenvolvimento do planejamento com nfase na responsabilidade social requer mudana bastante significativa na filosofia e na prtica gerencial da maioria das

    organizaes, sejam elas pblicas ou privadas. Isso faz o empreendimento organizacional passar, necessariamente, por uma fase de mudanas culturais e

    gerenciais para possibilitar novas formas de atuao, comportamentos e comunicao,

    alm de novas tcnicas e prticas de planejamento, controle e avaliao organizacional e social.

    O planejamento desenvolve funes importantes para a gesto das organizaes, que Figueredo e Caggiano (1993) identificam como:

    a) estratgica: seu foco voltado para fatores do ambiente externo da organizao, entre eles, o posicionamento da empresa no setor;

    b) competitividade: considera na anlise do ambiente, tanto o ambiente interno como o ambiente externo, a identificao das ameaas e das oportunidades;

    c) gerencial: tem o foco mais direcionado para os aspectos internos da organizao, como identificao dos pontos fortes e fracos da empresa para competir

    com os concorrentes, investigao sobre as formas de influenciar no comportamento

  • 33

    dos funcionrios para alcanar os objetivos e as metas estabelecidas. Sua principal funo verificar se os objetivos organizacionais esto sendo colocados em prtica;

    d) operacional: ocupa-se em assegurar que as tarefas definidas no plano operacional estejam sendo realizadas e verificar as que foram planejadas no plano estratgico para que sejam colocadas em prtica.

    A prtica da responsabilidade social caracterizada pela permanente

    preocupao com a qualidade tica das relaes da empresa com seus diversos

    pblicos colaboradores, clientes, fornecedores, meio ambiente, comunidades onde

    esto inseridas e o poder pblico. Desenvolver suas atividades de maneira tica,

    transparente e responsvel socialmente e observar a lei em todos seus aspectos j uma base de responsabilidade social.

    Entretanto, existe uma extensa linha de programas, polticas e idias que

    discorrem sobre o processo de formao de uma empresa estruturada e respeitada por

    seus valores sociais, alm de demonstrar aes que tm por objetivo criar e proporcionar um ambiente de trabalho produtivo e participativo.

    As empresas que incorporam a responsabilidade social na gesto de seus

    negcios identificam formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com os

    pblicos afetados por suas atividades.

    Melo Neto e Froes (2001) propem alguns passos para a implantao da responsabilidade social nas empresas, e um estudo de aplicabilidade deste material aos

    trabalhos do grupo poderia ser elaborado. Segundo o autor, a estratgia empresarial de

    responsabilidade social compreende, entre outras atividades:

    a) sensibilizar os empregados e desenvolver um programa interno de educao para a ao social;

    b) estudar as potencialidades e oportunidades de aes sociais externas; c) elaborar um plano de aes sociais voltadas para a comunidade; d) elaborar o Cdigo de tica da empresa; e) publicar o balano social;

  • 34

    f) adotar um programa de voluntariado aos empregados; g) obter a certificao social. As iniciativas de aes ou programas sociais podem surgir em qualquer rea

    da empresa. Isso pode e deve ser estimulado, e a responsabilidade social deve permear

    toda a empresa, todos os empregados.

    Cabe unidade gestora de responsabilidade social da empresa reunir

    informaes de todos os projetos que esto sendo desenvolvidos e selecionar aqueles que tragam maiores benefcios sociais para a comunidade.

    Essa rea deve se encarregar de comunicar a todos os empregados os conceitos

    de responsabilidade social e a poltica de atuao da empresa.

    Um ponto de fundamental importncia a opinio dos empregados quanto ao

    nvel de responsabilidade social da empresa. Uma etapa importante seria o treinamento

    de todos, sem exceo, quanto aos envolvidos e sobre a atuao da organizao.

    Dentro desse contexto, a realidade organizacional o que os outros e a

    organizao esperam, recompensam ou exigem s pode ser conhecida por meio da

    percepo. Embora muitas pessoas fiquem pouco vontade em reconhecer isso, o que

    a pessoa vem e escutam tende a ser seletivo e envolve uma srie de distores

    influenciadas pelo seu autoconceito: percebemos o que precisamos ou esperamos

    perceber.

    2.1 PERCEPO De acordo com Robbins (2005), a percepo pode ser definida como o

    processo pelo qual os indivduos organizam e interpretam suas impresses sensoriais

    com a finalidade de dar sentido ao seu ambiente.

    As pessoas reagem quilo que percebem, e suas percepes nem sempre

    refletem a realidade objetiva. Esse um problema importante, porque medida que aumenta a diferena entre a realidade percebida e a objetiva, aumenta proporcionalmente a possibilidade de incompreenso, frustrao e conflito.

  • 35

    No caso de uma empresa, o comportamento das pessoas baseia-se em sua

    percepo da realidade, no na realidade em si.

    Robbins (2005) afirma que os fatores que influenciam a percepo podem estar no observador, no objeto ou alvo da percepo, ou ainda, no contexto da situao em que se d a percepo.

    Quando se observa um alvo e tenta-se interpretar o que se est percebendo, essa interpretao fortemente influenciada pelas caractersticas pessoais do

    observador. Entre as caractersticas pessoais mais relevantes que afetam a percepo,

    esto atitudes, motivaes, interesses, experincias passadas e expectativas, ou seja, as pessoas percebem a forma que julgaram as outras, independentemente de estas terem esses traos.

    As caractersticas do alvo que est sendo observado tambm podem afetar a

    percepo. Como os alvos no so observados isoladamente, a sua relao com o

    cenrio influencia a percepo, do mesmo modo que a tendncia de agrupar coisas

    prximas ou parecidas.

    O contexto dentro do qual se percebe os objetos ou eventos muito importante, pode influenciar a ateno, bem como outros fatores situacionais, como

    localizao, iluminao, temperatura ou qualquer outro fator.

    Na mesma linha de pensamento, Kaplan e Sadock (1993) definem percepo como um processo de transferncia de estimulao fsica em informao psicolgica,

    processo mental pelo qual os estmulos sensoriais so trazidos conscincia.

    Segundo Fiorelli (2000), a percepo permite o sentido de completude e continuidade: objetos e formas constituem imagens inteiras, construdas a partir de estmulos fragmentrios, recolhidos pelos rgos dos sentidos.

    Enquanto a sensao depende do estmulo e da capacidade do indivduo de

    registr-lo, a percepo depende de acontecimentos anteriores que envolveram o

    mesmo estmulo e que afetaro a interpretao da sensao pelo crebro.

  • 36

    De acordo com Robbins (2005), as pessoas se comportam desta ou daquela maneira com base no em como o ambiente externo , mas na forma como vem ou

    acreditam que ele seja. a percepo da situao que d base para o comportamento de um funcionrio.

    Tratando-se dos programas de responsabilidade social adotados pela

    instituio, os funcionrios provavelmente venham a interpretar a percepo baseada

    nos fatos acontecidos anteriormente, como experincias positivas ou negativas,

    podendo ser alterada, dependendo dos fatores que podem influenciar na percepo.

    Donaire (1999) afirma que o conceito de responsabilidade social comeou a ser reorientado dentro das organizaes, resultando em maior percepo e conscincia

    do que est ocorrendo no ambiente de negcios em que a organizao opera. Esse

    novo enfoque foi denominado conscientizao social e tem-se consolidado cada vez

    mais no interior das organizaes.

    2.2 CONSCIENTIZAO SOCIAL A conscientizao social refere-se capacidade de uma organizao de

    responder s expectativas e presses da sociedade. Nesse sentido, a busca de

    procedimentos, mecanismos, arranjos e padres comportamentais desenvolvidos pelas empresas marcam aquelas que so mais ou menos capazes de responder aos anseios da

    sociedade.

    Assim, Donaire (1999) coloca que o conceito de conscientizao social sobrepe o conceito de responsabilidade social, medido atravs de valores morais de

    obedincia aos preceitos da lei, para um posicionamento mais tcnico e abrangente que

    envolve a identificao e a antecipao dos mecanismos internos que esto sendo

    implementados pelas organizaes para responder a essas presses sociais.

    Nesse contexto, a conscientizao da empresa e das pessoas que participam de

    aes em empresas socialmente responsveis passa a ser um aspecto relevante para a

    legitimao e o fortalecimento da prtica da responsabilidade social.

  • 37

    Para que haja uma conscientizao de ambas as partes, so necessrios alguns valores que sero analisados a seguir.

    2.3 VALORES

    Quando se discutem valores pode-se estar referindo a valores ticos, sociais polticos, culturais, econmicos. E todos eles se aplicam responsabilidade social. As

    aes podem ser aquelas voltadas para educao, sade, empregabilidade, assistncia

    social, promoo, divulgao, doao e apoio.

    Cohen (2003) ressalta que os valores formam o alicerce do carter da pessoa. Embora alguns dos valores possam mudar na medida em que se adquire experincia na

    vida, eles tendem a permanecer profundamente enraizados na personalidade. Uma

    pessoa desenvolve desde cedo o sentido de certo e errado, bem e mal. Muitas de

    nossas idias mudam durante a adolescncia, mas depois de adultos tende-se a manter

    e defender algum ncleo bsico que est dentro de cada pessoa, que sugere o que

    realmente importante na vida e bsico para a individualidade. As idias a seguir so

    alguns exemplos de valores:

    a) ser sempre honesto com as pessoas; b) ser sempre independente, no onerar os outros com seus problemas; c) nunca ferir deliberadamente os sentimentos de outra pessoa; d) nunca deixar que algum sinta que no esteve altura de suas

    responsabilidades;

    e) sempre procurar fazer o melhor em qualquer atividade a que se dedicar. Esses so os tipos de atitudes que uma pessoa se recusa normalmente a

    desrespeitar, elas determinam a integridade pessoal do indivduo. Acatar os prprios

    valores aumenta o senso de valor pessoal; desviar-se deles provoca culpa, vergonha e

    dvida a respeito de si mesmo. Os valores tambm tendem a possuir uma hierarquia de

    importncia. Alguns so mais centrais do que outros. Quando as pessoas vivenciam um conflito de valores, essa hierarquia muitas vezes ajuda na tomada de decises.

  • 38

    De acordo com Locke (1986), existem trs componentes chaves na definio de satisfao no trabalho: valores, importncia dos valores e percepo.

    Em primeiro lugar, satisfao no trabalho uma funo de valores que so

    definidos em termos daquilo que uma pessoa deseja obter consciente ou inconscientemente. Locke (1986, p. 33) distinguiu valores e necessidades, sugerindo que as necessidades so mais bem concebidas como exigncias objetivas do corpo, que so essenciais manuteno da vida. Por outro lado, valores so exigncias subjetivas, existentes na mente da pessoa.

    O segundo componente da satisfao do trabalho a importncia dos valores.

    As pessoas no diferem apenas nos valores que defendem, mas tambm na

    importncia que atribuem a esses valores, e essas diferenas so cruciais na

    determinao de seu grau de satisfao no trabalho.

    O ltimo componente importante a percepo. A satisfao est baseada na

    percepo da situao atual em relao aos valores. importante ressaltar que as percepes podem no refletir com preciso total a realidade objetiva. Quando no a refletem, para entender as reaes pessoais, precisa-se atentar para a percepo que o

    indivduo tem da situao e no para a prpria situao correta.

    Nesse contexto de como so percebidos os programas ou as aes das

    empresas socialmente responsveis, a capacidade de influenciar as pessoas atravs dos

    processos citados no decorrer deste trabalho se faz necessria para que cada vez mais

    os funcionrios ampliem o nmero de adeptos que aderem contribuio para o

    desenvolvimento da sociedade atravs do desenvolvimento sustentvel.

    2.4 INFLUNCIA NA FORMAO DE OPINIES A influncia na formao de opinies na relao funcionrios e lderes,

    segundo Aguilar (1996), est baseada na forte capacidade empresarial. Quando os funcionrios tm motivos para respeitar a competncia empresarial dos lderes da

  • 39

    empresa, mais provvel que tenham confiana tambm na qualidade e continuidade

    de sua liderana tica.

    A empatia dos lderes pode influenciar os funcionrios, demonstrando

    capacidade de reconhecer e simpatizar com as opinies e interesses que vrias partes

    possam defender no tocante a aes especficas da empresa.

    O autor Cohen (2003) descreve que h trs processos pelos quais a pessoa influenciada: submisso, identificao e internalizao.

    A submisso limita-se a fazer alguma coisa em funo do custo de no faz-la.

    Cumpre a ordem exteriormente, enquanto por dentro sente ressentimento ou

    resignao.

    A identificao ocorre quando influenciada pela atrao exercida pelo lder,

    seja porque este simptico e tem carisma ou porque representa algo ao qual aspira. Nesses casos, os seus seguidores se dedicam causa, isso levando-os a esforos

    extraordinrios, pois passam a considerar que esto alcanando seus prprios objetivos por meio do lder e no como se os objetivos do lder lhes tivessem sido impostos. Quando isso acontece, a influncia mediante a identificao com o lder pode atingir outro patamar: a internalizao.

    A internalizao ocorre quando os lderes tm a experincia e os valores

    necessrios para conquistar credibilidade junto aos seus seguidores. Estes passam a acreditar no que o lder sugere, e isso de fato o melhor para eles. Contudo, para

    maximizar sua eficcia, um lder faria melhor em conquistar credibilidade e levar as

    pessoas a internalizarem os objetivos, de modo que faam o que o lder deseja porque elas querem faz-lo.

    Esses processos citados geram entre os funcionrios, um compromisso alm

    do contrato de trabalho, no sentido de estes fazerem parte da empresa e haver

    confiabilidade entre as partes.

  • 40

    2.5 COMPROMISSO COM OS FUNCIONRIOS O resultado mais importante da identificao e da internalizao o

    compromisso. Estar comprometido com algo uma pessoa, uma atividade, alguns

    valores acontece quando o comportamento motivado por foras que esto dentro de

    cada um e no em presses externas, como o caso da submisso. Os esforos da

    liderana se dirigem para trs reas principais: o prprio trabalho, a relao entre as

    pessoas e a organizao como um todo.

    Segundo Melo Neto e Froes (2001), a empresa gera compromisso com os funcionrios medida que cria maior motivao, auto-estima e orgulho entre estes.

    Isso aumenta a produtividade e a qualidade de vida no trabalho, diminui os gastos com

    sade, desenvolve o potencial e os talentos, propiciando cada vez mais inovaes

    dentro da organizao. A empresa proporciona o desenvolvimento sustentvel do local

    em que atua e maior capacitao profissional da mo-de-obra local ao inserir-se e agir

    na comunidade.

    De acordo com Gomes (2002), a empresa socialmente responsvel no se limita a respeitar os direitos dos trabalhadores, direitos estes consolidados na

    legislao trabalhista e nos padres da Organizao Internacional do Trabalho (OIT), ainda que esse seja um pressuposto indispensvel. A empresa deve ir alm e investir no desenvolvimento pessoal e profissional de seus colaboradores, bem como na

    melhoria das condies de trabalho e no estreitamento de suas relaes com os

    empregados.

    Para ser reconhecida como socialmente responsvel, a empresa no deve

    utilizar-se, direta ou indiretamente, de trabalho infantil (crianas menores de 14 anos) conforme legislao brasileira. Porm, positiva a iniciativa de empregar menores

    entre 14 e 16 anos, como aprendizes, desde que os mesmos continuem freqentando a

    escola.

    Ainda, conforme Gomes (2002), o respeito ao indivduo, uma premissa importante. Ela deve preservar e valorizar a diversidade, oferecendo oportunidades

  • 41

    iguais a pessoas com diferenas. A empresa relaciona-se com o meio ambiente,

    causando impactos de diferentes tipos e intensidade e, quando ambientalmente

    responsvel, procura minimizar os impactos negativos e amplificar os positivos. A

    conscientizao ambiental deve ser acompanhada pela disseminao dos

    conhecimentos e intenes de proteo e preveno ambiental para toda a empresa,

    para cadeia produtiva e comunidade.

    Dentro desse contexto de ter um comprometimento com a organizao,

    estimula-se o desenvolvimento pessoal, a ponto de o objetivo e os resultados dos negcios inclurem servios comunidade circundante e preocupao com o meio

    ambiente.

    Isso significa que a responsabilidade social nos negcios florescer sob a

    forma de contribuio ao bem-estar do mundo, contribuindo para o desenvolvimento

    sustentvel e empresas socialmente sustentveis, conforme ser analisado a seguir em

    todas as dimenses, considerando os aspectos culturais, espaciais, econmicos,

    educaci