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  • 129

    UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAO E CONTABILIDADE

    Departamento de Administrao

    INDICADORES EMPRESARIAIS DE

    QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO esforo empresarial e satisfao dos empregados no ambiente de

    manufaturas com certificao ISO 9000

    Ana Cristina Limongi Frana

    orientador: Prof. Dr. Lindolfo Galvo de Albuquerque Tese apresentada Faculdade de Economia, Administrao e Contabili-dade da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Doutor em Administrao.

    So Paulo 1996

  • 130

    Aos meus filhos Caio Augusto e Ana Alice

    pelo carinho e maturidade constantes

    Aos meus pais Maria Thereza (in memorian), Rubens

    e irmos: Ana Isabel, Antonio de SantAna,

    Ana Carlota, Vicente de Paulo, Stefan,

    Ana Judite e Carlos Otvio

    pelos muitos exemplos de luta e jovialidade

    A Profa. Dra. Maria Tereza Leme Fleury

    pela admirao que tenho como pessoa e como profissional

  • 131

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo com muito carinho e reconhecimento s pessoas aqui

    relacionadas, por todas as oportunidades de aprendizado para elaborao desta

    tese.

    Ao Prof. Dr. Lindolfo Galvo de Albuquerque, meu orientador, pela

    confiana, otimismo e respeito profissional o que gerou um processo agradvel de

    convivncia e discusso de dados e conceitos.

    Ao Prof. Dr. Roberto Sbragia por todas as contribuies metodolgicas e

    conceituais, paciente acompanhamento e respeitosa amizade.

    Aos colegas professores doutores Mario de Biasi pela elaborao do

    cartograma, Ademir Antonio Ferreira, Ana Akemi Ikeda, Celso Grisi, Edgar

    Monforte Mello, Daniel Augusto Moreira, Claudio Felizoni, Geraldo Luciano Toledo,

    Fauze Mattar, Gilberto Teixeira, Joel Dutra, Antonio Carlos Aidar Sauaia, Dante

    Martolucci, Jos Augusto Gualhardi, Hlio e Odete Teixeira, Marcos Cortez

    Campomar, Maria Tereza Leme Fleury, Marisa Eboli, Maria Aparecida Gouveia,

    Osvaldo Scaicco, Rosa Maria Fischer, Reinaldo, Sigfrield Bender , Ren Mendes,

    Jos Joaquim do Amaral Ferreira, Pedro Luiz de Oliveira Costa Neto, Eda Conte

    Fernandes e Yuchi Tsukamoto, pelas preciosas contribuies.

    Ao Paulo Mendes, que cumpriu com sabedoria a tarefa de estagirio e aos

    meus alunos pelas contnuas oportunidades inesperadas de reflexo.

    Aos colegas do ps-graduao, especialmente ao Sandro. Ao pessoal da

    FIA e da Administrao da FEA, que me apoiou em diversos momentos de

    conciliao de atividades, principalmente Ivanete, Elton, Magda, Miriam, Regina,

    Sheyla, Denise, Lcia, Elaine, Valria, Ana Cristina, Cida, Heloisa e Fabiana.

    A Luciana Dias Rickes, Daniela Ozella Fonseca, Dulcinia - Chefe da

    Biblioteca, Eliana, Andra e Mnica, da Assestec, que deram todo suporte, de

    maneira muito dedicada. Ao Delfim Galizi Domingues pela rapidez e criatividade

    na elaborao dos grficos.

  • 132

    A Sigrid, da Siemens, Ricardo de Marchi, Luiz Antnio, da Plascar, Peixe da

    Mercedes-Benz, Francesco de Cicco, Francisco da Walita, Massarenti, da Telesp

    e Clia da CPFL pelas sugestes.

    A Reni Chehter Berezini que no mediu esforos para dar suporte

    estatstico nos desafios da pesquisa. Agradeo tambm ao professor Canton pelo

    esclarecimento de dvidas.

    Um agradecimento especial competncia e dedicao de Adilson Souza

    Gobbes e Ailton Bonfim pelo apoio.

    Aos amigos Enilde Machado da Costa, Octvio Jordo, Davida e Avelino

    Luiz Rodrigues, Valda Bernardes, Fernando Toledo Ferraz, Leni Sato, Jorge

    Matsubara, Rosa Nagi, Rosa Spinelli, Eva, Sandra Mrcia Motta Liger, Nilo

    Torturella, Mayza Rocha - pelas tradues de emergncia, Renato Skaf dos

    Santos e Katy Beraldo pelo apoio, companhia e carinho.

    Muito especialmente agradeo aos diretores e gerentes que permitiram a

    realizao das atividades de campo nas suas empresas, porque sem eles este

    no seria possvel.

    Finalmente, agradeo aos meus filhos queridos Caio Augusto e Ana Alice,

    por terem ajudado, criado os desenhos e compartilhado muitos momentos difceis

    destes anos de pesquisa.

  • 133

    RESUMO

    Este trabalho examina Qualidade de Vida no Trabalho nas manufaturas, de

    mdio porte que obtiveram certificao ISO 9000. Nosso principal objetivo foi

    investigar as provveis relaes entre esforo da empresa e satisfao dos

    empregados atravs de indicadores empresariais selecionados com critrios da

    abordagem biopsicossocial. O mtodo de pesquisa foi estudo de campo, com o

    modelo de variveis dependentes e independentes. Os dados foram coletados em

    26 empresas e 446 questionrios, na Regio de So Paulo.

    Os resultados demonstram inicialmente comparaes atravs de anlise

    exploratria entre gerncia de recursos humanos e empregados. A seguir,

    levantaram-se fatores de satisfao dos empregados, quais sejam: atuao

    organizacional, necessidades biolgicas, incluso social, prestao de servios; e

    fatores de esforo das empresas: imagem, desenvolvimento profissional,

    administrao de recursos humanos, sade e tica, demandas legais e reposio

    de energias.

    Atravs de anlise de conglomerados foram obtidos perfis de atitudes dos

    empregados. Os perfis so diferenciados entre realizao, desconfiana ou crtica

    empresa. Finalmente, obtivemos resultados sobre tipos de gesto. Os tipos

    identificados foram estruturado, reativo e aleatrio. Relacionando-se esses tipos

    de gesto e perfis dos empregados, constatou-se que a satisfao dos

    empregados localiza-se mais na imagem da empresa e em programas de

    atendimento a sade e benefcios, que no tipo de gesto.

  • 134

    ABSTRACT

    This work deals with Life Quality at Work at medium-sized manufacturers

    that had been awarded ISO 9000 certificate. We targeted investigating the

    potential relationship between companys effort and employees satisfaction

    through the selected companys indicators based on criteria of the bio-psycho-

    social approach. Research method was the field study with the model of dependent

    and independent variables. Data were collected at 26 companies by 446

    questionnaires in the So Paulo Region.

    Results show first comparisons through exploratory analysis of human

    resources management and employees. Following, employees satisfaction factors

    were identified as follows: organizational acting, biological needs, social

    integration, service rendering; so were the companys effort factors: image,

    professional development, human resources management, health and ethics, legal

    actions and energy recovery.

    By means of a cluster analysis, the employees attitude profile was obtained.

    They were made distinct among accomplishment, discredit or criticism about the

    company.

    Finally, we have obtained results related to kinds of management. Identified

    kinds were structured, reactive and random. After relating these kinds of

    management and employees profiles, we could find out that employees

    satisfaction is based more on the companys image and on medical services and

    benefits than on the kind of management.

  • 135

    Introduo

    A globalizao econmica tem levado as empresas a adotar mudanas

    radicais, como flexibilidade de produo, custos enxutos, decises rpidas,

    atitudes assertivas, ausncia de desperdcio, impactos tecnolgicos.

    Investigar qualidade de vida no trabalho em cenrio de competitividade

    empresarial pode representar, primeira vista, um problema de carter

    contraditrio. A contradio parece estar nas decises em que se avalia se

    possvel privilegiar a pessoa e a empresa com os mesmos resultados de

    produtividade e qualidade.

    Nas empresas, vivem-se constantes esforos de mudanas que mobilizam

    pessoas: no entanto, aes sobre as condies de trabalho raramente recebem

    investimento especfico. Este fato fragiliza as pessoas e freqentemente

    compromete os projetos da empresa, em termos de continuidade, de otimizao

    das metas e o processo de aprendizado organizacional. Externamente, a busca

    a prestao de servios para o cliente e a conquista do mercado. No ambiente da

    empresa, este cenrio composto por clientes internos, que, para responderem

    ao mercado, devem apresentar atitudes, conhecimentos e operaes com todo

    potencial biopsicossocial preservado e continuamente aperfeioado.

  • 136

    Esta intensa variedade de presses cria um cenrio dinmico e exigente para

    as organizaes que pretendem sobreviver nas prximas geraes. As pessoas

    nesse cenrio tm sido submetidas a desafios intensos, que, de um lado,

    ameaam a estabilidade e o conhecimento adquirido, de outro, tm sido a grande

    oportunidade de mudana, como modernizao, evoluo quanto performance,

    maturidade crtica, criao de novos paradigmas e valores de preservao,

    qualidade de compromisso e autonomia profissional.

    Obter a certificao no significa necessariamente que a empresa conseguiu

    maior qualidade em seus produtos e servios, nem em qualidade de vida no

    trabalho. As mudanas tm sido realizadas a curto prazo e muitas vezes com

    inovaes que podem ser alavancadas para melhores condies de vida no

    trabalho.

    Por presso, falta de tcnicas comportamentais ou estilo de gesto, o foco

    dos sistemas de qualidade tem sido os processos de produo e preparao da

    documentao.

    Pouco tem sido construdo na cultura organizacional sobre a valorizao do

    bem-estar no trabalho. Exigncias disciplinares pouco tm que ver com o

    desempenho global da empresa. As formas de proteo dos riscos ocupacionais

    so estabelecidas mais para atender a presso da legislao do que promover a

    sade. A responsabilidade social fica restrita ao estilo da alta direo e das

    presses sindicais.

    A nfase na subsistncia, como propulsora do compromisso com o trabalho,

    algumas vezes tem sido substituda pela supervalorizao do trabalho. O

  • 137

    significado do trabalho como fonte de enriquecimento e realizao existencial

    (Harman e Hormann, 1990:100) algo que se aceita como valor, mas se pratica

    pouco como poltica de recursos humanos.

    A necessidade humana de performance capacitada e saudvel obtida de

    forma casual. O gerenciamento da qualidade de vida no trabalho tem sido

    compreendido de forma parcial e incompleta. A atuao da qualidade voltada para

    pessoas freqentemente traz um referencial assistencialista, como benemerncia

    ou, simplesmente, aes para Qualidade de Vida no Trabalho que so ignoradas

    nas polticas das empresas.

    Existem dificuldades reais de gerenciamento da Qualidade de Vida no

    Trabalho, como a heterogeneidade de perfis individuais e socio-econmicos das

    pessoas que formam a fora de trabalho de cada empresa, a natureza dos

    impactos dos sistemas de qualidade na performance de bem-estar e sade da

    empresa em seus nveis individual, grupal e organizacional, com impactos poltico-

    organizacionais.

    A escolha do tema Qualidade de Vida no Trabalho como linha de pesquisa

    o caminho de volta percorrido durante a dissertao de mestrado sobre

    manifestaes psicossomticas e ambiente organizacional. Agora, na

    humanizao do trabalho, propusemo-nos entender com maior profundidade o que

    e como esto sendo gerenciados os programas e as aes que geram melhores

    condies de vida humana no trabalho. O paradigma que o ser humano em

    condies favorveis expresso de sua humanidade gera resultados visveis na

    organizao como um todo.

  • 138

    Os conceitos tratados na fundamentao terica so:

    Qualidade de vida no trabalho: evoluo histrica, demandas socio-

    econmicas, abordagens, reviso histrica dos conceitos de relaes de trabalho,

    administrao de recursos humanos.

    Aes empresariais voltadas para Qualidade de Vida no Trabalho: critrios

    adotados, programas existentes nas empresas, fenmenos humanos e

    organizacionais: abordagem biopsicossocial.

    Indicadores de qualidade de vida, abordagem biopsicossocial, ndice de

    Desenvolvimento Humano e outros indicadores que contribuiram para a

    construo do desenho do problema.

    A competitividade: fundamentos sociais das empresas, a era da qualidade,

    demandas estratgicas da gesto de recursos humanos, presso empresarial em

    busca da competitividade.

    Qualidade e Certificao ISO 9000: Histrico, caracterizao, abrangncia e

    objetivos da certificao ISO 9000, Prmio Nacional da Qualidade - PNQ, mitos e

    problemas da certificao. Finalizando uma breve abordagem sobre as tendncias

    de certificao.

    A metodologia de coleta de dados adotada foi pesquisa de campo. O

    problema foi desenhado atravs da anlise de problemas organizacionais, e as

    variveis escolhidas foram esforo da empresa x satisfao dos empregados em

    aes e programas de qualidade de vida no trabalho.

    A escolha dos procedimentos de campo, de aplicao dos questionrios na

    prpria empresa, visou ter contato direto com os empregados em seu ambiente de

    trabalho, durante o autopreenchimento dos dados.

  • 139

    A anlise dos resultados foi exploratria, dado o estgio inicial de pesquisas

    no tema. Um segundo conjunto de anlise apresenta tratamentos estatsticos de

    anlises univariadas e multivariadas. Pretendemos obter dados de anlise fatorial,

    conglomerados de perfis dos empregados e ndices especficos de estruturao

    da gesto da Qualidade de Vida no Trabalho das empresas.

    A metodologia de anlise dos resultados ser essencialmente exploratria,

    sem no entanto desprezar a contribuio instigadora de provveis relaes e

    explicaes das aes de qualidade de vida no trabalho.

  • 140

    Organizamos esses temas de acordo com a ilustrao a

    seguir.

    INTRODUO

    CAPTULO 1 CAPTULO 2 CAPTULO 3

    FUNDAMENTAOTERICA METODOLOGIA

    ANLISE DOSRESULTADOS

    QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHOCOMPETITIVIDADE, QUALIDADE E ISO 9.000

    NATUREZA E MTODOHIPTESEINDICADORES E CRITRIOS DAS VARIVEIS

    EXPLORATRIOFATORIALCONGLOMERADOS

    CONCLUSES

    BIBLIOGRAFIA

    Estrutura do texto

    Algumas contribuies foram idealizadas como resultado do esforo

    cientfico. Inicialmente, este estudo pretende situar, no mesmo grau de

    importncia de outras polticas e aes empresariais, a gesto da qualidade de

    vida no trabalho associada competitividade empresarial, mas com alma.

  • 141

    Esta busca atende s tendncias de humanizao no trabalho, em que

    diante da complexidade e da crescente presena de tarefas que exigem raciocnio

    abstrato e ateno seletiva, cada pessoa deve ter suportes sociais de bem-estar e

    capacitao ocupacionais.

    Os resultados devero contribuir para instrumentalizao da implementao

    de aes, polticas e programas dentro de critrios da abordagem biopsicossocial.

    Espera-se tambm revelar e aprofundar a compreenso sobre valores

    culturais associados oposio entre expectativas individuais e necessidades de

    resultados da empresa.

    Algumas caractersticas, que podem levar a limitaes deste tipo de estudo,

    referem-se a:

    Prticas de gesto de recursos humanos pouco consolidadas na grande maioria das empresas brasileiras.

    Ambiente mercadolgico em franco crescimento com novas exigncias associadas a requisitos de qualidade.

    Medo dos funcionrios de expressar a real opinio, em funo do crescente desemprego.

    Falta de hbito de pesquisa junto aos funcionrios, que gera necessidade de cuidados das gerncias em levantar expectativas.

    Em decorrncia da complexidade e de certa tradio em tratar o tema de

    forma mais individualizada e subjetiva, h mais perguntas do que respostas. Por

    isso espera-se que as experincias aqui relatadas sejam uma contribuio correta

    para novas perspectivas de gesto no que se refere valorizao da condio

    humana no trabalho.

  • 142

    1

    FUNDAMENTAO TERICA

    1.1 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO 9

    1.1.1 Conceitos 9

    1.1.2 Viso biopsicossocial 12

    1.1.3 Abordagens sobre a Qualidade de Vida no Trabalho 20

    1.1.4 Contribuio das cincias 23

    1.2 BASES CONCEITUAIS DOS INDICADORES DAS VARIVEIS 25

    1.2.1 Construo dos indicadores 29

    1.2.2 Importncia da Qualidade de Vida no Trabalho 36

    1.2.3 Qualidade de Vida no Trabalho no Brasil 40

    1.2.4 Fenmenos humanos e organizacionais 45

    1.3 COMPETITIVIDADE, QUALIDADE E ISO 9000 58

    1.3.1 Competitividade: da sobrevivncia s implicaes ticas 58

    1.3.2 Gurus da qualidade: idias e conceitos 66

    1.3.3 Sistema de certificao 72

    1.3.4 Viso crtica da gesto de recursos humanos 82

    1.3.5 Ambiente manufatura 87

  • 143

    1.1 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO

    O mais valioso de todo capital o que investido em seres humanos.

    Alfred Marshall

    1.1.1 Conceitos

    Qualidade de Vida no Trabalho considerada neste estudo o conjunto das

    aes de uma empresa que envolvem a implantao de melhorias e inovaes

    gerenciais, tecnolgicas e estruturais no ambiente de trabalho. Portanto, o foco

    proposto qualidade de vida no trabalho como ferramenta gerencial construda na

    cultura organizacional.

    As demandas de Qualidade de Vida no Trabalho surgiram h mais de

    duas dcadas com os conceitos em que so trabalhados hoje nas empresas e

    junto aos cientistas. Os cientistas franceses trazem uma contribuio

    metodolgica voltada para a criao do espao coletivo, conscientizao e

    participao nas decises da empresa sobre condies ergonmicas e de gesto

    mais participativa (especialmente Dejours e seguidores).

    Alm da participao, outros processos foram estudados em linha de

    pesquisa de qualidade de vida. Em estudos na Volvo sueca, Werther e Davis (In

    Fernandes, 1988:7) enfatizam a valorizao do ambiente mais humano de

    trabalho, com base no desenho da planta e dos cargos. Alvesson (1987) cita trs

    pontos-chave da moderna vida no trabalho: autodeterminao versus controle,

  • 144

    monotonia versus variabilidade e demanda qualificada. Estudos e experincias

    documentadas demonstram uma tendncia de mapear incidentes crticos e

    identificar indicadores de stress visando ao Wellness - bem-estar -, para posterior

    controle e conseqente conforto fsico, elevao da auto-estima e produtividade

    do grupo pesquisado.

    Vrios autores voltados para estudos do comportamento organizacional,

    promoo da sade, patologia do trabalho e, mais recentemente, programas de

    qualidade total tm-se dedicado ao exame da qualidade de vida no trabalho. De

    forma geral, observam-se conceitos de Qualidade de Vida no Trabalho - QVT, com

    os seguintes enfoques: (a) grau de satisfao da pessoa com a empresa; (b)

    condies ambientais gerais; (c) promoo da sade. Ao revisar a bibliografia,

    selecionamos no Quadro 1.1 alguns desses conceitos.

    Quadro 1.1 Conceitos em Qualidade de Vida no Trabalho Autor Definio nfase

    Drucker, 1981 Avaliao qualitativa da qualidade relativa das

    condies de vida, incluindo-se ateno aos

    agentes poluidores, barulho, esttica,

    complexidade etc.

    Responsabilidade social da

    empresa nos movimentos sociais,

    culturais e polticos.

    Walton, 1973 Atendimento de necessidades e aspiraes

    humanas, calcado na idia de humanizao e

    responsabilidade social da empresa

    Humanizao e responsabilidade

    social, com foco no poder da

    empresa.

    Fernandes, 1992 Conjunto de fatores que, quando presentes

    numa situao de trabalho, tornam os cargos

    mais satisfatrios e produtivos, incluindo

    atendimento de necessidades e aspiraes

    humanas.

    Humanizao do cargo.

  • 145

    (continuao)

    Autor Definio nfase

    Werther & Davis, 1983 Esforos para melhorar a qualidade de vida,

    procurando tornar os cargos mais produtivos

    e satisfatrios.

    Valorizao dos cargos, mediante

    anlise de elementos.

    organizacionais, ambientais e

    comportamentais.

    Nadler e Lawler, 1983 Maneira de pensar a respeito das pessoas,

    participao na resoluo de problemas,

    enriquecimento do trabalho, melhoria no

    ambiente de trabalho.

    Viso humanista no ambiente de

    trabalho.

    Neri, A.M , 1992 Atendimento das expectativas quanto a se

    pensar a respeito de pessoas, trabalho e

    organizao, de forma simultnea e

    abrangente.

    Viso holstica.

    Lippitt, 1978 Oportunidade para o indivduo satisfazer a

    grande variedade de necessidades pessoais.

    Trabalho, crescimento pessoal,

    tarefas completas, sistemas

    abertos.

    Berlanger, 1992 Melhorar as condies de trabalho, de modo

    a proporcionar aos indivduos melhores

    condies de vida e cargos mais satisfatrios

    para a prpria pessoa, com reflexos na

    produtividade.

    Condies de vida e cargos mais

    satisfatrios.

    Ginzberg et alii, 1979 Experincias de humanizao do trabalho sob

    dois aspectos: reestruturao do emprego e

    grupos semi-autonmos.

    Posto individual de trabalho e

    processo decisrio.

    Bergeron, 1982 Aplicao concreta de uma filosofia humanista

    pela introduo de mtodos participativos.

    Mudana e participao

    com foco sociotcnico.

    Camacho, 1995 Classificao de programas: orientao

    familiar, sade, ambiente, contato e convvio,

    evoluo/desenvolvimento, cultura e

    desligamento.

    Foco motivacional: sobrevivncia

    com dignidade, segurana,

    participao, auto-realizao e

    perspectiva de futuro.

    Dantas, 1996 Gerncia pela Qualidade Total - GQT:

    Utilizao de 5s, diagrama de causa e efeito e

    procedimentos da Qualidade Total nos

    programas de sade.

    Foco: promoo da sade: controle

    do colesterol, capacidade fsica e

    aerbica, doenas coronrias.

    Fonte: Dados de pesquisa, 1996

  • 146

    1.1.2 Viso biopsicossocial

    A construo da Qualidade de Vida no Trabalho ocorre a partir do momento

    em que se olham as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque

    biopsicossocial.

    Esta ser a viso adotada para a anlise diferencial de Qualidade de Vida no

    Trabalho. O conceito biopsicossocial origina-se da Medicina Psicossomtica, que

    prope viso integrada, holstica do ser humano, em oposio abordagem

    cartesiana, que divide o ser humano em partes.

    Toda pessoa um complexo biopsicossocial, isto , tem potencialidades

    biolgicas, psicolgicas e sociais que respondem simultaneamente s condies

    de vida. Estas respostas apresentam variadas combinaes e intensidades nestes

    trs nveis e podem ser mais visveis em um deles, embora todos sejam sempre

    interdependentes.

    O nvel biolgico refere-se s caractersticas fsicas herdadas ou adquiridas

    ao nascer e durante toda a vida. Inclui metabolismo, resistncias e

    vulnerabilidades dos rgos ou sistemas.

    O nvel psicolgico refere-se aos processos afetivos, emocionais e de

    raciocnio, conscientes ou inconscientes, que formam a personalidade de cada

    pessoa e o seu modo de perceber e posicionar-se diante das pessoas e das

    circunstncias que vivncia.

  • 147

    O nvel social revela os valores, as crenas, o papel na famlia, no trabalho e

    em todos os grupos e comunidades a que cada pessoa pertence e de que

    participa. O meio ambiente e a localizao geogrfica tambm formam a dimenso

    social.

    Esta conceituao descrita por Lipowski (1986) como resgate de uma viso

    mais ampla do conceito de sade, que tem sido a tendncia nas ltimas dcadas.

    A sade no apenas ausncia de doena, mas tambm o completo bem-estar

    biolgico, psicolgico e social. Esta conceituao, adotada pela Organizao

    Mundial de Sade (OMS), em 1986, foi citada por Dejours (1986) e abre um

    campo significativo para a compreenso dos fatores psicossociais na vida

    moderna e, especificamente, na performance e cultura organizacional da sade do

    trabalho.

    Esta compreenso do ser humano, em que o indivduo o seu corpo, revela

    condies de vida e marcas das experincias vividas e desejadas. Situa-se na

    mesma proposta conceitual da viso holstica de homem. Da ele ser o eixo

    conceitual de Qualidade de Vida no Trabalho.

    Alvesson (1988:78) cita estudos de Bolinder e Ohlstrms, em que se

    estabelece clara correlao entre experincias de stress mental e presses no

    trabalho e sintomas psicossomticos. As causas observadas destas correlaes

    so trabalhos com exaustivo esforo fsico, padres forados de trabalho (forced

    rates of work), problemas salariais, atividades estpidas e desinteressantes.

    A escola sociotcnica cita em seus estudos a introduo de um mtodo de

    trabalho que, num primeiro momento, no gerou maior produtividade, mas fez com

  • 148

    que as taxas de absentesmo e rotatividade se elevassem, juntamente com

    incidncia epidmica de desordens psicossomticas entre os mineiros (Biazzi Jr.,

    1994).

    Esses exemplos demonstram, juntamente com o destaque a seguir, a

    importncia da abordagem psicossomtica para a compreenso da vida no

    trabalho.

    "O distrbio psicossomtico entendido como mensagem, como comunicao, como linguagem arcaica, no verbal, um dos meios que o homem tem para comunicar, e

    a linguagem do corpo, e linguagem do rgo; carregados de significados indiretos,

    que encontram a sua simplificao na interpretao simblica, analgica ou

    metafrica do sintoma. Entender o que quer dizer um determinado sintoma significa

    aumentar o conhecimento de si mesmo e a conscincia do que se

    (Petrone,1994:29).

    Associado aos distrbios psicossomticos est o stress: estado de tenso do

    organismo sob situao de presso imediata ou situao experenciada, que gera

    diversos estados de ansiedade. Rodrigues A. L. (1992) faz detalhada reviso

    sobre os aspectos psicossociais do stress, o que leva a concluir que no h

    Qualidade de Vida no Trabalho, se as condies em que se trabalha no permitem

    viver em um bom nvel de stress, tendo de preferncia como meta o eustresse e

    no o distress, tenso nociva que gera, entre outros motivos, os distrbios

    psicossomticos.

    Samulsk et alii (1996:64) propem a compreenso do fenmeno do stress

    "como transao que envolve risco, perda ou situao, na qual capacidades a

    mais devem ser mobilizadas, e quanto maior o esforo, mais duvidoso se torna o

    acontecimento". Apresentam-se assim dois componentes bsicos para a

  • 149

    ocorrncia de stress: exigncias e capacidade. Exigncias condicionadas ao meio

    externo. Exigncias internas relacionam-se com metas desejveis, valores,

    disposio de avaliao.

    O stress vivido no trabalho a partir da capacidade de adaptao, que

    envolve sempre o equilbrio obtido entre exigncia e capacidade. Se o equilbrio

    for atingido, obtm-se o bem-estar; se for negativo, gerar diferentes graus de

    incerteza, conflitos e sensao de desamparo.

    O stress , talvez, a melhor medida do estado de bem-estar obtido ou no

    pela pessoa, isto , a qualidade de vida no trabalho individualizada na pessoa

    por meio de suas diferentes manifestaes de stress.

    No contexto do trabalho, esta abordagem associa-se tica da condio

    humana. Esta tica busca desde a identificao, eliminao, neutralizao ou

    controle dos riscos ocupacionais observveis no ambiente fsico, padres de

    relaes de trabalho, carga fsica e mental requerida para cada atividade,

    implicaes polticas e ideolgicas, dinmica da liderana empresarial e do poder

    formal ou informal at o significado do trabalho em si, relacionamento e satisfao

    no trabalho (Cerquinho, 1994).

    De forma geral, as pesquisas clssicas sobre condio humana no trabalho

    voltaram-se inicialmente para a questo do moral no grupo a partir da

    demonstrao de que uma fbrica uma instituio social (Mayo, 1945 in

    Tragtenberg, 1985:88), para necessidades e suas diversas hierarquias e classes,

    tais como necessidades bsicas de segurana, de associao, de prestgio e auto-

    realizao (Maslow, 1965), de motivao com incentivos ou manuteno com

  • 150

    benefcios que geram estabilidade de interesse e comportamento de continuidade

    (Herzberg, 1966), estilos de liderana e resultados entre lder, liderados e alvo a

    ser atingido, maturidade e processos decisoriais (McGregor, 1944, Argyris, 1953,

    apud Hersey e Blanchard, 1977).

    As novas contribuies para o estudo do comportamento organizacional so:

    as abordagens sistmicas, a administrao participativa, o avano das pesquisas

    e o interesse das questes prevencionistas, ergonmicas e da sade mental do

    trabalho, os movimentos sociais e a escola francesa, especialmente Dejours

    (1987, 1994), com enfoque na psicopatologia do trabalho. Sua principal

    contribuio a anlise do sofrimento mental no trabalho e a utilizao de uma

    metodologia que atua sobre os espaos coletivos de trabalho, de forma a

    diferenciar e resgatar o sofrimento desagregador e o sofrimento criativo.

    A organizao do trabalho foi ento conceituada pelo contraste com as condies

    de trabalho, sobre as quais a maioria dos pesquisadores mdicos e ergonmicos

    focalizavam seus estudos. Por condies de trabalho deve-se entender as presses

    fsicas, mecnicas, qumicas e biolgicas do posto de trabalho. As presses de

    trabalho tm por alvo principal o corpo dos trabalhadores, onde elas podem

    ocasionar desgaste, envelhecimento e doenas somticas. (Dejours, Abdoucheli,

    Jayet, 1994:125).

    Chanlat e colaboradores (1992) consolidaram processos referentes s

    dimenses esquecidas na organizao, como a inveja, o tempo, a antropologia, a

    comunicao, o smbolo.

    Rodrigues (1994), apesar de no apresentar conceito especfico, demonstra

    que houve evoluo no enfoque do ser humano no trabalho; destaca em pesquisa

    realizada com gerentes os aspectos de participao, poder e autonomia como

    fatores importantes para qualidade de vida dos executivos pesquisados.

  • 151

    Do ponto de vista existencial, Crema (1992) aponta para o momento de

    desafios, de mudanas e da necessidade de inteireza do ser humano, vinculada

    dimenso interconectada do saber e do amor, de forma a no se fragmentar

    diante dos "traumatismos de todos os tempos".

    Dejours (1994) refere-se Qualidade de Vida no Trabalho como condies

    sociais e psicolgicas do trabalho, especificamente no que se refere ao sofrimento

    criador e ao sofrimento patognico, este ltimo, "aparece quando todas as

    margens de liberdade na transformao, gesto e aperfeioamento da

    organizao do trabalho j foram utilizadas". O desafio a transformao do

    sofrimento em criatividade que beneficie a identidade, a resistncia do sujeito ao

    risco de desestabilizao psquica e somtica.

    Buscando uma metodologia de abordagem em ambientes organizacionais,

    Dejours (In Chanlat, 1992) prope a criao do espao coletivo, que o momento

    em que, em situao de grupo, as pessoas compartilham seus valores e

    sentimentos sobre questes especficas, inclusive do trabalho.

    Valorizando o indicador participao, Werther e Davis (1983:70-87) afirmam

    ser a QVT um dos grandes desafios da administrao e do desenvolvimento de

    pessoal. Assim descrevem os fatores que afetam a QVT: "superviso, condies

    de trabalho, pagamento, benefcios e projeto do cargo... uma boa vida de trabalho

    significa um cargo interessante, desafiador e compensador".

    Segundo Walton (1975), Qualidade de Vida no Trabalho refere-se a "valores

    ambientais e humanos, negligenciados pelas sociedades industriais em favor do

    avano tecnolgico, da produtividade e do crescimento econmico. Esse autor

  • 152

    apresenta pormenorizado histrico da Qualidade de Vida no Trabalho. Nele nos

    basearemos para a elaborao desta tese.

    Especificamente quanto natureza conceitual da Qualidade de Vida no

    Trabalho, Nadler e Lawler (In: Rodrigues M.V.C., 1994) propem fases evolutivas.

    Os autores concluem com uma viso pessimista do futuro, em que, segundo eles,

    dever ocorrer desvalorizao do termo em alguns setores - que eles no

    identificam, em decorrncia da globalizao, isto , uso indiscriminado do termo.

    Fernandes E.C.(1996, 1992a, b e c, 1990, 1988), apresenta contribuies

    para a construo e compreenso dos conceitos de Qualidade de Vida no

    Trabalho. Afirma que a expresso Qualidade de Vida no Trabalho est associada

    melhoria das condies fsicas, programas de lazer, estilo de vida, instalaes,

    atendimento a reivindicaes dos trabalhadores, ampliao do conjunto de

    benefcios.

    Do ponto de vista das relaes de trabalho, a pesquisadora comenta que as

    melhores condies de trabalho advm de uma evoluo da sociedade: QVT est

    intimamente ligada democracia industrial e humanizao do trabalho, cuja

    corrente mais forte a francesa, que utiliza como metodologia cientfica o

    depoimento sistemtico dos empregados sobre suas atividades (Jornal de

    Recursos Humanos, 1992).

    Alm dos autores citados, o tema qualidade de vida no trabalho aparece

    especialmente em estudos com professores de diversos sistemas organizacionais,

    servidores pblicos e ocupaes operrias especficas. Raramente so citados

  • 153

    estudos realizados em empresas privadas. As dimenses mais analisadas voltam-

    se para o clima organizacional e para a preveno do stress.

  • 154

    1.1.3 Abordagens sobre a Qualidade de Vida no Trabalho

    A Qualidade de Vida no Trabalho pode ser analisada com base em trs

    abordagens:

    Sistemas de qualidade

    Potencial humano

    Sade e segurana do trabalho

    A abordagem de qualidade de vida no trabalho do ponto de vista dos

    sistemas de qualidade envolve as polticas e os programas de Qualidade Total,

    Certificao ISO 9000 e muitos outros mtodos e prticas gerenciais centrados na

    satisfao do cliente.

    A abordagem sobre o potencial humano refere-se capacitao, motivao e

    desenvolvimento profissional da fora de trabalho, educao para a convivncia

    social, para a utilizao de potencialidades e para o aprendizado organizacional.

    A abordagem sobre sade e segurana refere-se preservao, preveno,

    correo ou reparao de aspectos humanos e ambientais que neutralizam riscos

    na condio de trabalho.

    Os problemas de condies de trabalho tm sido denunciados por cientistas

    sociais, filsofos, mdicos e psiclogos. No captulo "A face repugnante" de

    Imagens da Organizao, Morgan (1996:279) cita estudos em atividades de

    manufatura, como panificao, confeco de roupas, fbrica de fsforos, indstria

  • 155

    cermica e conclui que muitos problemas bsicos de higiene e segurana ainda

    persistem, destacando nmeros de acidentes de trabalho, mortes por doenas

    ocupacionais e que, quando a questo eficincia versus segurana, sempre

    vence a primeira: em lugar de ler segurana em primeiro lugar leia-se segurana

    quando conveniente.

    A base econmica dos problemas de higiene e segurana continua presente,

    semelhante dos primeiros fabricantes do sculo XIX, quando faziam com que

    seus empregados trabalhassem at quase morte para no incorrerem em

    perdas por ociosidade das mquinas. tambm de considerar que existem

    empregados que tiram vantagem das regras e de esquemas de indenizao. O

    autor citado aborda tambm os riscos ocupacionais associados s exigncias

    legais.

    Mendes (1995:46), em seu compndio Patologia do trabalho, destaca o

    Karoshi: morte sbita que vem ocorrendo no Japo em decorrncia de trabalho

    excessivo e prolongado, como um incidente importante nas relaes de trabalho

    da competio empresarial.

    Para Harman e Hormann (1990), as novas atitudes de vida no trabalho so

    como uma nova forma de ser. Entre vrios tipos de movimentos sociais,

    apresentam o atendimento holstico sade. As caractersticas deste atendimento

    holstico so: a auto-responsabilidade pelo bem-estar fsico, a prtica da medicina

    preventiva, a presena de um curador interior, a doena como oportunidade para

    melhorias e uma definio aberta de sade; ser saudvel estar robusto, pleno de

    um senso energizado de bem-estar, tranqilo, vigoroso. Implica estar integrado

  • 156

    consigo mesmo, em paz com a prpria natureza, com os outros e com todo o

    ambiente.

    Hudson (1996) destaca a influncia da cultura brasileira nos riscos

    ocupacionais, exemplificando com o trabalho pesado para os homens, que

    desdobrou na crena de que quanto mais peso carrega, mais homem .

    Se forem consideradas as propostas de Francesco de Cicco (1996) e Frosini

    e Carvalho (1995:40-54), estes aspectos vm sendo documentados na futura ISO

    18000, ou atuais BS 8750, Guide to health and safety management, que contm

    diretrizes especficas. A norma ISO 14000 refere-se gesto ambiental e objetiva

    garantir a preservao do ambiente ecolgico.

    Essas normas tendem a ter grande adeso em funo das prticas

    administrativas e da legislao existentes no pas h mais de trs dcadas. Elas

    foram aperfeioadas em virtude da (OIT), da maior conscincia sindical e dos

    movimentos de preservao da vida na Terra.

  • 157

    1.1.4 Contribuio das cincias

    A sociedade vive novos paradigmas sobre modos de vida dentro e fora do

    trabalho, construindo novos valores relativos s demandas de Qualidade de Vida

    no Trabalho. Neste contexto, as cincias tm dado contribuies especficas.

    Entre as contribuies cientficas em vrios campos diretamente

    relacionados com a Qualidade de Vida no Trabalho, destacam-se:

    Sade: nessa rea, a cincia tem buscado preservar a integridade fsica,

    mental e social e no apenas ausncia de doena, com maior expectativa de vida

    e avanos biomdicos.

    Ecologia: v o homem como parte integrante e responsvel pela

    preservao do ecossistema dos seres vivos e dos insumos da natureza.

    Ergonomia: estuda as condies de trabalho ligadas pessoa.

    Fundamenta-se na medicina, psicologia, motricidade e tecnologia industrial

    Gendrier (1988).

    Psicologia: juntamente com a filosofia, demonstra a influncia das atitudes

    internas e perspectivas de vida da anlise e insero de cada pessoa em seu

    trabalho e a importncia do significado intrnseco das necessidades individuais.

  • 158

    Sociologia: resgata a dimenso simblica do que compartilhado e

    construdo socialmente, demonstrando as implicaes de quem influencia e

    influenciado nos diversos contextos culturais e antropolgicos.

    Economia: enfatiza a conscincia social de que os bens so finitos e que a

    distribuio de bens, recursos e servios deve envolver a responsabilidade social

    e a globalizao.

    Administrao: procura aumentar a capacidade de mobilizar recursos, cada

    vez mais sofisticados e impactantes em termos tecnolgicos, diante de objetivos

    mais especficos, rpidos e mutantes.

    Engenharia: pesquisa novas formas de relaes de produo voltadas para

    multicapacitao, flexibilizao da manufatura, produo enxuta, defeito zero,

    armazenamento mnimo de materiais e uso da tecnologia e controle estatstico de

    processos.

  • 159

    1.2 BASES CONCEITUAIS

    DOS INDICADORES DAS VARIVEIS

    necessrio fazer BEM o bem. Gomez Perez

    Indicadores so ferramentas de planejamento e deciso que permitam

    clareza de critrios, no-ambigidade de avaliao, facilidades de levantamento,

    de compreenso e de comparao. Os Indicadores de Desempenho devem captar

    os efeitos interativos das funes praticadas na organizao (Prmio Nacional da

    Qualidade, 1994:5).

    Os objetivos da construo de indicadores pode esto associados s

    necessidades polticas decisoriais, compreenso das caractersticas culturais de

    uma comunidade, a ferramentas de desenvolvimento e competitividade

    internacional.

    Outros critrios utilizados para a seleo dos indicadores so crenas

    pessoais, qualidade pessoal da vida, qualidade das relaes sociais, qualidade da

    vizinhana, padro internacional da qualidade de vida (NET - 18/12/95: Best ways

    of measuring quality of life).

    difcil especificar as definies operacionais que constituiro o indicador

    representativo de determinado setor (UNCTAD, 1991, in Brisolla, 1995:13).

  • 160

    Coutinho, Ferraz e colaboradores (1994: anexo I) apresentam indicadores

    empresariais relativos ao capital humano na empresa para o clculo da

    competitividade no Brasil.

    Foi feita uma consolidao dos indicadores no Quadro 1.2, indicados pelos

    autores no Sistema de Indicadores de Competitividade, com o objetivo de destacar

    os sinalizadores especficos de Recursos humanos, que so interessantes para a

    composio dos critrios de Qualidade de Vida no Trabalho. Destaca-se que na

    proposio conceitual de competitividade, Coutinho e Ferraz (1994:95) defendem

    que a construo da competitividade no pode prescindir de fundamentos sociais,

    educao bsica universalizada, elevada qualificao da fora de trabalho, novas

    formas de organizao do processo de produo, relaes de trabalho,

    cooperativas e mercados que exigem qualidade.

    Quadro 1.2 Indicadores empresariais associados a recursos humanos.

    Foco Indicador Fonte

    Custos Evoluo dos custos de mo-de-obra e principais insumos

    IBGE

    Evoluo da remunerao mdia do trabalho por hora

    IBGE

    Carga tributria: contribuies sociais/valor da produo

    IBGE

    Produtividade Nmero de horas trabalhadas: produto x pessoal

    IBGE

    Nmero de horas trabalhadas x mquinas e ferramentas

    IBGE

    Qualidade e meio ambiente

    Normas tcnicas nacionais e internacionais cumpridas em relao a qualidade

    entidade empresarial e Inmetro

    Idem com relao ao controle ambiental entidade empresarial e IBAMA

    ndices de perda e retrabalho entidade empresarial (continuao)

  • 161

    Foco Indicador Fonte

    Produtividade Nmero de horas trabalhadas entidade empresarial Produto em valor / pessoal ocupado na

    produo entidade empresarial

    Econmico financeiro

    Rentabilidade, grau de endividamento, grau de liquidez

    entidade empresarial

    Educao Tecnologia

    Gastos em educao/ PIB Ministrio da Educao e IBGE

    Taxa de escolaridade: populao matriculada x populao em idade escolar

    Ministrio da Educao e IBGE

    Pessoal ocupado em P & D Secretaria de Cincia e Tecnologia e IBGE/entidade empresarial

    Educao e tecnologia

    Gastos em treinamento de recursos humanos/ valor da produo

    IBGE/entidade empresarial

    Nmero de empregados em treinamento x empregados totais

    IBGE/entidade empresarial

    Composio da escolaridade de recursos humanos

    IBGE/entidade empresarial

    Grau de difuso das tecnologias de manufaturas avanadas

    entidade empresarial

    Idade tecnolgica dos equipamentos produtivos

    entidade empresarial

    Gastos com insumos de modernizao tecnolgica

    entidade empresarial

    Investimento em capacidade produtiva

    Parque instalado, investimento x faturamento entidade empresarial

    Fonte: Adaptao de Coutinho, Ferraz e colaboradores (1994: anexo I).

    Outro importante critrio de seleo so os indicadores microeconmicos do

    desempenho competitivo. Bonelli, Fleury e Fritsh (1993) destacam que as anlises

    tradicionais do desempenho industrial tm privilegiado as variveis relacionadas

    ao custo de operao das empresas, geralmente expressas em termos fsicos. Os

    indicadores anteriores eram baseados em conceitos e magnitudes contbeis. Tm

    sido insatisfatrios em funo das novas caractersticas tecnolgicas e

    organizacionais.

  • 162

    Os indicadores de produtividade, isto , a relao entre produto(s) e insumo

    (s) necessrios, tm tido contribuies de muitos estudiosos. Bonelli, Fleury Fritsh

    (1993:14-19), destacam os seguintes:

    Porter (1980): variveis de competitividade custos e diferenciao Kaplan (1990): medidas operacionais: entrega, confiabilidade, qualidade e

    recursos humanos.

    Bonelli, Fleury e Fritsh (1993): dimenses de desempenho em manufaturas; custos, qualidade, tempo, inovatividade e flexibilidade.

    Stalk (1988): confiabilidade e prazo de entrega.

    Para indicadores de servios, foi selecionada a contribuio de Yoshinaga

    (IMAN, s/d): Educao, transporte, saneamento, energia, comunicaes,

    tecnologia, construo civil, gesto econmico-empresarial, judicirio, legislativo,

    relaes capital-trabalho.

    Indicadores Empresariais de Capacitao Tecnolgica (ANPEI 1994, ano 3)

    que tm sido utilizados so: nmero de empregados, faturamento bruto, lucro

    lquido, investimento de capital, ndice total de defeitos, participao do mercado

    nacional.

  • 163

    1.2.1 Construo dos indicadores

    Os indicadores de qualidade de vida no trabalho tm como base o ndice de

    Desenvolvimento Social (IDS), o ndice de Desenvolvimento Humano (IDH)

    (Rodrigues, 1991) e as categorias de Walton (1975).

    uma tentativa de cobrir de forma mais abrangente as diversas dimenses

    da qualidade de vida do trabalho, tanto do ponto de vista da empresa, como do

    ponto de vista do empregado.

    Desenvolvimento humano um processo para ampliao da gama de

    opes e oportunidades das pessoas e deve incorporar as dimenses em que se

    manifestam essas opes: econmica, social, poltica, cultural e ambiental.

    uma medida socioeconmica que complementa os dados do PIB e um

    ndice de natureza basicamente estrutural. O conceito de ndice de

    desenvolvimento humano - IDH e sua divulgao no Brasil, atravs do PNUD,

    teve incio em 1990. Os indicadores esto associados ao ciclo social de

    conferncias da Organizao das Naes Unidas (ONU) e refere-se natureza e

    sentido do desenvolvimento, mais especificamente realizao (ou satisfao)

    pessoal dos indivduos de um pas ou regio.

    O Relatrio de Desenvolvimento Humano do Brasil (1996:4) enfatiza trs

    opes bsicas do desenvolvimento humano: desfrutar uma vida longa e

    saudvel, adquirir conhecimento e ter acesso aos recursos necessrios para o

  • 164

    padro de vida decente. Tais opes so incorporadas ao ndice atravs de

    variveis que medem longevidade, nvel educacional e renda.

    Sobre renda familiar e problemas socioeconmicos brasileiros, Rodrigues,

    M.C.P (1994) estimou que existam em torno de 28% de famlias, referindo-se a

    famlias cuja renda esteja em torno de um salrio mnimo per capita.

    A composio do ndice de Desenvolvimento Social - IDS esperana de

    vida, grau de alfabetizao, distribuio de renda. A composio do ndice de

    Desenvolvimento Humano - IDH : alimentao, sade, seguro de vida,

    conhecimento, condies de trabalho, segurana contra o crime, lazer,

    participao econmica, participao cultural e poltica.

    Alguns autores tm apresentado estudo com novos critrios de indicadores.

    No Brasil, Fernandes, E.C. (1992:7) aponta os seguintes focos dos programas de

    Qualidade de Vida no Trabalho - QVT: reestruturao dos postos de trabalho,

    melhoria da cultura organizacional, criao de grupos autnomos ou

    autogerenciados.

    O conjunto mais completo de critrios e indicadores de qualidade de vida no

    trabalho foi proposto por Walton (1975). O autor coloca a necessidade de padres

    objetivos e subjetivos de compensao. Sinaliza aspectos da sade fsica e

    mental, integrao social, desenvolvimento comunitrio e contribuio das teorias

    de desenvolvimento humano, citando a teoria de Hierarquia de Necessidades de

    Maslow. Diferencia situaes potenciais de operacionalizaes corretas para os

    padres e critrios utilizados. Por fim, relaciona as seguintes fases de evoluo da

    Qualidade de Vida (1975: 92-93):

  • 165

    1930 -1940: nfase na segurana do trabalho; 1950: relaes positivas entre moral e produtividade; 1960: iguais oportunidades de trabalho e enriquecimento de tarefas; 1970: valores afetivos, necessidade e aspiraes humanas,

    responsabilidade social.

    Nesta viso evolutiva, Walton props h duas dcadas oito critrios que

    transcrevemos no Quadro 1.3.

    Quadro 1. 3 Critrios de Walton para Qualidade de Vida no Trabalho.

    Critrio Indicadores Descrio Compensao justa e adequada

    Salrio Jornada de trabalho

    Referente tambm remunerao

    Carga horria de trabalho Condies de trabalho Ambiente fsico

    Salubridade No sentido de conforto

    ergonmico Ausncia de exposio a riscos

    ocupacionais Uso e desenvolvimento das capacidades pessoais

    Autonomia Estima Capacitao mltipla Informaes sobre o trabalho

    Liberdade para tomar decises O quanto se sente querido por

    parte dos colegas Qualificao especfica e geral

    para o exerccio da funo De que forma e em que

    profundidade se informado sobre o trabalho

    Oportunidade de crescimento e segurana

    Carreira Desenvolvimento pessoal Estabilidade no emprego

    Movimento de ascenso profissional

    Melhoria em performance Risco de demisso

    Integrao social na organizao

    Ausncia de preconceitos Habilidade social Valores Comunitrios

    Incluso ou excluso na empresa

    Educao e diplomacia Valorizao das tarefas pela

    empresa Cidadania Direitos garantidos

    Privacidade Imparcialidade

    Pagamentos, frias, seguros etc No invaso na documentao

    e decises Ausncia de subjetividade e

    decises objetivas (continuao)

    Critrio Indicadores Descrio

  • 166

    Trabalho e espao total de vida

    Liberdade de expresso Vida pessoal preservada Horrios previsveis

    Revelao das opinies Ausncia de interferncia na

    vida pessoal Uso do tempo pessoal-

    profissional Relevncia social do trabalho

    Imagem da empresa Responsabilidade social da empresa

    Credibilidade da empresa na comunidade

    Preservao ambiental, gerao de empregos, metaqualidade

    Fonte: Adaptado de WALTON, R. Criteria for quality life. In: DAVIS, L.E., CHERNS, A.B. The quality of working life: problems, prospects and state of the art. New York : The Free Press, 1975: v. 1, p. 43-97.

    Levering (1995:18) cita os estudos de Arthur D. Little, publicados

    originalmente em 1993, sobre as companhias com bom ambiente de trabalho e

    que tendem a ter melhor desempenho financeiro. No Quadro 1.4 publicado no

    artigo, foram utilizados todos os indicadores para a construo do questionrio de

    coleta de dados.

    Quadro 1.4 Motivadores-chave de um excelente lugar para se trabalhar.

    Motivador Dimenses Descrio

    Confiana Credibilidade Qualidade que a direo da empresa tem junto ao empregados, que passam a acreditar nela e a contar com ela

    Jogo limpo

    Regras justas nas relaes com os empregados

    Respeito Atitudes bsicas que os empregados vem expressas nas aes da empresa com relao a eles

    Orgulho Sentimento que os empregados tm em relao ao seu trabalho e a empresa

    Camaradagem Qualidade das interaes no ambiente de trabalho

    Fonte: Levering (1995:18).

    Levering aponta os tipos de relacionamento no trabalho com base nesses

    motivadores: empregados que tm confiana na direo da empresa, empregados

  • 167

    que tm orgulho do trabalho e empregados que se relacionam com camaradagem

    com outros empregados.

    A Escala de Valores Organizacionais (Tamayo e Gondim, 1996:66) traz um

    levantamento com 537 empregados de 16 empresas pblicas e privadas, na qual

    foram encontrados cinco fatores:

    fator 1: eficincia e qualidade do produto; fator 2: relaes interpessoais na organizao; fator 3: estilo de gesto; fator 4: desenvolvimento tcnico. fator 5: respeito ao empregado.

    As Normas Regulamentadoras da Legislao de Sade e Segurana foram

    consolidadas em 1978 (Weber ,1996:15). So indicadores de qualidade de vida,

    uma vez que determinam programas de eliminao, controle e preservao da

    sade e conseqente bem-estar do ambiente de trabalho.

    Entre as normas, alguns programas constam como obrigatrios, como:

    Comisso Interna de Preveno de Acidentes (CIPA), Semana Interna de

    Preveno de Acidentes (SIPAT), Programa de Preveno de Riscos Ambientais

    (PPRA), Controle Mdico e de Sade Ocupacional (PCSMO).

    Estes programas viabilizam a gesto da qualidade de vida, uma vez que tm

    carter de preservao e controle de riscos das condies de trabalho e

    conseqente bem-estar. Tm obrigatoriedade legal de realizao e esto ligados

    tambm obrigatria estrutura de profissionais e documentao especfica

    (Manuais de Legislao Atlas, 1996, v.16).

  • 168

    Entre outras responsabilidades, a gesto de recursos humanos tem grande

    demanda em salrios, carreiras e diagnstico do clima organizacional. O grau de

    organizao da empresa para atender estas necessidades podem ser bons

    indicadores de gesto da qualidade de vida no trabalho.

    Os salrios tm evoludo para um conceito mais amplo e com menores

    encargos tributrios que a remunerao. Benefcios tambm esto incorporados

    neste novo critrio de retorno da empresa sobre o desempenho do empregado.

    As novas tendncias do conceito de remunerao e benefcios tm

    impulsionadores relativos a presses externas e presses internas. Wood Jr. (In

    Coopers & Lybrand, 1996:31) considera presses externas competio, poltica

    industrial, importao e exportao, exigncias do consumidor, exigncias da

    comunidade, expectativas dos acionistas; e presses internas conflitos de poder,

    demanda por maior autonomia no trabalho, demanda por atividades mais criativas

    e motivadoras, tecnologia da informao, melhoria da formao geral dos

    empregados.

    Em outro aspecto analisado, Dutra (1996:16-19) definiu carreira como

    mobilidade ocupacional ou profisso: Caminho estruturado e organizado no

    tempo e no espao, fruto da relao estabelecida entre a pessoa e a empresa,

    englobando as perspectivas de ambas. Envolve o futuro profissional e a

    necessidade da empresa de envolver empregados. No Brasil, no h dados

    relevantes acerca do mercado, mas apenas alguns estudos de caso de empresas

    vanguardistas que buscam gesto compartilhada de carreira. Dutra (1996a) e

    outros especialistas afirmam que o emprego fixo acabou e o que importa

  • 169

    atualmente a empregabilidade. Tem-se, assim, um importante desdobramento

    deste indicador.

    Outros aspectos da administrao de recursos indicadores de Qualidade de

    Vida so poltica interna e competio, (Senge, 1995): so fatos habituais na vida

    de quase todas as grandes organizaes, nas reas de negcios, sade,

    educao e no governo. So uma funo da nossa cultura, que freqentemente

    valoriza mais a competio que a colaborao e v a competitividade entre

    indivduos como vital para a inovao. Isso no bom nem ruim, mas pode criar

    limitaes. A essncia do desenvolvimento de novas capacidades de aprendizado

    a necessidade de equipes, grupos de pessoas que precisam umas das outras

    para agir e para coletivamente melhorar suas capacidades.

    - Cultura: atividades de lazer, arte e informao cultural que as empresas

    desenvolvem e que interferem positivamente no clima organizacional e na

    motivao dos empregados.

    - Gentileza: gentileza no trabalho casal (Meladee & Hanoch McCarty, 1994).

    Para os autores, a gentileza se traduz em atos de reconhecimento e valorizao

    do outro.

    - Educao: a excelncia da educao s poder ser expressa mediante a

    formao mais ampla do homem, que foi o agente de transformao da sociedade

    em geral e da indstria em particular (Senai, 1992).

    - Produtos ecologicamente corretos (Otto: 1993): os consumidores esto se

    preocupando mais e mais com o meio ambiente. No futuro no poderemos ter

    produtos agressivos ao meio ambiente. Para tanto, so necessrias algumas

    providncias, como utilizar embalagens de material reciclado, implantar sistema

  • 170

    para coleta da gua da chuva, reduzir consumo de energia, utilizar transporte de

    massa, em lugar de carro prprio, no utilizar cloro para alvejar papel, separar o

    lixo (vidros, papel, plstico) para posterior reciclagem, restrio de produtos com

    alto teor de chumbo. Na Alemanha esta preocupao mais importante do que o

    desemprego.

    1.2.2 Importncia da Qualidade de Vida no Trabalho

  • 171

    A Qualidade de Vida no Trabalho representa hoje a necessidade de atuar

    mais profundamente na valorizao das condies de trabalho, no que se refere

    aos procedimentos da tarefa em si, ao ambiente fsico e aos padres de

    relacionamento. Novos processos organizacionais demandam pessoas

    inovadoras, prontas para superar desafios, participativas, inovadoras e co-

    responsveis.

    A mudana da natureza no trabalho tem sido grande problema para

    respostas efetivas de gesto da qualidade de vida. Antes era mais visvel o risco

    ocupacional. Hoje, o risco mais mental e afetivo e as ferramentas de anlise

    devem ser simblicas e dedutivas.

    Retornando na histria das caractersticas da qualidade de vida, h o estudo

    de Rodrigues (1994:26-27) com dados de pesquisa de trabalhadores de 200 anos

    atrs. Naquela poca, condies de trabalho eram caracterizadas por jornada de

    at 18 horas, salrio para garantir apenas a sobrevivncia, averso como

    sentimento bsico ao trabalho, fome como propulsora da atividade laborativa.

    Outra citao do mesmo autor refere-se a Owen, no final do sculo XIX, que teria

    sido um dos primeiros donos de fbrica a proporcionar condies decentes de

    trabalho. Os salrios eram suportveis e havia educao formal para os operrios

    e seus filhos.

  • 172

    Aps dois sculos, trabalha-se em torno de 40 horas semanais, existe

    empresas remunerao baseadas no resultado financeiro da empresa, as

    ferramentas de avaliao de desempenho esto sendo repensadas

    estrategicamente. A nfase est na satisfao, compromisso e empregabilidade,

    busca e prazer com e por meio do trabalho.

    Novas respostas so necessrias, como a compreenso das relaes

    trabalho- sade e como estas relaes refletem na qualidade pessoal; mudana

    de processos e condies ergonmicas visando humanizao do trabalho;

    atuao em equipes multidisciplinares que dem suporte s demandas de estilo

    de vida, ambiente fsico e gesto da sade. Alm disso indispensvel propiciar

    a participao dos empregados nas sugestes e implantao de melhorias.

    Do ponto de vista das novas exigncias da sociedade, marcante o

    nmero de questes legais, como Normas Regulamentadoras de Controle dos

    Riscos Ocupacionais, o Servio Especializado de Segurana e Medicina do

    Trabalho - SESMT, Programa de Controle Mdico e Sade Ocupacional -

    PCSMO, Programa de Preveno de Riscos Ambientais. Todas visam proteo

    da sade de trabalhador e especialmente eliminao de riscos, que geram alto

    nmero de acidentes de trabalho e mortes no mundo inteiro. O Brasil um dos

    pases em que mais ocorrem acidentes de trabalho.

    Considerando-se qualidade de vida como ausncia de acidentes, sabe-se

    que a maioria das demandas de Qualidade de Vida originam-se da relao da

    pessoa com seu trabalho. Algumas delas surgem de forma diretamente ligada

  • 173

    tarefa, outras so desencadeadas por condies geradas no trabalho, como

    mostra o Quadro 1.5.

    Quadro 1.5 Classificao das doenas segundo sua relao com o trabalho.

    CATEGORIA EXEMPLO

    I. Trabalho como causa necessria

    Intoxicao por chumbo Silicose

    II. Trabalho como fator contributivo, mas no necessrio Doena coronariana Varizes dos membros inferiores Doenas do aparelho locomotor

    III. Trabalho como provocador de distrbio latente, ou agravador de doena j estabelecida

    Bronquite crnica lcera pptica Eczema Doenas mentais

    Fonte: Extrado do artigo de Ren Mendes A promoo da sade nas empresas: o futuro da medicina do trabalho, j existente, 1996.

    Embora haja sinais importantes de evoluo nas condies de trabalho, as

    caractersticas e os desafios tm-se renovado. O cenrio de mudanas

    contnuas, acmulo de trabalho, horas extras, dificuldades de aprendizado com a

    tecnologia. Esses fatores concorrem para potencializar problemas de sade

    fsicos e mentais, gerar sobrecarga emocional, exigir muito mais do

    relacionamento interpessoal dentro das organizaes. H tambm nfase

    excessiva nas decises focadas no cliente, o que gera prazos ingnuos, decises

    impopulares, disfunes na sade mental. Black (1995) afirma que est ocorrendo

    intensificao do trabalho. Para ele, o mal dos anos 70 era o excesso de pessoal;

    nos anos 90, o mal a sobrecarga de trabalho decorrente do excesso de presses

    externas, desigualdades salariais e medo de desemprego. Cooper (1995) afirma

    que esta a dcada do presentesmo em oposio ao absentesmo. As pessoas

    mais auto-exigentes em relao ao trabalho tendem a sofrer mais.

  • 174

    1.2.3 Qualidade de Vida no Trabalho no Brasil

  • 175

    Investigando aes e programas de gesto de recursos humanos, constata-

    se que muitas empresas brasileiras esto buscando novos paradigmas, segundo

    os quais o potencial humano passa a ser fator real de competncia, e os cuidados

    com relao humanizao ocorrem no posto de trabalho, na qualificao e em

    situaes extensivas vida pessoal e familiar.

    No entanto, a realizao desses programas e aes de Qualidade de Vida no

    Trabalho ainda pouco explcita como prtica associada competitividade. A

    maioria tem origem nas atividades de Segurana e Sade no Trabalho. Estes no

    se associam melhoria do clima organizacional e aos programas de qualidade

    total. Podem-se encontrar iniciativas em empresas de diversos portes e culturas;

    sem muita dificuldade, descobrem-se planos que "no vingam" pela falta de

    posicionamento estratgico deles. Existe receptividade dos empregados para

    programas de Qualidade de Vida. A dificuldade a demanda estratgica e o

    status financeiro em relao a outros programas. Programas de Qualidade de Vida

    no Trabalho surgem mais como gastos do que como investimento.

    No obstante faam parte de qualquer tarefa ou ao gerencial, os

    problemas de sade, freqentemente, representam apenas um ponto secundrio,

    especialmente quando fundamentados em valores culturais questionveis sobre o

    que "sadio" no trabalho. Por exemplo: trabalhar sempre, sem parar, representa

    fora, dedicao e eficincia. O desgaste decorrente deste esforo considerado

    como perda necessria para obter-se bons resultados de produtividade.

  • 176

    Do ponto de vista socioeconmico, a gesto da qualidade de vida tem

    grandes encargos. No Brasil, existem contrastes sociais que acentuam o grau de

    responsabilidade social das empresas e que requerem reviso das polticas e

    prticas de qualidade de vida ligadas desde alimentao at programas extensivos

    a filhos e cnjuges. Associadas s grandes diferenas sociais, existem

    caractersticas especficas, como o nvel salarial do operrio que concorre

    seriamente para os problemas socioeconmicos de condies de trabalho.

    Segundo o Anurio do IBGE (1993), h deteriorao da qualidade de vida, pois

    no Brasil 52% dos trabalhadores ganham at dois salrios mnimos. Portanto,

    remunerao um problema importante de Qualidade de Vida no Trabalho. Com

    relao a esse indicador, h duas tendncias de gesto de recursos humanos:

    uma que acredita que Qualidade de Vida no Trabalho - QVT pode ser tudo, menos

    alterar padres salariais. Existem dificuldades estruturais e distncias sociais

    reproduzidas nos desenhos de cargos e remunerao. Outra vertente visa rever

    os padres de remunerao, associando-os a resultados de produtividade da

    empresa.

    De Marchi (1995) afirma que algumas empresas esto transferindo a

    responsabilidade pela performance de seu pessoal para o departamento mdico

    da empresa. Com o enfoque preventivo, esto implantando centros de

    condicionamento fsico. A criao desses centros e de outras atividades de apoio

    biopsicossocial demonstra que esses momentos dentro da empresa melhoram o

    clima organizacional: "as pessoas ficam relaxadas e produzem melhor". Os

    investimentos em promoo da sade tm demonstrado timos retornos

  • 177

    econmicos. Por exemplo, os sedentrios causam s empresas 36% mais

    despesas mdicas e, quando tm, precisam ser internados, seu perodo de

    recuperao 54% mais longo do que os esportistas. Esses dados apontam para

    a possibilidade de se obterem lucros reais ao investir em qualidade de vida no

    trabalho.

    Para situar as demandas de Qualidade de Vida nas empresas brasileiras,

    foram selecionadas aes, programas e projetos que identificados entre os anos

    de 1992-1996. Esses dados, apresentados no Quadro 1.6, demonstram enfoques

    diversificados, mas com nfase em promoo da sade.

    Quadro 1.6 Aes e programas de Qualidade de Vida no Trabalho nas empresas

    brasileiras.

    Empresas Atividades Foco Fonte Banco de Boston Aes de QVT promovidas pela

    associao de funcionrios com apoio de RH: estilo de vida, mini check-up, relaxamento, teatro, passeio ciclstico

    Lazer, realizao no trabalho, sade e segurana

    Messohn, M.M. , Silva, M.P., jun. 1994.

    Banco do Brasil, Banerj, Multibrs, Goodyear, Mercedes Benz,

    Programas de assistncia e conscientizao contra a AIDS.

    Atendimento clnico e educao para sade

    Revista Isto . Patro eu tenho AIDS, (1994:104-105).

    Ciba-Geigy Qumica

    Atividades diversas em preveno de acidentes em parceria com o departamento mdico

    Sade e segurana Corra, G. De M. , Silveira, A. L. F., jun.1994.

    Cindumel - Cia Ind. de Metais Laminados

    Limpeza da empresa, visando integrao dos funcionrios

    Higiene e integrao no Programa de Qualidade Total

    Nomura, P. M., Zacharauskas, I., jun. 1994.

    Copesul

    Parte do Programa de Qualidade e Produtividade e aes no ambiente particular e familiar

    Qualidade de Vida no Trabalho e na Vida de forma ampla

    Jornal de Recursos Humanos, 1992, p. 6.

    Copesp Levantamento e diagnstico atravs de questionrio especfico

    Satisfao dos funcionrios Pires, P.P.P., jun. 1994.

    Credicard Pesquisa sobre clima organizacional, que envolveu condies de trabalho

    Satisfao dos funcionrios Costa, A.C. , Figueiredo, B., jun. 1994.

    (continuao) Dow-Qumica Sade & Qualidade de Vida:

    alimentao, antifumo, ginstica, patrocnio educacional,

    Sade, treinamento e desenvolvimento de pessoal, tica

    Relatrio especfico da empresa, fev., 1996.

    Du Pont Comit de Segurana Segurana e Proteo Ambiental

    To, R. K. , Nishiwaki, M.K., Jun. 1994. Informe Du Pont, 26.05.94,

  • 178

    Fast-Food

    Estudo sobre a percepo de Qualidade de Vida, do ponto de vista dos funcionrios e gerentes

    Problemas de QVT no ambiente de Qualidade Total em Servios

    Moraes, M., 1994.

    Fundao Cesp Treinamento de especialistas Conceitos e planos de ao em Qualidade de Vida no Trabalho - QVT

    Atividade de Campo,1994.

    IBM Projeto IBM & Gente (ver quadro especfico, nos anexos) , Poltica de Porta Aberta

    Atividades assistenciais, sade e segurana, organizao de RH, satisfao com a empresa

    Texto Interno: IBM & Gente, 1995, Fernandes, 1988:7.

    Impressoras Rima Campanha de sade e qualidade de vida

    Stress e qualidade de vida Atividade de campo, 1993

    Ishikawajima Qualidade de vida dentro e fora do ambiente de trabalho

    Promoo da sade Revista Exame. melhor prevenir do que remediar, 1992:44-45.

    Kodak - So Jos Dos Campos

    Programa para gestantes Kanban - sade

    Atendimento materno-infantil

    Revista Exame. melhor prevenir do que remediar, 1992:44-45.

    Metal leve, Pernambucanas, Freudemberg, ICI, Copagaz

    Atendimento psicolgico Assistncia psicolgica Revista Exame, Operrios beira de uma ataque de nervos, 1991:72-75.

    METR - So Paulo

    Pesquisa e Sipat -Levantamento e Apresentao de Dados

    Indicadores QVT atravs da satisfao individual

    Atividade de Campo, 1995

    Empresas Atividades Foco Fonte

    OESP Integrao empresa-famlia, clima organizacional, pesquisa junto a clientes.

    Qualidade Total (QGP) Franco, F. , Segouras, H., jun. 1994.

    Philips Programa piloto de sade fsica e mental

    Promoo da sade Revista Exame: melhor prevenir do que remediar, 1992:73.

    Philips-Walita Promoo da sade, ergonomia, segurana, assistncia social.(ver quadros anexos).

    Segurana, higiene e medicina, servio social e manuteno social

    Texto Interno - fev./1996

    Refinaes de Milho Brasil

    Preveno AIDS e programas de sade eventuais

    Medicina do trabalho Nagasawa, J. M., jun. 1994.

    Riocell

    Aes diversas no totalmente delineadas visando simbiose entre empresa e empregados

    Produtividade, reduo de acidentes e do absentesmo

    Jornal de Recursos Humanos, 1992.

    Schering-Plough

    Campanha de qualidade de vida Sade Jornal Gazeta Mercantil, 31/5/95.

    Schulumberger Semana de qualidade e sade Preservao do meio ambiente

    Atividade de Campo, 1993.

    Shell Programa VIVA, assistncia a aidticos, diagnstico clnico sistemtico, ps-trabalho

    Sade e integrao social Material institucional de 1993.

    StihlTIHL Moto Serras Ltda.

    Diagnstico de satisfao em QVT, baseado nos critrios de Walton

    Satisfao pessoal Jornal de Recursos Humanos, 1992.

    Telebrs Treinamento conceitual e comportamental

    Stress e qualidade de vida no trabalho

    Atividade de campo.

    Tenenge Estrutura e gesto de Sade e Segurana voltados para QVT

    Sade e Segurana Relatrio especfico da empresa.

    Translor Remunerao, alimentao, boa tarde Translor, Rdio Translor

    Relacionamento e integrao

    Coelho, R.M.H. ,Chun, Y.Y., jun. 1994.

    Unilever Entrevistas pessoais sobre efeitos da reestruturao nas expectativas e comportamento das pessoas

    Efeitos da reestruturao na qualidade de vida das pessoas na empresa

    Puglia, D. , Scoli, D. L., jun. 1994.

  • 179

    O levantamento acima foi realizado nos ltimos trs anos de forma

    exploratria, h centenas de outras empresas desenvolvendo programas de

    qualidade de vida associadas a sade e segurana, que o mais freqente, mas

    tambm existem projetos de mudana de hbitos, que atuam com reviso da

    alimentao, hbitos de sedentarismo e relacionamento entre pares e chefias.

    1.2.4 Fenmenos humanos e organizacionais

  • 180

    O objetivo deste tpico delimitar conceitos-chave que formam o ambiente

    da empresa e os desdobramentos na vivncia da qualidade de vida no trabalho.

    Vivncia como modo de pensar, agir e perceber em termos individuais, grupais e

    organizacionais.

    O fenmeno bsico das dimenses humana e organizacional o significado

    do trabalho e o que pode significar para qualidade de vida das pessoas. Este um

    tema constante entre filsofos, pesquisadores e trabalhadores. A definio de

    Marx (1890) para trabalho a atividade que caracteriza-se pelo esforo planejado

    sobre a manipulao ou transformao da natureza.

    Alm do esforo fsico e mental o trabalho representa para a pessoa a

    prpria identidade e integrao social. A compreenso do significado do trabalho.

    Dejours et allii (1993) analisam trabalho de forma mais simblica:

    Atividade profissional no s um modo de ganhar a vida - tambm uma

    forma de insero social onde os aspectos psquicos e fsicos esto

    fortemente implicados. O trabalho pode ser um fator de deteriorao, de

    envelhecimento e de doenas graves, mas pode, tambm, constituir-se em

    um fator de equilbrio e de desenvolvimento. A possibilidade da segunda

    hiptese est vinculada a um trabalho que permita a cada indivduo aliar as

    necessidades fsicas, o desejo de executar a tarefa.

    Hoje, a flexibilizao dos postos de produo traz a valorizao da

    competncia, que inclui o saber, o sentir e o fazer. Isto , no know-how adquirido,

    de forma integral, pelo indivduo em sua relao com o objeto de produo

    (Pags, 1987), com autonomia de deciso sobre o planejamento da produo e a

    nfase no trabalho em equipe. Esta performance pressupe qualidade pessoal.

  • 181

    Essa nova realidade provoca mudanas na relao do homem com a

    organizao e tambm nas relaes interpessoais e demanda trabalhos em

    equipe e a necessidade de mais autonomia e responsabilidade dos trabalhadores.

    A qualidade pessoal formada por pelo menos trs aspectos fundamentais:

    necessidade de formao profissional-educacional diferenciada para o exerccio

    da competncia, busca de patamares que permitam esta capacitao e

    competitividade para a qualidade e superao das necessidades bsicas de

    sobrevivncia.

    Leser de Mello (1988) afirma: A dignidade pessoal do ser humano frgil. E

    ressalta que os aspectos tradicionais do reconhecimento social associados fora

    e a dignidade nem sempre so percebidos nos diversos nveis sociais,

    especialmente nos nveis mais oprimidos em que apenas os reflexos mais

    plidos das luzes da cidade chegam aos que constrem o brilho e a durabilidade

    das civilizaes.

    Apresentam-se dessa forma trs nveis de compreenso da Qualidade de

    Vida no Trabalho:

    nvel individual por meio da expresso das necessidades pessoais, em uma nova condio de tica e expectativa de condies de trabalho;

    nvel grupal, na dinmica da interao em equipes, da familiarizao com novos processos e tecnologias;

    nvel organizacional, mediante construo da cultura organizacional com todas suas implicaes relativas gesto do potencial humano, visando

  • 182

    ao desempenho e aos resultados competitivos. Para ser competitiva a

    empresa deve lidar:

    a) Nvel individual

    Ao celebrar o contrato de trabalho, a pessoa, com sua identidade formada

    por fenmenos subjetivos e de relacionamento, acata normas e padres

    organizacionais e passa a pertencer quele sistema social de relaes de

    produo. Expectativas da empresa freqentemente focalizam a busca da

    produtividade. Produtividade obtida com investimento de energia fsica e psquica

    sobre operaes, tarefas e responsabilidades, que a fora de trabalho. Firma-se

    o contrato psicolgico de trabalho, que um comprometimento de acordo mtuo,

    silenciosamente definido pelas expectativas do empregador e do empregado

    (Meyer, in Bergamini, 1988), que pode ser mais bem visualizado na Figura 1.1.

    Figura 1.1 Contrato psicolgico de trabalho.

  • 183

    Envolvem-se pessoas e grupos que se comprometem com o destino e o

    sucesso da empresa. Esse envolvimento deve estar em consonncia com suas

    crenas, normas, valores. Estilos e critrios de comunicao institucional,

    localizao dos poderes formais, alocao funcional e prticas gerenciais so os

    processos que mobilizam a dimenso humana do referencial da empresa.

    O envolvimento para a obteno de qualidade mobiliza desde a formao

    profissional-educacional diferenciada para o exerccio da competncia at a busca

    de patamares que permitam esta capacitao e competitividade.

    Ferreira (1995) afirma que o envolvimento dos funcionrios na implantao

    da Certificao ISO 9000 um aspecto muito importante: Devem participar e ser

    estimulados para isso. No entanto, no se pode esperar que as pessoas

    continuem contribuindo com suas idias se no forem recompensadas por isso

    (Osterman, in Tolovi, 1994).

    Existe certa miopia no momento de se avaliarem as condies de vida no

    trabalho. raro encontrar metas que envolvam melhorias efetivas das condies

    de trabalho, padres de preservao da sade fsica e mental, tecnologias que

    priorizem a adaptao do trabalho ao homem. Reais capacidades que muito

    provavelmente esto ligadas a potenciais intelectuais e emotivos, que sofrem

    constantes negaes e sanes a partir de interaes pessoais que, embora em

    nome da produtividade, pouco tm a ver com ela" Spink (1991). A nova viso de

    ser humano chega a ser ignorada ou percebida como um conceito imaginrio de

    algo que vai ajustar espontaneamente. Isso raramente acontece.

  • 184

    Em vez de envolvimento h desmotivao, que, segundo Meyer (1988), pode

    surgir em seis fases: confuso, raiva, esperana subconsciente, desiluso, falta de

    cooperao e partida. A desmotivao (Meyer, 1988) surge especificamente por

    falta de feedback construtivo, falta de informaes significativas, falta de

    sensibilidade s necessidades individuais, falta de apoio comportamental ou

    psicolgico, intromisso no trabalho (ou falta de autonomia). As solues segundo

    a mesma autora so expandir plano de carreira, ampliar programas de

    treinamento, rever condies legais de desligamento, melhoria no bem-estar, por

    meio dos sistemas previdencirios e ateno aos avanos tecnolgicos.

    PESSOA

    Autonomia Realizao Identidade

    EMPRESA

    Produo em longa escala

    Tecnologia Impessoalidade

    CONSEQNCIAS

    Auto-estima diminuda Insignificncia

    Queda da produtividade Conflitos

    Insalubridade

    Figura 1.2 Conseqncias do desencontro de expectativas pessoa versus empresa.

    b) Nvel grupal

  • 185

    O grupo influencia expectativas e legitima as articulaes entre interesses

    individuais e empresariais. Por isso a reciprocidade o ponto mais positivo desse

    nvel porque mantm a estrutura do grupo. O estabelecimento de requisitos de

    qualidade e produtividade, em geral diferenciados entre os nveis hierrquicos

    operacional, gerencial e diretivo, gera fortes expectativas nos indivduos.

    O grupo torna-se referencial de legitimao dos modos de vida

    organizacional. A pessoa passa a pertencer a uma complexa rede de influencias

    operacionais, cognitivas, afetivas e organizacionais. Este tem sido o suporte da

    maioria dos programas de qualidade, que envolve mobilizao e atividades de

    equipes, geralmente denominados times.

    Schein (in Fleury, 1987) aponta para as experincias comuns a figura do

    fundador e a presena de vrias subculturas, que se caracterizariam com base no

    background ocupacional de cada segmento da empresa. Neste background

    ocupacional encontra-se a parte (formadas por nvel hierrquico ou de similaridade

    socioeconmica), que muitas vezes "abortada, por causa da desvalorizao de

    sua ao, diante da tirania simblica do todo", no considerando que as pessoas

    vivem em seu quotidiano em micromundos, que representam partes deste mesmo

    todo (Spink, 1991).

    c) Nvel organizacional

    Examina condies socialmente dadas, como ambiente fsico e social

    favorvel para a prtica da co-responsabilidade e asseguramento dos

    procedimentos no mesmo patamar de qualidade e da melhoria do produto.

  • 186

    Para implantar novo sistema de atendimento ao cliente via telefone, as

    empresas so obrigadas a rever seus procedimentos administrativos e

    operacionais, como modificar layout, melhorar iluminao, ter cadeiras

    ergonmicas, ventilao adequada etc. A implementao destas medidas parece

    ter colaborado para um ambiente favorvel para expanso quanto reduo do

    absentesmo, erros de atendimento e atitude favorvel ao trabalho.

    Muitas formas de desperdcio numa empresa so to sutis que podem

    causar prejuzos enormes no correr dos anos, sem que sejam percebidos

    pelos seus dirigentes. Um caso tpico desse desperdcio causado pela

    fadiga no trabalho. Ignorando os efeitos negativos da fadiga dos seus

    empregados, v. estar permitindo que parte dos lucros de sua empresa se

    diluam (O Dirigente Industrial, maro de 1964, p.27).

    Esta afirmao sobre a fadiga e o lucro tem mais de trs dcadas e j trazia

    o conceito de desperdcio; no entanto, s mais recentemente este importante

    aspecto da Qualidade de Vida no Trabalho vem sendo tratado com mais

    objetividade em funo da presso social e da valorizao das pequenas

    variaes de desempenho num posto de trabalho.

    As classificaes de envolvimento e condies socialmente dadas

    equivalem, respectivamente, classificao de Herzberg (1985) motivacionais e

    higinicas. No entanto, consideramos que as condies socialmente dadas tm

    desdobramentos motivacionais e vice-versa.

    Muitos especialistas tm centrado suas anlises relativamente questo do

    potencial humano na gesto de equipes, redesenho de postos de trabalho, inter-

  • 187

    relaes entre atividades e processos (Workshop Internacional, 1994), mas muito

    pouco se v em eventos voltados para O caminhos das organizaes sobre

    condies humanas (expectativas x condies dadas) para realizao de tarefas.

    Evolumos pouco com relao gesto e quantificao da qualidade da vida

    dentro da empresa, embora existam ferramentas para tal.

    Uma constatao disso o exemplo de Gonalves (1994), que esclarece a

    definio de qualidade de Crosby - conformidade com os requisitos: Quem se

    referir qualidade de vida, por exemplo, precisa definir essa vida em termos

    especficos, como rendimentos adequados para se viver bem, sade, controle da

    poluio, programas polticos e outros itens que podem ser mensurveis.

    O sistema homem-mquina tem seus limites. Para Wisner (1987), toda

    anlise da relao home-mquina deve ser uma anlise de inter-relaes - no

    mesmo referencial de sistema (conjunto integrado de diversas unidades e

    processos), o que equivale a dizer que o estudo de condies de trabalho sob o

    enfoque ergonmico requer compreenso mltipla dos diversos nveis homem-

    sistema e suas inter-relaes estruturais, tcnicas, econmicas e sociais.

    Handy (1995:18-36) afirma que o trabalho nestes tempos de competitividade

    ficou mais problemtico. Para ele, uma parte do problema o dinheiro: Nossas

    empresas querem o maior trabalho pelo menor pagamento, enquanto os

    indivduos de modo geral querem o mximo de dinheiro, pelo menor trabalho, no

    difcil de perceber que a empresa ter xito". O dinheiro, segundo o autor, traz a

    exportao de mo-de-obra improdutiva, a necessidade de os improdutivos

    viverem tambm como cidados e por fim chega-se ao paradoxo de que nenhuma

  • 188

    mo-de-obra, melhor do que o trabalho ruim; por isso a mo-de-obra qualificada,

    embora dispendiosa, necessria s empresas.

    A misso fundamental dos gestores de Recursos Humanos criar um clima

    propcio motivao e ao desenvolvimento das pessoas. Para Gaudncio (1993),

    preciso um algo mais na gesto das pessoas. Elas no podem ser coisificadas

    apenas na questo imediata da competncia. Para ele, o trabalho deve ser um

    lugar onde o profissional tome conscincia do que dignificante e do que

    apenas coisificante: ser submetido revista ao passar pela portaria coisificante;

    preocupao da empresa com sua sade dignificante. Assim, a qualidade de

    vida subproduto do aumento de produtividade.

    Aspectos objetivos da gesto de pessoas no podem ser ignorados do ponto

    de vista da Gesto da Qualidade de Vida no Trabalho. Nesse caso, esto anlise

    do absentesmo, levantamento das demandas de transporte, programas de

    educao alimentar, habitao, doenas, como alcoolismo, drogas, cncer, AIDS

    etc. O absentesmo tem sido um grande sinalizador das demandas

    organizacionais. Couto (1987) faz extensa anlise das condies e possibilidades

    de interveno para o controle do absentesmo. Apesar de interferir na

    produtividade e no desempenho individual, o absentesmo um excelente material

    de diagnstico e propostas de melhorias na gesto de pessoal.

    A Era da Qualidade agrupa os dois focos: pessoas voltadas para o cliente,

    com viso estratgica, automotivao e co-responsabilidade, conforme descrito

    na Figura 1.3.

  • 189

    Figura 1.3 Empresas competitivas

    Considere-se que todos os esforos empresariais devem conduzir

    realizao humana e ao bem-estar do empregado, isto , a qualidade s ter

    sentido se gerar qualidade de vida (metaqualidade), isto , a qualidade superior

    que leva a vida com qualidade. Como referncia, apresentamos na Tabela 1.1 as

    chaves de satisfao no trabalho de Bolles (1981). So pontos de referncia para

    a avaliao da performance da qualidade de vida no trabalho. As chaves so

    baseadas nos processos de qualidade, tempo, iniciativa, adaptabilidade,

    comunicao.

    Tabela 1.1 As oito chaves de satisfao no trabalho. Chaves Descrio

    1. Aqueles acima de ns no

    trabalho

    O chefe, supervisores administrativos; os objetivos,

    regras, procedimentos que eles estabelecem para a

    organizao (SOP).

    2. Nossas questes A organizao nos ajuda (ou no) a conhecer o que est

    acontecendo, a sobrevivncia, o sentido de misso ou

    significado, eficincia etc.).

    3. Nossa personalidade Como somos tratados, valorizados, considerados nas

    tomadas de deciso, no conhecimento dos resultados,

    se recebemos feedback, treinamento e promoo.

    4. Nossas recompensas Dinheiro, reconhecimento, frias, ajuda para crescer.

    IMPACTOS NO MERCADO

    MOBILIZAO DOS RECURSOS

    HUMANOSSERVIOS PRODUTOS

    EXIGNCIA CONSUMIDOR

    CONCORRNCIA

    NACIONAL/ / INTERNACIONAL

    NOVAS EXPECTATIVAS SOCIAIS

    NECESSIDADES

    POLTICAS ECONMICAS

    TECNOLOGIA

    RESPONSABILIDADE

    CAPACITAO

    FLEXIBILIDADE

  • 190

    5. A natureza da organizao O que ele est tentando fazer e como est fazendo. Sua

    estrutura, procedimentos, regras, espritos.

    6. Nossa programao Horrios, tarefas, reunies, interrupes etc. Tempo para

    reflexo. Tempo para planejamento, trabalho noturno,

    tarefas prescritas versus tarefas de preferncia

    7. Aqueles alm de ns no trabalho