7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 1/88
Roberto de A. Martins 1
UFRN – curso de verão – 2013
Prof. Roberto de A. Martins
Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB)
História dos estudos sobre
radioatividade, deBecquerel a Marie Curie
1
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 2/88
Roberto de A. Martins 2
Curso de verão
“História dos estudos sobre radioatividade,
de Becquerel a Marie Curie”
Curso de extensão – 18 horas/aulaUniversidade Federal do Rio Grande do Norte
Programa de Pós-Graduação em Ensino de
Ciências Naturais e Matemática
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 3/88
Roberto de A. Martins 3
História da radioatividade
O estudo sobre radioatividade não éconsiderado um dos pontos centrais daciência.
Nos cursos de física e química, a descoberta daradioatividade costuma ser tratada de ummodo muito simplificado.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 4/88
Roberto de A. Martins 4
História da radioatividade
Costuma-se ensinar que HenriBecquerel descobriu a
radioatividade em 1896,estudando compostos deurânio.
Depois, em 1898, Marie e
Pierre Curie descobriramnovos elementos radioativos(tório, polônio e rádio).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 5/88
Roberto de A. Martins 5
História da radioatividade
Em 1903 o Prêmio Nobel de Física foi divididoentre esses três pesquisadores.
Metade do prêmio para Henri Becquerel, “Emreconhecimento pelos serviçosextraordinários que prestou pela suadescoberta da radioatividade espontânea”.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 6/88
Roberto de A. Martins 6
História da radioatividade
A outra metade para Pierre Curie e Marie Curie,“Em reconhecimento pelos serviçosextraordinários que prestaram por suas
pesquisas conjuntas sobre os fenômenos deradiação descobertos pelo professor HenriBecquerel”.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 7/88
Roberto de A. Martins 7
História da radioatividade
O que, exatamente, essas
pessoas fizeram?
O que descobriram?Como se faz uma
descoberta? Por acaso?
Como eles própriosinterpretavam aquilo que
estavam estudando?
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 8/88
Roberto de A. Martins 8
Este curso
O objetivo deste curso
intensivo é proporcionar
uma visão detalhada sobre
como ocorreu o estudo
inicial sobre a
radioatividade.
Veremos o que as pessoas
pensavam e como faziam
suas pesquisas.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 9/88
Roberto de A. Martins 9
Este curso
Veremos que, para Becquerel e
para o casal Curie, a
radioatividade era entendida de
um modo muito diferente da
interpretação atual.
Vamos ver que eles cometeram
erros e que o caminho da
pesquisa científica não é tão
simples quanto parece.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 10/88
Roberto de A. Martins 10
Este curso
Esta primeira aula de hoje apresentará umavisão geral de todo o conteúdo que vamos
tratar no curso.A partir dessa primeira
“volta da espiral”, será
mais fácil compreender aimportância de cada parteda longa história quevamos abordar.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 11/88
Roberto de A. Martins 11
Programa
1. A descoberta dos raios X
2. A divulgação dos raios X, a conjetura de Poincaré e os primeiros trabalhos de Becquerel
3. Becquerel e a escolha dos compostos de urânio4. Os enganos experimentais de Becquerel
5. Os raios N de René Blondlot
6. As primeiras investigações de Marie e Pierre Curie sobre
elementos radioativos7. Teria Niepce de Saint-Victor descoberto a radioatividade?
8. Conclusões metacientíficas
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 12/88
Roberto de A. Martins 12
Fontes
Este curso se baseia emestudos desenvolvidos
ao longo de váriasdécadas, consultandodocumentos originaisem diversas bibliotecas
e arquivos da França eda Inglaterra.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 13/88
Roberto de A. Martins 13
Bibliografia
• MARTINS, Roberto de Andrade. Becquerel e a descoberta daradioatividade: uma análise crítica.
Campina Grande / São Paulo: Editorada UEPB / Livraria da Física, 2012.
• MARTINS, Roberto de Andrade. Os“raios N” de René Blondlot: uma
anomalia na história da física. Campinas / Rio de Janeiro: GHTC /BookLink, 2007.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 14/88
Roberto de A. Martins 14
A descoberta dos raios X
Os primeiros passos na
descoberta da
radioatividade estãorelacionados aos estudos
sobre raios X.
Os raios X foramdescobertos por Röntgen
no final de 1895.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 15/88
Desde a década de 1870 estudava-se radiações
produzidas por descargas elétricas em gases
rarefeitos que foram chamadas “raioscatódicos”
Raios catódicos
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 16/88
Roberto de A. Martins 16
As descargas elétricas eram produzidas pelas
“bobinas de Rumkhorff” - transformadores
especiais, alimentados por corrente contínuae que produzem altos potenciais.
Bobina de Rumkhorff
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 17/88
Roberto de A. Martins 17
Raios catódicos
Ligando-se a bobina de Rumkhorff a um tubo
de vidro contendo gás a baixa pressão,
aparece uma luminosidade que sai perpendicularmente à superfície do cátodo
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 18/88
Roberto de A. Martins 18
Raios catódicos
Os raios catódicos
podiam ser desviados
utilizando ímãs
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 19/88
Roberto de A. Martins 19
Raios catódicos
Eles caminhavam em linha reta, a partir do
cátodo, e podiam produzir sombras no vidro.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 20/88
Não havia acordo, no início da década
de 1890, sobre a natureza dos raios
catódicos
William Crookes e outros pesquisadores ingleses e franceses
defendiam que eram partículas com
carga elétrica.
Os pesquisadores alemães pensavam
que se tratava de algo parecido com
a radiação ultravioleta.
Raios catódicos
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 21/88
Heinrich Hertz, em 1892,
descreveu que os raioscatódicos podiam
atravessar folhas finas de
metal, dentro do tubo de
descarga, produzindo
luminescência no vidro
atrás delas.
Penetração em metais
Hertz
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 22/88
Seu aluno Philipp Lenard
conseguiu construir tubos
de descarga dotados deuma fina janela de
alumínio, de tal modo que
os raios catódicos podiam
sair do tubo e ser
estudados no ar ou em
outros gases
Penetração em metais
Lenard
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 23/88
Nessa época, essa radiação, visível no ar,
passou a ser chamada de “raios de Lenard”
Raios de Lenard
Esses raios
podiam
atingir poucoscentímetros,
no ar.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 24/88
Corpos luminescentes colocados perto do tubose tornavam luminosos.
Lenard observou também que esses raios eramcapazes de sensibilizar chapas fotográficas edescarregar eletroscópios.
Raios de Lenard
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 25/88
Lenard defendeu que os raios
catódicos não podiam ser
partículas, por causa dessas propriedades.
Considerou que devia ser um
tipo de radiação, como osraios ultravioleta.
Penetração em metais
Lenard
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 26/88
Enquanto se discutia a
natureza dos raios
catódicos, seu estudo
levou a uma nova
descoberta:
Röntgen descobriu os
raios X no final de
1895, estudando os
raios de Lenard.
Nova descoberta
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 27/88
Röntgen estava trabalhandocom um tubo de Crookescoberto com papelão preto.
Um pedaço de papel com platino-cianeto de bário(um material fluorescente)estava sobre a mesa.
Quando a bobina de induçãoestava ligada, notou que o
papel ficou luminoso comuma linha preta (sombra de
um fio metálico).
Röntgen
Aparelhagem de Röntgen
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 28/88
Roberto de A. Martins 28
Raios X
Notou que a radiação
caminhava em linha
reta (eram “raios”),atravessava materiais
opacos, e produzia
“sombras”.
Não era nadaconhecido (daí o
nome “raios X”).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 29/88
Roberto de A. Martins 29
Estudos iniciais
Röntgen descobriu que essa
radiação produzia efeitos
fotográficos, e que podia
obter imagens dos ossosde pessoas vivas.
Registrou a imagem da mão
de sua esposa, AnnaBertha (a mais antiga
radiografia)...
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 30/88
Roberto de A. Martins 30
Divulgação
A descoberta de Röntgen foi divulgada
em janeiro de 1896
A descoberta foi divulgada por jornais
populares e científicos de todo o
mundo e ele se tornou famoso
No decorrer de 1896 foram publicados
mais de 2.000 trabalhos sobre essasradiações (especialmente aplicações
médicas).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 31/88
Roberto de A. Martins 31
Raios X e luminescência
Nos tubos utilizados na época, os raios X
surgiam do lugar onde o vidro era atingido
pelos raios catódicos, e nessa região o vidroficava luminescente.
Haveria alguma
relação entre a
luminescência e a
emissão dos raios X
pelo tubo?
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 32/88
Roberto de A. Martins 32
A conjetura de Poincaré
No dia 20 de janeiro de
1896 Poincaré divulgou
a descoberta de
Röntgen, na Academiade Ciências de Paris.
Sugeriu nesse dia que
talvez todos osmateriais luminescentes
emitissem raios X.Henri Poincaré
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 33/88
Roberto de A. Martins 33
A conjetura de Poincaré
Durante várias semanassurgiram na Françatrabalhos confirmando a
conjetura de Poincaré deque os corpos luminescentesemitiam raios X.
Nenhum desses fenômenos
deve ocorrer, de acordo comnossos conhecimentosatuais.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 34/88
Roberto de A. Martins 34
A conjetura de Poincaré
No dia 24 de fevereiro,Becquerel apresentou seu
primeiro trabalho sobre as
radiações emitidas peloscompostos do urânio.
Esse trabalho era, também, umestudo sobre radiações de
corpos fosforescentes econfirmava a conjetura dePoincaré.
Henri Becquerel
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 35/88
Roberto de A. Martins 35
O primeiro artigo de Becquerel
“Em uma sessão precedente [da Academia deCiências de Paris], Charles Henry relatouque a intensidade das radiações que
penetram o alumínio aumentava quando secolocava sulfeto de zinco fosforescente nocaminho dos raios que saem de um tubo deCrookes.
“Além disso, Niewenglowski descobriu que osulfeto de cálcio fosforescente comercialemite radiações que penetram substânciasopacas.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 36/88
Roberto de A. Martins 36
O primeiro artigo de Becquerel
“Esse comportamento também pertence a váriasoutras substâncias fosforescentes, e
particularmente aos sais do urânio, que
possuem uma fosforescência de duraçãomuito curta.”
[...]
“É possível concluir desses experimentos queesta substância fosforescente emite radiaçõesque atravessam um papel opaco à luz ereduzem os sais de prata” (BECQUEREL1896a).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 37/88
Roberto de A. Martins 37
O primeiro artigo de Becquerel
Becquerel, no seu primeiro artigo, apenas
apresentou um novo exemplo de substância
fosforescente que parecia emitir radiações
penetrantes.
Em artigos publicados por outras pessoas, pouco
depois, o trabalho de Becquerel foi
considerado como uma das váriasconfirmações da conjetura de Poincaré de que
a emissão de raios X estava associada à
luminescência.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 38/88
Roberto de A. Martins 38
O primeiro artigo de Becquerel
Becquerel havia descoberto a radioatividade?
• Radioatividade = Emissão espontânea de
radiações (a, b, g) por certas substâncias,
acompanhada por transformação nuclear.
“É possível concluir desses experimentos queesta substância fosforescente emite
radiações que atravessam um papel opaco àluz e reduzem os sais de prata”(BECQUEREL 1896a).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 39/88
Roberto de A. Martins 39
O prosseguimento das pesquisas
1º artigo de Becquerel: 24/02/1896
2º artigo: na semana seguinte,02/03, Becquerel descreveu que o
sulfato duplo de uranila e
potássio continua a emitir
radiações mesmo quando é
guardado em uma gaveta
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 40/88
Roberto de A. Martins 40
O segundo artigo
Becquerel preparou umexperimento no dia26/2, mas o céu ficou
nublado.Guardou na gaveta.
Revelou a chapafotográfica no dia 01de março e observouque havia sinais daradiação
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 41/88
Roberto de A. Martins 41
O prosseguimento das pesquisas
Imediatamente Becquerel refez o
experimento sem colocar os cristais ao
Sol.
Os efeitos foram tão fortes quanto nos
experimentos feitos sob a iluminação do
Sol.
Problema: as radiações luminosas emitidas por esse composto ficam muito fracas em
1/100 de segundo.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 42/88
Roberto de A. Martins 42
O segundo artigo
Vendo que a radiação penetrante não se
comportava como afosforescência visível,Becquerel entendeu queera um fenômeno novo?
Alguns historiadores daciência afirmam que sim.
?
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 43/88
Roberto de A. Martins 43
O segundo artigo“Uma hipótese que surge de modonatural à mente é a suposição deque essas radiações, cujo efeito
possui uma forte analogia com as
produzidas pelas radiaçõesestudadas pelos senhores Lenard eRöntgen, poderiam ser radiaçõesinvisíveis emitidas por fosforescência com uma
persistência infinitamente maior do que a persistência das radiaçõesluminosas emitidas por essescorpos.” (Becquerel)
!
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 44/88
Roberto de A. Martins 44
Idéia básica de Becquerel
Reconstrução:
Sal de urânio é fosforescente(absorve energia luminosa e vailiberando depois).
Uma parte da energia absorvida éliberada lentamente sob forma de
radiações invisíveis penetrantes.Radiação emitida pelo sal de urânio
é de natureza eletromagnética.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 45/88
Roberto de A. Martins 45
As hipóteses de Becquerel
Becquerel parece ter sido levado aescolher os compostos de urânio paraseus experimentos porque tinha aexpectativa de que, com eles, seria
possível observar a produção deradiação eletromagnética penetrante, degrande freqüência.
Os resultados positivos obtidos reforçaram
essa idéia e guiaram suas pesquisasseguintes, sempre pensando tratar-se deuma fosforescência invisível de longaduração.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 46/88
Roberto de A. Martins 46
O prosseguimento das pesquisas
1º artigo de Becquerel: 24/02/1896
2º artigo: 02/03
3º artigo: 09/03
• Radiação do sal de urânio descarregaeletroscópio
• Radiação se reflete e refrata [!?]
• Continua a emitir radiação durante umasemana
• Sulfeto de cálcio também emiteradiações penetrantes, no escuro [!?]
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 47/88
Roberto de A. Martins 47
Reflexão dos raios do urânio
Becquerel descreveu vários experimentos em que diz
ter observado efeitos de reflexão e refração da
radiação do urânio.
No entanto, as fotografias correspondentes a esses
experimentos não são conhecidas.
Pode-se duvidar que ele tenha realmente feito esses
experimentos, pois esses efeitos não existem.Becquerel acreditava que a radiação do urânio era
eletromagnética e supôs que teria essas
propriedades.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 48/88
Roberto de A. Martins 48
Sulfeto de cálcio
No terceiro artigo, Becquerel descreveu
experimentos com outros materiais
fosforescentes e afirmou ter obtidofortes efeitos com sulfeto de cálcio.
Acreditamos atualmente que isso é
impossível, mas Becquerel descreveu
em detalhes o experimento e existemfotografias que mostram os efeitos
que ele descreveu.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 49/88
Roberto de A. Martins 49
Outros erros
Nos trabalhos seguintes, Becquerel publicou diversos outros resultados quecontrariam nosso conhecimento sobre a
radioatividade:• A radiação dos sais do urânio vai
diminuindo, quando são mantidos noescuro.
• A emissão de radiação aumenta quandoos sais são fortemente iluminados.
• A radiação sofre polarização naturmalina.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 50/88
Roberto de A. Martins 50
A descoberta de Becquerel
Becquerel convenceu a comunidade
científica (e a si mesmo) que havia
descoberto uma fosforescência
invisível, de longa duração (mas que ia
diminuindo com o tempo e podia ser
reforçada pela luz), na qual era emitida
uma radiação eletromagnética de altafreqüência, capaz de sofrer reflexão,
refração e polarização.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 51/88
Roberto de A. Martins 51
A descoberta de Becquerel
Em 1897 Becquerel perdeu o
interesse pelo estudo das
radiações do urânio e
passou a pesquisar o efeitoZeeman.
Ele não percebeu que o estudo
das radiações do urânio eraa única pesquisa de sua
vida que ia torná-lo famoso.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 52/88
Roberto de A. Martins 52
Críticas a Becquerel
Os primeiros autores quemencionaram os trabalhos
de Becquerel nãorepetiram seusexperimentos.
Eles começaram a ser repetidos e criticados em1897.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 53/88
Roberto de A. Martins 53
Críticas a Becquerel
Em 1897, Gustave le Bon colocou
em dúvida a experiência de
polarização da radiação do
urânio.
Em janeiro de 1899 Le Bon
afirmou que havia repetido o
experimento e que a radiação dourânio não era polarizada pelos
cristais de turmalina.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 54/88
Roberto de A. Martins 54
Críticas a Becquerel
Em 1897, Julius Elster e Hans Friedrich Geitel testaram a
variação da intensidade das radiações do urânio com o
tempo e afirmaram que a radiação era constante, não
enfraquecendo gradualmente nem aumentando deintensidade com a luz (como Becquerel havia
afirmado).
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 55/88
Roberto de A. Martins 55
Radiação do tório
Abril de 1898 – Marie Curie e Gerhard C. Schmidt
descobrem que o tório emite radiações penetrantes
capazes de produzir condutividade no ar.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 56/88
Roberto de A. Martins 56
Método elétrico
Método elétrico se generaliza a partir de 1898,
permitindo distinguir radiações ionizantes de outros
efeitos que podem afetar chapas fotográficas.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 57/88
Roberto de A. Martins 57
Radiação do tórioMarie e Pierre Curie (1898):
• Radiações do urânio e do tório
são um fenômeno atômico
(proporcional à quantidade deátomos do elemento)
• Fenômeno não tem semelhança
com fosforescência – éconstante, não se enfraquece
nem aumenta com a luz
• “Radioatividade”
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 58/88
Roberto de A. Martins 58
Minerais radioativos
Marie e Pierre Curie (1898):
• Anomalia: alguns minerais do
tório e urânio tinham atividadesuperior à dos elementos puros
• Deveriam existir elementos
radioativos desconhecidos
• Analisar minerais para descobrir
novos elementos
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 59/88
Roberto de A. Martins 59
Novos elementos
Marie e Pierre (1898):
• Concentraram-se mais nas substâncias
radioativas do que nas radiações.
• Explicação do fenômeno: um tipo de
fluorescência produzido por radiação
desconhecida de altíssima freqüência.
• Anos seguintes: trabalho sistemáticode purificação do rádio e do polônio,
determinação do peso atômico.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 60/88
Roberto de A. Martins 60
Ernest Rutherford
1899 – Ernest Rutherford estuda
radiações do urânio e do tório• Radiações não são polarizadas, nem
refratadas
• Radiações do urânio são de dois
tipos (a, b), com diferentes poderes
de penetração
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 61/88
Roberto de A. Martins 61
Radiações
• 1899 – Geisel observou que as radiações do polônio
podiam ser desviadas por um ímã
• 1899 – Casal Curie mostra que os raios b de
Rutherford são desviados por ímã e possuem carganegativa (como raios catódicos)
• 1900 – E. Dorn desvia raios b usando campo elétrico
• 1900 – Villard – raios não desviados eram de dois
tipos, pouco penetrante (a) e muito penetrante (g)
• 1903 – Rutherford – raios a podem ser desviados e
possuem carga positiva
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 62/88
Roberto de A. Martins 62
Radiações
Apenas em 1903 se
tornou claro que
existem 3 tipos de
radiações emitidas
pelos corpos
radioativos, e que dois
deles possuem cargaselétricas, não sendo
portanto de natureza
eletromagnética.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 63/88
Roberto de A. Martins 63
Ernest Rutherford
• 1899 – Tório emite
gás radioativo
(“emanação”)
• 1900 – Emanação
vai perdendo sua
radioatividade
rapidamente• Intensidade cai à
metade em aprox.
um minuto
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 64/88
Roberto de A. Martins 64
Teoria da transformação
• Marie e Pierre Curie – “radioatividadeinduzida” – materiais colocados
próximos de corpos radioativos.
• Radioatividade induzida diminui com
o tempo.
• Rutherford e Soddy: novos elementos
radioativos que perdem aradioatividade rapidamente.
• Teoria da desintegração radioativa
(1903)
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 65/88
Roberto de A. Martins 65
Becquerel e o Prêmio Nobel
• 1903 – Compreensão da natureza
das radiações dos corpos
radioativos• 1903 – Compreensão sobre o
processo radioativo – transformação dos elementos
• 1903 – Becquerel ganha o Prêmio
Nobel pela descoberta da
radioatividade
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 66/88
Roberto de A. Martins 66
Becquerel e o Prêmio Nobel
Logo depois que os trabalhos de
Marie e Pierre Curie tornaram a
radioatividade importante,Becquerel voltou a se dedicar ao
assunto.
Ele publicou artigos em que
descrevia os seus trabalhos antigosde forma diferente, ocultando seus
erros e modificando a história.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 67/88
Roberto de A. Martins 67
Becquerel descobriu a radioatividade?
Becquerel estava descobrindo aradioatividade?
O que é radioatividade?
• Emissão espontânea de radiações (a,b, g) por certas substâncias,acompanhada por transformaçãonuclear.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 68/88
Roberto de A. Martins 68
Becquerel descobriu a radioatividade?
Becquerel:
• Pensava que o urânio emitia apenas radiaçãoeletromagnética (semelhante aos raiosultravioleta).
• Pensava que o fenômeno era um tipo defosforescência (fenômeno não espontâneo).
• Não imaginou que o fenômeno envolvessetransformações atômicas.
• Descreveu propriedades inexistentes daradiação.
• Fingiu ter feito observações que não fez.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 69/88
Roberto de A. Martins 69
Becquerel descobriu a radioatividade?
Seria possível alegar que Becquerel
descobriu a radioatividade no seguinte
sentido: ele observou (mas não
compreendeu) efeitos que atualmenteinterpretamos como sendo devidos à
radioatividade.
No entanto, muito antes de Becquerel, Niepce de Saint-Victor também havia
observado efeitos da radioatividade.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 70/88
Roberto de A. Martins 70
Niepce de Saint-Victor
1858 – Um tubo de ferro forrado por dentro
com papel poderia guardar “luz invisível”durante muitos dias e, depois, sensibilizar
chapas fotográficas.O efeito era mais forte se o papel contivesse
nitrato de urânio ou ácido tartárico, e podia
durar vários meses.
Escrevendo com essas substâncias em um
papel, elas sensibilizavam chapas
fotográficas no escuro.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 71/88
Roberto de A. Martins 71
Niepce de Saint-Victor
• Tanto Niepce quanto Becquerel fizeramexperimentos com compostos de urânio.
• Alguns dos efeitos que eles
descreveram só podem ser entendidos,hoje, como devidos à radioatividade.
• Ambos descrevem outros fenômenosque parecem não existir.
• Nenhum deles compreendeu que estavadiante do fenômeno que chamamos deradioatividade.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 72/88
Roberto de A. Martins 72
O caso Blondlot
Além dos equívocos de sua
própria pesquisa, Becquerel
se envolveu com problemas
de um outro pesquisador.
Início de 1903: René-Prosper
Blondlot (1849-1930)
divulgou a descoberta de umnovo tipo de radiação
René Blondlot
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 73/88
Roberto de A. Martins 73
Os raios N
A nova radiação recebeu o nome de "Raios N" em
homenagem à cidade de Nancy, onde Blondlot
nasceu e trabalhou.
Parque Blondlot,em Nancy
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 74/88
Roberto de A. Martins 74
Os raios N
Durante três anos (1903-1905)
Blondlot e outros pesquisadores
publicaram muitos artigos
descrevendo os efeitos dessaradiação penetrante.
Diversos cientistas (principalmente
de outros países) não conseguiam
reproduzir as observações sobre
os Raios N.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 75/88
Roberto de A. Martins 75
Os raios N
Começaram a surgir críticas e dúvidassobre a autenticidade dosfenômenos.
Uma comissão francesa comeminentes físicos foi enviada a Nancy para presenciar osexperimentos de Blondlot.
Os membros dessa comissão nãoconseguiram chegar a um consensosobre a existência dessa radiação.
Henri Poincaré
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 76/88
Roberto de A. Martins 76
Os raios N
Admite-se atualmente que os raios N
não existem.
O caso Blondlot costuma ser citado
como um exemplo de pseudo-ciênciaou “ciência patológica” e de errosmetodológicos graves.
No entanto, alguns pesquisadores da
época apoiaram Blondlot – como
Henri Becquerel e seu filho Jean.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 77/88
Roberto de A. Martins 77
Jean Becquerel
Em 1904 Jean Becquerel visitouo laboratório de Blondlot em
Nancy.
Iniciou imeditamente pesquisassobre os raios N no laboratóriode seu pai.
Alegou que a emissão de raios N
por metais podia ser eliminada"anestesiando" os metais comclorofórmio, éter, etc.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 78/88
Roberto de A. Martins 78
As críticas a Blondlot
Na França, Henri Piéron, editor da
Revue Scientifique, moveu uma
forte campanha contraBlondlot.
Em poucos meses, os artigos
sobre raios N cessaram de
aparecer, e o próprio Blondlot parou de publicar sobre o
assunto.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 79/88
Roberto de A. Martins 79
Jean Becquerel
Os trabalhos de Jean Becquerelsobre os raios N foramapresentados à Academia de
Ciências de Paris por seu pai,Henri Becquerel.
Mesmo quando se concluiu que aradiação não existia, Becquerel
continuou a defender os trabalhosdo seu filho.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 80/88
Roberto de A. Martins 80
Radioatividade – lições
O estudo detalhado dessa
sequência história transmite
importantes lições a respeito danatureza da ciência.
O trabalho científico é muito
diferente daquilo que se costumaacreditar.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 81/88
Roberto de A. Martins 81
“Grandes cientistas”
A idéia de que existem“grandes cientistas” que
nunca cometem erros nãocorresponde à realidade.
Mesmo os ganhadores do prêmio Nobel podem ser pesquisadoresincompetentes.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 82/88
Roberto de A. Martins 82
“Grandes cientistas”
Os cientistas são seres
humanos, capazes de
grandes erros e grandesacertos.
Alguns são “melhores”
(mais cuidadosos, etc.) doque outros, mas ninguém
é perfeito.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 83/88
Roberto de A. Martins 83
Descobertas
Existem “descobertas aoacaso”, mas são raras.
Normalmente os pesquisadores são guiados por hipóteses, analogias,idéias preconcebidas.
Não existem “observações puras”.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 84/88
Roberto de A. Martins 84
Descobertas
Mesmo coisas que
parecem extremamente
simples, como a
“descoberta daradioatividade”, sãoacontecimentos
complexos, quandoestudados em detalhe
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 85/88
Roberto de A. Martins 85
Histórias e “estórias”
Existem muitas versões
sobre a história da
ciência que, embora
publicadas em livros
e artigos, são
INCORRETAS
Não se pode confiar no
que se lê
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 86/88
Roberto de A. Martins 86
Histórias e “estórias”
Para conseguir
compreender de
modo razoavelmentecorreto a história da
ciência é necessário
pesquisar
detalhadamente o
assunto
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 87/88
Roberto de A. Martins 87
Histórias e “estórias”
Ao longo do nosso curso,
além de estudar a história da
descoberta da radioatividadee outros temas correlatos,
aprenderemos muitas lições
a respeito da natureza da
ciência e sobre como se faz
a história da ciência.
7/16/2019 Becquerel 1
http://slidepdf.com/reader/full/becquerel-1 88/88
FIM
Top Related