REVISTA VEIGA MAIS - MEIO AMBIENTEANO 8 | 2O SEMESTRE DE 2009
REVISTA LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 3
ReitorDr. Mario Veiga de Almeida Júnior
Vice-ReitorProf. Tarquínio Prisco Lemos da Silva
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UNIVERSIDADEVEIGA DE ALMEIDAREVISTA VEIGA MAISEdição Meio Ambiente
Ano 8 | 2o semestre de 2009
EMPRESAS ADOTAM ATITUDE SUSTENTÁVEL 4CERTEZA DE CRESCIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL 5LICENCIAMENTO AMBIENTAL: CONSTRUÇÕES DEVEM SEGUIR NORMAS DE PRESERVAÇÃO 6CONTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA UM FUTUTO MAIS PRÓSPERO 7ALTERNATIVAS PARA PRODUÇÃO E CONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA 8DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: SINÔNIMO DE QUALIDADE DE VIDA 9MÍDIA E MEIO AMBIENTE: UMA PARCERIA NECESSÁRIA 10MÚSICA BRASILEIRA ABRAÇA A CAUSA ECOLÓGICA 11NOVAS TECNOLOGIAS PROMETEM EVITAR DESGRAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E PROLONGAR A VIDA NO PLANETA 12ANIMAIS EM PERIGO 13AS FLORESTAS PEDEM AJUDA 14TERRA, PLANETA ÁGUA? 16A ARTE DE RECICLAR 18EDUCAÇÃO AMBIENTAL NAS ESCOLAS 19SACOLAS E BOLSAS QUE ACOMPANHAM A MODA E NÃO AGRIDEM O MEIO AMBIENTE 20MERCADO INVESTE EM PRODUTOS VERDES 21REAPROVEITAMENTO DE PNEUS É UMA DAS ALTERNATIVAS PARA AMENIZAR O DESASTRE ECOLÓGICO 22INSTITUIÇÕES CARIOCAS VOLTADAS PARA A PRESERVAÇÃO AMBIENTAL 24ONGS ATUAM EM AÇÕES DE CONSCIENTIZAÇÃO E PRESERVAÇÃO DO MEIO AMBIENTE 25PROTOCOLO DE KYOTO: O SOPRO DE ESPERANÇA 26
LEIA:
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE4C
om a sociedade cada vez mais
preocupada com a diminuição
dos recursos naturais e com a
degradação do meio ambiente,
muitas empresas e indústrias têm sido levadas a
cr iar um setor dentro da organização
direcionado a atender às expectativas dos seus
clientes em relação ao meio ambiente. Por essa
razão, as instituições estão pesquisando novas
formas de minimizar seus impactos sobre a na-
tureza, com a elaboração de produtos não
poluentes ou biodegradáveis e utilizando pro-
cessos ecologicamente corretos. Preocupação
mundial, a degradação do planeta está gerando
discussões e metas dentro e fora do ambiente
de trabalho, pois as organizações querem se ali-
nhar a novos conceitos de sustentabilidade e têm
identificado nesse processo grandes vantagens
econômicas. Por isso, além de cumprir as exi-
gências legais, elas têm adotado procedimen-
tos estabelecidos nas normas de sistemas de ges-
tão ambiental, como a ISO 14001. Criada como
forma de certificar as empresas que estão fa-
zendo a diferença no quesito preservação
ambiental, a ISO é almejada por toda a cadeia
produtiva. Internacionalmente aceita, tem
como finalidade definir os requisitos para esta-
belecer e operar um sistema de gestão ambiental
nas empresas. Essa é uma meta com a qual toda
a organização tem que estar comprometida,
como meio de controlar custos e reduzir os ris-
cos para o planeta.
Uma dessas empresas que estão em busca
de certificação é a Supervia, que vem exercen-
do seu papel na sociedade por meio do compro-
misso em proteger o meio ambiente. A institui-
ção realiza o gerenciamento de resíduos e de
reciclagem de material e oferece palestras para
os funcionários e a comunidade sobre a impor-
tância das atitudes de cada indivíduo. São os
multiplicadores ambientais que têm como meta
educar cada morador de porta em porta, no co-
mércio e nas ruas. Funcionários voluntários da
Supervia, parceiros da empresa, informam a po-
pulação sobre os riscos à saúde provenientes do
lixo descartado de forma incorreta na rua, na
linha férrea e nos rios; e sobre a importância de
preservarem o meio ambiente e de serem cons-
cientes para uma boa qualidade de vida do local
onde vivem. Esse trabalho é chamado de Blitz
Ambiental e tem a duração de um ano. Uma
vez capacitados, eles irão visitar as residências
com a distribuição de material educativo e com
temas previamente selecionados, de acordo com
as necessidades locais da comunidade envolvi-
da no projeto ambiental.
Segundo Cristiane Duarte, responsável por
esse setor na Supervia, “a intervenção predató-
ria e, muitas vezes, criminosa sobre os recur-
sos naturais chegou a tal ponto que, se não for
revertida, a vida como a conhecemos poderá se
tornar inviável mais cedo do que se possa ima-
ginar”. Por isso, cada ser humano deve se capa-
citar e agregar novos valores e perspectivas em
sua vida, para a conscientização sobre a impor-
tância de melhor usar e preservar o meio que o
cerca. Além disso, os danos causados ao meio
ambiente – como a poluição de corpos hídricos
e do solo, a contaminação do lençol freático –
e à saúde devem ser reparados pelos responsá-
veis pelos resíduos. Cristina explica que a re-
paração do dano, na maioria dos casos, é mais
complicada tecnicamente e envolve muitos re-
cursos financeiros para as empresas. Ela conta
que a Supervia tem um trabalho de refloresta-
mento nos canteiros das linhas para minimizar
o efeito estufa provocado por combustíveis fós-
seis, provenientes dos transportes sobre rodas.
Geralmente, isso é feito por voluntários e por
uma empresa contratada pela Supervia. Mas
antes de liberar pequenos espaços para a urba-
nização, a ferrovia faz todo um levantamento
técnico, que precisa levar em consideração a se-
gurança da sinalização, o tipo de árvore a ser
plantada, o tamanho da copa, se a raiz é pro-
funda e avantajada e, acima de tudo, quem se-
rão os voluntários responsáveis por cuidar da
nova moradora da comunidade. A coordenado-
ra ressalta ainda que, depois da bicicleta, o trem
é o transporte mais limpo do planeta e que a
intenção da Supervia é criar grandes corredo-
res verdes em torno da ferrovia para uma me-
lhor qualidade de vida para toda comunidade.
Outra empresa que está andando nos tri-
lhos da sustentalidade é o Metrô Rio de Trans-
porte Urbano. Com o objetivo de reduzir os
custos e riscos por meio da maximização das
oportunidades de reciclagem, a organização tem
como um dos focos de atuação o gerenciamento
dos resíduos. Para isso, foi elaborado um Pro-
grama de Gestão de Resíduos, que incluiu o trei-
namento com funcionários e voluntários e tem
como função multiplicar o conhecimento, esti-
mulando a população a aplicar ações em prol
da preservação do meio ambiente. Como qual-
quer plano de gestão, tem objetivos e metas vol-
tados para o manuseio dos resíduos produzidos
pelo meio de transporte sobre trilhos e seu
melhor acondicionamento e descarte, para que
seja possível otimizar as oportunidades vincu-
ladas ao correto gerenciamento de resíduos. Se-
gundo o coordenador do projeto, Edson Freitas,
definir normas e procedimentos nas atividades
que gerem resíduos é primordial para o Metrô,
de maneira a garantir que as ações desenvolvi-
das pela empresa não venham a degradar o meio
ambiente por conta do mal acondicionamento
de resíduos perigosos e não perigosos. A inten-
ção é transformar o resíduo em matéria-prima
no mercado, gerando renda e diminuindo o
custo inicial para adequar o ambiente e atender
a demandas que vão além da legislação.
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Claudia Barbosa
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 5
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Natália Mayrink de Souza
Produtos de qualidade já não são os únicos diferenciais. Imagem de empresa grande já não tem o
mesmo efeito de antigamente. As empresas agora buscam se identificar com seus clientes, mostrar
personalidade e investir em talentos. E uma nova tendência está se formando em diversos mercados.
Seja por força das leis que o governo impõe ou por exigência do mercado, é cada vez maior o número
de empresas que se preocupam com a preservação do meio ambiente. Uma instituição socialmente
responsável é aquela que se preocupa não só consigo mesma, mas que promove iniciativas para
minimizar o quadro de pobreza, desigualdade e devastação dos recursos naturais, contribuindo para
o desenvolvimento sustentável e qualidade de vida no planeta.
Durante anos, as empresas trabalharam impulsionadas pelos objetivos do sistema capitalista,
ou seja, produzir e comercializar seus produtos ou serviços visando à obtenção de lucro e,
consequentemente, à maximização da riqueza dos seus proprietários. Mas, aos poucos, elas co-
meçam a mudar esse conceito, passando a participar mais da vida de seus funcionários e da comu-
nidade, buscando o bem-estar de todos que estão ao seu redor, inclusive do próprio meio em que
estão inseridas.
Esse é o caso da empresa Furnas Centrais Elétricas. Por meio do Departamento Ambiental, a
organização realiza há dois anos vários programas que visam conscientizar os empregados, não só
lotados no Rio de Janeiro, mas em todas as áreas em que Furnas atua. Esses cursos tiveram como
temas ‘O Consumo Consciente’, ‘A Composição e a Destinação final do lixo no Brasil’, ‘Política dos
3Rs’ e ‘Vantagens da Coleta Seletiva’.
Umas das idealizadoras do programa, a engenheira ambiental Lucia Maria Ferreira afirma que, desde
que foi implantado, o projeto já mudou a cabeça de vários funcionários de Furnas, que antes só pensavam
em si mesmos e esqueciam que suas atitudes influenciam o futuro. “A empresa propiciou uma formação de
redes envolvendo setores específicos da população como os funcionários, seus familiares e os educadores
ambientais, instituindo uma prática de vida que não ficou restrita aos muros do mundo corporativo e
materializou a proposta final do programa: educar para emancipar”, explica a engenheira.
Outra empresa que se interessa muito em preservar o meio ambiente é o Banco Real. Desde
2006 a empresa adota a política dos 3Rs: Reduzir o consumo, Reutilizar quando não é possível
reduzir e Reciclar quando não é possível reduzir e nem reutilizar. Essa política foi criada para dimi-
nuir os impactos ambientais causados pela negligência ou até mesmo pela falta da informação das
pessoas. O banco Bradesco é mais um que, em maio de 2006, tornou-se o primeiro banco do país a
conquistar ISO 14001, uma certificação internacional conferida às empresas comprovadamente com-
prometidas com o apoio às iniciativas de preservação do meio ambiente e de valorização da
sustentabilidade.
Formado em engenharia ambiental e subgerente da agência do Bradesco de Botafogo, o enge-
nheiro César Gomes afirma que ter recebido esse certificado foi muito importante não só para o
banco, mas para a empresa Bradesco. Segundo ele, isso mostra o comprometimento que a instituição
tem em preservar o meio ambiente. “Hoje, o lema do banco é: Banco do Planeta – Pensar completo
é investir no futuro do planeta. E nós pensamos sim no futuro do planeta. Investimos em ações para
reflorestamentos da Mata Atlântica e todos os papéis que usamos, tanto nas agências, quanto os que
mandamos para os nossos clientes, são 100% recicláveis”.
Para incentivar empresas do mundo todo a adotarem práticas sustentáveis, o International Finance
Corporation (IFC), instituição vinculada ao Banco Mundial que fornece financiamentos a projetos da
iniciativa privada, criou, em junho de 2003, uma série de exigências, conhecida como "Princípios do
Equador". Trata-se de uma diretriz socioambiental que as instituições financeiras precisam adotar
para fornecerem financiamentos às empresas.
No Brasil, bancos como Bradesco e Itaú e companhias como a Vale do Rio Doce aderiram a esses
princípios e passaram a oferecer linhas de crédito bancário para companhias interessadas em tornar susten-
táveis seus processos produtivos. O banco Itaú destinou, por exemplo, R$150 milhões a projetos de cunho
ambiental, como os que visam à criação de sistemas de reaproveitamento de água e de eficiência energética.
Já o Bradesco financiou US$10 milhões para projetos dos setores de energia e celulose. “Além de termos
nossos próprios projetos socioambientais, nós ajudamos empresas que querem preservar, mas que não
possuem caixa para isso”, explica Cesar Gomes.
A Vale do Rio Doce investe por ano cerca de 40 milhões de reais em projetos relacionados ao
meio ambiente. São projetos sociais de educação ambiental, realizados ao longo das localidades onde
se encontram suas atividades; de tratamento avançado de seus efluentes; de controle das emissões
atmosféricas e de uso de uma porcentagem de biodiesel nas locomotivas, que vão muito além do que
a legislação requer.
CONSUMIDOR CONSCIENTEMas se engana quem pensa que as empresas são as únicas responsáveis por preservar e cuidar do
meio ambiente. As pessoas que são comprometidas em estimular as outras e as que participam dos
projetos ambientais também têm um papel fundamental.
Na Usina de Mascarenhas de Moraes, em Minas Gerais, onde Furnas tem vários projetos
para a preservação do meio ambiente, isso é muito evidente. A criação de uma oficina de
reciclagem de garrafas pets, que a empresa criou para os empregados, mobilizou toda a comu-
nidade que vive em volta da Usina. Tanto que depois que a oficina terminou, as esposas dos
funcionários fizeram um abaixo-assinado pedindo para que ela fosse estendida para os morado-
res da região onde a usina é localizada.
E deu certo. Hoje, cerca de 30 moradores, entre mulheres e crianças, participam da oficina de reciclagem.
O sucesso do projeto é tão grande que o grupo, junto a Furnas, criou o Movimento Atitude Verde. Uma das
responsáveis pelo abaixo assinado, a dona de casa Juliana Dias Clemente, de 57 anos, afirma que esse
trabalho é inovador para a área da usina. “Além de ser uma oportunidade de unir as moradoras e de ocupar
o tempo ocioso, o projeto ajuda a preservar o meio ambiente e a conscientizar a população local”.
Fica claro que uma empresa que se preocupa e tem projetos e ações para preservação do meio ambi-
ente, além de crescer economicamente, também cresce socialmente. E esse comportamento, tanto das
empresas quanto da sociedade de um modo geral, é muito positivo, pois dá esperança de que o ser humano
do futuro pode contribuir muito para promover uma existência mais consciente e impulsionar uma condu-
ta mais responsável das empresas diante da natureza.
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE6○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Bruno Figueiredo
Quando alguém vê um prédio próximo a
bosques ou florestas, nunca imagina tudo o que
aconteceu para que ele fosse construído ali. Mui-
tas pessoas podem não saber, mas houve um con-
junto de burocracias para aquela construção ser
erguida. Normas foram seguidas, leis foram li-
das e aplicadas e ambientalistas e biólogos foram
consultados. Todo esse processo que orienta cons-
truções ‘ambientalmente corretas’ a seguirem as
normas se chama Licenciamento Ambiental.
Utilizado mais para empresas – entre elas. as
de extração e tratamento de minerais e as indús-
trias de produtos minerais não metálicos,
metalúrgicas, mecânicas, químicas, de madeira,
de papel e celulose, de borracha, de couros e
peles –, esse procedimento tem prazo de vali-
dade e, como todo documento, o requerente pre-
cisa cumprir regras, condições, restrições e me-
didas de controle ambiental, como o destino dos
resíduos e as emissões atmosféricas.
Esse método é um importante instrumento
de gestão da Política Nacional de Meio Ambien-
te, pois é com ele que o órgão ambiental busca
garantir que as medidas preventivas e de contro-
le adotadas pelos empreendimentos sejam com-
patíveis com o desenvolvimento sustentável. “É
preciso realizar o licenciamento porque assim o
desenvolvimento urbano pode aumentar, porém
de forma menos agressiva”, explica Ana Caroli-
na Marques, bióloga responsável pelo estudo para
a liberação de licenças do projeto.
O Licenciamento Ambiental é dividido em
três etapas. A primeira se chama Licença Prévia,
na qual os envolvidos avaliam a localização e a con-
cepção do empreendimento, sendo que o tempo
de campo dado aos consultores, normalmente bi-
ólogos é, às vezes, curto. “A amostragem poderia
ser mais bem feita, pois certos grupos animais,
especialmente os raros e ameaçados, e que é im-
portante saber se existem naquela região ou não,
costumam demandar mais tempo para serem en-
contrados”, comenta Ana Carolina.
Logo depois de terminada a primeira etapa
e de serem estabelecidas as medidas de proteção
ambiental, acontece o segundo passo, chamado
Licença de Instalação. Essa concessão autoriza o
início da construção do empreendimento e a ins-
talação dos equipamentos.
Após essas duas fases, ocorre a última par-
te do processo, a denominada Licença de Ope-
ração. Nessa etapa, é autorizado o funciona-
mento do empreendimento. Essa parte só pode
ser requerida quando a empresa estiver
construída e após a verificação da eficácia das
medidas de controle ambiental estabelecidas
nas condicionantes das licenças anteriores.
Mas engana-se quem pensa que conseguir
o licenciamento é algo simples. Além de ha-
ver a possibilidade de demora, é preciso sem-
pre incrementar os procedimentos de contro-
le. “As leis para a licença estão boas, mas
sempre é necessário melhorar a cada dia, sen-
do preciso colocar especialistas competentes
ao lado das pessoas que fazem as leis para po-
der aconselhá-los”, sugere David Zee, coor-
denador do Mestrado em Meio Ambiente da
Universidade Veiga de Almeida.
E mesmo que o governo venha tentando sem-
pre atualizar e implementar as medidas ambientais
necessárias, muitas pessoas não acreditam que isso
ocorra ou que irá acontecer. É o caso da estudante
Ana Paula Lobato, que lembra que no Brasil as leis
nunca são cumpridas. “O governo quase nunca co-
bra as empresas nesse assunto, e eu acho que elas
nem sequer se preocupam com isso”.
David Zee completa e diz que, quando vêem
algo de errado, há mesmo pessoas que não fa-
zem nada, muitas vezes por não saber como aju-
dar. “A população tem bastante consciência, só
precisa de mais inserção no assunto. Se houvesse
mais difusão de informação sobre o licenciamento
as pessoas saberiam o que fazer”.
Zee afirma, porém, que as empresas têm se
conscientizado sobre a situação no mundo e que
cada vez mais pessoas estão de olho. “As empre-
sas têm notado a importância do assunto, mas é
preciso ampliar essa percepção, pois alguns em-
presários precisam perceber que, mesmo custan-
do, o licenciamento ajuda. Afinal, a sociedade é
o cliente, e quando a população entende, a rela-
ção entre elas fica muito mais amigável”.
O Governo vem tomando medidas para
conscientizar todos os setores da sociedade so-
bre o assunto. A Secretaria Municipal de Urba-
nização, por exemplo, dispõe de uma seção ex-
clusiva sobre legislação de bairros, que visa
apresentar o conjunto de normas sobre o uso e a
ocupação do solo e a regulamentação para a cons-
trução de edificações que incidem em cada um
dos bairros, de modo a permitir o conhecimen-
to das possibilidades de crescimento e transfor-
mação dessas áreas, bem como da legislação do
seu patrimônio arquitetônico e paisagístico.
Claro que, como em quase todos os pro-
cessos, os licenciamentos também são suscetí-
veis de erros, e quando eles ocorrem, a justiça
entra em cena. “Se uma informação embasada
for comprovada como falsa, a licença é anulada
e o empreendedor e/ou responsável pela in-
formação é processado e a operação do empre-
endimento fica interrompida até ser resolvido
o problema”, informa Ana Carolina. Esse pro-
cedimento ambiental mostra a preocupação que
precisa ser empregada no mundo, pois o ho-
mem tem evoluído cada vez mais e, para isso,
sempre é necessário prestar atenção em como
isso afeta o meio ambiente.
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 7
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Paula Penedo Pontes de Carvalho
As placas solares absorvem energia que pode ser utilizada dentro de casa, diminuindo o consumo de luz
lizados pelos esquimós) e as ocas indígenas fei-
tas com palha e taquara.
Mas foi somente na segunda metade do sé-
culo passado que o ocidente começou a repensar
os costumes e as consequências do estilo de vida
que levava. Em 1987, foi concebido o conceito
de desenvolvimento sustentável, que pode ser
definido como “aquele capaz de suprir as neces-
sidades da geração atual, sem comprometer a ca-
pacidade de atender as necessidades das futuras
gerações”, o que acabou por conduzir à ideia de
uma arquitetura sustentável.
Segundo Luiz Fernando do Valle, presiden-
te do Grupo Ecoesfera Empreendimentos Sus-
tentáveis, que opera na venda de imóvies “ver-
des” nas principais cidades do país, essa
valorização dos diferenciais ecológicos segue
uma tendência mundial, ligada, principalmente
à diminuição dos custos finais. “No Ecolife, os
moradores têm uma redução de 20% a 30%
nas taxas de condomínio e 40% dos clientes
manifestam esses diferenciais como motivo
principal da compra. Sinal de que as pessoas
os estão considerando como razão para a valo-
rização do imóvel”.
Nelson Kawakami, diretor-executivo do
Green Building Council Brasil (GBC Brasil), sub-
sidiária da entidade que fornece os parâmetros
para a construção sustentável, completa, expli-
cando que o retorno financeiro só não é maior
devido ao número reduzido de prédios em ope-
ração. “Nos Estados Unidos, empreendimentos
sustentáveis custam de 1% a 7% a mais. Mas esse
é o caro que sai barato, pois apresentam maior
velocidade na venda”.
O funcionário público Nilo Sergio Lentini,
de 51 anos, aposta nessa ideia e está fazendo obras
no chuveiro de sua nova casa para diminuir o des-
perdício de água e os custos finais. Ele conta que
com a implantação de três placas solares e um
boiler (reservatório térmico) de 400 litros, o gas-
to será de R$2.400. “O retorno poderá ser per-
cebido em um ano, no máximo um ano e meio,
e teremos uma economia de mais de R$100 na
conta de água”.
Mas a economia não é o único benefício de
uma construção ecológica. Esse tipo de obra
traz aumento de produtividade, reduz em 30%
o consumo de energia e em até 50% o consu-
mo de água, diminui as emissões de CO2 em
35% e contribui em até 90% para a redução de
resíduos tóxicos, diminuindo diretamente dos
impactos sobre o meio ambiente.
E foi para determinar a eficácia ambiental
desse tipo de empreendimento que o GBC criou
o certificado Leed (Liderança em energia e pro-
jeto ambiental). Considerado a principal ferra-
menta mundial na avaliação sócio-ambiental e
no reconhecimento de projetos ecológicos, ele
pontua soluções sustentáveis e avalia o desem-
penho das construções.
Em outubro de 2008, o edifício Cidade
Nova, desenvolvido pela Bracor e ocupado pela
Petrobras, se tornou a primeira construção do
Rio de Janeiro e o primeiro edifício comercial
do país a receber o título. Entre as normas se-
guidas pela construção estão a captação e o reuso
de água, a instalação de vidros isotérmicos e a
disponibilização de vagas especiais para veícu-
los de baixa emissão de poluentes.
O consultor do Instituto para o Desenvolvi-
mento da Habitação Ecológica (IDHEA), Márcio
Augusto Araújo, explica em seu artigo “A mo-
derna construção ecológica”, que a
sustentabilidade de uma obra moderna é avalia-
da pela capacidade de responder positivamente
aos desafios ambientais da sociedade. Para ele, a
casa sustentável deveria utilizar materiais que não
comprometam o meio ambiente e a saúde dos
ocupantes e que contribuam para tornar o estilo
de vida cotidiano mais sustentável.
Mas é importante perceber que há uma gran-
de diferença entre construções ecológicas e sus-
tentáveis. Ainda segundo Araújo, enquanto a pri-
meira utiliza os recursos locais de maneira
integrada ao meio, a segunda faz uso de soluções
tecnológicas e inteligentes para promover o bom
uso de recursos finitos. “A construção sustentá-
vel difere da ecológica por ser produto da mo-
derna sociedade tecnológica, utilizando, ou não,
materiais naturais e produtos provenientes da
reciclagem de resíduos gerados pelo seu próprio
modo de vida”.
Ele ainda pontua que as pessoas deveriam tra-
balhar para que um imóvel seja sustentável e não
somente ecológico, lembrando que o ser huma-
no passa mais de dois terços de seu tempo den-
tro de algum imóvel. “A verdadeira construção
sustentável é assim considerada não apenas por-
que não esgota os recursos empregados para sua
edificação e uso, mas também porque sustenta
aqueles que a habitam. Ela é base para suas reali-
zações, segurança, alegria e felicidade”.
O morador chega em casa. No quintal, os
filhos brincam com as frutas do pomar. Ao abrir
a porta, sensores de movimento ativam a ilumi-
nação gerada pelas placas solares, instaladas para
evitar o desperdício de energia. Ele vai tomar
banho e a água que vem direto das caixas de co-
leta de chuva, pré-aquecida pela energia natural
que diminuirá o consumo de gás, escoará para
outra armazenagem antes de ser utilizada nos
vasos sanitários e na irrigação do jardim.
Para muitas pessoas, a cena pode parecer es-
tranha, mas é cada vez mais comum encontrar no
Brasil empreendimentos que consideram as
potencialidades sócio-ambientais na hora de fazer
uma obra. São as chamadas construções sustentá-
veis, que surgem para minimizar os danos causa-
dos ao meio ambiente por meio da utilização de
recursos renováveis, englobando desde o projeto
até o uso que o homem fará do imóvel.
A história das construções naturais remon-
ta ao início dos tempos. Desde que deixou de
ser nômade para se fixar em um único territó-
rio, o homem passou a utilizar os recursos que
o meio fornecia para criar sua morada. Foi as-
sim que surgiram os iglus (abrigos de gelo uti-
DIRETRIZES A CONSIDERARPARA UMA CONSTRUÇÃOSUSTENTÁVEL• Pensar em longo prazo o planejamento da obra
• Eficiência energética
• Uso adequado da água e reaproveitamento
• Uso de materiais e técnicas ambientalmente
corretos
• Aplicação dos 3Rs: reciclar, reutilizar e reduzir
• Conforto e qualidade interna dos ambientes
• Permeabilidade do solo
CARACTERÍSTICAS DASCONSTRUÇÕES DE ACORDOCOM O CLIMA:• Tropical úmido: as chuvas e as altas temperatu-
ras do clima tropical úmido demandam casas com
tetos altos e bem inclinados. A pequena diferen-
ça entre o dia e a noite faz com que o ideal seja
uma construção distante da outra, para haver
ventilação entre as casas.
• Temperado: com o frio intenso desse tipo de cli-
ma, é necessário usar materiais que isolem o in-
terior das baixas temperaturas, além de cons-
truir as casas em locais expostos ao sol.
• Tropical Seco: com dias quentes e noites frias, o
ideal é que as construções fiquem próximas umas
das outras, ampliando as sombras e diminuindo
as paredes expostas ao sol.
Fonte: http://ambiente.hsw.uol.com.br/constr
ucoes-ecologicas1.htm
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE8
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Vívian Borges
A história demonstra que as pessoas são ca-
pazes de realizar mudanças fundamentais para
a melhoria de vida. Basta que sejam bem infor-
madas e mobilizadas para isso. Constantemen-
te discutidas pelos cientistas e ambientalistas,
as alternativas de energia estão na pauta do dia
e o desenvolvimento de fontes de energia
renovável, a poupança de energia e o seu me-
lhor aproveitamento são as regras de ouro para
o futuro da política energética. Um futuro que
está, no entanto, cada vez mais presente.
Mas as opor tunidades que a cr ise
energética pode oferecer incluem não só no-
vos negócios e novos lucros, como também a
construção de máquinas limpas. É possível uti-
lizar o sol e o vento, deixar de desperdiçar
energia, usar as abundantes reservas de car-
vão sem aquecer o planeta. E para isso é ne-
cessária uma conscientização universal.
A escola pode ser um catalisador de mu-
dança, promovendo, junto à comunidade esco-
lar, uma mudança de atitude em relação aos pe-
quenos atos que são possíveis no dia a dia, com
vistas à poupança de energia. A escola tem o
dever de inspirar os outros a agir. E o mais im-
portante é que eles sejam os transmissores des-
sas preocupações ambientais para os outros es-
paços da vida: sua casa, sua rua, seu bairro, sua
cidade, seu país.
Um exemplo de consciência ecológica apli-
cada no cotidiano vem do professor e biólogo
Carlos Albuquerque, de 40 anos. Ele possui
uma casa de campo em Angra dos Reis no Rio
de Janeiro e utiliza a energia eólica na conver-
são de eletricidade para o local, com o uso de
vento para mover aerogeradores e grandes tur-
binas, que têm a forma de um cata-vento ou
um moinho.
O professor explica que o movimento das
turbinas produz a energia elétrica. É preciso
agrupar, em parques eólicos, concentrações de
aerogeradores, necessários para que a produ-
ção de energia se torne rentável, mas eles po-
dem ser usados isoladamente, para alimentar
localidades remotas e distantes da rede de trans-
missão. É possível ainda a utilização de
aerogeradores de baixa tensão.
ALTERNATIVAS PARA PRODUÇÃO ECONSUMO CONSCIENTE DE ENERGIA
Para Albuquerque, a profissão o ensinou ain-
da mais a respeitar a natureza e a vida. Como
professor e biólogo, ele afirma que trabalhar
conscientizando as pessoas sobre a importância
de preservar a natureza e as fontes de energia
natural é um compromisso que assumiu para a
vida toda. “Acredito na educação da nova gera-
ção sobre o papel do ser humano no mundo. A
busca por fontes renováveis cresce, pois, além
de não poluentes, são alternativas à gasolina,
ao diesel e ao gás natural".
Ele diz que o compromisso de um
ambientalista se define quando está a serviço
de um modelo de desenvolvimento humanista
que respeite todas as formas de vida. "Não se
trata de decidir quem tem mais ou menos di-
reito à vida, se uma criança, um macaco ou uma
árvore. A questão está na relação entre eles, pois
se o homem agir a favor do meio ambiente, na-
turalmente a natureza devolve a ação para ele,
seja ela positiva ou negativa”.
Outra pessoa ecologicamente correta é o
analista de patente Júlio do Carmo, de 52 anos,
morador do Recreio dos Bandeirantes há dois
anos e que, desde que se mudou para o local,
utiliza a energia solar como fonte renovável. Sua
casa dispõe de painel solar, muito comum na
captação desse tipo de energia. Júlio diz que
uma grande vantagem é que ela permite a ge-
ração de energia no mesmo local de consumo,
por meio da integração da arquitetura, dimi-
nuindo o gasto e economizando.
O analista conta que já tinha um projeto de
construir um imóvel utilizando fontes de ener-
gia renováveis e, assim que conseguiu o capital,
investiu no projeto. “Construí minha casa base-
ada numa fonte alternativa de energia porque o
local era favorável para a construção”.
Ele ressalta que, ao se envolver com o tema,
adquiriu muita informação e decidiu aplicar em
seu cotidiano. Para ele, a energia solar é uma
fonte de vida e de origem da maioria das outras
formas de energia na Terra. No que diz respei-
to ao custo da manutenção do painel, ele afir-
ma que a utilização desses recursos requer in-
vestimentos consideráveis no tratamento, mas
vale a pena investir em algo que no futuro irá
trazer benefícios econômicos e qualidade de
vida para o planeta.
Segundo o especialista em energia renovável
da Petrobras, André Simões, as fontes renováveis
de energia são alternativas não só à poluição,
mas também ao aquecimento global, ao passo
que as fontes fósseis sofrem restrições com a
alta do petróleo e questões socioambientais.
Contudo, as fontes não-renováveis, como pe-
tróleo, gás, carvão e nuclear, ainda represen-
tam 86% da matriz energética mundial.
As energias tradicionais são extraídas da ter-
ra e se esgotam. As energias renováveis, ao con-
trário, provêm de fontes que não acabam, como
o vento, a luz solar, os cursos de água. O espe-
cialista aposta na energia solar, pois é a que mais
vem crescendo nos últimos tempos. Para ele, a
disponibilidade de recursos e reservas talvez não
seja fator limitante no futuro, pois a energia
renovável tende ao crescimento gradativo.
“Apesar de toda a diversidade de fontes de ener-
gia, a estrutura de uso final se modifica, pas-
sando de sólido para líquido e finalmente para
gases, mais limpos”, destaca André.
Já o ambientalista Luís Teles explica que a
elevação da temperatura tem relação direta com
a utilização de combustíveis fósseis como car-
vão, que contribuem para a emissão dos gases
que provocam o efeito estufa. “Apesar de as fon-
tes de energia utilizadas no país serem relativa-
mente limpas, as políticas voltadas para a disse-
minação do uso de fontes de energias renováveis
devem ser contempladas”.
Teles afirma que o desenvolvimento das
tecnologias para o aproveitamento das
renováveis poderá beneficiar comunidades ru-
rais e regiões afastadas, bem como a produção
agrícola, por meio da autonomia energética. “As
energias renováveis quase têm o dom da ubi-
qüidade e estão distribuídas de forma mais
equitativa em nível global, o que não acontece
com as fósseis, que favoreceram o desenvolvi-
mento dos grandes aglomerados populacionais,
urbanos e industriais, ultrapassando os limites
das vantagens de qualidade de vida”.
O ambientalista também alerta que o tema
energético deve ser uma questão discutida por
toda a população mundial, já que afeta direta-
mente cada indivíduo. “A grande insatisfação
com a situação atual do mundo nos leva a so-
nhar com um futuro diferente, que só poderá
acontecer com mudanças imediatas na educa-
ção e, consequentemente, na relação homem-
sociedade-natureza, começando com o enten-
dimento, ou melhor, com a releitura do modelo
de desenvolvimento predominante e seus po-
tenciais impactos ao meio ambiente e à quali-
dade de vida”.
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V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:338
Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 9
Essas comunidades ecologicamente sustentáveis são a resposta para a crescente preocu-
pação com o meio ambiente. A partir do relatório Brundtland (Our Common Future),
publicado em 1987, o mundo começou a ver a degradação da natureza e a retirada predató-
ria da matéria-prima como problemas em potencial e diversos setores econômicos foram
pressionados devido as suas atividades extrativistas. O ápice dessa preocupação foi a Eco-
92, considerada um marco na luta pela preservação ambiental, quando o conceito de de-
senvolvimento sustentável foi firmado. Assim, o mundo começou a se posicionar de ma-
neira mais firme perante o problema e o assunto passou a existir e a ser colocado em pauta
pelas grandes empresas.
A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de
suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as neces-
sidades das futuras gerações. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambien-
te e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmoni-
zar dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende apenas de planejamento e do
reconhecimento de que os recursos naturais são finitos e devem ser usados de forma consci-
ente e responsável. Esse conceito representou uma nova forma de pensar a economia, já que
muitas vezes, desenvolvimento é confundido com crescimento econômico, que depende do
consumo de energia e recursos naturais. Esse tipo de ‘progresso’ tende a ser insustentável e
nocivo ao meio, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade de-
pende. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com
a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem.
Um bom exemplo da importância que o assunto Desenvolvimento Sustentável ganhou a
partir da Cúpula da Terra (ECO-92) foi a criação da Fundação Brasileira de Desenvolvimento
Sustentável (FBDS), para implementar no Brasil os conceitos discutidos na cúpula. Para isso,
um corpo de grandes empresas nacionais e internacionais atuantes no país foi estruturado,
entre elas, a Vale do Rio Doce, a Petrobras, a Saint Gobain e a Shell. “A criação desse grupo
encurtou a distância que havia entre as grandes empresas, principais poluidoras, e as frentes
de preservação ambiental”, comenta Marcelo Bueno, integrante da diretoria do IPEMA e
ativista pelo desenvolvimento sustentável no Brasil.
Na ECO-92, também foram fundadas as bases para o Protocolo de Kyoto. Até 9 de feve-
reiro de 2005, 168 países tinham ratificado, ou sido integrados, ao acordo, incluindo o Brasil,
e em 16 de fevereiro de 2005, ele entrou em vigor. O Protocolo integra e implementa a
convenção-quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças do Clima. Segundo o tratado, os paí-
ses industrializados que o ratificaram (lembrando que a administração Bush afirmou que os
EUA não iriam participar) deveriam reduzir suas emissões de gases poluentes em aproxima-
damente 5% até 2012.
O dia está ensolarado, os feixes de luz atravessam o espesso cobertor de folhas da floresta.
Debaixo desse guarda-sol generosamente feito pela natureza, as pessoas estão absorvidas em suas
tarefas diárias. Plantar, colher, recolher água nos reservatórios, escutar os pássaros cantando. As
casas feitas de barro, cercadas por hortas nas quais são empregados conceitos de permacultura, são
simples, mas não deixam a desejar no conforto e na proteção contra o rigor do clima. Esse é um
quadro quase inimaginável para a maioria dos seres humanos que vivem nas megalópoles brasilei-
ras. Para outros poucos, porém, essa experiência ‘ao natural’ faz parte da rotina. São os associados
do Instituto de Permacultura e Ecovilas da Mata Atlântica (IPEMA), que administra uma ecovila
no litoral de São Paulo, em Ubatuba. A ecovila no litoral paulistano não tem uma população fixa:
as pessoas vão para aprender as técnicas e conceitos do viver ecologicamente sustentável e logo
retornam para suas vidas urbanas.
As ecovilas são ainda pouco conhecidas pelo Brasil e não passam de sete o número total de
grupamentos humanos sustentáveis distribuídos pelo país. Entre eles, o IPEMA e o Instituo de
Permacultura do Cerrado (IPEC), localizado em Pirenópolis, no cerrado Goiano, são os principais.
Além de serem os mais bem estruturados, oferecem vários cursos sobre desenvolvimento sustentável.
Os módulos de aprendizagem vão da permacultura até a construção de ecocasas, passando pela elabo-
ração de filtros de água biológicos e a reciclagem de mais de 90% do lixo gerado. Todo esse esforço por
parte dessas comunidades visa aliviar a marca ecológica deixada pelas habitações humanas. “Ecovilas são
assentamentos de proporções humanas, funcionalmente completas, onde as atividades do ser humano
se integram inofensivamente ao mundo natural, de forma a ajudar o desenvolvimento saudável e poder
perdurar por um futuro indefinido”, diz o trecho do artigo “The Eco-Village Challenge”, escrito por
Robert Gilman, acadêmico e principal autoridade mundial sobre Ecovilas.
Ainda em 2005, foi registrada a maior incidência de tempestades (26), a maior quantidade de
furacões (14) e a maior quantidade de furacões de categoria 5 (com ventos acima de 249 Km/h).
Esses fenômenos vieram a reboque das mudanças climáticas causadas pelas emissões de gases que
contribuem para o aquecimento global. Dados da ONU apontam que, se o nível de poluição
continuar aumentando, o planeta pode sofrer mudanças climáticas drásticas. Em 20 anos, a tempe-
ratura poderá subir em dois graus, e em 50 anos, até cinco graus. Todos esses dados, apurados na
sua maioria pela ONU e por demais organizações ligadas ao meio ambiente, como a WWF e a One
Earth, reafirmam a necessidade de uma mudança na postura da humanidade frente ao planeta.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Igor Balbino
Se o crescimento econômico mundial mantiver o seu ritmo,em 24 anos será preciso outro planeta para atender à
demanda por matéria-prima
A Organização das Nações Unidas recentemente publicou um texto que fazia uma proje-
ção ainda mais preocupante. Se o crescimento econômico mundial mantiver o seu ritmo, em
24 anos será preciso outro planeta para atender à demanda por matéria-prima. A França, por
exemplo, gera por ano uma quantidade de lixo nuclear capaz de encher o Maracanã. Todo
esse lixo é guardado em depósitos em países subdesenvolvidos na Ásia e África, o restante é
despejado nas fossas submarinas. Não existe como precisar os efeitos desse despejo irrespon-
sável, pois o ser humano conhece mais da superfície da lua do que destes locais onde o lixo
atômico é jogado. “O estilo de vida da sociedade atual não pode ser mantido por muito tem-
po. O que está em jogo é a nossa sobrevivência. Tomar consciência disso é uma questão de
vida ou morte”, apregoa Marcelo Bueno.
O ser humano do século XX parece estar semi-desperto para o problema da degradação
do meio ambiente. A natureza vem dando vários sinais de que algo não está bem. Talvez por
receio, insegurança ou até mesmo por ganância e mesquinharia, a humanidade feche os olhos
para o quadro atual, nada belo e otimista. “Eu realmente espero que a atitude das pessoas
mude. Miito se fala sobre desenvolvimento sustentável. Mas pouco se faz”, comenta Marcelo.
O principal ativista brasileiro da preservação ambiental, e pioneiro em iniciativas de desen-
volvimento sustentável, Jose Lutezenbeger, definiu em poucas palavras a situação na qual a
sociedade atual está mergulhada. “Todo recurso natural é limitado. A única fonte permanente
da energia e, portanto, de vida, é o sol. A nossa missão é de fazer com que a herança de nossos
descendentes seja melhor do que aquela que recebemos”.
V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:339
Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE10Mídia e meio ambiente: uma parceria necessária
população como pela mídia e pelas empre-
sas, que introduzem novas práticas para re-
duzir seus impactos ambientais e sociais, ven-
do oportunidades comerciais ao fato de
agregar valor às marcas. A bióloga Danielle
Rodrigues de Souza considera que a mídia
participa na propagação do assunto, mas mui-
tas vezes falha ao se restringir somente a al-
gumas datas.
“Os jornais têm se esforçado muito nesse
sentido, criando páginas temáticas e dando
mais espaço. Acredito que tal esforço tem sur-
tido efeito, já que a idéia de preservação é um
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Jéssica Mattos
Os meios de comunicação têm o poder
de levar a humanidade a tomar conhecimen-
to dos problemas sócio-ambientais e a pro-
curar rediscutir seus modelos de desenvolvi-
mento e de atuação no meio ambiente. A
mídia consolida-se desta forma, como ele-
mento essencial para a consecução de cami-
nhos que levem ao alcance de uma visão mais
ampla do meio ambiente.
Atualmente, constata-se um aumento de
interesse sobre o meio ambiente, tanto pela
consenso entre a população. Mas o problema
é quando o assunto sai da esfera coletiva e vai
para a pessoal. O que acontece é que há ainda
uma carência enorme na área ambiental, pois
muitas vezes as reportagens são motivadas por
matérias relacionadas a datas especiais e não
proporcionam ainda uma reflexão maior en-
tre os leitores”, comenta a bióloga.
De fato, é possível observar que, com o
domínio da informação, a mídia desenvolveu
mecanismos e ferramentas capazes de difun-
dir mais rapidamente o conhecimento sobre o
assunto. Houve ainda um aumento significati-
vo de publicações, documentários e campanhas
de publicidade institucionais sobre o meio am-
biente. Por meio dos jornais e, principalmen-
te, da televisão, as questões ambientais têm
chegado ao conhecimento de vários segmen-
tos da sociedade.
Apesar do meio ambiente vir sendo dis-
cutido de maneira considerável, a estudante
de Ciências Biológicas, Raquel Ribeiro, res-
salta que essa ‘corrida contra o tempo’ deve
ser bastante cuidadosa. “O que vejo, muitas
vezes, é o atropelamento dos fatos em meio
à globalização. Ao passo que a mídia padro-
niza os interesses da sociedade, tem também
o poder de manipular os seres humanos com
seus processos de produção, transmissão e
recepção de formas simbólicas que, muitas
vezes, não são tão eficientes como deveri-
am”, acredita ela.
A atuação da mídia como construtora
do conhecimento nem sempre acompanha
as reais necessidades da sociedade e do
meio ambiente. Ainda hoje, muitas vezes,
seu interesse por assuntos ambientais é de-
terminado por datas comemorativas ou por
circunstâncias trág icas: vazamentos de
óleo, enchentes, estiagens, queimadas, fu-
racões e terremotos. Mas é importante que
seja reconhecida a urgência de espaço para
novas pautas que cumpram o objetivo de
tratar da problemática sócio-ambiental de
maneira interdisciplinar.
Quem cobre Economia ou Política pode-
ria inserir o plano ambiental dentro do con-
texto de suas reportagens. Grandes veículos
já possuem jornalistas que se dedicam somen-
te a esse tema, que consome muito tempo em
pesquisa à legislação e aos estudos técnicos.
No entanto, na maior parte das vezes o assun-
to acaba caindo na pauta geral, sem um repór-
ter específico. Isso pode ser um problema, por-
que um dos pontos essenciais na cobertura de
questões relativas ao meio ambiente é a esco-
lha das fontes certas.
Ainda não são muitos os casos em que a
mídia está, de fato, indo fundo nas questões
do meio ambiente. Mas iniciativas aqui e a
ali começam a surgir. Recentemente, a
Globo.com e o Fantástico elaboraram o pro-
jeto Amazônia.vc. Foi criado um aplicativo
na rede do Orkut que possibilita o acompa-
nhamento dos desmatamentos na Amazônia,
além de permitir o protesto das pessoas. Já
são mais de 140 mil participantes e mais de
5,7 milhões de protestos. Embora não sejam
registros formais, essas manifestações funci-
onam como forma de incentivo para o Go-
verno tomar medidas para solucionar esse
problema tão antigo e frequente no Brasil.
Cabe à função social da mídia explicar com
clareza e objetividade os desafios que o Brasil
tem pela frente em relação ao aquecimento
global, à escassez de recursos hídricos, à
desertificação do solo, à multiplicação do vo-
lume de lixo e ao consumismo desenfreado e
compulsivo, além de sinalizar rumos e pers-
pectivas para a sociedade, dando visibilidade a
inúmeros exemplos de que é possível construir
um projeto de desenvolvimento que gere ri-
queza sem destruir o meio ambiente.
Imagens www.sxc.hu
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 11○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Nathália de Souza Gomes
no meu DVD é motivo de muito orgulho na
minha biografia”, diz.
NA BATIDA DO REGGAE“Árvore, árvore, raiz (resistência). Árvore,
árvore, raiz (positividade). Árvore, árvore, raiz
(combatendo de frente o sistema). Árvore, ár-
vore, raiz, vamos conservar [...] Então pare!
Pare para pensar, atenção”. Esse é um trecho da
música “Árvore do Reggae”, do Grupo Ponto
de Equilíbrio, que está intimamente ligada à
questão do meio ambiente. De acordo com o
baterista Lucas Kastrup, a preservação da natu-
reza é a única saída para a espécie humana e
para as demais que aqui habitam. “Acreditamos
que o planeta é um organismo vivo do qual to-
dos fazemos parte. É uma constante da banda a
lembrança de que nossa casa interior e nosso
planeta-casa devem estar limpos e fortes”.
Além das músicas, os artistas também in-
centivam o uso da reciclagem. Caso do “Abre
a Janela”, divulgado em papel reciclado. Lucas
também já deu aulas sobre a construção de ins-
trumentos com madeira reciclada. “Ministrei
oficinas em instituições de ensino público e
privado, quando participava do grupo ‘Ciclo
Natural’, que hoje é liderado por meu primo
Ciro Kastrup”.
A música pode ser considerada uma das for-
mas mais eficientes de se passar uma mensagem.
Para Leoni, o ser humano precisa perceber que
defender a natureza é defender a própria exis-
tência no planeta. “Estou muito assustado com o
futuro da nossa casa. O presente já está dando
demonstrações de que a conta está chegando para
pagarmos com juros”.
A opinião do grupo Ponto de Equilíbrio é a
mesma. Lucas ainda alerta para a importância dos
músicos no auxílio à preservação do meio ambi-
ente. “No caso brasileiro, em que plantar e cui-
dar da natureza são atitudes mais que urgentes,
acredito que os músicos tenham a responsabili-
dade de alertar todos neste sentido”.
“Seus netos vão te perguntar em poucos
anos pelas baleias que cruzavam oceanos, que
eles viram em velhos livros...”. A letra da can-
ção ‘As baleias”, de Roberto Carlos, de 1981,
já mostrava a preocupação com a preservação
do meio ambiente. De lá para cá, os gritos de
alerta em forma de canção só fizeram aumen-
tar. É necessário que o ser humano tenha cons-
ciência da importância de cuidar do espaço em
que vive e, para chamar a atenção da população
para o cuidado com o planeta, a música tem
versado sobre esses temas.
Roberto Carlos, Guilherme Arantes, Xuxa
e Bruno & Marrone. Esses são apenas alguns
dos cantores que fazem seu papel quanto é
tema é preservação do meio ambiente. Além
deles, não se pode deixar de citar o último
álbum do cantor Leoni. Com o nome de “Ou-
tro Futuro”, o disco conta com a participação
de uma tribo do Acre, conhecida como
Ashaninka, e traz também uma música canta-
da pelo líder e pagé Benki Piyãko, que parti-
cipa dos shows ao lado de Leoni.
“Os Ashaninkas são completamente sofisti-
cados no que se refere ao cuidado com a nature-
za e à recuperação de áreas devastadas. Eles re-
cuperaram a flora e a fauna de uma imensa região
em suas terras que havia sido devastada por ma-
deireiros”, comenta Leoni. A tribo montou uma
universidade, chamada “Saberes da Floresta”,
onde seus integrantes ensinam homens brancos
e outras etnias indígenas a viver na Floresta Ama-
zônica sem desmatar. “Eles provam que a flores-
ta de pé é muito mais lucrativa do que a floresta
deitada, como eles chamam as áreas desmatadas”,
explica o cantor, que destaca a importância de
ter trabalhado com os índios.
Além do CD, Leoni produziu um DVD
chamado “Leoni e Ashaninkas – Ao vivo em
Paris”, no qual o cantor apresenta o espetácu-
lo ao lado de Benki e de mais seis índios. O
DVD traz também um documentário sobre a
vida na aldeia. Leoni ficou muito satisfeito com
o resultado do trabalho. “Poder dar voz a eles
O índio Benki e o cantor Leoni ensaiam em estúdio para gravação de DVD com show e documentário
0 grupo carioca Ponto de Equilíbrio traz o amor pela natureza nas letras das suas canções e no cotidiano
Foto
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lgaç
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Foto de divulgação
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE12NOVAS TECNOLOGIAS PROMETEM EVITAR DEGRADAÇÃODO MEIO AMBIENTE E PROLONGAR A VIDA NO PLANETA
sido divulgados como uma alternativa para o
melhoramento da produtividade de sítios po-
bres ou degradados, pois podem tornar essas
áreas produtivas, melhorando sua função so-
cial e ecológica. Além disso, acumulam car-
bono ao longo do tempo, o que pode recu-
perar quantidades perdidas durante a
derrubada e a queima de florestas primárias.
As vantagens para o uso deste tipo de cultivo
em relação aos convencionais, tanto econô-
micas, como ambientais, são várias.
A área com sistema agro-florestal pode
ser usada permanentemente, minimizando a
necessidade de derrubada e queima de novas
áreas e aumentando as chances de fixação do
homem no campo; e funciona como alterna-
tiva para aproveitamento de áreas já altera-
das ou degradadas. Também diminui a deman-
da de fertilizantes em razão da eficiente
ciclagem e da adubação orgânica, melhora as
propriedades físicas e biológicas do solo e
permite a preservação da biodiversidade.
O zootecnista Délcio Rocha acredita que
esse é um dos caminhos para a melhora da
produtividade. “A área degradada é sinôni-
mo de terra improdutiva, envolvendo altera-
ções negativas no clima, na hidrologia, na pai-
sagem, na flora e na fauna. É um conceito
muito mais amplo do que pura e simplesmen-
te a degradação da fertilidade do solo. Ela
reduz a capacidade de suporte do crescimen-
to de plantas em bases sustentáveis, sob da-
das condições de clima e outras relevantes
propriedades da terra”.
No âmbito ambiental, a comunidade cien-
tífica mundial e a população têm discutido a mu-
dança do modelo energético
mundial, de energia fóssil
para um sistema que in-
clua as energias
renováveis, alterna-
tivas e limpas. Por isso, a utilização de
biodigestores contribui para a integração e a
sustentabilidade entre atividades agropecuárias,
com o aproveitamento dos dejetos da caprino-
ovinocultura para a produção de biogás e
biofertilizante, alicerçando o aumento da pro-
dução agrícola e a transformação dos produtos
tradicionais das comunidades rurais carentes,
agregando valor e organizando a produção.
Professor de Biologia da Universidade de
Caxias do Sul, Germano Schüür chama a aten-
ção para o rumo que o planeta Terra está to-
mando devido à superpopulação mundial e
ao acúmulo de gases na atmosfera. “Futura-
mente teremos problemas relacionados à ex-
plosão demográfica e seus efeitos, ou seja,
suprimento de alimentos, novas fontes de
energia e preservação da qualidade da água,
do ar e do solo. Convém lembrar que em
2018 nosso pequeno planeta deverá hospe-
dar quase o dobro da população atual”.
Sobre as técnicas de preservação do meio
ambiente, ele explica que o homem está per-
dendo o controle para as máquinas. “É a
tecnologia que tem dirigido os caminhos do
homem e não o inverso, como deveria ser.
Sabe-se que grande parte da tecnologia está
voltada para a manutenção e para o aumento
de uma eficiência econômica que visa sem-
pre o crescimento de produção e até a cria-
ção de produtos inúteis que, na maioria das
vezes, estão completamente desvinculados
das reais necessidades humanas. Confio na ca-
pacidade do homem, desde que ele volte para
si mesmo, ou seja, volte à única razão para o
desenvolvimento: o bem-estar humano”.
Algumas empresas estão tão preocupadas
que já providenciaram mudanças em seu fun-
cionamento, como é o caso da United
Airlines, que fez um vôo experimental base-
ado em novas tecnologias agregadas ao avião.
O teste foi realizado sob os auspícios da Asia
and South Pacif ic Init iat ive to Reduce
Emissions (Iniciativa da Ásia e Pacífico Sul
para a Redução de Emissões - Aspire). Ele
transcorreu em uma freqüência normal do
vôo 870 da United, entre Sydney, na Austrá-
lia, e São Francisco, nos Estados Unidos. Os
processos incluem acompanhamento contí-
nuo do consumo de combustível, prioridade
na decolagem, uso de espaços aéreos restri-
tos após a partida e novos procedimentos para
o pouso, medidas que se tornaram possíveis
com a aplicação de novas tecnologias.
A Ecovias, administradora da rodovia que
liga a Imigrantes à Anchieta, também tem fei-
to um trabalho muito importante em prol da
preservação do meio ambiente. Ela foi a pri-
meira concessionária de rodovias do mundo
a obter o Certificado de Gestão Ambiental
ISO 14001. A Ecovias também dispensa aten-
ção às questões ambientais relativas à opera-
ção do Sistema Anchieta-Imigrantes. Para
isso, estabeleceu sua política ambiental, trei-
nando seus colaboradores para que conheçam
e apliquem pequenas atitudes que fazem di-
ferença, como monitorar a qualidade do ar e
da água diariamente; fiscalizar a fauna e a flo-
ra; minimizar a geração de efluentes líquidos
poluidores por meio da lavagem ecológica da
frota; conscientizar para o uso da água pelos
colaboradores; reduzir a geração de resíduos
sólidos; diminuir acidentes com produtos pe-
rigosos; recuperar a Mata Atlântica com o
plantio de mais de 500.000 mudas; e moni-
torar ruídos.
É muito importante entender os proble-
mas que as pessoas e as grandes empresas
causam ao meio ambiente. Mas entender
apenas não basta. É necessário buscar alter-
nativas para que esses problemas sejam ame-
nizados e solucionados, para que haja uma
melhora na qualidade de vida dos seres que
habitam o planeta.
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Silvia Knapp
A mesma tecnologia que, muitas vezes,
com uma mão, ajuda a poluir o pla
neta, com a outra pode colaborar para
salvá-lo. A luta para preservar o meio ambien-
te e impedir danos ainda maiores ao planeta e
a seus habitantes tem encontrado na tecnologia
um importante parceiro. Em várias áreas de
atuação, iniciativas vêm sendo desenvolvidas
e aplicadas na tentativa de frear ou reverter a
utilização indevida dos recursos naturais.
Um dos estudos existentes na área da fauna
e da flora, que visa proteger o solo, o ar, o
micro clima, a água e também a paisagem é a
Forragricultura. O solo é usado de uma for-
ma em que o plantio é uma combinação de
espécies frutíferas ou madeireiras com culti-
vos agrícolas ou animais, de forma simultânea
ou em sequência temporal, que interagem eco-
nômica e ecologicamente.
Com a presença de árvores que têm a ca-
pacidade de capturar nutrientes de camadas
mais profundas do solo, reciclando com mai-
or eficiência, a sustentabilidade desses siste-
mas é um dos aspectos positivos. Eles têm
Imagem www.sxc.hu
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 13
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Mayra Alves
Desmatar por exemplo, leva à destruição do
ecossistema, que possui produtores, consumi-
dores primários, secundários, terciários e
decompositores. E quando uma espécie entra
em extinção, há um desequilíbrio na cadeia ali-
mentar e que pode levar à morte de outras es-
pécies e afetar também o ser humano. Ao con-
trário do Mico-leão-dourado, outros animais
como o Pássaro Dodô, o Tigre de Java, o Tigre
da Tasmânia, o Leão do Cabo, o Urso Gigante
de Kamchatka, a Palanca azul e a Rã Pintada da
Palestina entraram em extinção, exatamente
por causa do contato com o homem e de suas
ações como poluição, urbanização sem planeja-
mento e caça predatória.
Essas extinções de espécies animais, além
das consequências graves para o equilíbrio na-
tural, trazem também a possibilidade da perda
dos serviços ecossistêmicos, do patrimônio ge-
nético e dos conhecimentos tradicionais, o que
acarreta prejuízos à saúde, pois muitos medica-
mentos valiosos para as indústrias farmacêuti-
cas e químicas se perdem definitivamente sem
ao menos terem se tornado conhecidos. Junto
com esse patrimônio da humanidade, desapa-
recerá a possível cura de tantas doenças para as
quais os cientistas procuram princípios ativos
em plantas e animais.
Para os animais que já foram extintos, não
existe mais solução, porém para os que ainda
correm esse risco sim. Por isso, para impedir
esse desequilíbrio ambiental, além de reduzir a
degradação ao meio ambiente, também devem
ser criados refúgios, parques e corredores bio-
lógicos que possibilitem a migração de espéci-
es e também a captura e a criação em cativeiro
de animais silvestres, para evitar sua extinção.
Essas alternativas, no entanto, podem se tornar
excessivamente caras no futuro. Algumas solu-
ções interessantes já existentes são os inventá-
rios de espécies, os levantamentos das espécies
atingidas e os bancos de germoplasma.
O estudante de Zootecnia Guilherme
Campello de Oliveira, de 21 anos, não acha ade-
quada como solução a captura e a criação em
cativeiro de animais silvestres. “Acredito que a
criação em cativeiro e os refúgios são soluções
temporárias, pois, com o passar dos anos, a ge-
nética dos animais será limitada, ou seja, não
haverá variabilidade genética para continuar
perpetuando as espécies”. Para ele, o adequado
seria agir de outra forma. “A melhor saída é a
preservação das áreas naturais em que os ani-
mais vivem e a educação da população para não
degradar essas áreas”. Para o também estudan-
te de Zootecnia Leonardo da Silva, de 21 anos,
a preservação pode ocorrer de outra forma. “Im-
pedir que esses animais sejam comercializados
com o aumento de fiscalização e pesquisas por
meios de produção que se consorciem com a
natureza, impactando o mínimo nos
ecossistemas, seriam outras possibilidades”.
A conscientização das pessoas nesse proces-
so de preservação é muito importante, pois, dessa
maneira, será fácil fazer com que outras espécies
não sejam extintas, como é o caso do Veado-
campeiro, do Guará, do Gato-do-mato, da
Doninha-amazônica, do Jacaré-açu, do Jacaré-do-
papo-amarelo, do Gavião-real e da Surucucu, que
saíram da lista dos animais com risco de extinção.
O veterinário Jefferson Rodrigo Ferreira con-
firma que já existem leis contra madeireiras por
causa do desmatamento e pessoas que praticam
o tráfico de animais, porém, na opinião dele, ain-
da é pouco. “A fiscalização não é tão intensa.
Deveria haver mais campanhas de
conscientização, principalmente na mídia e nas
escolas e, dessa maneira, sensibilizar a sociedade
para o fato de que os animais são fundamentais e
essenciais para o nosso meio ambiente”.
ALGUMAS ESPÉCIES DEANIMAIS AMEAÇADOSDE EXTINÇÃO
O Mico-leão-dourado é um primata e o
habitat desse animal no Brasil é a região monta-
nhosa do Sudoeste do Rio de Janeiro. Tem hábi-
tos diurnos e arborícolas e vive aproximadamente
15 anos. É monógamo, ou seja, uma vez forma-
do o casal, mantém-se fiel. Os locais que os gru-
pos usam para dormir normalmente são buracos
(ocos) de árvores e os adultos ajudam na alimen-
tação dos filhotes. E esse pequeno animal de
32cm é um dos muitos que estão na lista de ani-
mais que correm o risco de entrar em extinção.
O Brasil tem hoje, segundo dados do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE)
e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
(Ibama), um total de 130 espécies e subespécies
ameaçadas de extinção. Também é o país com o
maior nível de biodiversidade do planeta. Po-
rém, vários fatores têm contribuído para a des-
truição de grandes áreas dos ecossistemas mais
ricos do país: Amazônia, Pantanal, Mata Atlân-
tica e Cerrado. Graças às degradações ao meio
ambiente – desmatamentos e aquecimento glo-
bal –, além do tráfico de animais e da caça ile-
gal, algumas espécies já foram extintas.
MamíferosAntílope-tibetano
Cachorro-vinagre
Cervo-do-pantanal
Elefante-indiano
Elefante-da-floresta
Elefante-da-savana
Baleia-azul
Chimpanzé
Gato palheiro
Gorila-do-ocidente
Gorila-do-oriente
Jaguatirica
Leopardo
Lobo-vermelho
Morcego-cinza
Onça-parda
Onça-pintada
Orangotango
Panda-gigante
Peixe-boi
Tigre
Urso-polar
Veado
AvesAbutre das montanhas
Arara-azul-de-lear
Arara-azul-grande
Ararinha-azul
Araracanga ou Arara-piranga
Arara-de-barriga-amarela
Arara-vermelha
Bacurau-de-rabo-branco
Bicudo-verdadeiro
Cardeal-da-amazônia
Cegonha preta
Galo da serra
Gaivota de rabo preto
Gavião real
Grifo
Maracanã
Pato mergulhão
Papagaio Pica-pau de coleira
Pintor Verdadeiro
Rolinha
Tucano-de-bico-preto
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE14AS FLORESTAS PEDEM AJUDAO desmatamento, a emissão de gases poluentes e o aquecimento globalestão destruindo o bem mais valioso da humanidade○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Taciana Milet
venda do pau-brasil na Europa, eles co-meçaram a exploração na Mata Atlânti-ca e, assim, as caravelas voltavam car-regadas de toras de pau-brasil paraserem vendidas no mercado europeu.Enquanto a madeira era utilizada para aconfecção de móveis e instrumentosmusicais, a seiva avermelhada era usadapara tingir tecidos.
Desde então, o desmatamento nãoparou mais. Depois da Mata Atlântica,foi a vez da Floresta Amazônica, em bus-ca de madeiras de lei, as empresas pas-saram a explorar aquela área. Uma aná-lise feita pela WWF (ONG dedicada aomeio ambiente) mostrou que as flores-tas da Mata Atlântica estão reduzidas a7% de sua cobertura original e a Flo-resta Amazônica já atinge 12%.
FAUNA E FLORA PERDEM ESPAÇO NA FLORESTA DESTRUÍDAA Amazônia abriga 33% das florestas tropicais do planeta e 30% das espécies conhecidas da fauna e
flora. Hoje, a área total vítima do desmatamento corresponde a mais de 350 mil quilômetros quadra-
dos, o que equivale 20 hectares de mata derrubados por minuto, 30 mil por dia e 8 milhões por ano. Por
causa disso, muitas espécies acabam desaparecendo, algumas nem ainda conhecidas pelo homem.
Tudo isso é causado pelo desmatamento exacerbado e sem controle, que, além de desapare-
cer com a fauna e a flora da região, ainda é o principal responsável pelas emissões de gases
poluentes no Brasil, fazendo com que o efeito estufa, que controla o equilíbrio da temperatura
da Terra, aumente. Para que este seja controlado, o país necessita preservar a floresta, mas não
é isso que vem acontecendo.
De acordo com um relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgado
em 29 de outubro de 2008, em setembro desse ano, a Amazônia Legal (todo o território em
que há Floresta Amazônica e é composta pelos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará,
Rondônia, Roraima, além de parte dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão) teve
587 quilômetros quadrados de florestas desmatados. O estado com maior área desmatada foi
Mato Grosso, com 216,3Km² de floresta derrubada.
Nessas áreas devastadas são encontradas madeireiras e aeroportos clandestinos, empresas que
anteriormente foram fechadas, mas que continuam com o trabalho ilegal escondendo toras de árvo-
res para fazer construções. Esses locais têm fiscalização, mas como a área é muito extensa, fica difícil
monitorar todo lugar, o que ajuda para que essa atividade continue acontecendo.
Como consequência do desmatamento, a temperatura do planeta pode aumentar ao longo
dos anos. Estimativas mostram que apenas na Floresta Amazônica a temperatura poderá aumen-
tar em até 2ºC, podendo levar à extinção de muitas espécies da fauna e flora. A causa disso são
as emissões de gás carbônico na atmosfera, resultantes da queima da floresta. “Cerca de 73%
das emissões brasileiras de gás carbônico são resultantes do desmatamento, que ocorre, em
grande parte, na Amazônia”, afirma o professor e pesquisador do Instituto de Geociência da
UFRJ, Cleodilnei Castro.
Mas ainda há esperanças para que esta situação não fique ainda pior, como por exemplo, o
investimento em atividades econômicas ecologicamente e socialmente sustentáveis, projetos
que incentivem as empresas ao replantio das árvores, aos cuidados com o solo, para que as
novas mudas possam crescer firmes, e ainda o controle contra a captura de animais silvestres.
A Amazônia pede a atenção de todos. Ela é o maior bem que os brasileiros poderiam ter.
Não é à toa que o mundo inteiro quer tomar posse dela. O governo e a população precisam dar
mais atenção a esses problemas, já que a vida do ser humano também está em jogo.
O mundo todo está preocupado como que vem acontecendo com o meio am-biente: as queimadas, o derretimento dascalotas polares, a emissão de gases estu-fa e o desmatamento na Amazônia. Tudoisso faz com que a população dê maisatenção ao ambiente no qual vive. Odesmatamento é o principal tema nas dis-cussões em todo o mundo, pois ele afetadiretamente a vida de todos os seres vi-vos, além de ter grande importância paraa economia dos países que partilham deáreas da Floresta Amazônica.
Apesar de todos estarem com suaatenção voltada para o desmatamentohá alguns anos, não é de agora que elevem acontecendo. Ele teve início nomomento da chegada dos portugueses,em 1500. Interessados no lucro com a
Imagens www.sxc.hu
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 15RETENÇÃO DE CARBONO MANTÉM TEMPERATURAS
AQUECIMENTO GLOBALTodos os dias são mostradas na televisão
as inúmeras catástrofes que ocorrem no mun-
do, como furacões, terremotos e ondas gi-
gantes, por causa do aquecimento global, do
desmatamento, do aumento da emissão dos
gases poluentes e da queima de combustíveis
(gasol ina, diesel). Não é apenas o gás
carbônico que prejudica a Terra, mas sim a
sua junção com outros gases como o ozônio
e o metano, que formam uma camada de
poluentes de difícil dispersão, o que acaba
causando o efeito estufa.
O desmatamento e a queimada de flo-
restas e matas também colaboram para que
isso ocorra. Os raios do Sol atingem o solo
e irradiam calor na atmosfera. Como essa
camada de poluentes dificulta a dispersão do
calor, a consequência é o aumento da tem-
peratura global.
Entre os países que mais irão sofrer com
esse aquecimento está o Brasil. Com o meio
ambiente bastante degradado por causa de
desmatamentos e erosões, os reservatórios de
água irão diminuir, aumentando as áreas de-
sertas. “Com o avanço da temperatura glo-
bal, será muito difícil viver nessas áreas, por
isso muitas espécies animais irão desapare-
cer”, afirma o professor e pesquisador
Cleodilnei Castro.
Um dos efeitos mais preocupantes é o de-
gelo das calotas polares, porque, com o nível
do mar subindo, as áreas litorâneas do Brasil
vão desaparecer, além de provocar a escassez
de comida e o grande número de doenças e
mortes. Sequências de furacões, tufões e ci-
clones podem vir a acontecer em larga escala
no Brasil, que anteriormente não sofria com
esses acontecimentos. Aliás, o país já vem as-
sistindo aos poucos a esses fenômenos, como
o ciclone Catarina na região Sul. Ondas de
calor também podem chegar aqui, como já
vem acontecendo na Europa durante o verão,
provocando mortes de idosos e crianças.
Com todas essas consequências, o ser hu-
mano não pode mais deixar de cuidar do mun-
você queima a floresta, devolve tudo para a atmos-
fera. As florestas em pé conseguem manter o equi-
líbrio do clima porque estocam esse volume imen-
so de carbono”, explica ele.
Relatórios sobre a quantidade de carbono na
Amazônia afirmam que a área brasileira da flo-
resta pode absorver quase 50 bilhões de tonela-
das do gás. Em comparação com o CO2 emitido
apenas pelos carros, esse número equivale ao que
o mundo emite em mais de cinco anos, segundo
dados do Instituto de Pesquisa Ambiental (Ipam).
O Brasil é o quarto país no mundo que mais emite
gás carbônico só por conta das queimadas de flo-
restas no seu território. Isso é o equivalente a
75% das emissões brasileiras, cerca de 200 mi-
lhões de toneladas de carbono, segundo dados
do Ipam. Por isso, não basta somente plantar
novas árvores. É preciso investir, também, em
manter as que já existem.
Entre todas as árvores, aquela que retém mais
dióxido de carbono é o eucalipto, pelo seu cresci-
mento mais rápido. O resultado desse processo é
obtido pela retenção de CO2 absorvido durante
todo o dia. Quando as folhas são expostas à luz
solar, acontece a chamada respiração, que a árvo-
re realiza durante a noite, com a ausência de luz,
que devolve à atmosfera parte do gás poluente
retido com a iluminação natural. Por meio desse
acontecimento natural, o aquecimento global pode
ter uma grande diminuição.
O dióxido de carbono é um dos grandes res-
ponsáveis pelo aquecimento global. As florestas
funcionam como grandes reservas de carbono,
que é absorvido da atmosfera e retido pela vege-
tação e pela matéria orgânica que se acumula no
solo. Com a destruição da floresta, seja por quei-
madas ou pelo corte de árvores, esse estoque de
carbono acaba sendo liberado na atmosfera, di-
minuindo a capacidade de novas absorções.
Só na Amazônia, estima-se que estejam es-
tocados bilhões de toneladas de carbono, afirma
o pesquisador e professor do departamento de
Botânica do Instituto de Biociência de São Paulo
(IB-USP), Marcos Buckridge. “Por essa razão, se
do em que vive. Afinal, a raça humana de-
pende dele para viver, para que não seja
exterminada, para que seus filhos, netos
e bisnetos possam desfrutar um mundo
limpo, melhor que o de hoje e, acima de
tudo, viver em harmonia com o meio am-
biente, já que é ele que dá todas as condi-
ções para que os seres humanos possam
viver, ter comida, ar puro e tudo mais de
que precisam.
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE16
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Maurício Valentim Bortoluzzi
Quem vê a Terra de longe, observa que
grande parte dela é coberta por um
azul forte. Cerca de dois terços do Pla-
neta são preenchidos por essa substância, consi-
derada por todos sem cor, sabor e cheiro. Apesar
da abundância – pois se estima que 1,35 milhões
de quilômetros cúbicos é o volume total de água
no mundo – esse elemento indispensável à vida
está cada vez mais escasso. Não é para menos.
Desse total, apenas 2,493% é doce, mas está nas
geleiras ou em aqüíferos, regiões subterrâneas
de difícil acesso, e apenas 0,007% é a quantida-
de que está disponível para suprir as necessida-
des básicas dos seres que vivem no Planeta. A
escassez dessa importante fonte da vida nunca
foi tão preocupante.
Todos os dias são retirados cerca de 840 mil
litros de água dos rios e lençóis freáticos. Ao di-
vidir esse número pela população de 188,7 mi-
lhões de brasileiros, conclui-se que, em média,
cada habitante consumiria cerca de 384 litros de
água diariamente. Esse número assusta não pela
dimensão que cada um consome,mas por conta
do descaso com a quantidade desperdiçada to-
dos os dias. Em alguns lugares, chega a 80%. Ao
todo, 46%, em média. E o problema se agrava,
pois metade da água tratada fornecida pelas com-
panhias de abastecimento não chega às casas, pois
fica no meio do caminho.
A água que corre pelos ralos e bueiros de
cidades de todo o país é responsável por perdas
de até 60% do que é destinado aos municípios
todos os dias. Mesmo que ela seja um elemento
disputado em países do Oriente Médio, como
na Palestina e em Israel, o tema ainda é pouco
discutido. Na região Nordeste, a seca ainda atin-
ge milhares de pessoas. Já no Norte, a savanização
da Amazônia é um fenômeno que está se tornan-
do inevitável, logo onde estão 73% da água dis-
ponível no país. No Sudeste, os mananciais estão
comprometidos com o excesso de poluição. E
no Sul, temporadas de seca também preocupam.
O maior temor, segundo os especialistas, não está
somente na natureza, mas sob os nossos pés. Ca-
nos e tubos mal-conservados são os maiores vi-
lões do racionamento.
Nas grandes cidades, apenas 54% da água tra-
tada distribuída chega ao seu destino. As organi-
zações internacionais afirmam que 20% é o li-
mite máximo tolerável de desperdício da água,
mas, em todo Brasil, esse número é, em média,
duas vezes maior. Ou seja, mais de 40%. De acor-
do com a Agência Nacional de Águas, a ANA,
em certas cidades do país, a quantidade é ainda
maior. Entre os que mais desperdiçam, está a ca-
pital de Rondônia, Porto Velho, com perdas de
Deixar a torneira aberta na hora de escovar os
dentes, por exemplo, consome 18 litros, em
média. Isso representa nove garrafas de dois
litros cheias. E se isso parece pouco, pior está
no chuveiro. O Brasil é um país cuja tradição
determina banhos diários. E esse é o maior
vilão do desperdício. Cinco minutos são mais
que suficientes para o ser humano se manter
limpo. O problema é que esse tempo é pouco
para o brasileiro, que fica, em média, 15 mi-
nutos embaixo d’água. Ou seja, 135 litros
caem desde a hora de abrir o registro até fechá-
lo. Se caísse para cinco minutos, o consumo
seria de apenas 45 litros.
No serviço de proteção do meio ambiente,
as Organizações Não-Governamentais, as
ONG´s, têm reservado um espaço especial para
o tema água. A WWF tem, entre seus programas
de preservação da natureza, o “Água para vida”.
A intenção dos ambientalistas é mobilizar cerca
de 11 milhões de brasileiros para debater sobre
os impactos que a poluição tem causado sobre os
recursos hídricos, além de mudar certos hábitos
que contribuem para o desperdício.
A medida mais importante é fechar a tor-
neira, literalmente. Ao gotejar, ela é capaz de
desperdiçar 46 litros em um dia. E ainda pode
liberar 2.060 litros em uma abertura de 1 milí-
metro, durante 24 horas. Na casa de Hebert
Houri, esse desperdício não pode acontecer.
Ele, que mora com a mãe na capital de Goiás,
Goiânia, sabe da responsabilidade de ser usuá-
rio de um bem que se torna cada vez mais limi-
tado. “Poupamos o máximo possível. Não fica-
mos com o chuveiro ligado durante todo o ba-
nho. Somente nos momentos necessários. Apro-
veitamos a água da chuva para lavarmos a área
de serviço e não deixamos a torneira aberta en-
quanto escovamos os dentes”.
Parecem atitudes simples, mas são funda-
mentais. Para o professor de Engenharia
Ambiental da Universidade Veiga de Almeida
André Pinhel, os recursos hídricos estão di-
minuindo e a demanda por água só tende a
crescer nas regiões mais ricas do país. “O Bra-
sil possui uma reserva hídrica muito privilegi-
ada em comparação a outros países. Mas o uso
não tem sido inteligente e a poluição contri-
bui para o menor aproveitamento da água
doce”. Estima-se que 13,8% da água disponí-
vel no mundo está distribuída pelos quatro can-
tos do Brasil. Para se ter uma idéia, a Europa
possui 15%, enquanto as Américas, juntas, re-
presentam 39% do total mundial.
Mesmo que exista abundância nos recursos
hídricos, poupar nunca foi tão importante. Com
o crescimento da população e a escassez de água
dos rios, que geralmente estão poluídos, esse
bem precisa ser preservado. Para isso, o Go-
verno precisa ter uma preocupação maior com
o desperdício das empresas de fornecimento.
Além dele, cabe à população racionalizar seu
uso. Afinal, este é o melhor legado que a socie-
dade pode deixar para as próximas gerações:
um planeta em que a água não seja mais um
elemento em extinção.
78,8% da água captada. Essa situação ocorre em
15 das 27 capitais brasileiras.
Se a água desperdiçada fosse reaproveitada,
seria possível atender a 38 milhões de brasilei-
ros. Um deles é Lino da Silva. Morador da cida-
de Bezerros, interior de Pernambuco, ele preci-
sa conviver com o racionamento de água. Na
região onde vive, existe uma adutora, de
Jucazinho, mas que ainda não é o suficiente para
abastecer a cidade. “A adutora tem beneficiado
muitas cidades. Mas ainda falta chegar à minha e
em Gravatá”. O município fica a 107Km da capi-
tal, Recife. Em situação pior está quem vive no
semi-árido brasileiro, onde a água não chega nem
por canos e nem pela chuva.
A solução, apontam os especialistas, está
em melhorar o uso da água. Para evitar uma
crise, algumas ações dentro de casa ajudam a
racionalizá-la, para que ela não se vá pelo ralo.
“Poupamos o máximopossível. Não ficamoscom o chuveiro ligadodurante todo o banho.
Somente nos momentosnecessários”
Herbet Houri
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 17
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Manuella Rana Menezes
Toda vez que um colega de trabalho, um tio
ou até mesmo um vizinho aparece com uma tos-
se, o que primeiro se escuta é: “deve ser virose”.
É muito comum as pessoas receberem esse diag-
nóstico e o aceitarem, sem saber o motivo ou
mesmo sem se perguntarem de onde aparecem
tantas viroses. Mudança do tempo ou, quem sabe,
aquela chuvinha de ontem que deixou o sapato
encharcado. Mas existem explicações menos cor-
riqueiras e mais ligadas à degradação do meio
ambiente do que todos poderiam supor.
Há algo que os cientistas chamam de polui-
ção do solo. Ao ser poluído, fatalmente conta-
minará as águas que passam pelos lençóis
freáticos (que ficam abaixo do solo), e elas se
tornam o maior vetor de contaminação e disse-
minação de doenças, porque se espalham por
todo lugar. Além disso, a destruição do manto
florestal, os incêndios ambientais ou provoca-
dos, a criação de gado para o mercado bovino e
as inúmeras obras de urbanização, acelerando
os processos erosivos, têm destruído, ao longo
dos anos, enormes áreas de solos cultivados. Mi-
lhões de toneladas de solos perdem-se todos os
anos devido à erosão.
Com a introdução da agricultura, o homem
modificou o equilíbrio ecológico em numerosas
POLUIÇÃO AUMENTA A INCIDÊNCIA DE DOENÇAS
zonas. Resultado: muitos animais, que, no seu
ambiente natural, são eliminados devido à pre-
sença de predadores e parasitas, em outro meio
são capazes de aumentar numericamente de for-
ma considerável. Nesse processo está a origem
da maioria das pragas conhecidas.
Os produtos tóxicos, acumulando-se nos so-
los, também podem permanecer ativos durante
longos anos. As plantas cultivadas nesses terre-
nos infectados podem absorvê-los, mesmo quan-
do estes não foram utilizados para seu próprio
tratamento. Assim se explica a existência de
pesticidas nos alimentos principais do ser huma-
no, como o leite e a carne, acabando na salada
do almoço ou no churrasco de domingo.
O acúmulo de resíduos sólidos também cons-
titui um problema angustiante das sociedades de
consumo de hoje. Nos lixos domésticos, consti-
tuídos de papel, papelão, plásticos, vidros e res-
tos de comida, o acúmulo é um foco de conta-
minação e um excelente meio para o
desenvolvimento de insetos e roedores. Além dis-
so, destrói a paisagem e se torna mais um fator
para a contaminação das águas superficiais e sub-
terrâneas, geralmente pelas águas da chuva, prin-
cipalmente quando os terrenos são permeáveis.
A preciosa água, ao ser poluída, pode causar
muitas doenças como as micoses de pele,
leptospirose e cólera. Se for ingerida, o número
de doenças se multiplica, e aparecem então as
infecções intestinais e urinárias, a
esquistossomose, as contaminações diversas por
metais pesados e a inflamação de mucosas em
locais como olhos, genitais, ouvido.
Floreana da Silva, de 43 anos, adquiriu cólera
após beber água rio próximo à comunidade onde
mora. “A água parecia limpa”, justificou. Floreana
desconfiava estar grávida porque enjoava muito e
vomitava tudo que comia. Depois de procurar um
posto de saúde, foi alertada da doença e há duas
semanas faz tratamento para se curar.
Enfermeira, Angela Azevedo, de 32 anos,
contraiu cólera ao tratar de uma paciente. “Eu
sabia do risco, mas faz parte da profissão”. Ela
teve auxílio rápido, por já trabalhar em local de
saúde. Já sua paciente ficou um longo período
tendo de repor os sais minerais perdidos.
O Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) sugere que “a degradação
ambiental, como a perda de florestas e o aumento
de cidades, pode ser um dos fatores por trás do
surgimento de novas doenças infecciosas e do re-
torno de males que eram dados como controla-
dos”. A afirmação foi divulgada pelo Panorama do
Ambiente Global, publicação anual do PNUMA.
As mudanças climáticas podem agravar o risco
de doenças de três formas: o aumento das tempe-
raturas favorece a proliferação de insetos vetores
(especialmente os mosquitos), desequilibrando ain-
da mais o habitat desses e provocando a migração
de novas espécies. É o caso da malária e da dengue.
Por serem transmitidas pela picada de mos-
quitos, essas doenças têm surtos de grande al-
cance geográfico e há ocorrências referentes ao
ciclo de vida desses insetos que são particular-
mente sensíveis às mudanças climáticas. Os au-
mentos na temperatura global não são os úni-
cos culpados. Isso também acontece porque a
urbanização, em geral precária, de áreas recen-
temente desflorestadas tende a criar um ambi-
ente propício para a proliferação de mosquitos
e outras doenças relacionadas à falta de condi-
ções sanitárias adequadas.
Wilson Sousa, de 52 anos, contraiu a den-
gue hemorrágica no início do ano. “Pensei que o
repelente resolvia”, disse. Quando ele começou
a expelir sangue, correu a um posto de saúde,
apenas com a desconfiança e, ao chegar lá, teve a
confirmação da doença.
Na luta contra essas doenças, as crianças são
alvos fáceis. Marina Borges, de 3 anos, contraiu rota
vírus, que provoca fortes vômitos e diarréia, há um
ano e precisou de tempo para se recompor. “Quan-
do ela começou a passar mal, eu me desesperei,
nunca vi aquilo, se eu não tivesse corrido com ela
para o hospital, ela poderia ter morrido”, diz Luiza
Borges, mãe de Marina.
Já Sandra Freire, de 25 anos, não teve a mes-
ma sorte. Seu filho Bruno, de 1 ano e cinco me-
ses de vida, faleceu no ano passado após contrair
o rotavírus. Sandra teve que procurar auxílio mé-
dico para suportar a perda do primeiro filho. Mãe
solteira, ela contava com a ajuda dos familiares
para cuidar da criança.
Outra vítima das doenças resultantes da polui-
ção do solo e das águas foi Herick Campos, de 19
anos, que adquiriu leptospirose. “Não tinha nada,
dor de cabeça, febre, dor muscular nem vomitava.
De repente, comecei a ficar com dor na barriga e
falta de ar”. Ele foi para o hospital e teve que ficar
em observação. Precisará se tratar durante um bom
tempo, pois seus rins foram prejudicados.
O lixo tóxico também é um forte concorrente
para a proliferação de doenças mais graves como o
câncer. “Por meio da radiação do lixo, o organismo
cria células neoplásicas que desenvolvem a doença.
A longa exposição a essa radiação aumenta a proba-
bilidade da doença”, explica o enfermeiro do tra-
balho pela Fiocruz, Maurício Teixeira.
Enquanto o homem não para de poluir, é pre-
ciso apostar em meios de prevenção para as doen-
ças que surgem. Busque ir ao médico periodica-
mente e fazer, sempre que puder ou achar
necessário, exames de sangue, urina e fazes. Se pre-
venir é o primeiro passo.
Imag
em w
ww.sx
c.hu
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE18
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Aline Batista de Souza
Quem pensa que o lixo é algo sem utilidade
está enganado. Diversas brasileiros tiram seu sus-
tento da prática da reciclagem, transformando o
lixo em arte. Um exemplo é a artesã Cristina Sil-
va, que começou a trabalhar com artesanato em
2002. Sua especialidade é fazer arranjos, bolsas,
acessórios e vassouras, tudo com garrafas PET. A
peça produzida por ela que mais vende é a vassou-
ra, pois esse utensílio consegue varrer 80Km, en-
quanto a de piaçava varre somente 8Km. Ao de-
senvolver essa técnica, Cristina ampliou suas
opções de trabalho e hoje vende seus produtos
para várias empresas, como Fiocruz, Furnas e As-
sociação Comercial do Rio de Janeiro.
Além de fazer produtos ecologicamente cor-
retos, ela se preocupa em conscientizar as pes-
soas sobre a importância da preservação da na-
tureza em oficinas de artesanato. “Os artesãos
são agentes informais do meio ambiente. Por isso
tenho o cuidado de ensinar que o lixo jogado nas
ruas impede a natureza de evoluir”. Apesar de
Cristina defender a reciclagem, existem ainda
muitos brasileiros que não se interessam em
reciclar lixo urbano. Com isso, o país perde cer-
ca de R$8 bilhões, já que a quantidade de detri-
tos que produz por dia (cerca de 130 mil tonela-
das) poderia gerar mais empregos e renda.
Para a socióloga Renata Feital, o reapro-
veitamento e a boa utilização de materiais no meio
ambiente não cria somente uma consciência ecoló-
gica coletiva, como também aumenta renda de fa-
mílias que estão à margem do mercado. “Iniciativas
como as dos artesãos são ótimas e devem ganhar
visibilidade na mídia para que mais e mais cidadãos
aprendam o quanto é importante reciclar”.
A dona de casa Helena Martins compartilha
do mesmo propósito da socióloga. E, para in-
gressar nesse segmento, ela começou a trabalhar
com caixinhas de presentes feitas com material
reciclado. Com o tempo, seu trabalho rendeu
lucros e o dinheiro recebido pelo artesanato aju-
dou a complementar sua aposentadoria.
Para desenvolver a técnica, Helena utiliza cai-
xas de leite, de suco, pasta de dente, maisena e
sabão em pó. E também reutiliza tintas de tecidos
e trinchas para ornamentação. A maioria de seus
produtos é vendida por encomendas. Além das
caixas de presente, ela também faz oratórios, reli-
cários com caixinhas de fósforo, bijuterias, brin-
cos e acessórios com sobras de malhas. Com tan-
tas habilidades, a artesã acabou sendo convidada a
realizar oficinas sobre cartonagem aos funcionári-
os das empresas Glaxo e Furnas, no Rio de Janei-
ro. “Tento conscientizar ao máximo meus alunos
sobre a necessidade de reaproveitar os materiais”.
Ações como a de Helena fazem com que
a prática da reciclagem cresça consideravel-
mente e gere uma nova fonte de trabalho no
país. Segundo a Secretaria do Desenvolvimen-
to da Produção, órgão ligado ao Ministério
do Desenvolvimento da Indústria e Comér-
cio, MIDIC, que coordena o Programa do Ar-
tesanato Brasileiro – PAB, esse segmento en-
volve 8,5 milhões de pessoas em suas cadeias
produtivas, e movimenta cerca de R$30 bi-
lhões por ano, o que corresponde a 2,8 % do
PIB nacional.
Estatísticas tão positivas como essas atraíram
a atenção da artesã Dora Barcelos, que, ao per-
der o emprego, encontrou no artesanato uma
fonte de sobrevivência que a ajudou tanto no
quesito profissional quanto no emocional. O foco
de trabalho dela é o papel machê e, por meio
dele, cria designers que possam ser vendidos ao
comércio a um preço acessível, já que sua fonte
de renda está baseada na prestação de serviços
para empresas.
Apesar da visibilidade que a área está con-
quistando, Dora afirma que existem muitas difi-
culdades a serem enfrentadas, entre elas, a falta
de incentivo aos profissionais que trabalham com
a reciclagem. “Eu aprendi essa técnica sozinha.
Os artesãos não recebem apoio do governo para
trabalhar, é tudo muito lento”, desabafa.
Ao observar o crescimento da prática do ar-
tesanato e a falta de leis que regularizem essa
profissão, o Congresso Nacional desenvolveu um
estatuto que está em tramitação para definir a
questão profissional desses trabalhadores e tam-
bém autorizou o Poder Executivo a criar um
Conselho Nacional e um Serviço Brasileiro de
Apoio ao Artesanato.
No Rio de Janeiro, o número de profissio-
nais que estão ligados a essa área é grande. São
cerca de 13 mil artesãos, oitenta associações e
inúmeras cooperativas que trabalham com ma-
terial reciclado. A cooperativa Folha Verde está
entre as organizações que dão respaldo a esses
trabalhadores. O coordenador do local, Haroldo
Martins, teve a idéia de criar esse empreendi-
mento quando observou a dificuldade de dar um
destino às garrafas PETS. Para colocar em práti-
ca essa idéia, ele convidou a amiga Maria Angéli-
ca para montar a cooperativa.
A produção está baseada na confecção de
bolsas feitas com PET. Todo material é doado
pela comunidade e os produtos são feitos por
meio de encomendas, já que a mão de obra
ainda é pequena (ao todo são sete artesãs). O
método de confecção é feito pelas integrantes
do grupo e o lucro é dividido em partes iguais.
Com a verba que vem recebendo, Haroldo de-
seja construir um maquinário para aumentar a
produção e, no futuro, atender qualquer pedi-
do. Por meio do trabalho desenvolvido pela
cooperativa, o grupo realizou exposições na
semana do Meio Ambiente na UFRJ, no Palácio
Guanabara e também na Agência Nacional do
Cinema, Ancine. “O que dá visibilidade ao nos-
so trabalho são as exposições e por isso nos de-
dicamos a desenvolver outros projetos ligados
à reciclagem”, conta ele.
Assim como Haroldo, a artesã Marinalva
Figueiredo também desenvolve um projeto liga-
do à prática do artesanato com material reciclado.
Ela fundou um grupo com suas amigas para fa-
zer colchas e bolsas de fuxico. A produção é feita
com restos de retalhos de uma fábrica de rou-
pas. Além desses acessórios, ela também faz brin-
cos com malhas e arranjos com papel machê. E
garante que esse tipo de trabalho é uma higiene
mental, pois o artesão necessita criar e desen-
volver sempre novas técnicas. “Existem várias ma-
neiras de interpretar o artesanato, é preciso ter
somente criatividade”. Além da criação desses
produtos a preocupação com meio ambiente é
um ponto defendido por ela, pois toda a sua pro-
dução está baseada na reciclagem para que as
novas gerações possam desfrutar os benefícios
que a natureza traz aos seres humanos.Cristina crias objetos decotativos com PET
Foto de divulgação
Imagem
www.sxc.hu
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 19
Projetos de educação ambiental nas escolas são
o primeiro passo para os alunos desenvolve-
rem uma consciência social e ecológica em prol da
preservação da natureza. Com esse tipo de traba-
lho, eles aprendem o que devem fazer para se tor-
narem cidadãos conscientes de seus direitos e de-
veres, pois é no colégio que se espelham em seus
gestores e seguem regras e padrões de ensino.
Em relação ao desenvolvimento dessa prá-
tica, o Colégio Militar do Rio de Janeiro fez
uma parceria para realizar o Projeto Marambaia,
que tem entre seus objetivos passar para os es-
tudantes dos primeiro e segundo anos do Ensi-
no Médio o conhecimento das diferentes vege-
tações que se encontram na restinga de
Marambaia. Eles praticam atividades de coleta,
preparo, secagem, identificação das espécies
vegetais e realizam pesquisas bibliográficas.
É seguindo esse mesmo exemplo que o Colé-
gio Sagrado Coração de Maria tem em seu currícu-
lo escolar a oficina de Educação Ambiental. Tudo
começou quando perceberam a necessidade de se
aplicar o conhecimento em relação ao meio ambi-
ente a seus alunos. Atualmente, a escola tem um
grande número de estudantes matriculados.
Os Colégios Militar e o Sagrado Coração
de Maria são exemplos de instituições que ofe-
recem projetos ligados à educação ambiental.
E a importância da preservação é tão grande
que o Ambiente Brasil define: “educação
ambiental se constitui numa forma abrangente
de educação, que se propõe a atingir todos os
cidadãos por meio de um processo pedagógico
participativo permanente, que procura incutir
no educando uma consciência crítica sobre a
problemática ambiental, compreendendo-se
como crítica a capacidade de captar a gênese e
a evolução de problemas ambientais”.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, nos
anos 90, o Ministério da Educação decidiu que
todos os currículos nos diversos níveis de ensino
deveriam incluir conteúdos de Educação
Crianças assistem a uma das palestras sobre meio ambiente em projeto promovido pela Prefeitura do Rio
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Vanessa Nobre
como a ligação entre os animais e plantas e a impor-
tância da preservação da água e dos manguezais.
Existem ainda outros projetos de destaque,
como a Conferência Infanto Juvenil pelo Meio
Ambiente, uma iniciativa dos Ministérios da Edu-
cação e do Meio Ambiente e que tem parceria com
a Fundação Telefônica. Nela, alunos de escolas pú-
blicas e privadas de todo o país discutem questões
ambientais no computador por meio de uma co-
munidade virtual, para juntar as propostas ligadas
ao tema; o encontro físico acontece com a partici-
pação dos estudantes e professores. Educadores, or-
ganizações não-governamentais e secretários de edu-
cação podem participar. Há conferências
diariamente, com fórum de debates, e são desen-
volvidos blogs e criadas galerias. “Uma das mais
importantes ações de educação ambiental nas esco-
las é a Conferência Infanto Juvenil pelo Meio Am-
biente, que está na sua terceira edição”, relata Juliana
Meneses de Castro, do Ministério de Educação.
Em 1986, a Secretaria de Estado de Meio Am-
biente (Sema), junto com a Universidade de
Brasília, organizou o primeiro curso de Especiali-
zação em Educação Ambiental. No Estado do Rio
de Janeiro, a lei 6157/05, feita pelo Deputado
Carlos Nader (PL-RJ), obriga todas as escolas dos
ensinos fundamental e médio, públicas e particula-
res, a destinar uma área específica ao meio ambien-
te. Mas ainda são poucas as escolas que oferecem a
disciplina no currículo escolar. “Se houvesse um
maior investimento, a maioria das escolas poderia
desenvolver melhor a relação de consciência para
ensinar os alunos a respeitar o meio em que vivem”,
desabafa a pedagoga Rose Carol.
Apesar de ainda não ser o ideal, iniciativas para
desenvolver o conhecimento da gestão nessa área
estão mais comuns. Segundo Andrea Bello, da Su-
Ambiental. Com isso, foi formado um grupo de
trabalho, coordenado pelo MEC, para a prática
dessa gestão, que acabou servindo como um pre-
paratório para a conferência Rio 92.
A relevância do tema é tal que a Secretaria
Municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro
desenvolve atividades que procuram conscientizar
sobre o modo de se portar diante da natureza, com
a ajuda dos agentes ambientais. Esse projeto tem
dois anos e conta atualmente com a participação
de Lúcia Aragão, Gabriele Oliveira, Cátia Cilene
e Alcione Campos pela Prefeitura da cidade. “As
crianças adoram as peças, recebemos aplausos de
pessoas de todas as idades, desde o Jardim de In-
fância até os mais velhos”, conta Gabriele.
Outro diferencial quando o assunto é preser-
var está na recepção que os colégios têm quando
levam as crianças para visitar reservas biológicas,
como o Centro de Visitação Ambiental do Jequiá.
Ele fica dentro da Baía de Guanabara e conta com
trilhas naturais. Durante o passeio, os alunos co-
nhecem uma grande variedade de espécies de flo-
ra e fauna. “Existem diversas oficinas e cursos de
jardinagem”, entusiasma-se a estudante Carolina
Lyra. O Centro realiza parcerias direcionadas a
instituições de ensino e pesquisa.
Há escolas que trabalham com pesquisas e
outras que integram seus alunos em contato di-
reto com o meio ambiente. É o caso da Escola
Municipal Humberto de Souza Mello. Os alunos
têm no currículo escolar a aula de Técnicas Agrí-
colas. “Foi muito enriquecedor esse período es-
colar, eu lembro que a gente conseguia colher os
frutos e verduras que plantávamos”, relembra o
ex-aluno Paulo Roberto.
E quando o assunto é ensinar, há toda uma didá-
tica em torno da Educação Ambiental, desde o Ensi-
no Fundamental até o Médio. Um exemplo são as
edições da Série Educação Ambiental, revista criada
pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente do Rio
de Janeiro. Nela, há histórias que situam o leitor den-
tro do contexto ambiental e que abordam temas
perintendência de Educação Ambiental da Secreta-
ria de Estado do Ambiente, houve um curso ofe-
recido a professores de 154 escolas públicas esta-
duais do Rio de Janeiro e da Região Metropolitana,
da Secretaria de Estado de Educação (SEEDUC ) e
da Fundação de Apoio à Escola Técnica (FAETEC)
com o objetivo levar a visão temática ambiental para
a escola na sua relação com a comunidade, qualifi-
cando professores e alunos. “Com metodologia
historicizada, crítica, participativa e dialógica, o
curso usa o espaço da gestão ambiental como espa-
ço pedagógico de aprendizagem”.
Atualmente, em alguns países, como o próprio
Brasil, existe a Agenda 21, com compromissos que
uma escola assume para agir na comunidade esco-
lar e na região a que pertence, de acordo com as
necessidades do século XXI. A intenção é promo-
ver o desenvolvimento local sustentável, a conser-
vação dos recursos naturais e a melhoria da quali-
dade de vida. Para participar, a escola tem que entrar
em contato com o Ministério do Meio Ambiente.
Também existe o projeto ‘Nas Ondas do Ambien-
te: Rá[email protected]’, uma iniciativa que o mi-
nistro do Meio Ambiente, Carlos Minc, pretende
levar para todo o país. O MEC doou a 160 escolas
equipamentos de rádio-transmissão e equipes de
rádios comunitárias apoiam alunos e professores na
sua operação e na produção de programas de Edu-
cação Ambiental.
É preciso que os projetos existentes sirvam de
exemplos para outras escolas. A interação pode ser
eficaz a ponto de surgirem novas ideias e os alunos
sejam sensibilizados para respeitar o meio ambien-
te e absorver sabedoria para praticar nas atividades
cotidianas. Se a sua escola ainda não comprou essa
ideia, nunca é tarde para começar. O planeta Terra
está precisando de ajuda e um trabalho desenvolvi-
Foto
: Van
essa
Nob
re
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE20
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Tayná Jordão
Em uma manhã de sábado, uma estudante
de Jornalismo sai de casa para participar de uma
feira de estágios. Ao chegar, vê alguns brindes
serem distribuídos e decide pegá-los. Depois
do evento, passa em uma locadora e aluga al-
guns DVDs e segue rumo a uma banca de jor-
nal para comprar uma revista. Ainda em sua
caminhada, passa na farmácia e compra alguns
produtos. Finalmente, volta para casa e encon-
tra sua família, que havia acabado de chegar do
supermercado e estava desembalando as com-
pras do mês. O retrato que se vê é de uma co-
zinha cheia de sacos plásticos para todos os la-
dos. Ela percebe que, durante seu passeio,
também conseguiu acumular mais umas saco-
las para a “coleção”.
Essa situação é comum em diversos lares.
Em um único dia, é possível juntar inúmeras
sacolas plásticas. Os destinos para elas são vá-
rios, mas a consequência é uma só: gasto de
matéria prima gerando o aumento da polui-
ção. São 500 bilhões de unidades produzidas
por ano. Derivadas do petróleo, elas levam
séculos para se decompor. E enquanto isso não
acontece, rios, mares e matas são poluídos, há
a retenção de água com o entupimento de es-
gotos e animais morrem em virtude de asfixia
pelo plástico.
Atentas a esse problema, muitas empresas
voltaram oferecer aos seus clientes as sacolas
retornáveis, bastante comuns há algumas dé-
cadas. Com isso, o consumidor exerce o papel
de cidadão, diminuindo o impacto ambiental,
e se torna um agente fundamental no desen-
tável de 2008 e também é uma das pioneiras
no uso de sacolas plásticas oxi-biodegra-
davéis, ela se torna totalmente degradável
quando descartada, ou seja, causa a decom-
posição acelerada do plástico em contato com
terra, luz ou água, devido à fragilidade das
l igações de carbono, sendo faci lmente
digerida por fungos e bactérias.
A maior diferença entre as convencio-
nais e as novas é o tempo de degradação. A
primeira leva séculos para desaparecer, já a
segunda pode durar de dois meses a seis
anos, não comprometendo a qualidade e a
resistência do plástico. O segundo motivo
para trocar uma pela outra é a viabilidade
econômica, o gasto é pouco ou nulo e a sa-
tisfação é garantida. Tanto que empresas
como O Boticário, Vivo, Schincariol, além
do Banco do Brasil, Varig, Correios e em-
presas internacionais, adotaram a ideia. Ou-
tra a l ter nat iva vá l ida é a sacola
hidrossolúvel, que se dissolve em água nas
temperaturas de 15, 30, 45 e 60ºC.
Adepta dessa moda, a estudante Lorena
Alves e sua família concordam que as sacolas
retornáveis têm que se tornar algo de uso
habitual. “Deve ser implantado em longo pra-
zo na sociedade. O uso do saco plástico é algo
cultural, mas pode ser mudado a partir de
campanhas de incentivo. Eu, por exemplo,
conhecia as sacolas retornáveis, mas até en-
tão não tinha em casa, até que minha mãe
trouxe de São Lourenço uma, com uma moça
que faz diversas estampas, e pegamos o cos-
tume de utilizar”, revelou a moradora do Rio
de Janeiro.
Apesar de qualquer mudança enfrentar
certa resistência, aos poucos é possível trans-
formar o mau hábito em colaboração para o
bem do planeta. Alguns estabelecimentos,
como padarias e mercados, já oferecem as
sacolas de pano para venda e ainda é possí-
vel fazer a compra pela internet, em sites
independentes, como no Blog Fun Verde e
no site internacional Baggu. A Green Sense,
sediada em Salvador, ainda disponibiliza as
ecobags, úteis e práticas, projetadas para car-
rinhos de supermercados.
Nos aterros sanitários e mesmo em lixões
a céu aberto, os sacos plásticos dificultam e
impedem a decomposição de materiais orgâ-
nicos e biodegradáveis. Além disso, compro-
metem a capacidade do aterro, deixam o ter-
reno muito impermeável e instável para uma
boa adequação dos resíduos. Vale lembrar que
a presença de lixo não reciclável no processo
de reciclagem é um problema, pois prejudi-
ca a qualidade do produto final ou quebra a
máquina que processa o material.
Na tentativa de extinguir, já no próximo
ano, as sacolas plásticas, que demoram até
500 anos para se decompor, outra medida de
suma importância foi tomada. O deputado do
PSDB de Goiás, Daniel Goulart, propôs um
“A troca é difícil, pois as sacolas de plásticos sãodistribuídas gratuitamente e os brasileiros também têm ohábito de usá-las para acondicionar o lixo doméstico”
Deputado Daniel Goulart
volvimento sustentável, gerando influência.
Normalmente, essas sacolas de tecido vêm
com alguma mensagem de conscientização, são
fáceis de guardar e acompanham a moda. Na
maioria dos casos, o dinheiro gasto em sua
compra é destinado a projetos em favor do
meio ambiente, como acontece com a Sacola
de Compras da linha Crer Para Ver da Natura.
A fabricante de cosméticos foi conside-
rada pela Revista Exame a Empresa Susten-
Representante da RES Brasil, Eduardo Van
Roost explica como a tecnologia de aditivos
D2W chegou ao país. “Sua origem é proveni-
ente da Inglaterra e a produção fica com a em-
presa Symphony. Somos somente uma filial ex-
clusiva brasileira. Não produzimos
embalagens. Quem produz, vende e fornece
são as mais de 170 empresas brasileiras, fabri-
cantes de embalagens plásticas, que são licen-
ciadas por nós”, diz.
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 21projeto em 29 de maio de 2008 para que, em
um ano, todos os estabelecimentos comecem
a utilizar apenas as biodegradáveis, duráveis
apenas 18 meses. A lei foi aprovada e passou
a valer a partir de junho de 2009 e, caso não
seja cumprida, o estabelecimento pagará uma
multa de R$7mil. O parlamentar afirma que
essa substituição é essencial.
"A defesa do meio ambiente é uma preo-
cupação que sempre tive como parlamentar e
como cidadão. Acredito que, com o tempo, to-
dos os empresários vão se sensibilizar e perce-
ber que a causa ambiental é mais importante.
A troca é difícil, pois as sacolas de plásticos são
distribuídas gratuitamente e os brasileiros tam-
bém têm o hábito de usá-las para acondicionar
o lixo doméstico. Porém, além de sobrecarre-
gar aterros sanitários e lixões, muitas sacolas
vão parar na natureza ou até mesmo em lotes
baldios, virando criadouros do mosquito que
transmite a dengue”.
Com uma preocupação também relacio-
nada ao ambiente, as marcas Hering e Enjoy
mostram que não estão antenadas apenas com
a moda. Ambas passaram a divulgar sacolas
feitas de TNT e lona, um exemplo que deve-
ria ser seguido por outras lojas de roupa. Mas
não é apenas em solo nacional que a
mobilização acontece. Outros países também
tomaram atitudes. Na Irlanda, se paga um im-
posto de nove centavos de libra irlandesa por
cada saquinho, o que diminuiu seu uso. Tam-
bém há tributos na Itália, Bélgica, Alemanha,
Holanda e Suíça.
Após a diminuição do turismo, em decor-
rência da grande poluição marítima, ilhas do
continente africano deixaram as sacolinhas de
lado para correram atrás do prejuízo. E a proi-
bição já existe na China e em alguns territó-
rios dos Estados Unidos. Apesar de novas, as
iniciativas são crescentes e chegam aos qua-
tro cantos do mundo. Mesmo nos países em
que ainda não existe essa proibição, está sen-
do feito um estudo da possibilidade de proi-
bir ou tributar o uso de sacos plásticos.
Com tantas pessoas, empresas e estabe-
lecimentos mudando sua postura em busca
da preservação da natureza, é possível con-
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Gilvana Castilho
Daniel Monteiro, de 17 anos, estudante do
terceiro ano do Ensino Médio e vestibulando
do curso de Biologia, é um dos jovens que se
preocupa com o meio ambiente. Ele só usa pro-
dutos biodegradáveis e procura consumir bens
de empresas que sejam ecologicamente respon-
sáveis. Ele não é o único a agir desta forma. A
cada dia, mais e mais pessoas assumem essa
atitude. Dos mais simples e úteis aos mais so-
fisticados e inusitados, o mercado dos produ-
tos ecologicamente corretos ou “verdes” cres-
ce, fazendo com que exista uma infinidade de
bens que não agridem o meio ambiente em
diversos segmentos.
No setor alimentício, há ovos de páscoa
feitos de cacau orgânico. Há também ovos tra-
dicionais com recheios bem brasileiros como
cupuaçu, pitanga e castanhas. Apesar do sabor
doce, o preço é bem salgado. Um ovo de 3kg
pode chegar a custar R$750. No setor de pa-
pelaria, existe o Moleco, a versão brasileira do
moleskine, caderno de bolso americano que já
foi usado por famosos como Van Gogh e Picasso.
O grande diferencial da versão brasileira é que
ela é feita a partir de material reciclado, e 100%
reciclável, e tem uma costura totalmente artesanal.
O Moleco tem 64 páginas e é produzido com fo-
lhas nas cores rosa, azul, amarelo, branco, laranja
e reciclado natural.
Já na área de beleza e saúde, o número de
produtos dobra. Por exemplo, a Surya Brasil lan-
çou uma máscara facial de argila ecologicamen-
te correta do começo ao fim. Composta por ex-
tratos e óleos orgânicos e certificados e sem
adição de corantes ou fragrâncias artificiais deri-
vadas de petróleo, ela tem certificado da Ecocert
e é indicada para peles normais ou oleosas. A ar-
gila branca ajuda a retirar toxinas da superfície
da pele e a rosa, a amaciar e proteger a pele con-
tra a perda de elasticidade.
Mas não é isso o que há de mais ecológico
nesse cosmético: a embalagem do produto,
100% biodegradável, foi vencedora do prêmio
Embanews 2007. Fibras naturais, lignina e au-
sência de produtos químicos permitem que a
caixa leve apenas oito meses para se decompor
completamente após ser descartada no meio-
ambiente. A unidade de 50g custa aproximada-
mente R$72.
Ainda no quesito beleza, existem várias
empresas que fabricam cosméticos orgânicos.
A inglesa Lush faz o maior sucesso e tem fili-
ais espalhadas por todo o Brasil. Seus produ-
tos são feitos à mão e com uma quantidade
mínima de conservantes, privilegiando as al-
tas concentrações dos extratos de frutas, le-
gumes, temperos e óleos. A Éh Cosméticos,
lançada pela empresária Cristina Archangeli,
é uma linha de produtos desenvolvidos com
ingredientes derivados de óleos naturais no-
bres, sem petroquímicos. Já a Amazon Secrets,
da fotógrafa Sheila Farah, nasceu em 2000,
com o intuito de resgatar, valorizar e prote-
ger as riquezas naturais da Amazônia. A Flo-
restas, de São Paulo, exporta para os EUA e
Europa, desde 2002, óleos para massagem,
produtos para relaxamento dos pés e cremes
corporais, entre outros.
A moda também investe em acessórios e rou-
pas verdes. A marca Eden inaugurou uma nova
coleção com tecidos que são 100% algodão e co-
loridos com corantes e pigmentos naturais, sem
adição de qualquer produto químico nocivo. A
loja é decorada com móveis de madeira de de-
molição e cabides de bambu extraídos de ma-
neira sustentável por comunidades quilombolas
do Amapá. Já as ecobags, sacolas ou bolsas feitas
com material biodegradável, ganham cada vez
mais modelos. A rede de locadoras Videoteca
[www.videotecaonline.com.br] tem suas pró-
prias sacolas ecológicas como alternativa aos
tradicionais sacos plásticos. Criados pela Id
Comunicação, os produtos já estão em sua
segunda edição e são feitos em lona e algo-
dão, podendo carregar até seis filmes.
Talita Cairrão, de 25 anos, graduada em
Relações Internacionais, é fã de bolsas ecoló-
gicas que, além de serem mais bonitas que as
de plástico e outros materiais poluentes, fa-
zem bem ao planeta. Sua única reclamação
sobre essa categoria de produto é o preço.
“Se os preços fossem mais acessíveis, mais
pessoas consumiriam os produtos. Apesar do
alto custo, eu prefiro comprar apenas produ-
tos orgânicos”, diz.
Apesar de ser um meio em constante
crescimento, ainda é difícil encontrar pro-
dutos orgânicos. Pensando nisso, os repre-
sentantes do movimento “Blog Action Day”
cr iaram em 2007 o Pensando Verde
[www.pensandoverde.blogtv.uol.com.br],
um blog dedicado só a postar notícias sobre
o meio ambiente, com matérias e dicas com
uma ótica verde e eco-sustentável. “A ideia
é demonstrar que hoje em dia pode se lidar
com praticamente qualquer assunto de for-
ma mais consciente”, diz Cláudio Roca, co-
ordenador do site.
MERCADO INVESTE EM PRODUTOS VERDES
cluir que a solução não está distante, pode
partir de cada um. O primeiro passo é ado-
tar a regra dos 3Rs: reduzir – reduzir o con-
sumo, comprar o essencial e assim, fazer a
quantidade de lixo diminuir; reutilizar – ten-
tar reaproveitar mais de uma vez o que há
dentro de casa, para evitar consumir ainda Bolsas de tecido são opções bonitas e que não
agridem o meio ambiente
mais; e reciclar – com a reciclagem não é
preciso desgastar a natureza e fazer uso de
mais matérias-primas. Se cada um fizer sua
parte, o mundo sobreviverá. E não esqueça,
a preservação está ao alcance de suas mãos,
literalmente.
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE22
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Diogo Moraes Gonçalves Vieira
O meio ambiente vem passando por si-
tuações alarmantes nos últimos tempos.
Desde que o homem começou a conviver
em grandes comunidades, ele alterou a na-
tureza de forma a assegurar a própria so-
brevivência e a lhe proporcionar conforto.
E é justamente graças às constantes inter-
venções feitas pelo “homo sapiens” que é
preciso conviver com a degradação
ambiental. É mesmo preciso? Não, não é
preciso nem é possível. O ser humano está
destruindo o meio fundamental para sua
vida. Muitas vezes, por capricho. Com a al-
teração da biodiversidade, problemas gra-
ves vêm ocorrendo: aquecimento global, es-
cassez de água no planeta, desmatamentos,
doenças que resultam da degradação
ambiental, acúmulo de lixo. Muitos detri-
tos levam mais de um século para se degra-
dar, como o pneu, por exemplo, que chega
a 600 anos. Em muitos casos, isso poderia
ser evitado, não fosse a falta de conscientização
por parte da população.
Um dos principais problemas enfrentados
hoje em dia é a quantidade de pneus abandona-
dos. São pilhas deles, espalhados sem destino.
E foi pensando na melhoria do meio ambiente
que a Secretaria do Meio Ambiente e algumas
empresas montadoras de carro criaram servi-
ços de coleta dos pneumáticos. A iniciativa tem
o objetivo de reaproveitar materiais beneficia-
dos como matéria-prima para um novo produ-
to, atitude fundamental nos tempos atuais. O
pneu gasto, mais conhecido como careca, pare-
ce não ter mais nenhuma utilidade. Além disso,
parece não servir nem mesmo como matéria-
prima para a produção de um novo pneu, mas
não é bem assim.
Desde 1999, a Associação Nacional da In-
dústria de Pneumáticos (Anip) coleta e destina
os chamados itens inservíveis (sem uso) e já
retirou da natureza 700 mil toneladas – cerca
de 139 milhões – de pneus de automóveis de
passeio. A reciclagem de pneus, por exemplo,
serve para os materiais que podem voltar ao
estado original e ser transformados, novamen-
te, em um produto igual em todas as suas ca-
racterísticas. E graças a ela, em geral, ocorre a
redução do volume de lixo nos aterros sanitári-
os e a melhoria nos processos de decomposição
de matérias orgânicas. Até o início dos anos
2000, milhares de pneus inservíveis eram des-
cartados em vias públicas, terrenos baldios, rios
e lagoas, principalmente, no Município do Rio
de Janeiro, com predominância nas regiões
Oeste e Norte da cidade, causando graves pre-
juízos ao meio ambiente, à saúde da população
e, claro, à estética urbana.
Recentemente, outra ajuda para acabar com
essa desordem urbana veio da Rio Coop 2000 e
da Secretaria de Estado do Meio Ambiente
(SEA): um programa de reciclagem de pneus
usados, lançado em novembro de 2007, com
apoio dos postos da “BR Distribuidora”. “Além
disso, foi criado o Disque-pneu (21- 25734142
e 31057730), não só para limpar o meio
ambiente, mas também para combater um
dos grandes criadouros do mosquito trans-
missor da dengue”, ressalta um dos
organizadores dessa união, o ambientalista
Paula César Ferreira Lima, de 43 anos.
O descarte inadequado de pneus usa-
dos é muito prejudicial ao meio ambiente.
Além de foco de doenças, pneus velhos
podem entupir cursos de água, provocan-
do enchentes. Quando queimados, aumen-
tam a poluição atmosférica. O pneu pode
ser reciclado inteiro ou picado. Quando fei-
to da segunda forma, apenas a banda de
rodagem é reciclada. Quando inteiro, há
inclusão do aro de aço. O processo de re-
cuperação e regeneração dos pneus exige a
separação da borracha vulcanizada de ou-
tros componentes, como metais e tecidos,
por exemplo.
Os pneumáticos são cortados em las-
cas e purificados por um sistema de pe-
Imag
em w
ww.sx
c.hu
V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3422
Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 23neiras. Essas lascas são moídas e depois submetidas à digestão em vapor d’água e produtos
químicos, como álcalis e óleos mineiras, para desvulcanizá-las. O produto obtido pode ser en-
tão refinado em moinhos até que se consiga uma manta uniforme, para a obtenção de grânulos
de borracha. Esse material tem várias utilidades: cobrir áreas de lazer e quadras esportivas;
fabricar tapetes para automóveis; passadeiras, saltos e solados de sapatos; colas e adesivos; câ-
maras de ar; rodos domésticos; tiras para indústrias de estofados; e buchas para eixos de cami-
nhões e ônibus.
Diante da grave situação representada pelo acúmulo de pneus velhos no ambiente, foi elabora-
da pela Cooperativa de Coleta Seletiva e Reciclagem (Rio Coop 2000), em parceria com a Asso-
ciação Nacional da Indústria Pneumática (Anip), uma Política de Gerenciamento de Pneus
Inservíveis, que vem produzindo excelentes resultados, com a eliminação de mais de 95% dos
problemas decorrentes do descarte inadequado de pneus. A iniciativa está em vias de ampliação
para a região metropolitana do Rio de Janeiro e para outros locais do Estado.
“Desta forma, foram criados os conceitos que se aplicam às borracharias, cujos donos se dispu-
seram a receber e armazenar temporariamente pneus inservíveis, descartados pelo próprio esta-
belecimento e por comerciantes próximos, em condições ambientalmente adequadas”, explica
Agnaldo Pires, de 35 anos, coordenador do projeto Ecopneus, criado para fazer a coleta dos pneu-
máticos da Rio Coop. Ele afirma que esses pneus ficam em locais cobertos, inspecionados e trata-
dos para evitar proliferação de mosquitos transmissores do dengue. Mais uma vez tomando inici-
ativa, a cooperativa de coleta seletiva fez uma pesquisa em relação à origem dos pneus inservíveis,
descartados irregularmente em áreas públicas e terrenos, somente em 2007:
A indústria de pneus, em parceria com a corporativa carioca, atende à Resolução 258 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que estabelece um sistema de carregamento das
carcaças a partir dos depósitos centrais da Rio Coop, transportando-as em carretas até São Paulo,
onde os pneus são triturados e aproveitados como combustível na indústria cimenteira, destino
final ambientalmente adequado.
No município do Rio de Janeiro, um decreto da Prefeitura criou grupo de trabalho com o
objetivo de analisar a viabilidade do aproveitamento de pneus inservíveis na composição de
misturas asfálticas. Concluiu-se que a mistura é viável, aumentando a durabilidade e a aderência
da pavimentação, a custos compatíveis. Foram efetuadas experiências bem sucedidas em algu-
mas vias da cidade, mas o processo ainda não está sendo utilizado de maneira intensiva. O
resultado da parceria Anip/Rio Coop foi a implantação de, aproximadamente, 54 pontos de
recepção de pneus inservíveis na Zona Oeste; nove na Zona Norte e dois na Zona Sul carioca,
além de dois depósitos centrais de pneus. Outra atitude que o projeto visa combater é a queima
de artefatos de borracha, muito prejudicial ao meio ambiente e à saúde, pois os gases liberados
são fortes poluentes para o ecossistema.
As atividades de recepção, armazenamento e carregamento dos pneumáticos no depósito cen-
tral são asseguradas por cinco postos de trabalho e renda, custeados pela empresa Michellin. “Essa
é a nossa contribuição social, ajudando na destinação ambientalmente correta dos pneumáticos
usados que não são mais reutilizáveis. Muitos deles são descartados por seus usuários diretamente
na natureza. E é aí que a Prefeitura deve entrar conscientizando a sociedade”, afirma o gerente da
Michellin da Ilha do Governador, Anderson Vieira, de 37 anos.
Outras organizações também mostram interesse na reciclagem dos pneumáticos. Criada
em março de 2007 pelos fabricantes de pneus novos “Bridgestone Firestone”, “Goodyear” e
“Pirelli”, a Reciclanip é considerada uma das maiores iniciativas da indústria brasileira na
área de responsabilidade pós-consumo. O trabalho de coleta e destinação de pneus
inservíveis realizado pela entidade é comparável aos maiores programas de reciclagem
desenvolvidos em todo Brasil, em especial o de latas de alumínio, garrafas PET e embala-
gens de defensivos agrícolas.
O projeto teve início em 1999, com o Programa Nacional de Coleta e Destinação de
Pneus Inservíveis implantado pela Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos, entida-
de que representa os fabricantes de pneus novos no Brasil. O desenvolvimento desses proje-
tos revela que as indústrias de pneus não pensam apenas em vender seus produtos, mas
também em preservar a natureza, a qualidade de vida e o bem-estar da população. A pavi-
mentação por meio da reciclagem pneumática é um exemplo do que pode ser feito com
pneus velhos e, claro, um ganho para a sociedade. “Isso resultaria, conseqüentemente, em
asfalto mais barato, duradouro, seguro e, o principal, ecologicamente correto”, analisa Álva-
ro Augusto de Oliveira, de 53 anos, gerente-geral da Reciclanip.
A coleta de pneus inservíveis pode ser feita pelo serviço de limpeza pública do município
ou por intermédio da colaboração de borracheiros, sucateiros/coletadores, reformadores e
revendedores. Esses parceiros podem levar os pneus inservíveis coletados a qualquer um dos
Ecopontos espalhados em diversos estados do país, incluindo a possibilidade desses pneumá-
ticos serem levados diretamente às empresas de trituração ou picotagem, os chamados Cen-
tros de Recepção e Trituração/Picotagem, sem passar pelos Ecopontos.
Combater e eliminar o quadro da desordem urbana causada pelo abandono de pneus é
um grande desafio, principalmente para o Rio de Janeiro, cidade com maior índice desse
tipo de degradação ambiental. Mas cabe a todos os cidadãos, terem consciência de que não
mudar essa realidade só prejudicará o meio ambiente. Todo esse trabalho tem dado resultado
e o Brasil está em 2o lugar no ranking mundial de recauchutagem de pneus, o que lhe confere
uma posição vantajosa junto a vários países na luta pela conservação ambiental. Cada um
fazendo a sua parte tornará o mundo um lugar melhor de se viver, seja reciclando lixo e
pneus, protestando contra o aquecimento global e o desmatamento. Não importa. Como diz
a sabedoria popular, a união faz a força.
RESOLUÇÃO 258 DO CONAMA(RESUMO)
1. A partir de 1º de janeiro de 2002, para cada quatro pneus
novos fabricados no país ou importados (inclusive aqueles que
acompanham os veículos importados), as empresas fabricantes
e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente
adequada a um pneu inservível.
2. A partir de 1º de janeiro de 2003, para cada dois pneus novos fabricados no país
ou importados (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas
fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a
um pneu inservível.
3. A partir de 1º de janeiro de 2004, para cada pneu novo fabricado no país ou
importado (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas fa-
bricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a um
pneu inservível. Para cada quatro pneus reformados importados, de qualquer tipo, as
empresas importadoras deverão dar destinação final a cinco pneus inservíveis.
4. A partir de 1º de janeiro de 2005, para cada quatro pneus novos fabricados no país
ou importados (inclusive aqueles que acompanham os veículos importados), as empresas
fabricantes e as importadoras deverão dar destinação final ambientalmente adequada a
cinco pneus inservíveis. Para cada três pneus reformados importados, de qualquer tipo,
as empresas importadoras deverão dar destinação final a quatro pneus inservíveis.
Fonte: site do Conama – www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=258
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE24
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Rafael Garrido
O Rio de Janeiro abriga três espaços que, além de belos, desempenham umimportante papel na preservação do meio ambiente: o Instituto de Pesquisas Jar-dim Botânico do Rio de Janeiro, o Parque Nacional Floresta da Tijuca e o ParqueLage. Todos são heranças antigas da cidade, da época colonial. Um se tornou amaior instituição de pesquisa botânica da América Latina, outro é a maior florestaem área urbana do mundo e o último abriga a maior escola de artes do país.
INSTITUTO DE PESQUISAS JARDIM BOTÂNICO DO RJ
cies ameaçadas de extinção e propondo soluções
de manejo e conservação das espécies de acordo
com estudos realizados”, conta Juliana Valentim, as-
sessora de imprensa do espaço.
O atual presidente do Jardim, Liszt Vieira,
teve um trabalho difícil em suas mãos: o de mos-
trar que o instituto ainda é muito importante
para o Brasil e para o Rio de Janeiro, algo que
conseguiu fazer a partir de iniciativas e inova-
ções. Uma delas veio por parte do Núcleo de
Educação Ambiental, responsável por coordenar
as visitas escolares. O Nea criou o ‘Conhecendo
Nosso Jardim’, por meio do qual são oferecidas
aulas para os professores no arboreto. Assim,
quando eles levarem os alunos para visitas, po-
dem ter um conhecimento acerca do parque.
“Quando trazem seus alunos ao Arboreto, tor-
nar a visita uma recreação é um pecado, um des-
perdício. O espaço disponível permite aulas que
vão desde Biologia e Botânica até História do
Brasil. Mas para estarem preparados para explo-
rar o potencial didático do parque, os professo-
res precisam receber um mínimo de informação
sobre ele”, explica Maria Manuela Rueda, res-
ponsável pelo projeto.
Outras duas iniciativas foram de extrema im-
portância para o instituto. A primeira foi a criação
do primeiro Museu do Meio Ambiente da Améri-
ca Latina, situado numa antiga casa colonial que
servia de moradia para os pesquisadores. “Agora,
pretendemos nos tornar referência mundial no
quesito meio ambiente, aliado cada vez mais as
áreas de pesquisa, educação e cultura, todas con-
templadas em nosso Instituto”, conta Juliana. A
segunda medida, também ressaltando essa ligação
entre meio ambiente e cultura, foi a criação do
Espaço Tom Jobim, área do parque que abriga ex-
posições e dispõe de um teatro, onde são realiza-
dos, além de peças, shows e concertos.
FLORESTA DA TIJUCA
REDUTO DA ARTEAqueles que visitam o Parque Laje, na Zona
Sul do Rio de Janeiro, sentem o clima de roman-
tismo do local, sua natureza deslumbrante e seu
belo palacete, tudo aos pés do Cristo Redentor.
Esse ar romântico começa já em sua criação, em
meados do século XIX. O terreno foi adquirido
pelo comendador Antônio Martins Lage Junior
e, mais tarde, herdado por seu neto, Henrique
Lage, que se apaixonou pela cantora lírica italia-
na Gabriela Bezanzoni e, em 1922, mandou cons-
truir o palácio e seus belos jardins, oferecendo-
os a ela como presente.
O projeto da construção, de estilo eclético,
foi feito pelo italiano Mario Vodrel, com azulejos,
mármores e ladrilhos importados diretamente da
Itália. Os belos jardins foram projetados pelo pai-
sagista inglês John Tyndale e, posteriormente, nas
décadas de 30 e 40, foram parcialmente remode-
lados. O parque é a última arbórea contínua entre
o Corcovado e a rua Jardim Botânico.
Atualmente, o Parque e seu palacete foram
tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional,
tornando-se a sede da Escola de Artes Visuais. A
área é aberta à visitação, permitindo que suas
diversas trilhas sejam exploradas à vontade, sen-
do a mais famosa aquela que leva até a encosta
do Cristo Redentor. Outros atrativos são o aqu-
ário construído em argamassa imitando rochas e
troncos de árvores, as pontes, bancos e quios-
ques próximos ao lago, que são representações
construídas da natureza, e a gruta.
O Parque Laje desempenha um papel que
vai além de ser sede de uma escola de arte e
espaço público destinado à visitação. Ele tam-
bém abriga diversos eventos e iniciativas vol-
tadas para a questão da preservação ambiental,
entre eles, o Dia Mundial de Preservação da
Água. O espaço integra ainda a rede de pre-
servação da Floresta da Tijuca. A maioria dos
eventos serve para conscientizar a população
carioca no que diz respeito à preservação da
natureza, mas também inclui projetos com o
objetivo de apontar a importância da Floresta
da Tijuca para a cidade, sendo o próprio Par-
que Laje integrante da área florestal que a com-
põe. Visita imperdível para todos os românti-
cos e apreciadores da natureza, o espaço
confirma mais uma vez que o que há de muito
belo no Rio é também muito útil.
Quando a família real portuguesa escolheu
como refúgio o Brasil, em sua fuga da fúria
napoleônica, quem mais se beneficiou foi essa pe-
quena colônia subdesenvolvida. Subitamente trans-
formada em sede do governo, a cidade do Rio de
Janeiro logo recebeu uma reforma geral, por or-
dem de D. João VI, para que fizesse jus à função
que agora desempenhava. Muitas foram as medi-
das tomadas. Entre elas, o Príncipe Regente tra-
tou de proteger a coroa, instalando uma fábrica
de pólvora próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas.
O entorno da fábrica, uma vasta área, foi utilizado
para aclimatar especiarias vindas da Índia.
A área logo passou a ser denominada Jardim da
Aclimação e, mais tarde, Real Horto, que após co-
meçou a ganhar o cunho científico e a importância
que possui hoje, sendo denominado Jardim Botâni-
co do Rio de Janeiro. O espaço, que era destinado à
aclimação de plantas, passou a ser utilizado para pre-
servação. Muitas espécies foram importadas, sen-
do a mais famosa delas a palmeira Imperial, que
mais tarde virou o símbolo do lugar.
O primeiro exemplar de palmeira imperial
foi plantado pelo próprio D. João no Jardim Botâ-
nico, a famosa “Palma Matter”, de onde todas as
outras palmeiras imperiais brasileiras descendem.
Esse espécime foi derrubado por um raio, mas
sua primeira filha plantada, a “Palma Filia”, ainda
existe em um lugar de destaque no arboreto.
Mas nem só de história vive esse espaço. Com
200 anos de existência, o Jardim Botânico mostra
que sua função e importância não se perderam no
tempo e desde 2001 promove o desenvolvimen-
to de ensino e pesquisas relativos à flora brasileira.
“Em 2008, com a criação do Centro Nacional de
Conservação da Flora, sob coordenação do Jardim
enquanto Instituto de Pesquisas, ele passou a ter
um papel ainda mais fundamental no sentido da pre-
servação da nossa flora, elaborando a lista de espé-
Todo carioca que se preze sabe que a Floresta
da Tijuca é a maior floresta em área urbana do mun-
do. O que poucos sabem é que ela não é natural.
Com o crescimento da cidade com a chegada da
família real portuguesa, diversas áreas de floresta e
matas no entorno do Rio foram devastadas para o
plantio e as madeiras eram usadas para lenha e car-
vão. Quando o Brasil assumiu a posição de expor-
tador de café, a situação piorou: encostas de mon-
tanhas inteiras foram devastadas para as plantações.
Já naquela época, o uso sem planejamento dos re-
cursos naturais resultou em desastre ambiental.
Por quatro vezes, ocorreram secas no Rio de
Janeiro e a devastação foi tanta que as nascentes dos
rios ficaram ameaçadas. O Imperador D. Pedro II,
preocupado com a questão, mandou plantar a Flo-
resta da Tijuca, primeiro exemplo de reconstituição
de cobertura vegetal com espécies nativas no Bra-
sil, plantando 13.500 mudas. Apesar de o replantio
não ter sido feito de forma técnica ou científica, no
final do século 90 mil espécimes haviam sido plan-
tadas e uma floresta já crescia no Rio.
Hoje, a importância dessa área verde para a
diversidade de espécies animais e vegetais fez com
que a Floresta fosse transformada em Parque Na-
cional. Esses parques são porções do território
nacional, que, devido a elevados atributos natu-
rais ou culturais, estão postos sob jurisdição do
Governo Federal, para assim garantir sua pre-
servação. O espaço é aberto à visitação, mas os
visitantes precisam respeitar algumas regras.
Mas o que significa para o Rio ter esta vasta área
verde? “A floresta da Tijuca tem um valor enorme na
cidade do Rio de Janeiro. Serve para controlar a tem-
peratura e as chuvas, já que a água fica retida na copa
das árvores, funciona como inibidora da poluição at-
mosférica e reguladora das águas, é berço de rios e
viveiro para animais e inúmeras espécies da flora”,
explica Alexandre Justino, funcionário do Parque.
Instituições cariocasvoltadas para a preservação ambiental
Imagem
: Érica Ribeiro
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Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE 25O mundo todo hoje fala em meio am
biente. É fácil notar uma preocupa
ção, uma luta pela preservação. A de-
gradação do ambiente tornou-se visível a olho
nu. A população cobra das autoridades medidas
para conter a destruição ambiental. Mas nem
sempre vêm dos governantes as iniciativas toma-
das para salvar ou diminuir a devastação em que
se encontra a Terra. Muitas vezes, conta-se com
ajuda de parceiros ou até mesmo heróis
ambientais. São as Organizações Não-Governa-
mentais (ONGs) que tem tido um papel funda-
mental na luta para preservar o planeta.
Do ponto de vista jurídico, as ONGs são asso-
ciações civis de direito privado. Na nomenclatu-
ra, organização não-governamental define-se como
não-Estado e por suas características sem fins lu-
crativos. Mas elas não podem e nem devem ser
comparadas aos partidos políticos ou tidas como
substitutos do Estado nas ações sociais.
Hoje já são cerca de 40 mil no mundo e apro-
ximadamente 1.000 no Brasil, segundo pesquisa
feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Apli-
cada (IPEA). É a resposta da sociedade à falta de
capacidade dos governos de realizar algumas de
suas funções de forma satisfatória. As ONGs têm
como principal ativo a credibilidade, que precisa
ser preservada e garantida, mas só há alguns anos
essas organizações foram percebidas como fato
social pela mídia.
HISTÓRIA DAS ONGSO termo ONG foi usado pela primeira vez
em 1940 pela Organização das Nações Unidas
(ONU) para designar as entidades da socieda-
de executoras de projetos comunitários ou de
interesse público. Mas foi nas décadas de 60 e
70 que sua expansão se deu. E na América
Latina elas tiveram participação importante na
luta contra os Estados Ditatoriais, principal-
mente aquelas que cuidam de questões de di-
reitos humanos.
Apenas a sociologia sediada nos Estados Uni-
dos empregava o termo “organização não-gover-
namental” para designar as entidades da socieda-
de civil, em referência a todo movimento de
cunho social. Nos anos que se seguiram, o ter-
mo “ONG” adquiriu maior relevância.
Na passagem dos anos 80 à década seguin-
te, surge no Brasil um movimento inexistente
até então: entidades voltadas para questões de
interesse público, capazes de formular proje-
tos, monitorar sua execução e prestar conta de
suas finanças. No Brasil, nasceram espelhadas
no modelo americano e dentro do circuito de
cooperação global.
Ela realiza ainda atividades de pesquisa, le-
gislação e política pública, educação ambiental
e comunicação, além de projetos de viabilização
de preservação, por meio dos estímulos a al-
ternativas econômicas sustentáveis que ajudam
e beneficiam a população local. Busca sensibili-
zar a opinião pública, por meio de atos e publi-
cidade, baseando-se no pilares filosófico-morais
da desobediência civil.
Assim como a WWF, o Greenpeace é uma
ONG voltada ao meio ambiente e famosa no
mundo inteiro. Com sede em Amsterdã e es-
critórios espalhados por quarenta países, foi
criada em 1971 no Canadá por imigrantes ame-
ricanos. É financiada apenas por pessoas físicas,
não aceitando o dinheiro de governo ou em-
presas. O nome é a junção das palavras inglesas
green (verde) e peace (paz) para dar a idéia de
pacifismo e defesa do meio ambiente. Atua com
campanhas dedicadas às áreas de floresta, cli-
ma, nuclear, oceanos, engenharia genética, subs-
tâncias tóxicas, transgênicos e energia
renovável, e tem como princípio básico o tes-
temunho presencial e a ação direta.
No Brasil, o Greenpeace realizou a primeira
ação em 26 de abril de 1996 numa manifestação
em frente ao pátio da usina nuclear de Angra do
Reis, onde foram colocadas 800 cruzes para lem-
brar o número de mortos no acidente na Ucrânia.
Isso se deu às vésperas do Eco-92, quando os
ativistas chegaram ao Rio a bordo de um navio
para participar do encontro.
PROFESSORES INDÍGENASE ELABORAÇÃO DEMATERIAL DIDÁTICO
Quem também teve sua criação marcada na
história foi o Centro de Trabalho Indígena
(CTI), pois se formou no início do processo de
abertura política em que houve a transição do
regime militar para a democracia. Tem como
marca de sua identidade o apoio direto aos po-
vos indígenas, com o objetivo de que esses pos-
sam atingir o maior grau de auto-suficiência
econômica e política dentro dos parâmetros das
próprias comunidades indígenas.
O CTI é uma sociedade civil, sem fins lu-
crativos, e a associação tem sede e foro em
Brasília. Tem como finalidade desenvolver tra-
balhos indígenas, visando o bem-estar da popu-
lação que se encontra em território nacional.
Atua com projetos integrados, que são elabo-
rados a partir das demandas de locais identifi-
cados em conjunto com os índios. Mais do que
beneficiários, os índios são co-autores e co-exe-
cutores dos projetos.
DOS COSTUMESAO USO DA TECNOLOGIA
Outra ONG muito importante no Brasil é
a Ramudá, uma organização não-governamen-
tal sem fins econômicos. Formada em São
Carlos em 2001, realiza e apoia projetos sócio-
ambientais e culturais integrados, visando a pro-
dução e a difusão de bens culturais, o fortaleci-
mento de organizações comunitárias, a pesquisa
e o registro da história local e a implantação de
uma educação ambiental consistente.
A organização procura catalisar transfor-
mações de valores culturais, potencializando
a capacidade criadora de seus sujeitos no exer-
cício de sua autonomia. A ONG atua em mu-
danças concretas na direção de uma efetiva
justiça social da democratização do conheci-
mento, do uso adequado da tecnologia, de re-
lações pacíficas, responsáveis e solidárias en-
tre homens e mulheres.
A Ramudá foi reconhecida como Organiza-
ção da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIP) em 5 de setembro de 2007. Os proje-
tos da Ramudá são unidades de ação com
enfoques específicos, que tornam realidade as
aspirações coletivas dos integrantes da entidade.
O trabalho desenvolvido pelas ONGs nos se-
tores sociais e na capacitação humana para o
voluntariado tem sido de importância no avanço
das políticas públicas. A sociedade hoje reconhece
nas ONGs sérias a defesa legítima de uma melhor
qualidade de vida. Crer neste trabalho é mais do
que uma séria ideia de política pública. Mais par-
ticularmente no âmbito do meio ambiente, é uma
necessidade inadiável.
Urso panda: símbolo da ONG WWF
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Rafaela Duarte de Sousa
Enquanto, nos anos 70 e 80, as ONGs não
encontram apoio financeiro, nos anos 90, elas
vão buscar na cooperação internacional o apoio
necessário para financiar a luta pela cidadania.
CONHECENDO AS ONGSO Centro de Estudos Ambientais (CEA), or-
ganização não-governamental ecológica, foi fun-
dado em Rio Grande, Rio Grande do Sul, em 1983
e surgiu como contraponto do surto industrial
degradador da qualidade ambiental que se inicia-
va num movimento social em gestão no país na
década de 80. Dentre as atividades, pode-se des-
tacar o ativismo ecológico (movimento de prote-
ção das dunas de Rio Grande e Cassino) e de aler-
ta sobre a indústria de celulose. Foi o autor da
primeira Ação Civil Pública Ambiental, com o
objetivo de acabar com a prática do tiro contra o
pombo, e responsáveis pela reestruturação do
Conselho Municipal de Proteção Ambiental.
Outra ONG reconhecida por voltar seu tra-
balho para o meio ambiente é a Rede WWF.
Criada em 1961, tem sede na Suíça e é com-
posta por organizações e escritórios em diver-
sos países, que têm como característica o diá-
logo na questão ambiental. Desenvolve cerca
de dois mil projetos de conservação. Quando
fundada, escolheu como símbolo para
representá-la um urso panda gigante chamado
Chi-Chi, que tinha acabado de chegar ao zoo-
lógico de Londres. Uma escolha baseada na cam-
panha da China para a preservação do panda.
Com sede em Brasília, a WWF-Brasil foi cri-
ada em 30 de agosto 1996 e é formada por re-
presentantes do empresariado, ambientalistas
e outros setores da sociedade brasileira. Atual-
mente, trabalha executando dezenas de proje-
tos em parceria com universidades e órgãos go-
vernamentais. Tem o objetivo de harmonizar a
atividade humana na conservação da
biodiversidade e promover o uso racional dos
recursos naturais, em benefício dos cidadãos de
hoje e das gerações futuras. Desenvolve proje-
tos em todo o país, com atuação em mais de
cem países e o apoio de cerca de cinco milhões
de pessoas, contando com associados.
V+MeioAmbiente.pmd 04/08/2009, 10:3425
Revista VEIGA MAIS - ESPECIAL MEIO AMBIENTE26PROTOCOLO: O SOPRO DE ESPERANÇA
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Leonardo Araújo
O mundo está em choque. As
consequências do desprezo humano pela
preservação ambiental estão mais eviden-
tes a cada ano. O clima já não é mais o
mesmo. O futuro se transformou num
misto de incerteza e angústia. Mas não é
de hoje que a mãe-natureza tem dado seu
recado, estampado e nítido, aos olhos de
todos. Por isso, desde 1988, com o pre-
núncio do apocalipse ambiental, líderes
mundiais vêm fazendo convenções inter-
nacionais para discutir o futuro do plane-
ta. Um acordo ambiental foi fechado. Mas
entre a incerteza dos cépticos e a expec-
tativa dos esperançosos, culminou-se a
questão: serão os acordos ambientais efi-
cientes o suficiente?
Para os líderes mundiais que assinaram
o Protocolo de Kyoto, sim. Mundialmen-
te conhecido como a esperança da socie-
dade, o protocolo assinado na cidade ja-
ponesa em 1997 foi o resultado de uma
sucessão de reuniões internacionais, já vi-
sando o futuro do planeta. A primeira
ocorreu na cidade de Toronto, Canadá, em
1988, logo que mudanças bruscas do cli-
ma assustaram todos os países.
Seguindo a cronologia do protocolo,
realizou-se em seguida a famosa confe-
rência Eco-92, no Rio de Janeiro, e de-
nominada Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre a Mudança Climática. Nes-
sa conferência, acordos ambientais foram
assinados, citando a diminuição da emis-
são de gases que provocam o efeito estu-
fa. Mas o tratado não fixou limites obri-
gatórios na redução dos gases e, por isso,
não obteve sucesso.
O Protocolo de Kyoto seria o pri-
meiro tratado assinado a obrigavar to-
dos os países signatários a reduzirem suas
emissões de gases poluentes. Mesmo
formulado em 1997, o acordo ambiental
só entrou em vigor oito anos depois,
após a Rússia firmar também o compro-
misso ecológico. Diante da efetivação,
metas de redução de gases foram implan-
tadas, algo em torno de 5,2% entre os
anos de 2008 e 2012.
Alguns especialistas, porém, desacre-
ditam do sucesso do acordo. Eduardo Vio-
la, sociólogo da Universidade de Brasília
(UnB), destacou, no 6º Encontro da Asso-
ciação Brasileira de Ciência Política, que
se as grandes nações poluentes não se de-
dicarem de fato ao tratado, de nada adian-
tará. “De 2006 a 2007, as emissões de ga-
ses estufa, que deveriam diminuir,
cresceram 3%”, declarou o sociólogo na
mesa redonda formada por especialistas
para debater os esforços internacionais.
Outro ponto que aumenta a descren-
ça no acordo assinado é a credibilidade do
Protocolo de Kyoto. Mesmo após a Rússia
ter aderido às metas de diminuição de ga-
ses poluentes, outra importante nação
continua de fora. Os Estados Unidos, que
figuram entre os grandes poluidores at-
mosféricos do planeta, sequer cogitam
aceitar os termos do acordo. Apesar de
investimentos milionários em adaptações
climáticas no país, o governo americano
menospreza a saúde do planeta, visando
sempre a saúde de sua economia.
Para Gilberto Assis, assistente da ONG
Mundo Verde, o fato de um país de tama-
nha importância como os EUA não aderir
ao tratado gera incerteza e desconfiança. “Se
uma das nações mais poluentes não aderiu,
do que adianta outras cem seguirem à risca
as taxas de diminuição? A ação contra a de-
gradação ambiental tem que vir de todos,
mas, acima de tudo, deve ser liderada pelos
mais fortes e capazes”, afirma Assis.
Ainda segundo ele, após três anos em
vigor, o protocolo não apresentou ainda
real eficiência no combate à mudança cli-
mática. “Houve avanços significativos em
alguns países, mas a verdade é que a gran-
de fonte de aquecimento segue como an-
tes”, explica, citando a queima de com-
bustível baseado em petróleo, principal
fator poluente. “Por isso, devemos com ur-
gência investir em energia renovável”,
completa. O fato é que, eficientes ou não,
acordos ambientais como o Protocolo de
Kyoto são os únicos sopros de esperança
da população mundial.
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