MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS GUARULHOS SP

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

MORFOLOGIA E SINTAXE DO

PORTUGUÊS

GUARULHOS – SP

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA ........................ 5

2.1 Gramática prescritiva (normativa) ....................................................................... 6

2.2 Gramática descritiva ........................................................................................... 8

2.3 O gerativismo e a gramática internalizada ........................................................ 10

2.4 Interpretando fenômenos de linguagem ........................................................... 12

2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos ...................................................... 14

3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA ................................ 16

3.1 Estrutura interna das palavras .......................................................................... 17

3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino ................................ 18

3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia ................................... 20

3.4 Morfologia vs. Sintaxe ....................................................................................... 22

3.5 Estrutura morfológica ........................................................................................ 24

3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra. ....................... 24

3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu

significado. ......................................................................................................... 24

3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser

nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo)...... 25

3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu

sentido.............. .................................................................................................. 25

3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando um

novo significado. ................................................................................................ 25

3.6 O que é sintaxe? ............................................................................................... 26

3.6.1 Análise sintática .............................................................................................. 27

3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional ...................................... 28

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3.7.1 Termos da oração ........................................................................................... 29

3.7.2 Tipos de oração .............................................................................................. 33

3.7.3 Período ........................................................................................................... 33

4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS ........................................ 34

4.1 Relação entre morfologia e sintaxe ................................................................... 39

5 SINTAXE E SEMÂNTICA ..................................................................................... 41

5.1 Semântica ......................................................................................................... 45

5.2 Relações semânticas entre as palavras ........................................................... 45

6 PALAVRAS E SINTAGMAS .................................................................................. 47

6.1 Itens lexicais na análise morfossintática ........................................................... 48

6.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em

classes........................................................................................................................50

6.3 Principais categorias lexicais ............................................................................ 51

6.4 Sintagma nominal e sintagma verbal ................................................................ 52

6.4.1 Sintagma nominal ........................................................................................... 52

6.4.2 Sintagma verbal .............................................................................................. 54

7 MORFEMAS ......................................................................................................... 54

7.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras .................................. 55

7.2 Morfemas da língua portuguesa ....................................................................... 57

7.3 Os tipos de morfema: radical e afixos ............................................................... 57

7.4 Vogal temática: o tema ..................................................................................... 58

7.5 Morfemas livres e presos .................................................................................. 59

7.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas .............................. 60

8 ENSINO DE SINTAXE .......................................................................................... 62

8.1 As metarregras de coerência ou metarregras de Charolles .............................. 63

8.2 Articuladores que introduzem orações coordenadas ........................................ 66

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8.3 Articuladores que introduzem orações subordinadas ....................................... 66

9 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO ................................................................... 67

9.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa .............................................. 68

9.2 Um pouco da história do construção do acordo ortográfico .............................. 71

9.3 O que mudou, afinal? ........................................................................................ 74

9.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo ................................................... 76

9.4.1 Eixo I – Alfabeto .............................................................................................. 76

9.4.2 Maiúsculas e minúsculas ................................................................................ 77

9.4.3 Acentuação gráfica ......................................................................................... 77

9.4.4 O hífen ............................................................................................................ 79

9.4.5 Qual é a importância global de seu uso com proficiência? ............................. 83

10 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 86

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante

ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um

aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma

pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é

que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a

resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas

poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em

tempo hábil.

Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa

disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das

avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora

que lhe convier para isso.

A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser

seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 GRAMÁTICAS PRESCRITIVA, DESCRITIVA E INTERNALIZADA

A primeira gramática da língua portuguesa foi publicada em 1536 por Fernão

de Oliveira, em Lisboa. A Gramática da linguagem portuguesa não seguia o modelo

das gramáticas que até aquele momento eram produzidas, apesar de ter um caráter

normativo, que buscava “[…] propor uma norma para o português do século XVI”

(PINTO, 2004, documento on-line). Tinha também um caráter linguístico e cultural,

aludindo ao modo de falar dos portugueses daquele período. A obra era composta de

50 capítulos, contendo normas gramaticais, fonéticas, lexicológicas e, sobretudo,

estudos etimológicos e sobre a sintaxe.

Tinha o objetivo de ser um primeiro registro da língua portuguesa, a fim de

perpetuá-la. Naquela época, Portugal estava buscando por uma “autonomia nacional”.

A gramática, então, seria uma forma de afirmar a identidade do povo português, da

nação portuguesa (PINTO, 2004).

Hoje, o conceito de gramática é muito amplo e debatido por teóricos, que

possuem distintas concepções sobre ela. É impossível falar de gramática sem pensar

em língua e sem trazer à tona a necessária relação entre elas. As diferentes formas

como a língua é concebida apontam para diferentes concepções de gramática.

Uma das acepções de gramática é aquela que designa um livro, que possui

como assunto “[…] uma apresentação de elementos constitutivos de uma língua”

(FARACO; VIEIRA, 2016, p. 293). No entanto, os próprios autores alertam para a

abrangência do termo e da definição, refletindo sobre a necessidade de se manter

aberta a pergunta o que é gramática? Isso ocorre porque a língua é um objeto de

estudo muito amplo e complexo, que suscita diferentes reflexões e enfoques.

Para estudar a língua, é necessário estudar o seu funcionamento. Segundo

Nasi (2007), as formas como as diferentes correntes teóricas dos estudos da

linguagem estudam os processos de fala e de escrita demonstra suas concepções de

língua e de gramática.

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Fonte: http://mundocarreira.com.br/

Como pode ser observado, as concepções de língua e gramática andam juntas.

Por isso, é essencial que você compreenda as diferenças entre as formas como a

língua é compreendida em cada teoria para entender os tipos de gramática que delas

derivam. A seguir, você vai conferir a distinção entre as gramáticas prescritiva (ou

normativa), descritiva e internalizada, ao mesmo tempo em que vai conhecer os

entendimentos sobre a língua que as sustentam (NOBLE, 2020).

2.1 Gramática prescritiva (normativa)

A gramática prescritiva, ou normativa, é aquela a que você provavelmente foi

exposto ao longo de sua escolarização. Isso porque, em geral, é essa a abordagem

usada para refletir sobre a linguística na disciplina de língua portuguesa. No entanto,

essa gramática pressupõe uma visão de língua homogênea, ou seja, um modelo de

língua que todo falante de uma língua deve seguir para estar de acordo com suas

regras. A gramática que acompanha essa visão de língua é a prescritiva, ou normativa,

aquela que dita normas e regras de um certo modelo de língua como se ele fosse o

único possível (NOBLE, 2020).

Conforme Franchi (2006, p. 16), alguns professores consideram que a

gramática seria “[…] o conjunto sistemático de normas para bem falar e escrever,

estabelecidas pelos especialistas, com base no uso da língua consagrado pelos bons

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escritores. Dizer que alguém sabe gramática significa dizer que esse alguém conhece

essas normas e as domina”.

É nesse ponto que reside o maior problema da abordagem prescritiva da

gramática na escola. Ao considerá-la o padrão de excelência, a escola leva seus

alunos a perseguirem esse modelo ao longo da vida escolar. Porém, se esse é o único

ponto de vista gramatical ao qual se tem acesso, passa-se a acreditar que todo o resto

que produzimos como falantes em nosso dia a dia está errado. Nesse caso, o aluno

passa a vida acreditando que fala errado, que a língua é difícil, e duvida de sua

competência internalizada. Prioriza-se, nessa abordagem, a norma- -padrão e,

portanto, deixa-se de lado as variações da língua, que são muitas e dependem de

inúmeros fatores — sociais, econômicos, geográficos, entre outros.

Isso não quer dizer que a gramática normativa não tenha valor escolar, mas o

ensino de língua baseado somente na norma-padrão não pode desconsiderar as

variações e uma profunda reflexão linguística que passa, inclusive, pelas regras da

gramática normativa. Entra em jogo, nesse ponto, outra questão: muitos professores

afirmam compreender a variação linguística, mas consideram que ela deve ficar

apenas no âmbito da fala, sendo a escrita normatizada pela gramática da norma-

padrão. No entanto, os exemplos presentes em Franchi (2006) mostram que a escrita

escolar também não pode ser somente pautada nos padrões de certo e errado da

gramática normativa.

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Nesse exemplo, a concepção de gramática dos professores citados por Franchi

(2006) está associada à gramática normativa, que segue uma concepção de língua

dos escritores e de uma linguagem que seria mais culta e bela do que a falada no dia

a dia. O “bom português”, no entanto, como mostra Franchi (2006), nem sempre

garante um texto criativo.

No Texto 1, apesar dos desvios gramaticais, é possível notar uma maior

criatividade e, no Texto 2, uma maior contenção. Além disso, Franchi (2006, p. 26)

ressalta que o texto 1 não deixa de mostrar um “[…] razoável grau de amadurecimento

linguístico e textual”, considerando a capacidade do aluno escritor do Texto 1 de

construir uma série de operações complexas com a língua, como em “Era uma vez

um passarinho que vivia em uma árvore na frente da casa de João”, enquanto o Texto

2 tem estruturas bastante simples como “Eu gosto muito dos animais”.

Para Franchi (2006), portanto, esses exemplos evidenciam que o aluno do

Texto 1 demonstra um “controle” da língua muito superior, de certa forma, ao

demonstrado pelo aluno do Texto 2.

2.2 Gramática descritiva

A proposta da gramática descritiva tem como base o princípio da observação

dos fenômenos linguísticos. Ao contrário da gramática prescritiva, ela não tem o intuito

de prescrever regras, de ditar como a língua deve ser, mas sim de observar e

descrever como a língua tem sido utilizada pelos falantes.

Para Ferraz e Olivan (2011), a gramática descritiva é um conjunto de regras

que descrevem os fatos da língua. Analisando e descrevendo a língua real que os

falantes utilizam, é possível observar quais fenômenos linguísticos ocorrem, como a

língua se estrutura, o que é aceitável ou não em termos de língua. Essas regras

ajudam a observar o que é gramatical e o que é agramatical. Gramatical é aquilo que

atende “[…] às regras da língua segundo determinada variedade linguística”

(FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2236). Em outras palavras, gramaticais são aquelas

estruturas e frases comuns à comunidade de falantes. Veja o exemplo a seguir.

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É necessário eleger certos fatos da língua para observar, já que seria

impossível dar conta da totalidade de fatos da língua. Estudam-se, então, os fatos

sintáticos, aqueles de particular interesse à teoria, uma vez que a sintaxe é a parte

da gramática de organização da língua. Na descrição de um fato sintático, como a

posição linear que os elementos de uma frase ocupam, como no exemplo dado, é

possível observar que a língua permite certos posicionamentos e não outros. Com o

exemplo, nota-se que a gramática descritiva considera o falante, sua intuição, sua

língua internalizada, isto é, as possibilidades e impossibilidades da língua por meio de

fatos que são bastante intuitivos. O autor explica que: “[…] os falantes têm muitas

vezes intuições bem definidas […] em outros casos as intuições não são claras, e é

preciso lançar mão de outros recursos, como tentar observar o comportamento

sintático de uma sequência em outras frases” (PERINI, 2005, p. 45).

Toda gramática descritiva, portanto, pressupõe hipóteses e observação e,

consequentemente, constitui-se como resultado de uma pesquisa, argumentando e

justificando o caminho tomado. Por isso, do ponto de vista descritivo, não é possível

estudar gramática sem, ao mesmo tempo, fazer gramática, no sentido de refletir,

investigar e pensar nos fenômenos da língua.

Além disso, o trabalho de descrever uma língua inclui a descrição dos seus

aspectos formais somados aos significados que eles veiculam. Primeiro, é realizada

a descrição do aspecto formal e do semântico separadamente, posteriormente

realizando-se um confronto entre ambos (PERINI, 2005).

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2.3 O gerativismo e a gramática internalizada

A gramática internalizada é entendida como aquela que todos os falantes

possuem de maneira inata. Essa seria uma predisposição genética que permite não

somente a aquisição da linguagem, mas também o desenvolvimento de uma lógica

interna de organização da língua (NOBLE, 2020).

De acordo com essa perspectiva, a linguagem humana, expressa por meio de

uma língua natural, é entendida como um fenômeno cognitivo. A língua é tomada

como produto da mente humana, e é este entendimento que sustenta a teoria sobre

a gramática internalizada.

Segundo Kenedy (2013), a linguagem é um conhecimento implícito,

inconsciente no conjunto da cognição humana. Um indivíduo é capaz de produzir uma

infinidade de sentenças na sua língua materna sem se dar conta de que está

realizando isso, ou seja, ocorre de maneira inconsciente. Por isso, a linguagem é

entendida como um conhecimento tácito que os indivíduos possuem.

Essa concepção está ancorada no gerativismo, que tem como expoente

principal o cientista Noam Chomsky. Surge nos anos de 1950, quando o Chomsky,

então professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, formula suas ideias

sobre a “natureza mental da linguagem humana”. A teoria propunha a descrição dos

procedimentos mentais que “[…] geram as estruturas da linguagem, como as

palavras, as frases e os discursos”, sendo as frases organizadas por meio de regras

inconscientes na mente dos indivíduos (KENEDY, 2013, p. 17).

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Além disso, a teoria gerativista entende que as línguas naturais não só são

produto da mente humana, mas também possuem uma exterioridade; elas só se

tornam úteis como línguas naturais se puderem ser compartilhadas pelos indivíduos.

Para que uma língua exista, seu léxico precisa ser compartilhado pelos falantes.

Assim, pode-se dizer que há duas dimensões da língua, as quais foram

denominadas por Chomsky de língua-I (interna, individual e intencional), ou seja, a

língua enquanto faculdade cognitiva, e língua-E (externa e extensional), a língua como

código linguístico.

É a língua-I, portanto, o principal objeto de estudo da concepção gerativista,

uma vez que esta faz parte do sistema cognitivo do indivíduo. O estudo da língua-I é

o estudo da capacidade humana de colocar em prática os códigos da língua, como

fonemas, morfemas, palavras, frases. Entendendo que a língua-I está presente em

todos os indivíduos, Chomsky percebeu que, em vez de buscar uma descrição de

cada língua separadamente, era possível investigar as características universais das

línguas. Publicou, então, em 1965, Aspectos da teoria da sintaxe, em que explica os

conceitos de competência e desempenho. Competência linguística é o que permite

ao falante “[…] produzir o conjunto de sentenças de sua língua”. É por meio de sua

capacidade inata de linguagem que o falante desenvolve essa competência. Por outro

lado, o desempenho é o comportamento linguístico, são os fatores externos ou não

linguísticos, de ordens variadas, como inserção social, crenças, interlocutores, e

também o diferente “[…] funcionamento dos mecanismos psicológicos e fisiológicos

envolvidos na produção dos enunciados” (PETTER, 2015, p. 11). Isso quer dizer que

o a competência está internalizada no falante, enquanto o desempenho depende de

outros fatores. Por exemplo, você sabe falar em português, tem a competência

linguística. Porém, está apresentando um trabalho a uma turma cheia de alunos e

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começa a esquecer palavras e gaguejar; seu desempenho está afetado pelo

nervosismo.

A teoria desenvolvida por Chomsky para explicar e analisar os dados foi

denominada de gramática gerativa, uma vez que, segundo ela, o falante pode, por

meio de um limitado número de regras internas que possui, gerar um infinito número

de sentenças. A gramática gerativa, portanto, tem por objetivo explicar e analisar as

frases potencialmente realizáveis em uma língua, cuja intuição do falante é o “[…]

critério da gramaticalidade ou agramaticalidade da frase” (PETTER, 2015, p. 11).

Observe a frase a seguir.

Problema este muito seu difícil é.

Neste exemplo, como falante, você consegue perceber que algo não está bem

na construção da sentença. Você não precisa ser um especialista em linguística para

perceber isso. É esse estranhamento que Chomsky entende como a intuição do

falante. Por menos escolarizado que o falante seja, ele é capaz de organizar os

elementos linguísticos que compõem esta sentença, tornando-a novamente

gramatical.

Uma sequência de palavras é agramatical quando, segundo Petter (2015), não

respeita as regras gramaticais internalizadas pelo falante. Um falante pode utilizar sua

competência inata para organizar o exemplo acima como:

Este seu problema é muito difícil.

Todo falante de uma língua natural possui competência para refletir sobre a

língua. Dessa forma, na escola, o professor de língua pode fazer valer essa

competência para proporcionar uma verdadeira reflexão sobre o objeto de estudo da

sua disciplina, utilizando-se de situações e exemplos do cotidiano dos alunos. No

entanto, não é isso que ocorre geralmente nas aulas de língua.

2.4 Interpretando fenômenos de linguagem

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A linguagem é um fenômeno que permeia nossa vida social em diversos

aspectos e é de fundamental importância em nosso dia a dia. É necessário, então,

entender a gramática como uma forma de refletir sobre o funcionamento da linguagem

(e não somente como um amontoado de regras em um livro).

Dessa forma, estudar gramática na escola é importante, porque proporciona

um espaço de reflexão e pesquisa, podendo inclusive promover a autonomia, a

criticidade e a curiosidade científica dos alunos (PERINI, 2005). Uma vez que se passe

a enxergar a gramática como meio de observar e interpretar os fenômenos da

linguagem que ocorrem no cotidiano, o sentido e a significação do ensino de gramática

tomam outro rumo e abrem caminho para diversas oportunidades. No exemplo a

seguir, é possível realizar uma interpretação muito simples de um fato da linguagem.

De acordo com Perini (2001, p. 13), todo falante “[…] possui um conhecimento

implícito, altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar

esse conhecimento”. No Brasil, especialmente, em virtude da distinção muito evidente

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entre a língua brasileira falada e a norma culta do português, é possível perceber que

esse conhecimento da língua é algo naturalmente adquirido, e não fruto da instrução

escolar.

A interpretação dos fenômenos linguísticos pode se dar em vários aspectos,

que compõem as gramáticas de uma língua: a fonologia, a morfologia, a sintaxe e a

semântica. No entanto, esses aspectos não esgotam as possibilidades de

interpretação, pois ainda se poderia observar a história das formas linguísticas, por

exemplo. Esses aspectos “[…] constituem o estudo da estrutura interna de uma língua

— aquilo que a distingue das outras línguas do mundo, e que não decorre diretamente

de condições da vida social ou do conhecimento do mundo” (PERINI, 2005, p. 50).

2.5 Refletindo sobre os fenômenos linguísticos

Na escola, como você já viu anteriormente, não ocorre efetivamente uma

interpretação dos fenômenos da linguagem. Na maioria das vezes, na aula de língua

portuguesa, ensinam-se regras que não fazem sentido para o aluno. Utilizam-se

exemplos de grandes escritores, que geralmente não são do século XXI. Portanto, o

aluno tem acesso a uma gramática e a exemplos de língua que não condizem com a

língua conhecida por ele. Muito diferente do que muitos estudiosos defendem ser o

ideal:

[…] o que deveríamos esperar do aluno ingressante no ensino médio é a capacidade de lidar com os aspectos da língua de modo reflexivo, sendo apto a selecionar os recursos linguísticos e a estrutura gramatical adequados às atividades de produção oral e escrita (FERRAZ; OLIVAN, 2011, p. 2238).

Em relação a essa postura reflexiva de língua e às concepções de gramática

que você viu até o momento, considere o fenômeno da regência verbal. A regência é

a relação entre um elemento, considerado regente e outro que o complementa. De

acordo com a gramática prescritiva, o verbo é o regente, e seus complementos variam

de acordo com o que o verbo “pede”. De acordo com a gramática descritiva, a regência

de um verbo é variável, dependendo do contexto. Além disso, varia segundo ao longo

do tempo, “[…] porque os falantes passam a interpretar de forma diferente o

significado dos verbos” (TENÓRIO; SILVA; SILVA, 2018, p. 233). Considera-se,

portanto, a gramática internalizada do falante. O verbo “assistir”, por exemplo, tem na

regência uma importante variação da significação. Que variações são essas e como

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as diferentes linhas teóricas sobre gramática a interpretam? No ponto de vista da

gramática normativa, o verbo “assistir” é apresentado como transitivo indireto ou

direto, observando-se a mudança de sentido conforme a mudança na transitividade.

Observe a seguir:

1. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de presenciar, ver, observar; rege a preposição a e não admite a substituição do termo regido pelo pronome oblíquo lhe, mas sim o (s) e a (s); 2. verbo transitivo indireto: aponta para o sentido de caber (direito a alguém), pertencer; rege a preposição a e admite a substituição do termo regido pelo pronome oblíquo lhe (s); 3. verbo transitivo direto: aponta para o sentido de socorrer, prestar assistência e não rege qualquer preposição (A REGÊNCIA…, [200-?], documento on-line).

Assim, quando “assistir” for empregado para indicar os sentidos apontados em

(1) e (2), é obrigatória a presença da preposição regida. Nesse caso, a gramática trata

da regência e da transitividade do verbo como uma prescrição, informando o que é

admitido ou não como complemento do verbo. Além disso, prescreve como obrigatória

a presença da preposição regida pelo verbo nos casos 1 e 2. A distinção e a prescrição

da regência desse verbo é semanticamente determinada, como por exemplo, em:

Assistimos ao jogo (1)

Não lhe assiste dizer se isto é certo ou errado (2)

Pela gramática descritiva, por outro lado, é possível entender o verbo “assistir”

também em suas ocorrências como transitivo direto, que rege um objeto direto, sem

preposição. Um possível exemplo é a própria acepção de assistir em “Assistimos o

jogo”. Isso porque observou-se, analisando os fenômenos linguísticos, que o uso de

grande parte dos verbos vem modificando a normatização. Notou-se também que há

uma relação mais direta entre o falante e a pessoa ou objeto a que ele se refere. Por

outro lado, o verbo “assistir” com o sentido de ajudar, auxiliar, socorrer, já é

normatizado como um verbo transitivo direto e é assim utilizado pelos falantes.

É possível também observar a forma como a gramática internalizada dos

falantes organiza esses usos. Podemos refletir sobre a voz ativa e a voz passiva em

relação ao verbo “assistir”. Observe que, pelas regras da gramática normativa, um

verbo só possui voz passiva quando é classificado como transitivo direto ou bitransitivo

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(direto e indireto). No entanto, é perfeitamente coerente e bastante utilizada pelos

falantes a ocorrência passiva, como na frase a seguir:

O filme de terror foi assistido pelas crianças.

Se, pelo viés da gramática normativa, “assistir” com sentido de ver, olhar, deve

ser transitivo indireto, tal ocorrência não poderia existir. No entanto, pela gramática

internalizada do falante, é perfeitamente corriqueira a ocorrência da voz passiva nesse

caso. Pode-se concluir que há uma discrepância entre aquilo que a gramática

normativa prescreve e aquilo que o falante entende intuitivamente como adequado.

Por fim, conhecer as regras gramaticais e saber como usá-las é também

importante. Por meio desse estudo, é possível ensinar as diversas configurações da

língua para preparar os alunos para as também diversas situações com que vão se

deparar na vida. Como explica Ferraz e Olivan (2011, p. 2236):

[…] saber gramática depende da ativação e do amadurecimento progressivo de hipóteses sobre o que é a linguagem e quais seus princípios e regras. Nela, o que pode ocorrer é uma inadequação da variedade linguística em um dado momento de interação comunicativa, mas não o erro linguístico.

Para que possam se adequar às variedades linguísticas, portanto, os alunos

precisam conhecê-las, como todas as suas diversidades. No entanto, deve-se ter

como premissa que o aluno já tem conhecimento sobre a língua mesmo antes de

entrar na escola para ser alfabetizado. Considera-se, assim, sua gramática interna,

sua capacidade de produzir linguagem a partir do que já conhece. Além disso, é

fundamental incentivar o estudo da gramática por meio da reflexão dos fenômenos

linguísticos, que, como vimos, pode ser feita em certo grau por pessoas que não são

especialistas em linguística. Mais importante do que apontar erros e acertos, é

promover a reflexão sobre a língua.

3 CONCEITOS E INTERFACES: SINTAXE E MORFOLOGIA

Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de sintaxe e morfologia, duas

ciências que propõem, respectivamente, a análise da função sintática e da classe

gramatical dos termos de uma oração como forma de estabelecer conexões e

significados no texto. Você também vai entender como se dá o funcionamento da

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formação de palavras, base da morfologia, que serve de ferramenta para adaptar

palavras em relação ao significado que queremos comunicar.

3.1 Estrutura interna das palavras

O léxico é definido, tradicionalmente, como o conjunto de palavras de certa

língua. Em sua abordagem clássica, o estudo do léxico tem por objetivo uma

ampliação dos conhecimentos das características e propriedades de cada palavra.

Isso no passado e no presente, uma vez que há mudança de acordo com o espaço, o

tempo e a história de constituição de uma língua, uma vez que esta não é estática, ela

se movimenta conforme as sociedades evoluem. Pense, por exemplo, em palavras

como: internet, imprimir, escanear, tuitar. Há inserção delas no vocabulário de língua

portuguesa — algumas ainda sem registro formal, por enquanto — pelo senso comum.

Na tradição dos estudos gramaticais, a morfologia concentra-se em estudos da

flexão. Os diferentes processos de derivação e de mudança, bem como de extensão

de palavras, servem para funções predeterminadas, as quais se traduzem em

estruturas morfológicas lexicais. Lembre-se de que a morfologia não existe por acaso,

ela é historicamente a subdivisão mais antiga da gramática, mas reconhecida como

tal apenas na segunda metade do século XIX. Os linguistas que iniciaram os estudos

sobre morfologia não se percebiam, até então, como morfologistas. Dessa forma, o

léxico representa um depósito de elementos de designação, pois fornece unidades

básicas para a construção de enunciados e também comporta os processos de

formação das palavras (HOFF, 2014).

Aqui, o objetivo é fornecer para você, leitor, estudioso da língua, professor de

português, uma visão articulada dos principais processos de formação de palavras.

Você sabe por que esse conhecimento é relevante? Porque as estruturas

morfológicas constituem um instrumento fundamental tanto para a aquisição como

para a expansão do léxico individual e coletivo.

Agora, pense: de que forma o léxico se constitui na língua? Cada novo conceito

passa a ser registrado? Mas, assim, teríamos uma combinação de sequências que

não conseguiríamos realmente dar conta de guardar na memória? Portanto, para

máxima eficiência, a expansão do léxico acontece através dos processos de formação

Page 19: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

18

de palavras. Ou seja, a partir de fórmulas padronizadas de construção de novas

palavras a partir do que já existe no léxico.

Para Basílio (2006, p. 10), o léxico é “ecologicamente correto”, pois tem um

banco de dados em permanente extensão, mas utilizando material já existente, assim,

reduzindo a dependência de memória e garantindo a comunicação automática. Por

exemplo, em palavras como: computacional, globalização, etc., percebe-se formas

novas de palavras já existentes: o verbo computar, por exemplo, já existia, e serviu de

base para a formação de computador; o sufixo –ção, também já existente, possibilita

a construção da palavra computação, e assim por diante.

3.2 Formação de palavras e suas implicações para o ensino

O conhecimento acerca dos processos de formação de palavras (que pode

ocorrer através da reflexão sobre o funcionamento da nossa língua portuguesa)

possibilita que os indivíduos percebam que a língua existe como meio de comunicação

entre homens; sendo que as significações linguísticas estão na base dessa

comunicação. Quanto mais se compreende o funcionamento da língua como um

sistema vivo e mutante, mais habilitados os sujeitos estarão para compreender o

Page 20: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

19

contexto no qual estão inseridos e aumentam-se as possibilidades de interpretação e

amplia-se a noção do certo e do errado e passamos então a perceber a língua como

algo que demarca historicamente um povo e um tempo. Diz-se com muita intensidade

que vivemos na sociedade da comunicação e da informação, na qual a palavra dita e,

sobretudo, escrita é utilizada com grande intensidade. As redes sociais modificaram

as relações dos indivíduos com o uso da palavra, o domínio dela, por conseguinte, é

possibilidade de ocupar diferentes espaços de forma adequada e fazendo uso da

riqueza que a língua oferece (HOFF, 2014).

O processo de formação de palavras traz implicações para o ensino, uma vez

que é preciso constante atualização e contextualização para que não se limite o

espaço do aprendiz. Se você parar para pensar, podemos citar inúmeras novas

palavras na nossa língua: agito, xingo, desmate, carreata, entre outras (ROCHA,

1998). A partir dessas novas criações podemos nos perguntar: por que algumas

causam estranheza e outras não? Por exemplo, a palavra desmorrer, já que a forma

desmerecer é aceita. Por que razão a palavra atingimento não é considerada como

uma palavra existente na língua, mas possível de ser criada? Por que uma palavra

proferida por uma figura pública causa tanto comentário? Pense na palavra imexível

e o que ela gerou após ter sido pronunciada por um ministro do Estado. Por que no

Rio Grande do Sul temos como forma consagrada lavagem e em Santa Catarina

lavação?

Estas e outras perguntas devem ser discutidas no âmbito da morfologia. No

decorrer do processo de ensino é necessário levantar alguns questionamentos com

os alunos:

▪ Qual o objetivo de formar novas palavras?

▪ De que maneira formamos novas palavras?

▪ Quando parece ser emergente apropriar-se de novas palavras ou de

palavras de outras línguas?

▪ Quais são as partes integrantes de uma palavra?

▪ A partir de que critério(s) podemos dizer que uma palavra existe em uma

língua?

Page 21: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

20

Portanto, para os processos de ensino e aprendizagem, uma teoria morfológica

da língua objetiva definir como e quais novas palavras podem ser formadas. Assim,

um falante que escuta uma palavra, quer seja pela primeira vez, tem capacidade de

reconhecê-la como uma palavra de sua língua e assim permite a intuição sobre a

estruturação dela e de seus possíveis significados. Dessa forma, uma teoria

morfológica descreve esses fatos, sobretudo os mecanismos formais que criam novas

palavras e a análise de palavras que já circulam nessa língua.

É imperativo que a língua precisa ser ensinada na escola. A gramática

normativa, então, traz as regras. Mas a norma não pode ser uniforme e rígida. Ela

precisa ser elástica e contingente, evidenciando a sua adaptação de acordo com cada

situação social específica em que está inserida. Pense: o professor fala em casa da

mesma e exata forma que fala em sala de aula ou em uma conferência? Se a língua

é variável no espaço e na hierarquia social, como definir uma única representação

como a correta? Reflita sobre essa questão.

3.3 Contribuições históricas para os estudos de morfologia

Qualquer gramática de língua portuguesa que seja consultada dedica um

capítulo ao estudo da morfologia, isso quando consideramos as gramáticas do tipo

normativas. No contexto da linguística, ou seja, no que se refere ao estudo científico

do funcionamento da linguagem, a morfologia como campo de estudo tem,

historicamente, dias de valorização e de esquecimento. No período da gramática

estrutural, ela foi centro de atenção e, portanto, alcançou um progresso. Já no período

da linguística gerativo-transformacional, a morfologia ficou esquecida se comparada

à sintaxe e à fonologia. Observe o que diz Bauer (1983 apud ROCHA, 1998, p. 7):

No momento, o estudo da formação de palavras está sujeito a alterações frequentes. Não há um corpo de doutrina pacificamente aceito nesse campo, de tal forma que os pesquisadores estão sendo obrigados a estabelecer a sua própria teoria e procedimentos à medida que caminham.

Porém, com o percurso histórico das sociedades e um ensaio cada vez maior

de compreensão dos fenômenos que estão postos no mundo, este pensamento tem

dado lugar para estudos cada vez mais aprofundados sobre morfologia. No âmbito da

língua portuguesa, autores se consagram nesse campo e ampliam a visibilidade e a

importância do estudo da ciência das linguagens. Margarida Basílio, por exemplo, tem

Page 22: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

21

uma relevante obra publicada no Brasil, com o título: Estruturas Lexicais do Português:

uma abordagem gerativa, evidenciando assim o interesse crescente pela disciplina.

Quatro são as escolas que estudam e analisam o componente morfológico da língua:

o descritivismo, o historicismo, o estruturalismo e o gerativismo. Para as gramáticas

tradicionais, este tema é de menor relevância. No entanto, no período de influência do

estruturalismo houve um maior interesse, este logo ultrapassado pela teoria gerativista

(HOFF, 2014).

Page 23: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

22

No Brasil, em meados da década de 1960, até inícios da década de 1970,

identificam-se os estágios iniciais da consolidação desse campo, isso com a

obrigatoriedade do ensino da linguística nos cursos de Letras. Em sua segunda fase,

a disciplina passa a integrar com as demais um campo desenvolvido de pesquisa na

graduação e na pós-graduação no país. Trabalhos começam a se destacar, entre eles

os do estudioso Mattoso Câmara Júnior (1970, 1971). É em meados da década de

1970 que a morfologia volta a ser legitimada como objeto de estudo na Teoria

Gerativa, destacando-se o nome de Noam Chomsky (1970).

Neste período de consolidação não poderia ser diferente, como o estudo das

estruturas internas da palavra, a morfologia se confronta com dificuldades de definição

do seu objeto de estudo. Com o decorrer das pesquisas em torno dessa temática

melhores definições são estabelecidas. Passa-se a trabalhar com regras de formação

de palavras. A partir dessa interpretação, historicamente, consolida-se o foco na

competência linguística. Ou seja, parte-se da possibilidade de pensar não apenas nas

formas existentes das formas lexicais, mas potencializar o estudo da ciência

linguística a partir da valorização da potencialidade das línguas para a formação do

novo, com o objetivo principal de atender as necessidades comunicativas.

3.4 Morfologia vs. Sintaxe

Morfologia é a parte da gramática que estuda as palavras de acordo com a

classe gramatical a que elas pertencem. As classes gramaticais são: substantivos,

Page 24: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

23

artigos, pronomes, verbos, adjetivos, conjunções, interjeições, preposições, advérbios

e numerais. Já a sintaxe estuda a função que as palavras desempenham dentro da

oração, isto é: sujeito, adjunto adverbial, objeto direto e indireto, complemento

nominal, aposto, vocativo, predicado, entre outros (HOFF, 2014).

Quando se trata de análise morfológica, os termos da oração são analisados

isoladamente. Já na análise sintática, eles são analisados de acordo com a sua

posição, ou seja, de acordo com a função desempenhada (HOFF, 2014).

Page 25: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

24

De acordo com o apresentado pelas gramáticas modernas, você deve

considerar que a definição de palavra é uma unidade de som composta por vogais,

consoantes, semivogais, sílabas e acentos que compõem enunciados, além de

possuírem classificação morfológica. Já a frase trata-se do enunciado em si, com

capacidade de comunicar, e é analisada sintaticamente (HOFF, 2014).

3.5 Estrutura morfológica

Quanto à estrutura, você precisa conhecer alguns elementos importantes na

formação das palavras:

3.5.1 Morfema: unidade mínima de caráter significativo na palavra.

Considere a palavra “mesinhas”:

▪ mes — elementos básicos da palavra, radical que a identifica.

▪ inh — indica que a palavra está no diminutivo.

▪ a — indica que a palavra é feminina.

▪ s — indica que a palavra é plural.

3.5.2 Raiz ou radical: é a unidade irredutível da palavra, que concentra o seu

significado.

Considere a palavra “casa”, cujo radical é cas:

▪ casinha

▪ casebre

Page 26: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

25

▪ casarão

A partir do radical, você pode constituir várias palavras, acrescentado outros

elementos.

3.5.3 Desinência: é a unidade responsável por caracterizar as flexões. Pode ser

nominal (indicando gênero e número) ou verbal (indicando modo e tempo).

▪ Desinência nominal — menina, menino, criança, crianças.

▪ Desinência verbal — corri, correu, corremos, correram, correrias,

correrá.

3.5.4 Prefixos: são morfemas inseridos antes da palavra, modificando seu sentido.

▪ Atemporal

▪ Contraindicação

▪ Desconfigurado

▪ Refeito

3.5.5 Sufixos: são elementos acrescentados ao final da palavra, também dando

um novo significado.

▪ Panfletagem

▪ Casamento

▪ Rinite

▪ Perfeccionismo

Page 27: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

26

Fonte: concursosprevistos.com.br

3.6 O que é sintaxe?

Sintaxe vem do termo grego syntaxis (ordem, disposição). Tradicionalmente, ela se

refere à parte da Gramática que descreve o modo como as palavras são combinadas

para compor as sentenças. Essa descrição é organizada sob a forma de regras

(FORLI, 2012).

A sintaxe trata das relações que as unidades contraem no enunciado. Seu

ponto de partida é a combinação de formas livres, que segue dois princípios: a

sucessão e a linearidade — ou seja, as unidades se sucedem umas após as outras

numa linha temporal.

Por exemplo, você só pode explicar a expressão “a menina afaga o seu

cachorro” por meio de uma sucessão linear de unidades: a + menina + afaga + seu +

cachorro. Você pode perceber que, em português, há uma sequenciação possível:

menina + afagar + seu + bichinho + de + estimação, que leva à realização “a menina

afaga seu bichinho de estimação”, e não “estimação seu afaga bichinho a menina”.

Dessa forma, a própria língua apresenta elementos possíveis a fim de alterar a ordem

estrutural.

Ou seja, a sua capacidade como falante já é suficiente para que você tenha

algumas informações a respeito da estrutura sintática. Ao falar, você automaticamente

faz essa relação de ordem das palavras, pois apenas assim será compreendido.

O caráter básico da sintaxe é a relação, que resulta na subordinação de um

termo a outro. Com isso, temos a hierarquização dos constituintes oracionais.

Entretanto, a ordem linear, ou sucessão real, dos elementos na sequência falada não

Page 28: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

27

precisa necessariamente coincidir com a sequência determinada por regras de

dependência e hierarquização (FORLI, 2012).

Por ser um dos componentes básicos da linguagem, a sintaxe tem por objetivo

principal fazer certos conteúdos semânticos serem veiculados por meio de

sequências. Por isso, os tipos de elementos utilizados para estruturar as sequências

e dos quais resultam graus diferentes de coesão entre os constituintes variam muito

de língua para língua, mas o esquema e o mecanismo de estruturação do enunciado

são constantes.

3.6.1 Análise sintática

A análise sintática é o método que você deve utilizar quando quiser

compreender a estrutura de uma oração. Para utilizar este recurso de análise, você

precisa conhecer os termos da oração e a função sintática exercida por cada um deles.

De forma geral, você pode identificar os termos da oração em dois grupos: um

contendo os termos essenciais ou fundamentais, que são o sujeito e o predicado; outro

contendo os termos integrantes, que são o complemento verbal, o complemento

nominal e o agente da passiva, e os termos acessórios, que conhecemos por adjunto

adverbial, adjunto adnominal e aposto (FORLI, 2012).

Relembre a função dos termos essenciais na oração:

A menina bonita afaga seu bichinho de estimação.

▪ Sujeito: a menina

▪ Predicado: afaga seu animal de estimação

Ainda nessa frase, você pode identificar alguns termos integrantes, veja:

▪ Núcleo do sujeito: menina

▪ Adjunto adnominal: bonita

▪ Núcleo do predicado verbal: afaga

▪ Complemento verbal (objeto direto): animal de estimação

▪ Adjunto adnominal: de estimação

Page 29: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

28

Fazer a análise sintática de uma oração significa separar cada um de seus

elementos e classificar de acordo com suas características. A compreensão dessa

estrutura da frase vai ajudar você a escrever e pontuar corretamente.

3.7 Procedimentos de análise sintática no nível oracional

Um conjunto de palavras não é uma frase. Para ser frase, qualquer construção

precisa ter alguns princípios da língua. Esses princípios são percebidos por qualquer

usuário, mesmo por aquele com pouca escolaridade. Uma frase precisa,

necessariamente, ter significado. Exemplos:

▪ Pare! Socorro!

▪ Silêncio!

▪ As produções textuais estavam adequadas ao tema exigido.

▪ Exigido textuais as tema ao produções estavam.

Você percebe claramente que a última construção não pode ser considerada

uma frase, pois ela não tem alguns princípios da língua, nem comunica significado

algum. Já as construções anteriores comunicam uma ideia; logo, formam uma frase.

Você conclui, então, que não basta agrupar palavras para ter uma frase: é necessário

que esse agrupamento, esse conjunto, tenha significado para alguém.

Você pode dizer que uma oração é uma frase verbal, ou que ela é parte de uma

frase que obrigatoriamente contém um verbo expresso ou subtendido. Dessa forma,

a oração é diferente da frase por apresentar uma exigência: a presença de um verbo.

É em torno do verbo que os outros termos da oração se estruturam. Exemplos:

▪ Socorro! Boa tarde, queridos alunos!

▪ O livro que você me emprestou deixou a desejar.

▪ Paula toca piano, e seu namorado, violão.

Nos dois primeiros exemplos, você tem somente frase, pois não há presença

de estrutura verbal. Já nos dois seguintes há frase verbal e, portanto, oração, pois os

termos estão estruturados em torno de um verbo.

Page 30: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

29

As frases que não são orações — ou seja, que não têm verbo — não apresentam

estrutura sintática. Isso quer dizer que elas não permitem fazer a análise sintática. Já

as orações — em que as palavras (os termos) estão relacionadas entre si —, elas sim

constituem o que chamamos de termos sintáticos. Veja, então, quais termos da oração

formam uma oração (BARBOSA, 2011).

3.7.1 Termos da oração

Os termos da oração são os elementos sintáticos da oração, formados por uma

palavra ou um agrupamento — conjunto de palavras que desempenham uma

determinada função sintática. Na maioria das gramáticas e manuais de análise

sintática, os termos da oração são enumerados desta maneira (BARBOSA, 2011):

Termos essenciais

Os termos essenciais são aqueles que compõem a estrutura básica de uma

oração. Veja a definição e exemplificação de todos esses termos.

Sujeito: pode-se representar por diversas classes de palavras e seu papel em

uma oração é identificar o responsável pela ação. O sujeito pode ser classificado

conforme a seguir.

Sujeito simples: caso em que há apenas um núcleo, ou seja, o verbo se refere

a somente um substantivo, um pronome, um numeral, uma só palavra substantivada

ou uma só oração substantivada.

▪ O gato estava com fome.

▪ Ele passou a roupa toda.

▪ Todos saíram da reunião.

▪ Os quatro colegas compraram os ingressos.

▪ O desapegar é importante nos dias de hoje.

Page 31: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

30

Sujeito composto: caso em que há mais de um núcleo, isto é, o sujeito é

composto por mais de um substantivo, um pronome, uma palavra substantivada, uma

oração substantiva.

▪ O pai e a mãe superprotegiam o filho.

▪ Ela e eu subimos o morro.

Sujeito oculto: não está expresso na oração, mas pode ser identificado.

▪ Estávamos esperando por este dia. (nós)

▪ Terminei minhas tarefas. (eu)

Sujeito indeterminado: caso em que se desconhece quem executa a ação da

oração.

▪ Comia-se bem naquela casa.

Predicado: restante da oração (excluindo o sujeito). Pode ser verbal, nominal

ou verbo-nominal.

Predicado verbal: tem como núcleo principal o verbo. Exemplos:

▪ Eu fiz minha lição.

▪ Corremos a manhã toda.

Predicado nominal: tem um nome como núcleo e é composto por um verbo

de ligação e um predicativo. Exemplos:

▪ Ela está animada. (Está = verbo de ligação, animada = predicativo do

sujeito)

▪ Julia é inteligente. (É = verbo de ligação, inteligente = predicativo do

sujeito)

Page 32: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

31

Predicado verbonominal: possui dois núcleos, um verbo e um nome, pode ter

um predicativo do sujeito ou do objeto e indicar ação do sujeito e também uma

característica. Exemplos:

▪ As mulheres deixaram o salão irritadas.

▪ Eles assistiram à peça emocionados.

Predicativo: termo na oração que indica uma característica do sujeito ou do

objeto. Exemplos:

▪ Murilo está triste.

▪ Os professores julgaram adequado o reforço das aulas.

Termos integrantes

Os termos integrantes são os que se agrupam a determinadas estruturas, para

tornar essas estruturas mais completas. Acompanhe as explicações e os exemplos a

seguir.

Complemento verbal: composto pelos objetos direto e indireto.

Objeto direto: complemento de um verbo transitivo direto, que não precisa de

preposição. Exemplos:

▪ Recebeu o pagamento atrasado.

▪ Ela ganhou belos presentes.

Objeto indireto: complemento de um verbo transitivo indireto, que precisa de

uma preposição para ligar-se ao verbo. Exemplos:

▪ Necessitava de auxílio para as tarefas.

▪ Nunca doou nada aos pobres.

Page 33: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

32

Complemento nominal: termo que está ligado, por preposição ou substantivo,

ao adjetivo ou advérbio. Exemplos:

▪ Não aguentava mais a demora do ônibus.

▪ Recebeu notícias dela.

Agente da passiva: termo da oração que pratica a ação determinada pelo

verbo, em geral é introduzido por uma preposição. Exemplos:

▪ O e-mail foi escrito pela contadora da empresa.

▪ A nova determinação era conhecida por todos.

Termos acessórios

Os termos acessórios são aqueles que vão acompanhar substantivos,

pronomes ou verbos, informando alguma característica ou circunstância.

Adjunto adverbial: termo da oração que indica uma circunstância (tempo,

lugar, modo, causa, finalidade). Exemplos:

▪ Ela teve uma ideia brilhante.

▪ João não reagiu bem com a situação.

Adjunto adnominal: termo que qualifica ou especifica um substantivo,

independentemente de sua função na oração. Exemplos:

▪ O menino bonito jogava bola com o irmão.

▪ Arthur e João eram amigos de infância.

Aposto: termo da oração que oferece uma explicação referente a um

substantivo, pronome, entre outros. Exemplo:

Page 34: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

33

▪ Os professores, atenciosos e dedicados, organizaram a feira de

ciências.

Vocativo: termo de entonação exclamativa, relacionado com o sujeito, uma

forma de chamamento. Exemplos:

▪ Joana, não grite!

▪ Crianças, venham almoçar!

3.7.2 Tipos de oração

Os termos da oração que você acabou de conhecer são os termos sintáticos,

que fazem parte do que você chama de análise sintática interna — ou seja, são os

termos internos que estão sendo analisados. Contudo, existe também a análise

sintática externa, que faz a análise das orações.

Os tipos de orações que você encontrará na análise sintática externa são os

seguintes.

▪ Orações coordenadas: podem ser aditivas, adversativas, alternativas,

conclusivas e explicativas.

▪ Orações subordinadas substantivas: podem ser subjetivas, objetivas

diretas, objetivas indiretas, predicativas, completivas nominais,

apositivas.

▪ Orações subordinadas adjetivas: podem ser restritivas e explicativas.

▪ Orações subordinadas adverbiais: podem ser causais, conformativas,

temporais, concessivas, finais, consecutivas, condicionais,

comparativas.

3.7.3 Período

Você pode denominar que um período é formado por uma ou mais orações.

Mas frase e período não são a mesma coisa. Um período deve ser constituído por

pelo menos uma oração. Só que nem toda frase é uma oração; logo, nem toda frase

Page 35: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

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pode ser considerada um período. Você pode classificar o período em simples ou

composto.

O período simples é formado por uma única oração. O período composto é

formado por duas ou mais orações. Exemplos:

▪ O teatro estava lotado. → apenas um verbo

▪ O teatro estava lotado e as pessoas aplaudiram com entusiasmo o

espetáculo. → dois verbos

4 CLASSES DE PALAVRAS E FUNÇÕES SINTÁTICAS

Com a leitura deste capítulo, você vai compreender cada vez mais a

morfossintaxe. Você vai conhecer alguns aspectos referentes às classes de palavras,

sobretudo no contexto da predicação nominal e dos complementos nominais.

Os objetivos estão centrados na determinação da relação entre as classes de

palavras e suas funções sintáticas; no estabelecimento da relação entre morfologia e

sintaxe e também na análise da construção dos elementos que compõem o predicado

nominal e seus papéis temáticos na estruturação dos textos em língua portuguesa.

Fonte: https://www.cidadaocultura.com.br/

As classes de palavras, também denominadas categorias lexicais, são

elementos que pertencem ao léxico. Dessa forma, em língua portuguesa, são

encontradas dez diferentes classes de palavras. São elas:

Page 36: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

35

▪ Substantivo

▪ Adjetivo

▪ Artigo

▪ Pronome

▪ Numeral

▪ Verbo

▪ Advérbio

▪ Preposição

▪ Conjunção

▪ Interjeição

A classe de palavras denominada substantivo, por exemplo, é definida desta

forma por sua propriedade semântica de designar seres ou entidades. Pela sua

propriedade morfológica, apresenta determinação de flexão de gênero e número e

pela propriedade sintática ocupa o núcleo do sujeito e complementos. Portanto, cada

uma das categorias lexicais é denominada de acordo com os três critérios:

morfológico, semântico e sintático.

Nesta análise, vamos nos valer do critério sintático para a caracterização das

dez classes gramaticais. Logo, o substantivo é um termo determinado e ocupa o

núcleo de uma expressão, ou seja, é sintagma nominal. Os adjetivos, como segunda

classe lexical, é composta de termos determinantes, ou seja, é representada por

termos que qualificam o substantivo a que fazem referência, portanto, concordam em

gênero e número com ele (CASTRO, 2011).

Substantivo: termo determinado com posição de núcleo (N) de uma expressão

(sintagma nominal). Exemplo: A bola (N) caiu.

Adjetivo: termo determinante do substantivo a que se refere; termos, estes,

que qualificam o substantivo e concordam em gênero e número com N. Exemplo: A

pequena (adjetivo feminino singular que determina o substantivo feminino bola) bola

caiu.

Page 37: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

36

A terceira classe de palavras engloba outros termos determinantes, são eles os

artigos. Estes determinam ou indeterminam o substantivo (N) a que se referem. Esta

classe de palavras também concorda em gênero e número com o núcleo do sintagma

nominal. Em seguida, temos os pronomes, como quarta classe de palavras. Estes

itens especificam o substantivo, e nesta situação são determinantes, ou substituem o

substantivo, nesta situação passam a ser termos determinados (BECHARA, 2005).

Artigo: termo (in) determinante do substantivo; concorda em gênero e número.

Exemplo: A (artigo feminino singular, determina o substantivo feminino bola) bola (N)

caiu.

Pronome: termo determinante do substantivo a que se refere; termo, este, que

qualifica o substantivo e concorda em gênero e número com N. Exemplo: A minha

(pronome feminino singular que determina o substantivo feminino bola) pequena bola

caiu.

Pode substituir o substantivo. Exemplo: Ela caiu.

Os verbos como classe de palavras, do ponto de vista sintático, são

predicadores que selecionam e relacionam os termos da oração. Mas, podem ser,

também, de ligação, e expressar noções gramaticais de tempo, modo, aspecto

número e pessoa. Dessa forma, junto com o nome, compõem a predicação. Após os

verbos, temos o advérbio como sétima classe lexical. Como termos determinantes, os

advérbios especificam a significação do termo a que se referem (BECHARA, 2005).

Verbo: predicadores (selecionam e relacionam os termos da oração) ou de

ligação (expressam noções gramaticais). Exemplos: (1) A bola quebrou (verbo

predicador) o vidro. (2) A bola é (verbo de ligação) pesada.

Advérbio: termo determinante do substantivo a que se refere; este tipo de

classe, especifica a significação do termo a que se refere. Exemplo: A bola furou

ontem (noção de tempo para o verbo furar).

Page 38: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

37

A preposição, como classe de palavras, é identificada pela sua característica

sintática de conexão dos elementos da oração, subordinando-os. A conjunção

também conecta termos, mas pode subordinar ou coordenar elementos. Já a classe

lexical composta pelas interjeições tem função sintática de frase, pois apresenta

sentido completo (BECHARA, 2005).

Preposição: conecta e subordina elementos da oração. Exemplo: A bola da

Joana furou. (Preposição de mais artigo a = da, preposição que subordina o elemento

bola à Joana).

Conjunção: responsável por conectar termos, mas pode subordinar ou

coordenar os elementos. Exemplos: Ela perdeu a bola porque foi desatenta.

(Conjunção subordinativa adverbial causal; logo, a causa de perder a bola foi a

desatenção) Julia gosta de jogar bola, mas também de ler. (Conjunção coordenativa:

Julia gosta de jogar bola/Julia gosta de ler; logo, conjunção coordenativa aditiva).

Interjeição: estes termos apresentam sentido completo, logo, têm função

sintática de frase. Exemplo: Puxa! A bola furou! (Puxa = interjeição que sintetiza uma

frase exclamativa).

Conforme você pode identificar, as classes de palavras em língua portuguesa

são representadas por dez grupos específicos. Cada um deles apresenta determinada

classificação conforme critérios semânticos, morfológicos e sintáticos. Nesta etapa de

leitura, o estudo está concentrado na análise sintática das classes lexicais. Certo?

Com relação às funções sintáticas desempenhadas pelas diferentes classes

gramaticais temos algumas definições. Os substantivos exercem por excelência a

função de sujeito (ou núcleo do sujeito) da oração e, no domínio da constituição do

predicado, podem exercer função de objeto direto, complemento relativo, objeto

indireto, predicativo, adjunto adnominal e adjunto adverbial.

Os adjetivos, como classe de palavras que se relaciona diretamente com os

substantivos, podem desempenhar função sintática de adjunto adnominal ou de

predicativo. Como predicativo ele é necessário para completar o sentido da oração

(CASTRO, 2011). Observe:

Page 39: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

38

▪ O dia está bonito. (O dia está. Neste caso, o adjetivo funciona como

predicativo, completa o sentido da oração e qualifica o substantivo dia.)

▪ O dia belo começava com o raiar no horizonte. (Neste caso, o adjetivo

desempenha função sintática de adjunto adnominal, não sendo um

termo necessário — O dia começava com o raiar no horizonte — e

qualifica o substantivo dia.)

Os artigos, como terceira classe de palavras, conforme ordem de apresentação

neste material, são termos que sintaticamente desempenham função de adjunto

adnominal, uma vez que sempre se referem a um substantivo — ou a uma palavra

por ele substantivada — e indicam seu gênero e seu número (CASTRO, 2011).

Exemplo: Ninguém entendeu o porquê dessa fúria.

Os pronomes, como classe de palavras que reúne termos que especificam e

que substituem o substantivo, podem desempenhar diversas funções quando

estabelecidas relações sintáticas entre os elementos que compõem as orações. Entre

elas, podem desempenhar papel de sujeito (CASTRO, 2011). Por exemplo, em uma

estrutura como: Eles chegaram cedo.

Mas o pronome também pode ser classificado sintaticamente como objeto

indireto. Exemplo: Não fale nada para ele.

E também como predicativo do sujeito: As culpadas foram elas.

Em tempo: os pronomes podem desempenhar função sintática de adjunto

adnominal. Exemplo: Muitos viajantes desistiram da viagem por causa do preço do

dólar.

Com relação aos numerais, é preciso observar, primeiramente, se eles estão

substituindo ou acompanhando o substantivo. Nas orações em que o numeral é

substantivo, ele pode desempenhar as mesmas funções do substantivo. Logo, pode

ser sujeito, objeto direto, complemento relativo, objeto indireto, predicativo, adjunto

adnominal e adjunto adverbial (CASTRO, 2011).

Nesta primeira situação, temos o seguinte exemplo de numeral substantivo: Um

é pouco e três é demais.

Agora, o numeral adjetivo, como aquele que acompanha um substantivo, a

função sintática possível é de adjunto adnominal. Neste segundo caso, temos o

exemplo: Duas pessoas compareceram à aula.

Page 40: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

39

Os verbos, como uma extensa classe de palavras, desempenham função

sintática de núcleo do predicado verbal. Todas as orações são organizadas em torno

de um verbo (ou ausência de um) ou de uma locução verbal e o verbo sempre faz

parte do predicado. Logo, os verbos desempenham função sintática de núcleo do

predicado verbal. Nos casos dos verbos de ligação eles não desempenham papel de

núcleo do predicado. Neste caso, eles ligam dois elementos da oração: o sujeito e o

seu predicativo.

Advérbio desempenha na oração papel de adjunto adverbial. Estes termos são

de natureza nominal ou pronominal e se referem ao verbo, ou ainda, dentro de um

grupo nominal unitário, a um adjetivo ou um outro advérbio (nesse caso como

intensificador). Exemplo: (1) Maria é muito boa escritora. (O advérbio refere-se ao

adjetivo boa). (2) Maria escreve muito bem. (O advérbio refere-se ao advérbio bem).

A preposição não desempenha papel sintático nas orações. Elas estabelecem

conexão entre elementos (próximo do descrito anteriormente para os verbos de

ligação). É por este fato que são classificadas como conectivas ou palavras

relacionais. Mas lembre-se de que as preposições são fundamentais para a coesão

textual. Além dessas, as conjunções também desempenham papel de elementos de

ligação. Nesse caso, a morfossintaxe da língua identifica as conjunções como

conectivos (CASTRO, 2011).

A última classe de palavras, ou seja, a das interjeições, faz o fechamento desta

etapa da leitura. Esse grupo lexical abrange as expressões com que os indivíduos

traduzem os seus estados emotivos. As interjeições têm existência autônoma e, a

rigor, constituem verdadeiras orações. Elas podem assumir papel de unidades

interrogativas-exclamativas e também de chamamento, desempenhando, neste caso,

papel de vocativo.

4.1 Relação entre morfologia e sintaxe

Conforme vimos até o momento, a análise desenvolvida para a interpretação

das possíveis funções sintáticas das classes de palavras está diretamente relacionada

com a análise sintática e morfológica dos elementos que compõem a língua

portuguesa. Apenas é possível delimitar a função sintática das palavras, a partir da

relação que elas estabelecem com os outros termos da oração.

Page 41: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

40

À morfologia cabe o estudo da estrutura, da formação e da classificação das

palavras. Neste campo de estudo, olhamos para as palavras de forma isolada. É no

contexto da morfologia que identificamos as dez classes de palavras, os seus

respectivos integrantes e as suas especificidades (ROCHA, 1998). À sintaxe, por sua

vez, investiga a disposição das palavras que compõem as frases e as orações. Ou

seja, na relação entre os elementos (relações sintáticas) podemos identificar

diferentes funções sintáticas para uma mesma classe gramatical. É por este caráter

de análise relacional que um substantivo pode desempenhar função de sujeito e em

outra situação pode ser classificado sintaticamente como objeto direto.

Logo, a relação entre morfologia e sintaxe é denominada morfossintaxe, ou

seja, neste contexto, analisamos as palavras e identificamos as classes as quais elas

pertencem (substantivo, artigo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, advérbio,

preposição, conjunção e interjeição), mas, uma vez complementada pela análise

sintática, os elementos das classes de palavras podem ser: sujeito, predicado, objeto

direto, objeto indireto, predicativo do sujeito, predicativo do objeto, complemento

nominal, agente da passiva, adjunto adnominal, adjunto adverbial e aposto (CASTRO,

2011).

Dessa forma, é na análise simultânea que podemos delimitar as funções

sintáticas das classes gramaticais. Morfologicamente, as classes são estáticas, mas

sintaticamente se movimentam e um mesmo elemento pode desempenhar diferentes

funções.

Page 42: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

41

5 SINTAXE E SEMÂNTICA

A linguagem é um sistema de signos simbólicos que expressa ideias e

sentimentos, e para que haja compreensão entre as pessoas, seus discursos têm que

estar semanticamente coerentes. Neste texto, você vai aprender que a semântica

prevê a relação mundo-discurso a partir da articulação das palavras com os

significados que elas veiculam, bem como a partir das relações que as palavras

estabelecem entre si na linearidade do discurso.

Fonte: www.stoodi.com.br

A sintaxe está relacionada com os aspectos superficiais da linguagem, como

estrutura e forma. Ela funciona como um conjunto de regras de combinação para

formar palavras, frases e orações. Já a semântica está relacionada com o significado

dessas construções sintáticas. Podemos conhecer a estrutura de uma palavra

isoladamente, porém é por meio da semântica que entenderemos o seu sentido

(BARBOSA, 2010). Por exemplo: Alea jacta est.

Essa frase significa “A sorte está lançada”. Esse exemplo mostra que, mesmo

você conhecendo a estrutura das palavras e sendo capaz de pronunciá-las, como

você não conhece a semântica (ou seja, o seu significado), esse enunciado não faz o

mínimo sentido para você. De acordo com a convivência com linguagens tidas como

“diferentes” ao nosso léxico, você passa a compreendê-las de maneira mais simples,

pois, à medida que o tempo passa, a sintaxe e a semântica vão se articulando de

maneira automática em sua mente.

Page 43: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

42

Perceba também que, para entender o significado dessa frase, você precisou

ir além do sentido literal de cada palavra, não é mesmo? A sorte não é um objeto e

não pode ser lançada para algum lugar. Você compreendeu que alguém está

dependendo da sorte por experiência pessoal.

Veja mais um exemplo:

1. O campeão venceu novamente.

2. A bola venceu novamente.

Por mais que a estrutura sintática da frase (2) esteja adequada (sujeito = a bola,

predicado verbal = venceu novamente), ela não tem sentido. Você sabe que a bola é

um objeto inanimado, logo, não pode efetuar nenhuma ação.

A força da “coerência semântica” é tão importante que, mesmo que a

organização sintática esteja alterada, a frase ou enunciado ainda possuirá sentido.

Para compreender melhor essa afirmação, veja mais um exemplo: Quando 900 anos

de idade você atingir, parecer tão bem você não vai.

Apesar de a estrutura estar alterada, o falante/ouvinte pode compreender

perfeitamente o seu enunciado. Porém, se a estrutura sintática for perfeita e a sua

semântica apresentar defeitos, o ato de comunicação é considerado um fracasso

(BARBOSA, 2010). Por exemplo: Ideias verdes incolores dormem furiosamente.

Além disso, se a estrutura de uma oração for reorganizada, podemos obter um

novo enunciado com sentido totalmente diferente, como observado nos seguintes

exemplos: (1) Os grevistas pensam que o patrão não percebeu. (2) O patrão sabe que

os grevistas não perceberam.

Às vezes, as falhas na estrutura podem originar grandes falhas de

entendimento (significado semântico), como nos casos de estruturas ambíguas, nas

quais, em geral, a pontuação é definitiva para o entendimento adequado. Veja os

exemplos:

▪ Não quero saber!

▪ Não, quero saber.

▪ Vamos perder, nada está resolvido.

▪ Vamos perder nada, está resolvido.

Page 44: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

43

A complexidade da linguagem humana não se reduz somente a regras lógicas,

pois o discurso pode ser analisado segundo diferentes perspectivas. Você pode

analisá-lo do ponto de vista da sua estrutura, por exemplo. Nesse caso, é a sintaxe

que analisa as relações entre os signos, independentemente do que eles designam.

Um conjunto de letras escritas ao acaso não pode ser considerado uma

palavra, como você pode perceber em “aiu”. Para que se torne uma palavra da língua

portuguesa, as letras terão de ser estruturadas conforme certa ordem: “joia”. Da

mesma forma, uma série de palavras só se constrói como uma estrutura frasal quando

as palavras se relacionam de certa maneira, desempenhando, cada uma delas,

diferentes funções. As palavras “a”, “está”, “sorte” e “lançada” só representam uma

estrutura frasal se apresentarem-se na posição “A sorte está lançada” (BARBOSA,

2010).

Nessa mesma reflexão, o discurso exige uma sequência de enunciados que se

relacionam entre si de acordo com determinada ordem, obedecendo a regras,

estabelecendo-as e analisando-as. Todo esse movimento articulatório é objeto da

sintaxe. Por isso, a sintaxe é denominada análise de regras que regem o

encandeamento dos signos no interior dos diversos atos de fala ou de discurso.

A conexão sintática entre os enunciados é garantida por uma série de termos

de ligação. Sem eles, não seria possível relacionar proposições diferentes, mas

somente construir proposições isoladas, como “o filme foi surpreendente” ou “o filme

é bom porque aborda assuntos importantes”.

Para ter proposições e assim construir um discurso, você precisa usar

determinados signos – como “e” e “ou”, entre outros – que concedem ao discurso a

sua estrutura. Assim, a sintaxe lógica é o estudo das relações entre os signos e as

proposições, abstraindo do seu significado; por isso, ela é a teoria da construção de

toda a linguagem lógica. Ela trata da determinação das regras que consentem

combinar os símbolos elementares de modo a construir proposições adequadas.

A análise sintática, ao lado da semântica e da pragmática, corresponde a outro

momento de investigação dos signos linguísticos, em que o foco de observação é sua

relação com os demais que integram o sistema. Dessa forma, o conceito por meio da

análise semântica desloca a investigação linguística para a relação formal com os

demais integrantes do sistema; nesse ponto em particular, as regras de sintaxe são

representadas, sobretudo, pela gramática (BARBOSA, 2010).

Page 45: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

44

Isso acontece porque esses signos linguísticos não são utilizados sem a

reflexão do falante. As regras convencionalmente estabelecidas devem ser

obedecidas a fim de que, ordenadas, seja possível não só ao falante produzir sua

mensagem, como também ao ouvinte decodificar e apreender seu conteúdo. Veja um

exemplo na tirinha a seguir:

O caráter de coloquialidade se expressa pelo uso da forma verbal composta no

pretérito imperfeito do modo indicativo (tinha consertado). De acordo com a norma

padrão da língua, dado o tom hipotético da oração, deveria ser utilizado o imperfeito

do modo subjuntivo, tendo então “Pensei que você tivesse consertado” (ENEM, 2009).

Sendo assim, a análise sintática no trabalho da interpretação tem seu campo

restrito à relação dos signos entre si, uma vez que não se preocupa com o significado.

Ela se situa apenas no plano estrutural do sistema de linguagem. A expressão oral é

feita pela escrita, as regras a serem observadas são as originadas da gramática. Por

meio da investigação, você procura verificar se os termos foram corretamente

empregados dentro de uma proposição em nível de concordância entre sujeitos,

objetos, predicado, advérbios, e assim por diante, de acordo com as regras em vigor

para o idioma nacional.

Você pode perceber, portanto, que a semântica depende da sintaxe. O

emprego inadequado dos termos não só é um equívoco estético, como também pode

impossibilitar a adequada interpretação do texto, distanciando o falante,

involuntariamente, do sentido da mensagem que pretende transmitir.

Page 46: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

45

5.1 Semântica

Até aqui, você analisou a relação dos signos (significado + significante) – ou

melhor, das palavras com os seus referentes (os objetos por eles designados) ou com

outros signos com idêntico ou distinto significado. Agora, você vai estudar os

problemas postos pela interpretação do significado dos signos, o estudo denominado

semântica. A semântica trata da significação ou do valor de verdade e/ou falsidade

das proposições (BARBOSA, 2010).

A fim de entender o que o falante quer dizer, você deve conhecer o contexto da

enunciação; em outras palavras, precisa conhecer quem disse, em que circunstâncias

disse e com qual intenção disse. Para você entender o que um colega comunica em

uma conversa, o que o médico fala em uma consulta ou o que um cronista escreve

em um artigo de jornal, não basta dominar o código. O domínio da língua é

fundamental, mas não é o bastante para você compreender a mensagem produzida

pelo falante naquele momento, naquele contexto. Os sujeitos que participam no

momento da comunicação empregam o significado do que é falado. Tal significado

depende de alguns fatores, como a experiência que a pessoa tem e o modo como as

expressões são usadas (BARBOSA, 2010).

5.2 Relações semânticas entre as palavras

Como já mencionado, a semântica trata da significação, ou seja, do sentido das

palavras agrupadas em uma oração. Quanto ao aspecto semântico da língua, é

importante que você conheça especificações desse tipo de avaliação. Acompanhe.

Sinonímia

Page 47: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

46

A sinonímia é o termo usado para designar palavras que representam a mesma

ideia, ou seja, palavras sinônimas.

▪ A casa em que moro é muito aconchegante.

▪ Meu lar é bastante agradável.

Perceba que o substantivo “casa” pode ser substituído por “lar” sem que haja

perda de sentido ou que o interlocutor perca a ideia transmitida pela frase. O mesmo

ocorre com os advérbios “muito” e “bastante” e os adjetivos “aconchegante” e

“agradável”.

Antonímia

A antonímia trata exatamente do oposto da sinonímia, ou seja, é o termo

utilizado para designar palavras com sentidos contrários.

▪ Ela administra bem suas finanças e economiza muito dinheiro.

▪ Ela administra mal suas finanças e gasta muito dinheiro.

Nessas frases, você pode perceber o sentido de contrariedade nos advérbios

“bem” e “mal” e nos verbos “economizar” e “gastar”.

Metonímia

A metonímia trata da substituição de um termo por outro com sentido

semelhante, que fornece a mesma ideia, mas que não tem exatamente o mesmo

significado, se posto fora de contexto, por exemplo.

Page 48: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

47

▪ Gosto de Chico Buarque.

Aqui, você vê a substituição da obra pela pessoa que a produz. Você consegue

entender que ao dizer “gosto de Chico Buarque” não estou me referindo à pessoa,

mas à obra produzida por ela.

▪ Usei Bombril para deixar as panelas brilhando.

Nesse caso, foi trocado o produto pela marca. Em determinado contexto, país

em que se vive, por exemplo, esse tipo de substituição fará sentido, mas talvez em

outro não. Lembre-se de que a metonímia só fará sentindo para o interlocutor se ela

estiver adequada à realidade e contexto social dele.

6 PALAVRAS E SINTAGMAS

Vamos tratar do léxico da língua portuguesa, com o objetivo de ampliar os

conhecimentos sobre as características e as propriedades de cada palavra.

Observaremos o conjunto arbitrário de palavras e conheceremos a relação que se

estabelece entre palavras e sintagmas, analisando o que isso significa para o

funcionamento da língua portuguesa.

Os objetivos do capítulo estão centrados na descrição dos itens lexicais e nos

aspectos que eles englobam na análise morfossintática; na demonstração dos

mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em classes; e,

por último, no exame das características do sintagma nominal e do sintagma verbal.

Fonte: https://conceitos.com/

Page 49: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

48

6.1 Itens lexicais na análise morfossintática

Segundo Basílio (2004), o léxico apresenta certo teor de regularidade e é

elemento fundamental da organização linguística da língua, seja do ponto de vista

semântico ou gramatical. O conhecimento lexical permite analisar certas estruturas da

língua, seja em uma abordagem textual ou mesmo estilística. O que ocorre é que os

diferentes processos de derivação, de mudança e de extensão das classes das

palavras são traduzidos em estruturas morfológicas lexicais. É por essa característica

que se destaca a relevância do conhecimento dos itens lexicais e de seus aspectos

no contexto da análise morfossintática.

Primeiramente, é preciso saber que existe uma vasta possibilidade de

nomenclatura. De acordo com diferentes estudiosos, é possível encontrar

semelhanças e diferenças na classificação das palavras, dos vocábulos, dos lexemas,

das unidades ou itens lexicais. Neste capítulo, o foco se manterá na compreensão da

palavra, dos itens lexicais e dos sintagmas.

Vamos iniciar com os itens lexicais. Você sabe o que é um item lexical?

A língua existe para que possamos nos comunicar. Logo, é necessário

identificar as coisas sobre as quais queremos falar. Assim, é possível designar

pessoas, lugares, objetos, etc. Identificamos a língua como um sistema de

classificação e de comunicação. Nesse contexto, o papel do léxico apresenta dupla

função para língua: ele é um banco de dados com uma classificação prévia que

fornece unidades básicas para que o falante construa enunciados (BASÍLIO, 2004).

Assim sendo, o léxico categoriza aquelas coisas sobre as quais falamos, fornecendo

unidades de designação denominadas palavras. A palavra, portanto, desempenha

papel fundamental no processo de comunicação, pois possibilita identificação,

categorização e nomeação da realidade que cerca os falantes. É assim que os

indivíduos geram o léxico de sua língua (CASTRO, 2020).

Consideremos, agora, a seguinte questão: o que é palavra e o que é léxico?

Compreendemos a palavra como unidade de designação utilizada para a

construção de enunciados. No entanto, um conjunto fechado dessas unidades não é

suficiente para uma língua. Observe, por exemplo, as palavras que são incorporadas

ao cotidiano de fala dos indivíduos de determinada língua. Esse sistema não é

estático, ampliamos as unidades de designação, pois temos necessidade de

Page 50: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

49

classificar situações, objetos e pessoas de formas não antes feitas. Por esse motivo,

produzimos (e reproduzimos) novas denominações. Precisamos de um sistema

dinâmico, que seja capaz de se expandir e de se moldar conforme às necessidades

dos falantes. Por exemplo, o léxico oferece as unidades de designação, como global;

a partir delas, elaboramos novos itens lexicais, tal como globalização

O léxico não se limita a um conjunto fechado de palavras. Ele é dinâmico e

apresenta estruturas que podem ser utilizadas para sua expansão. Dito de outro

modo, o léxico é mais do que palavra. No léxico, estão as estruturas e os processos

de formação de palavras que possibilitam a formação de novas unidades lexicais e,

por conseguinte, permitem a aquisição de palavras novas para os falantes (CASTRO,

2020).

Não devemos confundir item lexical com palavra: o primeiro faz referência aos

itens que estão armazenados na memória do falante; o segundo nomeia o termo que

é utilizado de acordo com a teoria gramatical. Assim sendo, existe o léxico externo e

o interno, conforme delimita Basílio (2004). Como conjunto de palavras, temos o léxico

externo, ou seja, aquele grupo que se verifica nos enunciados dos falantes. O conjunto

interno, ou mental, corresponde às palavras conhecidas pelo falante e também aos

padrões gerais de estruturação para interpretação e produção de novas formas. Para

a análise morfossintática, essa diferenciação é importante. Interpretamos palavra

como categoria mais genérica. Item lexical, no entanto, deve ser percebido como

unidade de nomeação de verbos e substantivos e outros, ou seja, como unidade

semanticamente registrada no léxico de uma língua, com potencial de combinação

com outros elementos afixais para formação de outras unidades ou sintagmas.

Para a análise morfossintática, a normalização dos itens lexicais é

imprescindível, pois esse é o processo que reduz as variações de uma palavra para

sua forma única. Os componentes formadores de palavras são o radical e os afixos.

O radical é o elemento básico, enquanto os afixos podem ser incorporados às palavras

para formar outras. Esses processos afetam significativamente a palavra original;

podem, inclusive, alterar a sua categoria morfológica (CASTRO, 2020).

Page 51: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

50

6.2 Mecanismos mórficos ou sintáticos para a identificação das palavras em

classes

Classes de palavras são conjuntos abertos de palavras, os quais podem ser

definidos a partir das propriedades ou funções semânticas e gramaticais. Conhecer

as classes de palavras é fundamental para a compreensão do funcionamento de uma

língua, pois elas expressam as propriedades gerais das palavras. De fato, só é

possível descrever os mecanismos gramaticais mais óbvios, como a concordância de

gênero e número do artigo com o substantivo, se soubermos determinar qual palavra

pertence a cada classe.

De acordo com a gramática tradicional, podemos classificar as palavras de

diversas maneiras. É possível indicar uma classificação conforme acentuação (átonas

ou tônicas) por exemplo. Entretanto, o que está convencionado como classe de

palavras (ou categorias lexicais) corresponde a uma classificação mais específica, a

qual está relacionada com critérios semânticos ou gramaticais de análise (CASTRO,

2020).

Existe um critério ou um conjunto de critérios de classificação de palavras?

Existem divergências quanto a isso, mas, neste momento, é relevante pensar nos

critérios, uma vez que as classes de palavras são importantes para a descrição

gramatical. Dessa forma, pense na definição apenas semântica do substantivo, sobre

como ele se comportam nos enunciados. Esse critério daria conta da explicação? Não.

A posição de ocorrência das palavras na elaboração dos enunciados é essencial para

descrição gramatical. Desse modo, apenas o critério semântico não basta para a

descrição gramatical.

A definição sintática do substantivo como núcleo do sujeito, agente da passiva

ou objeto indica posições estruturais, mas não evidencia as propriedades de

concordância do substantivo em relação ao adjetivo, por exemplo. Do mesmo modo,

a definição sintática ou semântica do verbo não evidencia as necessidades das várias

formas verbais que expressam tempo, modo, número e pessoa. Portanto, conclui-se

que os propósitos de descrição gramatical exigem das classes de palavras uma

definição com diversos critérios. Assim sendo, para efeitos da descrição gramatical,

as classes de palavras devem ser definidas simultaneamente por critérios

morfológicos, sintáticos e semânticos (CASTRO, 2020).

Page 52: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

51

6.3 Principais categorias lexicais

Como elementos do léxico, as classes de palavras podem ser denominadas

categorias lexicais. Segundo Basílio (2006), as classes de palavras que estão

envolvidas em processos de formação de palavras são as seguintes: „ Substantivos „

Adjetivos „ Verbos „ Advérbios.

A primeira classe de palavras, substantivos, é definida pela propriedade

semântica de designação de seres ou entidades; pela propriedade morfológica de

determinação de gênero e número; e, por fim, pela propriedade sintática de ocupar a

posição de núcleo do sujeito ou complemento.

A classe dos adjetivos é definida pela propriedade de caracterização ou

qualificação, sobretudo dos seres designados pelos substantivos. Os verbos, como

classe de palavras, representam relações no tempo e têm a função de predicação

com flexões de tempo e modo. Por último, a classe dos advérbios representa aquela

composta de palavras invariáveis com função de modificar os verbos, os adjetivos e

outros advérbios e enunciados.

As classes de palavras (ou categoria lexicais) são a base para a descrição dos

processos de formação de palavras. Por exemplo, a adição do sufixo -dade a um

adjetivo forma um substantivo: no caso do adjetivo leal, por meio da adição do sufixo

-dade, temos o substantivo lealdade. Assim, podemos constatar que a definição de

classes de palavras deve seguir os requisitos da descrição gramatical, bem como

aqueles requisitos relacionados ao processo de formação de palavras.

Quando afirmamos que o sufixo -ção é adicionado aos verbos para a formação

de substantivos, não se afirma apenas que ele se acrescenta a palavras que ocupam

o núcleo do predicado para formação de palavras que ocupam o núcleo do sintagma

nominal; na verdade, consideramos que palavras a que -ção é aplicável designam

eventos e situações que estão representadas no tempo e apresentam flexão de

tempo/modo/aspecto e número-pessoa. Portanto, as palavras produzidas designam

eventos e situações sem a marca de representação no tempo, sem flexão e com a

propriedade de acionar os mecanismos de concordância tanto de gênero quanto de

número.

Page 53: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

52

6.4 Sintagma nominal e sintagma verbal

Sintagma é um termo utilizado para designar dois elementos consecutivos. Um

deles é o determinado (principal) e o outro é o determinante (subordinado). Quem

introduziu este termo foi Ferdinand de Saussure (2006). Por exemplo, em um sintagma

básico, composto de sujeito e predicado, o elemento determinado é o verbo; o

determinante, o sujeito.

O que o sintagma identifica é a impossibilidade de dois termos serem

pronunciados ao mesmo tempo, ou seja, existe linearidade na expressão do signo.

Além disso, um termo apenas passa a ter valor depois de ser contrastado com outro.

O sintagma, portanto, trata da combinação de formas mínimas em unidades

linguísticas superiores. O que existe, em essência, é reciprocidade, coexistência e

solidariedade entre os elementos presentes na fala. Essa relação é sintagmática e

concebe o sintagma no plano mórfico e sintático. Dentro desse contexto, identifica-se

uma subdivisão dos sintagmas, de acordo com o núcleo que os compõem. Os tipos

de sintagma são: nominal, verbal, adjetival, adverbial e preposicional.

Neste momento, vamos centralizar nosso estudo em apenas dois tipos: nominal

e verbal.

6.4.1 Sintagma nominal

De acordo com Mioto, Silva e Lopes (2005), o sintagma nominal é composto,

obrigatoriamente, por um nome, seguido de seus determinantes. Esses determinantes

podem ser pronomes ou palavras que, em suas origens, pertenciam a determinadas

classes lexicais, mas que, a partir da recategorização, passaram a desempenhar o

papel de nomes.

O núcleo, portanto, pode ser combinado com outros elementos, como

complementos (a conquista da batalha), modificadores (o vestido azul) e também

especificadores, que podem ser definidos pelos determinantes e pelos quantificadores

(muitas balas). Portanto, as funções sintáticas que o sintagma nominal pode

representar são: sujeito, predicativo, objeto direto, indireto e oblíquo (nominal e

verbal), aposto, adjunto adverbial e vocativo (CASTRO, 2020).

Page 54: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

53

No caso de o sintagma nominal apresentar apenas um especificador, este

ocorrerá na posição inicial do sintagma (esta aluna, muitos estudantes, etc.). Por outro

lado, quando o especificador for um quantificador não determinante, este pode acorrer

entre um determinante definido e o nome. Por exemplo: as várias amigas da Luiza.

Neste caso, a posição é intermediária.

Assim sendo, os quantificadores todos e ambos, quando iniciando sintagma

nominal, não podem preceder diretamente um nome sem a presença de um

determinante. Por exemplo: todas as ruas, ambas as ruas. Para confirmar essa

afirmação, pense na possibilidade da estrutura: todas casas e ambas casas. Essas

duas construções são agramaticais. No entanto, estes quantificadores podem ocorrer

na posição pós-verbal. Observe os exemplos de substituição:

▪ Todos os carros eram vermelhos → Os carros eram todos vermelhos.

▪ Ambas as meninas comeram doces → As meninas comeram ambas os

doces.

Com relação à função sintática exercida pelo sintagma nominal, no contexto da

oração, temos, na maioria dos casos, sujeito e complementos verbais da oração.

Analise o exemplo e as funções desempenhadas pelos sintagmas nominais:

▪ Os estudantes escreveram um texto.

Neste exemplo, são registrados dois sintagmas nominais: um na função de

sujeito e outro na função de objeto (complemento direto). Primeiramente, na função

de sujeito temos os estudantes como núcleo; sendo que o núcleo está em

estudantes, acompanhado do especificador os. Na função de objeto (complemento)

direto, temos um texto. Nesse segundo sintagma nominal, o núcleo é texto, e o

especificador determinante, um.

Page 55: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

54

6.4.2 Sintagma verbal

O segundo tipo de sintagma é o verbal, conforme apresenta Mioto, Silva e

Lopes (2005). Como o nome enuncia, o sintagma verbal é constituído pelo predicado

da oração. Nesse caso, o núcleo é o próprio verbo. Observe o exemplo a seguir:

▪ As colegas chegaram

Nesse exemplo, o predicado é o verbo chegaram. Este representa o sintagma

em evidência. Nesse tipo de sintagma, os elementos relacionados a ele são

denominados argumentos do verbo, os quais podem ocorrer inclusive na forma de

sintagma nominal, adjetival, adverbial ou preposicional. Desempenhando funções de

predicativo (predicação secundária), de objeto (complemento) direto, indireto ou

oblíquo (adverbial e nominal), os constituintes são exigidos pelo verbo. Sem esses

determinantes, não há oração com sentido completo; tanto sintaticamente quanto

semanticamente, são necessários para organização coerente das orações.

Com relação aos argumentos dos verbos, eles podem ser externos (o sujeito)

ou internos (os complementos). No entanto, nem todos os sintagmas verbais

apresentam complemento. Os verbos intransitivos, por exemplo, são exemplos de

sintagmas verbais desse tipo. Observe:

▪ Chove.

▪ Nevou.

Nesses exemplos, as frases são compostas de apenas um membro: o verbo.

Desse modo, este é autossuficiente e não precisa de complemento para dar sentido.

Esse tipo de sintagma verbal é denominado sintagma verbal reduzido.

7 MORFEMAS

Neste capítulo, você vai estudar alguns aspectos de aprofundamento em

morfologia. Nesta etapa, você vai conhecer as unidades morfológicas e as estruturas

internas das palavras, a partir do estudo dos morfemas em língua portuguesa. Além

Page 56: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

55

desses saberes, você também vai apropriar-se das características dos morfemas e da

diferença entre eles e os sintagmas.

7.1 Unidades morfológicas e estrutura interna das palavras

O primeiro aspecto que você precisa ter em mente está relacionado com o

surgimento de novas palavras em língua portuguesa. Pense: quando se formam novas

palavras? Como se formam novas palavras? Por que se formam novas palavras?

Primeiro, novas palavras são formadas a todo momento. Isso considerando

todas as suas modalidades. Mas, quais seriam essas modalidades? Podemos

destacar as seguintes: coloquial, culta, literária, técnica, científica, de propaganda,

entre outras. Dessa forma, a partir do uso e das necessidades dos falantes, e também

conforme o contexto e o período histórico, novos itens lexicais passam a fazer parte

de uma comunidade linguística. As formações podem ser esporádicas ou

institucionalizadas, conforme delimita Rocha (1998). As formações esporádicas são

aquelas relacionadas com o momento. Por exemplo, desmorrer. Nesse caso, uma

criança que brinca e diz que a formiga desmorreu. Ou seja, o contexto motiva a

criação da palavra por associação a outras parecidas e já existentes. Mas não significa

que ela venha a fazer parte do registro de palavras da língua. Esta e outras palavras

são criadas por impulsos momentâneos.

A forma institucionalizada de criar novas palavras é diferente e por este motivo

é denominada desta forma. Pense na palavra imexível. Ela foi pronunciada em um

contexto de publicidade de ato de um falante. Dessa forma, várias pessoas ouviram e

passaram a repeti-la. A circunstância era especial e tornou o vocábulo familiar para

os indivíduos. Por conseguinte, imexível passou a ser um vocábulo institucionalizado.

No entanto, você precisa saber: um vocábulo pode ser institucionalizado dentro de um

grupo de falantes de determinada língua. Por exemplo, indesmentível está

institucionalizada em determinada família e determinada residência. Logo, esta

formação é institucionalizada naquele grupo específico, mesmo que não seja

conhecido de outros grupos de falantes. O que você precisa se perguntar é: mas por

que alguns se tornam institucionalizados e outros não?

Conforme Rocha (1998), precisamos considerar a visibilidade do “criador” da palavra

e, em seguida, o poder da mídia dessa palavra. Ou seja, em que proporção esse

Page 57: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

56

vocábulo vai ser disseminado. Um vocábulo criado em um contexto mais restrito e de

forma esporádica, pode até ser institucionalizado, isso depende da dimensão que ele

atinge. Mantendo-se restrito, não será institucionalizado, mas, caso contrário, passe

a integrar a fala de um grupo maior de pessoas, ele poderá ser registrado. As redes

sociais, atualmente, têm um papel importante para a fixação de novos vocábulos.

Quando compartilhado por muitos, a palavra passa a ser conhecida e as pessoas a

utilizam fora das redes sociais. O poder da mídia é evidente neste exemplo. Palavras

como sextou e trolar saem das redes sociais e passam a fazer parte dos diálogos

entre os falantes (CASTRO, 2012).

Outra situação que mobiliza a formação de novos vocábulos tem relação com

o fato de que certos processos são mais apelativos e enfáticos do que outros. Por

exemplo, dizer fumódromo no lugar de sala de fumantes. Portanto, é importante você

saber que é difícil responder plenamente à pergunta: tal palavra existe? Pense nisso.

No nível morfológico, no entanto, passamos a tentar compreender as unidades de

sentido que compõem as palavras. No campo da análise linguística, estudamos

diferentes níveis, desde aqueles mais amplos, ou seja, os que estudam as unidades

mais amplas do discurso, até as unidades menores, como as sílabas e os sons. Entre

eles há um nível intermediário que estuda as unidades da língua as quais apresentam

certa autonomia formal. Essas unidades podem ser encontradas como entradas

lexicais do dicionário. Estamos, portanto, falando das palavras. Inserido nisso, temos

o estudo em nível morfológico. Ou seja, aquele que estuda as unidades de sentido

que compõem as palavras. Etimologicamente, a palavra morfologia se constitui de

dois elementos: morfo e logia. Originária do grego, significam, respectivamente, forma

e estudo. Por conseguinte, definido na gramática como o estudo que descreve as

formas das palavras. Mais detalhadamente: o estudo que tem como objeto de

investigação a estrutura interna das palavras (CASTRO, 2012).

Page 58: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

57

7.2 Morfemas da língua portuguesa

Conforme descrito nos parágrafos anteriores, compreender o que é morfologia

pressupõe entender o que é forma, no sentido de sinônimo de estrutura, composta

esta de partes denominadas morfemas. A primeira informação que você precisa

internalizar é a de que toda estrutura é composta de elementos que estão

relacionados. Ou seja, isso explica que: todas as palavras são formadas por unidades

menores, as quais, quando combinadas, produzem significado. Essa combinação não

é aleatória. Na verdade, as estruturas internas, quando combinadas de determinada

forma, estabelecem relação e produzem significado. Assim, podemos afirmar que

determinadas palavras combinadas com outras exercem funções específicas nos

enunciados. Conclui-se que forma, função e sentido são solidários entre si e, até

mesmo, interdependentes (BECHARA, 2010).

Pense: quando afirmamos que lindos é um adjetivo masculino plural ou que

trabalhássemos é um verbo de 1ª conjugação que está no pretérito imperfeito do

subjuntivo e na 1ª pessoa do plural, estamos indicando que há marcas formais e

gramaticais, as quais delimitam esses enquadramentos, não é mesmo? Exatamente,

essas marcas formais são chamadas de morfemas.

7.3 Os tipos de morfema: radical e afixos

No exemplo anterior — lindos — a marca do masculino está no final -o, e a

demarcação de plural está em -s. Já no verbo citado, trabalhássemos, a marca do

pretérito imperfeito do subjuntivo está em -ss e a marca da 3ª pessoa do singular está

em -mos.

Agora, lindos tem um significado diferente de ricos, pequenos ou lisos. O que

há de comum entre eles, no entanto, são os morfemas -o e -s. Por esta similaridade

identificamos que ricos, pequenos e lisos também são palavras masculinas

compostas de plurais. O significado específico desses vocábulos está em lin-, ric-,

pequen- e lis-. O mesmo ocorre com o verbo trabalhássemos. Neste, a diferenciação

está em trabalh-. Na comparação com escrev- (escrevêssemos) e part- (partíssemos).

Os responsáveis pelos significados lexicais, nos exemplos supracitados, são

classificados como radicais (BECHARA, 2010).

Page 59: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

58

Com esta reflexão, podemos concluir que a palavra é constituída de dois tipos

de morfema:

▪ Aquele que expressa os significados na noção de mundo: lexical ou

externo (o radical).

▪ Outro que expressa o significado gramatical ou interno (os afixos

representados por morfemas de flexão e de derivação).

7.4 Vogal temática: o tema

Ainda, saiba que entre o radical e os afixos é permitido inserir uma vogal

temática (BECHARA, 2010). A missão dela é de classificação, uma vez que ela

diferencia os nomes e os verbos em grupos ou classes. Estes são conhecidos como

grupos nominais (casa/livro/ponte, etc.) e grupos verbais (denominados conjugações).

Por essa razão, podemos afirmar que o verbo trabalhássemos pertence à

primeira conjugação: trabalh-á-sse-mos. O verbo escrevêssemos é de segunda

(escrev-ê-sse-mos) e partíssemos (part-í-sse-mos) é de terceira conjugação. A

união do radical com a vogal temática representa o tema (BECHARA, 2010). Este é a

parte da palavra que está pronta para funcionar no discurso e também que está apta

para receber os afixos:

casa + s = casas

linda + s = lindas

livro + s = livros

Em algumas ocorrências, ao receber determinados afixos, a vogal temática

pode desaparecer — por exemplo em casinha [cas(a)inha]. Nos nomes, as vogais

temáticas são representadas por -a e -o. Estes dois demarcam o grupo nominal e

Page 60: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

59

também indicam o gênero: a casa (feminino); o livro (masculino). Ainda nos nomes,

as vogais temáticas -o e -e podem ser representadas por uma semivogal de um

ditongo: pão/pães. Enquanto o -o pode passar para a variante -u: afeto/afetuoso

(afeto + oso = afetuoso).

No caso dos nomes terminados em consoante, a vogal temática -e, destacada

no singular, reaparece quando a palavra estiver no plural:

mar/mares (mar-e-s)

paz/ pazes (paz-e-s)

mal/ males (mal-e-s)

Por fim, é importante reforçar que a vogal temática aparece tanto nos temas

simples (livr-o) quanto nos derivados (livr-eir-o).

7.5 Morfemas livres e presos

O morfema será livre quando tiver uma forma que pode aparecer de forma

autônoma no discurso. Caso contrário, será preso. No exemplo agricultura, agri- é um

morfema preso, pois ele, sozinho, não tem sentido no discurso. Para significar campo,

ele precisa combinar com outro morfema (agrimensor, agrícola, agricultor, etc.).

Diferentemente de cultura, por exemplo, pois este tem vida independente no discurso

(a cultura do campo). O radical pode ter uma variante que só aparece como forma

presa. Este é o caso, por exemplo, de caber, que tem variante presa -ceber.

Aparecendo ela em: receber, perceber e conceber. A variante do morfema nesse

caos é alomorfe (BECHARA, 2010).

Os elementos, portanto, podem ser todos livres (compor, apor) ou todos

presos (agrícola, perceber), ou, ainda, combinados (agricultura, gasoduto). Assim,

Page 61: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

60

uma só forma pode representar mais de um morfema. O -s, por exemplo, pode marcar

plural (casa/casas) e também 2ª pessoa do singular nos verbos (tu amas, escreves,

partes).

7.6 Características dos morfemas e diferenças dos sintagmas

Outra questão que precisa ser esclarecida está relacionada com a interpretação

dos sintagmas. Você precisa saber que além dos processos de formação e flexão da

palavra, à morfologia também cabe certa classificação das palavras. Ou seja, deste

processo devem ser considerados, além dos critérios formais, alguns sintáticos e

semânticos. Tudo isso pela possibilidade de classificação de uma palavra apenas pela

sua forma. Isso mesmo! A forma canto, por exemplo, pode desempenhar papel de

substantivo ou um verbo. Isso apenas depende da função e do sentido em que passa

a ser empregada. Observe:

O canto dos pássaros.

Eu canto como um pássaro.

No primeiro exemplo, a palavra funciona como um substantivo. Diferentemente

da segunda ocorrência, em que canto passa a funcionar como um verbo. Nesse caso,

o que deve ser considerado é a relação sintagmática. Ou seja, a combinação com

outros termos na frase ou no sintagma. Lembre-se de que qualquer forma pode

desempenhar função substantiva. Por exemplo: não gosto do cantar acelerado que

ela força. Nesse caso, cantar desempenha função de substantivo. Isso é possível de

ser concluído pela relação sintagmática que a expressão expressa na aproximação

com os outros sintagmas.

Para Saussure (2006), o sintagma se compõe sempre de duas ou mais

unidades consecutivas: re-ler; contra todos; a vida humana. Ou seja, as relações

sintagmáticas estão baseadas no caráter linear do signo linguístico. Nesse

entendimento, excluímos a possibilidade de pronunciar dois elementos da frase ao

mesmo tempo. Os termos se sucedem, um após o outro, de forma linear. Isso são os

sintagmas. Na cadeia sintagmática, um termo passa a ter valor a partir do contraste

Page 62: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

61

com os outros; ou aqueles que antecedem ou aqueles precedem. Em alguns casos,

ocorre com ambos. Tudo isso devido ao caráter linear dos sintagmas. Analise:

Hoje faz calor.

Não é possível pronunciar jeho faz lorca. Não há sentido na inversão linear

dos termos. Essa cadeia fônica faz com que se estabeleçam relações sintagmáticas

entre os elementos que a compõem. A partir dessas análises, podemos concluir que

morfemas são as menores unidades formais associadas e dotadas de significado.

Enquanto os sintagmas são as sequências hierarquizadas de elementos linguísticos,

os quais compõem uma unidade na sentença; linearmente e na cadeia da fala. Dessa

forma, a noção de sintagma se aplica para além da palavra. A noção de sintagma se

aplica aos grupos de palavras e também às unidades complexas (palavras compostas,

derivadas, frases inteiras, etc). As relações sintagmáticas existem em todos os planos

da língua: fônico, mórfico e sintático.

Portanto, tenha em mente: morfemas são apenas as menores unidades da

forma das palavras; sintagmas, no entanto, são todas e quaisquer combinações de

unidades linguísticas na sequência de sons da fala, a serviço da forma (rede de

relações + componente semântico) de determinada língua.

Os morfemas são caracterizados, então, por um ou mais fonemas, mas

diferentemente destes últimos, apresentam significado. Os fonemas isolados não

apresentam significado. Observe:

/m/ /a/ /r/ /i/ /s/

Isolados, esses fonemas não fazem sentido. Mas, quando combinados,

constituem unidades mínimas de significado. Veja:

▪ [mar]

▪ [mais]

▪ [mas]

Por fim, podemos afirmar que os morfemas são caracterizados como:

Page 63: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

62

▪ Elementos mínimos das emissões linguísticas com significado individual;

▪ Unidade mínima em um sistema de expressões que pode ser

correlacionada com alguma parte do conteúdo;

▪ As menores unidades significativas que podem construir vocábulos ou

parte deles;

▪ A menor parte indivisível da palavra que tem uma relação direta ou

indireta com a estrutura de significação.

8 ENSINO DE SINTAXE

Ensinar sintaxe não é uma tarefa fácil. Ela é, por assim dizer, a parte mais lógica

da língua portuguesa. Para entender a sintaxe, você precisa conhecer muito bem a

morfologia da língua para depois entender como as classes morfológicas –

substantivo, advérbio, adjetivo, verbo, preposição – transformam-se em funções

sintáticas – sujeito, adjunto adverbial, predicativo do sujeito, predicado, objeto indireto.

Sem conhecer essa interface morfossintática, o estudo da sintaxe pode ser

visto por muitos como difícil e entediante. A falta desse conhecimento pode gerar falta

de interesse e rejeição das aulas de língua portuguesa quando o assunto é sintaxe.

Porém, você deve entender que essas nomenclaturas e estruturas são

importantíssimas para que possa fazer uma boa interpretação textual e produzir

textos, tanto verbais quanto escritos.

Um texto, por exemplo, é coerente quando você consegue interpretá-lo de

maneira adequada. Portanto, estudar a coerência de um texto é estudar as condições

de sua interpretabilidade – condições como o conhecimento e o uso adequado dos

recursos léxicos e gramaticais da língua. Para enxergar a prática da sintaxe na

Page 64: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

63

coerência textual, você vai tomar como base as metarregras de coerência ou

metarregras de Charolles.

8.1 As metarregras de coerência ou metarregras de Charolles

Michel Charolles é um estudioso francês e professor de Linguística da

Université Sorbonne Nouvelle, em Paris, França. Ao pesquisar sobre a coerência dos

textos, ele descobriu quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência

textual, as chamadas metarregras de coerência. Veja a seguir quais são elas.

Metarregra da repetição: um texto coerente deve ter elementos repetidos para

não ferir a coesão textual. Em uma frase, recuperar termos de frases anteriores por

meio de pronomes, elipses, elementos lexicais ou substitutivos constituiu um processo

de repetição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição

(necessária, mas não suficiente) para que um texto seja coerente. Um texto coerente

deve retomar elementos anteriormente mencionados (BARBOSA, 2013). Veja o

exemplo:

Patrícia e Douglas esperavam nervosos o resultado do exame de gravidez.

Hoje, enfim, ele ficou pronto.

▪ Ele – pronome pessoal do caso reto, função de sujeito (o exame).

Metarregra de progressão: um texto coerente deve apresentar renovação do

suporte semântico. Um texto deve sempre apresentar informações novas à medida

que vai sendo escrito, evitando ser um texto circular, ou seja, sem elementos que

apresentem progressão (BARBOSA, 2013). Precisa acrescentar informações.

O historiador não conseguia se expressar de forma alguma. Quanto mais

tentava, mais confusa ficava a palestra. Uma hora, porém, cansado de não se fazer

entender e de ver que a plateia não estava mais prestando atenção, deu por encerrado

o encontro.

Page 65: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

64

▪ Uso da conjunção coordenativa adversativa, porém para dar progressão

ao texto.

Metarregra da não contradição: em um texto coerente, o que se diz depois

não pode contradizer o que se disse antes ou o que ficou pressuposto (BARBOSA,

2013). Cada pedaço do texto deve “fazer sentido” com o que se disse antes.

Alguns alunos de Direito eram a favor da pena de morte para crimes hediondos

no Brasil, embora soubessem que essa questão não é aprovada no nosso país, a não

ser nos casos descritos na Constituição Federal.

▪ Embora – conjunção subordinativa concessiva, apontando que “mesmo

tendo o conhecimento em relação ao fato...”. A ideia de concessão está

diretamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa.

Metarregra de relação: em um texto coerente, seu conteúdo deve estar

adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis (BARBOSA,

2013).

Margot foi nomeada juíza e, mesmo triste com a ausência de seus familiares,

começou a trabalhar.

▪ Mesmo – como conjunção subordinativa concessiva, sinônimo de ainda

que, embora.

Você pode perceber que, apenas com o conhecimento das metarregras de

coerência, já é possível visualizar o uso prático e efetivo da sintaxe na construção e

interpretação de um texto. Dessa forma, ao finalizar a construção textual, você deve

observar se todas essas regras foram favorecidas. Veja agora outra aplicação

sintática – os articuladores.

Articuladores são palavras ou locuções que unem, ordenam e costuram as

partes que compõem um texto. Dentro da gramática, é possível dizer que a maioria

desses articuladores é representada pelas conjunções como nexo sintático, ou seja,

Page 66: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

65

nexo textual. As conjunções têm essa função por fazerem o papel de articulação

entre as ideias do texto. Elas também têm outras funções, como flexibilizar a costura

do texto, fazer o texto fluir, progredir sintaticamente para transmitir de forma clara e

coerente o pensamento do autor (BARBOSA, 2013). Nesses casos, expressões como

em primeiro lugar, por último, vale acrescentar, além do mais, entre outras,

também funcionam como articuladores sintáticos. Veja mais alguns exemplos de

articuladores sintáticos.

Os articuladores também estabelecem relações dentro do texto. Esses

articuladores são os conectores, que encadeiam as diferentes partes do texto,

expressando uma relação entre elementos linguísticos ou contextuais. Os mais

conhecidos são: porque, pois, uma vez que, já que, devido a, se, logo, então,

Page 67: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

66

portanto, de modo que, assim, a fim de, mas, porém, entretanto, embora, apesar

de, mesmo que, ainda que, ou seja, ou melhor, enfim, finalmente.

O estudo dos articuladores textuais é importante para uma melhor

compreensão do processo de construção do sentido do texto e do discurso. O

emprego inadequado dos articuladores ou a interpretação inadequada de seu uso

pode constituir um problema tanto na produção quanto na recepção de textos,

interferindo no seu processamento (BARBOSA, 2013).

8.2 Articuladores que introduzem orações coordenadas

Para explicitar, você utiliza os seguintes articuladores: isto é, ou antes, neste

caso, sendo assim, por vezes, aliás, entre outros.

Para provar: com efeito, sem dúvida, na verdade, efetivamente, deste

modo, entre outros.

Para exemplificar: por exemplo, assim, tome-se como exemplo, importa

salientar, entre outros.

Para reforçar ideias: além disso, como já foi dito, por esta razão, entre

outros.

Para atenuar ou restringir ideias: mas, no entanto, todavia, sobretudo, pelo

menos, ressalve-se, entre outros.

Para concluir: finalmente, em conclusão, consequentemente, entre outros.

8.3 Articuladores que introduzem orações subordinadas

Articuladores que exprimem ideia de tempo: quando, antes que, antes de,

depois de, entre outros.

▪ Ideia de causalidade: porque, visto que, dado que, entre outros.

▪ Ideia de finalidade: para que, a fim de que, a fim de, entre outros.

▪ Ideia de condicionalidade: se, caso, contanto que, a menos que,

desde que, entre outros.

▪ Ideia de concessão: embora, apesar de, apesar de que, ainda que,

mesmo que, entre outros.

Page 68: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

67

▪ Ideia de conformidade: como, conforme, consoante, segundo, para,

entre outros.

▪ Ideia de consequência: de tal modo que, de forma que, que

(precedido de tão, tanto, tal), entre outros.

▪ Ideia de comparação: como, assim como, segundo, entre outros.

Como você pode ver, todo esse conteúdo dá grande suporte para que se possa

entender como a sintaxe funciona na prática.

9 O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO

Os países, distribuídos em quatro continentes, que têm a língua portuguesa

como oficial firmaram um acordo ortográfico que, ao longo dos anos, passou por

diversas mudanças. Além disso, é um acordo que engloba aspectos políticos, de modo

que sua discussão envolve dois grandes blocos de estudiosos da língua portuguesa:

os teóricos que defendem a importância da reforma, e outros que acreditam que essa

mudança aumenta a distância entre os falantes e a escrita formal. Dessa forma,

conhecer e refletir sobre aspectos contextuais, práticos e mesmo didáticos que

envolvem esse acordo e as mudanças pelas quais ele passou é fundamental para

todo profissional da área.

Por isso, neste capítulo, você conhecerá questões atinentes ao acordo

ortográfico, familiarizando-se com seus objetivos e reconhecendo regras que contém.

Para isso, você verá uma discussão incialmente historiográfica, já que é

imprescindível conhecer o contexto em que se firma tal acordo, assim como exemplos

e problematizações que envolvem o tema. Por fim, você também contará com uma

tratativa prática do acordo a partir de algumas de suas mudanças, especialmente

aquelas que tocam mais diretamente o Brasil.

Page 69: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

68

Fonte: www.qconcursos.com/

9.1 O novo acordo ortográfico da língua portuguesa

Certamente, você já ouviu falar, ou até falou, que a ortografia da língua

portuguesa é muito difícil, cheia de regras e de exceções. Provavelmente, essas

queixas aumentaram depois da polêmica mudança das regras ortográficas que se

efetivaram, no Brasil, no ano de 2016 — mudanças firmadas em 1990 entre os países

lusófonos.

Contudo, para falar sobre esse acordo ortográfico, o primeiro conceito

importante que devemos dominar é o de “lusofonia”, termo que se compõe de duas

partes: “luso” e “fonia”. O prefixo “luso” está relacionado a “português” (como adjetivo,

refere-se àquele que é da Lusitânia de Portugal). Assim, a história da palavra “luso”

está ligada a uma antiga província romana chamada Lusitânia que, geograficamente,

corresponde ao atual país Portugal. Já a palavra “fonia” está descrita no dicionário

Houaiss (2001, p. 914) como “1. Timbre de voz. 2. Conjunto de falantes (e escreventes

e legentes) usuários de uma língua (ou dialeto ou variedade nacional, regional ou

local), seja como vernácula, seja como franca ou de cultura”.

Assim, ainda embasados nas descrições de Houaiss, podemos dizer que

“lusofonia” (2001, p. 1203) é o:

1.1 conjunto de países que têm o português como língua oficial ou dominante [A lusofonia abrange, além de Portugal, os países de colonização portuguesa, a saber: Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe; abrange ainda as variedades faladas por parte da população de Goa, Damão e Macau na Ásia, e ainda a variedade do Timor na Oceania. ]

Page 70: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

69

Apesar dos desacordos e discussões que envolvem a pertinência do termo

“lusofonia”, pensar no novo acordo ortográfico é pensar que oito países, com distintas

formações políticas, econômicas, religiosas e socioculturais percebem que seu bem

comum, o idioma, se unificado, ganha maior valorização internacional. Foi assim que

a República Popular de Angola, a República Federativa do Brasil, a República de Cabo

Verde, a República da Guiné-Bissau, a República de Moçambique, a República

Portuguesa, a República Democrática de São Tomé e Príncipe consideraram que a

ortografia unificada constituiria “[...] um passo importante para a defesa da unidade

essencial da língua portuguesa e para o seu prestigio internacional” (ACORDO…,

1990, documento on-line).

Veja, na figura 1, os países em que o português está presente espalhados pelo

mundo.

Além de pensar nos países que falam o português, e de se ater ao fato de ter

havido um acordo de alteração ortográfica, você precisa ter em mente que ortografia

não é língua, mas um código, e, portanto, um dos aspectos que se relacionam a uma

língua, estando em nível superficial; ou seja, a ortografia registra o uso da língua, que

é muito mais profunda do que isso: é sintaxe, é morfologia, é vocabulário, é contexto,

é muito mais.

Sobre a questão linguística, Henriques (2011) argumenta que a dificuldade/

facilidade de entender um português de Portugal pode ser a mesma que um morador

do sul do Brasil pode ter de entender um falante do norte do Brasil, e isso não significa

que norte e sul falem duas línguas diferentes. O acordo não veio para modificar isso,

Page 71: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

70

visto que a ortografia está mais relacionada a “traduzir” a modalidade falada para a

modalidade escrita padrão do que para representá-la. Dessa forma, devemos

entender que o novo acordo não veio para unificar a língua, mas para uniformizar seu

registro escrito. Além disso, o acordo ortográfico se trata, especialmente, de uma

decisão política, muito mais do que linguística.

Essa concepção demonstra que a ortografia é uma convenção e está mais

relacionada a um costume, a uma aprendizagem “de fora para dentro” (ou “de cima

para baixo”) do que à formação interna e profunda de uma língua. Para Abbade (2015,

documento on-line), “Todo e qualquer sistema ortográfico é sempre uma convenção,

um combinado, um acordo, de natureza político cultural. A necessidade de uma

ortografia portuguesa regular surge com a sua escrita”.

Assim, as questões mais profundas serão mantidas. Por exemplo, mesmo que,

nos diferentes países de fala portuguesa, tenha-se perdido a obrigatoriedade de letras

duplas, quando elas não são pronunciadas, em Portugal, elas continuam sendo

utilizadas na escrita e na oralidade.

Quanto à necessidade política que preparou o terreno para o novo acordo,

Henriques (2011) argumenta que, se Angola se distanciasse ainda mais do registro

escrito padrão usado no Brasil, isso dificultaria as compras de livros (técnicos, por

exemplo) angolanos. Se Portugal se distanciasse muito desse registro ortográfico

similar, isso poderia levar a uma preferência por compras de livros em inglês, língua

global da atualidade. É nesse sentido, também, que unificar o registro escrito do

português faz abrir o mercado editorial dos países lusófonos a nível mundial,

fortalecendo a língua — fato que tem a seu favor argumentos como o prejuízo que a

diversificação ortográfica gerava devido à elaboração de documentos oficiais,

publicações gerais, desde os dicionários, até os livros didáticos, científicos e literários

em registros ortográficos distintos. Para Henriques (2011), essa lógica não procede,

pois, assim como não se espera que haja um espanhol com grafia argentina, um

espanhol com grafia colombiana, um espanhol com grafia espanhola, não deveria ser

natural o português ter duas grafias distintas.

Abbade (2015, documento on-line) resume essas vantagens com as seguintes

palavras:

Esse novo acordo previa inúmeras vantagens: possibilitar a comunicação diplomática entre os países lusófonos; aumentar a difusão da cultura entre os países envolvidos; estabelecer a língua portuguesa como língua de cultura,

Page 72: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

71

ampliando seu prestígio junto às Instituições Nacionais; permitir que as obras escritas possam ser vendidas em todos os países lusófonos; favorecer o intercâmbio de materiais didáticos.

Vemos, com essas apresentações e reflexões, que o acordo é uma soma de

desacordos e, ainda, tem muita história a contar e a construir.

9.2 Um pouco da história da construção do acordo ortográfico

Há muito, tenta-se padronizar as ortografias de Brasil e Portugal, e essa história

se resume nos pontos-chave que você observa a seguir (ABBADE, 2015).

▪ Início do século XX: língua portuguesa com pluralidade de grafias não

padronizadas.

▪ 1907: a Academia Brasileira de Letras (ABL) aprova uma reforma

ortográfica.

▪ 1907: reforma ortográfica aprovada fica limitada às publicações da

própria Academia.

▪ 1910: nomeia-se, em Portugal, comissão para estabelecer uma

ortografia simplificada.

▪ 1911: efetiva-se reforma que modifica completamente o aspecto da

língua portuguesa escrita.

▪ 1911: resistência do Brasil (que tinha ortografia de influência

etimológica) leva as duas ortografias a ficarem completamente

diferentes.

▪ 1915: ABL assemelha a sua ortografia com a portuguesa.

▪ 1919: ortografia proposta pela ABL, em 1915, é revogada.

▪ 1915: início de buscas por um acordo entre a Academia das Ciências de

Lisboa e a Academia Brasileira de Letras.

▪ 1924: Portugal e Brasil recomeçam a procurar uma grafia comum.

▪ 1929: ABL altera as regras de escrita baseada na etimologia e retoma o

caminho da simplificação.

▪ 1931: retorno à ortografia portuguesa de 1911.

▪ 1934: o Brasil revoga o acordo de 1931 e retorna ao passado.

Page 73: MORFOLOGIA E SINTAXE DO PORTUGUÊS

72

▪ 1943: Convenção Luso-Brasileira retoma o acordo de 1931 com o

Formulário Ortográfico de 1943.

▪ 1945: tentativa de retorno à etimologia por parte de Portugal, vigorando

apenas naquele país e sendo recusado pelo Brasil.

▪ 1971: o governo português altera algumas regras da ortografia de 1943.

▪ 1973: Portugal realiza alterações que reduzem as divergências

ortográficas com o Brasil.

▪ 1975: a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de

Letras elaboram novo projeto de acordo não aprovado oficialmente.

▪ 1986: encontro dos países de língua oficial portuguesa para impulsionar

um novo acordo ortográfico.

▪ 1990: a Academia das Ciências de Lisboa convoca novo encontro,

elaborando a base do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que

está hoje contemplada em lei.

▪ Atualidade: até hoje continua sendo discutido e cada país toma uma

atitude diferente.

Nas palavras de Abbade (2015, documento on-line), “O novo texto, bem menos

problemático que o de 1986, teve dois grandes objetivos: fixar e delimitar as diferenças

entre os falantes da língua portuguesa e criar uma comunidade com uma unidade

linguística expressiva para ampliar o seu prestígio internacional”.

Sobre todas essas questões, o documento oficial (BRASIL, 2009, documento

on-line) posiciona-se da seguinte forma:

Foi, pois, tendo presentes estes objetivos, que se fixou o novo texto de unificação ortográfica, o qual representa uma versão menos forte do que as que foram conseguidas em 1945 e 1986. Mas ainda assim suficientemente forte para unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua.

Apesar disso, como o próprio panorama histórico mostra, “fixar e delimitar as

diferenças” não é tão fácil assim, visto que as discussões sobre o acordo ortográfico

não foram poucas, nem internamente, entre quem era e é a favor dele, nem

externamente, entre a comunidade de linguistas que eram e são contra essa reforma.

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As críticas soam diversas, não apenas de cidadãos comuns, mas também de

muitos especialistas renomados, como é o caso do linguista Sírio Possenti (2008,

documento on-line):

Perguntado ou não, o que sempre fiz questão de dizer é que a reforma não aumenta em nada a capacidade de leitura de textos. Dito de outra maneira, fazer uma reforma porque ela facilitaria a leitura de livros brasileiros na África ou em Portugal é uma bobagem. Qualquer pessoa que saiba ler, mesmo precariamente, lê textos com a grafia de Portugal e do Brasil, assim como lê textos mais antigos e textos escolares, de alunos, por mais que apresentem problemas de grafia.

Outra linguista que ecoa na contramão da reforma é Coudry (2008, documento

on-line), para quem a reforma é uma má política linguística: “[...] [não] é preciso que

se escreva exatamente igual para que haja entendimento mútuo e não é porque se

estabeleceu uma regra comum que se falará perfeitamente igual em todos os países”.

Ainda que as críticas sejam muitas, os defensores da reforma ortográfica têm

argumentos para elas, como Bechara (2015, p. 281), que afirma que:

Muitas das vozes de resistência apresentaram e ainda apresentam razões destituídas de qualquer fundamentação real. A primeira delas, compartilhada por vozes fora do país, argumentava que o Acordo de 1990 escondia o propósito de neocolonização por parte do Brasil, porque as Bases ortográficas atendiam mais aos hábitos vigentes entre o nosso país do que aos hábitos vigentes entre portugueses e africanos. Pondo de lado o argumento de que o texto foi assinado sem restrição por representantes de sete nações soberanas, por mais superficial que seja a leitura das Bases, percebe-se que o Acordo mais se aproxima das normas estabelecidas pelo sistema de 1945, corrente entre portugueses e africanos, do que pelo sistema de 1943, oficial somente no Brasil.

Para Henriques (2011), o acordo ortográfico não está concentrado nas

questões orais, fonéticas ou de uso, e não pretende tocar nisso. Segundo o autor, o

documento está concentrado no registro formal da língua para representar

documentos, textos oficiais, técnicos, científicos, de jornal — na maioria das vezes.

Assim, o acordo preza pela linguagem formal, a escrita de prestígio.

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9.3 O que mudou, afinal?

Ainda que, no Brasil, os falantes tenham se queixado a respeito das mudanças

de certas regras ortográficas, Portugal foi o país que mais precisou adequar-se às

alterações. Estima-se que 1,6% do vocabulário de Portugal tenha sofrido alterações

na escrita, enquanto, no Brasil, somente 0,5% das ocorrências vocabulares sofrerão

alteração. E que mudanças foram essas, afinal? O acordo ortográfico foi dividido em

vinte seções, cada qual fundamentada por uma base. A estrutura do acordo segue a

seguinte arqueologia (BRASIL, 2014):

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▪ Base I — do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus

derivados.

▪ Base II — do h inicial e final.

▪ Base III — da homofonia de certos grafemas consonânticos.

▪ Base IV — das sequências consonânticas.

▪ Base V — das vogais átonas.

▪ Base VI — das vogais nasais.

▪ Base VII — dos ditongos.

▪ Base VIII — da acentuação gráfica das palavras oxítonas.

▪ Base IX — da acentuação gráfica das palavras paroxítonas.

▪ Base X — da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das

palavras oxítonas e paroxítonas.

▪ Base XI — da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas.

▪ Base XII — do emprego do acento grave.

▪ Base XIII — da supressão dos acentos em palavras derivadas.

▪ Base XIV — do trema.

▪ Base XV — do hífen em compostos, locuções e encadeamentos

vocabulares.

▪ Base XVI — do hífen nas formações por prefixação, recomposição e

sufixação.

▪ Base XVII — do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver.

▪ Base XVIII — do apóstrofo.

▪ Base XIX — das minúsculas e maiúsculas.

▪ Base XX — da divisão silábica.

Embora tenha sido acordada em 1990, apenas em 2016 a nova ortografia

passou a vigorar no Brasil. Esse caráter tão recente da efetivação dessa nova forma

de registro ortográfico em nosso país leva a pensar em algumas de suas regras.

Quanto a isso, não há escapatória: é preciso ler e reler o conteúdo e comparar o antes

e o depois — assim como é preciso desmistificar, para alunos e/ou para membros da

sociedade de forma geral, certos “mitos” apresentados, tais como “agora não há mais

hífen” ou “não se usa mais acento”.

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Para os estudantes mais jovens, essa etapa será mais fácil, pois eles já

aprenderão as regras a partir do novo — não precisarão, portanto, comparar o antes

e o depois. Contudo, para os acadêmicos e especialistas, a comparação é inevitável.

Uma das críticas recebidas feitas ao acordo se refere à queda do acento

utilizado para diferenciar certos tempos verbais, como o caso do presente do indicativo

na terceira pessoa, “para”, que pode ser confundido com a preposição “para”.

Contudo, essa queda do acento diferencial não ocorre sempre, O verbo “pôr”, por

exemplo, não perdeu o acento, para não ser confundido com a preposição “por”.

Assim, também, a terceira pessoa do singular do pretérito perfeito de “poder” (pôde)

não perdeu o acento circunflexo, para não ser confundido com a forma verbal no

tempo presente. Veja na Figura 3, a seguir, uma tirinha com um exemplo do verbo

“poder” conjugado e da preposição “por”.

9.4 Algumas regras ortográficas do novo acordo

Nesta seção, abordaremos algumas das regras apontadas no novo acordo,

concentrando-nos nas principais alterações. Lembramos que é muito importante que

você conheça todas as regras e, para isso, você precisará visitar o documento na

íntegra.

9.4.1 Eixo I – Alfabeto

Antes composto por 23 letras, atualmente, comporta as letras K, W e Y,

somando 26 letras ao todo. A justificativa para tal se deu pelo fato de que, no Brasil,

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essas letras já eram utilizadas em nomes próprios, por exemplo, e em algumas

abreviaturas, como em “km” (abreviatura para quilômetro).

9.4.2 Maiúsculas e minúsculas

Um ponto importante e pouco difundido é a mudança do uso de maiúsculas e

minúsculas: meses, dias da semana e estações passam a ter seus nomes grafados

em minúsculas: segunda-feira, e não Segunda-feira, como era anteriormente; janeiro,

e não Janeiro; e primavera no lugar de Primavera.

O mesmo ocorre, agora, com os pontos cardeais: todos eles iniciam em

minúsculas — exceto quando usados em termos absolutos (“Vou para o Norte”;

“Conheço algumas línguas do Ocidente”). Opcionalmente, usa-se minúscula em:

[...] nomes que designam domínios do saber, cursos, disciplinas: inglês ou Inglês; português ou Português; matemática ou Matemática. Nomes de logradouros públicos (salvo nos nomes próprios neles contidos): rua da palma ou Rua da Palma; avenida da liberdade ou Avenida da Liberdade. Nomes de templos, edifícios ou monumentos (salvo nos nomes próprios neles contidos): igreja dos anjos ou Igreja dos Anjos; convento de Mafra ou Convento de Mafra (ACORDO..., 2015, documento on-line).

As alterações sobre esse quesito merecem nossa concentração, tendo em vista

que os estudantes preterem esse tema e, muitas vezes, inclusive, escrevem com

minúsculas seus próprios nomes e sobrenomes.

9.4.3 Acentuação gráfica

Uma das polêmicas da nova ortografia se relaciona às alterações,

especialmente, dos acentos diferenciais. Trata-se de uma das mais severas críticas

ao novo acordo, pois pode gerar confusão na leitura e, consequentemente, levar a

mal-entendidos. Como vimos, a supressão do acento diferencial na forma verbal

“pára” (3ª pessoa do singular no presente do indicativo) pode levá-lo a ser confundido

com a preposição “para”. Contudo, os defensores da supressão do acento

argumentam que uma leitura se faz, sempre, dentro de um contexto, e que o próprio

contexto haverá de esclarecer em que tempo verbal se insere o verbo, conforme em

“Ele para de trabalhar, sempre, às 18 horas” e “Ele trabalha para pagar as contas”.

Veja, no Quadro 1, as novas regras relacionadas à acentuação gráfica.

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79

9.4.4 O hífen

Certamente, o hífen foi a base que mais causou impacto na ortografia do

português brasileiro. Isso porque algumas palavras ganharam a hifenização, outras

simplesmente a perderam e algumas, além de a terem perdido, aglutinaram-se. O

Quadro 2, a seguir, apresenta algumas das alterações relacionadas ao hífen.

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9.4.5 Qual é a importância global de seu uso com proficiência?

Uma questão importante a ser considerada é que línguas como a francesa, por

exemplo, têm registro ortográfico com base etimológica; ou seja, a partir da origem da

palavra. Já o português tem registro escrito de base fonética, isto é, a partir da

sonoridade das palavras. Considerar essa questão nos leva a observar que sempre

haverá maiores dificuldades para os registros nos países de língua portuguesa, com

mais regras e exceções.

Por isso, para compreender melhor a concepção da reforma ortográfica, foi

necessário destacar princípios, tais como a noção de que a oralidade e a ortografia

pertencem a ordens distintas (lembrando o que foi dito na primeira seção: a ortografia

é convenção que não serve para representar, ipsis literis, os sons da fala, mas para

codificá-los). Por assim ser, certos desacordos não significariam um problema, mas

uma consequência natural das distinções das diferentes nuances atribuídas aos

diferentes lugares de fala — lembramos, aqui, não apenas nos diferentes países, mas

também no interior de um mesmo país, como ocorre com os diversos falares dentro

do Brasil.

Para Henriques (2011), defensor da reforma ortográfica, a polêmica já

abordada se pauta, muitas vezes, no desconhecimento sobre o que seja a ortografia,

primeiramente, gerando o preconceito equivocado de que, se mudou a ortografia,

mudou a língua. Além disso, o autor considera que a mudança gera incômodo por

mexer com o que se estava habituado e que se trata apenas de um costume.

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Assim, o uso proficiente das novas regras ortográficas se relaciona com os

lugares pelos quais você circulará e, para isso, sua escrita deverá estar adequada.

Documentos oficiais, textos para provas e concursos, trabalhos com revisão de textos,

dentre outros, precisarão estar adequados aos critérios proposto pelo acordo.

Portanto, embora o contexto, especialmente na modalidade oral, quase sempre

seja responsável por esclarecer a intencionalidade do falante, as situações formais de

uso exigirão a norma de prestígio na modalidade escrita. Nesse sentido, conhecer as

novas regas da ortografia auxiliará o profissional das linguagens, os futuros

profissionais e aqueles que precisam apropriar-se delas para os diferentes usos

sociais.

Na Figura 5, por exemplo, temos uma tirinha que exemplifica essa questão: na

oralidade, não é possível diferenciar o uso das formas porque, por que, por quê — na

fala, todas soam exatamente da mesma forma. No entanto, na escrita, é preciso

basear-se nas regras oficiais da língua e diferenciar essas formas de acordo com o

sentido, como fica claro no último quadro da tirinha.

Como vemos, são muitas as questões que englobam a reforma ortográfica

assinada pelos países de língua oficial portuguesa. Além das questões relacionadas

à história dessa tentativa de unificação, é importante destacar que se trata de uma

unificação na modalidade escrita e que não se concentra nas questões de uso oral e

informal.

Além disso, é importante ter em mente que, tanto interna quanto externamente,

o acordo foi assinado a partir de desacordos, não foi totalmente pacífico e é envolto

em polêmicas. Por outro lado, está assinado e precisa ser coerentemente difundido.

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Por isso, é importante conhecer algumas das regras que causam maior dificuldade e

polêmica e ler o acordo na íntegra.

Entendendo que os objetivos desse acordo são unificar e simplificar, é preciso

apropriar-se dessas regras com proficiência e, inteirando-se dos aspectos mais

relacionados à política linguística e as duas diferentes visões sobre a reforma,

desenvolver um pensamento crítico sobre a temática.

Trata-se, entretanto, de um trabalho incompleto, porque não é possível dar

conta de quase vinte anos de polêmicas, tampouco de mais de um século de

discussões. Contudo, fica o convite, especialmente, para que você leia o acordo em

sua íntegra e siga envolvido nas pesquisas sobre o assunto, que é dinâmico e

constantemente se modifica, já que seu objeto é uma entidade viva, a língua.

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86

10 REFERÊNCIAS

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