o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

download o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

of 22

Transcript of o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    1/22

    HVMANITAS- Vol. L (1998)

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANOIDALETE GIGA

    Universidade devoraAoProf,Doutor Jos Geraldes Freireumgrande amigo do C anto Gregoriano

    INTRODUOO recurso msica atravs dos diversos elementos da criao sonora

    tem sido, ao longo dos sculos, um dos meios mais complexos e, porventuramais poderosos do H omem se associar plenitude da vida csmica. Em todasas civilizaes, os actos mais impo rtantes da vida social e religiosa esto cheiosde manifestaes, nas quais a msica tem um papel m ediador a vrios nveis.Porm, se o recurso msica um denom inador comum a todas as culturas doplaneta, o mesmo j no se verifica no que respeita concepo e origem damesm a. Recuando at Antiguidade, vamos encontrar uma com plexa concepomusical ligada medida, ao nmero (concepo csmico-metaflsica de Pitgora s, herdada, por sua vez, do Egipto) e a princpios filosficos (filosofia dobelo absoluto,de Platoepragmatismo,de Aristteles).A tradio crist retomou, em grande parte, a simblica pitagrica damsica transmitida por Santo Agostinho e Bocio. A partir daideiadecatarsemusical da escola pitagrica, os Padres da Igreja extraram e adaptaram, porexem plo, a teologia msticadosnmerosaideias. Na Idade Mdia, o simbolismodo nmero trs dado ao ritmo ternrio, consideradoaperfectio, a identificaocom a Santssima Trindade, enquanto o nmero dois, do ritmo binrio era aimperfectio. Tambm o nmero sete foi retomado no plano musical como onmero cheio de clares de sabedoria. Mas muitos outros elementos foram

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    2/22

    348 IDALETE GIGAretomados da msica grega pelo tericos da Idade Mdia nomeadamente aestrutura tetracordal dos Modos, a prpria terminologia destes, certas caractersticas de acentuao e ritmo da palavra e mesmo certos processos de composio. Na Grcia, a msica era essencialmente vocal e andava sempre associada poesia. O poeta era tambm msico. O texto estava subordinado msica.Esta tradio foi seguida pelos artistas medievais para quem os textos sagradosconstituam a principal fonte de inspirao. denotar aindaque a Igreja deRoma,nos primeirossculos do Cristianismo, estava ligada s Igrejas orientais,adoptando inicialmente a lngua grega e, provavelmente, muitos dos seus cantos. Durante os primeiros sculos de formao do canto litrgico, a Igrejano se cansou de atrair e concentrar em si melodias provenientes das maisdiversas regies e culturas. A pouco e pouco foi-se formando um repertrioliterrio e musical. A preocupao da Igreja desde as suas origens foi a de criaruma unidade dos povos cristianizados, atravs do culto e dos cantos litrgicos.O mais extraordinrio, porm, foi o facto deste imenso repertrio ter sidotransmitido por tradio oral ao longo de vrios sculos, ou seja, at aoaparecimento da escrita neumtica. Os manuscritos musicais com notao emcampo abertodatam dos meados do sculo IX. Como foi possvel manter-se eperpetuar-se oralmente um repertrio to vasto ao longo de tantos sculos?Quaisquer que tenham sido as razes, ligadas f, ao misticismo cristo ououtras, o certo que esse tesouro artstico no se perdeu apesar das vicissitudeshistricas por que teve de passar. nele que a Msica ocidental tem as suasrazes profundas.

    Quando estudamoseanalisamos soboponto de vista esttico o repertriogregoriano, verificamos que o mesmo constitui um rico universo artstico eespiritual que contm em si todos os germens da Msica do ocidente. No conjuntodas obras gregorianas, a que presidiram vrios processos de composio, alis,bastante simples, deparamos com o princpio das formas musicais modernas. Avariao, a temtica, a abertura, oleit-motiv,oliedbinrio e ternrio, o rondo,o comeo da pera, a msica descritiva,etc a se nos revelam de maneira simplese clara. Quando se afirma, por exemplo, que os comeos da msica descritivapodem ser vistos e apreciados na pintura verbal da msica vocal italiana dosculo XIV ou nas canes descritivasLe Chantdes Oiseaux,eLa GuerredeJanequin(sec.XVI), ou que foi Wagner o criador do leit-motiv, ou ainda que aCsar Franck se atribui a criao da forma cclica, desconhece-se, certamente,

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    3/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 349que j podemos encontrar tais formas e gneros, como pequeninos embries,no repertrio gregoriano.

    Embora nas pesquisas que efectuei tenha analisado um nmero considervel de peas gregorianas que revelam aspectos muito interessantes demsica descritiva, no pretendo apresentar exaustivamente todas as obras comaquelas caractersticas. Extra apenas algumas peas do Prprio da Missa, porser consideradoomais autnticoepuro, a partirdasquais podemos compreendera sua dimenso esttica e simblica, em ntima relao com o texto sagrado.

    Sendo o texto sagrado a principal fonte de inspirao do compositormedieval, texto e melodia adquirem uma unidade, uma aliana quase perfeita.Esta uma constante na composio gregoriana.Verifica-setambm e simultaneamente,porumlado,uma lgicadodiscurso musical, baseadanotratamentomeldico da palavraeencadeamento das vrias frmulas meldicase,por outro,uma lgica extramusical que pretende evocar algo atravs do significado daprpria palavraede toda a carga simblica de que a mesma se reveste, segundo0contexto.

    sempre a palavra sagrada que conduz a melodia. Esta s adquireexpressividade atravs da mensagem mstica do texto sacro onde reside averdadeira essncia do canto gregoriano.1 -ALGUNS ASPECTOS GERAIS SOBREAESTTICA GREGORIANA

    Os tericos da Idade Mdia negligenciaram completamente a parterelativa s formas musicais do canto litrgico, no escrevendo, ou escrevendomuito pouco e de forma obscura e contraditria sobre as mesmas. Dos tericosmedievais, o nico que se refere com clareza a propsito do perodo musical Guido d'Arezzo (c.992-1050).

    A esttica gregoriana ou teoria das formas musicais prprias do cantogregoriano inteiramente moderna. Comeou adesenvolver-sepouco a poucona segunda metade do sc. XIX com a restaurao das melodias gregorianas afimde lhes ser devolvida a sua pureza original.Oestudo cientfico,apartir dosmanuscritos mais antigos dosc.IX, foi realizado pelos palegrafos beneditinosda AbadiadeSaint Pierre de Solesmes, os monges Dom Guranger,DomPothiere Dom Mocquereau. Oestudo comparativo dos manuscritos, provenientes devrias regies europeias, foi realizado no trplice aspecto meldico, rtmico emodal.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    4/22

    350 IDALETE GIGADepois de vrios sculos de decadncia, seria impossvel desenvolver

    uma cincia gregoriana a partir de edies abreviadas espalhadas por toda aparte, nomeadamente a Edio Mediceia doGraduale(1614-15), nas quais asmelodias tradicionais da Igreja esto completamente desfiguradas e irreconhecveis. Desta forma, no podiam revelar aos investigadores a estilstica doscompositores gregorianos e a sua anlise esttica no apresentava qualquer interesse.

    Ora toda a esttica gregoriana o fruto da anlise directa das melodiastradicionais depois de restauradas. O seu objectivo consiste no estudo da melodiaem si, da sua estrutura arquitectnica e das suas diversas formas. Vrios tmsido os trabalhos de carcter cientfico sobre as melodias litrgicas da Igreja.Dom Paolo Ferretti, na suaEsttica Gregoriana, refere algumas publicaessobre o assunto. Mais modernamente, so de realar tambm as investigaesde Dom Eugne Cardine sobre Semiologia.2 - O COMPOSITOR MEDIEVALAMSTICA CRIST

    Todaaarte tem uma correspondncia comumlinhafilosficaou religiosa.Toda a arte exprime o aspecto interno dos homens que a conceberam. Em arte,e especialmente na arte musical, os antigos eram tradicionalistas, assim como oeram tambm em matria de religio. Seguiam, por um lado, os cnoneseclesisticos prprios da arte crist como tal e, por outro, os cnones universaisda arte sagrada, deduzidos dos conhecimentos metafsicos. Criavam, contudo,o novo. Prova-o a grande diversidade das suas melodias. Porm, conservavamreligiosamente o tesouro que lhes tinha sido transmitido, transformando-o demil maneiras diferentes. Para o compositor medieval, a arte perfeita consistiana simplicidade e no natural. A msica devia, de forma simples, como serva fiele humilde, acompanhar a orao destinada s cerimnias do culto. Ora a oraoda Igreja no tem carcter individualista. objectiva, colectiva e social.Da, asua msica ter um imperativo superior, ligado inteligncia e inspirada no divino. O personalismo ou a criao de um estilo particular que rompesse oscnonesdaauctoritasera,sobretudo nos primeiros sculos do Cristianismo, umacoisa impensvel. Certamente por isso, as composies litrgicas, no universoda mstica crist permaneciam annimas. A arte no tinha carisma pessoal, massacramental.O artista procurava, antes de mais, uma forma perfeita que correspondesse a paradigmas sagrados de inspirao celeste. De acordo com essa

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    5/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 351mstica, a msica litrgica devia, acima de tudo, reflectir o sagrado, a f, osensinamentos de Cristo e no apelar aos sentidos, s paixes humanas. Eraneste contexto que os compositores gregorianos criavam as suas obras e que ocanto gregoriano se desenvolveu e expandiu, atingindo o seu apogeu na pocado Papa So Gregrio Magno (590 a 604).

    Quando nos fins do sc VIII surgem os primeirosTropose Sequncias,j um ntido sinal de rompim ento com aauctritas,numa tentativa de criaode novas formas musicais maislivres.ApropriaIgreja lhes abriu as por tas e sas fechou quando as considerou um abuso nas cerimnias litrgicas. Foramcompostos milhares deTroposeSequnciasque, emparte,j foram objecto deestudoerestaurados.Desdeapocadogrande florescimento des tas nova s formas(a partir do sc. IX), os compositores no mais cessaram o rompim ento com aauctritas, sobretudo quando a Polifonia comeou timidamente a dar osprimeiros passos. Poder-se- afirmar que o canto gregoriano fechou umimportante ciclo da sua histria com So Gregrio Magno, comeando um no vociclo com o aparecimento de formas m ais livres, no s os Tropos e Sequn cias,mas tambm com o desenvolvimento do drama litrgico muito difundido epraticado nas igrejas durante osscs.XIIeXIII.Este segundo ciclo ir coexistir,a dado m omento, com o movimento trovadoresco - primeiro herdeiro directodas formas m usicais do canto litrgico.3-PROCESSOSDE COMPOSIO GREGORIANA

    Embora a arte gregoriana mergulhe as suas razes nos tempos antigosmais recuados, ela desenvolveu e criou um sistema autnomo. Quaisquer quesejamasligaes comaAntiguidade easinfluncias que delarecebeu,a m elodiagregorianado seu tempo e est, na verdade, impregnada do g nio latino desdeos primeiros sculos da Igreja.O canto litrgico possui um estilo e uma linguagem musical prprios,constitudos por formas de expresso caractersticas (frmulas meldicas) queeram familiares aos compositores gregorianos. Assim, segundo o estilo vamosencontrar, no conjunto, milhares de frmulas silbicas, neumticas e melism-ticas.Tais frmulas so agrupamentos de neumas, verdadeiras m aneiras de dizermusicais, de diferentes dimenses, segundo o estilo, susceptveis de variaesdelicadas a fim de evitar choques m eldicos ou falsas acentuaes .No que respeita linguagem modal, no conjunto dos oito Modos h

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    6/22

    352 IDALETE GIGAtambm para cada um frmulas especiais, sobretudo nas entoaes e nascadncias mdias e finais. Alm de conferirem melodia o seu carcter modalprprio, asseguramaunidadedetodas assuaspartes, desenhandooseu contorno.H ainda pequenas frmulas que no pertencem a nenhum m odo e m especialmas so comuns aos oito modos.Odiscurso musical exige que as suas partesestejam ligadas por relaes ntimaserecprocas,demaneiraqueum as prepareme apelem s outras. Desta necessidade lgica saram todos os artifcios a quechamamospergunta eresposta,antecedente e consequente, rima, m ovim entosidnticos ou invertidos, progresses meldicas ascendentes ou d escenden tes,apelos e relaes temticas, imitaes,etc.No processo de composio gregoriana eram utilizados pelo com positoras chamadasm elodias-tipo-pequenos temas tradicionaisapartirdosquais eramcriadas novas melodias mais ampliadas. A estas melodias-tipo podiam seraplicados textos diferentes. So as Antfonas do Ofcio Divino que apresentamum m aior nmero demelodias-tipo.Da, haver uma maior liberdade de composio do que na composio m ais austera das melodias da M issa. A m edidaque iam surgindo novas festas, os compositores gregorianos ou compunhammelod ias originais (caso da grande parte do repertrio da Missa), ou adapta vamos novos textos a velhos temas tradicionais especialmente os mais conhecidos,os de maior agrado e os mais fceis de cantar.A maioria das pequena s A ntfonasdo Ofcio so de uma extrema simplicidade. possvel que as m elodias-tipo.fossem inicialmente pequenas melodias pags que passaram para o repertrioda Igreja.

    Havia um outro processo de com posio, em que o artista criava um amelodia completamente original para um texto determinado, com o qual amelod ia se encontrava em estreitaeimediata relao de dependncia, q uer pelainspirao, quer pela expresso. A melodia comenta e interpreta o texto. Asmelodias deste gnero, consideradas as mais autnticas e puras, so muitonumerosas em todo o repertrio gregoriano, quer nos cantos do Ofcio esobretudo nos da Missa. So notveis pelo seu equilbrio e estrutura arquitectnica. Todos os recursos so utilizados: dilogos, referncias tem ticas, desen volvimentos, im itaes, progresses, e, no plano extramusical aspectos analgicos e simblicos.O canto dos Intritos, Comnios, Ofertrios, Graduais eAleluias com os respectivos versculos so todos essencialmente expressivos.Muitos deles constituem verdadeiras obras primas da arte gregoriana.

    Ofacto da maioria das melodias do Prprio da Missa ter sido utilizada

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    7/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 353para o utros textos (processo que foi muito usado em obras tardias), prende- se,segundo Ferretti, com a crena de que esses cantos tinham sido inspirados porDeus ao Papa So Gregrio M agno. Assim, julgavam cometer uma profanao ,modificando e ssas melodias paralhesadaptar novos textos. Da derivou a lendamedievaldapomba msticaque ao pousar junto do ouvido de So Gregrio lheter ditado as melodiasdoAntifonrio ro ma no. Esta lenda chegou a ser c antadano incio do ano litrgico, imediatamente antes do Intrito, sob a forma deTropo, dando o rigem tambm a uma variada e rica iconografia.

    Com efeito, a tradio docum entada at setenta anos depois da morte deSo Gregrio unnime em proclam-lo autor de repertrio musical d a liturgiade Rom a. Segundo um testemunho de Giovanni Dicono, este Papa ter reunido,seleccionado e codificado, num Antifonrio arqutipo, as melodias e m uso napoca, de maneira a torn-lo apto a ser acolhido e sancionado "urbi et orbi". Adenominaocantogregorianos surgiu nosfmsdosc.VIII em honra de SoGregrio.4 - IMPORTNCIADARELAOTEXTO-MELODIA

    Para os gregos e romanos, a msica, a dana e a declamao eram trsramos de um a nica arte a que os filsofos designavam de "movim ento". Paraos cristos, o texto litrgico e a m elodia estavam indissoluvelmente ligado s.O repertrio literrio da Igreja, que utilizou sempre o latim clssicomesm o depois da sua evoluo e formao das lnguas romnicas, baseia-se noAntigo e No vo Testamento a que seveiojuntar, logo nos primeiros sc ulos docristianismo, os escritos dos Padres da Igreja. Depois do sc. VI aparecem asprimeiras com posies poticas -osHinos.Snos fms do sec. VIII que surgemos primeiros Tropos, Sequncias e Ofcios em v erso.O texto latino tem uma importncia capital na estrutura da melodiagregoriana.Oacento tnicoo elemento vivo dapalavra.No havendo palavrasagudas e m latim, a slaba final sempre fraca e equivale a um repouso (Tsis).Oacento, tal comoapalavra indica na raiz latina(adcantus,quesignifica comoum canto"), antes de mais um fenmeno de ordem meldica, a subida m eldicada palavra, o ponto de convergncia de todas as slabas, a animavoeis"comodiziam os antigos. Longe de ser uma fora pesada, , pelo contrrio, um breveelan,leve, vivo. No repertrio da Idade de Ouro (primeiros sculos), salvo porraze s de fraseologia, a slaba acentuada da palavra coincice geralme nte com a

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    8/22

    354 IDALETE GIGAnota ou grupo de notas mais agudas. A declamao do texto j por si umamelodia embrionria. O mesmo princpio existia tambm na lngua grega e nocanto ambrosiano. O compositor guia-se antes de mais pelas regras da acentuaoe ritmo do prprio texto. Assim, a melodia deriva essencialmente deste, dondederiva tambm toda a sua fora expressiva.

    No canto gregoriano, tal como na mtrica musical e potica dos gregose romanos, nunca h diviso da unidade de medida (o tempo simples), masapenas se pode multiplic-lo. estatambm uma das razes da sua fluidez ecalma. O efeito esttico que produz verdadeiramente notvel. A ntima ligaoda melodia ao texto faz do canto gregoriano uma perptua obra prima dedeclamao natural, musical, nica no gnero.5 -AS PEAS DO PRPRIO DA MISSA

    Das vrias partes que compem oPrprio,em que cada uma tem o seulugar determinado no ritual da Missa, o Intrito e Comnio so como o preldioe posldiode todo o drama eucarstico. Como tal, apresentam um carcterdiferente que importante aqui referir.

    OIntritoest em relao imediata e ntima com a festa e o mistrio dodia ou com o tempo litrgico do ano eclesistico. Contm e sublinha geralmenteuma ideia, a ideia principal fundamental e dominante da festa, ideia essa que retomadaese desenvolve muitas vezes nos outros cantos do Prprio, nos diversosmomentos da aco litrgica. como um fio condutor e, por assim dizer, oleit-motiv do drama sacro. Por esta razo, os Intritos tm muito interesse sob oponto de vista musical.

    OComnioapresenta um carcter diferente. O seu texto est directamenteligado ou no, ao mistrio da Eucaristia e em relao tambm com o fruto quea comunho produz na alma dos fiis. Contm por vezes uma aluso festa dodia.essencialmenteum cantodelouvoreaco de|graas.Oestilo dos Intritose Comnios fica entre o estilo silbico e o estilo melismtico, ou seja, o estiloneumtico, onde prevalecem os pequenos grupos de neumas, embora compequenas passagens em estilo silbico.

    O canto doGradual,que se segue s leituras do Antigo e ou Novo Testamento, chamava-se, na sua origem,ResponsorioouResponso.Passou maistarde a chamar-seGradualpelo facto do cantor solista o cantar nos degraus doaltar. Chegou a ter vrios versculos, mas hoje tem apenas um. umcanto

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    9/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 355essencialmente melismtico, do qual faz parte o Jbilo (Aleluia e versculo,apresentando a forma A -B-A).OO fertrioevoca tambmossentimentos da festa do dia. Co nsiste assimem desenvolverotemaoutemas propostos nos cantos antifonais e respo nsoriaisprecedentes (Intrito e Gradual). A forma do Ofertrio antigo, composto dedois versculos, lembra a forma doRondo(A-A-B -A-C). A nica parte que secanta hoje o A (Antfona ou R efro). sobretudo nas peas doPrprioque podemos encontrar com b astantefrequncia, pequenos episdios, pequenos incisos meldicos mais ou menosdesenvolvidos, correspondendo a uma ou mais palavras e que podemosconsiderar com carcter descritivo, essencialmente evocativo de imagens ousmbolos, sugeridas pelo prprio texto. No entanto, tais episdios no aparecemdesarticulados na arquitectura da pea. H sempre um equilbrio, uma un idade,uma coeso verdadeiramente notveis no seu conjunto.Nos exemplos musicais que sero apresentados a seguir, h umapredominncia da ideia de subida, evocando o cu, o paraso, o divino,simbolizando ao mesm o tem po os anseios da alma. curioso verificar, segundoo contexto, como o compositor trata a curva meldica, sempre no sentidoascendente, sendo notria a analogia com a subida.

    A)-QUISEDES(Gradual do III Dom ingo do Adven to). VII Mo do."Senhor que ests sentado acima dos Querubins, mostra o teupoder evem.Versculo:Ouvi vs que governais Israel; vsque conduzis Jos como um pastor conduz um rebanho".

    VI se-des, Bmi- se , sa- per Cb& ra -^^^^^^=5=3^g^^gbha, xci-ta pot-nti-am ta-ara, et

    ve- ai. JT.Quire -" '> 'a gis sra- d, intade:

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    10/22

    356 BDALETE GIGA

    8 n y n ^ . . . ? N 'qui de-d- ds vel-ut o-Tem Io- seph,

    Ei- iMftlti^ ^ ^ = ^ = ^

    (in Missel Grgorien, p. 175)

    Na hierarquia celeste, os Querubins pertencem ordem superior, entreos Tronos e Serafins que esto mais prximos de Deus. Caracterizam-se comopossuindo uma grande sabedoria e a capacidade de conhecer e contemplar Deus.

    No primeiro inciso Qui sedes, Domine , a melodia, partindo de LA,atinge rapidamente a dominante do modo (RE) e apoia-se nela vrias vezes atao fim do inciso.

    No segundo inciso/^wperCherubim (o que nos interessa no conjuntoda pea), o compositor, continuando a curva meldica ascendente, conduz-nosdirectamente 8ado modo (SOL), evocando a morada de Deus: "acima dosQuerubins". Curiosamente,com uma clivisepisemadanoMI,desce um intervalode5adirecta, a partir da qual, na palavra "Cherubim", a melodia volta a progredirem ondulaes suaves ascendentes e descendentes at tnica do Modoterminando assim aIafrase.

    B)-RORATE CAELI(Intrito do IV Domingo do Advento). I Modo." cus derramai dessas alturas o vosso orvalho: e que as nuvenschovam ojusto.Abra-se a terra e floresa o Salvador"

    frR Z f U ^ *

    0-r-tecae- li d-su- per, et nu- bes plu- 35fri $4_ S E '#'" 3a a t iu sum : ape-ri-- tur ter- ra, et germinei-4^-4

    a VSal-va- t ran. (in Missel Grgorien, p.180)

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    11/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 357Ocu a morada de De us. um smbolo quase universal que exprime acrena num ser divino celeste, Criador do Un iverso.Neste Intrito, o compositor evoca-nos as alturas do cu e da nuvemmstica, da qual a Humanidade espera a chuva vivificante e divina que oJusto,ou seja, Cristo Salvador.Depois da entoao caracterstica do I M odo:R-L-SIb-L,a m elodiadescreve uma curva ascendente em dsuper (alturas), onde se situa o pontoculminante de toda a pea.C)-ASCNDIT(Ofertrio do Dom ingo de Ascenso). I Mo do."SubiuDeusno meio de aclamaes jubilosas: o Senhorelevou-seao som da trombeta.Aleluia (Omesmo tema aparece no Intritoe Comnio da mesma festa).

    fa^F^^^^-w3 - scadlt*D e-Ps.4s6SZ^fcSP

    .m in- iu- H-: la-

    ce tu- foaes ai- le-i M-ia.

    i~& :(in MisselGrgorien, p. 389)

    Logo nos dois primeiros incisos, nas palavrasAscndit Deus,a melodiaevoca-nos a subida de Jesus ao cu. Partindo da tnica do Modo, a melodiadesenvolve-se por graus conjuntos e com prolong amentos expressivos at atingira8.a,descendo depois e terminando num a meia cadncia na dominante L.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    12/22

    358 IDALETE GIGAD)PSLITEDOMINO(Comnio do Domingo de Asceno).I Modo.

    Cantai louvores ao Senhor que sobe ao mais alto dos cus, dolado do Oriente, aleluia "

    Pt. 67, 33. 34

    S^EfrE Ztflt4

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    13/22

    O S I M B O L I S M O N O C A N T O G R E G O R I A N O 3 5 9Apoc. 8,3 4

    O Te- tit nge-lo s iuxtaSB^$fa&E 5OL ^-S-bensthn-ri-btt-

    sunt e- i incensa mui-t : -et asea-

    ditfu- mus a- r6- ma- tirai^ ^ ^ ^ ^ j^a=s-

    inconspctu De- i, alle- l-ia.(in Missel Grgorien, p. 684)

    Atascndit, a melodia permanece calma dentro dos limites do penta-crdio RE-LA. precisamente nesta palavra que a m elodia se anima, atingindoo tetracrdio superior SOL-D para descer depois suavemente at tnica doModo, emDi.O simbolismo do incenso relaciona-se com o seu fumo e perfume que preparado com resinas incorruptveis. As rvores que o produzem simbolizampor vezes Cristo.Oseu uso e simbolismo quase universal. Associa o Hom em divindade, o finito ao infinito, o m ortal ao im ortal.No ritual cristo, o incenso usado para elevar as preces at Deus.O turbulo de ouro- O ouro um smbolo solar. Na mstica crist identificado com Cristo. Os cones bizantinos tm um fundo de ouro simbolizando a luz celeste.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    14/22

    360 I D A L E T E G I G A

    F EXURGE(Gradualdo Dom ingodaQ uaresma).II IM o d o .Versculo: "Quando omeu inimigo tiver fugido, tremero emorrero diante da tua face".

    ml Pt 9, 20 fX- : sur- ge D- mi- ne,W V v W ' V ^

    prae-T- le - at ho-m^a

    _ j :_ JZM A_^_inconsp-o: iu-di cn- tur gen- tes*

    ciat?5E S 3Btu- o.

    ^ . In converteu- do in-im-cum me- utti

    ?Ei3t ^trr- sum t m-frmabnturf et per- I-b i f ^ i r ^ ; ^ ^ ^.buiit-.. ; a - f-ci--e

    : ,_-r_J__ ' tU-

    (in Missel Grgorien, p. 254)Embora possamos observar valores longos e expressivos durante toda a

    pea, o mais interessante neste Gradual ainsistncia dos mesmos nas palavrasfcie tua,notetracrdio superior, durante toda aterceira eltima frasedoVersculo.Ocompositor evoca a comtemplao de Deus.

    A face de Deusrelaciona-secomasua essncia. A viso faceafacereservada vida eterna.

    No deixa de ser curioso o Modo que o compositor escolheu para serviro texto deste Gradual- o III Modo (Deuterus Autntico).

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    15/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 361Do m Gaja rd de f ine ass im es te M odo : "Suav idade , mod o ex t t i co , m odo

    eterno, que no conclui , que f ica como que suspenso ent re o cu e a ter ra" (inCanto Gregoriano- segundo os princpios de Solesmes, E d io da L i ga dosAmigos do Canto Gregor iano, Lisboa, 1982, p . 68) .

    G)-DIRIGATUR (Gradua l do XI X Do ming o depo i s de Pen tecos t es ) .VI IM o d o .

    "Qu e a minh a prece suba como o fumo do incenso na tua prese na,Senhor " . Versculo: Qae as minhas mos se e l evem co m o umsacr i f c io vesper t ino" .

    VII ;ps,jjo,'2^3S.ri-g-tur *o-r-.ti-.o me- a sic-ut

    I -fr T- Rincensuml= ^

    in conspctu tu- o,1lBBBa~a i - ',

    D-. mi-

    a=^m Mjy.E-lev- ti - oi j

    mttU-umme- - rum sacri- fi- ci- um ves-frfa . iv-per- ti- num.

    (in Missel Grgorien, p. 587)De novo o smbolo do incenso e a imagem das mos erguidas para Deus.Emsicut incensum,a m elodia atinge a regio mais aguda do M odo (TetrardusAutntico). No versculo, em elevtio manum,a melodia chega a extrapolar a8adoModo.Emmearum,depois de um salto de5a,amelodia desce suavementeat tnica, terminando assim a primeira frase do versculo.Na tradio e mstica crists, as mos so o smbolo do poder e supremacia. Quando a mo de Deus toca o H omem , este recebe nele a fora divina.No contexto deste Gradual, porm, as mos evocam uma atitude dehum ildade. curioso verificar que o compositor no continuou a desenvolver a

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    16/22

    362 IDALETE GIGAcurva meldica no sentido ascendente na palavramearum,mas teve necessidadedo salto brusco de 5adescendente L-R, continuando a descer at tnica doModo (Sol), em ondulaes suaves.

    H)-EXURGE(Intrito da Sexagsima). I Modo."Ergue-te Senhor, porque dormes? Ergue-tee nonos desamparespara sempre. Porque afastas de ns a tua face e esqueces a nossatribulao? O nosso corpo, est oprimido pela terra. Ergue-teSenhor, salva-nos e liberta-nos "

    l

    IK.I f- Ps 13, 24. 26 et 23E ^ fsrXsfirge,qua re obdrmis Dmi-ne?exsr- ge,

    -**-4-*3ft - ^ -; t -1et ne re-pllas in fi- nem : qua- re f-d- em u- am

    aa-vrtis, obli-vi-sce-ris tri-bu-Ia-ti- - liem nostram?~~ ^Zl j

    dha-si In er-ra venterno-ster: exsrge, Dmi-ne,

    aditivanos, et If-be-ra nos.(in LiberUsualis, p. 504)

    impressionante o carcter de splica que nos transmitido nesteIntrito.Repare-se na insistncia da palavra exurge sempre cada vez maisvigorosa e suplicante.

    A imagem do corpo colado terra-nosdada no fim da segunda fraseAdhasit in terra venternoster,numa curva meldica descendente at regiomais grave do I Modo.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    17/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 363l)-DE PROFUNDIS (Ofertrio do XXI I I Do min g o d ep o i s de P en te cos tes ) . I I Modo.

    "Das profundezas dos ab ismos c lamei por tiS en h o r . Es cu taSenhor a min ha voz. Das profundezas dos ab ismos c lam ei por t iSenhor" .

    ft.729,1.2m j . - - ; ^ = ^ ^ = ^ ^ Mr pro-fn- dis dama- vi ad te

    - d=J If3fe^SJDmi-ne : Dfr mi-ne ek-u- di o-r-ti- 6--fi=5s^js=^^

    nemme-am:^ ^^ ^ ^^^^

    depro>fiie dis clama vi ad te,. . Dmi-ne.(inMissel Grgorien, p. 594)

    Partindo do grave, mas no ultrapassando a dominante e vindo apoiar-sena tnica(R),amelodia evoca-nos, numbreveincisoaimagemdeprofundidadedo abismo. curioso notar que o m esmo tema literrio e musical vai aparecerde novo na 3 ae ltima frase da pea. (Form a A-B-A).J)-EXULTAVIT UT GIGAS (Comnio do Sbado das Tmporas doInverno). VI M odo."Lanou-se em seu caminho como um gigante, part indo de umaextremidade do cu e terminando na ou tra".Coram,g-

    y - ' " . . . ; , ' " y - , ^ ^ J L J Z - Z Z

    C l Xsult-vit ut gigas adcurrn-dain vi- am:^ ^ tm^ r Ba smm ca- lo egrs-si -o- jus, t oecr-sus ..,adsimmum- >. (inLiber Usualis, . 352

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    18/22

    364 IDALETE GIGAPara os cristos, Cristo era como um sol radioso que caminhava no firmamentocom passos de gigante.

    Neste Comnio, a imagem dos passos de gigante-nossugerida pelosintervalos de 5ae 4aao longo de toda a peca, como um verdadeiroleit-motiv.

    K)-VOCEMJUCUNDITATIS(IntritodoV Domingo depois da Pscoa).III Modo.

    "Com voz de alegria anunciai e fazei ouvir, aleluia: anunciai ataos confins da terra que o Senhor libertou o seu povo, aleluia "

    Cf. Is. 48,20; Ps.6S^ a ia' ^ a s ^

    V Qc e r a i u c u n d i t-tis annu nti- - te,t^^ ^^ r f ^ ietau-di- -tnr, _alie- l- ia : iranti- -te

    as-que ad extr- mura r-rae: li-be-tmtDfi- ^* - -+-~t% X minos p-pu-lum su- um,ai- le-M- ia alie-

    ~fWl& . Ja. (in MisselGrgorien, p 374)

    Os prolongamentos expressivos nas clivis episemadase abela curvameldica ascendente que atingea8ado Modo (Mi) e termina numa cadnciaem Tetrardus (Sol), evoca-nos aqui a imagem dos confins da terra, onde devechegaro grito de alegria pela libertao da Humanidade. nesta pequenapassagemad extremumterraequeculminaopolo destaverdadeiraobraprima.Em todooIntrito, alis,otexto comentado pelo compositor, de formaadmirvel.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    19/22

    O SIMBOLISMO NOCANTO GREGORIANO 365D-FACTUS ESTREPENTE (Comnio do Domingo de Pentecostes).VIIModo.

    "De repente, ouviu-se, vindodo cu, um somsemelhantea umvento impetuoso queencheuacasa onde estavam reunidoseficaram cheiosdoEsprito Santo, anunciando asmaravilhasdeDeus".

    eti2,2,48- - 1 * * B * '" ^^ *' ,a

    ' Actuses re-pne decae- o so- nus adve-P^~^-*-^^^^

    In-ntis sp-ri-usve-he-mntis, u-bf e-rant se-dn- tes,

    m ' ' 4 ^ ' alie l- ia : et repl- ti-suat omnes Spl-ri-tuSancto,-4 -^^ -A - -g- i P - < -loqun- -tesmagna- li- De- i, alie-l-ia,

    ~ (in Missel Grgorien, p. 402)i f c j J ^j - ;TJ8^-ff- alie- l-:ia.Ovento simboliza oEsprito,osoprodeDeus. uminstrumentodo

    poder divino.Talcomoosanjos, mensageirodeDeus, manifestao do divino,intermedirio entreo cu e aterra.

    Depoisdopodatusde 5a(SOL-R),amelodia corre leve para cair,numsalto directo,denovono SOL(tnica), subindo emsonuseapoiando-senasnotas mais agudasdoModo paranos dar aimagemque do cu quesurgeorudo impetuoso-ospiritus vehementis anunciadordoEsprito Santo sobreosApstolos.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    20/22

    366 IDALETE GIGA ) PASSER(Comniodo III Domingo da Quaresma). I Modo.

    "Opssaro encontra um abrigo e a rola um ninho para a guardaros filhos. Assim eu encontre os teus altares, Senhor, meu Rei emeu Deus. Felizes os que habitam na tua casa e te louvam parasempre

    . a ^ Ps. 83 4. S^^L^T~t 3 . j . IAsserinv-nt si-bi domnm, et turtur ni-dum, u-bi

    = a - s S a - * i r j ^ fjrapo aatpullos su os: alta ria tua Dmi-ne

    om,Rexme :us, etDe- us me- us :i v -tiir-pflpEtBS: ~^~qu h-bi-tanf ia doam ta- a, iasa-cu-lomsa-S. A. *M-cu-li, jau- dbnnt te. (in Missel Grgorien, p 502)

    Na mstica crista, o ser alado sempre um smbolo de espiritualidade.Este Comnio um dos exemplos mais interessantes de msica descritiva.

    A primeira frase evoca-nos, de forma notvel, a imagem do pssaro queesvoaa e que nos dada pela sucesso de podatus de 2 a, em pequenasondulaes.

    Na terceira e ltima frase encontramos o polo da pea na palavradomo.A melodia atinge a regio aguda evocando a morada de Deus nas alturas.esta,alis, aideiacentral de todo o Comnio.CONCLUSO

    O universo do simbolismo no canto gregoriano no se limita apenas aaspectos descritivos que so uma nfima parte do muito que h ainda para estudare desvendar neste tesouro incomparvel.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    21/22

    O SIMBOLISMO NO CANTO GREGORIANO 367Dos vrios repertrios ambrosiano, visigtico-rabe, bizantino e algumas

    peas conservadas do galicano, o canto gregoriano o mais artstico e o nicoque se conservou na Europa como msica dos tempos antigos. Ser difcilencontrar outro canto antigo ou dos tempos modernos que possa ultrapass-locomo melodia sacra.OPapa Pio X - o Papa dos artistas, no seuMotu Prpriode 22 de Novembro de 1903, considera o canto gregoriano como "supremomodelo de toda a msica sacra".

    Ao estudarmos as canes dos trovadores do sul e norte de Frana dosscs XII e XIII, ou as dos minnesanger da Alemanha, ou as Cantigas de SantaMaria de Afonso X, ou as Laudi italianas dos fins do sc.XIII e comeos doXIV,verificamos que muitssimas dessas melodias foram inspiradas ou decalcadas no modelo do canto litrgico.muitosignificativo que emcercade mileduzentos motetos religiosos eprofanos daIdadeMdia, mais de mil tenhamsido compostos sobre umtenorgregoriano. Alguns exemplares conservados demsica de rgo dos scs. XIII e XIV so escritos sobre temas gregorianos.Oriqussimo repertrio de rgo do sc. XV at primeira metade do sc XVIIItomou como temas o canto gregoriano ouacano popular daEuropa. Apropriamsica instrumental do sc. XV,para alade e viola, se inspira em melodiaslitrgicas. Igualmente o canto gregoriano influenciou de modo aprecivel acano popular dos povos europeusetem sido fonte de inspirao de numerososcompositores nao s no passado, mas tambm na poca contempornea. notvel, por exemplo, toda a obra de Olivier Messisen profundamente inspiradano canto gregoriano.

    Sendo o canto gregoriano o mais antigo fundo musical comum doocidente, incontestvel a importncia do seu estudo para melhor compreendermos a essncia da msica ocidental. Nunca ser demais reafirmar que ocanto gregoriano constitui um tesouro espiritualeartstico de incalculvel valor.Por isso, deve ser cada vez mais estudado, praticado e amado.Porque acredito que o canto gregoriano vai muito para alm da msica enasceu para nos libertareelevar para Deus, deixo,para finalizar este artigo, umbelssimo pensamento de Antoine deSaint-Exupry:"IIn'y a qu'un problme,unseulde parlemonde. Rendre auxHornmesunesignifcationspirituelle,desinquietudesspirituelles. Faire pleuvoir sur eux quelque chose qui ressemble aun chantgrgorien"'

    1 GAUTHIER,Henri,Le Chant deVEglise, Edition Institut Saint Gregoire LeGrand,Lyon,1962, p. 27.

  • 7/22/2019 o Simbolismo Do Canto Gregoriano - Idalete Giga

    22/22

    368 IDALETE GIGABIBLIOGRAFIA

    CHEVALIER,Jean eGHEERBRA NT, Alain,Dictionairedes Symb oles,RobertLaffont/Jupiter, Paris, 1982.CIRLOT, Juan-Eduardo-D iccionariodesmbolos,Editorial Labor, Barcelona, 1981.FERRET TI, Paolo,Esthtique G rgorienne,Descle etCie,Paris,1938GAJARD, Joseph, La Musicalit du ChantGregorien-MonographiesGrgoriennes,Descle et Cie, Tournai, 1948.GAUTHIER, Henri,LeChant de l'glise,Edition Institu Saint G rgoireLe Grand, Lyon, 1962.HAN I, Jean,O SimbolismodoTemploCristo,Edies70 ,Lisboa,1981.P O T I R O N , H e n r i , La Modalit Grgorienne-MonographiesGrgoriennes,Descle et Cie, Paris, 1928.REINAC H, Thodore,La M usique Grecque, Payot, Paris, 1926.SCHNEIDER,Marius,O Canto Gregoriano eaVoz Humana,in Revistade Canto Gregorianon107, Lisboa, 1983.CANTO GREGO RIANO - Segundo os Princpios de Solesm.es, Edio

    da Liga dos Amigos do Canto Gregoriano, Lisboa,1982.LBER USUALISMissaeetOfficii,Descle et Cie, Paris, 1964.MISSEL GRGORIENdesDimanches, Solesmes, 1985.

    http://solesm.es/http://solesm.es/