Sobre El Estilo en El Lazarillo de Tormes

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 NUEVA   REVISTA   DE FILOLOGÍA HISPÁNICA  A ÑO X I N ÚM. 2 SOBRE E L ESTILO DEL LAZARILLO DE TORMES Es  difícil enco ntrar en la lite rat ura del Siglo de Oro español un a obra q ue plantee a l hispanis ta de nuestro tie mp o tal cant idad de problemas fundamentales como el  Lazarillo de Tormes. Estos pro  b l e m a s , r e la t i v o s n a d a m e n o s q ue a la s c i r c u ns t a n c ias y f echa de com posición y publicación, a la identidad del autor, a la integridad del texto y al sentido mismo, no de algunos  pasajes oscuros, sino de la obra como conjunto, han sido investigados y debatidos por largo tiempo, pero siguen en su mayoría sin resolver. Es verdad, por ejemplo, que la alusión a la entrada  triunfal de Carlos V en Toledo para celebrar unas cortes nos orienta algo en cuanto a la fecha de publicación; pero queda en pie la duda de si el pasaje alude a las cortes de 1525 o a las de 1538 1 . Por otra parte, como las primeras ediciones conocidas son de 1554, d ebi ó tra ns currir un período de 29 o de 16 años —según de qué cortes se trate— durante el cual se escribió la obra. Pero tampoco estamos seguros de que haya hecho su pr im era apar ición en 1554, puesto que ni ng un a de las tres edic io nes de ese año (Burg os, Alc alá y Amb cre s) parece ser la p ri m era 2 .  Y  hay otro hecho que  dificulta el problema de la fecha de composi ción: consta que el  Lazarillo circu en forma manuscrita antes de imprimirse, sin que sepamos cuánto tiempo ni por qué razones 3 . 1  A . BONILLA   Y  SAN MARTÍ N , ed. del Lazarillo,  Madrid, 1915 (Clás. de la lit. esp.), p. xvi, se inclina por la fecha más tardía, mientras que C H. PH . WAGNER, prólogo a la traducción de Lo ui s H o w , New Yor k, 1917, p p . xviii-xx, defiende l a fecha más antigua. Los argumentos de Wagner nos parecen más convin centes: las palabras "victorioso em per ad or" (p.  266  de la ed. del Lazarillo por J .  Cejador, Clás. casi^ Madrid, 1914, que es la que util izamos en este trabajo), e n vez del usual "in victo emperador", pued en referirse concretam ente a la reciente victoria de Carlo s V  sobre los franceses en Pavía  (1525); del mismo modo, la alusión a los "cuydados de el rey de Francia" ( p . 151) hace pensar e n la preo cup ación de Francisco I, pri sionero de Carlos V. 2  Después de rechazar rotundamente la hipótesis de Morel-Fatio, según el cual la de Burgos podría considerarse como  editio princeps, R.  FOULCHÉ-DELBOSC, "Remarques sur Lazarillo de Tormes", RHi, 7 (1900), 81-86,  llega a la conclu sión de que ninguna de las tres ediciones de 1554 es prototipo de las otras dos; afirma que todas presuponen la existencia de una edición anterior al 26 de febrero de 1554 (fecha de la de Alc alá ), y sup one que el or de n cronol ógi co de esas tres ediciones es el siguiente: Alcalá, Burgos, Amberes. 8  WAGNER  , ed. cit., p. xx , cree qu e esta circu laci ón su br ep tic ia y anón ima se

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  • N U E V A R E V I S T A DE FILOLOGA HISPNICA A O X I N M . 2

    S O B R E E L E S T I L O D E L LAZARILLO DE TORMES Es difcil encontrar en la l i teratura del Siglo de O r o espaol u n a

    obra que plantee a l hispanista de nuestro t iempo tal cantidad de problemas fundamentales como el Lazarillo de Tormes. Estos pro-blemas, relativos nada menos que a las circunstancias y fecha de com-posicin y publicacin, a la identidad del autor, a la integridad del texto y al sentido mismo, no de algunos pasajes oscuros, sino de la obra como conjunto, han sido investigados y debatidos por largo tiempo, pero siguen en su mayora sin resolver. Es verdad, por ejemplo, que la alusin a la entrada t r iunfa l de Carlos V en T o l e d o para celebrar unas cortes nos orienta algo en cuanto a la fecha de publicacin; pero queda en pie la duda de si el pasaje alude a las cortes de 1525 o a las de 1538 1. Por otra parte, como las primeras ediciones conocidas son de 1554, debi transcurrir u n perodo de 29 o de 16 aos segn de qu cortes se trate durante el cual se escribi la obra. Pero tampoco estamos seguros de que haya hecho su pr imera aparicin en 1554, puesto que n inguna de las tres edicio-nes de ese ao (Burgos, Alcal y Ambcres) parece ser la p r i m e r a 2 . Y hay otro hecho que dif iculta el problema de la fecha de composi-cin: consta que el Lazarillo circul en forma manuscrita antes de imprimirse , sin que sepamos cunto tiempo n i por qu razones 3 .

    1 A . B O N I L L A Y S A N M A R T N , ed. d e l Lazarillo, M a d r i d , 1915 (Cls. de la lit.

    esp.), p . x v i , se i n c l i n a p o r l a fecha ms tarda, m i e n t r a s q u e C H . P H . W A G N E R ,

    p r l o g o a l a t raduccin de L o u i s H o w , N e w Y o r k , 1917, p p . x v i i i - x x , def iende

    l a fecha ms a n t i g u a . L o s a r g u m e n t o s de W a g n e r nos p a r e c e n ms c o n v i n -

    centes: las pa labras " v i c t o r i o s o e m p e r a d o r " (p. 266 de l a ed. d e l Lazarillo p o r

    J . C e j a d o r , Cls. casi^ M a d r i d , 1914, q u e es l a q u e u t i l i z a m o s e n este trabajo) ,

    e n vez d e l u s u a l " i n v i c t o e m p e r a d o r " , p u e d e n referirse c o n c r e t a m e n t e a l a

    rec iente v i c t o r i a de C a r l o s V sobre los franceses e n P a v a (1525); d e l m i s m o

    m o d o , l a a lusin a los " c u y d a d o s de e l rey de F r a n c i a " (p. 151) hace p e n s a r

    e n l a p r e o c u p a c i n de F r a n c i s c o I, p r i s i o n e r o de C a r l o s V . 2 Despus de rechazar r o t u n d a m e n t e l a hiptesis d e M o r e l - F a t i o , segn e l

    c u a l l a de B u r g o s podr a considerarse c o m o editio princeps, R . F O U L C H - D E L B O S C ,

    " R e m a r q u e s sur Lazarillo de Tormes", RHi, 7 (1900), 81-86, l l ega a l a c o n c l u -

    sin de q u e n i n g u n a de las tres edic iones de 1554 es p r o t o t i p o de las otras dos;

    a f i r m a q u e todas p r e s u p o n e n l a ex is tenc ia de u n a edic in a n t e r i o r a l 26 d e

    febrero de 1554 (fecha de l a de A l c a l ) , y s u p o n e q u e e l o r d e n c r o n o l g i c o de

    esas tres ed ic iones es e l s iguiente: A l c a l , B u r g o s , A m b e r e s . 8 W A G N E R , ed . cit . , p . x x , cree q u e esta c irculacin s u b r e p t i c i a y a n n i m a se

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    Amrico Castro ha dicho que este anonimato debe considerarse como u n elemento artstico esencial a la obra, y que hay que acep-tarlo como t a l 4 ; s in embargo, la ident idad del autor ha inquietado y sigue inquietando a los estudiosos. S i el l i b r o contina sin autor conocido no es ciertamente por falta de candidatos. Comenzando p o r l a atribucin al Jernimo fray J u a n de Ortega, hecha por fray Jos de Sigenza en su Historia de la Orden de San Jernimo, l a lista de posibles autores es bastante n u t r i d a ; en el la aparecen los nombres de Diego H u r t a d o de Mendoza, los hermanos J u a n y A l -fonso de Valds, Cristbal de Villaln, L o p e de R u e d a y Sebastin de Horozco; pero en ningn caso hay pruebas terminantes 5 .

    L a cuestin de la integridad del texto y l a del sentido del Laza-rillo en su conjunto debern resolverse, en fin de cuentas, por medio de u n anlisis estilstico. E n efecto, aqu los problemas son de otro orden. Si los crticos modernos han dado al Lazarillo gran variedad de sentidos, subrayando cada uno u n aspecto distinto y a veces aspectos inexistentes, cabe siempre comprobar el acierto de sus interpretaciones y obtener resultados posiblemente ms provechosos que los que puedan resultar de la bsqueda del autor y de las fechas de composicin y publicacin. Tenemos el texto a la vista; y, dentro de las l imitaciones que nos imponen nuestra poca y nuestra propia personalidad, estamos en l ibertad de sacar de l los sentidos que q u i e r a revelarnos. A travs del examen estilstico del Lazarillo espe-ramos, pues, arrojar alguna luz sobre estas cuestiones de u n i d a d e integridad del texto y del sentido total de la obra, y quiz hasta hacer alguna sugerencia en cuanto a la composicin y la circulacin del manuscrito.

    Durante mucho tiempo los crticos han recalcado sobre todo la correspondencia entre el Lazarillo y el m u n d o "objetivo". Charles P h i l i p Wagner insiste, por ejemplo, en su " implacable real ismo"

    e x p l i c a p o r e l carcter a n t i c l e r i c a l de l a o b r a , i d e a sobre l a c u a l v o l v e r e m o s en

    n u e s t r a conclusin. 4 A . C A S T R O , i n t r o d u c c i n a l a ed. d e l Lazarillo p o r E . W . Hesse y H . F .

    W i l l i a m s , M a d i s o n , 1948, p . x i : " W e s h o u l d real ize , however , that this a n o n y m i t y

    is n o t a n acc ident , o r a n o m i s s i o n , b u t a n essential aspect o f the l i t e r a r y

    r e a l i t y o f the b o o k . I f we take the fact of th is a n o n y m i t y as a p o i n t of d e p a r t u r e ,

    we m a y p e n t r a t e the b o o k m o r e d e e p l y a n d enjoy i t bet ter t h a n t h r o u g h

    m e r e appeasement of o u r c u r i o s i t y a b o u t the author 's a m e " . 5 E n l a i n t r o d u c c i n a su ed. d e l Lazarillo, C e j a d o r resume b r e v e m e n t e los

    a r g u m e n t o s expuestos e n p r o y e n c o n t r a de l a a t r ibuc in a estos escritores

    ( p p . 26-35), y l a n z a a su vez l a c a n d i d a t u r a de Sebastin de H o r o z c o ( p p . 35-68),

    c u y a v i d a y o b r a e x a m i n a d e t a l l a d a m e n t e c o n objeto de d e m o s t r a r q u e fue l

    e l a u t o r d e l Lazarillo. P e r o sus a r g u m e n t o s n o l l e g a n a convencer , y y a E . C o -

    T A R E L O Y M O R , " R e f r a n e s glosados de Sebastin de H o r o z c o " , BAE, 2 (1915),

    p. 683, p u s o de mani f ies to su d e b i l i d a d . E n su l u m i n o s o ensayo El sentido del (

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    (ed. cit., p. i i i ) , y Morel -Fat io slo tiene ojos para su cal idad de stira social 6 . A l hacer del Lazarillo el reflejo de cierta real idad exterior (la de la existencia o la de u n sistema social, enfocado satricamente), estos crticos equivocan la intencin de la obra. E n efecto, e l Laza-rillo es ms bien la expresin de u n estado de nimo interior, vaciado en el molde de una obra de arte. T a n t o el estado de nimo del autor como la tcnica artstica con que se expresa deben considerarse como algo dinmico, que acta sobre la sustancia de la real idad que l o rodea. E n una palabra, no se trata de ''reflejo", sino de creacin l ite-raria.

    Desde el Prlogo mismo, e l Lazarillo es una obra de creacin l i teraria. A q u se pulsan, en rpida sucesin, las cuerdas que habrn de resonar a lo largo de la obra. Para Wagner, era ste ' u n prlogo bastante convencional, en que el autor promete referir los hechos de su v ida a peticin de algui ten a q u i e n l lama vuestra merced" (ed. cit., p. x i i i ) ; pero la verdad es que el Prlogo cumple la funcin de establecer para nosotros la existencia de u n yo autobiogrfico (el de Lzaro), de u n m u n d o de cosas y acontecimientos notables dentro del cual se mueve, y tambin la relat ividad de los valores ( ' los gus-tos no son todos vnos, mas lo que vno no come otro se pierde por e l lo" , p. 71); nos hace ver que el mvil de los hombres es el afn de honra y fama ("la honra cra las artes", p. 72) y que Lzaro habr de reclamar sus derechos ("por que se tenga entera notic ia de m i persona", p. 74) mediante "esta nonada, que en este grossero estilo escriuo" (pp. 73-74).

    Para que no esperemos ver realizadas hazaas verdaderamente heroicas en este m u n d o cambiante e inseguro, Lzaro nos advierte que la bsqueda de la honra no va siempre acompaada en el hom-bre por u n deseo igualmente intenso de realizar grandes hechos. A m e n u d o bastar la apariencia exterior de honra, sin el contenido de u n a accin noble. E l autor presenta hbilmente esta premisa en l o que podemos considerar el eje del Prlogo. Dentro de la idea de honra, pasa inadvertidamente del reconocimiento de u n mrito real a l reconocimiento de u n mrito inexistente: menciona al predi-cador que cumple su tarea buscando el provecho de las almas y que recibe con gusto las justificadas alabanzas, y acto seguido nos habla del noble que, a pesar de haber hecho u n papel deslucido en la justa, se aferra con avidez a los inmerecidos elogios que le hacen. Magistralmente se ha salvado el abismo existente entre el hombre que, sin buscar las alabanzas, se muestra satisfecho de recibirlas

    6 A . M O R E L - F A T I O , tudes sur l'Espagne, P r e m i r e srie, P a r i s , 1895, p . 162:

    " L ' a u t e u r , esprit trs caust ique et trs observateur, n ' a eu e n v u e que l a satire

    sociale, ne s'est v r i t a b l e m e n t p r o c c u p q u e de cela: le reste, c'est--dire

    l ' h i s t o i r e q u i r e l i e les uns a u x autres les pisodes de cette satire, ne c o m p t e

    g u r e , n i p o u r l u i n i p o u r n o u s " .

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    cuando ha realizado bien su funcin, y el que se regodea en los elo-gios aunque resulten ridculos al lado de sus poco honrosas hazaas. E l autor no vacila en subrayar la idea con una pregunta sardnica (p. 73): "Just m u y ruynmente el seor don F u l a n o e dio el sayete de armas al truhn, porque le loaua de auer l leuado muy buenas lanas: qu hiziera si fuera verdad?"

    P o r si an hiciere falta demostrar que el Prlogo tiene u n a funcin artstica de pr imer orden, recordemos la clarinada con que Lzaro anuncia su propsito, al comienzo: " Y o por bien tengo que cosas tan sealadas y por ventura nunca oydas n i vistas vengan a not ic ia de muchos y no se entierren en la sepultura del o lu ido. . (pp. 69-70). Despus de una serie de consideraciones que subrayan el carcter equvoco de la existencia, Lzaro termina calificando su composicin de "nonada que en este grossero estilo escriuo". Cmo se puede l lamar "prlogo convencional" (que sera la simple decla-racin de la intencin de contar unos detalles biogrficos) a estas pginas tan hbilmente construidas para hacernos penetrar en u n m u n d o cuyo nico y "verdadero" sentido se confunde, en u n m u n -do en que todas las cosas son multivalentes, hasta el grado de que a veces "son" (si cabe usar esta palabra) todo lo contrario de l o que parecen ser o deben ser?

    A u n q u e no rechazamos categricamente la observacin de T a r r , segn el cual el tema del hambre es el que da u n i d a d a los tres p r i -meros tratados 7 , nos inclinamos a a t r i b u i r ms importancia a l a u n i d a d estilstica que a la u n i d a d temtica en esta pr imera parte, ncleo de la obra. L a tcnica l i teraria del autor acta sobre la sus-tancia de u n m u n d o incierto y hosti l (la hosti l idad suele ser fruto de la incert idumbre, como cuando Lzaro es vctima de las circuns-tancias por no haber calculado sus diversas potencialidades). Esta tcnica es, en nuestra opinin, el punto sobre el cual se mantiene en perfecto e q u i l i b r i o todo el contenido de los tres primeros tra-tados.

    Si queremos concentrar nuestra atencin en las tcnicas emplea-das por el autor del Lazarillo para poner en movimiento este m u n d o de incertidumbres, de falsas apariencias, de cosas que en vez de ser iguales a s mismas contienen reflejos contradictorios, podemos co-menzar por hacer ver la manera como impone el m u n d o del valor sobre el del anti-valor. A l in ic iar su relato, Lzaro comprende que, a u n siendo u n hroe tan insignificante, debe tener su genealoga.

    7 F . C O U R T N E Y T A R R , " U n i t y i n the Lazarillo de Tormes", PMLA, 42

    (1927), p . 412: " T h e s e tractados, each ar t i s t i ca l ly s u p e r i o r to the other , f o r m a

    u n i t i n themselves. T h i s u n i t y is f u r n i s h e d b y the c l i m a c t i c d e v e l o p m e n t o the

    h u n g e r thme, as L z a r o goes f r o m b a d to worse to w o r s t " . T a r r a f i r m a q u e e l

    descenso de tensin e n los tratados subsiguientes se debe a l a g o t a m i e n t o d e l

    t e m a d e l h a m b r e (p. 420); l u e g o vo lveremos sobre esta i d e a .

  • N ' R F H , X I SOBRE E L E S T I L O D E L " L A Z A R I L L O " l 6 l

    As, pues, decide registrar las circunstancias de su nacimiento. E l hecho de que ste tuviera lugar ' 'dentro del ro T o r m e s " dara incluso cierto carcter heroico a su origen, si no fuera por la aclara-cin de que la miseria oblig a su madre a trabajar en la acea, a la o r i l l a del ro, hasta el momento mismo en que lleg l a l m u n d o . E n cuanto al padre, Lzaro se ve forzado a contar que lo sorpren-dieron cuando robaba el grano de los costales que la gente l levaba a l m o l i n o . S in embargo, su prisin queda revestida con la frmula "confess e no neg y. padesci persecucin por just ic ia" , que coloca la ratera y su castigo en u n contexto valioso, pues, como observa Cejador (p. 78, nota), esas palabras son eco del "confessus est et n o n negavit" del evangelio de San J u a n (1:20) y del "beati q u i persecutionem pat iuntur propter j u s t i t i a m " del Sermn de la M o n -taa (San Mateo, 5:10). Pero Lzaro, no contento con dejar expuesto a su padre a la vista de todos con una vestidura que le sienta tan mal , aade que particip en "cierta armada contra moros", donde d i o su vida como leal criado de su seor, y slo entre parntesis explica que lo que le hizo intervenir en la armada fue el destierro a que dio lugar su conducta. Ms tarde, cuando Lzaro va a acom-paar a l ciego, su madre se complace en recomendarlo como hi jo de u n hombre que muri "por ensalmar la fe" en los Gelves (p. 88). N a d a ms se vuelve a decir sobre las circunstancias de ese gran sacrificio paterno, de modo que el autor ha realizado el " m i l a g r o " de transformar en mrtir a u n ratero.

    E n ms de una ocasin se repite este artificio l i terario que con-siste en elevar a mayor n ive l acontecimientos ruines, revistindolos de frmulas o contextos valiosos. Cuando el ciego i n i c i a a Lzaro en los modos de conducta que le permitirn prosperar en la vida, en-marca sus enseanzas con las palabras: " Y o oro n i plata no te lo puedo dar, mas auisos para v i u i r muchos te mostrar". U n a vez ms, Cejador observa (p. 91, nota) la sorprendente semejanza de esta frase con la de San Pedro (Hechos de los Apstoles, 3 : 6 ) : " A r g e n t u m et a u r u m non est m i h i ; q u o d autem habeo, hoc t i b i do: I n nomine Jesu C h r i s t i Nazareni surge et a m b u l a " . N o cabe duda de que el autor utiliz conscientemente la frase pronunciada por San Pedro a l curar al paraltico, pues en seguida hace decir a Lzaro que, des-pus de Dios, es el ciego quien le ha dado la vida y le ha a lumbrado y adestrado "en la carrera de v i u i r " (p. 91).

    H a y otro pasaje en que, sin recordar u n texto preciso de la Escritura, el autor logra, por decir as, rodear de una aureola de valor u n hecho vulgar. Es el momento en que Lzaro procura que el calderero le d la llave para abr ir el arcaz en que el clrigo esconde su pan. T a l parece como si el calderero fuese el mismsimo guardin de las llaves del cielo; Lzaro lo l lama "anglico" (p. 141), le ayuda en la bsqueda de la llave con sus "flacas oraciones", imagina ver la

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    "cara de D i o s " dentro del arcaz y por fin logra tener acceso a aquel "parayso p a n a l " (p. 142).

    Si estudiamos la manera como el autor del Lazarillo presenta la calidad enigmtica de la existencia, veremos que no slo los acon-tecimientos, sino aun las cosas dejan de ser lo que son. Las cosas n o son entidades estticas cuya ident idad puede determinarse de manera infa l ib le . Cuando Lzaro, despus de acercar el odo al toro de piedra para or el r u i d o que de l sale, siente chocar brusca-mente su cabeza contra el inanimado peasco, dice que ha sido vc-t i m a de una "cornada", que lo deja adolorido durante ms de tres das. Se confunde, si es que no se borra totalmente, la frontera ntre-l o animado y lo inanimado. Ms complejo es este deliberado tras-torno de la integridad de las cosas en el episodio del jarro de v ino. E l ciego ha descubierto que Lzaro se lo bebe, y prepara su ven-ganza. Morosamente el muchacho se entrega al goce del "sabroso l i q u o r " , con la cara vuelta al cielo y los ojos entrecerrados para me-jor paladearlo, cuando de pronto el ciego levanta el jarro y lo deja caer con toda su fuerza sobre la boca de Lzaro. E l v i n o ha dejado de ser "sabroso l i q u o r " para convertirse en contenido de u n jarro "dulce y amargo", y an sufrir otra transformacin: ser el blsamo que mitigue el dolor de las heridas, mientras el ciego se b u r l a (p. 102): "Qu te parece, Lzaro? L o que te enferm te sana y da s a l u d " 8 . Ms tarde se habla otra vez de esa v i r t u d curativa del v i n o : cuando Lzaro sufre las desastrosas consecuencias del robo de la lon-ganiza, el ciego vuelve a lavar con l sus heridas, y le dice que debe ms al v ino que a su padre, puesto que le ha dado la vida no una, sino m i l veces (p. 117).

    E n ningn lugar es ms evidente la aficin del autor a jugar con la real idad de las cosas que en la escena en que Lzaro le esca-motea al ciego la m i t a d de las limosnas. N o basta describir la sisa. E l autor subraya el acto de prestidigitacin que convierte a las blan-cas en medias blancas (pp. 96-97): " Q u a n d o le mandauan rezar y le dauan blancas, como l careca de vista, no aua el que se la daua amagado con ella quando yo la tena lanzada en la boca y la media aparejada, que por presto que l echaua la mano, ya yua de m i cambio anichi lada en la m i t a d del justo precio". A l ciego no le queda sino quejarse de que las blancas de antao se han convertido en medias blancas, y concluir con la ambigua frase: " E n t i deue estar esta desdicha".

    E n el m u n d o equvoco en que se mueve Lzaro no slo son cam-biantes las cosas y las circunstancias, sino que a menudo tambin

    8 B A T A I L L O N , op. cit., p . 17, d ice q u e esta l t i m a frase p o d r a ser u n refrn.

    S i l o es, b i e n p u d o haberse d i r i g i d o en su o r i g e n c o n t r a los cr is t ianos nuevos:

    los j u d o s " e n f e r m a r o n " a l d e r r a m a r l a sangre de C r i s t o , y a l convert irse f u e r o n

    sanados r e c i b i e n d o esa m i s m a sangre en l a c o m u n i n .

  • N R F H , X I SOBRE E L E S T I L O D E L " L A Z A R I L L O " 163

    van engarzadas en contextos contrarios a ellas. Cuando Lzaro pre-para su ltima venganza contra el ciego y finge buscar u n sitio por donde su amo pueda vadear el arroyo a pie enjuto como Moiss al apartar las aguas del M a r R o j o , o como Cristo al inv i tar a sus discpulos a caminar sobre las olas, el ciego lo alaba por su "dis-crecin", que no es sino la sed de venganza a punto de quedar satis-fecha (pp. 119-120).

    Ms tarde, cuando Lzaro sirve a l clrigo, tiene ocasin de descubrir que hasta la v ida y la muerte (esto es, su p r o p i a v ida y la muerte de otro) pueden concurr ir en una sola situacin. Porque justamente el banquete que sigue a u n entierro es la nica ocasin que tiene Lzaro de echarse algo a la boca para mantenerse con vida. B i e n puede afirmar: " e l da que enterruamos, yo viua", y aadir luego: " D e manera que en nada hal laua descanso saluo en la muerte, que yo tambin para m como para los otros desseaua algunas vezes; mas no la va, aunque estaua siempre en m " (pp. 138-139). L a asociacin de dos opuestos (vida y muerte) en una misma situacin parecera ser la consecuencia de una desagregacin pre-via entre semejantes que deben acompaarse uno a otro. E n la es-cena en que el ciego descubre el robo de la longaniza por su cria-do, el autor ha logrado desvincular la sepultura de la muerte. L-zaro siente tal pavor que desea verse sepultado, "que muerto ya lo estaua" (p. 114).

    U n o de los problemas que surgen en este m u n d o cambiante y equvoco es e l del j u i c i o sobre la naturaleza y el valor de las cosas. C o m o las cosas han perdido su estabilidad metafsica, resultando imposible juzgar de su verdad absoluta, lo ms natural es que la apariencia externa se convierta en fundamento de todo j u i c i o de valor. Y este ju ic io , tanto de las personas como de las cosas, es siem-pre modificable, puesto que las manifestaciones externas pueden variar. Lzaro' declara que en u n comienzo se senta desazonado por el "hombre moreno" que sola visitar a su madre, y que "auale miedo, viendo el color y m a l gesto que tena"; pero luego nota que a causa de esas visitas mejora su condicin, ya que ahora puede comer pan y carne y calentarse en el invierno, y entonces confiesa que le fue tomando cario a su padrastro (p. 82). E l que Zayde hurte para ayudar a la fami l ia de Lzaro no altera la opinin de ste, pues sus juicios de valor no se r igen por ningn cdigo de moral . A n ms, el celo que pone Zayde en hurtar para mantener a la mujer querida provoca esta reflexin de Lzaro: " N o nos maraui-llemos de v n clrigo n i frayle porque el vno hurta de los pobres y el otro de casa para sus deuotas y para ayuda de otro tanto, quando a v n pobre esclauo el amor le animaua a esto" (p. 85).

    A l encarar en el n i v e l artstico el problema de la verdad y de la realidad, el autor del Lazarillo llega a soluciones que se anticipan

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    extraamente a ciertos temas que ms tarde prevalecern en la his-toria intelectual de E u r o p a . L a conclusin a que llega Lzaro des-pus de su fatal encuentro con ;el toro de piedra, a saber, que l est solo y que por s mismo debe abrirse paso en el m u n d o (p. 90), parece prefigurar la idea de que el yo es la nica cert idumbre. Desde luego, este descubrimiento no se concibe de manera intelectual, n i corresponde a u n problema ideolgico preexistente: problema y solucin han surgido, de u n golpe, por medios puramente artsticos. Pero aunque la revelacin no tenga el filo de una demostracin filosfica, el hecho es que Lzaro sabe ahora que el yo es el p u n t o de partida para el descubrimiento de la verdad. Y a en u n pasaje anterior, cuando ve asustarse a l hermanico por la cara negra de su padre, podemos observar cmo Lzaro va adquir iendo consciencia de ese mismo hecho. A q u se l i m i t a a meditar (p. 84): "Quntos deue de auer en el m u n d o que huyen de otros porque no se veen a s mesmos!" Pero donde mejor se ut i l i za l iterariamente este p r i n -c i p i o del yo como punto de partida para la conquista de la ver-dad, es en la escena del racimo. Cuando el ciego descubre que Lzaro se ha comido las uvas de tres en tres, porque no ha chistado al ver que l las toma de dos en dos, parece haberse salvado el abismo entre el m u n d o inmanente y el trascendente en una forma que casi presagia el argumento ontolgico con que Descartes demuestra l a existencia de Dios.

    E l T r a t a d o tercero constituye una culminacin de los dos ante-riores, no precisamente porque en l llega a su mximo desarrollo el tema del hambre, como ha dicho T a r r , sino ms b ien en u n sentido artstico, pues la figura del escudero permite llevar a u n a conclusin las premisas sentadas en los dos primeros tratados. Lzaro h a .estado viviendo en u n m u n d o engaoso e inseguro, en el cual las apariencias, sin ser indic io absoluto de la naturaleza de las cosas, constituyen el nico elemento orientador. E l tercer tratado nos ha-blar de experiencias vacas de contenido, elevadas a la categora de valor sustancial. Si el hambre tiene aqu tanta importancia es porque parece haber corrodo la sustancia inter ior de las cosas y de los hom-bres. Lzaro penetra en una casa lbrega, vaca de muebles. L a cama es "negra"; el colchn, " h a m b r i e n t o " (p. 176); la espada del escudero, con todas sus cualidades, est desprovista de hazaas de valor; el nuevo amo se jacta de poseer casas an no construidas y u n palomar ya derribado (pp. 212-213). Cuando Lzaro se topa con el escudero, el t iempo mismo parece haberse vaciado de aconteci-mientos significativos. P o r pr imera vez se pone a contar las horas. " N o eran dadas las ocho" cuando encuentra a l nuevo amo; a las once el escudero entra en la iglesia para or misa; amo y criado llegan a casa a l sonar la una; a las dos, todava est Lzaro dando cuenta de su vida, sin atreverse a rozar siquiera el fundamental tema

  • N R F H , X I SOBRE E L E S T I L O D E L " L A Z A R I L L O " 165

    de la comida, pues no le ve a l escudero "ms aliento de comer q u e a v n m u e r t o " (pp. 170-171).

    E n este m u n d o fantasmagrico, la relacin de Lzaro con su amo no es igual a la que tuvo con el ciego y con el clrigo. A q u no habr luchas de ingenio entre mozo y amo, n i "calabazadas" contra u n objeto slido. Lzaro y el escudero se vern unidos como dos individuos que deben sufrir, no los golpes que uno p r o p i n e al otro, sino los que les l lueven a ambos por la misteriosa adversi-dad de la existencia misma. Juntos pasan la pr imera noche sobre el mismo camastro, tirado Lzaro a los pies de su amo. E l rencor que ha sentido por el ciego y por el clrigo se cambia en compasin, y la realidad l lena de aristas que ha rodeado a los dos amos anteriores es sustituida por la atmsfera "encantada" en que se mueve el de ahora. Lzaro suele echarle pullas entre dientes, pero no se atreve a violentar la integridad de la ilusin en que vive. Observa, pues, cmo el escudero exhibe su extraordinaria espada, cmo se echa el cabo de la capa sobre el hombro y pone la diestra en el costado, a manera de u n gran actor que abandona solemnemente la escena. Slo cuando el amo ha salido de casa y sube por la calle arriba " c o n tan genti l semblante y continente" (p. 181), slo entonces se permite Lzaro una exclamacin y u n comentario sobre los secretos que el Seor se ha dignado revelarle. H a podido descubrir cuan i lusor ia es la realidad. Quin sospechara que ese escudero tan pagado de s mismo no ha comido desde ayer sino el mendrugo que le ha ofrecido su criado? Quin creera que ha pasado la noche en tan "negra" cama?

    De los tres amos a que ha servido, ste es el nico por el cual siente Lzaro verdadero afecto, y aun la ms tierna consideracin. H a y que ver con qu grat i tud acoge la oportunidad de part ir con el escudero su pobre cena de pan, tripas y ua de vaca, sin tocarle en la honra (pp. 191-192). Y a medida que se van estrechando los lazos entre ellos, Lzaro llega a privarse de comida para tener algo que dar a su amo: " Y muchas vezes, por l leuar a la posada con que l lo passasse, yo lo passaua m a l " (p. 196).

    E l descubrimiento que hace Lzaro de la bolsa vaca del escu-dero es, artsticamente, el momento en que se nos revela de l leno cmo amo y criado se unirn por la compasin y sufrirn juntos las adversidades de la vida. Tenemos aqu la ltima fase de u n a serie inic iada con el "avariento fardel" del ciego, que Lzaro sangra en busca de sabrosas longanizas, y proseguida con el arcaz del clrigo, cuyo contenido es nuevo botn de la lucha de ingenio entre amo y criado. Pero ahora la "bols i l la de terciopelo raso" est tan enjuta, tan hecha cien dobleces y tan sin seal de haber llevado una blanca desde hace mucho (p. 197), que Lzaro comprende que la desdicha de su amo es igual a la de l. N o hay sino compartir las adversidades

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    y fortunas. Mientras Lzaro mendiga, algo pueden comer; cuando e l ayuntamiento prohibe mendigar, sufren hambre juntos. Y cuando e l escudero entra milagrosamente en posesin de u n real, una vez ms se pone la mesa, aunque el hado interviene para asustar a Lzaro de tal manera que no puede tomar gusto a los manjares.

    L a i n t i m i d a d que establece entre amo y criado su comn sufri-miento de las adversidades plante al autor u n problema l i tera-r i o , resuelto con verdadera maestra. Cmo romper esta relacin, puesto que hay que romperla para que Lzaro viva las siguientes aventuras que deben l levarlo al "buen puerto" anunciado en el Prlogo? L a relacin con el escudero requera u n desenlace dist into de los que l iberaron a Lzaro del ciego y del clrigo. N o p u d i e n d o recurr i r ya a los porrazos, el autor dio con una solucin genial , que ahora nos parece la nica salida posible dentro de la integridad del Tratado tercero: aprovecha la fantasmal atmsfera que rodeaba a Lzaro y al escudero, y hace que este ltimo, el ms inmateria l de los dos, se evapore de la escena como jirn de nube desvanecido p o r una suave brisa. E l tercer amo se esfuma, pues huye de sus acreedores so pretexto de salir a cambiar una moneda. . . que no posee (p. 218). C u a n d o Lzaro tiene que enfrentarse a las duras consecuencias de esta situacin, las circunstancias vuelven a ser propicias para rea-n u d a r la batalla de ingenio y de carne y hueso con la vida.

    L a estrecha u n i d a d de estilo creador y de material temtico que mantiene unidos los tres primeros tratados sufre u n notable aflo-jamiento en el resto del l i b r o . L a sospechosa brevedad de los tra-tados del mercedario y del capelln ha sido explicada parcialmente por T a r r (art. cit., pp. 413 ss.), q u i e n observa que, al echar aqu de menos u n ampl io desarrollo, somos vctimas de una errnea analoga con el tratamiento dado a los episodios anteriores, y nos engaa la divisin en tratados. E l Tratado quarto es para T a r r u n "prrafo de transicin, semejante a l p r i m e r o del Tratado tercero y a las frases iniciales del segundo, donde se dice que Lzaro se pone a mendigar en el intervalo entre u n amo y otro". E l fraile de la M e r c e d sera entonces una figura de transicin, lo mismo que el maestro de pintar panderos a q u i e n encontramos en las primeras lneas del T r a t a d o sexto y el alguacil mencionado al comienzo del sptimo.

    Las observaciones de T a r r seran ms convincentes si esos amos a quienes se concede tan poco desarrollo no aparecieran todos des-pus de los tres primeros tratados, que muestran tan slida trabazn. Qu razn poda tener el autor, escrita ya ms de la m i t a d de su l i b r o (en la forma en que lo conocemos), para insertar de pronto personajes tan fragmentarios como el fraile, el capelln, el maestro de p intar panderos y el alguacil? E n cuanto al tratado del buldero, podramos convenir en que el autor ha cambiado la base de su obra y ha relegado a Lzaro a segundo trmino, convirtindolo en

  • N R F H , X I SOBRE E L E S T I L O D E L " L A Z A R I L L O " 167

    "mero narrador de las hazaas de su amo". Pero esta explicacin, no obstante sus atractivos, nos parece incompleta. Es incompleta y engaosa sobre todo cuando T a r r afirma que el cambio de enfoque que recae ahora sobre el buldero, y no ya sobre Lzaro "es resul-tado directo de la situacin del T r a t a d o tercero, donde por p r i m e r a vez el enfoque recae sobre el amo", y que desde este punto de vista el l i b r o posee u n a u n i d a d orgnica y u n desarrollo coherente. Nos-otros no compartimos esta idea. N o creemos que el escudero pase a pr imer plano a expensas de Lzaro. Vemos ms b ien aqu el retrato de una relacin humana, en la cual no tendra sentido alguno la figura del escudero sin la presencia del mozo. Pero en lo tocante a los subsiguientes amos, es incuestionable que nada ganan con la presencia de Lzaro y que de hecho no lo necesitan, n i desde el punto de vista temtico n i desde el punto de vista artstico. Justa-mente esta independencia de los ltimos amos frente a Lzaro es la que hace surgir dudas en cuanto a la u n i d a d del Lazarillo. E l intento de salvar la u n i d a d de la obra viendo u n desplazamiento del enfoque, y asegurando que la parte posterior a l episodio de l escudero se desarrolla as coherentemente, aunque con menoscabo de la tensin, nos parece u n razonamiento fabricado ad hoc, con el cual se podra aceptar cualquier innovacin de los ltimos tratados sin ver una falla en la u n i d a d del Lazarillo.

    Nos parece ms plausible considerar el T r a t a d o quarto como u n esbozo inconcluso. Casi podemos percibir el punto en que el autor comenz a bosquejar la historia del fraile: es cuando i n i c i a la descripcin del personaje: "gran enemigo del coro y de comer en el conuento, perdido por andar fuera, amicssimo de negocios seglares y visitar" (p. 226). No hay acaso cierta r u p t u r a y cierto cambio de direccin en el relato cuando Lzaro dice apresurada-mente que sirviendo al mercedario rompi sus primeros zapatos, que no pudo durar con el andariego fraile y que lo abandon por este mot ivo y "por otras cosillas que no digo"? Dejara el autor simplemente en esquema u n episodio que pensaba desarrollar ms tarde? No ser que le falt aplomo para someter a l fraile al mismo tratamiento aplicado a los amos anteriores?

    T a m b i n el T r a t a d o sexto revela, si no precisamente u n carcter fragmentario, s el de u n esquema trazado de prisa y sin arte, des-tinado a lanzar a Lzaro por el sendero "ascendente" de su carrera. L a mencin del p i n t o r de panderos no parece tener propsito alguno, a menos que tambin este episodio se dejara pendiente para u n futuro desarrollo; y el capelln, del cual no se nos dice nada en absoluto, es apenas algo ms que u n jaln en el camino de Lzaro hacia el xito. N i el fraile, n i el p i n t o r de panderos, n i el capelln, n i el alguacil del T r a t a d o sptimo estn vaciados en u n molde artstico que recuerde, por remotamente que sea, los tres primeros

  • i 6 8 A L B E R T A . SIGROFF N R F H , X I

    tratados. Lzaro no es de n i n g u n a manera u n yo, y los amos no le suministran u n ambiente en que pueda descubrir el carcter cam-biante, mult ivalente y enigmtico del v i v i r . A consecuencia de e l lo , hasta el lenguaje con que se despacha a estos amos es notablemente "seco" y carece de aquellos intensos matices a que nos ha acostum-brado la p r i m e r a parte.

    A u n q u e tampoco el Tratado q u i n t o parece harmonizar con l a u n i d a d artstica del Lazarillo, encontramos en l ciertos vagos refle-jos del carcter de los tres primeros. Es verdad que Lzaro no se comporta sino como espectador de las aventuras del buldero, y que sus fortunas y adversidades, verdadera sustancia del l i b r o , se h a n dejado definitivamente de lado. S in embargo, la situacin tiene cierta flexibilidad, acorde con el tono de los primeros captulos, como cuando se menciona el carcter oportunista del buldero, que habla en " b i e n cortado romance" con quienes entienden latn y se hace u n Santo Toms con los clrigos ignorantes (pp. 228-229). Artsti-camente, la culminacin se logra yuxtaponiendo dos situaciones con-trarias, que tienen en comn su falsedad. Nos referimos a la trama u r d i d a por el buldero y el alguacil para vender bulas a los fieles mediante la simulacin de u n milagro. E l episodio c u l m i n a con la notable escena en la cual, mientras el alguaci l da coces y puadas a ms de quince hombres que tratan de sujetarlo, el buldero est en el p u l p i t o de rodil las, transportado en la d i v i n a esencia, en ms-tica comunin con Dios, a q u i e n acaba de pedir que muestre a l pueblo, por medio de u n milagro, la i n i q u i d a d de las acusaciones de falsedad que el alguacil ha lanzado contra las bulas (pp. 238-239). L a tensa yuxtaposicin de la refriega terrenal y el mstico arroba-miento queda hbilmente resuelta cuando los fieles despiertan al buldero de su "xtasis" y le suplican que perdone al alguaci l y l o l ibre de la i ra de Dios. E l buldero inv i ta a todos a hincarse de rodil las para implorar la merced d iv ina; l mismo, con las ma-nos en alto, vuelve sus ojos al cielo con tal fervor "que casi nada se le paresca sino v n poco de blanco" (p. 240). L a situacin llega a l desenlace cuando el buldero pone la ca lumniada b u l a en la cabeza del alguacil para volverlo en su acuerdo 0 . E n todo esto, Lzaro no ha sido ms que u n espectador. Sus aventuras se han dejado a u n lado para dar cabida a u n suceso que, si no se relaciona con l, s tiene que ver, al menos, con el resto del l ibro , puesto que ofrece u n ejemplo ms de la i lusoria real idad en que viven los hombres.

    9 L a h a b i l i d a d c o n q u e se r e l a t a este e p i s o d i o n o reaparece e n las nuevas

    ancdotas q u e l a ed ic in de A l c a l a a d e a l t ra tado d e l b u l d e r o . L a s ad ic iones

    r e v e l a n u n a i n t e n c i n m o r a l i z a n t e (los q u e r e c i b e n g r a t u i t a m e n t e l a b u l a creen

    q u e l a m e r a posesin d e l p a p e l les asegura l a salvacin) y tambin u n gozo casi

    perverso e n las q u e m a d u r a s q u e sufren e n l a cara, p o r u n falso m i l a g r o , los

    a lcaldes y anc ianos (pp. 243-252).

  • N R F H , X I SOBRE E L E S T I L O D E L " L A Z A R I L L O " 169

    E l lt imo tratado nos hace volver al espritu de los tres p r i m e -ros, y viene a ser una culminacin adecuada dentro de la lnea evo-lut iva in ic iada en ellos e i n t e r r u m p i d a en los tratados intermedios. N o nos parece, como dice T a r r , que despus del intenso tratado del escudero decaiga la tensin. E l ltimo tratado nos lleva a u n punto final que constituye una realizacin m u y certera de las p r e m i -sas en que se funda todo el l ibro . E n vez de conducirnos al desenlace que podramos esperar, nos deja en la elevada tensin de u n e q u i l i -br io entre valor y anti-valor. Desde el punto de vista profesional, Lzaro ha llegado a una estabilidad. Pero qu estabilidad! Es ahora pregonero, oficio que para muchos sera apenas u n punto de part ida. Adems, est casado con una mujer que parece haber sido y seguir siendo manceba del arcipreste. P o r u n momento, esta situacin ame-naza con venrsele encima, cuando habla de los rumores que corren sobre estas aventurillas de su mujer. E l l a estalla entonces en juramen-tos y maldiciones. A duras penas logran aplacarla el arcipreste y Lzaro, y ste acaba por concederle completa l ibertad para i r y venir como desee, sin objeciones de su parte. C o n el comentario " Y ass que-damos todos tres b ien conformes", Lzaro logra afianzar una situacin esencialmente insegura. Defiende de ese modo su precaria posicin contra las murmuraciones de amigos y contrarios 1 0 . ste es el " t r i u n f o " de Lzaro, y su carcter ambiguo queda irnicamente subrayado p o r el hecho de que ocurre el mismo ao de la t r iunfa l entrada del E m -perador en T o l e d o .

    E l anterior anlisis del Lazarillo en cuanto obra de creacin lite-rar ia nos muestra que no se ha resuelto todava la cuestin de la u n i d a d artstica de esta obra. Independientemente del carcter equ-voco de la divisin en tratados y de los ttulos que stos l levan, es difcil ver cmo los tratados cuarto, q u i n t o y sexto pueden l lenar orgnicamente la r u p t u r a que hay entre el tercero y el sptimo. E n breves palabras podramos decir que el fraile es u n personaje embrio-nario y que el buldero, aunque presentado estilsticamente en u n a forma a veces anloga a la empleada en los tres primeros tratados, trae consigo u n cambio de enfoque que no ha sido preparado en las partes anteriores. E l p i n t o r de panderos es u n personaje anmalo porque no tiene la menor importancia dentro del l i b r o , y la creacin del capelln es a todas luces u n simple artificio para llevar a Lzaro a " b u e n puerto".

    Para concluir , podramos preguntarnos si lo que impidi al autor publ icar su l i b r o no habr sido la consciencia de no haber realizado plenamente su proyecto l i terario. Podra ser sta una explicacin

    1 0 E s t a " i n e s t a b l e e s t a b i l i d a d " se parece algo, e n su espritu, a l a decis in

    q u e t o m a d o n Q u i j o t e de aceptar l a ce lada q u e h a f a b r i c a d o p a r a su y e l m o

    s i n someter la a l a p r u e b a de u n segundo g o l p e , q u e p o d r a v o l v e r a d e s t r u i r l a .

  • 170 A L B E R T A . SICROFF N R F H , X I

    ms plausible para la demora en la publicacin del Lazarillo que l a razn sugerida por Wagner (ed. cit., p. xx) , o sea que el espritu antic ler ical del l i b r o , en una poca en que la Inquisicin redoblaba su vigi lancia, lo hizo circular slo en forma clandestina y annima entre la fecha de su composicin y la de su impresin. Pero si per-maneci indito entre 1530 (aproximadamente) y 1554, por qu se public en este ao, cuando, lejos de d i s m i n u i r , haban aumentado las restricciones inquisitoriales para la expresin de ideas y senti-mientos como los que encontramos en el Lazarillo? D e ningn modo era ste, como parece suponer Wagner, u n momento ms propic io . P o r nuestra parte nos inclinaramos a pensar que, aun cuando el autor no lo haba dado por concluido, el Lazarillo comenz a c ircular en copias manuscritas, lleg en esta forma a u n nmero cada vez mayor de lectores, y v ino por ello a estamparse en letras de molde.

    A L B E R T A . S I C R O F F

    P r i n c e t o n U n i v e r s i t y .