Quando o
demônio ama
Miguel Ángel Guerrero
Ramos
© Do texto: Miguel Ángel Guerrero Ramos
© Edição: La Lluvia de una Noche
Design da capa: La Lluvia de una Noche
Tradução: Miguel Ángel Guerrero Ramos (o autor)
Título original em espanhol: Cuando el demonio ama
Título em inglês: When the Devil Loves
1ª Edição: 2014
3
Para todos os bons amigos da vida.
Para a magia insuperável do mistério eo desconhecido.
4
Quando o demônio ama
1
Era meia-noite, uma meia-noite de delírios imensos e
misteriosos, de fogo intenso, de segredos sem limites, e eu
estava lá, me desafiando a mim mesmo, tentando me
esgueirar furtivamente dentro de uma igreja Católica, com os
nervos mais frios do infinito sobre a pele ea escaza fé da
minha alma recorriéndome da cabeça aos pés. Eu pensava
em Cristina. Pensava nela com grande intensidade. Pensava
nessa vez quando me livrei dos meus medos e decidiu
confessar-lhe a ela, de uma vez por todas, tudo o que o meu
coração realmente sentia pela sua aura sedutora ea
sedosidade aprimaverada e indecifrável do seu ser. Eu
também pensava, sob a intensidade daquela noite, nessas
palavras dolorosas que ela me disse nessos momentos.
Nessos momentos de sentimento e transcendental confissão.
Claro, ela procurou que as suas palavras tivessem uma
atenuação macio, mas no final foram bastante dolorosas,
uma pontada com uma dor aguda dentro da alma e dentro do
ser. De qualquer forma, além das minhas reminiscências
5
intensas, eu estava lá, debaixo de uma meia-noite com
segredos inatingíveis e delírios imensos e misteriosos, na
frente de uma igreja Católica, perseguindo uma onda incerta
de perfume floral e à procura de uma nova chance no amor.
Todo por esse hábito estranho e curioso de pensar que
sempre há possibilidades para todos na vida. Esse hábito de
pensar que as luzes não são apenas às estrelas, as asas às
aves, os mistérios à lua, as flores aos jardins e os sonhos a
um travesseiro confortável e muito macio ou a um mundo de
sonhos deslumbrantes e desconhecidos. Sim, todo por esse
hábito estranho e curioso de pensar que o impossível é
apenas uma palavra, uma palavra muito abstrata e, portanto,
muito vaga e muito vazia. O que eu quero dizer, mais
precisamente, é que Cristina, eo seu cabelo macio e de
sonhos perfumados, e os seus quadris sensuais, eo seus olhos
amendoados e seu sorriso de encanto misterioso, ter ficado
desde muito tempo atrás em um líquido e fluiu passado que
se foi como a corrente de um rio que corre rapidamente por
uma ribeira desconhecida. O que quero dizer é que, nesse
momento, enquanto eu pensava tudo isso sob a luz atemporal
de uma lua sedutora e enigmática, tudo o que importava era
uma coisa: passar por sobre as paredes da Igreja Católica que
tinha em frente e pasar por sobre os muros mais frios da
existência. Aquele primeiro objetivo, estava gravado no meu
ser de forma muito intensa. Por esse motivo, eu tentei e
tentei eo consegui com um grande esforço. Sim, depois de
tomar o impulso necessário, em menos de um piscar de
olhos, e depois de algumas poucas tentativas, consegui saltar
por cima dos muros da igreja sem ser descoberto pelo
vizinho típico curioso que, por uma razão ou outra, muitas
vezes permanece desperto. E ao fazê-lo, senti um feixe de
luz incerta, uma peça enigmática e profunda do infinito, e
6
uma clarividência, uma premonição estranha e fortuita que
incitava-me a concluir esse estranho caminho de impossíveis
que tem sido remendado com os fios do desejo. Esse
caminho que me tem levado a apaixonar-me de novo entre as
aquas misteriosas das paixões mais intensas e desconhecidas,
e que muito provavelmente vou ter tempo para narrar em
esta história. Um caminho que, por outro lado, pode ser a
melhor representação que se me ocorre para o impossível.
Porque eu creio que o impossível é um caminho, um
caminho que não está em um mapa, mas que está disponível
para cruzar a qualquer momento. Em outras palavras: o
impossível é uma ausência dentro de nós ou um vácuo
infinito da nossa imaginação. O impossível, sob todas as
verdades que são incubadas na alma, é a forma que adotem
nossos medos. Embora, como ou sem impossíveis, a verdade
em questão é que aquele caminho que me trouxe a esta
igreja, é o mesmo caminho que me tem levado a apaixonar-
me novamente. A apaixonar-me por uns olhos de fogo que
eu vim para achar entre as chamas da vida. Uns olhos de
luxúria e com uma luz de excitação que ao vê-los pela
primeira vez, me roubaram a respiração do corpo e a
respiração corporalmente irrespirável da alma. De fato, ainda
me lembro desse fulgido e intenso momento do destino no
qual aqueles olhos me descobreram sobre este plano da
existência. Aqueles olhos de fogo me disseram: "Esta igreja
cheia de vitrais, cruzes e retratos de Santos é um bom lugar
para um amor feroz, para um amor de alma extrema y
lasciva, um amor suado, intenso, penetrante e sugestivo, um
amor que só se ame a si mesmo enquanto esquece ao mundo
na sua totalidade".
7
Claro aquelas dois chamas ardentes, infinitas e
inextinguíveis, ou em outras palavras, aqueles dois olhos de
fogo que eu tem mencionado, eram os olhos de uma mulher
tão bela quanto misteriosa. Os olhos de uma mulher que
exalava um desejo ardente desde cada um dos poros da sua
pele. Eu não podia, enquanto caminhava naquela igreja
sombria e misteriosa na qual entrei furtivamente, e um
momento ligeiramente evaporado da noite, mas que lembrar
aqueles olhos que brilhavan entre a escuridão com
crepitantes fogos de paixão. Eu lembrava aqueles olhos
quando eu entrei um pouco na lívida e extasiada luz de umas
velas que reverberavam dentro do mistério e dentro da vida e
que deformavam e projetavam ligeiramente a minha sombra
em todos os lugares de esta existência palpável. Eu lembrava
aqueles olhos até que, de um momento a outro, e no meio da
oscuridade, a encontrei a ela.
Ela estava no altar, apócrifa e libidinosa. Nua e deitada sobre
um sombrio infinito. Seguramente me sentiu chegar, mas o
seu corpo esbelto e perolado parecia não reconhecer essa
verdade da escuridão. Eu não disse nada. Ela não disse nada.
Eu me aproximei dela. Ele parecia estar em transe. A toquei,
mas ela permaneceu em silêncio. Nem ela nem as sombras
do sombrio disseram nada. Deu-me o mesmo, e a segui
tocando. Ela manteve os olhos fechados. As suas pálpebras
eram longas e sensuais. Os seus lábios macios e úmidos
pareciam ter a textura ea cor da sangue âmbar. Logo, depois
de um breve momento de inspeção, descobri uma toupeira
em um dos seus peitos. O observei como hipnotizado.
Hipnotizado por aquele ponto de singularidade máxima do
universo. Ela, então, levantou-se de repente, e me abraçou.
Eu, por alguma razão, sentia que a conhecia a ela desde
8
sempre, embora eu não sabia o seu nome. Talvez por isso
não me preocupou tanto, pela primeira vez na minha vida,
descobrir ou saber exatamente que tipo de amor era aquele.
Por isso decidi beijá-la. E a beijei, escondendo, inicialmente,
toda a minha ansiedade. Ela, entretanto, e depois de que as
peles já estavam magnetizadas o suficiente, me foi ensinando
com o seu perfume doce e uma dança de mil carícias, que os
beijos não são apenas aos lábios e as carícias à pele.
Ensinou-me a quintessência da paixão da mesma forma en
que também me ensinou que a eternidade não é apenas uma
manhã fugaz, ali, sob o olhar impassível de um Cristo voyeur
que nos observava sem observar e algumas poucas Marias
atordoadas e cheias de vergonha. De infinita vergonha.
E assim, com tanta paixão e tanto desejo, devo dizer, não
percebi aquele estranho fenômeno. Um fenômeno ancorado
no hemisfério mais incomun de este universo. Um fenômeno
de essências volitivas. Isto, entre todas as brisas de um
infernal canto de paixão, foi o que ocurreu: tudo ao meu
redor, enquanto aquela sedutora mulher e eu nos amávamos,
assumiu um tom vermelho, tão vermelho como os lábios da
minha amante desconhecida. Mas: como foi que aconteceu
um fenômeno tão bizarro e tão removido de quem sabe onde,
sem eu dar-me conta pelo menos um pouco entre as sedas
vaporosas do lascivo? A verdade, não sei. A única coisa que
posso dizer é que, naquela igreja, fazendo-lhe o amor a
aquela mulher, tudo ao meu redor disfarçou-se de um
momento a outro de escuridão. Uma escuridão com a cor da
sangue âmbar e com a sensação mais intensa da vida.
Mas: quem era ela? Quem era essa mulher que me entregava
o seu corpo como se fosse um labirinto para que as minhas
9
mãos ou os meus lábios pudessem encontrar uma possível e
erótica solução? até que grutas ardentes da realidade
pretendia ela chegar comigo? E por que me fez essa pergunta
curiosa que, sendo tão óbvia fazê-la, me pegou de surpresa?
—Por que você veio até estas obscuridades da vida? —
perguntou de repente o sussurro lascivo da sua voz. A voz
daquela mulher incomparável.
—Pelo assédio de uma dúvida cruel —disse-lhe eu a ela
enquanto acariciava o seu cabelo perfumado.
—Que tipo de dúvida?
—Não tem nenhuma importância.
—Claro que sim. Uma boa amante deve estar ciente das
dúvidas que invadem o corpo de quem ama e ao que se
apega.
—Ela, devo admitir, me estava falando como se me
conhecesse de toda a vida.
—Diga-me algo —disse-lhe, depois de uns segundos, e ao
mesmo tempo que acariciava o seu cabelo perfumado—,
como você pode querer estar ciente das minhas dúvidas, sem
saber o meu nome?
Naquele momento, naquele momento intenso de sedução,
misticismo e vida, e de perfumes de entrega corporal, ela me
queimou com o fogo rugindo e estrondoso dos seus olhos. A
sua alma, ao mesmo tempo, me disse:
10
—É aí que você se engana. Não somente eu sou a única
pessoa e a única mulher neste mundo que conhece o seu
verdadeiro nome. Eu também sei, o meu querido, a mais
profunda e intensa das suas dúvidas.
2
Não há nenhuma dúvida sobre isso. Aquele foi um colorido
mundo de maravilhas, um mundo vivido e sonhado sob os
desígnios da paixão e digno de estar representado com as
mais belas aquarelas de esta existência e de istos fluxos
estranhos que compõem o universo. E tudo o que eu pedia ao
céu, ao destino, e ao demiurgo da vida, era ter de novo esse
sonho, para captar dessa forma, e com toda a claridade do
caso, os seus prismáticos e avassaladores matizes. Devido a
isso, e por causa do desejo intenso que eu tinha de voltar a
sonhar entre os olhos de fogo daquela misteriosa mulher que
amei em uma igreja, na manhã seguinte à noite de delírio
apaixonado e delírios de mistério sem fim, liguei para ela, é
dizer, à bela mulher nua e misteriosa de uma escura igreja.
Fiz isso depois de me levantar. Não esperei primeiro para me
fazer um bom café. Só acordei das escassas três horas que
tinha dormido, olhei na minha carteira, o número de telefone
que a mulher misteriosa da igreja tinham me deixado num
pedaço de papel de caderno. Ruth estava ali como o seu
nome.
"Olá Ruth, sou eu, o Adrian". "O Adrian?". "Sim, o pintor".
"Hum ...". "O menino da igreja". "Oh, oi. Eu estava
11
esperando a sua chamada". "Sério?". "Sim, e com muita
ansiedade, o meu querido." "Ruth, eu quero saber se temos
alguma coisa. Quero dizer, se isto é sério. ""Claro que sim, o
meu fabricante da escuridão. Temos algo. Mas não é o que
você imagina". "Não quero soar pesado, nem intenso, Ruth,
mas que sabe você sobre o que eu imagino?". "Much".
"Você diz isso como se tivéssemos feito o amor muitas
vezes". "Assim é, querido, exceto que você o chama,
evocando um sentido romântico e poético fazer o amor,
quando eu chamá-lo, pura e simplesmente, ter relações
sexuais". Ao ouvir aquelo fiquei em silêncio por alguns
segundos. Eu não sabia o que dizer. Na verdade, eu não sabia
que devia sentir e como expressar adequadamente o que
devia sentir. No entanto, encorajado, continuei: "Ruth, eu
quero te confessar aquela dúvida que, se você se lembra, eu
disse que me assediava o coração. Uma dúvida que eu nunca
me a atrevi a confessar-lhe a nenhuma pessoa". "Ah, é isso.
Bem, então, se você se lembrar nossa pequena conversa
ontem à noite, o meu querido, em ela eu disse que já sei a
principal preocupação do seu coração". "Não é verdade, a
Ruth, te repito que eu nunca lhe disse a ninguém sobre a
minha dúvida de insuspeita profundidade". "Adrian, Adrian é
seu nome, verdade?". "Sim". "Adrian, você não está e nunca
esteve sujeito a mesma sentença de todos os outros seres
humanos. A sua sentença não é a sentença implacável das
agulhas do relógio".
Essas últimas palavras, admito, as pronunciou aquela mulher
misteriosa e sedutora em um tom como de fogo devorador ou
como de lua estranha e enigmática. De qualquer maneira, ela
disse que iria para o meu apartamento, em uma hora em que
o céu seria, certamente, uma bela tela do pôr do sol, um pôr
12
do sol escuro e sombrio como a vida. Era domingo e como
todo domingo eu decidi ficar na cama assistindo a televisão.
Saraya, a mulher que ocasionalmente contrato para algumas
tarefas do meu apartamento, nunca se apresenta os
domingos, por essa razão a rotina da minha vida me
apontava para aquele dia, um domingo habitual e comum de
solidão. Mas, claro, a Ruth, e os seus olhos misteriosos,
veriam que não fora assim. Eu vivo, a propósito, sem
nenhuma outra companhia que essa tão intangível e tão
ancestral que me dão os retratos e os paisagens diversos que
eu pintei com as minhas próprias mãos ao longo dos anos. A
companhia das pinturas, das minhas ágeis pinceladas de
acrílica poesia e profundos enigmas de carícias visuais. A
companhia inessencial de uns paisagens de reduzidas
dimensões e de uns rostros de gestos imperturbáveis. Sim, eu
não disse isto, mas a minha verdadeira vocação foi e sempre
vai ser a pintura.
No entanto, o meu trabalho atual, com o qual eu sobrevivo, é
o de conceber alguns softwars básicos para uma empresa de
software e em ser o programador de alguns equipamentos de
informática e redes. O meu trabalho é em tempo integral,
mas ainda assim sempre encontro algum tempo para
prosseguir a minha verdadeira vocação, que não me canso de
dizer, tem sido e será sempre pintar. Pintar sobre óleos e
sobre as essências da alma. Agora bem e mudando um pouco
de assunto, muitos perguntaram que tipo de história é essa
que eu tenho com a Ruth, se é que ela, essa mulher de
mistério perturbador, chama-se assim, é claro. Bem, a única
coisa que posso lhes dizer sobre ela, nesta parte da história, é
a lembrança que tenho daquele dia em que eu vi a essa bela
mulher de fogo pela primeira vez.
13
Naquele dia, fora de aquela impressionante igreja de estilo
gótico, caia uma chuva verdadeiramente surpreendente. O
frio era implacável e cobria a essencia da vida sem piedade.
A missa foi celebrada no meio de um inferno invernal.
Naquele momento eu notei um detalhe curioso: ela não
parava de olhar para mim com uma luxúria intensa, com um
magnetismo de paixão. Ela olhou para mim, com os seus
olhos sensuais e flamejantes. Ela me mirava e me mirava con
imensa cumplicidade, con a cumplicidade do desejo que se
veste de escuro infinito. Sim, olhos assim incendiaram
Alexandria, ou pelo menos isso foi o que eu pensei quando
os vi pela primeira vez. Além disso, ela chamou a minha
atenção porque era óbvio que de mim, ela não estava
procurando exatamente as minhas palavras. Era óbvio, por
outro lado, que ela não era uma dessas mulheres que anseiam
ver aparecer um galã de sugestivos aromas românticos que
chege e lhes resuma um amor absurdamente abstrato com
umas impressionantes e memoráveis palavras. Umas
palavras, no entanto, muito transitórias e do momento, e que,
portanto, são apenas frases simples e de efêmera duração.
Não, ela não era assim. Mas o melhor da história é que ela
não era daquela classe de mulheres que aparenta ser assim só
nas características do seu exterior e que, de fato, abundam
em todos os lugares de esta palpável existência. Eu gostei
disso, eu gostei muito disso porque eu nunca fui muito bom
em expressar o amor com palavras secas. Em geral, eu
costumo usar a pintura para trazer para fora o que está dentro
de mim, apesar de que nenhuma das minhas obras tenha nas
suas fibras algo parecido a isso que, em um dos corredores
mais suaves da existência, chamam amor.
14
Mas mencionava que eu vi àquela misteriosa mulher pela
primeira vez, quando fui a uma igreja, a mesma igreja onde
ela e eu fizemos amor freneticamente alguns dias depois. Na
ocasião, quando a vi pela primeira vez, ela usou uma forma
muito sugestiva e sensual para se comunicar comigo. Uma
forma como de suspiros inapreensíveis, demasiado
consistentes e sem tempo. Ela chegou, de fato, a me acariciar
com um dos seus seios, um seio que ela esfregava no meu
corpo com lascívia e com uma estranha ligeireza de paixão
incontrolável, uma legeireza que tenha sobre si mesma uma
fricção suprema, hipnótica e provocativa. Eu não posso dizer
que gostei porque naquele momento eu estava num estado de
verdadeira perplexidade, eu estava confuso e desorientado
neste vazio universo. E, claro, por curiosidade, daquelas que
costumam matar gatos, voltei para aquela igreja não um,
nem dois, nem três vezes. Eu voltei um grande número de
vezes mais nas que eu pude vê-la a ela, sempre com o
mesmo olhar de mulher misteriosa, a mesma maquiagem
suave e os mesmos brincos que brilhavam quando um raio de
sol impertinente conseguia penetrar as nuvens mais
desconhecidas desta dimencion do existir.
Agora, aqui, neste momento de escuro e sensual destino, não
posso deixar de pensar nela, nessa linda mulher com olhos
de fogo. Não posso deixar de sentir nas minhas mãos, sim,
ainda, a textura do seu corpo apetitoso eo calor irresistível da
sua pele. De fato, eu decido, deitado na minha cama, que eu
quero pensar somente nisso. Decido também que não quero
que ninguém nem nada me tire desta situação, no entanto, e
mesmo assim, o telefone toca com um ar indiscreto e difuso.
"Você é um insensível, o Adrian. Quanto tempo há que você
não me chama?". "Desculpe, mãe. Você sabe que eu nunca
15
fui bom para chamar às pessoas por telefone e outras coisas.
""Bem, você deveria, agora que a Angela se mudou para
outra cidade". "Que? A Angela mudou-se para outra
cidade?". "É isso mesmo, o Adrian. E ela se levou à pequena
e bonita da Angelica que me fezia companhia". "Uma má
notícia, sem dúvida. Mas, eu que posso fazer nesse caso?"
"Infelizmente nada, Adrian. Não sei por que você ea sua
irmã não podem se dar bem como todos os irmãos. ""Parece
que você não conhece muitos irmãos. De verdade, mãe?".
"Não brinque, o Adrian. Em qualquer caso, o fato é que você
raramente faz algo pela sua irmã e por me. Quase nunca".
"Sim, é certo. Devo aceitar isso". "É a altura. Não quere nem
saber onde sua irmã foi?" "Não, não realmente". "Ela não
quis me dizer". "Sim, não é raro, eu preciso lembrar que ela
sempre fez o que quis . E, se não é mais, mamãe..." "Você
está me demitindo, Adrian?". "Sim. É que tenho algo muito
importante na minha mente no que devo pensar. Algo que
não pode esperar".
3
A Ruth chegou exibindo um charme indescritível. Nada mais
com vê-la através do olho de vidro da porta o meu espírito
ficou consternado. Mas depois, com a alta urgência do
mundo, e do meu espírito confuso, lhe abri a porta e antes de
dizer qualquer coisa, ela me beijou longa e profundamente
nos lábios. Em seguida, me fez uma pergunta que despertou
o interesse mais sombrio do meu coração.
—Você veio para trazer desastre para esta terra, não é?
16
—Eu não sei o que quer dizer, a Ruth. Mais do que tudo,
mais do que ninguém, eu...
—Não diga nada. Por favor, mantenha silêncio dentro de si e
dentro do seu coração, o meu cavalheiro do lúgubre eo
hermético.
Sem dizer nada, convidei-a para passar e tomar assento no
sofá da minha sala. Eu lhe ofereci também uma xícara
fumegante de café para assustar um pouco o frio inclemente
que rondava toda a cidade eo alma mesma das incertezas.
Pouco tempo depois, fui para a cozinha e deixei-a a ela no
sofá. Preparei o café em menos do que se diz amém, mas ao
voltar para a sala não encontrei à bela e libidinosa Ruth por
nenhum lugar. No entanto, ao ver que a porta do pequeno
quarto onde guardo as minhas pinturas estava aberta, não
tive que pensar muito para saber onde estava ela. Entrei
naquele quarto eo errante e misterioso espírito da Ruth
estava lá, olhando as minhas pinturas com grande
concentração.
—Gostaria de saber como são chamadas? —lhe sugeri. Ela
assentiu, um pouco com a cabeça, e um pouco com a sua
sensualidade.
Aproximei-me dela por trás e abraquei-a pela cintura. Antes
que nada, resolvi ensinar-lhe àquela mulher de fogo as
paisagens, como é o meu hábito sempre que uma pessoa
quere conhecer as minhas preciosas obras de arte. Eu fui
apontando uma a uma, dizendo-lhe a ela os seus respectivos
nomes, uns nomes que ela, muito bela, ouvia com atenção.
17
Da esquerda para a direita, estas são, lhe disse, Abraçando a
tempestade (uma paisagem cheia de palmeiras assustadas por
uma tempestade furiosa), Olhos que removem vestidos (uma
pintura da arte conceitual, em que eu exponho um grande
número de olhos misteriosos e um número considerável de
mulheres, nos edifícios de uma cidade imaginária), A
varanda dos Murmúrios (uma varanda solitária), O
misterioso calor dos seus beijos (uma bela e radiante praia,
tão solitária como a paisagem da varanda dos
murmúrios), Sol e lágrimas (esta pintura é o ramo de uma
árvore cujas gotas de água da suas folhas vivas e verdes
caem dentro da vida e dentro da alma), O olhar de uma
paisagem é algo monumental (a paisagem de algumas
grandes e imponentes montanhas íngremes) e A menor
distância entre dois corações (uma pintura que traz-me
memórias dolorosas à mente. Sim, era melhor não falar sobre
aquela obra com profundidade).
A Ruth parecia encantada com cada uma das minhas pinturas
de paisagens. Assim, então, apontei as pinturas de retratos e
procedi da mesma forma que com as de paisagens. Da
esquerda para a direita que estavam. Carícias furtivas e
intensas de cor esmeralda (um retrato de dois amantes se
beijando apaixonadamente) Trajetórias sob uma lagoa (uma
bela e jovem mulher sob a água de uma possível lacuna. A
propósito, essa bela mulher era Cristina, o meu amor
frustrado e profundo do passado), Prisioneiro dos seus
lábios misteriosamente caprichosos (outro retrato de Cristina
no qual eu enfatizo nos seus lábios, uns lábios que eu sempre
imaginei doces) e Vértices de desconhecida retina (outro
retrato sobre Cristina onde eu enfatizo nos seus olhos cor de
avelã).
18
—Vem comigo, o meu príncipe aterrador e de outro mundo,
quero te ensinar algo —me disse a Ruth, logo depois que eu
terminei de lhe ensinar os meus melhores quadros e
enquanto ela me abrasava carinhosamente pelo pesçoco.
—Me ensinar algo? —perguntei, bêbado de curiosidade e de
paixão.
—Sim.
—O quê?
—O seu forte vínculo com o passado, e não só com o
passado, também com a história ea humanidade em geral.
Com todos os sentimentos, todas as guerras e todos os fatos
da vida.
Edith Ruth Monsivais: uma mulher estranha. Uma dessas
mulheres que quando vão sob as essências perfumadas de
uma noite clara, a lua e as estrelas ficam com inveja da sua
beleza, tanta inveja que decidem brilhar com mais vigor e
com muita mais intensidade para chamar a atenção. Uma
mulher linda e deslumbrante que eu pedi para sair sem me
dizer para onde estávamos indo. Simplesmente deixamos o
meu apartamento. Em seguida, entramos no seu carro, um
luxuoso Mercedes azul. Ato seguido, passamos pelo frente
de uma boate, e se ocorreu-me pensar que muito
provavelmente iríamos para um lugar assim, claro, para que
aquela mulher com olhos de fogo e eu dançássemos um
pouco entre os aromas da sedução, o que me deixou muito
19
nervoso, pois o meu espírito me lembrava que sempre fui
muito ruim para a dança.
—Não pode ser. Vamos para uma boate? —decidi perguntar.
—Sabes uma coisa? —começou a falar ela com o seu típico
tom de voz misterioso e profundo— todas as noites em
cidades como esta, há um novo e agradável sabor e um novo
e encantador perfume no que os sentidos se desvanecem e se
glorificam enquanto as almas se cheiam de intensidade e
prazer. De fato, para muitas pessoas, algo assim, tão abstrato,
tão intenso e tão efêmero, é o amor. Ou seja, uma sucessão
de diferentes línguas para conhecer em uma boate cujas
portas vêm entrar pessoas e sair dos casais. E sabes outra
coisa? Em um deserto de solidão, uma noite mágica para
conhecer uma nova pessoa e tomar uma taça de vinho com
ela, e sair depois para um motel para alimentar o fogo
constante do amor com o combustível inflamável da paixão,
é o melhor incentivo para a alma humana.
Eu olhava a Ruth e pensava, por alguma razão, que o vento
se inspirava, entre os seus redemoinhos e as suas agitações
de mistério e vida, com a voz dela.
E assim, se ao dia seguinte os amantes desconhecidos que
compartilhavam um eflúvio de sonho ocasional e cheio de
paixão em uma boate, se encontram e se reconhecem, cada
um deles virará o seu rostro e olhará como distraído a
outros lugares, como a pessoa que teme mais às cinzas do
amor intenso que ao mesmo fogo da vida.
20
4
"Quando o coração caminhe em outra vida", isso foi o que a
Ruth me disse quando lhe perguntei se nós teríamos um
relacionamento de namoro. Parecia perfeitamente normal. O
mais lógico, de fato. Ela e eu tínhamos muito em comum.
Então... por que não? Por que não começar a viver essa
experiência sensacional, essa experiência única? Pelo menos
isso foi o que a minha alma uma e outra vez se perguntou um
pouco confusa.
—Aqui é onde eu vivo —disse a Ruth de repente, aquele dia
com um por do sol cereja e pensamentos que penduram da
margem mais distante do mistério.
Antes de entrar naquele lugar enquanto ela me tomava de um
braço, levantei os meus olhos e no limiar da porta, eu pude
ler um aviso misterioso e sedutor que dizia: Perfumes de
Harém.
—Que lugar é este —perguntei.
—O lugar do jogo delicioso do amor —respondeu ela. Cheia
de charme. Cheia de mistério.
Naquele mesmo momento, eu entendi exatamente que lugar
era esse, e entrei em pânico como nunca antes na minha
vida. Minhas entranhas estavam cheias de susto. Eu estava
cercado por um sentimento nebuloso e demasiado
consistente dentro do reino das mais doces miragens, um
21
sentimeinto que desapareceu um pouco quando entrei
naquele escuro lugar da existência ea paixão. Naquele lugar,
em que uma mistura de cheiros florais começaram a me
seduzir intesamente, com sensualidade e sob a mesma
sensação de desgraça infinita.
Perfumes de Harém era um edificio de apenas cinco andares.
Lucia um pouco velho. À primeira vista, se poderia dizer que
não era um motel de alta categoria, ou um clube de luxo,
nem um sexshop ou uma dessas agências de acompanhantes
listados em anúncios dos jornais. No entanto, na entrada, ao
lado do nome do local havia uma imagem de uma mulher
que convidava com os seus olhos e sua pose sensual para
desfrutar paixões deliciosas. Sórdidas e quotidianas paixões
de êxtase total.
Uma vez dentro, a primeira coisa que me chamou a atenção
nesse clube, foram as mulheres que estavam lá. Naquele
momento, eu não notei fissuras de tristeza nelas, não notei
nenhum traço de alegria, não notei porque não quis fazê-
lo. A Ruth, com um olhar arrogante, de repente, me disse
que estava pronta para apresentar àquelas mulheres. Para
apresentá-las uma por uma e da mesma maneira em que eu
falei com ela, isto é, com a misteriosa mulher dos olhos de
fogo, dos meus quadros. Claro, a Ruth se referia a elas como
obras de arte, como objetos requintados e curiosos e como
nada mais. Uma maneira de apresentá-las muito
desumanizante, claro que sim, mas também mágica e
evocativa, docemente evocativa. O que eu não sabia nesses
momentos, era que eu mesmo conheceria depois todos os
segredos que estão escondidos no coração de todas e de cada
uma delas. Tanto os segredos como as infinitas preocupações
22
daquelas almas profundamente maltratadas. Aquelas almas
suaves e femininas.
"Ela é a Silvia", disse a Ruth. "Um colar de mil amores",
agregou em seguida. A Silvia, de fato, era uma das mais
maduras do lugar. Uma mulher de pele e olhos canela, de
sobrancelhas muito grossas e quadris largos. Uma mulher
que não deixaba de tomar bebidas alcoólicas durante todo o
dia, embora em quantidades medidas. Ela, a propósito,
estava numa mesa, vestia uma blusa transparente e uma saia
curta que sugeria as suas coxas de forma descarada.
Celeste foi a segunda na apresentação. Ela era uma mulher
muito jovem e de olhos azul profundo. A única pessoa no
lugar que ainda tinha a ternura eo brilho de uma distante
inocência em seu olhar. Ela, como a Silvia, estava sentada
em uma das cadeiras de uma mesa enorme de madeira que
estava no canto mais escuro daquele lugar friamente mágico
e perturbador. Ela estava girando o seu cabelo quando a Ruth
decidiu apresentá-la. Ela me cumprimentou com essa forma
tão sedutora de convidar à paixão que muitas vezes usam as
meninas que trabalham em lugares como aquele em que eu
estava, embora também um pouco de triste. Eu não sei por
que, mas ela me fez pensar em uma floresta ancorada no
meio da melancolia, no meio das existências mais
despedaçadas de um ligeiro desejo de viver. Uma floresta
cujas árvores são agitadas pela brisa mais fria e os ecos mais
adormecidos de uma letárgica nostalgia. Claro, ela, se podia
ver a quilômetros de distância, era de esse tipo de mulheres
que escuta, uma por uma, as penas de seu cliente respectivo.
Sim, do tipo que não compartilha só o seu belo corpo, mas
também o seu intenso coração.
23
Tiffany, se esse era realmente o nome dele, era uma linda
menina de pele perolada que parecia que em um tempo
passado, tinha desfrutado de uma alegria transbordante e
vulcânica. Uma alegria da inocências e fantasias intensas. Se
ela, como a Celeste, estava triste, isso foi algo que a minha
alma não soube registrar no momento. No entanto, por um
segundo incerto olhei a pele das suas bochechas com
atenção. Era uma pele muito pálida. Indicava, sem dúvida,
que se tratava de uma área de lágrimas frequentes. Uma área
de sombras e dores infinitas.
Marleny, por sua vez, estava com um sorriso de orelha a
orelha, e uma garrafa de bebida numa das suas mãos. Ela,
como foi capaz de perceber, era a favorita dos mais bêbados.
Sim, daqueles homens de respiração amarga e alcoólica que
implacavelmente buscam esquecimentos na pele de uma
mulher. De entre todas as mulheres de lá, ela era, de uma
estranha forma, a mais imune às náusea que podem lhe
causar aqueles homens desagradáveis a uma mulher.
Mais tarde, depois dessas primeiras apresentações, soube
pela boca de uma ou outra das garotas naquele lugar, os
nomes das outras meninas que no momento não me
apresentou a Ruth. Algumas delas, daquelas sugestivas
damas do prohibido, permaneciam nesses momentos com
algum cliente em algum dos quartos do lugar. Outras, porém,
estavam ofereciendo prazeres em um show de dança sinuosa
e sensual, que teve lugar em um pequeno palco no salão
principal. A propósito, para os fins desta história, não devo
perder de vista um fato muito importante, um fato escuro e
sombrio: de todos os personagens naquele lugar, havia um
24
que chamou a minha atenção como nenhum outro. Um que
parecia como se fosse um filho das trevas ou como se tivesse
saído de um infinito mar de escuridão e perigosas sombras
de morte. Ele estava no comando, sem dúvida, para
monitorar e proteger o local com outros dois ou três caras
que estavam sob as suas ordens. Ele levava um patch no olho
direito, um olho inexistente, um olho vazio mas de mortais
visões. Victor Monsalve, um personagem sombrio e
arrepiante. Um personagem de ar escuro, sinistro e muito
tenso. Demasiado tenso pelas mesmas nuances da vida.
Perfumes de Harém, de acordo com a bela Ruth, um lugar
que sempre tem se destacado por ter muitas flores desejáveis,
bonitas e apeitisas. E claro, isso era, como bem podemos
supor, o que mais chamava a atenção do lugar. No entanto,
de todas as mulheres daquele lugar escuro e perturbador, a
Ruth era a única cujo olhar estava cheia de energia e
verdadeira sensualidade. Uma sensualidade misteriosa e tão
mística como desenfreada.
Não há dúvida, os clientes de Perfumes Harem permanecem
ali debaixo de uma árvore de mil amores, e, enquanto
caminham entre os contornos envolventes e insuspeitos da
luxúria do corpo, os vértices de um milhar de ilusões
deslumbrantes atravessam a verdade da vida, envolvidos em
um ou outro pedaço fino e silencioso de paixão. É comum,
portanto, encontrar no rosto de algum deles a alegria de um
amanhecer de verão, a força com que estiveram imersos por
um tempo inexorável no aroma envolvente da sedução, a
emoção do mundo que experimentaram por alguns minutos
25
ou, simplesmente, e acima de tudo, o vórtice desse
sentimento intenso em onde, como diz Sábato, tudo é
alma. Isto é, a imensa tristeza que eles deixam e derramam
naquele lugar, essa tristeza que depois deixam sem piedade
e sem consideração nelas, as mulheres de Perfumes de
Harém. Porque, cada dia, naquele sórdido e escuro lugar,
as mulheres que trabalham ali sabem que a profundidade da
sua tristeza, depende da força, e só da força, com o qual esta
é lançada no lago de miséria. Da sua infinita, desdenhosa e
implacável miséria...
5
—Temos a consciência adormecida.
—Não entendo, que quer dizer com isso, Ruth?
—Lucas 20, versículo 38: ...Deus não é Deus de mortos, mas
de vivos, porque para ele todos vivem.
—Não podemos morrer? ...
—Não, mas há coisas piores que a morte. Embora também
há, o meu querido, coisas melhores que a vida.
—O que coisas são essas?
—Coisas piores que a morte como a sentença infinita que
você leva sobre a alma. Ou coisas melhores que a mesma
vida como a bela confissão de uma carícia.
26
—Em primeiro lugar, o meu céu, eu não levo em mim
nenhuma sentença, pelo menos não que eu saiba. E em
segundo lugar, não sei se reparaste, a Ruth, mas uma carícia
nunca pode ser melhor que a vida, porque para uma carícia
deve existir precisamente isso, ou seja, vida.
—Eu sei que não é fácil de entender o que digo entre a
mística da minha alma e as trevas da vida, o meu amado
Adrian. Mas olhe pelo lado bom: aqui, neste lugar, o amor é
infinito eo esquecimento não tende a durar.
A Ruth, após daquela breve conversa, ficou em silêncio. Em
seguida, ela pegou a minha mão e me levou para um dos
quartos de Perfumes Harém. Um quarto que permanecia
vazio e em cuja entrada havia um misterioso número 1, un
número 1 de horas incertas e paixões sucessivas e
incontáveis. Ao entrar lá, eu assumi que assim seriam todos
os quartos naquele frio e sombrio lugar do inferno terrenal eo
amor. Mais tarde eu iria aprender que não, que esse era o
único quarto em todo Perfumes de Harém que não tinha uma
cama. Embora, de fato, completamente vazio não estava
aquele quarto de essência libidinosa. Havia latas, tubos de
tinta têmpera, terebintina, pincéis, aquarelas e outros objetos
da pintura. Ao vê-los, uma faísca estranha cruzou o meu ser
e ali, sem mais delongas, eu mergulhei-me em esse óleo
suave e saboroso que é o corpo da bela e mística Ruth.
Enquanto isso fazia, eu comecei a dizer-lhe a ela, a minha
linda e sensual amante, algumas palavras concisas de amor
que, francamente, não me lembro o que estes possam ser.
Ela, naturalmente, ouviu com atenção enquanto me retirava
um tanto ansiosa as minhas roupas. Quando os dois
estivemos completamente nus, ela lançou uma lata de tinta
27
verde esmeralda em cima de nós. Então, eu peguei, pela
minha parte, uma lata de tinta azul hortência e lancei-a em
direção ao tecto do quarto. A pintura caiu um momento
depois em forma drastica, como a sugestiva e indizível chuva
do inapreensível, e salpicando tudo ao redor. As enormes
gotas iam e vinham por todas partes e da maneira mais
aleatória que alguém possa imaginar. Sim, elas iam e vinham
com certa luxúria sobre a gravidade desenfreada dos
humores do sexo. Do sexo desenfreado e docemente
compartilhado.
E assim, abraçados, ambos estivemos experimentando a
paixão enquanto demos voltas entre a pintura e entre as mais
humedecidas realidades do prazer. Os meus cinco sentidos
estavam concentrados nessa árdua e agradável tarefa do
amor. Um amor que durou um tempo infinito, um tempo
incomensurável, porque cada segundo eu me colocava de pé
para começar algum quadro com os materiais que foram
arranjados pela Ruth para essa amorosa e artística
finalidade. Sim, ela tinha que ser a pessoa que planeou todo
para que issos materiais estivessem lá, embora nesse
momento de amores intensos eu não pensei se realmente
tinha sido ela. Algo muito estranho, porque se em verdade
foi ela, então, as estrelas mais inesperadas do desconhecido,
devem conhecer as seguintes perguntas: Como esta mulher
misteriosa veio a conhecer tão cedo que a pintura era o meu
principal passatempo? Quem poderia lhe dar a ela essa
informação sem eu saber? Por que tanto mistério de doce
intemporalidade no centro dos seus olhos de fogo? Umas
perguntas sobre um assunto tão estranho e enigmático como
a mesma Ruth. Umas perguntas cujas possíveis respostas não
quis pensar muito, claro. nesse momento, no quarto n º 1 de
28
Perfumes de Harém, tudo o que eu pensava era que aquelas
pinturas e aquelos óleos estvam lá, na verdade, por alguma
coincidência estranha e fortuita. De qualquer forma,
qualquer que seja a razão pela qual aquelas pinturas e
aquelos materiais estavam lá, e além todos os sentimentos
mais imediatos e mais palpáveis, aquela noite eu comecei
alguns quadros, embora, para ser honesto, nunca teve muito
progresso neles. Mas bom, lá, nesse sombrio lugar, estava eu
, aproveitando a paixão, observando uma esmagadora
obscuridade de sangue tonalidade âmbar, âmbar profundo.
Sim, ali estava eu, realizando aquela tarefa da minha
vocação de pintor, que não poderia ser feita, mais que dessa
forma sinestésica e sensual que me permitiu mergulhar
livremente nas cores e nos sabores do prazer.
—Eu sempre tive o dever de encontrar a sua alma no meio
desta vida, o meu querido.
—Diga-me a Ruth, se isso é talvez uma expressão de amor.
—Não, claro que não é.
—O que é então?
—Só dorme. Amanhã será um longo dia, o meu pequeno.
—Por quê? Por quê será um longo dia?
—Você vai descobrir quem é em realidade.
—Quem sou?
29
—O meu demônio ... O meu anjo da guarda ... Quem tem
sangue e morte nas suas mãos.
Aquela noite de intensidades amorosas e sombrias, não
consegui dormir nem por um segundo. O sono não era algo
fácil dentro da minha alma. De fato, acordei à meia-noite e
encontrei-me pensando, de repente, na bela Celeste. Por que
ela estaria lá, me perguntei de um momento a outro. Sim, lá,
em um lugar tão atroz, escuro e deprimente como o
Perfumes de Harém. Nesse lugar de pesadelos intermináveis,
desejos latentes e opacidades excessivas que comprometem
as fibras mais essenciais de qualquer alma humana.
Um após outro, ao Perfumes de Harém, chegam os clientes
para satisfazer os seus desejos mais mesquinhos e
conspícuos. Enquanto isso, ela, a linda Celeste, busca na
sua memória fugitivos e melancólicos resíduos daquele dia
fatídico, de uma noite escura e nebulosa, em que ela chegou
àquele desconhecido país, totalmente cheia de sonhos e com
o anseio imperioso e absoluto de olhar uma vida melhor.
Não toda vida é a morte, mas nas melancolias todas as
mortes são a vida. Por essa razão, a cor da tragédia pode
ser extremamente intensa. Sim, a cor da tragédia pode ser
algo realmente devastador, doloroso e fulminante. Algo
verdadeiramente digno de um pesadelo que contamina
pouco a pouco o coração. Ela soube isso de um momento a
outro. Ela soube isso quando foi confinada, em contra da
sua vontade e com uma enxurrada de lágrimas caindo sobre
a sua inocência maltratada, em um quarto escuro e
infinitamente frio. Um quarto onde de vez em quando
(enquanto a noite transcorre), ela aparta a sua visão de
30
daqueles homens, homens de múltiplas classes e ambições
que chegam, viris e com uma sede implacável de mulher.
Ela também aparta a sua visão dos seus sexos eretos e
impassíveis deles para meljor observar uma lua cheia de
beleza inédita pela janela. A beleza de um doloroso e
profundíssimo silêncio.
6
Às vezes, quando as voracidades da nostalgia e os seus
perfumes indecifráveis chamam a minha porta, geralmente
eu lembro muitas nuances da minha simples e desprevenida
infância. Sim, geralmente, eu lembro alguns brinquedos
quebrados e remendados, também lembro, entre todos os
aromas de uma existência distante, a minha mãe ea minha
irmã querida. Lembro-me de tudo isso, porque todos eles,
muito cativantes e insubstituíveis nas partículas mais íntimas
que compõem a essência da minha vida, são os transeuntes
mais leais na névoa espessa do mundo solitário e descorado
da minha infância. Aquela infância que correu tão suave
quanto uma peça de nuvem de luz, entre os jogos eo amor
fraternal. Aquela infância que desapareceu de repente da
antiga casa em que eu cresci ao lado da minha irmã, a minha
mãe e um papagaio tímido que chamávamos "o
Ramón". Nissos tempos, ainda me lembro, só havia no meu
ser uma coisa bastante clara: a primavera não era para mim,
como é agora, uma parte do infinito que havia escapado do
Éden para divertir aos amantes. Em consequência, dentro das
minhas mais ontológicas certezas de infantil facticidade
cotidiana, a primavera era o tempo do meu jogo favorito, o
meu, naturalmente, eo da minha querida irmã Angela. O jogo
31
das escondidas que ela e eu jugávamos com Braulio e
Ernesto que eram os filhos de Rosalba, a vizinha que sempre
nos doava, todas as tardes, sem falta, um dos pequenos bolos
de pão que ela vendia diariamente em uma pequena barraca
que estava na rua. Um jogo que entre os quatro praticávamos
como se fosse uma espécie de ritual sagrado entre as
crianças. Um jogo de suaves interstícios e descobrimentos
intensos. O que eu nunca fui capaz de explicar, dentro de
mim e dentro do meu própio ser eu, nem sequer agora que
passaram vários anos como brisas ligeiras de outono, é por
que às vezes eu sentia ciúmes e colocava-me tão furioso
quando via ao namorado da Angela chegar e interrompia o
jogo. Aquele namorado que depois de alguns alguns anos a
deixou a ela grávida e após perdeu-se como um náufrago no
mar dos esquecimentos com forma de sargaços. Claro, eu
amava a alegria infinita com a que a Angela sorria com a sua
típica coqueteria de gata travessa. Eu amava a beleza
hipnótica e incomum do brilho dos seus olhos. Não havia
dúvida de que ela parecia um anjo. Além disso, ela era a
minha única companhia. A única pessoa que me abraçava e
me dava incentivos e algo de dinheiro quando os grandes
crianças na escola me quitavam o meu dinheiro da semana.
Sim, naqueles dias eu conhecia algumas alegrias e sabia do
sabor agradável dos sorrisos, mas com o passar dos anos eu
cheguei a ser bastante introspectivo, tímido e isolado. Claro,
já estava terminando a minha infância, e esta estava
terminando, para piorar as coisas, com um episódio escuro e
sinistro que nunca poderei apagar da minha mente.
Tudo aconteceu numa manhã de primavera, logo após o meu
aniversário número quatorze. Recentemente, havia me
interessado em uma menina que ia à mesma escola que eu
32
todas as manhãs. O nome dela era Cristina. Ela evocava me
desejo. Um desejo intenso e profundo. Esse desejo que eu
ignorava e que me mergulhava em uma curiosidade
inescrutável e abismal, e que enquanto mais aumentava, mais
me fascinava. E assim, com o desejo de paixão vagando na
minha mente, uma manhã quando jogávamos às escondidas
com o Braulio eo Ernesto, a Angela e eu nos escondemos
debaixo de uma mesa que tinha uma toalha de bordados
finos e imaculados sobre ela. Nós ocultamos muito juntos e,
de um momento para outro, sem perceber, a toquei a ela em
esse lugar onde não devi ter tocado nunca, ou seja, em uma
das suas partes de mulher. Mas isso não foi o realmente
ruim. O realmente ruim foi que eu a olhei a ela, a minha
querida irmã, como se olha uma mulher que desperta desejo
e paixão, porém. para aqueles momentos, em meu coração de
criança, eu não compreendia muito bem o desejo, e muito
menos tudo o que respeita à paixão. De qualquer forma ela o
percebeu tudo e corou. Ela saiu então da mesa e disse que
não queria continuar jogando porque tinha muitas tarefas
para a semana, embora, dentro da nossas almas, ambos
sabíamos que essa não era a verdadeira razão pela qual ela
decidiu parar o jogo. A partir daí, comecei a me sentir vazio.
Comecei a me sentir solitário. Angela nunca voltou a
abraçar-me, nunca voltou cuidar de mim, nunca voltou para
me dar incentivo e estar comigo nos momentos difíceis.
Não há dúvida de que aqueles foram os dias em que a minha
solidão começou. A nossa vizinha Rosalba, que sempre
viveu com a única companhia que lhe ofereciam os seus dois
pequenos, conheceu um homem de quem ela se apaixonou
perdidamente, um homem que depois se foi com a ela, e com
o Braulio e com o Ernesto, para viver em um cidade distante,
33
ou pelo menos issos eram os rumores que havia por lá. Um
dia, mergulhado em uma solidão muito densa, uma solidão
de infinitos interstícios, eu me sentei e ouvi algo estranho.
Olhei aos lados, olhei ao horizonte, mas não encontrei
ninguém. No entanto, eu ouvia que uma voz estranha me
chamava, e que me chamava pelo meu nome. Era a voz de
uma mulher. Naquele momento eu me concentrei
profundamente naquela voz para ver se eu podia sonhar com
a vida e com as mais doces entregas de um alma
desconhecida. Então, de um momento para outro, tudo ficou
vermelho; uma tonalidade vermelha com a mesma essência
insigne da sangue humana. Ao final, eu não pude saber quem
estava me chamando, então eu acabei pensando que aquele
fenômeno tão estranho era apenas uma voz dentro de mim,
uma voz que atravessava uma densa e sofrida solidão.
7
—Quero, desde o mais profundo do meu coração, que todas
as noites, e os seus vislumbres mais charmosos, cheguem até
nós —disse Ruth, de repente.
Então, nesse instante, eu olhei a Rut, sumanente
concentrado, pretendendo paixão, desejando esperança e
vivendo uma loucura desenfreada. Uma loucura infinita.
Foi exatamente como havia imaginado a parte mais escura
do meu ser. A bela Ruth Monsivais me havia feito de repente
a mais estranha proposta que eu havia ouvido na minha vida.
Ela me pediu que me ficasse vivendo lá. Vivendo com ela,
obviamente. Ela disse que, apesar de que os seus fundos,
34
basicamente, saíam dos ganhos do Perfumes de Harém, ela
não trabalhava vendendo o seu corpo como as outras
mulheres de ali, daquele sombrio lugar. Às vezes ela o fazia,
sim, "para que negá-lo", acrescentou ela, sem nenhum pudor,
de forma um pouco desavergonhada, sem escrúpulos e
enquanto tomava um que otro gole de uísque, um uísque
cujo gelo ela fazia tilintar contra uma fina taça. Agora bem,
de acordo com ela mesma, Ruth Edith Monsivais foi apenas
a proprietária e administradora daquele lugar de perdição e
luxúria.
Mas a sua proposta não terminava aí. Ela queria que eu
deixasse de trabalhar como programador para ajudar com a
gerencia daquele lugar. Pensei, então, durante uns segundos
aquela trancendental questão, e joguei um olhar profundo ao
redor. Eu me imaginei vivendo lá, vivendo entre as trágicas
sombras de um perfume erótico e desvanecente, imaginei o
silêncio mais frio e habitado da vida, e a situação a encontrei
sombriamente perturbadora. Sim, perturbadora, e isso que eu
apenas estava começando a perceber a verdadeira dimensão
da tragédia que viviam as mulheres vendiam o seu corpo de
mulher naquele lugar. Apenas começava a perceber que
aquele bordel escuro projeitava uma sombra decadente e
inevitável sobre todas elas. E digo apenas, porque confesso
que até esse momento eu não tinha feito outra coisa mais que
apartar de mim a fria idéia de que elas eram mulheres
desprotegidas, abusadas e escravizadas. Em parte, porque eu
não queria ter uma imagem que danasse a branda fantasia na
que a ardente e bela Ruth tinha-me levitando.
35
—Adrian, o meu querido e amado Adrian, que deseja a sua
alma? —me perguntou a Ruth com uma paixão febril e
translúcida nos seus olhos de fogo e magia.
—Eu quero algo de ti... Talvez o amor que está nesses olhos
que me observam... Talvez um pouco do passado que eu
anseio... Talvez uma peça exclusiva daquele coração que
bate com grande força na sua penho... Talvez um pouco do
seu carinho de mulher... Talvez um pequeno significado de
paixão e vida... Ou talvez ...
Sem esperar que eu terminasse de falar, a bela Ruth me
beijou, um beijo úmido e profundo, como nenhum outro nos
lábios.
Na manhã seguinte, chegue como um feixe de luz que irradia
desejo para me estabelecer definitivamente em Perfumes de
Hárem. A minha primeira intenção era observar em grande
detalhe como era a vida das lindas mulheres daquele sombrio
e erótico lugar. Não demorou muito, porém, para que os
meus olhos vissem o despotismo com que a Ruth tratava as
suas empregadas, se é que o termo "empregada" é o correto
neste caso, embora a verdade eu não sei. Naqueles dias de
vertigo infinito eu tampoco estava muito interessado nessa
humana e profunda questão. A única coisa que eu parecia
entender no momento era que a Ruth tinha me apresentado
como "o senhor do lugar". Claro, ela lhes advertiu todas as
mulheres do Perfumes de Hárem que eu podia exigir as
mesmas coisas que ela exigia. Ela lhes advertiu que a minha
autoridade era inquestionável e que os meus desejos deviam
ser atendidos e satisfeitos independentemente de qualquer
outra coisa, ou seja, sem nenhuma desculpa, caso contrário...
36
A Ruth não terminou a sua ameaça. Ao menos não na minha
presença. De qualquer forma, nos meus olhos se adivinhava
o brilho implacável de uma pulsão erótica, uma pulsão
infinita. Algo muito parecido com os desejos estranhos que
um cache de jóias ostentosas e brilhantes, muitas vezes
despertam em uns olhos cheios de cobiça.
—Este é o nosso ninho de amor —disse a Ruth.
Aquele, é necessário dizer, era um quarto iluminado, como
todo o bordel, por uma luz sépia e ocre. Um quarto em que
havia uma enorme cama de mogno. E sobre a cama, como
uma superfície mágica, lisa e doce, uma colcha velmeha de
suave veludo cuja sedutora fragrância nublou de um
momento para outro o meu cérebro. Sim, um quarto único,
um quarto espetacular, um quarto de paixão eterna que
ostentava uma decoração muito sensual e perfumada.
Sim, uma vez mais, a Ruth Edith Monsivais tinha cativado a
minha curiosidade. A minha curiosidade eo meu desejo de
paixão mais incandescente dentro de mim.
8
Naqueles dias de paixão intensa e despreocupada eu pude me
dedicar inteiramente à pintura. A existência, nessas
derivações da vida, era uma sinfonia de carícias trepidantes,
e eu podia sentir, assim, que a minha alma era imune à
37
gravidade extática do mal-estar emocional. Para mim,
Perfumes de Harem era como um suave fluxo de beleza. O
que eu não sabia era que a minha luxúria de mel, estava por
tornar-se amarga. Eu decidi formalizar a minha estranha e
escura relação com a Ruth, sem conhecer a história secreta
dos seus lábios ea história íntima de todos os desejos da sua
pele de mulher. Eu decidi trasladar todas as minhas coisas
para aquele lugar, também renunciei ao meu trabalho de
programador e despedi a Saraya, a mulher que me ajudava
com os trabalhos domésticos na minha antiga casa. Fiz tudo
isso sem saber ou sem suspeitar um pouco, o que eu estava
por descobrir. Aquela tragédia e aquela escuridão que eu ia
testemunhar.
Essa manhã, essa manhã trágica de um agosto
irremediavelmente ensolarado, encontrei uma nota da Ruth.
Isso, sem dúvida, parecia muito estranho. Claro, por que
usaria ela uma nota para entrar em contato comigo, me
preguntei naquele momento. A nota em questão dizia apenas
três palavras simples e sucintas: quarto número oito. Não
perdi tempo, tomei um banho, me vesti e fui rapidamente
para o quarto número 8 do Perfumes de Harém. O que eu
não sabia era que ao abrir a porta daquele quarto, um horror
indescritível e descontrolado me invadiria por completo. Um
terror infinito me invadiu pelo seguinte motivo: naquele
lugar, deitada na cama que tinha sido colocada lá para
exercer o trabalho da prostituição, estava, nem mais nem
menos, que a minha velha paixão, o meu antigo amor
platônico, o primeiro amor com quem comecei a sonhar os
contornos líricos e efervescentes da paixão, ou seja, a bela
Cristina. Ela parecia muito ruim, tanto no seu semblante
como na aura que exalava o seu corpo. Era óbvio que ela
38
estava drogada, sedada ou algo parecido. Ela sempre tinha
exibido nos seus olhos radiantes de avelã uma inesgotável
sensação de vivir. Talvez por isso me doeu tanto saber que
ela estava naquele estado, ou seja, com a sua alma cernelha,
seca e desprovida de qualquer vitalidade. Em um passado
não muito distante, quando eu estava totalmente louco de
amor e de desejo por ela, tivesse querido pegar a mão dela,
convidá-la a compartilhar segundos e enchê-los de vida... de
amor... Convidá-la para compartilhar sonhos e dominar as
mais ferozes nostalgias, umas nostalgias que eu sempre
imaginei que para ela eram estranhas e indiferentes.
Nesse momento, enquento eu olhava horrorizado à Cristina,
a bela Ruth Monsiváis eo Victor Monsalve cruzaram a porta
daquele frio quarto que, do lado de fora, estava marcado com
um simples e circunspecto número 8. Toda a vida era um
mar de infreqüentes e mortais sombras.
—Acho que te ensinei muito bem, o meu querido príncipe do
desconhecido e insuspeito —me disse ela, a minha amante
infinita, misteriosa e apaixonante.
—O quê? O que é isso que você me ensinou, a Ruth?
—Que o coração é o centro nervoso da pele.
—O que pensamento é esse?
—O primeiro pensamento de esta existência humana. E se
você me perguntar quem pensou isso antes de mais ninguém
neste mundo, a verdade é que, assim, tão facilmente, o meu
querido, não posso te dar uma resposta concisa.
39
Após ouvir a Ruth, nos meus olhos começou a vagar uma
enorme raiva, uma teimosa sombra sem conceitos, uma brisa
de ligeiras improvisações e cheia de ansiedades ilimitadas.
Eu não podia suportar nem um segundo mais, no podia
suportar os enigmas absurdos e os segredos insondáveis da
bela Ruth. Por esta razão, eu já tinha decidido o que fazer,
isto é, insultá-la, enviá-la para ao diabo... Então tomaria nos
meus braços à Cristina e me iria com ela daquele escuro
lugar. No entanto, a Ruth me envolveu nos seus braços.
Então, em segundos, o seu aroma xaroposo de mulher, uma
caricia maliciosa e um beijo úmido dela, me acalmaram um
pouco.
—Ela é toda sua, o meu querido. Toda toda para ti, se assim
você o quer... Sim, você me ouviu direito, só para você e
para todos os feitiços da paixão —disse a Ruth apontado à
Cristina com os seus olhos e colocando a sua voz mais
sedutora e, ao mesmo tempo, a expressão de maior
cumplicidade que foi capaz de encontrar no seu fino rosto.
A bela Ruth não esperou por uma resposta. Ela e Monsalve
saíram do quarto e me deixaram só com a Cristina. Era muito
claro que a Ruth estava pensando que a curiosidade e o
desejo, como sempre, tinham ganhado terreno nos meus
olhos e no centro do meu ser. Seja como for, eu estava ali,
naquele sombrio lugar, e ali também estava a linda Cristina.
A cristina de cabelo macio e olhos amendoados. A olhei a
ela. Me deitei ao seu lado. Eu sempre tinha desejado os seus
abraços. Na verdade, eu tinha sonhado deles. Sempre tinha
me provocado a sensual sugestão dos seus decotes e esse
corpo que agora, mais do que nunca, se oferecia inteiramente
40
para mim. Ela parecia uma borboleta indefesa e impotente,
cujas asas tivessem sido despedaçadas por um menino
travesso. Chorei, chorei profundamente ao vê-la assim.
Depois de um tempo, eu peguei uma das suas mãos. Ela a
apertou. Tentou fazer um esboço de leve sorriso. Respirava
com muita agitação. De repente, ela levantou-se e abraçou-
me. Ela me pediu que a fizesse minha. Examinei os seus
olhos com os meus. Estavam irremediavelmente perdidos em
uma confusão absoluta. Não havia dúvida: ela, naquele
estado, não podia me reconhecer. Eu chorei ainda mais.
Chorei amraga e tristemente.
Eu não pensei muito a questão de fundo ou os riscos que
estavam ao redor do meu ser confuso e perplexo. Muito
decidido carreguei à Cristina nas minhas costas e saí do
quarto número 8 com ela. A minha alma, certamente, se
sentia pronta para tudo. Eu, até mesmo, estava disposto a
enfrentar à mesma Ruth, se fosse necessário, a fim de sair
com a Cristina de lá. No entanto, fiquei surpreso ao
descobrir, no momento da verdade, e enquanto eu caminhava
com a Cristina, que o clube estava vazio. Todas as mulheres
estavam, seguramente, nos seus quartos e toda a atmosfera
estava estranhamente tranquila e silenciosa. E assim, em
meio dessa incompreensível e estranha calma, eu caminhei
até a porta da frente. Caminhei com um vislumbre de
esperança em torno das mais escuras artificialidades do meu
própio ser eu. Mas ali, no patamar da porta, estava ele, com a
sua voz de autoritária, o seu olhar sádico ea sua sensibilidade
fria e perversa. Era Víctor Monsalve, segurando uma
espingarda por sobre um dos seus ombros e era evidente que
ele não me ia deixar passar.
41
—Sabe uma coisa, o senhor Adrian? —Disse ele—. Eu
mesmo a trouxe até aqui. Por ordem da senhora Ruth. Ela
mesma me deu a ordem de procurá-la e trazê-la. Também me
deu a ordem, e não só para mim, mas também para os nossos
parceiros, que são uns caras que não mede as palavras e são
muito perigosos, que, se ela escapava, ou a ajudavam a
escapar, a procurássemos outra vez para matá-la. É muito
simples.
—Dê-me permissão, Monsalve. Eu tenho que passar.
—Você decide, o senhor Adrian. Retirá-la a ela daqui seria
assinar a sua morte.
9
À Tiffany, uma das belezas de Perfumes de Harém —se é
que realmente esse era o seu nome—, lhe gostava, ou
melhor, ela amava andar nua em torno do lugar. Eu sempre
pensei, inspirado pela atmosfera lasciva do lugar, que o seu
objetivo não era mais que o de cativar-me com o balanço dos
seus seios livres e travessos.
(Esta história continua).
42